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sexta-feira, 17 de outubro de 2025

Portugueses estrangeiros na sua própria terra. As coisas podem descambar, diz Passos

 “Se tudo se mantiver como está”, as pessoas vão sentir-se estrangeiras na sua própria terra, diz Pedro Passos Coelho. Seriam consideradas cosmopolitas, “o que era ótimo”, mas não é ótimo porque “as pessoas sentem-se inseguras, ameaçadas”, adverte o antigo primeiro-ministro.



“Em muito pouco tempo entrou imensa gente em Portugal”, disse Pedro Passos Coelho esta quinta-feira num discurso, em Lisboa, na apresentação do livro “Introdução ao Liberalismo”, de Miguel Morgado.

O antigo primeiro-ministro abordava os dados divulgados pela AIMA no mesmo dia, que indicam que o número de cidadãos estrangeiros a residir em Portugal quadruplicou em sete anos, com cerca de 1,5 milhões registados no final de 2024.

“E, se tudo se mantiver como está com o reagrupamento familiar e por aí fora, bem, qualquer dia também acontecerá cá aquilo que acontece noutras sociedades em que as pessoas, os nacionais, as pessoas que fazem parte daquela sociedade, se sentem estrangeiras na sua própria terra“, advertiu.

Numa intervenção consagrada ao tema do liberalismo, Passos Coelho salientou que, de acordo com essa filosofia política, “não devia haver nenhum problema em que as pessoas se sentissem estrangeiras na sua própria terra”, ironizando que seriam consideradas como “cosmopolitas, o que era ótimo”.

“O problema é que não é ótimo porque as pessoas sentem-se inseguras, ameaçadas, de certa maneira desorientadas, desconfiadas… Tudo aquilo que são características muito humanas e que, em circunstâncias normais, não valem grande coisa, em ambientes destes, as coisas podem descambar“, afirmou.

Passos Coelho considerou que “o mínimo de bom senso faz qualquer pessoa perceber isto”, antes de deixar crítica aos governos do PS liderados por António Costa, que acusou de terem tido uma política sobre imigração que tinha como princípio “deixa entrar, isto é para ser assim e não pergunto nada a ninguém”.

“Isto era o que anterior primeiro-ministro dizia aos quadros superiores do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) quando era por eles alertado ‘senhor primeiro-ministro, cuidado porque nós estamos a perder o controlo desta situação. Olhe, está a entrar muita gente, a gente nem sabe quem é. A gente nem o certificado criminal pede'”, disse.

Segundo Passos Coelho, em resposta a esses avisos que atribuiu ao SEF, António Costa respondia: “Isto é mesmo assim, está a perceber? Não pense que é um acaso, é mesmo para isso, é para meter essas pessoas cá dentro, isto é para prosseguir”.

O ex-primeiro-ministro acusou os governos PS de terem “feito isso conscientemente“, antes de deixar uma sugestão de pergunta a António Costa.

“Já alguém perguntou ao senhor presidente do Conselho Europeu se ele não queria rever essa posição, que trouxe tanto radicalismo a Portugal, tanta insegurança e incerteza na maneira como as pessoas discutem no espaço público”, disse.

Depois, Passos Coelho recordou que, na campanha para as eleições legislativas de 2024, num discurso num comício de apoio a Luís Montenegro no Algarve, já tinha advertido para o “problema da imigração“.

“Quando eu chamei a atenção para estes problemas há dois anos, meu Deus, vários órgãos de comunicação social disseram: ‘este tipo está a misturar segurança e imigração na mesma frase. Populismo, irresponsabilidade total, nem parece que foi primeiro-ministro, completamente irresponsável’. Não sei o que dirão agora”, referiu.

Num discurso de 50 minutos, Passos Coelho advertiu ainda que há “em todo o lado um radicalismo que está a tomar conta do espaço público” e considerou que o seu crescimento “resulta da forma absolutamente irresponsável com que muitos dos assuntos que preocupam e perturbam as pessoas, não foram tratados“.

Para o ex-primeiro-ministro, sempre que “há governos que se comportam com excesso de demagogia, de forma populista, que querem agradar a toda a gente e empurram com a barriga tudo aquilo que é preciso fazer”, os problemas “acumulam-se e as pessoas dizem ‘o que é que estes tipos estão lá a fazer‘”.

“Este nível de desconfiança, de descrédito, de incerteza que resulta das práticas das instituições liberais, por serem ocupadas e desempenhadas com irresponsabilidade geral, geram radicalismo. E o radicalismo gera radicalismo“, advertiu.

É uma delícia

Pedro Passos Coelho manifestou-se também “muito satisfeito” com o que considerou ser o “resultado muito bom” do PSD nas eleições autárquicas, após ter feito um discurso no qual deixou advertências quanto à política económica do Governo.

“Eu fiquei muito contente com o resultado das eleições autárquicas, até porque o meu partido, o PSD, teve um resultado muito bom. E, portanto, eu fico satisfeito”, afirmou Passos Coelho aos jornalistas após o seu discurso na apresentação do livro de Miguel Morgado.

Sobre o facto de Suzana Garcia, cuja candidatura Passos Coelho tinha apoiado, não ter conseguido ser eleita presidente da Câmara da Amadora, o ex-primeiro-ministro disse que “foi por uma unha negra“.

“Eu espero que a candidata não desista porque, realmente, é uma força da natureza, é uma pessoa que, não direi sozinha, mas, enfim, com apoios muito limitados, fez um grande resultado e isso deve fazer pensar quem tem responsabilidades para pensar sobre isso”, considerou.

Perante a insistência dos jornalistas para falar sobre outros temas, Passos Coelho disse que, sobre política, já tinha dito tudo o que tinha a dizer no discurso que fez na apresentação do livro de Miguel Morgado, antes de deixar uma garantia.

“Não me ouvirão tão cedo falar sobre coisa nenhuma”, assegurou, depois de, desde 25 de setembro, ter feito cinco intervenções públicas.

No discurso que fez na sessão de apresentação do livro de Miguel Morgado, Pedro Passos Coelho acusou os governos do PS liderados por António Costa de não terem feito “uma reforma digna de jeito“.

Segundo o antigo primeiro-ministro, foram “oito anos com uma conversa fiada a dizer às pessoas que elas iam ter imenso do que não tinham afinal. Claro, com o PCP e o BE a apoiar isso. É uma delícia. Mas com uma austeridade encapotada. Portanto, mentir às pessoas”, acusou.

Nesses anos de governação do PS, “a verdade não estava a ser dita“, disse Passos Coelho, acrescentando que isso se está a verificar agora quando se observa a “insuficiência dramática do investimento público” ou a situação no Serviço Nacional de Saúde (SNS).

Ponham-lhe uma crise económica em cima

Depois, acusando o PS de ter tido uma “política pública desqualificada” e ainda que tenha dito que não tencionava falar sobre os últimos de governação, Passos Coelho deixou uma advertência em termos de matéria económica.

“O senhor ministro das Finanças é um homem muito competente e, portanto, eu acredito que ele tenha as contas muito bem feitas e garanta que não vamos voltar aos défices públicos e à dívida pública e isso tudo. Mas a minha experiência de vida também mostra que há muita coisa que não depende do ministro das Finanças”, referiu.

E, no que não depender do ministro das Finanças, prosseguiu Passos Coelho, “a coisa não está a encaminhar-se para o resultado” desejado.

“Deveríamos estar a preparar-nos para aliviar o passo do desendividamento da economia porque o que se está a passar em França, onde o Governo aceitou suspender o aumento da idade da reforma, não vai acabar bem. O pensamento mágico é uma coisa que tem uma duração limitada”, advertiu.

Passos Coelho reconheceu que se pode argumentar que Portugal está melhor porque tem “um bocadinho menos do que 90% do rácio de dívida“.

“Sim, mas ponham-lhe uma crise económica em cima, para quanto é que passa o rácio da dívida? Desde logo, o denominador encolhe, a despesa aumenta toda, para onde é que vai o rácio dívida? É muito rápido voltar a um rácio mais elevado”, concluiu Passos Coelho.


ZAP 

quarta-feira, 26 de março de 2025

Transformação ecológica, agricultura e a sobrevivência da humanidade.

 


Arte criada pelo Tricontinental: Instituto de Pesquisa Social.




Esta edição da edição internacional do Wenhua Zongheng (文化纵横) examina a transição ecológica da China. Os artigos cobrem uma série de questões ambientais, incluindo esforços de restauração, a indústria de veículos elétricos e a relação entre transformação agrícola e ecológica.

Os três artigos desta edição da edição internacional do Wenhua Zongheng (文化纵横) oferecem visões complementares sobre questões fundamentais para a sobrevivência da humanidade: produção de alimentos, agroecologia, restauração ambiental e energias renováveis. Comprometidos com as causas de seu povo e de toda a humanidade, os autores chineses apresentam aos leitores experiências concretas da realidade de seu país.


Infelizmente, no Ocidente, as perspectivas intelectuais chinesas e os debates sobre realidades globais contemporâneas são completamente ignorados, mesmo dentro dos círculos esquerdistas. Ao compartilhar as perspectivas de nossos camaradas chineses, traduzidas para diferentes idiomas, acredito que este periódico fornece um serviço inestimável.


A esquerda global está em dívida com aqueles que estão seriamente envolvidos nesses debates cruciais. Poucos intelectuais estão preocupados em se aprofundar em tais reflexões. Geralmente, os partidos de esquerda permanecem presos em slogans, clichês e dogmas, como Mao Zedong havia alertado. Enquanto isso, o debate dentro das universidades — e da maioria da sociedade — é limitado a diagnósticos de problemas, evitando uma série de questões urgentes e falhando em analisar o movimento capitalista em direção à exploração de recursos naturais para lucros extraordinários. Tais processos imprudentes levam a crimes ambientais e mudanças climáticas.


Já no século XIX, Karl Marx observou como o capitalismo industrial poderia afetar o meio ambiente. Rosa Luxemburgo aprofundou essa análise, examinando o interesse do capital em apropriar-se privadamente de recursos naturais como parte de sua acumulação primitiva. Mais tarde, Vladimir Lenin e Nikolai Bukharin argumentaram que a fase imperialista do capitalismo levaria inevitavelmente a ataques aos recursos naturais, impulsionados pela necessidade de matérias-primas para abastecer fábricas e expandir mercados capitalistas.


Durante os processos revolucionários na Rússia, Europa Oriental e China – e mais tarde, as revoluções populares em Cuba e Vietnã – as preocupações ambientais eram secundárias, pois esses países primeiro precisavam atender às necessidades básicas do povo por meio de investimentos produtivos que gerassem progresso económico e melhorassem o bem-estar de toda a sua população. Como resultado, na década de 1970, a agenda ambiental global não tinha um programa claro. Em meio à Guerra Fria, os Estados Unidos – por meio de seu governo e capitalistas – impulsionaram a chamada Revolução Verde em todo o mundo. Esse nome surgiu da necessidade ideológica de combater as revoluções populares "vermelhas" que haviam ocorrido. Além disso, os EUA argumentaram que a adoção de agroquímicos levaria a uma revolução na produtividade agrícola, garantindo alimentos para todos.


Na época, os Estados Unidos já eram hegemônicos em grande parte do mundo com seu aparato cultural e de mídia, e eram facilmente capazes de persuadir governos e países a adotar sua "revolução" sem exame crítico. Em 1970, o principal proponente da Revolução Verde e da adoção de agroquímicos, o pesquisador de trigo dos EUA Norman Borlaug, recebeu o Prêmio Nobel da Paz.


Hoje, a Revolução Verde pode ser analisada criticamente como um modelo de produção focado em grande capital, buscando expandir seu alcance sobre vastas regiões agrícolas. Sob esse modelo, essas áreas foram transformadas em mercados consumidores para insumos industriais de empresas transnacionais dos EUA, forçando-as a comprar sementes híbridas, agroquímicos, fertilizantes, pesticidas e máquinas agrícolas. Ela foi baseada na monocultura e na produção em larga escala, implementada indiscriminadamente sem consideração das consequências ambientais. De certa forma, esse modelo também influenciou países que construíram o socialismo.


Hoje, estamos imersos na mais grave crise ambiental da história da humanidade. As mudanças climáticas e suas consequências – como inundações, furacões, secas e derretimento do gelo polar – colocam em risco milhares de espécies de plantas e animais, desestabilizando a natureza em todo o planeta. Essa situação afeta o mundo inteiro, independentemente das ações de cada país, pois todos nós compartilhamos uma casa comum. Talvez não haja palavras mais relevantes para o nosso dilema do que o aviso que Fidel Castro emitiu num discurso histórico proferido na Cúpula da Terra no Rio de Janeiro em junho de 1992: 'Uma importante espécie biológica está em perigo de desaparecer devido à destruição rápida e progressiva de suas condições naturais de vida: o ser humano. Agora estamos cientes dessa questão, embora seja quase tarde demais para evitá-la'.


Os artigos desta edição do Wenhua Zongheng ajudam os leitores a entender como a China lidou com esses problemas nas últimas três décadas. Ding Ling e Xu Zhun examinam os impactos contraditórios da Revolução Verde na China e argumentam que o país precisa passar por uma transformação ecológica para atingir a visão de uma "civilização ecológica" promovida pelos líderes do país. Enquanto isso, Xiong Jie e Tings Chak examinam o processo de restauração ambiental, estudando o caso do Lago Erhai, uma das muitas áreas danificadas durante as últimas décadas de rápido desenvolvimento económico e certos modelos de produção agrícola. Finalmente, Feng Kaidong e Chen Junting analisam o desenvolvimento histórico da indústria de veículos elétricos da China, um componente importante na transição do país para uma nova economia de energia que também pode promover processos de industrialização no Sul Global. Juntos, os acadêmicos fornecem depoimentos detalhados sobre vários aspectos da questão ambiental na China, em diferentes regiões do país, e identificam implicações para o resto do mundo, particularmente para países no Sul Global.


É urgente que organizações populares, movimentos camponeses, partidos de esquerda e governos progressistas em todo o mundo abracem a transformação ecológica como central para projetos de desenvolvimento em nossos países. Temos a responsabilidade de produzir alimentos em harmonia com a natureza, protegendo-a para as gerações futuras e mitigando as consequências das mudanças climáticas. Temos a obrigação de produzir alimentos saudáveis, sem agrotóxicos, para toda a população. Para isso, é necessário adotar a agroecologia como modelo de produção que se opõe ao modelo capitalista e suas corporações transnacionais.


Devemos combater o desmatamento e os incêndios relacionados, buscando programas massivos de reflorestamento voltados para as pessoas em áreas rurais e urbanas, e plantando árvores nativas e frutíferas em todos os espaços possíveis. Políticas concretas para proteger nascentes, rios e lagos de água doce também são essenciais.


É imperativo adotar políticas públicas que defendam os interesses de toda a população e dos camponeses. Será necessário desenvolver sistemas agroindustriais em cooperativas em escalas locais, garantindo a produção de alimentos saudáveis, sem aditivos químicos ou ingredientes ultraprocessados ​​que causam enormes problemas de saúde para a população.


Por fim, defendo a criação de uma lista de propostas e programas concretos que promovam o pensamento crítico e acumulem reflexões, ajudando ativistas e suas organizações a se importarem e adotarem programas verdadeiramente revolucionários nessa direção. A adoção de um modelo de produção baseado na agroecologia e na policultura, em vez da monocultura e seus pesticidas, é uma necessidade urgente para salvar o planeta e também é uma política claramente anticapitalista.


Os capitalistas não querem abandonar seu programa Revolução Verde. Eles continuarão expandindo suas imensas fazendas, praticando a monocultura, usando sementes geneticamente modificadas, agroquímicos e pesticidas, com máquinas cada vez maiores que expulsam a mão de obra do campo. Quando falam em defender a natureza, propõem apenas créditos de carbono florestal, convertendo oxigênio em títulos de capital que não mudam a realidade agrária de nossos países.


É absurdo usar florestas existentes como instrumentos de capital especulativo, permitindo que capitalistas compitam entre si pela renda extraordinária gerada. Este modelo capitalista não produz alimentos, mas apenas commodities agrícolas – bens sujeitos à especulação no mercado futuro e bolsas de valores. Isso não é agricultura; é meramente a dominação do capital sobre os ativos da natureza.


Agricultura é a ciência e a arte de cultivar a terra para produzir, em harmonia com a natureza, o que os humanos precisam, especialmente os alimentos que alimentam a vida. Os capitalistas estão destruindo a agricultura e, ao fazer isso, estão colocando em risco o futuro e a capacidade de produzir alimentos para toda a população. Isso gera lucro, mas ao custo de explorar trabalhadores e cometer crimes ambientais contra a natureza.


Estou certo de que as reflexões dos nossos camaradas chineses ajudarão a aprofundar o debate em todas as organizações populares e de esquerda sobre este importante desafio do nosso tempo.

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Wenhua Zongheng (文化纵横) é um periódico líder em pensamento político e cultural contemporâneo na China. A publicação apresenta artigos de intelectuais de todo o país com diversas posições ideológicas e é uma referência importante para desenvolvimentos no pensamento chinês. O Tricontinental: Institute for Social Research e o Dongsheng fizeram uma parceria com o Wenhua Zongheng para publicar uma edição internacional do periódico para oferecer aos nossos leitores uma oportunidade de se envolver com o rico e complexo cenário intelectual da China moderna.



Colonização atmosférica e imperialismo ecológico no sistema mundial: o terceiro boletim informativo pan-africano (2025)

A exploração da atmosfera e dos recursos pelo Norte Global levou ao colapso climático em um ato de colonização atmosférica. Jason Hickel destrincha os dados, desmascara mitos e descreve caminhos para a justiça ecológica global.



Podemos ver isso muito claramente quando se trata de emissões. O limite planetário seguro para emissões cumulativas é de 350 ppm de concentração de CO2 na atmosfera. As emissões globais excederam esse limite em 1988, nos empurrando para uma era de colapso climático acelerado. No entanto, nem todos os países são igualmente responsáveis ​​por esse excesso. Nossa pesquisa mostra que o Norte Global é responsável por 86% de todas as emissões que excedem o limite planetário (atualizado para o ano mais recente de dados). Isso significa que eles também são responsáveis ​​por 86% de todos os danos causados ​​pelo colapso climático, em todo o mundo.


Elvis Myeni Mthunzi (Suazilândia), Arte Swazi , 2013.

Saudações da mesa da Tricontinental Pan Africa,

Um dos mitos mais prejudiciais sobre a crise ecológica global é que os humanos, como tal, são responsáveis ​​por ela. Na realidade, a crise está sendo impulsionada pelo nosso sistema econômico particular, o capitalismo, e é causada quase inteiramente pelos estados e corporações do Norte Global (o núcleo imperial), principalmente para o benefício de suas elites.

Em contraste, a China é responsável por apenas 1%. Ela mal ultrapassou sua cota justa do limite planetário. Isso vai contra as narrativas dominantes que buscam lançar a China como a principal culpada das mudanças climáticas. Enquanto isso, a maioria dos países do Sul Global – incluindo a maior parte da África, Sul da Ásia e América Latina – ainda está dentro de sua cota justa do limite planetário e não contribuiu em nada para o colapso climático .

Rua Esselen (África do Sul), Banele Khoza, 2016.

O colapso climático é melhor compreendido como um processo de colonização atmosférica. A atmosfera é um bem comum compartilhado do qual todos nós dependemos para nossa existência. Países ricos se apropriaram dela para seu próprio enriquecimento, com consequências devastadoras para toda a vida na Terra.

Enquanto isso, o Sul Global, que fez muito pouco para causar esse problema, sofre a esmagadora maioria dos danos e mortes. Para países que têm uma pontuação de vulnerabilidade climática multidimensional maior que 0,36, todos eles estão no Sul Global. Dos vinte países mais vulneráveis, treze são países africanos, quatro são pequenas nações insulares e dois são países do sul da Ásia. Um artigo recente na Nature Sustainability descobriu que, em nossa trajetória política atual, que está projetada para atingir mais de 2,7 graus de aquecimento, dois bilhões de pessoas serão expostas ao calor extremo, com risco severo de aumento nas taxas de mortalidade relacionadas ao calor. 99,7% dessa exposição será no Sul Global, principalmente em países que não fizeram nada para causar essa crise.

Em outras palavras, não apenas o colapso climático representa um processo de colonização atmosférica, as consequências também estão se desenrolando ao longo das linhas coloniais. O desastre que está sendo causado é uma continuação direta da violência colonial. Seria difícil exagerar a escala dessa injustiça. De fato, quando entendemos que essa é a trajetória que nossas classes dominantes estão atualmente planejando alcançar (e que poderia ser facilmente evitada), é difícil vê-la como algo diferente de genocida.

E o clima não é a única crise que enfrentamos. Também precisamos prestar atenção ao uso de materiais , que é o principal impulsionador da perda de biodiversidade e dos danos ao ecossistema. O uso global total de materiais – incluindo toda a biomassa, minerais e metais – atingiu mais de 100 bilhões de toneladas por ano, excedendo o que os ecologistas industriais definem como a barreira sustentável por um fator de dois.

Zizipho Poswa (África do Sul), Mam'uNoNezile , 2023.

Mas, novamente, descobrimos que os países ricos são esmagadoramente responsáveis ​​por esse problema. Em média, os países de alta renda atualmente usam cerca de 28 toneladas de materiais per capita por ano, o que é quatro vezes acima do limite seguro e muito acima do que é necessário para garantir uma vida boa para todos. No entanto, como grande parte de sua produção é organizada em torno da acumulação de capital e do consumo da elite, dezenas de milhões de pessoas nesses países ainda são privadas de acesso às necessidades básicas. Em contraste, os países de baixa renda têm padrões de uso mais sustentáveis, permanecendo bem dentro de sua cota justa. Na verdade, na maioria dos casos, eles precisam aumentar o uso de materiais para construir a infraestrutura necessária para sua soberania industrial e desenvolvimento humano.

Aqui também, o uso excessivo de recursos no núcleo imperial representa processos de colonização. O Norte Global depende de uma apropriação líquida massiva de recursos do Sul Global por meio de dinâmicas de troca desigual no comércio internacional. Em outras palavras, a economia mundial é caracterizada por um fluxo líquido de recursos do sul para o norte, da periferia para o núcleo. Isso acontece porque os estados e empresas do norte suprimem os preços da mão de obra e dos recursos do sul, o que lhes permite importar substancialmente mais do que exportam.

Em um artigo recente publicado na Global Environmental Change , medimos a escala total da apropriação líquida do Sul Global em termos empíricos, no período de 1990 a 2015. Descobrimos que, no último ano, o Norte Global se apropriou de 12 bilhões de toneladas de materiais, 21 exajoules de energia e 822 milhões de hectares de terra incorporada do Sul Global.

Esses números são tão grandes que pode ser difícil compreendê-los, então pense dessa forma. Essa quantidade de materiais e energia seria suficiente para desenvolver a infraestrutura necessária para fornecer assistência médica universal, educação, moradia moderna, aquecimento e resfriamento, geladeiras, freezers, máquinas de lavar, sistemas de saneamento, transporte público, internet e telefones celulares para toda a população do Sul Global, atendendo às necessidades humanas em um bom padrão. Em vez disso, é apropriado para alimentar o crescimento corporativo e a acumulação de capital no Norte Global. Quanto à massa de terra física que o norte se apropria a cada ano, é o dobro do tamanho da Índia. Essa terra poderia ser usada para fornecer alimentos nutritivos para cerca de seis bilhões de pessoas (dependendo de sua dieta), eliminando permanentemente a fome e a desnutrição no Sul Global, mas em vez disso é usada para produzir coisas como açúcar para a Coca-Cola e carne bovina para o McDonalds, consumidas no norte.

Margaret Mitchell (Suazilândia), Faithfull Sun, 2013.

Troca desigual é uma característica massiva da economia mundial. Nossos resultados mostram que as economias do Norte Global dependem totalmente desses padrões de apropriação. Sem isso, o consumo de materiais do Norte cairia pela metade.

Enquanto o Norte desfruta dos benefícios do alto uso de recursos, permitindo que suas elites possuam mansões, iates e utilitários esportivos, os impactos sociais e ecológicos são deslocalizados, ou "externalizados", para o Sul global. É aí que o dano acontece. Você não vê isso nas colinas verdes e agradáveis ​​da Inglaterra ou da Suécia, você vê isso na Indonésia, no Brasil e no Congo - nas fronteiras da extração capitalista. Essa drenagem por meio de trocas desiguais causa danos ecológicos extraordinários no Sul. Mas também perpetua a privação em massa. Descobrimos que o valor apropriado do Sul a cada ano vale trilhões de dólares e seria suficiente para acabar com a pobreza muitas vezes. Mas, em vez disso, o Sul é mantido em condições de privação para sustentar a acumulação no Norte.

A boa notícia é que nada disso é inevitável. Evidências empíricas da economia ecológica mostram que é possível proporcionar boas vidas para 8,5 bilhões de pessoas neste planeta, abolindo permanentemente a privação humana, com menos material e energia do que a economia global usa atualmente, se esse fosse o objetivo da produção . Se a produção não fosse organizada em torno da acumulação de capital e do privilégio imperial. Para alcançar tal futuro, devemos lutar para recuperar o controle democrático sobre os meios de produção e organizá-lo em torno do bem-estar humano, inclusive por meio do planejamento e da prestação de serviços públicos. No Sul Global, isso requer estratégias para se desvincular do núcleo imperial e usar políticas socialistas para construir a soberania econômica. Esse é o horizonte.

Calorosamente,

Jason Hickel

https://thetricontinental.org/

A democracia é como o arroz. Precisamos cultivá-lo nós mesmos: o décimo segundo boletim informativo pan-africano (2024)

 Em Niamey, uma conferência internacional esperançosa uniu diversas vozes do Sahel para redefinir a soberania, a democracia e o anti-imperialismo, marcando um momento histórico para a Aliança dos Estados do Sahel e a luta do povo.

31 DE DEZEMBRO DE 2024

Colagem de seis pessoas: Da esquerda para a direita, de cima para baixo: Tinibu, uma autointitulada apoiadora e animadora do CNSP; Hamadou Salamou, presidente da Associação de Mulheres em Ação para Combate; Mohammed Larré, organizadora da União para a Promoção das Mulheres Nigerinas; Khadija Abdullah, professora de inglês; Ocean Sawadogo, musicista e artista; Rakia Hassane, uma das organizadoras da conferência. Crédito: Mika Erskog.

Saudações da mesa da Tricontinental Pan-Africa,

Uma reunião esperançosa foi realizada em Niamey, Níger, no final de novembro. Na cerimônia de abertura da Conferência Internacional de Solidariedade com o Povo do Sahel em 19 de novembro de 2024, o Governador de Niamey, Brigadeiro-General Abdou Assoumane Harouna, um líder sênior no Conselho Nacional para a Salvaguarda das Terras Natais (CNSP), descreveu as condições que compeliram o Movimento de 26 de julho e como ele evoluiu para a expulsão das forças militares e diplomáticas francesas. Ele viu esse movimento como um processo de recuperação da soberania e dignidade, e a criação da Alliance des États du Sahel (AES ou Aliança dos Estados do Sahel) como um processo histórico e consciente que é "irreversível... [e] não pode ser interrompido pela velha ordem [dominada pelo Ocidente]".

Sentado ao lado dele estava o Primeiro-Ministro do Níger, Ali Lamine Zeine, como parte de um painel diverso de palestrantes de diferentes organizações progressistas nacionais, regionais e internacionais. Ao lado do mais alto líder civil no governo (Zeine) e do líder militar (Harouna) estavam representantes do Comitê Organizador Nacional do Níger, da Organização dos Povos da África Ocidental (WAPO), do Pan Africanism Today e da Assembleia Internacional dos Povos.

Golpes recentes no Níger, Burkina Faso e Mali foram pintados como atos de caos e instabilidade caracterizados por "rivalidade étnica" e disputas de poder interpessoais. Com a ampla inclusão de tantos tipos de líderes na cerimônia de abertura, fica imediatamente claro que os processos que se desenrolam no Sahel não podem ser compreendidos da perspectiva do golpe arquetípico do "coronel".

Ausentes de muitas narrativas sobre eventos recentes no Sahel estão as condições históricas e materiais que os informam. Esses golpes são expressões de descontentamento profundamente enraizado com décadas de exploração, pobreza e dominação estrangeira. Frequentemente, reportagens descontextualizadas pela mídia ocidental separam as ações dos governos golpistas das aspirações de seu povo. O que eles deixam de mostrar, ou se recusam a reconhecer, é o profundo apoio popular que esses movimentos comandam e o caráter de massa da luta.

A conferência exibiu a rica diversidade social presente neste novo processo patriótico. Pudemos ver em tempo real as pessoas que estão dirigindo e reunindo as forças populares em apoio aos líderes do golpe e à nova aliança regional; jovens, velhos, mulheres e homens, estudantes de todas as idades, trabalhadores culturais, sindicatos, organizações comunitárias para saúde, segurança, proteções ambientais e grupos religiosos, todos a favor da ação anti-imperialista. (Em uma ocorrência rara para reuniões políticas, a oração de abertura foi liderada em conjunto por um imã islâmico e um bispo católico, lado a lado, em vez de em horários separados. Escolhas como essas reforçaram os valores de unidade defendidos pela AES).

Após os golpes no Mali (2021) e em Burkina Faso (2022), organizações progressistas no Níger, encorajadas pelos avanços feitos por seus vizinhos, começaram a pedir a rejeição das atividades neocoloniais francesas. Eles viram que a escrita estava na parede. Quando o golpe no Níger foi inicialmente orquestrado no ano passado em julho, essas foram as organizações que rapidamente mobilizaram as massas em defesa dos líderes do golpe. Seja no ano passado nas ruas ou na conferência, eles não pareciam ser uma multidão de aluguel. O povo — como resultado de décadas de organização política de base — aproveitou a oportunidade para definir a agenda pública coletivamente: France Dégage! ou 'França, saia!'. Os militares honraram a demanda do povo cortando laços militares e diplomáticos com a França.

Contra a concepção predominante do caráter e dos motivos dos governos de junta na África, o presidente da WAPO, Philippe Toyo Noudjnoume, explicou que os países da AES estavam vendo uma situação totalmente diferente: "intervenção militar para soberania". Como Hugo Chávez na Venezuela, esses militares são amplamente considerados como tendo experiência em primeira mão das falhas de regimes anteriores em servir e proteger o povo enquanto avançavam um interesse nacional soberano.

No voo para Niamey, estávamos sentados ao lado de um meteorologista agrícola malinês, retornando da 29ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP29), realizada em Baku, Azerbaijão. Ele morou em Niamey por vinte anos, trabalhando em uma ONG. Quando perguntado se ele tinha previsto o golpe, ele respondeu: "Não foi um 'se', mas um 'quando'". Ele falou sobre como o envolvimento da OTAN na Líbia piorou a violência jihadista em toda a região. Ele explicou como as tropas francesas enviadas para o Níger do Mali e Burkina Faso apenas concentraram as queixas contra o neocolonialismo francês. O meteorologista era bem versado em concepções de democracia ocidental, mas, em sua opinião, dada a profunda crise econômica e política no país, o golpe foi um ato legítimo a serviço da democracia, em vez de um ato contra ela. Ao longo de nossa viagem, encontraríamos sentimentos semelhantes repetidamente de todos, cada um com interesses diferentes na causa da liberdade no Sahel.

Renovando a confiança das pessoas

Filmata Taya, do M62, fez um discurso emblemático da forte linha anti-imperialista que percorreu todo o processo. Ele abordou o imperialismo ocidental de frente: "Você colocou em nossas mentes que somos os pobres. Mas são vocês [sem recursos e ideias] que são os pobres". Participantes de todas as esferas da vida demonstraram um apetite feroz por engajamento político no estilo vai e vem, temperado por críticas graciosamente formuladas sobre quaisquer deficiências. Pessoas comuns receberam o pódio para interagir com os palestrantes, cada um pegando o microfone tão confiante quanto o anterior. Embora as ideias sobre como alcançar o desenvolvimento soberano variassem, os debates foram envolventes e ponderados, priorizando uma análise mais abrangente do passado do Níger e teorização para apoiar melhores estratégias para o futuro.

No ar, havia um senso palpável de propriedade do povo sobre a direção do desenvolvimento. "A democracia é como o arroz", compartilhou o líder estudantil Anass Djibril, durante o painel sobre as lutas da juventude. "Ou pode ser importado a um grande custo, lucrando com outro e possivelmente prejudicial para o consumo se houver resíduos químicos. Ou podemos cultivá-lo nós mesmos, em nossos próprios termos, para nosso benefício". Seu apoio aos novos líderes, nem cegos, nem sectários, veio com condições. "Nós os apoiamos enquanto vocês forem para o povo", explicou o Secretário Geral do Sindicato Escolar do Níger, Effred Mouloul Al-Hassan em seu discurso.

Em abril de 1899, Sarraounia Mangou, um guerrilheiro e líder do povo Anza de Lougou e Tougana, em uma cidade 233 km a leste de Niamey, liderou uma feroz resistência à expedição francesa conhecida como Missão África Central-Chade. Liderados por Paul Voulet e Julien Chanoine, os militares franceses partiram do Senegal em 1898 para conquistar a Bacia do Chade e unificar todos os territórios franceses na África Ocidental. Junto com essa missão, houve duas expedições paralelas, as missões Foureau–Lamy e Gentil, que buscavam subjugar a Argélia e o Congo central, respectivamente. Voulet já havia liderado campanhas bem-sucedidas que tomaram Ouagadougou em Burkina Faso e saquearam dezenas em Mali enquanto se moviam em direção ao Níger, com os olhos no Chade.

Dizem que, antes do ataque francês, Mangou enviou ao comando do exército uma carta provocativa cheia de insultos, para afastar a expedição e barrar sua expansão. Esses insultos pegaram os franceses de surpresa. Eles lançaram às pressas um ataque que inicialmente não teve sucesso contra o emprego de táticas de guerrilha de Mangou – usando o matagal como cobertura para ataques táticos e retiradas. Embora o exército colonial tenha contra-atacado um mês depois em um dos massacres mais sangrentos da história colonial francesa, a luta pela autodeterminação tem sido uma parte intrínseca da história do povo saheliano.

No último dia da conferência, Saoudeth Mohamed, conhecido no Níger como 'Baby Patriot', estava vestido como Mangou. Isso foi impressionante por causa da projeção clara da resistência anticolonial, um chamado à ancestralidade revolucionária para travar a nova batalha pela autodeterminação. Também representou o desafio à subjugação colonial regional e seu projeto expansionista nos dias atuais.

Fechando a conferência com os participantes cantando 'The Internationale'. Crédito: Mika Erskog.


Niamey: Um novo centro de internacionalismo anti-imperialista.

O Níger está entre os países mais pobres e explorados do mundo. Era considerado um posto avançado colonial periférico, apesar da imensa quantidade de riqueza mineral extraída de seu território. Hoje, está mudando a geografia da liderança política na África Ocidental. Em um mundo onde os avançados e os urbanos são considerados líderes do progresso, a proverbial reflexão tardia, os "campos", estão dizendo não à marginalização. Niamey, uma capital que fica nas sombras de capitais regionais como Abajian, Dakar, Accra, Ougodougo e Cotonou, está se centralizando.

Embora a conferência tenha tido o endosso oficial do governo militar, com grandes pôsteres do rosto do Coronel Abdourahamane Tchiani sendo o ponto focal no local da conferência, foram os esforços de organizações patrióticas civis que fizeram tudo acontecer. O evento ofereceu ao mundo um vislumbre do que realmente está acontecendo no Sahel e no Níger. Foi também um testemunho impressionante da simbiose estratégica entre o governo militar e o povo. Embora o neocolonialismo seja endêmico em todos os cantos do continente africano, os países enredados pela Françafrique têm grilhões particularmente pesados ​​para se livrar. A AES é pioneira em um novo regionalismo, uma nova esperança de soberania e organização potencial, e uma onda de revoluções progressivas no continente.

Vamos para o ano novo.

A luta continua!

Calorosamente,

Tariro e Mika

https://thetricontinental.org/


Da Madeira vieram péssimas notícias para o PS (e não só)

 João Miguel Tavares                                                                                

Quando no domingo o sol se pôs na Madeira, começou a brilhar com especial intensidade em Espinho. Montenegro apressou-se a nacionalizar a vitória, e não admira.

Bem sei que Pedro Nuno Santos se esforçou muito para convencer o país de que a enorme derrota nas eleições deste domingo é um problema exclusivo do PS-Madeira.

Mas ele sabe – e sabe que nós sabemos – que isso é absolutamente falso.

As eleições contaminam-se sempre umas às outras, mas neste caso nem é só contaminação: a crise política que se vive em Portugal é tirada a papel químico da crise política que se viveu na Madeira.

Há um líder com suspeitas de comportamentos duvidosos.

Há a recusa desse líder em sair de cena.

Há eleições muito recentes.

Há uma situação económica relativamente desafogada.

Há um governo que vai abaixo com os votos da oposição.

E, pelos vistos, há um eleitorado que sai de casa para pedir que o parem de chatear e exigir que deixem quem está no governo governar.