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segunda-feira, 24 de novembro de 2025

Trabalhadores estrangeiros da área de cuidados desaparecem da força de trabalho da Finlândia.

 


Auxiliares de enfermagem filipinas no lar de idosos Toppila, no condado de serviços de bem-estar de Kainuu, Kajaani. A precária situação do emprego no setor social e de saúde se reflete na contratação de estrangeiros: apenas 32 chegadas no início de 2025. Foto: Hannu Huttu / Str / Lehtikuva

A Finlândia registou uma queda acentuada no número de profissionais de saúde estrangeiros que chegam para trabalhar no país, com as primeiras autorizações de residência concedidas a trabalhadores sociais e da área da saúde caindo 94% em comparação com o mesmo período do ano passado.

Entre janeiro e abril de 2025, foram tomadas apenas 32 decisões positivas para a emissão de primeiras autorizações de residência para trabalhadores do setor social e de saúde. Um ano antes, esse número era de 572.

A maior parte dessas autorizações deste ano foi concedida a cidadãos das Filipinas, que receberam 12 aprovações. Menos de dez foram emitidas para candidatos do Sri Lanka.

A queda ocorre no meio da crescente pressão financeira no setor público finlandês, especialmente nos serviços regionais de bem-estar, responsáveis ​​pela organização da assistência médica. O Ministério das Finanças citou o agravamento das condições orçamentárias nessas áreas em avaliações recentes.

A tendência atual segue um pico em 2023, quando um número recorde de cuidadores estrangeiros recebeu autorização de residência. Desde então, as aprovações diminuíram significativamente, atingindo níveis vistos pela última vez em 2018. Se o ritmo atual continuar, o número total de decisões positivas para 2025 deverá permanecer abaixo de 100.

Tradicionalmente, os cidadãos filipinos ocupam muitos cargos no setor de saúde da Finlândia. A sua presença decrescente reflete uma desaceleração mais ampla na migração de mão de obra das Filipinas, que vem ocorrendo desde 2024. O relatório do governo atribui essa queda, em parte, às dificuldades financeiras do sistema público de saúde finlandês, que afetam tanto os esforços de recrutamento quanto a disponibilidade de empregos.

A concessão de autorizações de residência para cuidadores tornou-se rara em todas as regiões da Finlândia. Apenas algumas decisões foram tomadas nas principais cidades durante o primeiro trimestre de 2025, o que sugere que a escassez não se limita às áreas rurais.

O declínio também levanta questões para o planejamento de cuidados a longo prazo em um país que enfrenta um rápido envelhecimento populacional. Tendências migratórias anteriores ajudaram a suprir a escassez de profissionais em cuidados a idosos, mas a redução no número de trabalhadores imigrantes pode aumentar a pressão sobre a equipe existente.

O relatório confirma que os pedidos de autorização de residência para fins de trabalho apresentados por cidadãos filipinos caíram 40% no início de 2025. Uma parcela significativa desses solicitantes trabalha, em geral, na área da saúde.

Entretanto, a demanda por profissionais das áreas social e da saúde permanece alta. Os empregadores do setor continuam enfrentando dificuldades para preencher as vagas. De acordo com dados anteriores do Instituto Nacional de Estatística da Finlândia, trabalhadores estrangeiros representam até 10% da equipe de lares de idosos em algumas regiões.

A ausência de um aumento significativo nos pedidos de autorização de residência por parte de cidadãos de outras nacionalidades compensou a queda no número de pedidos de cidadãos filipinos. Os números de imigrantes do Sri Lanka, da Índia e do Vietnã permaneceram baixos, e a imigração baseada em trabalho, no geral, diminuiu 19% em comparação com os primeiros quatro meses de 2024.

O Serviço de Imigração da Finlândia processou 1.417 pedidos de autorização de trabalho para quem chega pela primeira vez ao país no início de 2025, com 61% de aprovação. No entanto, o setor de cuidados está registrando menos solicitações do que em qualquer outro momento nos últimos seis anos.

HT


Residentes estrangeiros em Helsinque enfrentam grande lacuna de emprego.

Uma mulher navegando em anúncios de emprego em seu telefone. Foto: Emmi Korhonen/Lehtikuva

De acordo com uma nova pesquisa realizada na cidade, mais de 60% dos residentes desempregados com origem estrangeira na região de Helsinquia citam a falta de habilidades no idioma finlandês como um obstáculo fundamental para o emprego.

O estudo, baseado no conjunto de dados MoniSuomi 2022 do Instituto Finlandês de Saúde e Bem-Estar, constatou que 62% dos entrevistados desempregados com idades entre 20 e 74 anos identificaram o idioma como um obstáculo. Entre os empregados, 48% relataram o mesmo.

A segunda barreira mais comum foi o contacto limitado com finlandeses étnicos. Essa situação foi relatada por 58% dos participantes desempregados, em comparação com 36% dos que estavam empregados.

A pesquisa mostra grandes diferenças nos obstáculos percebidos entre pessoas empregadas e desempregadas. Sanna Vesikansa , vice-prefeita de Helsinquia, afirmou num comunicado à imprensa que os números "refletem um desafio estrutural que precisa ser enfrentado tanto por meio de políticas públicas quanto de práticas".

A saúde foi uma preocupação para 43% dos entrevistados desempregados, mas apenas para 13% dos empregados. A falta de experiência profissional foi relatada por 43% dos desempregados e 22% dos empregados.

Apesar de alguns indivíduos estarem empregados no momento da pesquisa, muitos já haviam enfrentado essas barreiras na busca por emprego. Os resultados sugerem que tanto fatores pessoais quanto estruturais afetam o acesso ao emprego.

O artigo também observa que muitas pessoas enfrentam múltiplas barreiras simultaneamente. Estas incluem questões relacionadas ao trabalho, experiência, saúde psicossocial e acesso a redes de apoio.

Os dados foram ajustados para fatores contextuais como idade, sexo, escolaridade, tempo de residência na Finlândia e domínio do idioma. Mesmo após essas considerações, os respondentes desempregados relataram todos os tipos de barreiras ao emprego com mais frequência do que os empregados.

A disparidade permaneceu grande: os desempregados tinham quatro vezes mais probabilidade de relatar problemas de saúde e três vezes mais probabilidade de relatar a falta de experiência como barreiras, em comparação com seus pares empregados.

Taru Stenvall , pesquisadora sénior do Gabinete Executivo da Cidade de Helsinque, afirmou que as descobertas destacam as desvantagens persistentes enfrentadas por residentes com origem estrangeira.

"Barreiras ligadas a circunstâncias individuais, como idioma ou saúde, são comuns", disse Stenvall. "Mas muitos também relatam obstáculos estruturais, incluindo discriminação por parte dos empregadores."

Essas barreiras estruturais incluem preconceitos percebidos nos processos de recrutamento e contratação. O estudo não mensurou diretamente as práticas dos empregadores, mas vários participantes mencionaram atitudes discriminatórias em comentários abertos.

Os resultados surgem num momento em que a Finlândia procura aumentar a imigração baseada no trabalho, em resposta à escassez de mão de obra nos setores da saúde, construção e serviços. O governo municipal de Helsínquia defendeu um melhor acesso ao ensino da língua finlandesa, à mentoria e a políticas de emprego inclusivas.

Os dados corroboram conclusões anteriores do Ministério de Assuntos Económicos e Emprego, que apontam que residentes com origem estrangeira têm maior probabilidade de enfrentar desemprego de longa duração e salários mais baixos, mesmo quando qualificados.

Um total de 1.500 pessoas residentes na região metropolitana de Helsinque participaram do estudo. Os resultados foram publicados em um novo artigo pela prefeitura da cidade.

A cidade afirmou que os resultados irão orientar futuras medidas de integração e serviços de emprego para residentes com histórico de imigração.

HT

quarta-feira, 12 de novembro de 2025

Ana Paula Correia, ministra da saúde.

Enquanto a ministra, Ana Paula Mecheiro de Almeida Martins Silvestre Correia, puder e quiser, Montenegro deve mante-la, e apoiá-la, pois o que interessa ao país é o "todo", o trabalho que já foi feito e o muito que há para fazer.

Fazendo umas contas, simples de compreensão, mas sem os dados todos que só o ministério tem, ainda assim com os oficiais conhecidos, pode-se ter uma ideia bastante clara, de como vai o SNS:
- Portugal segundo os censos tem em 2023, como população residente, estimada em aproximadamente 10,64 milhões de pessoas, de acordo com os dados do INE (Instituto Nacional de Estatística).
- O número de cidadãos imigrantes residentes em Portugal, com processos de regularização em dia, ultrapassou os 1,5 milhões no final do segundo semestre de 2024, segundo a AIMA (Agência para a Integração, Migrações e Asilo). A estes números haverá a acrescentar todos aqueles que entram, sem documentos e estão o mais clandestinamente possível, que se estima em cerca de 500.000!
- Médicos de família a prestar cuidados de saúde de proximidade: 5327 (dados de setembro de 2024).
- Médicos com a especialidade de Medicina Geral e Familiar: 9003 (dados de 2024).
- Evolução: O número de médicos com esta especialidade quase duplicou desde 2000, passando de 4508 para os atuais 9003.
Um médico de família faz, em média, 21 consultas por dia, ou seja: 5327*21 = 111.827 consultas diárias!!! se calcular com base na totalidade então teríamos: 9003*21=189 063/dia!!!
- Nos Hospitais privados fizeram-se mais de 25 mil consultas/dia em 2023!
- Em 2022, os hospitais do Serviço Nacional de Saúde (SNS) realizaram mais de 254.000 cirurgias programadas no segundo semestre, o que equivale a uma média de mais de 1.400 cirurgias por dia, excluindo cirurgias oncológicas e cardíacas. Podemos extrapolar que foram realizadas cerca de 508.000 cirurgias, em Portugal!
- As cirurgias médicas por dia totalizam mais de 700 no setor privado, de acordo com números de 2023!
- O dinheiro gasto anualmente, é incompatível com os nossos rendimentos como país!

Recordando... no "asilo médico" na "maternidade do mundo", etc, em que Portugal se tornou, com o caso da brasileira, que em 2019 e com alto rendimento no seu país, veio tratar das filhas com atrofia muscular espinhal, uma doença neurodegenerativa da qual padecem, a Portugal, a custa dos contribuintes portugueses, pois custou para cada doente dois milhões de euros, o que lhe deu o apelido de medicamento mais caro do mundo, e portanto só aí foram pelo menos 4 milhões de euros, pois ainda levaram quatro cadeiras elétricas no valor de 58 mil euros para as duas irmãs. Até agora, nenhuma criança com a mesma doença recebeu cadeiras deste tipo e, neste caso, duas delas não foram sequer levantadas (!?), mas esta Srª brasileira, com a sua formação ética e moral, revoltada por os portugueses saberem do assunto, pagou a um advogado para colocar um processo ao Estado português, avançando com uma queixa contra o Parlamento e o presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI). Além disso, também processou jornalistas e televisões e o médico ( António Levy Gomes) que denunciou o alegado favorecimento no tratamento. Já nem pergunto pelos seus descontos para a segurança social, de Portugal.
Outros casos: 
- A PJ está “a investigar alguns casos suspeitos de grávidas estrangeiras que vieram ter o filho a Portugal” em Dez.2022 O fenómeno foi identificado pelo Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) e acabou nos braços da unidade de contraterrorismo da Polícia Judiciária (PJ), que tem ficado com os dossier sensíveis relacionados com casos de imigração suspeitos, devido ao fim anunciado do SEF. fontes do SEF explicaram que chegaram a desconfiar da existência de redes hindostânicas que fariam chegar a Portugal estas mulheres, a troco de contrapartidas financeiras, com o objetivo de aproveitarem a gratuitidade do SNS e posterior legalização através do nascimento do filho. É um dado que está a ser investigado pelos inspetores da PJ, face à existência de “alguns casos” de grávidas daquela região da Ásia a surgirem nos blocos de partos.
- Antes a prática centrava-se apenas em grávidas dos PALOP, mas no último ano (2021) começou a assistir-se a casos da Índia, Bangladeche e Paquistão. Desde 2017 que a tendência era de crescimento, com 1033 casos em cinco anos, até 2021. 
- A maioria esmagadora das grávidas chega de Angola (70%), seguido da Guiné-Bissau e Cabo Verde. Nos anos de covid-19 mudaram as nacionalidades, com prevalência da Alemanha, Brasil, França e Estados Unidos, nacionalidades comuns a quem optou pelos confinamentos em Portugal.
- Em cinco anos, apenas há registo de duas grávidas da Índia, em 2021, fazendo crer que a tendência atual do continente asiático é recente. Começou a ser investigada quando, a 27 de agosto 2021, uma gestante de nacionalidade indiana, residente na Índia e recém-chegada a Portugal, sem dados de vigilância da gravidez, morreu. O bebé ficou em cuidados intensivos. O viúvo revelou que a mulher tinha tido acompanhamento médico na Sérvia, de onde tinham partido, sem explicar o motivo da vinda. Foi esse detalhe geográfico que adensou as suspeitas de que o casal poderia ter sido auxiliado por máfias de imigração ilegal que operam na rota dos Balcãs.
- “Há um número crescente de relatos. Ainda esta semana, dez.2022, foi admitida uma cidadã asiática grávida de 32 semanas para ter o bebé no Hospital de Santa Maria, com a gravidez vigiada em Amesterdão”, confirma o presidente do Conselho Regional Sul da Ordem dos Médicos, Alexandre Valentim Lourenço. O obstetra refere ainda que há outros perfis de procura. “Após o caso da bebé que recebeu o medicamento para a atrofia muscular espinal, que custava €2 milhões, surgiram casais brasileiros que viajaram para Portugal para tentarem tratar os filhos.” !?!?!?!?
- “Chegam ao centro de saúde só com passaporte, alguns estão no país há três dias, e fazem uma inscrição esporádica. Vêm muito bem informados sobre como usufruírem de tudo. Recebemos pessoas de todo o mundo, mas o mais frequente são cidadãos brasileiros. Pedem tratamento para o VIH ou sífilis, grávidas ou mães recentes, também com os bebés infetados, vacinas ou os exames mais caros. Temos ainda mulheres, sobretudo angolanas, que só vêm pedir o papel para abortarem nas clínicas pagas pelo SNS”, descreve uma enfermeira de Cascais. O dirigente da Ordem dos Médicos explica que “há sites nos países de origem, sobretudo no Brasil, que ensinam a utilizar o SNS sem custos”. ???
- Inês Mendes é médica e tem recebido cada vez mais solicitações à la carte: “Tenho americanos que só vêm pedir tratamento para o VIH e PrEP e outras nacionalidades que querem medicamentos para doenças crónicas, por exemplo. Dizem-me que pedem aqui porque nos seus países é muito caro.” Com o receituário válido até seis meses e a possibilidade de levantar embalagens para vários meses, a médica diz até que “o comportamento indicia que vêm buscar, regressam aos seus países e voltam quando precisam de mais”.
- Em 2022, o Expresso pediu à Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS) dados que permitissem aferir que fármacos são dispensados a cidadãos estrangeiros não-residentes, mas a informação não está acessível. Ainda assim, a ACSS refere que 1.560.468 cidadãos estrangeiros estão inscritos no SNS e destes 1.103.032 com acesso gratuito. Com inscrição ativa nos centros de saúde são quase 900 mil, perto de 500 mil na região de Lisboa.
- 1.033 partos de mães estrangeiras e sem residência no país foram realizados nas maternidades entre 2017 e 2021 !?
- em 2022, 1,6 milhões de cidadãos sem nacionalidade portuguesa estão inscritos no SNS, 1,1 milhões dos quais com acesso gratuito!?!?!?
- etc, etc...

Portanto, os media "carregam" na ministra, por um ou dois casos que ocorreram, e não deviam ter acontecido é certo, mas devemos olhar para o conjunto e não para um caso ou dois, pois isso é morbidamente delicioso para as TV's portuguesas, tal como o é para a esquerda política portuguesa, cuja preocupação é que algo de bom se faça, e isso não é do seu interesse!

A ministra não consegue, excepto os brilhantes socialistas, quando não estão nos governos! resolver os tradicionais problemas, acrescidos do "crime de lesa-pátria" que o governo de António Costa cometeu, ao "abrir as portas", a cerca de 2 milhões de pessoas, a quem sofismaticamente designou por imigrantes, no curto espaço de 4/5 anos, e sem preparar o país para essa catadupa de entradas, de gente que não sabia falar português, não conhecia Portugal, etc, mas os "negreiros socialistas" informaram-nos que tinham acesso médico gratuito, subsídios, para tudo e mais alguma coisa... escola grátis, liberdade...

Se a ministra fosse demitida, tenho muitas e serias duvidas que alguém com capacidade de desempenho para o cargo, o aceita-se!
vejamos:
A corporação, com demasiado peso na sociedade, e Bruxelas já chamou a atenção para este peso excessivo (mas a cobardia dos dirigentes governamentais é tal, que se mantém, e com a soberba típica dos prepotentes, demonstra-o diariamente) e por sua vez nos governos, mas faz sempre a "vida negra" a todos os ministros da saúde, e ai de quem não esbanje dinheiro e mordomias com eles, a O.M.
A segunda é a dos enfermeiros, que um "governo inteligente" de António Manuel de Oliveira Guterres como primeiro-ministro, Jorge Sampaio como PR e Maria de Belém Roseira Martins Coelho Henriques de Pina, como ministra da saúde, aceitou que criassem uma "Ordem" corporativista e sim, com força monetária, que não tem os seus sindicatos.
- Há mais, mas fica para outra altura...

sexta-feira, 17 de outubro de 2025

Portugueses estrangeiros na sua própria terra. As coisas podem descambar, diz Passos

 “Se tudo se mantiver como está”, as pessoas vão sentir-se estrangeiras na sua própria terra, diz Pedro Passos Coelho. Seriam consideradas cosmopolitas, “o que era ótimo”, mas não é ótimo porque “as pessoas sentem-se inseguras, ameaçadas”, adverte o antigo primeiro-ministro.



“Em muito pouco tempo entrou imensa gente em Portugal”, disse Pedro Passos Coelho esta quinta-feira num discurso, em Lisboa, na apresentação do livro “Introdução ao Liberalismo”, de Miguel Morgado.

O antigo primeiro-ministro abordava os dados divulgados pela AIMA no mesmo dia, que indicam que o número de cidadãos estrangeiros a residir em Portugal quadruplicou em sete anos, com cerca de 1,5 milhões registados no final de 2024.

“E, se tudo se mantiver como está com o reagrupamento familiar e por aí fora, bem, qualquer dia também acontecerá cá aquilo que acontece noutras sociedades em que as pessoas, os nacionais, as pessoas que fazem parte daquela sociedade, se sentem estrangeiras na sua própria terra“, advertiu.

Numa intervenção consagrada ao tema do liberalismo, Passos Coelho salientou que, de acordo com essa filosofia política, “não devia haver nenhum problema em que as pessoas se sentissem estrangeiras na sua própria terra”, ironizando que seriam consideradas como “cosmopolitas, o que era ótimo”.

“O problema é que não é ótimo porque as pessoas sentem-se inseguras, ameaçadas, de certa maneira desorientadas, desconfiadas… Tudo aquilo que são características muito humanas e que, em circunstâncias normais, não valem grande coisa, em ambientes destes, as coisas podem descambar“, afirmou.

Passos Coelho considerou que “o mínimo de bom senso faz qualquer pessoa perceber isto”, antes de deixar crítica aos governos do PS liderados por António Costa, que acusou de terem tido uma política sobre imigração que tinha como princípio “deixa entrar, isto é para ser assim e não pergunto nada a ninguém”.

“Isto era o que anterior primeiro-ministro dizia aos quadros superiores do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) quando era por eles alertado ‘senhor primeiro-ministro, cuidado porque nós estamos a perder o controlo desta situação. Olhe, está a entrar muita gente, a gente nem sabe quem é. A gente nem o certificado criminal pede'”, disse.

Segundo Passos Coelho, em resposta a esses avisos que atribuiu ao SEF, António Costa respondia: “Isto é mesmo assim, está a perceber? Não pense que é um acaso, é mesmo para isso, é para meter essas pessoas cá dentro, isto é para prosseguir”.

O ex-primeiro-ministro acusou os governos PS de terem “feito isso conscientemente“, antes de deixar uma sugestão de pergunta a António Costa.

“Já alguém perguntou ao senhor presidente do Conselho Europeu se ele não queria rever essa posição, que trouxe tanto radicalismo a Portugal, tanta insegurança e incerteza na maneira como as pessoas discutem no espaço público”, disse.

Depois, Passos Coelho recordou que, na campanha para as eleições legislativas de 2024, num discurso num comício de apoio a Luís Montenegro no Algarve, já tinha advertido para o “problema da imigração“.

“Quando eu chamei a atenção para estes problemas há dois anos, meu Deus, vários órgãos de comunicação social disseram: ‘este tipo está a misturar segurança e imigração na mesma frase. Populismo, irresponsabilidade total, nem parece que foi primeiro-ministro, completamente irresponsável’. Não sei o que dirão agora”, referiu.

Num discurso de 50 minutos, Passos Coelho advertiu ainda que há “em todo o lado um radicalismo que está a tomar conta do espaço público” e considerou que o seu crescimento “resulta da forma absolutamente irresponsável com que muitos dos assuntos que preocupam e perturbam as pessoas, não foram tratados“.

Para o ex-primeiro-ministro, sempre que “há governos que se comportam com excesso de demagogia, de forma populista, que querem agradar a toda a gente e empurram com a barriga tudo aquilo que é preciso fazer”, os problemas “acumulam-se e as pessoas dizem ‘o que é que estes tipos estão lá a fazer‘”.

“Este nível de desconfiança, de descrédito, de incerteza que resulta das práticas das instituições liberais, por serem ocupadas e desempenhadas com irresponsabilidade geral, geram radicalismo. E o radicalismo gera radicalismo“, advertiu.

É uma delícia

Pedro Passos Coelho manifestou-se também “muito satisfeito” com o que considerou ser o “resultado muito bom” do PSD nas eleições autárquicas, após ter feito um discurso no qual deixou advertências quanto à política económica do Governo.

“Eu fiquei muito contente com o resultado das eleições autárquicas, até porque o meu partido, o PSD, teve um resultado muito bom. E, portanto, eu fico satisfeito”, afirmou Passos Coelho aos jornalistas após o seu discurso na apresentação do livro de Miguel Morgado.

Sobre o facto de Suzana Garcia, cuja candidatura Passos Coelho tinha apoiado, não ter conseguido ser eleita presidente da Câmara da Amadora, o ex-primeiro-ministro disse que “foi por uma unha negra“.

“Eu espero que a candidata não desista porque, realmente, é uma força da natureza, é uma pessoa que, não direi sozinha, mas, enfim, com apoios muito limitados, fez um grande resultado e isso deve fazer pensar quem tem responsabilidades para pensar sobre isso”, considerou.

Perante a insistência dos jornalistas para falar sobre outros temas, Passos Coelho disse que, sobre política, já tinha dito tudo o que tinha a dizer no discurso que fez na apresentação do livro de Miguel Morgado, antes de deixar uma garantia.

“Não me ouvirão tão cedo falar sobre coisa nenhuma”, assegurou, depois de, desde 25 de setembro, ter feito cinco intervenções públicas.

No discurso que fez na sessão de apresentação do livro de Miguel Morgado, Pedro Passos Coelho acusou os governos do PS liderados por António Costa de não terem feito “uma reforma digna de jeito“.

Segundo o antigo primeiro-ministro, foram “oito anos com uma conversa fiada a dizer às pessoas que elas iam ter imenso do que não tinham afinal. Claro, com o PCP e o BE a apoiar isso. É uma delícia. Mas com uma austeridade encapotada. Portanto, mentir às pessoas”, acusou.

Nesses anos de governação do PS, “a verdade não estava a ser dita“, disse Passos Coelho, acrescentando que isso se está a verificar agora quando se observa a “insuficiência dramática do investimento público” ou a situação no Serviço Nacional de Saúde (SNS).

Ponham-lhe uma crise económica em cima

Depois, acusando o PS de ter tido uma “política pública desqualificada” e ainda que tenha dito que não tencionava falar sobre os últimos de governação, Passos Coelho deixou uma advertência em termos de matéria económica.

“O senhor ministro das Finanças é um homem muito competente e, portanto, eu acredito que ele tenha as contas muito bem feitas e garanta que não vamos voltar aos défices públicos e à dívida pública e isso tudo. Mas a minha experiência de vida também mostra que há muita coisa que não depende do ministro das Finanças”, referiu.

E, no que não depender do ministro das Finanças, prosseguiu Passos Coelho, “a coisa não está a encaminhar-se para o resultado” desejado.

“Deveríamos estar a preparar-nos para aliviar o passo do desendividamento da economia porque o que se está a passar em França, onde o Governo aceitou suspender o aumento da idade da reforma, não vai acabar bem. O pensamento mágico é uma coisa que tem uma duração limitada”, advertiu.

Passos Coelho reconheceu que se pode argumentar que Portugal está melhor porque tem “um bocadinho menos do que 90% do rácio de dívida“.

“Sim, mas ponham-lhe uma crise económica em cima, para quanto é que passa o rácio da dívida? Desde logo, o denominador encolhe, a despesa aumenta toda, para onde é que vai o rácio dívida? É muito rápido voltar a um rácio mais elevado”, concluiu Passos Coelho.


ZAP 

quarta-feira, 26 de março de 2025

Transformação ecológica, agricultura e a sobrevivência da humanidade.

 


Arte criada pelo Tricontinental: Instituto de Pesquisa Social.




Esta edição da edição internacional do Wenhua Zongheng (文化纵横) examina a transição ecológica da China. Os artigos cobrem uma série de questões ambientais, incluindo esforços de restauração, a indústria de veículos elétricos e a relação entre transformação agrícola e ecológica.

Os três artigos desta edição da edição internacional do Wenhua Zongheng (文化纵横) oferecem visões complementares sobre questões fundamentais para a sobrevivência da humanidade: produção de alimentos, agroecologia, restauração ambiental e energias renováveis. Comprometidos com as causas de seu povo e de toda a humanidade, os autores chineses apresentam aos leitores experiências concretas da realidade de seu país.


Infelizmente, no Ocidente, as perspectivas intelectuais chinesas e os debates sobre realidades globais contemporâneas são completamente ignorados, mesmo dentro dos círculos esquerdistas. Ao compartilhar as perspectivas de nossos camaradas chineses, traduzidas para diferentes idiomas, acredito que este periódico fornece um serviço inestimável.


A esquerda global está em dívida com aqueles que estão seriamente envolvidos nesses debates cruciais. Poucos intelectuais estão preocupados em se aprofundar em tais reflexões. Geralmente, os partidos de esquerda permanecem presos em slogans, clichês e dogmas, como Mao Zedong havia alertado. Enquanto isso, o debate dentro das universidades — e da maioria da sociedade — é limitado a diagnósticos de problemas, evitando uma série de questões urgentes e falhando em analisar o movimento capitalista em direção à exploração de recursos naturais para lucros extraordinários. Tais processos imprudentes levam a crimes ambientais e mudanças climáticas.


Já no século XIX, Karl Marx observou como o capitalismo industrial poderia afetar o meio ambiente. Rosa Luxemburgo aprofundou essa análise, examinando o interesse do capital em apropriar-se privadamente de recursos naturais como parte de sua acumulação primitiva. Mais tarde, Vladimir Lenin e Nikolai Bukharin argumentaram que a fase imperialista do capitalismo levaria inevitavelmente a ataques aos recursos naturais, impulsionados pela necessidade de matérias-primas para abastecer fábricas e expandir mercados capitalistas.


Durante os processos revolucionários na Rússia, Europa Oriental e China – e mais tarde, as revoluções populares em Cuba e Vietnã – as preocupações ambientais eram secundárias, pois esses países primeiro precisavam atender às necessidades básicas do povo por meio de investimentos produtivos que gerassem progresso económico e melhorassem o bem-estar de toda a sua população. Como resultado, na década de 1970, a agenda ambiental global não tinha um programa claro. Em meio à Guerra Fria, os Estados Unidos – por meio de seu governo e capitalistas – impulsionaram a chamada Revolução Verde em todo o mundo. Esse nome surgiu da necessidade ideológica de combater as revoluções populares "vermelhas" que haviam ocorrido. Além disso, os EUA argumentaram que a adoção de agroquímicos levaria a uma revolução na produtividade agrícola, garantindo alimentos para todos.


Na época, os Estados Unidos já eram hegemônicos em grande parte do mundo com seu aparato cultural e de mídia, e eram facilmente capazes de persuadir governos e países a adotar sua "revolução" sem exame crítico. Em 1970, o principal proponente da Revolução Verde e da adoção de agroquímicos, o pesquisador de trigo dos EUA Norman Borlaug, recebeu o Prêmio Nobel da Paz.


Hoje, a Revolução Verde pode ser analisada criticamente como um modelo de produção focado em grande capital, buscando expandir seu alcance sobre vastas regiões agrícolas. Sob esse modelo, essas áreas foram transformadas em mercados consumidores para insumos industriais de empresas transnacionais dos EUA, forçando-as a comprar sementes híbridas, agroquímicos, fertilizantes, pesticidas e máquinas agrícolas. Ela foi baseada na monocultura e na produção em larga escala, implementada indiscriminadamente sem consideração das consequências ambientais. De certa forma, esse modelo também influenciou países que construíram o socialismo.


Hoje, estamos imersos na mais grave crise ambiental da história da humanidade. As mudanças climáticas e suas consequências – como inundações, furacões, secas e derretimento do gelo polar – colocam em risco milhares de espécies de plantas e animais, desestabilizando a natureza em todo o planeta. Essa situação afeta o mundo inteiro, independentemente das ações de cada país, pois todos nós compartilhamos uma casa comum. Talvez não haja palavras mais relevantes para o nosso dilema do que o aviso que Fidel Castro emitiu num discurso histórico proferido na Cúpula da Terra no Rio de Janeiro em junho de 1992: 'Uma importante espécie biológica está em perigo de desaparecer devido à destruição rápida e progressiva de suas condições naturais de vida: o ser humano. Agora estamos cientes dessa questão, embora seja quase tarde demais para evitá-la'.


Os artigos desta edição do Wenhua Zongheng ajudam os leitores a entender como a China lidou com esses problemas nas últimas três décadas. Ding Ling e Xu Zhun examinam os impactos contraditórios da Revolução Verde na China e argumentam que o país precisa passar por uma transformação ecológica para atingir a visão de uma "civilização ecológica" promovida pelos líderes do país. Enquanto isso, Xiong Jie e Tings Chak examinam o processo de restauração ambiental, estudando o caso do Lago Erhai, uma das muitas áreas danificadas durante as últimas décadas de rápido desenvolvimento económico e certos modelos de produção agrícola. Finalmente, Feng Kaidong e Chen Junting analisam o desenvolvimento histórico da indústria de veículos elétricos da China, um componente importante na transição do país para uma nova economia de energia que também pode promover processos de industrialização no Sul Global. Juntos, os acadêmicos fornecem depoimentos detalhados sobre vários aspectos da questão ambiental na China, em diferentes regiões do país, e identificam implicações para o resto do mundo, particularmente para países no Sul Global.


É urgente que organizações populares, movimentos camponeses, partidos de esquerda e governos progressistas em todo o mundo abracem a transformação ecológica como central para projetos de desenvolvimento em nossos países. Temos a responsabilidade de produzir alimentos em harmonia com a natureza, protegendo-a para as gerações futuras e mitigando as consequências das mudanças climáticas. Temos a obrigação de produzir alimentos saudáveis, sem agrotóxicos, para toda a população. Para isso, é necessário adotar a agroecologia como modelo de produção que se opõe ao modelo capitalista e suas corporações transnacionais.


Devemos combater o desmatamento e os incêndios relacionados, buscando programas massivos de reflorestamento voltados para as pessoas em áreas rurais e urbanas, e plantando árvores nativas e frutíferas em todos os espaços possíveis. Políticas concretas para proteger nascentes, rios e lagos de água doce também são essenciais.


É imperativo adotar políticas públicas que defendam os interesses de toda a população e dos camponeses. Será necessário desenvolver sistemas agroindustriais em cooperativas em escalas locais, garantindo a produção de alimentos saudáveis, sem aditivos químicos ou ingredientes ultraprocessados ​​que causam enormes problemas de saúde para a população.


Por fim, defendo a criação de uma lista de propostas e programas concretos que promovam o pensamento crítico e acumulem reflexões, ajudando ativistas e suas organizações a se importarem e adotarem programas verdadeiramente revolucionários nessa direção. A adoção de um modelo de produção baseado na agroecologia e na policultura, em vez da monocultura e seus pesticidas, é uma necessidade urgente para salvar o planeta e também é uma política claramente anticapitalista.


Os capitalistas não querem abandonar seu programa Revolução Verde. Eles continuarão expandindo suas imensas fazendas, praticando a monocultura, usando sementes geneticamente modificadas, agroquímicos e pesticidas, com máquinas cada vez maiores que expulsam a mão de obra do campo. Quando falam em defender a natureza, propõem apenas créditos de carbono florestal, convertendo oxigênio em títulos de capital que não mudam a realidade agrária de nossos países.


É absurdo usar florestas existentes como instrumentos de capital especulativo, permitindo que capitalistas compitam entre si pela renda extraordinária gerada. Este modelo capitalista não produz alimentos, mas apenas commodities agrícolas – bens sujeitos à especulação no mercado futuro e bolsas de valores. Isso não é agricultura; é meramente a dominação do capital sobre os ativos da natureza.


Agricultura é a ciência e a arte de cultivar a terra para produzir, em harmonia com a natureza, o que os humanos precisam, especialmente os alimentos que alimentam a vida. Os capitalistas estão destruindo a agricultura e, ao fazer isso, estão colocando em risco o futuro e a capacidade de produzir alimentos para toda a população. Isso gera lucro, mas ao custo de explorar trabalhadores e cometer crimes ambientais contra a natureza.


Estou certo de que as reflexões dos nossos camaradas chineses ajudarão a aprofundar o debate em todas as organizações populares e de esquerda sobre este importante desafio do nosso tempo.

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Wenhua Zongheng (文化纵横) é um periódico líder em pensamento político e cultural contemporâneo na China. A publicação apresenta artigos de intelectuais de todo o país com diversas posições ideológicas e é uma referência importante para desenvolvimentos no pensamento chinês. O Tricontinental: Institute for Social Research e o Dongsheng fizeram uma parceria com o Wenhua Zongheng para publicar uma edição internacional do periódico para oferecer aos nossos leitores uma oportunidade de se envolver com o rico e complexo cenário intelectual da China moderna.



Colonização atmosférica e imperialismo ecológico no sistema mundial: o terceiro boletim informativo pan-africano (2025)

A exploração da atmosfera e dos recursos pelo Norte Global levou ao colapso climático em um ato de colonização atmosférica. Jason Hickel destrincha os dados, desmascara mitos e descreve caminhos para a justiça ecológica global.



Podemos ver isso muito claramente quando se trata de emissões. O limite planetário seguro para emissões cumulativas é de 350 ppm de concentração de CO2 na atmosfera. As emissões globais excederam esse limite em 1988, nos empurrando para uma era de colapso climático acelerado. No entanto, nem todos os países são igualmente responsáveis ​​por esse excesso. Nossa pesquisa mostra que o Norte Global é responsável por 86% de todas as emissões que excedem o limite planetário (atualizado para o ano mais recente de dados). Isso significa que eles também são responsáveis ​​por 86% de todos os danos causados ​​pelo colapso climático, em todo o mundo.


Elvis Myeni Mthunzi (Suazilândia), Arte Swazi , 2013.

Saudações da mesa da Tricontinental Pan Africa,

Um dos mitos mais prejudiciais sobre a crise ecológica global é que os humanos, como tal, são responsáveis ​​por ela. Na realidade, a crise está sendo impulsionada pelo nosso sistema econômico particular, o capitalismo, e é causada quase inteiramente pelos estados e corporações do Norte Global (o núcleo imperial), principalmente para o benefício de suas elites.

Em contraste, a China é responsável por apenas 1%. Ela mal ultrapassou sua cota justa do limite planetário. Isso vai contra as narrativas dominantes que buscam lançar a China como a principal culpada das mudanças climáticas. Enquanto isso, a maioria dos países do Sul Global – incluindo a maior parte da África, Sul da Ásia e América Latina – ainda está dentro de sua cota justa do limite planetário e não contribuiu em nada para o colapso climático .

Rua Esselen (África do Sul), Banele Khoza, 2016.

O colapso climático é melhor compreendido como um processo de colonização atmosférica. A atmosfera é um bem comum compartilhado do qual todos nós dependemos para nossa existência. Países ricos se apropriaram dela para seu próprio enriquecimento, com consequências devastadoras para toda a vida na Terra.

Enquanto isso, o Sul Global, que fez muito pouco para causar esse problema, sofre a esmagadora maioria dos danos e mortes. Para países que têm uma pontuação de vulnerabilidade climática multidimensional maior que 0,36, todos eles estão no Sul Global. Dos vinte países mais vulneráveis, treze são países africanos, quatro são pequenas nações insulares e dois são países do sul da Ásia. Um artigo recente na Nature Sustainability descobriu que, em nossa trajetória política atual, que está projetada para atingir mais de 2,7 graus de aquecimento, dois bilhões de pessoas serão expostas ao calor extremo, com risco severo de aumento nas taxas de mortalidade relacionadas ao calor. 99,7% dessa exposição será no Sul Global, principalmente em países que não fizeram nada para causar essa crise.

Em outras palavras, não apenas o colapso climático representa um processo de colonização atmosférica, as consequências também estão se desenrolando ao longo das linhas coloniais. O desastre que está sendo causado é uma continuação direta da violência colonial. Seria difícil exagerar a escala dessa injustiça. De fato, quando entendemos que essa é a trajetória que nossas classes dominantes estão atualmente planejando alcançar (e que poderia ser facilmente evitada), é difícil vê-la como algo diferente de genocida.

E o clima não é a única crise que enfrentamos. Também precisamos prestar atenção ao uso de materiais , que é o principal impulsionador da perda de biodiversidade e dos danos ao ecossistema. O uso global total de materiais – incluindo toda a biomassa, minerais e metais – atingiu mais de 100 bilhões de toneladas por ano, excedendo o que os ecologistas industriais definem como a barreira sustentável por um fator de dois.

Zizipho Poswa (África do Sul), Mam'uNoNezile , 2023.

Mas, novamente, descobrimos que os países ricos são esmagadoramente responsáveis ​​por esse problema. Em média, os países de alta renda atualmente usam cerca de 28 toneladas de materiais per capita por ano, o que é quatro vezes acima do limite seguro e muito acima do que é necessário para garantir uma vida boa para todos. No entanto, como grande parte de sua produção é organizada em torno da acumulação de capital e do consumo da elite, dezenas de milhões de pessoas nesses países ainda são privadas de acesso às necessidades básicas. Em contraste, os países de baixa renda têm padrões de uso mais sustentáveis, permanecendo bem dentro de sua cota justa. Na verdade, na maioria dos casos, eles precisam aumentar o uso de materiais para construir a infraestrutura necessária para sua soberania industrial e desenvolvimento humano.

Aqui também, o uso excessivo de recursos no núcleo imperial representa processos de colonização. O Norte Global depende de uma apropriação líquida massiva de recursos do Sul Global por meio de dinâmicas de troca desigual no comércio internacional. Em outras palavras, a economia mundial é caracterizada por um fluxo líquido de recursos do sul para o norte, da periferia para o núcleo. Isso acontece porque os estados e empresas do norte suprimem os preços da mão de obra e dos recursos do sul, o que lhes permite importar substancialmente mais do que exportam.

Em um artigo recente publicado na Global Environmental Change , medimos a escala total da apropriação líquida do Sul Global em termos empíricos, no período de 1990 a 2015. Descobrimos que, no último ano, o Norte Global se apropriou de 12 bilhões de toneladas de materiais, 21 exajoules de energia e 822 milhões de hectares de terra incorporada do Sul Global.

Esses números são tão grandes que pode ser difícil compreendê-los, então pense dessa forma. Essa quantidade de materiais e energia seria suficiente para desenvolver a infraestrutura necessária para fornecer assistência médica universal, educação, moradia moderna, aquecimento e resfriamento, geladeiras, freezers, máquinas de lavar, sistemas de saneamento, transporte público, internet e telefones celulares para toda a população do Sul Global, atendendo às necessidades humanas em um bom padrão. Em vez disso, é apropriado para alimentar o crescimento corporativo e a acumulação de capital no Norte Global. Quanto à massa de terra física que o norte se apropria a cada ano, é o dobro do tamanho da Índia. Essa terra poderia ser usada para fornecer alimentos nutritivos para cerca de seis bilhões de pessoas (dependendo de sua dieta), eliminando permanentemente a fome e a desnutrição no Sul Global, mas em vez disso é usada para produzir coisas como açúcar para a Coca-Cola e carne bovina para o McDonalds, consumidas no norte.

Margaret Mitchell (Suazilândia), Faithfull Sun, 2013.

Troca desigual é uma característica massiva da economia mundial. Nossos resultados mostram que as economias do Norte Global dependem totalmente desses padrões de apropriação. Sem isso, o consumo de materiais do Norte cairia pela metade.

Enquanto o Norte desfruta dos benefícios do alto uso de recursos, permitindo que suas elites possuam mansões, iates e utilitários esportivos, os impactos sociais e ecológicos são deslocalizados, ou "externalizados", para o Sul global. É aí que o dano acontece. Você não vê isso nas colinas verdes e agradáveis ​​da Inglaterra ou da Suécia, você vê isso na Indonésia, no Brasil e no Congo - nas fronteiras da extração capitalista. Essa drenagem por meio de trocas desiguais causa danos ecológicos extraordinários no Sul. Mas também perpetua a privação em massa. Descobrimos que o valor apropriado do Sul a cada ano vale trilhões de dólares e seria suficiente para acabar com a pobreza muitas vezes. Mas, em vez disso, o Sul é mantido em condições de privação para sustentar a acumulação no Norte.

A boa notícia é que nada disso é inevitável. Evidências empíricas da economia ecológica mostram que é possível proporcionar boas vidas para 8,5 bilhões de pessoas neste planeta, abolindo permanentemente a privação humana, com menos material e energia do que a economia global usa atualmente, se esse fosse o objetivo da produção . Se a produção não fosse organizada em torno da acumulação de capital e do privilégio imperial. Para alcançar tal futuro, devemos lutar para recuperar o controle democrático sobre os meios de produção e organizá-lo em torno do bem-estar humano, inclusive por meio do planejamento e da prestação de serviços públicos. No Sul Global, isso requer estratégias para se desvincular do núcleo imperial e usar políticas socialistas para construir a soberania econômica. Esse é o horizonte.

Calorosamente,

Jason Hickel

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