quarta-feira, 28 de outubro de 2020

arts and culture google

Link fabuloso

Escolhe uma cor existente na banda superior e verás uma coleção de quadros onde predomina a cor que escolheste.

E se lhes tocares eles ampliam-se, mostram o nome do pintor, ano em que foi pintado e a coleção ou o museu a que pertence.


https://artsandculture.google.com/color

Guia dos Melhores 100 SciFi e Fantasy Books

Role até o centro para iniciar... Dica #1: Segure o CTRL para baixo quando clicar em um livro para abrir uma nova guia facilmente. Dica #2: O Firefox é o melhor navegador para visualizar este documento porque lhe dá mais tempo mostrando os títulos pop-up de cada livro. O Internet Explorer só lhe dá 3 segundos, o que é realmente frusterating.

http://cliptank.com/fantasy-scifi-book-guide-with-links.html


Theodore Hook & the Berners Street Hoax

Ultimate PrankHoax Street

O Sr. Hook levou a brincadeira de "pedir pizza para um estranho" a um nível épico no ano de 1809 nas ruas de Londres. Theodore enviou milhares de cartas solicitando entregas, serviços e visitantes para vir em um determinado dia para uma casa selecionada aleatoriamente. Quando o dia chegou, ele e seu amigo assistiram de uma casa do outro lado da rua enquanto um exército de trabalhadores, prestadores de serviços e entregas bombardeava a casa a partir das 4:00 da manhã continuando até tarde da noite. Começou com doze chaminés, uma frota de carrinhos de entrega de carvão, e dezenas de bolos de casamento começaram a chegar em intervalos de uma hora. Entregas de peixes e sapatos se seguiram. Para tornar as coisas ainda mais caóticas, seis pianos e uma equipe de homens fortes chegaram para entregar um órgão. Uma série de médicos, advogados e padres também foram convocados para atender alguém que lhes foi dito que estava morrendo na casa. Quando a loucura na rua estreita atingiu o pico, dignitários como o Governador do Banco da Inglaterra, o Duque de York, o Arcebispo de Cantuária e o Senhor Prefeito da Cidade de Londres também chegaram

. Fonte

Celebridades que encontraram sucesso apesar de pareceram um camelo.

Ser bem sucedido e famoso é um trabalho duro, especialmente se você parece um camelo.

http://cliptank.com/famous-camel-look-alike.htm

As pessoas mais más que já viveram

Pintura dos Heróis e Vilões da História

Pintura Histórica com Links da Wikipédia e Mouse sobre a marcação

Uma colecção das pessoas mais boas e más que já viveram… Quem você adicionaria? Os pensadores mais influentes, cientistas, políticos, filantropos, manifestantes, defensores da liberdade e contribuintes para o bem comum foram incluídos. Os caras "maus" incluem assassinos em série, tiranos, monges de guerra, e aqueles que esmagaram o espírito humano. Esses são listados como "bons" perfeitos? Provavelmente não, mas suas contribuições para a sociedade, ou suas histórias icônicas, são difíceis de ignorar. Existem justificativas para todos os atos malignos ou são todos os mal realizados por mentes dementes.

http://cliptank.com/GoodvsEvilPainting.html

As mulheres mais inspiradoras da história

Este é um tributo a todas as mulheres políticas, guerreiras, pilotos, cientistas, artistas, dançarinas, actrizes, artistas, espiões, prisioneiros de guerra, activistas, escritores, rainhas, foras-da-lei, atletas, engenheiros, astronautas, magnatas dos negócios, inovadores, matemáticos, pilotos de carros de corrida, médicos, cirurgiões, lutadores da liberdade e mães.

http://cliptank.com/InspiringWomenPainting.html

Pintura de Pessoas Famosas - Discutindo a Divina Comédia com Dante

Pintura Histórica com Links da Wikipédia e Mouse sobre a marcação

Artistas chineses Dai Dudu, Li Tiezi e Zhang An, 2006, óleo sobre tela

Muito bom!

http://cliptank.com/PeopleofInfluencePainting.htm

As Causas. Sacudir a água do capote para cima dos cidadãos e o que mais há

A 2ª vaga está a revelar os erros de quem manda na Saúde e na luta contra a pandemia. Novos dados são finalmente divulgados, mas outros essenciais não existem. Sacudir a água do capote para cima dos cidadãos é fácil, mas não vai resultar.

O REI VAI NU (e hoje não é o PR…)

A chegada da 2ª vaga fez desaparecer a tolerância pública – tão portuguesa – com a falta de competência, arrogância e o limitado sentido democrático de quem manda na Saúde em Portugal. De repente, começou a ler-se e ouvir-se nos media o que muitos me diziam sotto voce, e de que me fiz eco, já desde finais de abril.

Os exemplos são inúmeros. Entre os mais recentes, e por exemplo, (i) uma carta publicada no Público e assinada por 6 bastonários da Ordem dos Médicos, pelo menos um deles da área socialista, (ii) declarações numa entrevista televisiva do ex-Ministro socialista Adalberto Campos Fernandes, (iii) textos de jornalistas e comentadores respeitados, (iv) e no plano dos cidadãos uma sondagem que revela que em 4 meses, o saldo da confiança em relação à falta de confiança na DGS passou de 50% para 3% (e isto antes da passada semana).

Começaram a ouvir-se com mais insistência críticas de epidemiologistas, investigadores, médicos de saúde pública, em relação à ineficiência, caos, falta ou retenção de informação, e que ao longo dos meses as mensagens foram contraditórias, confusas, pouco ou nada transparentes.

Também nos últimos dias comecei a ler e ouvir que a estratégia de comunicação é errada, que o foco da comunicação é demasiado genérico e ineficiente, como aliás eu antes referira aqui.

A questão não é a reta intenção da Ministra e da DGS, pois de boas intenções está o inferno cheio. A questão é a incapacidade de montar e fazer executar uma estratégia, de a comunicar bem aos cidadãos, e não apenas pela necessidade de respeitar a soberania popular, mas também porque sem credibilização nunca haverá a adesão do público.

Não se esquece que a tarefa é dura e difícil, que a equipa que dirige a saúde não foi escolhida para gerir uma pandemia, que o cansaço deve ser muito elevado, como se compreende. Como disse o Secretário de Estado adjunto da Saúde, talvez pensando em nós e não no Governo, “O cansaço de todos é legítimo, mas não pode legitimar o nosso fracasso”.

Sacudir a água do capote para cima dos cidadãos não é justo, não serve para desculpabilizar e é contraproducente. Quem está na frente de batalha há quase 7 meses, mereceria melhores generais.

Foi por antecipar tudo isso (pois os sinais desde finais de abril eram óbvios) que em 5 de maio comecei a criticar a estúpida teoria de que durante uma guerra se não mudam generais, pois nessa altura já se percebia a inadequação da equipa. E depois tudo se foi agravando de um modo exponencial.

OS GRAVES EXEMPLOS DE INCOMPETÊNCIA E CAOS

Veja-se o caso do Conselho Nacional da Saúde Pública. Nunca foi convocado pela Ministra – soube-se agora – desde início de março.

E, no entanto, é esta a missão do CNSP: “é um dos pilares do Sistema de Vigilância em Saúde Pública (SP), constituindo-se como o órgão consultivo do Governo no âmbito da prevenção e do controlo das doenças transmissíveis e, em especial, para análise e avaliação das situações graves, nomeadamente surtos epidémicos de grande escala e pandemias”.

Pasme-se, os seus membros foram designados pela Ministra em 30 de janeiro de 2020. Ou seja, a Ministra nem sequer acha que valha a pena ouvir quem ela própria nomeou, o que é um sinal pouco democrático de autoritarismo e de arrogância. Aparentemente, ela não ouve ninguém que a possa criticar e por isso o Bastonário dos médicos referiu há dias que o Presidente da República está a fazer esta semana o que a Ministra nunca fez.

Mas há um exemplo mais grave – que os bastonários dos médicos referem: o “Plano Integrado Outono-Inverno para o SNS”. Em vez de ter sido apresentado em junho/julho, ainda em 7 de setembro estava em preparação, disse a Ministra, e só em 21 de setembro (ou seja, na véspera do início do Outono…) foi divulgado. Mas ontem o atual bastonário revelou que “ainda não está fechado”. Era como se a Casa Chanel lançasse a moda do outono-inverno em plena época natalícia…

Pior, e mais um sinal de arrogância, o Plano nunca foi posto a debate, e contém medidas (por exemplo criar uma “task force de resposta aos doentes não-Covid”, criar zonas “covid free”, aumentar o tempo dedicado ao atendimento nos centros de saúde) que deveriam existir e estar no terreno há meses.

Não admira por isso que o presidente da Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares, tenha dito de imediato – e cito do Público – que “a rede covid e não covid e os mapas de risco epidemiológico, já deveriam estar implementados” e que “falta gestão operacional”. E também que o Plano “não diz quais os recursos que vão ser afectos e quais as áreas que vão ficar dedicadas à covid, a partir de que níveis serão accionadas as unidades free covid ou quantas camas terão”. Quanto à task force para doentes não covid, refere que será constituída por membros das ARS que “têm estado sempre envolvidas e que se mostraram incapazes de reactivar a resposta”.

E os 6 bastonários dos médicos (em 14 de outubro) escrevem, e cito: “os números dispensam adjetivos: neste período covid-19, houve 100 mil cirurgias atrasadas no SNS, a que se junta um milhão de consultas nos hospitais, milhares de rastreios que ficaram por fazer, designadamente em oncologia, 17 milhões de meios e exames de diagnóstico e terapêutica, cinco milhões de consultas presenciais nos cuidados de saúde primários. O número de óbitos não-covid disparou, com mais 7144 mortes entre março e setembro do que a média dos mesmos meses dos últimos cinco anos”.

ALGUNS OS DADOS COMEÇAM A SER DIVULGADOS, MAS FALTAM OS ESSENCIAIS

Mas nem tudo é péssimo. Finalmente foi dada resposta a duas das perguntas que venho fazendo há muitas semanas: o Público pôde informar no passado sábado que cada doente ficou em média internado em enfermaria 18 dias (em março) e 10 dias (em agosto) e em UCI o número de dias passou de 28 para 15. O que são boas notícias (e seriam melhores se fossem explicadas as causas disso).

Sabe-se finalmente agora que, de março a outubro, foram apenas internados em todo o País 7186 pessoas em enfermaria e 930 em UCI, o que compara com mais de 2000 mortos e cerca de 100 000 positivos confirmados.

Até aos 60 anos somos 7,4 milhões e há 74191 pessoas confirmadas como positivos.

Assim, em 6 meses, com menos de 60 anos, terão estado, por cada 10 000 pessoas, 100 positivos, desses 3 em enfermaria (2743 pessoas), 0,4 em UCI (311 pessoas), e morreram 0,13 (100 pessoas).

Mas continuamos a não saber quantos deles tinham comorbibilidades.

Na fixa etária acima dos 60 anos, somos 2,9 milhões e há 25800 pessoas confirmadas como positivos.

Assim, em 6 meses, com mais de 60 anos, terão estado, por cada 10000 pessoas, 88 positivos (menos 12% que abaixo dos 60 anos), e desses 15 em enfermaria (4443 pessoas), 2,1 em UCI (619 pessoas), e morreram 7 (2081 pessoas).

Ou seja, e em resumo, acima dos 60 anos somos apenas 40% do total dos que têm menos de 60 anos, mas apesar disso houve ou há 500% mais em enfermaria e em UCI. E morreram 2000% mais.

Estes resultados só agora, que nos deram mais informação, se revelam. E mostram que, ao contrário do que se imaginava, a pandemia é ainda muitíssimo pior para os mais velhos do que para os menores de 60 anos.

Considero que a pandemia é perigosa, pode deixar sequelas, exige cautelas (máscaras, distanciamento social, desinfeção de mãos). Não sou “negacionista”. Mas também não sou “paniquista”.

E, graças a Deus, esta não é uma tragédia cósmica; sobretudo quando se recorda que, em 19 de janeiro de 2019, o DN noticiava a morte de 500 pessoas no dia 14 desse mês de gripe (vírus AH3), “especialmente idosos”, no que teria sido “um dos dias com mais mortes da última década”, ou seja algo evento mais recorrente do que se desejaria.

Como resulta destes dados, finalmente acessíveis, parece claro que a pandemia é grave, mas controlável com boas políticas públicas, se os recursos e energias forem aplicados na proteção dos grupos de risco, o que exigiria informação que a DGS parece que não tem ou não sabe encontrar.

É que a DGS revelou (o que o Público aceitou com acrítica compreensão) que não é possível perceber se houve alteração na idade das pessoas internadas em 6 meses, e – mais grave, e ao contrário do que ocorre noutros países - “não foi possível ter informação sobre as doenças prévias mais prevalentes”, “remetendo a DGS para os hospitais” o jornalista!

Estas minhas perguntas continuam por isso sem resposta. Mas, pior, como é possível definir uma estratégia de combate e de comunicação se estas básicas informações não são conhecidas pela DGS?

Mas tudo parece ser ainda pior: chegam-me informações fidedignas de que o tratamento dos dados é na prática impossível porque o que a DGS tem é caótico, lacunar e por vezes repetido.

Talvez isso explique a cambalhota do Primeiro-Ministro, que no dia 13 de outubro afirmava que não havia problemas e no dia 15 entrou em pânico. Ninguém o tinha informado. Razão tem o provérbio popular, “quem não sabe é como quem não vê”.

COSTA NO SEU LABIRINTO

Parece que os peixes começam a apodrecer pela cabeça. Políticos não são peixes, mas acabam parecidos devido ao pânico que chegou a S. Bento, com as “trapalhadas” (disse o Professor Reis Novais), e a “estupidez” (disse Daniel Oliveira e repetiu Manuel Loff) como decidem.

Realmente, a disparatada proposta de tornar obrigatório ter sempre ligado o telemóvel e nele instalada a app “Stayaway Covid” deve ter começado como uma “chico-espertice”.

Creio que a ideia seria culpar a Assembleia da República pelo que se irá passar, perante a antecipada e evidente recusa em aceitar esta solução pelos eleitos do povo. Mas hoje em dia até os ministros que estão em grupo de risco sugerem que não vão instalar a app!

António Costa – antes de recuar - tentou responder com novos disparates em cima dos velhos disparates, que evoluem desde “só é obrigatório se não cumprirem” até “é obrigatório, mas não é fiscalizado”. Ricardo Araújo Pereira tratou bem do tema (mais adequado para um humorista), que faz lembrar a histórica explicação do então comentador Marcelo sobre se o aborto era crime ou não era…

Já começam a ser erros em excesso para um grande político. Será que alguém me consegue explicar o que está a passar-se?

Ou será que quem tem razão é Fernando Pessoa: “disperso, nada é inteiro/Ó Portugal, hoje és nevoeiro...”

O ELOGIO

A Marcelo Rebelo de Sousa pelas audiências que está a fazer esta semana para tomar o pulso à Saúde, não ouvindo apenas quem a Ministra levava ao Infarmed.

Escusava era de nos oferecer o seu corpo crístico a ser vacinado. Mas, ao menos para a minha geração, isso teve uma utilidade. Apesar do exercício, afinal ele não está mais musculado do que nós…

LER É O MELHOR REMÉDIO

A excelente entrevista feita a Paulo Portas por Maria João Avillez é de leitura obrigatória. Portas lançou no domingo a sua candidatura a Belém para 2026, dando o melhor apoio possível vindo da Direita à reeleição de Marcelo Rebelo de Sousa, começando assim a vestir os sapatos do futuro “defunto”.

Por vezes as respostas dele roçam a hagiografia, e outras vezes não conseguem disfarçar completamente as críticas nem as transformar em elogios. Mas não acredito que fosse ou seja possível fazer melhor.

Dada a inexistência objetiva do candidato liberal, o eleitorado que se não deixe apanhar por André Ventura e o seu populismo e que não queira abster-se, tem aqui o vademécum perfeito para se convencer a votar no presidente da República.

A PERGUNTA SEM RESPOSTA

O Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge (INSA) afirmou que os testes nasofaríngeos para detetar contaminados têm “fiabilidade elevada”, pois possuem “uma sensibilidade de aproximadamente 100%” e “uma especificidade [E] de entre 91% e 100%”. Como se sabe, quanto maior for a especificidade do teste, menor é a probabilidade de um falso positivo.

O matemático Tiago Mendes (que não conheço, mas tem um doutoramento em Oxford) fez cálculos sobre uma hipótese em que a prevalência de falsos negativos é de 5% e de falsos positivos é só de 1%. Mesmo assim, conclui e explica que “para uma margem de erro pré-teste 5 vezes maior para falsos negativos do que para falsos positivos, a margem de erro pós-teste, e para valores de prevalência de 2-10% e E= a 99%, é 10 a 75 vezes menor do que a de falsos positivos”.

A pergunta é óbvia: será que o INSA pode responder ao estudo do Professor Tiago Mendes? É que, para um leigo como eu, o raciocínio deste professor é cristalino; e, se assim for, se calhar a realidade dos chamados infetados pode ser muito mais baixa do que a DGS todos os dias revela…

A LOUCURA MANSA

O Observador publicou no sábado um texto intitulado “Ana Gomes, a irresponsável e perigosa candidata que aspira a ocupar Belém”, escrito pelo ex-Embaixador da União Europeia em Cabo Verde, Pinto Teixeira.

Com base em rumores, Ana Gomes acusou-o publicamente de corrupção e crimes quejandos à volta de um terreno onde construiu uma casa na Cidade da Praia.

Dois anos depois, ele foi ilibado de todas as acusações, e o artigo descreve em detalhe tudo o que passou. Infelizmente este é o grave padrão dos populistas que também a define. Seria uma loucura mansa não ler o artigo antes de votar…

José Miguel Júdice

JOSÉ MIGUEL JÚDICE

Expresso

segunda-feira, 26 de outubro de 2020

A astúcia do dr. Costa, e a solidez democrática dos nossos ministr@s

CASO O DR. MARQUES MENDES NÃO ME TIVESSE EXPLICADO TUDO MUITO BEM, AINDA HOJE NÃO ENTENDERIA AQUELA IDEIA DE UMA APP SER OBRIGATÓRIA

COMENDADOR MARQUES DE CORREIA


O Dr. Marques Mendes encontrou-me na rua (ou melhor, eu encontrei o dr. Marques Mendes, porque ele é mais difícil de encontrar do que eu) e perguntei-lhe: “Ó Luís…” (eu conheço o dr. Marques Mendes ainda ele não era dr. nem Marques Mendes, conjunto que por inteira justiça pertencia a seu pai, dr. António Marques Mendes, e que ele naturalmente herdou). Mas, voltando ao tema, encontrei o ilustre vocalitivo (se plumitivo se refere a quem escreve, quem fala penso ser vocalitivo) e perguntei-lhe: “Ó Luís, o que é isto da app ser obrigatória e...” — ia eu a perguntar o que era uma app, quando ele, ainda mais rápido, respondeu: “O Costa não queria aquilo obrigatório, queria era abanar esta modorra dos portugueses, e fazer com que muitas mais pessoas instalassem a app, muitos mais médicos gerassem códigos e muitos mais infetados introduzissem esses códigos.”

Eu, sem perceber nada do que ele dizia, respondi: “Aaaahhh!” E ele disse: “Está a ver?” Respondi que não estava a ver a Clara de Sousa e despedimo-nos cordialmente.

Fui para casa estudar a resposta do ilustre aparecista (se publicista é o que publica em jornais e revistas, aparecista deve ser o que aparece na televisão). Depois de a compreender em toda a sua extensão, não tive dúvidas em concordar com ele. O dr. Costa (que também conheci antes de ser dr. e antes de ser Costa, conjunto que era pertença de seu pai, dr. Orlando da Costa, esse sim, publicista em todos os sentidos da palavra), o dr. Costa (António) é de facto habilidoso e inteligente. Numa palavra astuto! Como defensor extreme da democracia, nunca quis obrigar ninguém a nada.

Isso mesmo se verifica pelo exemplo que dá uma ministra do seu governo, ministra dileta, por ser da Modernização do Estado e da Administração Pública, a drª Alexandra Leitão (nunca a conheci noutra qualidade). A drª, quando lhe perguntaram se tinha a dita app, respondeu: “Com toda a simpatia vou declinar responder a essa pergunta. Porque acho que é uma questão do foro pessoal (...)”.

Infelizmente, o exemplo da drª Alexandra Leitão não é seguido por muitos agentes públicos que ainda não têm a modernidade do Estado interiorizada. Há poucos dias, num serviço do Estado pediram-me o Número de Identificação Fiscal e eu respondi: “Com toda a simpatia, vou declinar responder porque acho que é uma questão do foro pessoal.” Não aceitaram a resposta. O mesmo se passa quando perguntam o número da Segurança Social, já para não falar de coisas tão pessoais e íntimas como o nome do pai e da mãe (como se não pudesse passar sem eles) ou a morada (como se alguém tivesse algo a ver com isso) ou a data de nascimento (como se fosse elegante fazer uma pergunta dessas). Pelo contrário, e ao arrepio dos esforços que a drª Alexandra Leitão manifesta e publicamente faz, a Administração Pública quanto mais se moderniza, mais quer saber de nós, dos nossos segredos, das nossas entranhas. Por exemplo, para sacar um Cartão de Cidadão, coisa que só demora uns 12 anos, pedem-nos tudo, incluindo o número do telemóvel e o e-mail... depois informam-nos que podemos ir levantá-lo a um sítio qualquer, para o qual temos de telefonar para marcar; depois não atendem o telefone. Moderno deve ser, porque a malta nova nunca atende o telefone, vá lá saber-se porquê. Mas parece-me pouco eficiente.

Seja como for, o que importa é o sentimento de liberdade que perpassa todo o Governo! A defesa assoberbada da intimidade e privacidade! A batalha pela integridade de cada indivíduo, o grito inflamado contra a opressão. Eu vergo-me e vergar-me-ei diante tal maremoto de pensamentos, emoções, ações e, sobretudo, omissões. Que eu sou agradecido ao Governo por nos ensinar a liberdade e a inviolabilidade do nosso ser, do nosso eu.

Posto isto, vou revalidar a carta de condução, introduzindo o meu Cartão do Cidadão com um chip num computador para que tenham a certeza de que sou eu. O procedimento é simples para mim, pois já o tive de fazer para renovar o Cartão do Cidadão. Depois, vou ao sítio da Segurança Social, onde eles têm o meu nome, morada, números de contribuinte, da conta bancária, e do Cartão do Cidadão; endereço, endereço eletrónico, números do telefone fixo e do telemóvel e data de nascimento. Ocorre-me que não sabem das minhas doenças, mas que no BI-CSP (Bilhete de Identidade dos Cuidados de Saúde Primários) já devem saber as que tenho e as que vou ter. Não me peçam para revelá-las, porque é pessoal!

620 mil dias.

O que todos de uma forma ou outra podemos constatar! Ou como eu já constatei, quando precisei, e as portas se me fecharam.


Miguel Sousa Tavares

“Como é óbvio, o país inteiro não fala e não pensa noutra coisa que não nesta malfadada pandemia que veio para nos roubar um ano de vida a todos, desgraçando a economia, as relações familiares e sociais e arruinando cada projecto pessoal. Acordamos com o sonho de uma vacina ou de uma solução à vista e adormecemos para o mesmo pesadelo sem fim. Mas, paralelamente e como se habitasse num mundo à parte, a classe política — ou, para ser mais preciso, a esquerda da nossa classe política — entretém-se há meses com um filme, visto e revisto, ensaiado e repetido até à náusea, que ameaça prolongar-se ainda por mais um mês e de cujo fastio apenas ela parece não se dar conta: o Orçamento do Estado. Todos os dias, e várias vezes ao dia, escutamos os mesmos actores repetirem o mesmo texto, tentando convocar-nos para o dramatismo de um filme que já ninguém consegue acompanhar. Lá vem Jerónimo de Sousa jurar que o Orçamento serve o “grande capital” — onde quer que essa mítica entidade hoje se esconda entre nós; lá vem Catarina Martins insistir em vírgulas e décimas — que, todavia, podem valer milhares de milhões lançados ao vento; lá vem Inês Sousa Real, do PAN, exigir hospitais veterinários públicos (enquanto há hospitais públicos para humanos que se mantêm fechados) e queixar-se, espantada, de que o Orçamento é “marcadamente do PS” — como se não fosse o PS que tivesse ganho as eleições; e lá vem o infatigável António Costa, numa estratégia de polvo — ora tentando assustar, ora fugindo, ora espalhando tinta, ora torcendo-se e retorcendo-se —, sem jamais largar a rocha a que está agarrado. E, no fim, dando a tudo isto o tom de filme cómico, ainda vem o escudeiro socia­lista José Luís Carneiro acusar Rui Rio — escorraçado por Costa de todo o processo — de esquecer o “interesse nacional”, quando ele, logicamente, anunciou o voto do PSD contra o Orçamento. Os meninos brincam à volta da fogueira, enquanto os velhos morrem nos lares, a epidemia cresce todos os dias e multiplicam-se os alertas sobre a situação no SNS.

Justamente, uma das reivindicações da extrema-esquerda para deixar passar o OE é o reforço do SNS, em dinheiro e em meios humanos. Parece uma exigência consensual, sobretudo nos tempos que correm. Consensual e já garantida: vão ser mais 450 milhões para o SNS e mais 4200 profissionais, entre médicos, enfermeiros e auxilia­res, fora os milhares que o Governo diz já ter acrescentado nos quatro anos anteriores. Não chega, diz o BE. Mas será verdade? Num artigo publicado no jornal “Público” do passado sábado, António Barreto, socorrendo-se de dados oficiais da Pordata, INE e Eurostat, diz: “Preparem-se para algumas surpresas”, ao analisar os números referentes ao corpo clínico e ao corpo docente português, que contrariam todo o discurso sindical e corporativo, que a imprensa e a esquerda adoptaram, sem questionar. Eis alguns dados que cita, referentes à situação na Saúde: na Europa a 27, Portugal ocupa o 8º lugar em termos de despesa com a Saúde relativamente ao PIB — gastamos 8%, nem sequer muito longe do país que mais gasta, a Alemanha, com 9,5%; em número de médicos, espantem-se, estamos em 3º lugar entre os 27 (e em 1º lugar em médicos de clínica geral), sendo o 1º lugar ocupado pela Grécia, o que parece indicar que não há uma relação directa entre a quantidade de médicos e a qualidade do serviço; e onde estamos pior, em 20º lugar, é no número de enfermeiros, porque os baixos salários os convidam à emigração.

Estes números, por si sós, deve­riam merecer uma reflexão séria e um mínimo de coragem política. Alguém — um partido, um deputado — deveria erguer-se tranquilamente e dizer: “Somos um país pobre e endividado que não se pode dar ao luxo de pagar necessidades que não tem. Não temos falta de meios nem de dinheiro na Saú­de pública; temos, portanto, falta de outras coisas que é preciso enfrentar: organização, planeamento, disciplina, empenho e dedicação.” Mas quem se atreverá a dizer isto?

Durante meses, vivemos com a doce fábula do notável êxito do SNS no combate à pandemia na Primavera passada, aquando do seu primeiro assalto. Hoje sabemos que esse suposto êxito se ficou a dever a dois factores essenciais: ao confinamento voluntário e maciço a que os portugueses se entregaram muito antes de ele ser obrigatório e ao abandono a que o SNS votou os doentes não-covid. Esse abandono, em parte, foi também voluntário: houve doentes que tiveram medo de ir aos hospitais ou Centros de Saúde; mas os doentes graves não podiam evitar ir. E a grande maioria, que se sentia realmente doente, que precisava de consultas urgentes, que tinha cirurgias marcadas e algumas inadiáveis sem graves riscos para a sua saúde, não encontrou uma porta aberta nem sequer quem lhe atendesse o telefone. Claro que eu sei de médicos que deram tudo à luta contra a covid, alguns até voluntariando-se; mas também sei de outros que estiveram meses sem pôr um pé no hospital e sei de serviços que fecharam e mandaram os doentes para casa a pretexto da covid, da qual nunca viriam a ocupar-se. Uns, de facto, estiveram lá para fazer frente ao novo inimigo; outros fugiram. Foi assim e foi por isto que 1 milhão e 200 mil consultas e 230 mil cirurgias ficaram por fazer entre Março e Agosto. Não há volta a dar a esta verdade terrível, não há palavrinhas mansas para suavizar o que se passou: para atender a uma minoria de doentes covid, o SNS abandonou a esmagadora maioria dos seus doentes, sem nenhuma justificação razoável para tal. E o balanço final — que não se pode afirmar com segurança absoluta que seja resultado disso, mas cuja probabilidade de o ser é imensa — são 6 mil mortos a mais do que em igual período do ano passado.

Tudo isto é doloroso de dizer, mas pior ainda é tentar escondê-lo ou fingir que nada de grave se passou. Um estudo encomendado pela Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH) a uma consultora externa e divulgado esta semana quis perceber se havia uma relação directa entre o número de consultas e cirurgias que ficaram por fazer e o absentismo anormal verificado no mesmo período (Março a Agosto) no SNS. Os resultados foram avassaladores: em seis meses de uma crise de Saúde pública, quando os portugueses mais precisavam dos seus serviços, os profissionais do SNS faltaram 64% mais do que em igual período de 2019. Todas as justificações tiveram um acréscimo, incluindo as faltas não justificadas, mas o grosso dos motivos invocados foi… doença. No total, foram mais 467 mil dias de faltas por doença ou 620 mil juntando todos os motivos. Mas, ao mesmo tempo que dizia que era preciso uma “investigação aprofundada” para encontrar uma “explicação para um aumento tão significativo do absentismo por doença”, a APAH foi adiantando algumas explicações habituais, tais como o burnout ou “exaustão e sobrecarga”. Exaustão e sobrecarga? Mas como, se o horário no SNS, e em todo o funcionalismo público, passou de 40 para 35 horas com este Governo? Como, se o absentismo no sector já é dos maiores em toda a Função Pública? Como, se sobejam médicos? Como, se as faltas ao serviço aumentaram 64%, deixando mais de 1 milhão de consultas e mais de 200 mil cirurgias por fazer? Como, se, felizmente, nunca vivemos nada que se parecesse com a situação dramática vivida nos hospitais de Espanha, Itália, França, Inglaterra, Brasil, Estados Unidos?

Na semana passada, ao escutar a ministra da Saúde afastar veementemente o recurso aos hospitais privados no tratamento de doenças não-covid, em caso de saturação do SNS, julguei que a movia apenas um preconceito ideológico contra a medicina privada. E, embora eu também não goste nada de ver dinheiros públicos a financiar negócios privados, entendo que aqui se sobrepõe o dever do Estado de assegurar a cobertura da saúde a todos os portugueses. Mas agora que li este estudo percebo a resistência de Marta Temido. É que o SNS não está saturado, nem exausto, nem sobrecarregado. Com os meios e o dinheiro (8 mil milhões de euros por ano) que os contribuintes põem à sua disposição, tem perfeita capacidade e estrita obrigação de não deixar ninguém para trás. Portanto, o que está errado no discurso de Marta Temido, o que lhe falta dizer — a ela e a todos os políticos que tenham coragem para tal — é a outra parte do discurso: que o SNS tem de cumprir o seu dever sem esperar pela ajuda dos privados.

As proclamações grandiloquentes, as juras de amor ao SNS, as palmas às janelas… tudo isso é muito bonito, mas não apaga o resto: as insuportáveis listas de espera por consultas e cirurgias que podiam e deviam estar em dia, as vergonhosas filas de velhinhos e doentes na rua para serem atendidos ou vacinados, os telefonemas que ninguém atende, as indignas condições que perduram nos hospitais civis, a soberba indiferença perante o sofrimento com que tantos são tratados. Tudo isso, apesar das louváveis excepções, existe ainda no nosso tão louvado SNS. E, 8 mil milhões depois, tudo isso é demasiado feio e injustificável.”


Expresso – 24-10-2020 - Miguel Sousa Tavares escreve de acordo com a antiga ortografia

Um Hospital novo está pronto para estrear em Miranda do Corvo há um ano e meio. Mas o governo não o quer nem dado!...

Sabiam que há um hospital feito de raiz por privados em Miranda do Corvo que o GOVERNO não aceita pôr a funcionar?

Já lá vão 18 meses!

Veja o vídeo…e espante-se…

https://www.youtube.com/watch?v=ck_E1aoeK4k&feature=youtu.be



São uns bardamerdas!E o 'chefe máximo' deles todos, é um CHICHIMECO.

Dos dicionários:bardamerda’é um nome de 2 géneros:(interjeição que ‘exprime irritação e desprezo’e é usado para adjectivar pessoas insignificantes, sem valor)


‘CHICHIMECO’:Aquele que atua de jeito miserável.

Lua

NA LUA?

A NASA promete para as 16h (hora portuguesa) o anúncio de “nova descoberta excitante” sobre o nosso satélite natural. Siga tudo aqui.

Eleições americanas

O ideal seria que na terça feira da próxima semana o apuramento de votos fosse de modo a não permitir dúvidas sobre se Trump fica na Casa Branca ou entrega as chaves da mesma a Joe Biden. É isso que apostam ambos, numa altura em que já terão votado perto de 60 milhões de cidadãos. O renomeado site FiveThirtyEight, que analisa sondagens e tendências de voto, crê mais provável um triunfo do antigo vice-presidente de Obama.

Se assim for, um dos motivos terá sido o coronavírus. Na semana em que Trump assegurou num debate que a vacina chegará antes do fim do ano e em que o seu chefe de gabinete assumiu, contrariando o Presidente, que a pandemia não vai ser controlada, os Estados Unidos aproximaram-se dos nove milhões de casos, naquela que é uma indesmentível terceira vaga de covid-19. Sem esta doença a reeleição estava bem encaminhada, graças aos bons indicadores económicos. Agora fica tudo no ar, fruto de uma gestão vista como errática por parte do Presidente e do impacto económico da crise global. Mas, como escreve o correspondente do Expresso nos EUA, Ricardo Lourenço (que visitou o Ohio, estado que há 60 anos acerta sempre no vencedor das presidenciais), a pandemia é uma dor de cabeça entre outras. Já agora, nesse Estado decisivo a diferença entre os candidatos, na média dos vários estudos de opinião, é inferior a um ponto percentual. Na Florida, por onde ando, é um pouco maior.

Há dias estive em Nashville, no Tennessee. O Estado pende para o lado republicano, o que não impede que haja quem pense de outra forma, numa América que cada vez mais são duas, como deixara entender o presidente do American Club de Lisboa, Patrick Siegler-Lathrop, com quem conversei no mais recente episódio do podcast O Mundo a Seus Pés, da secção internacional do Expresso. Assisti ao debate de quinta-feira passada, naquela cidade, num ato da campanha trumpista, o que só contribuiu para me convencer do fosso sem pontes que se aprofunda no país. O Hélder Gomes e o David Dinis (que está prestes a juntar-se-me deste lado do oceano, com um trajeto diferente) acompanharam a contenda televisiva (melhor do que a anterior, segundo opinião geral) e a Mafalda Ganhão andou à pesca das falsidades e contradições dos candidatos.

Com a campanha a entrar na semana final, a última notícia é a contaminação de adidos do vice-presidente Mike Pence, que ainda assim planeia manter a agenda, sem anular deslocações. Trump e Biden já deram a habitual entrevista ao programa ‘60 minutes’ da CBS, que o Presidente abandonou antes do fim e de que divulgou excertos antes da própria estação. Sobram poucas cartadas a jogar nos oito dias que nos separam do dia da grande decisão do povo americano. Oxalá não passem muitos mais entre esse dia e aquele em que saberemos quem vai mandar no país mais poderoso do mundo. Termino aconselhando esta útil explicação do politólogo Pedro Magalhães sobre a falta de confiança no sistema eleitoral americano.

Amy Coney Barrett

Hoje o Senado americano deve confirmar a nomeação da juíza Amy Coney Barrett para o Supremo Tribunal. O assunto é da maior importância, por se tratar da mais alta instância judiciária do país, para onde os magistrados são designados a título vitalício. Ou seja, a relação de forças entre juízes progressistas e conservadores após cada elevação ao Supremo perdura bem para lá do mandato do chefe de Estado que os tenha escolhido.

Por este alto tribunal passam questões tão relevantes quanto a legalidade ou não da interrupção voluntária da gravidez; acesso ao direito ao voto e regras de campanha; manutenção ou revogação do plano de saúde universal do anterior Presidente, conhecido por Obamacare; licenças de porte de arma; igualdade de salários entre homens e mulheres. Há 20 anos, até uma eleição presidencial foi decidida no Supremo, com o painel a mandar parar as recontagens de voto pedidas pelo candidato democrata, Al Gore, assim consolidando o triunfo de George W. Bush. Se pensarmos que Donald Trump se recusa a prometer aceitar os resultados do próximo dia 3 de novembro caso não vença, percebemos que muita gente olhe na direção do Supremo.

Barrett é a terceira nomeação de Trump para o Supremo em quatro anos e não há como questionar a legalidade do processo, que está a horas de se concluir. Quem decide é o Presidente, quem confirma é o Senado. A lei não fala em prazos e, se mexer no mais alto tribunal da nação a dias da ida às urnas faz erguer sobrolhos, mais haverá que erguê-los ao recordar que há quatro anos os republicanos (já então em vantagem no Senado) impediram Obama de nomear o juiz Merrick Garland quando abriu uma vaga por morte do veterano Antonin Scalia, o mentor de Barrett. Dizia o GOP (Grand Old Party, outro nome por que são conhecidos os republicanos) que era demasiado em cima das eleições para se nomear o juiz. Demasiado em cima significava, nesse longínquo ano de 2016, aproximadamente dez meses. Em 2020 uns dias já não é demasiado em cima.

Naquela ocasião acabou por ser Trump a designar o juiz Neil Gorsuch, em 2017. No ano seguinte chamou Brett Kavanaugh, quando se jubilou o magistrado Anthony Kennedy. Nos dois casos, tratou-se de um Presidente de direita a decidir a rendição de um magistrado de direita. Agora está em jogo a cadeira da falecida Ruth Bader Ginsburg, nome de maior prestígio entre os juízes liberais do Supremo, e a candidata de Trump é ultraconservadora. Tal reforçará a ala onde pontificam Clarence Thomas, Samuel Alito e o presidente do Tribunal, John Roberts, mais oscilante e que por vezes vota com o bloco liberal, este formado por Stephen Breyer, Sonia Sotomayor e Elena Kagan.

A incoerência entre o que o Partido Republicano pregava e o que se apresta a fazer motiva o único voto negativo previsto na sua bancada: o da senadora Susan Collins. Uma em 53. Os democratas são 47. Outra republicana que não gostou do sucedido e que este domingo votou contra a marcação da votação final para amanhã foi Lisa Murkowski. Não obstante, anunciou que no escrutínio final estará com Barrett. Nem Mitt Romney, ex-candidato presidencial (2012) que no passado mês de janeiro apoiou o processo de destituição contra Trump, furará a disciplina partidária. Barrett será, pois, a terceira mulher na presente composição do Supremo e a sexta ao todo, após Kagan, Sotomayor (escolhidas por Obama), Ginsburg (indigitada por Clinton e que morreu a 18 de setembro) e Sandra Day O’Connor (nomeada por Reagan em 1981, jubilada em 2006).

Quem é, então, Amy Coney Barrett? Conservadora, religiosa, determinada, mãe de sete, já lhe traçámos um perfil no Expresso e até explicámos o significado de um palavra rara: originalista. A promoção vem com caderno de encargos mas a própria garante não estar nas mãos de ninguém. Além da agenda que toca o seu eleitorado, Trump terá pensado na própria eleição presidencial. Se a contagem de votos for contestada, pode voltar a ser o Supremo a decidir quem manda no país. Para lá do plano formal, isso será legítimo? Por outro lado, será seguro presumir que o futuro grupo de seis magistrados conservadores apoiará o Presidente em todo e qualquer caso? Gorsuch e Kavanaugh já contrariaram mais de uma vez a vontade do chefe de Estado.

Ainda as máscaras.

E enquanto, por cá, centenas de pessoas protestaram contra o uso obrigatório de máscaras, por toda a Europa há notícia do endurecimento das medidas de restrição. Em Espanha, o governo quer que o estado de emergência se mantenha até Maio (em França será até Fevereiro); em Itália, teatros e cinemas foram encerrados e os bares e restaurantes passaram a fechar às 18h; e na Bélgica, o recolher obrigatório foi antecipado. A semana arranca com a descoberta de um novo surto na China.

um terramoto político nos Açores

… um terramoto político nos Açores baralhou as contas à esquerda e à direita para formar governo. O PS ganhou com 39,1% dos votos — o pior resultado desde 1996 — e, sem maioria, precisa de apoio parlamentar. Mas o Bloco de Esquerda manteve os mesmos dois deputados e o PCP desapareceu, fazendo com que a soma seja insuficiente. À direita há maioria, mas obriga a uma coligação que, além de PSD, CDS e PPM, tem de juntar também o Chega e a Iniciativa Liberal (que elegeram deputados pela primeira vez). Entre estas contas é fácil perceber quem foram os vencedores e vencidos da noite, mas pode ser mais difícil chegar a uma solução — até porque quase todos cantaram vitória.

É O NOSSO ORGULHO – E INDISPENSÁVEL A PORTUGAL

Após ter declarado mais de 3 milhões de euros diários de prejuízo (atenção, eu repito: DIÁRIOS) nos primeiros 6 meses de 2020, decidiu poupar mais dinheiro aos portugueses (porque ‘os dias estão difíceis’… ihihihi)

TAP chega a acordo com a Airbus para adiar entrega de 15 novos aviões para poupar 856 milhões de Euros

André Cabrita-Mendes (Jornal Económico)

A companhia aérea espera assim poupar 856 milhões de euros de investimento entre 2020 e 2022 com o adiamento de entrada em operação dos novos aviões, justificando este adiamento com o “actual momento do mercado” devido à pandemia da Covid-19.


Comentário Pessoal: Assumindo que os aviões eram necessários para substituir outros tantos em ‘fim-de-vida’ (não seriam certamente para alargar as operações) tomem lá cuidado com a manutenção dos que vão continuar ao serviço (e retirem de funcionamento os tais ’15 mais velhos’).

Embora eu tenha a certeza de que, se algum ‘cair’ (que Deus nos proteja), será por factos inexplicáveis e inconclusivos…tal como acontece de vez em quando com outras companhias aéreas, ‘russas’, e etc.…AFP

UM RETRATO DESTE GOVERNO.

Dos Jornais:

Covid-19. Lisboa vai passar a ter coordenação de vagas nos hospitais.

EXTRAORDINÁRIO. Só passaram uns 7 meses desde que esta crise do ‘Vírus Chinês’ começou!

Que eficácia!

Chorando por Portugal…

«Somos um povo voluntariamente entregue aos apetites de um homem sem qualidade. É talvez merecido.

É de certeza trágico».

quarta-feira, 21 de outubro de 2020

António Costa em entrevista: “No dia em que a sua subsistência depender do PSD, este Governo acabou”

28.08.2020

O primeiro-ministro pressiona a esquerda a negociar: “Se não houver acordo, há uma crise política”. E chama de volta o PCP. Em entrevista ao Expresso, Costa assume que a crise será longa, mas recusa “pôr dinheiro em empresas que estavam a falir”. O novo lay-off continua em 2021

António Costa recebeu o Expresso nos jardins de São Bento na passada sexta-feira, 21 de agosto, sem casaco nem gravata, para pôr pressão nos antigos parceiros da ‘geringonça’: se a esquerda não lhe viabilizar o Orçamento, o Governo cai, e se o PSD o deixar passar com abstenção, não será por via de negociações. “No dia em que a subsistência deste Governo depender de um acordo com o PSD, nesse dia este Governo acabou”, diz. O primeiro-ministro ainda deixa avisos para dentro da sua equipa, em especial para Pedro Nuno Santos — com quem assume divergências —, por este ter dito que poderá votar no candidato presidencial do BE ou do PCP: os membros do Governo devem manter “reserva” em matéria de presidenciais, recomenda. Esta é a segunda parte de uma entrevista cuja componente sobre os lares e o próximo Orçamento do Estado já foi publicada no Primeiro Caderno da última edição….

https://expresso.pt/politica/2020-08-28-Antonio-Costa-em-entrevista-No-dia-em-que-a-sua-subsistencia-depender-do-PSD-este-Governo-acabou

sábado, 17 de outubro de 2020

Com a verdade me enganas.

O Diabo está nos detalhes. Num país onde a confiança nas instituições é das mais baixas da Europa (e com boa razão para sê-lo), ninguém teve dificuldade em acreditar nas notícias de que o Governo tinha ignorado o resultado de um concurso europeu para a nova Procuradoria Europeia, nomeando antes alguém da sua confiança política.

Esta semana, o Governo contra-atacou. Numa audição na Assembleia da República e num comunicado onde desenrola uma longa "cronologia do processo de selecção para procurador europeu nacional", a ministra da Justiça jurou que não houve interferência política no processo e que tudo decorreu com lisura e segundo as regras.

Quem não tenha seguido o caso ao detalhe ficará com dúvidas acerca da verdade e acabará formando opinião segundo os seus (pre)conceitos de origem. Se à partida desconfia do Governo, achará que o processo de seleção foi uma golpada para punir uma magistrada incómoda. Se apoia o Governo, dirá que esta polémica foi uma "inventona" da oposição, que lançou suspeições sobre um processo limpo e legal.

Ou seja, uma questão substantiva acaba reduzida a uma guerra de perceções alimentada pelas máquinas de comunicação dos dois lados. Ora, isto é tóxico para a democracia porque autoriza a noção perigosíssima de que cada um pode ter "a sua verdade", completamente independente e separada da verdade dos outros. Os partidos e os Governos tornaram-se exímios nestas artes de massajar a realidade e fazer leituras, digamos, altamente editadas dos factos – seja para convencer o povo da sua narrativa seja, no mínimo, para semear a dúvida que depois permite a cada um manter-se convicto na sua trincheira, armado de umas frases de ataque ao campo oposto.

Os factos importam – e neste caso obrigam a explicar, ponto por ponto, o processo de seleção do procurador português na nova Procuradoria Europeia. Vai ser maçador e peço desculpa. Quem queira passar diretamente para a reflexão, que é o que importa, sobre o impacto que estas campanhas têm na qualidade da democracia pode saltar os próximos parágrafos.


O que se passou

Tudo o que vem no comunicado do Governo com a tal longa cronologia do processo de seleção é verdade, tanto quanto é possível saber. O problema é que não é toda a verdade. Vamos a isto:

A Procuradoria Europeia foi criada ao abrigo do mecanismo europeu da chamada "cooperação reforçada" que permite a alguns Estados-membros avançarem com políticas públicas mesmo sem o acordo unânime de todos. É por isso que esta Procuradoria só conta com 22 dos 27 Estados-membros – países como a Hungria, por exemplo, não quiseram submeter-se a um organismo que terá poder para investigar crimes cometidos nos Estados-membros que atentem contra os interesses financeiros da União. Esta questão é relevante: ninguém obrigou Portugal a aderir à Procuradoria Europeia. Se quiséssemos, podíamos ter ficado de fora. O que mais razão é para, estando dentro, levarmos os processos internos da instituição a sério.

A lei europeia que cria a Procuradoria e estabelece a forma de seleção dos procuradores é o Regulamento 2017/1939 da UE. Logo à partida, estabelece (Art. 6º) que "a Procuradoria Europeia é independente" e que "os Estados-Membros da União Europeia […] respeitam a independência da Procuradoria Europeia e não tentam influenciá-la no exercício das suas funções". O propósito é aqui clarinho: a Procuradoria não pode admitir interferências políticas.

Cada país nomeia um Procurador Europeu para este organismo. Como? O Regulamento explica: cada Estado-membro manda uma lista de três candidatos para Bruxelas, esses candidatos são depois avaliados por um júri composto por magistrados ou juristas europeus independentes e de mérito, que faz uma recomendação ao Conselho Europeu – o órgão da UE composto pelos representantes dos Governos e que é, infelizmente, a instituição mais opaca da União Europeia, onde não temos acesso a atas nem às tomadas de posição dos Governos à porta fechada. A decisão final é do Conselho Europeu.

Em Portugal, a Lei 112/2019, que estabelece a aplicação do Regulamento da Procuradoria, determinou que cabe ao Conselho Superior da Magistratura e ao Conselho Superior do Ministério Público fazerem os concursos para determinar a lista dos nomes a enviar para Bruxelas. Cada um destes dois conselhos indica até três nomes e, destes seis, o Governo decide os três que submete à UE, depois de todos os candidatos serem ouvidos no Parlamento. A intervenção destes conselhos superiores acaba aqui – isso é também clarinho no texto da lei e na aplicação do próprio regulamento europeu. Lembremo-nos disto quando, mais à frente nesta história, ouvirmos a ministra da Justiça dizer que "a indicação do procurador europeu foi feita pelo Conselho Superior do Ministério Público". Não foi.

Deste processo de seleção saíram três procuradores do Ministério Público e um juiz. Dentre estes quatro, o Governo acabou por mandar para a UE os três procuradores – caiu o juiz. Foram estes três procuradores que se submeteram à avaliação do júri independente europeu. E o júri independente recomendou ao Conselho Europeu que escolhesse a magistrada Ana Carla Almeida.

O que se passou na reunião do Conselho Europeu só sabe quem lá esteve. Mau grado todo o poder de que dispõe, este órgão não publica atas, não tem reuniões à porta aberta, tipicamente não responde sequer a pedidos de informação. Sabemos apenas que para três países – Portugal, Bélgica e Bulgária – os procuradores escolhidos não foram aqueles que o júri independente recomendou. Porque é que o painel independente foi ignorado? Ninguém explicou ou prestou contas.

Desagradados com a opacidade deste processo, académicos de vários países europeus, incluindo os portugueses Miguel Poiares Maduro e Rui Tavares, pediram explicações às instituições europeias. O professor italiano Alberto Alemanno pediu acesso a documentos do Conselho que ajudassem a explicar a reviravolta: depois de lhe listarem mais de 20 papéis que ajudariam a perceber o mistério, negaram-lhe o acesso a todos eles!

O que sabemos, porque está no comunicado do Governo, é que foi o representante português nessa reunião do Conselho Europeu – Francisca Van Dunem ou quem a tenha substituído nesse encontro – quem mostrou incómodo com a designação de Ana Carla Almeida. Foi o Governo português que pediu que fosse ignorada a recomendação do júri europeu. Foi o Governo português que pediu para ser antes nomeado o procurador José Guerra porque, justifica-se agora a ministra, tinha ficado mais bem colocado no concurso interno do Conselho Superior do Ministério Público.

Deixemos de lado que nem o regulamento europeu nem a lei nacional encomendaram ao Conselho Superior do Ministério Público que fizesse a pontuação ou hierarquização dos candidatos; apenas que indicasse três nomes, que seriam depois hierarquizados pelo júri europeu. Deixemos isso de lado. O que não podemos deixar de lado é que a pontuação superior do procurador José Guerra é justificada por um critério de antiguidade que não está previsto nem no regulamento europeu, nem na lei nacional, nem no aviso do concurso. Um critério de antiguidade que só foi criado depois de se conhecerem os candidatos e que permitiu a José Guerra passar à frente de Ana Carla Almeida. Um critério enfiado a martelo que aliás motivou uma queixa da procuradora Ana Carla Almeida, ainda o concurso ia a meio.

O que também sabemos é que este processo, que a ministra da Justiça jura a pés juntos foi lindo e límpido, causou desconforto no próprio Conselho Europeu. Tanto que quatro países – Áustria, Estónia, Luxemburgo e Países Baixos – assinaram uma rara declaração de voto em que recordam que não foi à toa que se criou um júri independente, necessário para dar legitimidade à nova Procuradoria Europeia, e que entrarmos logo à partida num esquema "em que cada país segue exclusivamente a classificação feita internamente, será prejudicial para a legitimidade da Procuradoria Europeia", segundo citou o Expresso.

Não, isto não foi bem conduzido. Não, isto não foi transparente, nem límpido, nem livre de interferência política – e mesmo que possa não ter violado a letra da lei europeia, seguramente violou o seu espírito, de tal forma que quatro Estados-membros deixaram isso registado em declaração de voto.

Esta semana, no Parlamento, disse a ministra da Justiça: "Eu respeito os órgãos constitucionais nacionais que têm funções nesta matéria. Aquilo que era importante aqui era que não houvesse interferência do Governo. Não houve. Não ouve interferência do Governo, esta é a essência da questão. Aquilo que a Europa não quer é que os procuradores europeus estejam a dever aos Governos a sua nomeação. Neste caso, a indicação do procurador europeu foi feita pelo Conselho Superior do Ministério Público".

Só que não foi. O Conselho Superior do Ministério Público pronunciou-se no início do processo. E como a ministra não gostou do resultado produzido no final desse processo, resolveu ignorá-lo e impor uma escolha diferente, usando o Conselho Superior do Ministério Público como álibi, alicerçado num critério de antiguidade que não está na lei, nem no regulamento europeu, nem no aviso do concurso. Eis como uma leitura fortemente editada de factos verdadeiros culmina numa afirmação da ministra que é absolutamente falsa.


O que se está a passar

Donald Trump podia matar alguém a tiro no meio da Quinta Avenida que não perderia votos, gabou-se ele em 2016. Desde então, a sua presidência tem sido um festival de mentiras e de desprezo pela verdade, carimbada como "fake news". Não é à toa, nem do nada, que os autoritarismos populistas se dão ao luxo de ignorar a realidade. Mesmo sendo chocante, não nasceu ontem.

Há anos que os partidos estabelecidos, neste país e em tantos outros, vêm tornando mais lassas e frágeis as cordas que deviam amarrar a política à realidade concreta, factual, empírica das comunidades que governam. Foram anos de retórica tática e oportunista, de tirar dos factos só as partes que nos interessam, que abriram a porta a um ambiente envenenado em que os responsáveis políticos, os líderes de opinião, os comentadores avençados e as máquinas de propaganda se dão ao luxo de criarem a sua própria verdade e ignorarem tudo o que foge dessa ficção.

É por isto que as democracias se têm tornado incapazes de gerar soluções – porque se tornaram antes incapazes de sequer reconhecer os problemas. O populismo e a demagogia dos novos partidos iliberais – também aqui em Portugal – chocam muita gente, eu incluído. Mas estes campeões da mentira desbragada não são uma rutura com o que tínhamos às mãos dos velhos partidos centristas. São um corolário.


16-10-2020 por SÁBADO // João Paulo Batalha

sexta-feira, 16 de outubro de 2020

Seis razões por que isto ainda é uma choldra

Discutimos mais uma reportagem da SIC do que num escândalo de corrupção. Tomamos Lisboa pelo país nas políticas de habitação. E preferimos ser enganados a conhecer a verdade. Podes voltar João da Ega.

No tempo de Eça de Queiroz e de “Os Maias” o Portugal que interessava não era Lisboa, era o Chiado. E foi a olhar para esse Chiado que João da Ega, alter-ego do autor, carimbou esta nossa terra como uma “choldra torpe”, país de uma civilização “em segunda mão” e que “fica-nos curta nas mangas”.

130 anos depois vivemos, como quase sempre vivemos, entra o acabrunhamento de quem suspeita que choldra éramos e choldra somos e a euforia de espaçados momentos de glória. O que é trágico, pois entre ilusão e desilusão raramente temos tempo ou disposição para sacudir de vez a canga da pobreza porque nunca ganhamos a coragem necessária para enfrentar os problemas de frente e resolvê-los de vez.

Portugal hoje já não será só o Chiado, alargou-se ao Lux, ao Café In e ao Gattopardo, mas nele não são poucos os sinais deste nosso persistente e insuportável atavismo. Como esta meia dúzia de exemplos que recolhi só nestas últimas semanas.

1. O silêncio em torno da corrupção

Um antigo primeiro-ministro, José Sócrates, acusado de ter enriquecido com subornos. O mais poderoso dos banqueiros, Ricardo Salgado, suspeito de subornar e já acusado de 21 crimes. Um antigo ministro, Manuel Pinho, que recebia um ordenado paralelo numa offshore. Uma eléctrica, a EDP, que beneficiou de contratos de favor assinados por esse ministro. Um outro ex-ministro, Miguel Macedo, a ser julgado num processo de tráfico de influências.

Eu podia continuar com a lista, que é longa e deprimente. Mas o ponto não é esse. O ponto é o vergonhoso pacto de silêncio que parece ter caído sobre estes casos. O ponto é esta obsessão por dizer que a Justiça é a Justiça e que a Política é a Política, como que estes casos não fossem também casos políticos e inquietantes sinais da fragilidade nas nossas instituições. O ponto é o descaramento de quem, como Arons de Carvalho, da candidatura de António Costa a novo mandato à frente do PS, considera que “não é reprovável uma pessoa viver com dinheiro emprestado” depois de tudo o que já se sabe e só para recusar um debate interno no partido.

Pior: o ponto é perceber que os grandes escândalos medraram e medram numa cultura feita de chico-espertice, feita de esquemas e cunhas, uma cultura de que nos chegam notícias diárias, sejam elas dos que empregam toda a família na política ou dos que aldrabam o currículo académico, sejam elas as dos que recebem subsídios de viagem a duplicar ou dos que pedem subsídios a que não têm direito.

O ponto comum, e que cruza grande parte da vida pública, é que quando não se tem a espinha direita ou quando se confunde a legalidade formal com os imperativos éticos, tudo se torna possível. Conta a carreira, conta o partido, contam os amigos e a família, não conta o dever e ainda menos o país. E é aí que perdemos todos os dias, todos os santos dias.

Ainda agora foi revelado o mais recente relatório sobre Portugal do GRECO (Grupo de Estados contra a Corrupção, que funciona no quadro do Conselho da Europa) e nele se verifica que o nosso país só concretizou um das quinze recomendações que lhe foram feitas, uma vergonha.

E, no entanto, ninguém parece querer discutir como foi possível que esta doença chegasse ao topo do Estado e do sistema bancário, contribuindo e de que maneira para a bancarrota de 2011. Preferem-se, aparentemente, outras narrativas até porque muitos dos que hoje nos governam estão entre os que juram que nunca viram nada, nunca desconfiaram de nada. Tretas, mas tretas que dão paz de espírito.

2. A polémica das reportagens da SIC

É uma espécie de desdobramento do mal anterior. O que me interessa neste momento não é discutir se a SIC devia ou não ter procedido à divulgação dos vídeos dos interrogatórios – é uma questão que exige muito mais ponderação do que a da exaltação de uma matilha de comentadores. O que me interessa é a desproporção entre as reacções que esta controvérsia suscitou e a que foi gerada pelo conhecimento dos pagamentos a Manuel Pinho – uma desproporção que Francisco Teixeira da Mota não deixou de considerar curiosa.

De facto, o que pode explicar que uma reportagem cause mais indignação do que um dos mais graves, senão o mais grave caso de promiscuidade entre um governante e um grande grupo económico da história da nossa democracia? Só encontro duas explicações, e ambas não são boas.

A primeira é que já estamos anestesiados: as suspeitas de corrupção não só não nos surpreendem como já quase não nos indignam. Tomamo-las quase como uma fatalidade e reagimos com um encolher de ombros. Nisso somos cúmplices do silêncio dos partidos.

A segunda é que, no país do respeitinho, exaltamo-nos mais depressa com uma eventual violação do direito à imagem e à privacidade de suspeitos de crimes graves do que nos exaltaríamos se houvesse limitações à liberdade editorial da SIC. Achamos, mas achamos mal, que isso é que é um sinal de civilização e de que somos bem educados.

Repito: não estou a avaliar a decisão da SIC, estou a reflectir sobre o porquê da desproporção das indignações. E a pensar cá com os meus botões que, quando toca a liberdade, mesmo os que gostam de defender a liberdade de ofender se o que estiver em causa for o Charlie Hebdo, são lestos a declarem-se ofendidos, ou mesmo enojados, quando a coisa lhes toca mais perto de casa.

Se a SIC errou teve ao menos a coragem de errar. Não poderei dizer o mesmo de muitos dos “indignados”.

3. O drama das rendas e dos despejos

Quem ler os jornais ou vir as televisões achará que Portugal vive um drama habitacional. Tão pungente que os partidos se multiplicam em iniciativas legislativas e o consenso do momento é que é tudo por causa de uma lei de 2012, a “lei dos despejos”, ou “lei Cristas”. Nuns dias relata-se o drama humano daquele quadro da classe média que teve de exilar-se nos Olivais porque perdeu o apartamento no Saldanha. No dia seguinte repete-se acriticamente a alegação de que haverá “mais de 500 mil inquilinos precários”, um número absurdo se pensarmos que, de acordo com o último censo (2011), não chegava a 800 mil o total dos alojamentos familiares clássicos arrendados, isto num país onde existem quase seis milhões de casas ou moradias.

Instalou-se um histerismo que, mais uma vez, apenas reflecte o que se passa no umbigo do tal Portugal que circula no “Chiado alargado” dos nossos dias. E o que se passa é simples: durante décadas os centros de Lisboa e do Porto esvaziaram-se e caíram aos pedaços porque durante um século viveram-se várias formas de congelamento das rendas (porventura a única causa comum que uniu a I República ao salazarismo e este ao PREC e depois à democracia); milhões investidos em programas de reabilitação de pouco ou nada serviram; veio então a liberalização do mercado do arrendamento, chegou o turismo e o investimento estrangeiro, e os centros das cidades voltaram a ficar bonitos, limpos e modernos, graças a muito investimento privado; como tudo isso teve um custo, os preços subiram, e os que antes desdenhavam as ruínas das cidades velhas passaram a cobiçar o viço dos bairros renascidos; ou seja, tudo se explica mais facilmente se nos lembrarmos de que, como toda a gente sabe, a última palavra de “Os Lusíadas” é “inveja”.

E pronto. Num ápice passámos a ter um dramático problema habitacional, num instante ficámos familiarizados com o demónio da gentrificação e quando ainda mal se começava tentar perceber o que se podia melhorar num regime que permitiu um milagre de reabilitação urbana, eis que entre algumas propostas sensatas (outras nem tanto) do governo PS, os deputados do PS começam a falar em congelar despejos ou em expropriar casas. Seria um delírio se não fosse já um desastre anunciado.

Não vou hoje discutir o detalhe das propostas, apenas sublinhar o eterno retorno do estatismo e o desconchavo de um debate quem não parece capaz de perceber que nem em Lisboa se está a passar o que dizem – e o que dizem é que já não se pode viver no centro tão altas são as rendas, sendo que é no centro que se diz existir e hecatombe humana e social dos despejos. Pois bem, os dados do INE não parecem confirmar este diagnóstico, como se vê pelas imagens seguintes, extraídas do mais recente relatório do Instituto Nacional de Estatística relativo a 2017.

O primeiro mostra que as rendas mais caras de Lisboa não estão circunscritas aos bairros históricos, sendo que o preço médio mais elevado é mesmo num bairro recentíssimo, o Parque das Nações:

O segundo indica que a maior parte dos novos contratos de arrendamento de 2017 foram realizados, imaginem lá, na muito pouco sexy, pelo menos a acreditar nas notícias e reportagens, freguesia de Arroios:

Eu diria que estes dados não casam lá muito bem com o discurso dominante, mas isso pouco importa: quando os factos contrariam as ideias, o melhor é esquecer os factos. Ficamos muito de melhor com a nossa consciência – e com a garantia que insistiremos, de novo, nos erros de sempre.

4. A pequenez dos acordos de “bloco central”

Gostamos muito de teatro, tanto que estamos prontos a engolir qualquer rábula. Não sei quantos portugueses leram as quatro páginas da declaração conjunta do Governo e do PSD sobre descentralização, ou quantos leram as 24 páginas relativas aos fundos comunitários, mas o que gostaria realmente de conhecer é os números daqueles que, depois o fazerem, não acham que aquilo é apenas uma mão cheia de nada e outra de coisa nenhuma. Mais: se é para aquilo que se fala em “acordos de regime” e “convergências em nome do interesse nacional”, então eu vou ali e já venho.

Não é por acaso que não assistimos a nenhuma verdadeira discussão sobre o conteúdo dos documentos – é que não há ali nada ou quase nada para discutir. Aliás nem se percebe muito bem o que é que os dois partidos discutiram – não se percebe porque o PSD não deu a conhecer com antecedência as suas propostas, não se percebe pois o que se sabe das posições do Governo e PSD nestes domínios é que já convergiam antes de se falar em convergências, e não se percebe porque tudo o que vier a ser realmente substancial ficou para ser estudado mais tarde. Bem à portuguesa, nas comissões que forem necessárias.

Os acordos só serviram para uma encenação, uma dupla encenação: a de Rui Rio, que quer mostrar que não é Passos Coelho; e a de António Costa, que quer provar que não é só geringonça. Quem ganha mais com este número é fácil de perceber, quem não ganha nada somos nós todos, pois o que aprendemos, ou confirmámos, é que os dois partidos centrais do que gostam mesmo é de se entender quando toca a proteger as suas autarquias locais e chega a hora de pedir dinheiro à Europa. Assim se alimentam as suas redes de poder e influência, assim se consolidam as suas lideranças.

Fossem outras as intenções, isto é, houvesse real vontade de convergir sobre o que é difícil, sobre o que devia ultrapassar o tempo de uma legislatura, então o Governo teria aceite debater a reforma da Segurança Social e proposto consensualizar as novíssimas políticas de habitação. Mas não, isso fica para a chicane política, que assim é que estamos bem. Não nos levamos a sério nem tratamos de coisas sérias.

5. Os truques de Centeno, ou dizer uma coisa e fazer outra

Haverá muitas formas medir a austeridade, mas a única que conheço que me parece objectiva e séria é a que avalia as variações do saldo orçamental estrutural. É o único indicador que mede o esforço de contenção orçamental corrigido do ciclo económico, permitindo perceber se a redução do défice é apenas fruto do crescimento económico ou se, em cima deste, ainda há “austeridade”. Ninguém melhor do que Pedro Romano para o explicar (e fê-lo várias vezes no seu blogue Desvio Colossal), mas infelizmente ele já não está entre nós e por isso vou ter de recorrer a um post e a um gráfico já com alguns meses mas que permanecem bem actuais.

Olhando para estas colunas – que os dados mais recentes confirmaram no essencial, com o detalhe delicioso de o número verdadeiro para 2017 ter sido ainda mais elevado, 1% de acordo com as contas do Conselho de Finanças Públicas –, resulta evidente que os dois anos de geringonça foram dois anos de austeridade, e que o último ano de Passos Coelho é que foi um ano de relativo desapertar do cinto.

Hoje, depois de tudo o que Mário Centeno tem vindo a dizer e defender, já não restarão muitas dúvidas sobre a persistência da austeridade, quanto mais não fosse por termos registado em 2017 a maior carga fiscal de sempre. Sabemos também de massa se fez essa austeridade: com cativações e cortes no investimento, do lado da despesa, e com impostos indirectos em vez de impostos directos, do lado da receita.

É isso surpreendente? É. Porque nunca foi esse o discurso e porque nunca os Orçamentos de Estado foram tão mentirosos (no momento da sua aprovação) e tão teimosamente opacos (na fiscalização da sua execução).

Mas aqui o importante é notar como esta mentira política encontrou na geringonça o tipo de parceiros dispostos a engolir tudo, mesmo o que garantiam que nunca engoliriam – basta recordar as reacções grandiloquentes do Bloco e do PCP às novas metas orçamentais do Plano de Estabilidade a que nenhuma acção consequente se seguiu. Foi só teatro, se é que não foi mesmo só fumaça.

O mais triste e significativo é que estes anos nos mostraram que a mentira compensa. Compensa dizer uma coisa e fazer outra. Compensa oferecer com uma mão e tirar com a outra, desde que isso só se note mais tarde. Compensa ser dissimulado e escorregadio, pois isso é aplaudido pelos comentadores como sendo “habilidade política”.

O que não compensa mesmo é tentar ser verdadeiro e alertar os portugueses para as dificuldades. Eles preferem antes chupa-chupas e fingimentos.

6. A polémica do Museu das Descobertas

O derradeiro sinal de que isto, afinal, ainda é uma choldra é talvez o mais queirosiano de todos: a polémica sobre se deve ou não haver um Museu das Descobertas. Como dizia o João da Ega, “aqui importa-se tudo. Leis, ideias, filosofias, teorias, assuntos, estéticas, ciências, estilo, indústrias, modas, maneiras, pilhérias, tudo nos vem em caixotes pelo paquete”. Já não há paquetes como os desses tempos, há aviões e Internet, mas o disparate subscrito por um grupo de historiadores e “cientistas sociais” que não querem que um museu possa ter tal nome é apenas a mais recente importação de modas intelectuais alheias.

Não é apenas o politicamente correcto a impor-se, é o novo fanatismo que faz lei em tantas universidades e que pretende reescrever a história não em nome de qualquer método científico mais apurado, mas em nome de agendas políticas ditas libertadoras. Nem vou gastar muitas linhas a argumentar, pois estou farto destas litanias permanentes contra a “culpa do homem branco”, sobretudo do homem branco e ocidental, litanias que só contribuem para menorizar as outras civilizações e, pior do que isso, aprisioná-las num passado empobrecedor. Só me surpreende que pelo caminho estes fanáticos tenham conseguido atemorizar a Câmara de Lisboa e o seu presidente, que ficou sem saber se deve ou não cumprir uma promessa eleitoral.

Também isso é sinal dos tempos, pois na política tem-se medo de tudo. E mais medo se tem neste país onde o que mais me irrita é ouvir gente que diverge e o faz publicamente ser elogiada pela sua coragem. Coragem? Coragem porquê? Não somos um país livre?

Sim, somos. Mas também somos portugueses e, como notou Maria Filomena Mónica num trabalho do Observador sobre a actualidade de Eça, “nenhuma figura a ilustra melhor [a imagem dos portugueses de si mesmos] do que o Zé Povinho, um saloio patético que faz manguitos nas costas do patrão, porque, à sua frente, não tem coragem de dizer o que pensa.”

Apetece mesmo concluir: de facto, que choldra torpe.

quinta-feira, 15 de outubro de 2020

Gajos cobardes (em dois actos)

“O rapaz fala bem mas não presta”

(Miguel Torga)

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Se uma imagem vale mil palavras, os sete segundos da diatribe de António Costa contra os médicos descrevem-no melhor do que tudo o que possa ser escrito sobre o homem que governa Portugal.


por Mário Crespo

Primeiro Ato

Um espetro assombra a democracia em Portugal – o espetro da autocensura no jornalismo.

O perigoso argumentário que está a ser propalado por zelotas de boas-práticas jornalísticas onde se fala de ‘divulgação ilegal’ de notícias e de ‘não-vale-tudo’, anuncia mais do que uma deriva para o controlo oficial da informação. Na verdade, o que se passou nos últimos dias, diz-nos que o poder político já comanda muito do que hoje vemos, ouvimos e lemos e que está a tentar orientar a opinião publica nos sentidos que acha que lhe são favoráveis.

Se uma imagem vale mil palavras, os sete segundos da diatribe de António Costa contra os médicos descrevem-no melhor do que tudo o que possa ser escrito sobre o homem que governa Portugal.

Quando o primeiro-ministro fala de ‘médicos’ como ‘gajos’ ‘cobardes’ emite uma declaração crucial para contextualizar a sua atitude para enfrentar os múltiplos problemas de saúde pública do país em pandemia. O grupo de jornalistas que o entrevistou devia ter-lhe pedido imediatamente um comentário sobre os fundamentos de tão violento destrato. Nunca por nunca poderiam ignorá-la, como o tentaram fazer os responsáveis editoriais do Expresso.

Note-se bem que não houve nenhum caso de ‘off-the-record’. De resto, compromete muito o desempenho jornalístico, a falta de perceção que a classe jornalística portuguesa (se é que existe) está a mostrar sobre o conceito. O ‘off-the-record’ é o entendimento entre repórteres e os objetos de notícia onde o único compromisso eticamente possível é salvaguardar o anonimato da fonte. Nunca pode ser invocado para obliterar conteúdos ao sabor da conveniência dos entrevistados. Divulgar matéria noticiosa é a obrigação jornalística. Sem a divulgação inconveniente de conteúdos noticiosos não teria havido conhecimento do escândalo de Watergate, das infâmias da Casa Pia, da roubalheira no BPN ou das irregularidades nas contas de Sócrates. Na verdade, sem a divulgação dos conteúdos obtidos por trabalho jornalístico, não há democracia. Não divulgar o que Costa disse sobre os médicos seria um ato de censura.

Uma situação de entrevista (tanto mais na residência oficial do primeiro-ministro) é o mais formal dos atos de colheita de informação que pode haver numa democracia. Tudo o que for dito é registo público. Os jornalistas não se podem comportar aqui como confidentes dos estados de alma de um entrevistado grosseiro, como foi o caso da equipa do Expresso a avaliar pela bondosa entrevista que conduziram que só fez notícia a sério na parte que não queriam divulgar.

Quando há quatro anos António Costa, por causa de um deslize de linguagem inconsequente, empurrou João Soares para fora do seu Gabinete, justificou-se chamando os media e dizendo: «(...) recordei aos membros do Governo que, enquanto membros do Governo, nem à mesa do café podem deixar de se lembrar que são membros do Governo e, portanto devem ser contidos na forma como expressam as suas emoções.» Mais adiante nesta mesma declaração, que foi o equivalente à punhalada nas costas dada durante um abraço fraterno com que Macbeth assassina o seu amigo Banquo, António Costa referiria a prudência e o bom senso que é necessário ter «(...) nestes espaços comunicacionais que hoje não são de conversa privada nem reservada tornam-se, naturalmente, públicos.» Prudência e bom senso que lhe faltaram neste contacto com jornalistas onde seguramente não se portou como o mais importante membro do Governo. Mas, enfim, provavelmente Costa disse aquelas coisas porque se sentiu muito à vontade com jornalistas do Expresso. A entrevista denota isso, particularmente na forma irada e brusca como Costa descreveu para os seus venerandos, obrigados, assustados e tão passivos entrevistadores o entendimento absurdamente restritivo que tem das atribuições da Ordem dos Médicos: «(...) as Ordens não existem para fiscalizar o Estado! Ponto final!») E eles ficaram-se. E mudaram de assunto.

Segundo Ato

António Costa é hoje primeiro-ministro de um estranho Gabinete formado por gente que amaldiçoa a vida pública portuguesa desde José Sócrates. Gente que serviu com empenho o ‘animal feroz’ durante o Freeport. Que andou com Soares, Guterres e Sampaio durante a Casa Pia e, já agora, gente que comprou meia dúzia de Kamov que não voam enquanto o país arde. E é também um homem com um nervo e calculismo raros. Testemunhei isso a 27 de maio de 2014 quando foi inaugurado na Ribeira das Naus um discreto monumento a Maria José Nogueira Pinto.

António Costa era presidente da Câmara de Lisboa. Fez um lindíssimo discurso exaltando a figura de Maria José e o seu influente papel na vida portuguesa. Jaime Nogueira Pinto fechou a cerimónia com palavras de saudade que comoveram todos e nos deixaram no silêncio sem jeito das recordações que doem mesmo. Foi neste ambiente de soturno mutismo coletivo que António Costa dobrou as duas folhas A4 do seu elogio fúnebre, meteu-as no bolso de um amplo casaco de alpaca cinzenta clara, compôs a gravata, apertou a mão a dois ou três dos presentes, afastou-se uns dez metros do monumento e acenou às três câmaras de TV que estavam a cobrir a inauguração que correram para ele enquanto jornalistas estagiários no habitual frémito mediático estenderam microfones ansiosos.

Teriam passado uns cinco minutos desde que António Costa, presidente da Câmara de Lisboa, tinha carpido um esgaçado e lacrimejante elogio fúnebre a uma pessoa excecional quando de costas para o monumento a Maria José Nogueira Pinto, anunciou que se ia candidatar à liderança do Partido Socialista declinando uma litania violenta contra o Secretariado de António José Seguro. Já se sabia que Costa planeava esta afronta, mas não se sabia quando tomaria uma atitude pública. Escolheu o dia do elogio fúnebre a Maria José Nogueira Pinto.

Ao ver isto vieram-me à cabeça as palavras de Miguel Torga num comentário que fez depois de conhecer um distinto socialista que em tempo esgravatou a liderança do PS e que acabaria por atingir ‘gloria in excelsis’ nas alturas da vida publica, ‘urbi et orbi’ : «O rapaz fala bem, mas não presta».

A saber: o relato dessa conversa tida no consultório do Dr. Adolfo Correia da Rocha em Coimbra foi-me feito em ‘off-the-record’.

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Comentário Pessoal de AFP:

O ‘rapaz’ a que Miguel Torga se referiu só pode ser o ‘Vitito’ Constâncio ou o ‘Tonito’ Guterres...

Deve ser o ‘Tonito’, porque o ‘Vitito’ nunca falou bem...

Quanto ao CHICHIMÉCO...nem sequer fala bem ...mas também NÃO PRESTA (evidentemente).

segunda-feira, 12 de outubro de 2020

História e crescimento do Grupo ARRIVA

As origens

A sede da Arriva está situada em Sunderland, Reino Unido.

Em 1938, a família Cowie abriu uma loja de motociclos em segunda mão em Sunderland. Esse foi o primeiro empreendimento de uma empresa que cresceu até atingir o estatuto de empresa internacional com negócios por toda a Europa.

Em 1960 a empresa, ainda sob a designação de Cowie, mudou de actividade para a venda a retalho automóvel no Reino Unido. Em 1965, tornou-se numa sociedade anónima cotada na Bolsa de Valores de Londres e em 1980 iniciou a sua campanha para a aquisição de empresas de autocarros, com a compra da Grey-Green Coaches em Londres. Nos anos seguintes, registaram-se outras aquisições de empresas de autocarros, a maior delas – o British Bus Group plc – em 1996 que tornou a empresa no maior operador de autocarros no Reino Unido.

Em 1997, o Grupo Cowie alterou a sua designação para Arriva, juntando sob um mesmo nome a experiência de várias empresas. Nesse mesmo ano a Arriva adquiriu a sua primeira empresa na Europa continental.

Esta cronologia transporta-o por todo o processo de crescimento da Arriva, pormenorizando as suas várias aquisições, a adjudicação de contratos e os principais acontecimentos.

Em Agosto de 2010, a Arriva foi adquirida pela Deutsche Bahn, um dos principais líderes mundiais em termos de serviços de passageiros e logística, que emprega 220 000 funcionários em 130 países.

1980

Entrada no mercado de autocarros britânico com a aquisição da Grey-Green Coaches de Londres.

1991

A empresa expande-se para o sector do aluguer de veículos no Reino Unido. A divisão de aluguer de veículos é vendida 15 anos mais tarde, em 2006, quando a Arriva realiza o seu fundamental reposicionamento para se concentrar nos mercados do transporte de passageiros no Reino Unido e no continente europeu.

1996

Entre as aquisições de empresas de autocarros destaca-se o British Bus Group no Reino Unido.

1997

A Arriva entra no mercado dos transportes europeu com a aquisição da Unibus Holdings na Dinamarca, que também exerce a sua actividade na Suécia.

Apresentação da designação “Arriva”, reunindo mais de 140 nomes de marcas de transportes.

1998

A Arriva procede à aquisição da Vancom Nederland eda Veonn & Hanze nos Países Baixos, transformando a Arriva no maior operador de serviços de autocarros de turismo interurbanos e suburbanos.

1999

A Arriva expande as suas operações na Dinamarca com a aquisição da Bus Danmark. Adquire igualmente duas empresas de autocarros na Galiza, a noroeste de Espanha: Mercancias Ideal Gallego e Transportes Finisterre.

A empresa inicia a sua actividade de prestação de serviços de autocarros e comboios em Friesland, no âmbito de uma joint venture, e serviços de comboios em Groningen (assumindo o controlo total em 2003).

A Arriva anuncia o seu reposicionamento com o objectivo de se dedicar ao transporte de passageiros no Reino Unido e na Europa continental. Assim, as actividades do grupo ligadas ao aluguer de longa duração, venda a retalho de veículos e aluguer de veículos são alienadas.

2000

Entra no mercado português dos serviços de autocarros com a aquisição das empresas de autocarros Ami-Transportes e Abílio da Costa Moreira, a noroeste de Portugal.

2001

A Arriva adquire a Combus, o maior operador de autocarros dinamarquês.

2002

A Arriva adquire a Autocares Mallorca SL e a Donate Amenguel Ramis SL de Maiorca.

Adquire uma participação de 51% na Transportes Sul do Tejo, o maior operador de serviços de autocarros de turismo e autocarros regulares a sul de Lisboa, Portugal (atingindo os 100% em 2003).

A Arriva passa a ser o maior operador de autocarros do sector privado em Itália com a aquisição da SAB Autoservizi, que exerce a sua actividade a este de Milão, em especial na região da Lombardia, norte de Itália.

2003

A Arriva conclui o processo de aquisição da Transportes Sul do Tejo com a compra da restante participação de 49% do Grupo Barraqueiro (51 por cento foram adquiridos em 2002).

A Arriva passa a ter o controlo completo sobre a joint venture de serviços de autocarros/comboios nos Países Baixos, alterando a sua designação para Arriva Openbaar Vervoer NL.

Nos Países Baixos, a Arriva consegue um contrato para operação de serviços de transportes públicos na cidade e província de Groningen e na província de Drenthe (até Dezembro de 2009).

Na qualidade de primeira empresa privada a ganhar concessões para a exploração de serviços de comboios de passageiros na Dinamarca, a Arriva inicia o processo de exploração das franquias de oito anos no centro e norte da Jutlândia.

A Arriva inicia a exploração da nova franquia de serviços de comboios de passageiros por um período de 15 anos, servindo Gales e além fronteiras – Arriva Trains Wales/Trenau Arriva Cymru.

A divisão da venda a retalho de veículos motorizados é vendida no âmbito da estratégia da Arriva que passa a estar focada apenas nos mercados do transporte de passageiros no Reino Unido e na Europa continental.

2004

A Arriva chega ao mercado dos transportes públicos na Alemanha com a aquisição do Prignitzer Eisenbahn Gruppe. Adquire uma participação de 76,9% (atingindo os 100% em 2006) na Regentalbahn AG na região da Bavária, que presta serviços de comboios na Bavária, Turíngia e Saxónia.

A Arriva aumenta a sua quota no mercado dos transportes públicos em Itália com a aquisição de 49% da Società Autoservizi, F.V.G S.p.a (atingindo posteriormente os 60%).

A Arriva adquire a Wulff Bus A/S, um operador de autocarros dinamarquês que se enquadra geograficamente com a actividade já existente na Jutlândia e em Copenhaga. A Arriva passa a ser o maior operador de autocarros em Copenhaga com uma quota de 40% do mercado.

2005

A Arriva entra no mercado de autocarros alemão com a aquisição do Sippel Group, um dos maiores operadores de autocarros de capitais privados do país. A Arriva adquire a Blue Bus e a Coaches of Bolton no Reino Unido, alargando a sua presença a Bolton e região de Manchester.

A Arriva adquire uma participação de 80% do operador de autocarros italiano SADEM, que exerce a sua actividade em Piemonte e Valle d’Aosta, ficando em aberto a opção de compra dos restantes 20% em 2008 (concluído em 2008).

A Arriva anuncia a adjudicação do contrato para a exploração dos serviços de comboios na Bavária, a sul da Alemanha, entre Munique, Hof e Furth im Wald, por um período de dez anos, a contar de Dezembro de 2007.

Foi-lhe ainda adjudicado um contrato de 15 anos para a exploração em exclusivo dos serviços de comboios regionais em Friesland e Groningen, Países Baixos; e um contrato de seis anos para a exploração dos serviços de autocarros em Waterland, a norte de Amesterdão.

A Arriva aumenta a sua participação na Società Autoservizi F.V.G S. p. a. de 49 por cento (adquiridos em 2004) para 60 por cento.

2006

A Arriva adquire a Premier Buses, exercendo a sua actividade sob a designação MK Metro Ltd, de Milton Keynes, Reino Unido.

Adquire o operador de autocarros alemão Verkehrsbetriebe Bils KG, que exerce a sua actividade em Münsterland.

A Arriva adquire uma participação de 21,5% do Grupo Barraqueiro SGPS SA de Portugal, o principal operador de transportes de passageiros português (aumentado para 31,5 por cento em 2008).

A Arriva entra no mercado dos autocarros checo através da aquisição da Transcentrum Bus s.r.o, que exerce a sua actividade a norte de Praga.

A Arriva entra no mercado ferroviário sueco através de um contrato de nove anos para a exploração dos serviços de comboios regionais de Pågatåg, na região de Skåne, a sul da Suécia (2007).

Foi-lhe adjudicado um contrato de 12 anos para a exploração dos serviços de autocarros e comboios nos Países Baixos, entre Dordrecht e Geldermalsen.

Na Alemanha, ganha ainda um contrato de 10 anos para a exploração de serviços de comboios entre Munique, Oberstdorf e Lindau (2007) e um contrato de 12 anos para serviços de comboios entre Freilassing e Berchtesgaden na Bavária (2009).

A Arriva ganha o contrato para a aquisição de 80% do operador de autocarros Neiβeverkehr GmbH, a nordeste da Alemanha (2007).

A Arriva conclui o seu reposicionamento fundamental com a alienação da sua empresa de aluguer de veículos no Reino Unido.

A Arriva adquire uma participação de 35 por cento na Trieste Trasporti de Itália, que aumenta para 40 por cento em 2007.

A Arriva aumenta a sua participação na Regentalbahn AG da Alemanha de 76,9 por cento (adquiridos em 2004) para 100 por cento.

2007

A Arriva compra os operadores de autocarros espanhóis Esfera e Autocares Fray Escoba que circulam em Madrid.

A Arriva reforça a sua posição na República Checa com a aquisição das empresas Bosak Bus s.r.o. e Osnado Spol s.r.o.

A Arriva adquire uma participação maioritária na Osthannoversche Eisenbahnen AG, uma empresa ferroviária e rodoviária que exerce a sua actividade na Baixa Saxónia.

É adjudicada à Arriva a concessão para a exploração ferroviária de CrossCountry no Reino Unido.

A Arriva entra no mercado ferroviário sueco.

A Arriva e a PCC Rail, seus associados numa joint venture, ganham um contrato de 3 anos para a exploração dos serviços de comboios em Kujawsko-Pomorskie Voidvodship, noroeste da Polónia. Em 2010, a Arriva adquire a participação da parceira e a empresa passa a ser detida integralmente pela Arriva.

A Arriva entra numa joint venture com o Grupo Ferrovie Nord Milano e conclui o processo de aquisição de 49% do operador de autocarros italiano SPT Linea.

A Arriva adquire a Veolia Scandinavia, o segundo maior operador de autocarros dinamarquês.

A Arriva consegue um contrato para operação de autocarros em Estocolmo, com início em 2009.

A Arriva começa a operar dois novos contratos de serviços ferroviários, com a duração de 10 anos, na Baviera, Alemanha, através da Regentalbahn.

A Arriva consegue um contrato para 80 por cento do operador de autocarros Neisseverkehr GmbH, no nordeste da Alemanha (conseguido em 2006).

2008

A Arriva começa a operar o contrato de serviços de autocarros Hoeksche Waard e Goeree Overflakkee no sul de Roterdão.

A Arriva aumentou as suas acções no Grupo Português Barraqueiro para 31,5% (21,5 por cento adquiridos em 2006).

A Arriva aumentou as suas acções na SAIA Trasporti sediada em Brescia, Itália, para 100%.

A Arriva adquiriu a Tellings Golden Miller do Reino Unido, operador de transportes de passageiros nas áreas de aterragem e descolagem dos aeroportos.

A Arriva adquire as transportadoras espanholas Empresa de Blas y Cia S.L., bem como as suas subsidiárias, cujos autocarros operam em e nos arredores de Madrid.

A Arriva adquiriu 80 por cento da Interbus Invest, a holding da Eurobus Invest, o maior operador privado de autocarros na Hungria, e que opera serviços de autocarro na Hungria e na Eslováquia. Adquire os restantes 20 por cento em 2009.

A Arriva expande a sua presença em Brandenburg através da aquisição da Sudbrandeburger Nahverkehrs (SBN). A SBN opera serviços de autocarros na região de Oberspreewald-Lausitz.

Em Outubro de 2008, a Arriva adquire os restantes 20 por cento da empresa de autocarros SADEM S.p.A e da subsidiária Sapav S.p.A na região de Piemonte em Itália, detendo integralmente a empresa.

Na Suécia, é adjudicado o contrato ferroviário Göteborg-Örebo à Arriva, com início em 2009.

2009

A Arriva ganha o concurso rodoviário e ferroviário Achterhoek Rivierenland em Gelderland, Países Baixos. As operações rodoviárias começam em 2010 e as operações ferroviárias em 2012.

A Arriva adquire os restantes 20 por cento da Interbus Invest, a holding da Eurobus Invest da Hungria, e que opera serviços de autocarro na Hungria e na Eslováquia.

A Arriva recupera o contrato de serviços ferroviários de Jutlândia para um período de mais oito anos, a iniciar em 2010.

A Arriva consegue um contrato de 8 anos para operação de 65 autocarros na região de Halland no sul da Suécia a partir de Junho de 2010.

A Arriva torna-se o primeiro operador do sector privado a penetrar o mercado de Estocolmo em 10 anos, quando começa a operar 164 autocarros na capital sueca.

A Arriva expande as suas operações ferroviárias na Suécia com um novo contrato de operação entre Göteborg e Örebo.

A Arriva inicia um contrato de 12 anos que disponibiliza serviços ferroviários entre Frielassing e Berchtesgaden na Baviera, Alemanha.

2010

A Arriva adquire a participação de 50 por cento do seu parceiro de joint venture na Arriva PCC. A empresa ferroviária polaca, cuja designação foi alterada para Arriva RP, é agora integralmente detida pela Arriva.

No âmbito de um consórcio que inclui o Grupo Barraqueiro, a Arriva consegue um contrato de cinco anos para operação e manutenção do Metro do Porto, a rede de metro de superfície da cidade do Porto, a partir de Abril de 2010 (Portugal).

Em Agosto, a Arriva é adquirida pela Deutsche Bahn, um dos principais líderes mundiais em termos de serviços de passageiros e logística, que emprega 220 000 funcionários em 130 países

Como parte de um consórcio, a Arriva ganhou um contrato de 10 anos para operar serviços de autocarros em Malta e Gozo, a partir de Julho de 2011.

A Arriva ganhou um contrato ferroviário regional de 10 anos na região de Kujawsko Pomorskie, na Polónia. O contrato alarga as operações da Arriva durante os últimos três anos na Polónia e aumenta o número de quilómetros operados por ano em até 15 por cento.


Acerca da Arriva

A Arriva Portugal – Quem Somos

Fundada em 2000 a empresa resultou da aquisição e fusão institucional e operacional de 4 empresas de cariz familiar que operavam no Noroeste de Portugal:

João Carlos Soares e Filhos S.A.
Viação Costa e Lino, S.A.
Ami – Transportes, S.A.
Abílio da Costa Moreira e Companhia, S.A.


Contactos

ARRIVA Portugal – Transportes, Lda.
Rua das Arcas – Edifício Arriva
4810-647 PINHEIRO – GMR
GPS: N41º25’0″ W8º17’33″

Telefone: 253 423 500
Fax: 253 423 519
Email: geral@arriva.pt

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