Por: António
Franco Preto
Introdução
O nosso curso
reune-se mensalmente para almoçar (na 1ª quarta-feira de cada mês,
excepto
Agosto) desde há mais de 40 anos. No mês de Outubro de 2011 o
almoço teve
lugar no dia 12 porque a 1ª quarta-feira era feriado nacional.
Durante esse almoço
fiquei ao
lado do Manuel Arantes e Oliveira (ex-43 de 1949/1955) que me
desafiou a
aprofundar os meus conhecimentos sobre o ceitil .
Tendo recebido a
confirmação de
que era uma moeda portuguesa do passado, o desafio parecia fácil
pois o meu
conhecimento de moedas reduzia-se
praticamente àquelas com que tenho lidado durante a minha vida.
A curiosidade tomou
conta de mim
e resolvi então dedicar-me durante vários dias a estudar o
assunto. Como 'uma
coisa puxa a outra', passei das moedas para o papel-moeda (vulgo,
‘notas’) e ficaram-me
na memória vários factos interessantes (pelo menos para mim...),
tanto no que
diz respeito a umas como a outras. No final, achei
que valeria a pena
organizar alguns dos conhecimentos adquiridos e escrever um artigo
para a nossa
revista, poupando-vos assim algum tempo de pesquisa.
Acontece que, por
razões várias,
arquivei o projecto (depois de ter escrito um artigo sobre o tema,
dedicado a ‘Antigas
moedas e notas portuguesas’) sem o ter proposto para
publicação na nossa
revista. Mais de cinco anos passados, reencontrei nos meus
arquivos o
‘escrito’ em causa,
resolvi alterar o
seu título para ‘Sobre Moedas e
Papel-moeda’ e reescrevi-o quase na totalidade para o enviar
ao Gonçalo – o
Gonçalo Salema Leal de Matos – propondo a sua inclusão na nossa
‘ZacatraZ’.
Antes de iniciar a
descrição do
que escolhi, aconselho-vos a munirem-se de uma lupa para poderem
apreciar
melhor as imagens de algumas moedas e papel-moeda que vou incluir
no texto.
Nota Inicial
- Esta
introdução termina com uma ‘imagem-recordação’ de dois exemplares
da moeda de
um Escudo
da república portuguesa (certamente a moeda mais representativa
para a minha
geração) e uma imagem de um Escudo em ouro, de 1432-1481.
1915
1927
Interessante notar que a efígie da ‘República
Portuguesa’
tem orientações opostas. Gostava de conhecer a sua justificação
(política ou
simples opção artística?).
O Escudo em Ouro
O nome 'escudo' já vem
do
reinado de D. Duarte, o nosso primeiro rei que terá mandado cunhar
moedas em
ouro com aquela designação (no que foi seguido por outros
monarcas,
nomeadamente D. Afonso V, D. João V e os seus sucessores até
1822).
O seu nome é devido a ter numa das faces o escudo das quinas
coroado.
Apresentamos - a
terminar esta
introdução - uma imagem de um escudo em ouro.
Escudo
em ouro, D.
Afonso V (1432-1481)
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Moedas
A 1ª moeda no mundo (?) - O ‘estáter’
(Século VII B.C.
- no
reino da Lídia – antiga Turquia –
o rei
Aliates)
Moeda feita de uma liga natural de ouro e prata
, fundida em
forma de disco e cunhada com o símbolo dum leão (o símbolo da sua
família).
Com esta decisão, o mundo do ‘comércio da
troca directa’
(e não só) nunca mais foi o mesmo.
Para informações adicionais consultem o
‘website’ da Casa da
Moeda:
https://www.museucasadamoeda.pt/video/4
Moedas Portuguesas (Do Dinheiro, ao Real
e ao Escudo)
A primeira moeda
portuguesa foi o
dinheiro.
ΑΩ
- ‘Eu sou o Alfa
e o Omega / ‘Eu sou o Princípio e o
Fim’
disse
o
Senhor Deus (Apocalipse 1:8,11)
Uma face desta moeda
tem gravadas
a 1ª e a última letra do alfabeto grego (alfa e omega) com a cruz
latina (o
mais conhecido símbolo do cristianismo) entre elas. A outra face
tem gravada a
cruz judaica de 6 pontas. O ministro das finanças de Portugal era
um líder
religioso e político judaico e Rabino-Mor de Portugal
(Yahia Ben-Yahia).
D. Afonso Henriques
mandou em
1180 cunhar - depois de em 23 de Maio de 1179 ter sido
reconhecido pelo Papa
Alexandre III como rei de Portugal
- dinheiros e meios-dinheiros (denominados mealhas).
As mealhas deixaram de
ser fabricadas
por volta de 1220, no reinado de D. Afonso II, mas - por serem
necessárias para
trocas - mantiveram-se engenhosamente em circulação, com a
população a cortar
os dinheiros mais ou
menos ao meio!
Estas moedas eram
feitas de
bolhão, uma liga de prata e cobre. A partir de D. Afonso III
aumentou
consideravelmente a produção de dinheiros
nesta liga metálica.
Para efeitos
contabilistícos, 12 dinheiros
valiam um soldo e 20 soldos
valiam
uma libra!
A designação de soldo vem de uma
antiga moeda romana
(solidus) e a
palavra soldo era
na Idade Média utilizada para designar o pagamento aos soldados.
Por volta de 1200,
D. Sancho I
introduziu o morabitino
em ouro que
valia 15 soldos (e que
era uma
resposta ao dinar
muçulmano).
O
morabitino foi a
primeira moeda de ouro a ser cunhada em Portugal. No seu
anverso, D. Sancho, coroado, é representado a cavalo,
com uma espada
alçada numa mão e
o cetro
encimado pela cruz
na outra (grafismo que é perfeitamente visível com o auxílio
duma boa lupa). No
reverso, vêem-se as armas reais. Além do seu valor económico, a
sua cunhagem
tinha uma dupla simbologia:
- afirmar o poder real no reino, tanto pela representação do
papel de guerreiro do soberano, como pelo prestígio da sua
prerrogativa de cunhagem de moeda;
- afirmar o prestígio da monarquia portuguesa, diante dos
demais reinos peninsulares.
O
‘morabitino’ em ouro
Um século depois, D.
Dinis introduziu
o ‘tornês’ em prata que
valia 5,5 soldos.
O
‘real’em prata de D. Fernando I
Em 1380, D. Fernando
I introduziu
várias moedas como a dobra
em ouro
que valia 6 libras, e o real em prata que
valia 10 soldos.
Igualmente introduziu várias
moedas feitas numa liga de prata e cobre, algumas delas com nomes
de
equipamento de guerra francês (como reconhecimento pela ajuda
recebida na
guerra com Castela); uma dessas moedas era o pilarte que valia 7 dinheiros.
Durante o reinado de
D. João I,
foi introduzido um novo real também em
prata, designado por real
de 3,5 libras ou real
branco.
Valia 70 soldos (840 dinheiros) e tornou-se a unidade contabilística no princípio do
reinado do
seu filho, D. Duarte, em 1433. Igualmente foi introduzido o real preto
, em cobre, que valia 7 soldos.
A partir do reinado
de D. Manuel
I (1495-1521) o seu nome passou a ser simplesmente, real, e passou a ser cunhado em moedas de cobre (o que
significa
uma enorme desvalorização da moeda).
Moedas houve que
foram alterando
o seu valor ao longo dos séculos. Como exemplo disso temos o 'cruzado'
que valia 324 reais (ou
réis)
brancos no reinado de D. João II, 400 reais
(ou réis) durante o reinado de D. João III e 480 reais (ou réis) no reinado de D. Pedro
II.
Posteriormente regressou ao valor de 400 reais
(ou réis).
Em 1835, durante o
reinado de D.
Maria II, passou a ser utilizado o sistema decimal para as moedas. Existiam então as seguintes:
Moedas em cobre (em
bronze a
partir de 1882) para moedas de 3, 5, 10 e 20 réis.
Moedas em prata para
as moedas de
50, 100, 200, 500 e 1.000 réis.
Moedas em ouro para
as moedas de
1.000, 2.000, 2.500, 5.000 e 10.000 réis.
A moeda de 100 réis
foi conhecida
com a designação popular de 'tostão'.
Um 'vintém' era a
designação
da moeda de 20 réis
(posteriormente,
2 centavos do escudo). Um 'conto de réis' era
a designação de
1 milhão de réis (mil
escudos). A 'coroa'
era uma moeda de ouro valendo 5.000 réis,
havendo ainda moedas de
meia-coroa e
de um quinto de coroa.
(Em 1875 foram
emitidas as
últimas moedas de 3 réis e as moedas de 50 e 100 réis passaram a
ser produzidas
numa liga de cobre e
níquel). Em resumo,
temos:
O dinheiro foi a
primeira moeda-base
portuguesa (de 1180 a 1433), seguida pelo real e pelo escudo.
O real foi a moeda-base de Portugal desde 1433 até
1911,
tendo substituído o dinheiro com a relação
1
real
= 840 dinheiros
Em 1911 a moeda-base
passou a ser o escudo com a relação
1 escudo = 1.000 réis
(o plural de real).
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Exemplos da moeda-base real:
Moeda
em cobre de 10 réis; 1853
Reinado de D.
Maria II
Moeda em prata de 1.000 réis;
1837 Moeda em ouro de
5.000 réis; 1851
Reinado
de D. Maria II
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Então e o ceitil ?
O ceitil foi uma moeda portuguesa de
cobre,
criada no reinado de D. Afonso V.
A sua designação tem origem no nome 'sextil',
ou seja, um
sexto. O seu valor era de 1/6 do real .
Saiu de circulação no reinado de D. Sebastião.
Eis dois exemplares dela: