domingo, 29 de setembro de 2019

A queima de madeira na Dinamarca e o clima

A Dinamarca é uma referência internacional no uso e propagação da energia eólica, a qual é um incentivo para a matriz verde. Recentemente, o país escandinavo tem investido nas fábricas de bioenergia e produz electricidade a partir de resíduos orgânicos. Todavia, especialistas apontam que os dinamarqueses utilizam da queima de madeira nas fábricas de biomassa e esta não é neutra em matéria de impacto ambiental.

No passado existia a crença de que a queima de madeira não representava avanço poluidor por causa do reabastecimento e absorção de gás carbónico (CO2) pelas árvores, porém, essa argumentação tornou-se nula, pois foi verificado que o factor poluidor permanece, e acrescenta-se a isso a velocidade desigual da queima em relação ao crescimento de novas árvores.

A Dansk Energi (Agência de Energia Dinamarquesa) admite o uso de pellets de madeira* na geração de energia de suas fábricas, porém, enquanto algumas pessoas defendem a sua queima, e consideram seu uso compatível com o clima, por tratarem-se de resíduos que seriam decompostos, alguns especialistas entendem como um erro dinamarquês a insistência na neutralidade da queima dessa madeira. A percepção que isso transmite é negativa, visto que os dados extras de liberação de CO2 não são contabilizados oficialmente.

O jornal Copenhaguen Post trouxe a declaração de alguns especialistas para falarem sobre o assunto, como o professor William Moomaw, da Universidade Tufts, e autor de cinco relatórios para o Painel Climático da Organização das Nações Unidas (ONU), o qual expressou: “Sempre pensei na Dinamarca como um país que trabalha com fatos. Por isso, foi muito preocupante para mim aprender quanta madeira a Dinamarca queima. É o equivalente a fraude contábil”. O professor Niclas Scott Bentsen, da Universidade de Copenhague, afirmou: “O objectivo climático mais importante é parar de usar combustíveis fósseis. Enquanto usamos a biomassa para conter os combustíveis fósseis e evitamos o uso excessivo de florestas, faz sentido para mim, em termos climáticos”.

Os analistas salientam a importância da troca de matrizes poluidoras para fontes verdes de produção de energia, visto que é urgente a preservação climática, a qual é de possível realização, juntamente com a manutenção do desenvolvimento. Todavia, a utilização de pellets de madeira como incremento para a biomassa não aparenta ser uma opção sustentável, e poderia ser objecto de retirada pelos dinamarqueses de suas fábricas de bioenergia.

By Bruno Veillard - Colaborador Voluntário

27 de Setembro de 2019

sexta-feira, 27 de setembro de 2019

Quando o Belenenses se partiu ao meio.

Desde o início da época passada que há duas equipas chamadas Belenenses a competir no futebol português.

Aconteceu antes de chegar ao ano 99: em vez de um, passou a haver dois Belenenses no futebol português. Depois, houve a divisão de bens: um ficou com o futebol profissional e o direito de participar na primeira divisão; o outro ficou com o resto, e que não é pouco: os sócios, o Restelo, as modalidades, a história e um projecto de futebol profissional a médio prazo. Este é um resumo em poucas palavras de um dos grandes imbróglios na história recente do futebol português. Um nome, dois clubes e uma luta permanente: entre os “azuis” que jogam futebol distrital no Restelo e os “azuis” que jogam futebol de primeira em Oeiras. Esta é uma divisão que entrou em velocidade de cruzeiro e não há qualquer desejo de reunião em nenhum dos lados. O Belenenses SAD, liderado por Rui Pedro Soares, está a ter um início atribulado na sua segunda época de vida longe de Belém, enquanto vai tentando manter uma identidade longe do Restelo (com a criação de várias equipas de futebol de formação), já com um treinador despedido (Silas) e uma posição no último terço da tabela. Joga com um tom de azul diferente, tem um emblema com uma torre (e não com a cruz), não podendo utilizar quaisquer referências que possam ser ligadas à marca Belenenses, de acordo com uma providência cautelar apresentada pelo clube. A equipa que joga na I Liga continua a chamar-se Belenenses, mas, no entendimento do clube, a utilização do nome também é uma ilegalidade pela qual terá de pagar três mil euros por dia enquanto tiver esse nome — e essa multa, calcula o clube, já irá nos 600 mil euros. A SAD, por seu lado, tem uma acção a correr nos tribunais para recuperar o direito de evocar a história centenária dos “azuis”, que também não tem o direito de evocar — não fez qualquer menção à efeméride nas redes sociais ou no seu site, que não é actualizado desde o início de Agosto. Do lado do Restelo, com vista para o rio, o Clube de Futebol os Belenenses tem a ambição de chegar ao topo do futebol português o mais depressa possível, para além de cortar os laços que ainda tem com a SAD — o clube tem 10% da sociedade, mas o presidente “azul” Patrick Morais de Carvalho quer vender essa participação o mais depressa possível. Formou uma equipa a partir do zero, com uma estratégia que passou pelo recrutamento de jogadores com passado no clube e o aproveitamento da formação. Alcançou facilmente a promoção logo à primeira época, e, provavelmente, irá ser assim durante mais um par de temporadas, até chegar ao Campeonato de Portugal, onde as dificuldades serão maiores — se tudo correr sem falhas, o CF os Belenenses pode estar a festejar a subida à I Liga daqui a quatro anos. Ou seja, o cruzamento dos dois Belenenses em campo irá acontecer mais cedo ou mais tarde.

Marco Vaza

Ana Gomes mete papéis para adoptar hacker Rui Pinto

“Se todo correr dentro dos prazos habituais para a adopção em Portugal, lá para 2030 devo ter o meu rico menino cá em casa. Já ando a pintar o quarto dele com bonecada do Sponge Bob e comprei-lhe uns chanatos em forma de panda.” Foi com este entusiasmo, de quem sente que a sua vida está prestes a mudar, que Ana Gomes confirmou ao IP que meteu a papelada para poder adoptar o pirata informático Rui Pinto e ir levar-lhe maços de tabaco e limas dentro de um pão-de-ló à prisão de Alcoentre. “Estou animada. O Rui vai chamar-me ‘mamã’ e, em menos de nada, é candidato do PS à Câmara Municipal de Torres Novas” declarou Ana Gomes

O Inimigo Público 27 de Setembro de 2019

A campanha está chata. O que é óptimo. E péssimo

Que tal está a correr a campanha eleitoral até ao momento? De forma extremamente civilizada — o que seria uma coisa extremamente aborrecida de se dizer, não fosse vivermos num planeta político onde a gritaria impera. Muito em breve, iremos votar em candidatos que falam com bons modos e dispensam energizar as bases com declarações desvairadas. Eis um facto que não pode ser menorizado, por mais que me custe. E porque é que custa? Porque a modorra política nacional também não é solução para coisa alguma. Sim, é óptimo não termos Donald Trump em São Bento; sim, é excelente que o maior admirador de Jair Bolsonaro não passe de André Ventura; sim, é magníÆco que a extrema-esquerda tenha passado a ser social-democrata; sim, é extraordinário que o líder do Partido Comunista Português seja um avozinho a quem apetece dar abraços. Tudo isto é supimpa e mereceria celebração efusiva, não fosse o reverso da medalha ser uma profunda falta de debate e de reÇexão sobre os problemas mais graves do país. Tenho a triste sensação de que nada do que é realmente importante tem sido discutido (vamos ser optimistas: até agora) nesta campanha eleitoral, nem mesmo quando as coisas realmente importantes vêm esbarrar com ela. Apenas dois exemplos: o caso das golas e o caso de Tancos. O caso das golas veio denunciar aquilo que são estruturas de corrupção instaladas no Estado, envolvendo empresas amigas e o mundo autárquico, com as suas ligações ao governo central. O que disse Rui Rio sobre isso? “Não seria ajustado chamar o caso das golas à campanha.” O caso de Tancos denuncia as fragilidades institucionais de um Estado depauperado e incompetente, em que qualquer pilha-galinhas consegue roubar material de guerra e negociar a sua entrega, perante a total ausência de sentido de Estado por parte de altos funcionários civis e militares. O que disse Catarina Martins sobre isso? “Não ajuda a ninguém que o caso Tancos seja usado na campanha.” Não ajuda a ninguém? Peço desculpa, a mim ajudava. Os políticos da colheita 2019 são tão pachorrentos e delicados que fogem a qualquer polémica que vá além de números do Instituto Nacional de Estatística, seja por acharem que os eleitores não gostam de confusão, seja porque temem os seus próprios telhados de vidro. É uma triste forma de embalar o país, que nunca chega a acordar para falar dos seus problemas mais fundos e mais graves. Se nem em campanha eleitoral há vontade de falar do que mais importa, quando é que vai haver? Esta é fácil: nunca.


João Miguel Tavares – Publico

A história secreta da geringonça.

Esta é a versão do Expresso, que é suave com certeza, mas é a tentativa deste pasquim ao serviço do PS, de querer limpar a imagem de todos, mas com predominância para salvar a pele do PS e António Costa em particular.

Na noite de 4 de Outubro de 2015, Passos e Portas preparavam-se para formar Governo, mas já PS, BE e PCP tinham dado passos que abriam portas ao inédito entendimento da esquerda. Segredos, bastidores e fait-divers de um acordo cuja paternidade está a ser foco de polémica entre António Costa e Catarina Martins nesta campanha eleitoral.

Texto publicado a 20 Fevereiro 2016, na revista do Expresso, quando a 'geringonça' comemorou os primeiros 100 dias

Sexta-feira, 2 de Outubro, último dia de campanha eleitoral das legislativas de 2015. Depois do clássico almoço na Trindade, o PS faz a não menos tradicional arruada pelo Chiado. Na cervejaria, ouvem-se discursos de extrema dureza de Ferro Rodrigues e de Fernando Medina para com os partidos à esquerda do PS. Talvez inspirados ainda pelas palavras de Manuel Alegre que, na véspera, em Coimbra, lamentara que "parte da esquerda gaste as suas energias a fazer do PS o seu inimigo principal" e tentara chamá-la à razão com um argumento inesperado: "Álvaro Cunhal, com quem tivemos grandes divergências ideológicas, nunca se esqueceu de que há uma fronteira entre esquerda e direita. E teve a lucidez e a coragem política de convocar um congresso extraordinário para lançar a palavra de ordem: contra a candidatura da direita, vota Soares." Durante o desfile pelas ruas de Lisboa, com a agitação e o barulho típico do momento, ninguém repara num discreto encontro entre figuras do PS e do PCP. O comunista, ex-autarca da Área Metropolitana de Lisboa (AML), parecendo que estava casualmente na rua, espera que o cortejo passe por ele. Mete conversa com uma ex-presidente de Câmara do PS da AML e, de seguida, com outro antigo autarca socialista, igualmente da metrópole lisboeta. O ambiente dos dois diálogos nada tem a ver com a acrimónia acabada de ouvir na Trindade.

Aqui olha-se pragmaticamente para o futuro. E a mensagem do lado do PCP é clara: não há razão para precipitações. Há disponibilidade para uma negociação que possa dar ao PS uma maioria parlamentar, algo que os socialistas não deverão obter nas urnas. Com efeito, as sondagens dão um avanço à coligação de direita, mas apenas com maioria relativa.

Juntos, PS, CDU e Bloco terão mais deputados. E a contagem dos votos haveria de confirmar o cenário. No Chiado, do lado do PS, há alguma surpresa ante a oferta comunista. Mas, ceticismo socialista à parte, os dados estão lançados.

Nesse mesmo dia, o Bloco está na zona do Porto. Entre bloquistas e socialistas não há ainda qualquer indício de um acordo da esquerda. A 14 de Setembro, no debate na TV com António Costa, Catarina Martins lançara um repto. Se o PS desistisse de três pontos do seu programa (congelamento de pensões, cortes na TSU e regime de despedimento conciliatório), o Bloco veria nisso "um início de conversa" para poder viabilizar um Governo alternativo ao da direita.

Ao longo de duas semanas e meia, a porta-voz do BE repete tal disponibilidade, dezenas de vezes, sem resposta alguma do PS. Nem publicamente nem em privado - garante agora uma fonte bloquista. Um silêncio que, visto a esta distância, se percebe melhor. Se fosse para dizer "não", Costa teria fechado logo as portas; e se pensasse ou admitisse dizer "sim", como veio a verificar-se, teria de ficar calado, para, entre outras coisas, poder continuar a pedir ao país uma maioria absoluta.

A perplexidade sobre uma possível negociação à esquerda atinge o auge no dia 26 de Setembro, quando o Expresso intitula em manchete: "Costa chumba governo de direita minoritário". Sob aquele título acrescenta-se que o líder do PS "confia na maioria de esquerda e na capacidade para fazer acordos".

No Bloco descrê-se de tal cenário. E duvida-se mesmo que tenha sido a direcção do PS a veicular tal possibilidade. "Não havia qualquer indicação de que isso fosse verdade", diz agora uma fonte do Bloco. "Até ao final da campanha, não houve qualquer sinal da parte do PS", acrescenta. De repente, tudo se precipita: "Os primeiros sinais dados pelo PS foram recebidos no sábado, dia de reflexão." Mas as "garantias não eram suficientes", pelo que foi necessário "confirmar a sua credibilidade".

As reservas iniciais rapidamente se desvanecem

De sábado para domingo realizam-se contactos entre figuras dos dois partidos. Ana Catarina Mendes assume que foi nesse dia de reflexão que "o cenário de entendimento foi posto em cima da mesa". Mas desde pelo menos quarta-feira, 30 de Setembro, que ele vinha ganhando vida nos pensamentos de António Costa. Nesse dia, ao saber dos resultados da última sondagem para o Expresso e a SIC, que apontam para uma vitória da PàF mas sem maioria absoluta (37,7%), o líder socialista comenta: "Não é uma boa notícia, mas também não é má." Por outras palavras, parecia certo que a maioria parlamentar seria à esquerda, e isso era quanto (lhe) bastava naquele momento.

A 3 e 4 de Outubro, nuns casos, a iniciativa dos contactos parte do lado do PS; noutros, é do Bloco. Segundo relata agora um dos envolvidos nas conversações, elas foram no máximo do conhecimento de três a quatro pessoas em cada partido. O relacionamento é feito sobretudo por telefone. Naturalmente, nele participam António Costa e Catarina Martins, mas não falam entre si. Há também encontros presenciais.

O que está em cima da mesa é mais do que um entendimento bilateral. Sendo já praticamente certo que dois (sejam quais forem) não bastam para conseguir uma maioria no Parlamento, tudo remete para um acordo a três, que inclua o PCP (que, pelas sondagens, até deveria ser a segunda força mais importante). Jerónimo terá sido contactado por António Costa, mas o líder comunista é perentório: "Não houve contactos formais ou informais com o PS", garantiu no dia 6 de outubro, no final da reunião do Comité Central.

João Oliveira, que esteve presente em todas as reuniões de negociação, também confirma a versão oficial de que "não houve contactos antes da reunião em que António Costa foi à Soeiro Pereira Gomes" (7 de outubro). E mais: "Não houve troca de opiniões no dia das eleições", garante o líder da bancada parlamentar.

Ao Expresso, o PCP limita-se a dizer que houve "uma solicitação no dia 3 para se estabelecer um contacto que se efetivou no dia 4, dia das eleições, limitado a uma troca de informações por telefone sobre o andamento da noite eleitoral, designadamente quanto ao momento das declarações". Ao início da tarde do domingo das eleições, com um princípio de diálogo à esquerda já alinhavado, e sobretudo jogando com essa possibilidade, António Costa mede a temperatura no seu partido. O líder socialista, que um ano antes fora eleito secretário-geral prometendo maioria absoluta nas legislativas, liga a Francisco Assis e aos presidentes das mais influentes distritais do PS para os sondar sobre um possível entendimento com os partidos de esquerda no caso de o PS ganhar as eleições com minoria ou, ainda que perdendo-as, conseguir ter mais deputados do que o PSD. Na noite das eleições, conhecidos os resultados iniciais, o primeiro sinal público de abertura para um entendimento à esquerda é dado na sede do PCP, no Centro Vitória.

Francisco Lopes não tem dúvidas de que a anterior maioria PSD/CDS "perdeu a capacidade de formar Governo" e que a esquerda "conseguirá isolar politicamente" o anterior Executivo. A frase da noite seria dita mais tarde por Jerónimo de Sousa: "O PS só não forma Governo se não quiser." Os comunistas lançam o isco de que "o PS tem condições para formar Governo" e avançam com a promessa de apresentar uma moção de censura a uma solução governativa liderada por PSD e CDS. Mas a prudência comunista é uma marca de ADN. Jerónimo sublinha que, "a menos que o PS viabilize" um Governo de direita, há uma "alternativa política" à vista. "A vida dirá" o que se irá passar, conclui o líder do PCP, assumindo que "a procissão ainda vai no adro".


PCP E BE desconcertados com Costa

A poucos metros dos comunistas, do outro lado da Avenida da Liberdade, no Cinema São Jorge, o Bloco assenta arraiais. Um dos responsáveis da campanha comenta a nuance do discurso de Francisco Lopes e desce apressado as escadas, em direção ao camarim onde Catarina Martins prepara o seu discurso, ainda a tempo de garantir a sua adequação ao facto político da noite.

A líder do Bloco, que fala entre Lopes e Jerónimo, deixa "bem claro" que, "se não tiver maioria, não será pelo BE que [a direita] conseguirá formar Governo". Minutos antes, Mariana Mortágua ainda falara de "uma possível vitória da direita". Agora, o léxico é corrigido: "A direita perdeu votos e perdeu mandatos." E se Cavaco empossar PSD e CDS, o BE "vai rejeitar no Parlamento essa hipótese".

Não muito longe, na Rua Castilho, no Hotel Altis, António Costa reconhece a derrota. Os apoiantes que o escutam, temendo que a frase seguinte seja a do anúncio da demissão do lugar de secretário-geral do PS, gritam "não". Eles pede--lhes paciência: "Já vão dizer que sim." Reitera que o PS "será inteiramente fiel aos compromissos que assumiu perante os eleitores" e que, por isso, "a coligação de direita não poderá contar com ele para viabilizar a prossecução das suas políticas".

E acrescenta: "Ninguém conte connosco para sermos só uma maioria do contra, sem condições para formar um Governo credível e alternativo ao da direita." O discurso de Costa é recebido com algum agastamento no Bloco, pela sua "ambiguidade".

Ao contrário do que os contactos de véspera e desse próprio dia fariam supor, o líder do PS mantém canais abertos tanto à esquerda como à direita. Já os comunistas sentem o tapete a fugir-lhes debaixo dos pés quando ouvem Costa afirmar que não alinhará em "maiorias do contra". Dois dias depois das eleições, Carlos César, novo líder parlamentar do PS, reúne-se com os presidentes das federações.

Conta-lhes das negociações à esquerda mas, segundo quem lá esteve, sempre num tom de que seriam manobras mais táticas do que efetivas, porque "dificilmente o PCP aceitará um acordo com o PS". Ficaria claro, ainda assim, que não seria o PS a inviabilizar essa hipótese. Marcos Perestrello, líder da FAUL, discorda da estratégia. José Luís Carneiro, do Porto, e Capoulas Santos, de Évora, expressam reservas sobre a orientação, que admitem arriscada.

Pedro Nuno Santos, líder da distrital de Aveiro, Ana Catarina Mendes, presidente da federação de Setúbal, e Luís Testa, de Portalegre, são os maiores entusiastas do que, nessa altura, ainda é apenas e só uma miragem.

Nessa mesma noite, a Comissão Política do PS aprova (com 63 votos a favor, 4 contra e 3 abstenções) o mandato para António Costa poder encetar diálogo com todas as forças políticas, à esquerda e à direita. Horas antes já Cavaco encarregara Pedro Passos Coelho de "desenvolver diligências" para formar um Governo. Passos chama a Costa "líder do maior partido da oposição" e pede ao PS a adoção de uma "cultura de diálogo". É com este canto da sereia da direita que António Costa (acompanhado de Carlos César e Ana Catarina Mendes, Pedro Nuno Santos e Mário Centeno) entra, ao final da tarde de 7 de outubro, na sede do PCP, na Soeiro Pereira Gomes. O encontro dura cerca de uma hora e meia e, no final, o líder socialista diz que "correu bem" e sublinha que, apesar das diferenças conhecidas, há "pontos de convergência importantes".

Mas é, surpreendentemente, Jerónimo quem vai mais longe. A reunião "produtiva" vai continuar "nos próximos dias" e o líder comunisviabilizar um Governo do PS". O acordo da esquerda começa ata deixa uma mensagem clara: o PCP está disposto a " mover-se de modo notório e aos olhos de todos.

Ana Catarina Mendes diria mais tarde, sobre essa reunião, que Jerónimo tinha "vontade de superar--se a si próprio".

À distância, João Oliveira lembra que este primeiro encontro "acabou por ser o decisivo". Para surpresa dos socialistas, os comunistas puseram as cartas todas em cima da mesa: assumiram a disponibilidade para viabilizar o Governo socialista.

Em contrapartida, queriam "discutir o programa de Governo e a solução alargada e interpartidária na formação" desse mesmo Executivo. Nesta primeira reunião, o PCP não afastou a possibilidade de participar no Governo. A hipótese acabou por cair mais à frente, no caminho das negociações. O importante, na altura, era deixar um sinal claro de que o PS podia, desta vez, contar com os comunistas.

A primeira reunião entre PS e BE só chegará dias depois. O Bloco pretendia um encontro técnico em primeiro lugar; o PS, então a negociar também no tabuleiro da direita, exige uma reunião política.

Inicialmente marcado para dia 8, o encontro acaba por se realizar apenas a 12 de outubro, na sede do Bloco, na Rua da Palma. É bastante mais produtivo, com frutos imediatos, do que o mantido seis dias antes, entre socialistas e comunistas.

O que Costa deixara por esclarecer durante quase um mês tem agora uma resposta clara: o PS aceita as três condições colocadas por Catarina Martins na TV. Com uma maratona negocial em perspetiva, socialistas e bloquistas adotam um princípio que os isentará da tarefa de partir muita pedra na mesa negocial: decidem que, logo à partida, constarão do acordo os assuntos em que há convergência dos respetivos programas eleitorais e os temas que votações anteriores no Parlamento demonstraram ser "chão comum", conta um dos negociadores.

Há sintonia num terceiro aspeto: não figurará no acordo qualquer referência aos pontos sobre os quais venha a ser impossível obter um consenso (ao contrário do que a posição conjunta de PS e PCP viria semanas depois a consagrar).

Comunistas e bloquistas em mesas separadas

Socialistas e comunistas, primeiro; socialistas e bloquistas, depois - estão estabelecidas as bases de duas negociações. Para rematar o triângulo, falta perceber como evoluirá o binómio PCP-BE. Os dois partidos encontram-se no dia 16 de outubro, uma sexta-feira à tarde, no Parlamento.

À saída da reunião dá-se um caso extraordinário.

Catarina Martins fala em primeiro lugar.

Analisa o estado das relações do Bloco com o PS, mas não dedica uma única palavra ao encontro que acabara de ter. Ninguém lhe coloca essa questão. A seguir intervém Jerónimo de Sousa. Lê uma declaração, na qual só menciona o BE na primeira frase (referindo-se ao encontro). No resto, comenta as negociações com o PS. Também aqui as perguntas colocadas não se desviam um milímetro do tema inicial de conversa.

Há uma razão para que nem Catarina nem Jerónimo mostrem qualquer vontade de falar do que se passara minutos antes: as posições dos dois partidos são diametralmente opostas. Instado a relatar as divergências, um dos presentes na reunião diz apenas: "Houve perspetivas muito diferentes sobre a necessidade de fazer refletir no acordo um debate sobre as questões orçamentais." Fontes conhecedoras do processo negocial dão mais pormenores. O Bloco solicitara a reunião para aferir o grau de empenhamento efetivo do PCP na concretização de um acordo à esquerda. E para saber da possibilidade de uma conversação direta com os comunistas .

À semelhança da reunião dos presidentes de federação do PS, também no PCP se está de pé atrás em relação à efetivação de um acordo. Acreditam que ele nunca verá a luz do dia, por uma (ou várias) de três razões: uma divisão do PS; obstáculos colocados por Cavaco Silva; pressões externas, de Bruxelas às agências de rating.

Já quanto a uma negociação direta, os comunistas deixam claro que só a farão com o PS. O que só muito mais tarde seria evidente - a impossibilidade de um acordo tripartido - fica cavado no dia 16 de outubro.

Esta geometria variável entre PS, Bloco e PCP ganha letra de forma dois dias depois. Mas é uma subtileza que passa despercebida e só numa leitura posterior se torna clara. A 18 de outubro, um domingo, reúne-se a Mesa Nacional do Bloco. Na resolução política, distinguem-se dois comprimentos de onda: "O prosseguimento das negociações com o PS com vista à consagração, no programa de Governo", por um lado, e "o prosseguimento do diálogo com o PCP sobre o processo de negociações com o PS", por outro. Para bom entendedor...

Não é a única decisão cifrada no comunicado: ele é omisso sobre os termos da negociação com o PS. O facto mais relevante da reunião só é destapado na conferência de imprensa. Então, Catarina Martins afirma aos jornalistas que a Mesa Nacional "aprovou por unanimidade a ratificação do mandato da equipa negocial do Bloco para as negociações de um Governo que proteja empregos, salários e pensões".

Antes, na reunião, em relação a cada ponto passível de figurar num acordo, a porta-voz do Bloco apresentara o ponto de partida da negociação e o limite até onde o BE admitia ceder. A aprovação meramente verbal foi considerada pelos bloquistas a melhor forma de preservar uma informação que se fosse divulgada iria ser mais um grão de areia no espinhoso caminho da esquerda.

A semana de todas as vertigens

Com partidas desencontradas, as duas negociações bilaterais (PS-Bloco e PS-PCP) avançam a velocidades diferentes. Há grande atenção mediática sobre cada uma das reuniões entre os vários partidos, mas ocorrem alguns encontros longe dos olhares dos jornalistas, tanto nas sedes partidárias como no Parlamento.

Na última semana antes da assinatura do acordo, a primeira de novembro, jogam-se todas as decisões. Num ambiente em que é preciso juntar as pontas, os ânimos até começam por ficar mais inflamados logo no dia 1, um domingo.

Uma entrevista de Catarina Martins ao "Diário de Notícias" incendeia os ânimos. Um pouco no PS, onde criticam um "excesso de protagonismo", mas sobretudo no PCP. Por um lado, a líder do Bloco é vista como alguém que gosta de aparecer a dar as boas notícias - "Há acordo à esquerda, as pensões vão ser todas descongeladas", intitula o "DN" na primeira página -, algo que irrita os parceiros da esquerda. A tampa salta mesmo aos comunistas quando Catarina afirma: "Seria demagógica se dissesse que acredito que seria possível ter [um salário mínimo de] 600 euros em 2016." "Demagógica" passa assim a ser a proposta do PCP, que defendia tal valor. E "demagógica" passa também a ser uma das promessas eleitorais do Bloco, que se apresentara às legislativas com a mesmíssima medida no programa.

O mal-estar entre bloquistas e comunistas, que haveria de ter novos episódios no fim de semana seguinte, não impede Catarina Martins de entrar na Soeiro Pereira Gomes, a sede do PCP, poucos dias depois, a 4 de novembro. Foi um dos vários encontros que envolveram líderes partidários que passou despercebido até hoje. A única referência fê-la o Expresso no sábado seguinte, mas ainda com poucos pormenores.

A meio da manhã, numa altura em que o bar está cheio de gente, alguns militantes e funcionários do PCP veem com surpresa a chegada da porta-voz do Bloco, acompanhada por outro membro do partido. Segundo fonte oficial do Bloco, a reunião foi pedida por Jerónimo de Sousa, e pretendia-se que decorresse com discrição. Já o PCP dá uma versão diferente em relação àquele encontro: a iniciativa partiu do BE e ocorreu no dia 5 (e não 4).

Na Soeiro, Catarina informa os comunistas sobre o estado das conversações com o PS, já concluídas em relação às medidas a inscrever no documento final. Os comunistas percebem que o Bloco vai assinar o acordo com os socialistas e que não lhes resta outra saída se não entenderem-se também com o PS. O tempo urge. O fim de semana está a chegar e para ele estão marcadas as reuniões de PCP e PS (Comité Central, no primeiro caso; Comissão Política e Conselho Nacional, no segundo), às quais as respetivas direções têm de submeter a ratificação do texto aprovado entre ambas (e, no caso do PS, também com o BE e Os Verdes).

Um filtro que a direção do Bloco já não enfrenta, pois tem um mandato da Mesa Nacional. Se os ecos da entrevista de Catarina Martins ao "DN" tiveram réplicas na reunião que manteve com Jerónimo de Sousa na sede do PCP é algo que o Expresso não conseguiu apurar. Nessa mesma noite de 4 de novembro, a líder do Bloco é entrevistada na SIC. Para os comunistas tem palavras de mel.

Questionada sobre o facto de o PCP negociar só com o PS, Catarina responde: "Se há uma coisa em que eu tenho toda a confiança e certeza é que o PCP será o defensor de parar o ciclo de empobrecimento do país." E vai mais longe, metendo comunistas e bloquistas no mesmo campo, numa alusão à soma dos votos dos dois partidos: "Um milhão de pessoas são os obreiros de uma nova solução de Governo." Praticamente à mesma hora, pela segunda vez neste processo, António Costa vai à sede do PCP, onde de manhã estivera Catarina. O líder do PS passara uns dias de férias em Itália, deixando Carlos César na condução das negociações, e foi no estrangeiro que soube das dificuldades persistentes entre socialistas e comunistas. A ida de Costa à Soeiro, entre outras coisas para um cara a cara com Jerónimo, é uma das formas de desbloquear o impasse.

No dia 5, quinta-feira, o prazo para conseguir um acordo da esquerda aproxima-se do fim. Nas segunda e terça-feira seguintes é discutido e votado o programa do segundo Executivo de Pedro Passos Coelho. Se PS, Bloco e PCP não se entenderem antes disso, os socialistas não chumbam o Governo.

Encontro secreto...no Largo do Rato

É nessa quinta-feira que António Costa e Catarina Martins se encontram mais uma vez, num encontro no Largo do Rato até agora mantido em segredo.

Com a hipótese de um acordo subscrito a três (ou a quatro, com Os Verdes) já desde há muito descartada, socialistas e bloquistas debatem a "simetria" dos textos. Para o Bloco, sobretudo, trata-se de "uma questão crucial" - a simetria iria garantir um grau de responsabilização igual para todos. Ainda que preâmbulos e anexos pudessem assumir forma distinta em cada "posição conjunta", o elenco de medidas objeto de entendimento teria de ser o mesmo para todos.

É já depois desta reunião que se reúne a Comissão Política do Bloco, ainda na noite de 5 de novembro. Catarina informa os seus pares dos últimos desenvolvimentos do processo, entre os quais os encontros mantidos com Jerónimo, uma surpresa para quase todos, e com Costa. A Comissão Política dá luz verde às medidas já acordadas com o PS para viabilizar o Governo e, sobretudo, o OE. Ficam também assentes os termos do acordo político, mas não a aprovação formal do mesmo. A ratificação final só terá lugar depois de socialistas e comunistas acertarem as suas agulhas.

Não foi à primeira que BE e PCP aceitaram, já na reta final das negociações, a versão que o PS lhes apresentou, com uma referência aos "compromissos com as regras europeias", formulação que os dois partidos à esquerda do PS chumbaram.

Noutro caso, no vaivém de e-mails com o elenco de medidas sectoriais passíveis de acordo, os socialistas acabam por fazer sair à luz do dia propostas que nem sequer haviam sido discutidas ou eram desejadas pela outra parte. Naturalmente, foram devolvidas à origem e expurgadas do documento final. No dia da queda do segundo Governo de Passos Coelho, o acordo está feito. Mas ninguém sabe onde, quando e por quem será assinado. A exigência partiu dos comunistas, que recusam uma cerimónia conjunta e a presença de jornalistas. "Na nossa perspetiva, a discussão foi bilateral, não fazia sentido uma assinatura coletiva", diz João Oliveira.

"Não queríamos uma encenação, não víamos vantagem nisso", acrescenta. Face à posição do PCP, o BE faz uma exigência: ser o último a assinar, por ter a bancada mais numerosa. João Oliveira acompanha Jerónimo à Sala Europa, do PS, mas só o secretário--geral assina: e é o primeiro dos parceiros de António Costa a rubricar a posição conjunta. São 14h34 de 10 de novembro, poucas horas antes da queda do Governo de Passos. Seguem-se, quatro minutos depois, Os Verdes, representados por Heloísa Apolónia e Manuela Cunha. Por fim, chega a vez do Bloco.

Num protocolo improvisado, com convocatórias em cima da hora, Catarina Martins telefona a Pedro Filipe Soares, para que este a acompanhe. Mas o líder parlamentar está nesse momento no refeitório, num almoço de trabalho, já marcado. Não tem como sair da sala. E, como não faz questão de ser ele a assinar o acordo, avança Jorge Costa, um dos vice-presidentes da bancada. É então selada a terceira posição conjunta que vai viabilizar um Governo do PS apoiado pela restante esquerda.

Ao fim de 34 dias de negociações, o folhetim termina às 14h42 do dia 10 de novembro de 2015. É nesse momento, ainda sem conhecer o nome que a há de celebrizar (via Paulo Portas, a partir de uma crónica de Vasco Pulido Valente), que a "geringonça" ganha pernas para andar. Fez 100 dias na última quinta-feira.

Cristina Figueiredo – Paulo Paixão – Rosa Pedroso Lima

https://expresso.pt/legislativas-2019/2019-09-24-A-historia-secreta-da-geringonca

Alterações de Gretas suecas

Percebo a vontade de uma fanática como Greta Thunberg se meter num barco durante 2 semanas, só para provar o virtuosa que é. Não percebo é os tipos que, voluntariamente, se vão enfiar com ela naquilo.

É inegável que, no último século, a temperatura média da Terra aumentou cerca de 1° C. Como bem sabe quem já pegou num comando de ar condicionado para subir de 22 para 23 graus, trata-se de uma alteração de monta. Mesmo assim, a mudança verificada no clima empalidece face à mudança que, no mesmo período, se operou no temperamento das Gretas suecas mais célebres. Há quase 100 anos, Greta Garbo disse que queria que a deixassem em paz. Disse-o publicamente e em filmes, e demonstrou-o várias vezes. Gostava de estar sossegada e que não se metessem na sua vida. Agora, rompendo com uma tradição secular de resguardadas Gretas, temos a metediça Greta Thunberg, que faz questão de não deixar ninguém em paz, aborrecendo toda a gente com as suas desagradáveis profecias, metendo o nariz onde não é chamada e dizendo-nos como devemos viver.

A que se deverá esta impressionante mudança? Terá sido mera variabilidade natural? Afinal, na Suécia sempre houve diversidade de humores entre as Gretas mais conhecidas. No dealbar do séc. XIX, por exemplo, havia a famosa Greta Naterberg, uma extrovertida cantora folk. Mas uma oscilação destas, entre Garbo e Thunberg, é tão actual e no nosso tempo, que não pode ser explicada pela simples aleatoriedade estatística, até porque a nossa geração é especial e está destinada a assistir a grandes eventos e não meros acasos. Greta Garbo morreu no início dos anos 90, Greta Thunberg nasceu no início deste século. O que é que aconteceu entretanto que poderá ter causado esta alteração radical? Eu diria que há contribuição humana. É mudança de Gretas antropogénica. Uma pesquisa rápida no Google leva-me a concluir que a responsabilidade é do programa Big Show SIC. Entre 1995 e 2001, João Baião, o Macaco Adriano e o DJ Pantaleão animaram as tardes de Domingo da SIC. Entretanto, a Suécia passa de ter uma Greta discreta, para ter uma Greta intrometida. Uma Greta que bate recordes diários de intromissão, com a inconcebível intromissão do mês passado a ser ultrapassada pela extraordinária intromissão deste mês. Coincidência? Não creio. A correlação é inegável. Excepto, claro, para os negacionistas das alterações das Gretas. Para já, o consenso à volta desta tese ronda os 100%. Face a tão grande transformação de índoles, eu, se fosse à Suécia, começava a inspecionar com atenção as suas Gretas. Meti os dados num Excel e a previsão é que as próximas Gretas sejam ainda mais maçadoras.

Eu respeito os medos infantis. Sou pai para ir vinte vezes por noite acender a luz do quarto da minha filha, só para ela se certificar que não há lá bruxas. É uma forma normal de lidar com o medo. Outra coisa é vender a casa porque ela está convencida que há monstros no armário.

É o que este histerismo todo faz adivinhar. Neste momento, ao deixarem-se guiar pelo pânico desta jovem, é como se as Nações Unidas e os Governos pretendessem obrigar-nos a passar a dormir no chão, porque é debaixo das camas que vive o Bicho Papão.

Desta feita, a forma que Greta Thunberg escolheu para pregar um sermão ao mundo, foi dizer que andar de avião é pecado. Para mostrar como é fácil viver sem voar, vai viajar para Nova Iorque a bordo de um iate emprestado por um milionário e patrocinada pelo Yacht Club do Mónaco. Só por má vontade e desprezo pelo planeta é que nós, os labregos que ainda frequentam aeroportos, nos recusamos a fazer como ela. (Alguém devia dizer a Greta que, da última vez que um profeta embarcou num navio para ir a uma grande metrópole anunciar a destruição iminente se não houver arrependimento, foi comido por uma baleia).

Greta vai a Nova Iorque para participar em mais uma conferência das Nações Unidas sobre o clima. (Nas Nações Unidas fala-se tanto sobre o clima que estou convencido que aquele edifício em NY é um gigantesco elevador e Guterres o ascensorista mais bem pago de sempre). Quando entrar na baía de Nova Iorque, a primeira coisa que Greta verá vai ser a Estátua da Liberdade, tal como tantos emigrantes antes dela. Na altura, vinham em barcos lotados, fugindo à pobreza, à fome e à falta de recursos. Justamente as condições de vida que, num iate de luxo, Greta vem agora propor.

Durante mais de 100 anos, a Estátua saudou quem chegava, erguendo alto a sua tocha. Para os emigrantes pobres, a tocha representava um ideal, a liberdade. Para esta activista rica, a tocha também representa um ideal, o de um mundo iluminado pelo fogo, em vez de pela electricidade. Sorte tem o Frank Sinatra, que já morreu. Se Greta conseguir apagar as luzes, Nova Iorque vai deixar de ser a cidade que nunca dorme e a canção deixará de fazer sentido.

Percebo a vontade de uma fanática como Greta Thunberg se meter num barco durante duas semanas, só para provar o virtuosa que é. Não percebo é os tipos que, voluntariamente, se vão enfiar com ela naquilo que, na prática, é um T0 sem placa e cheio de humidade. Ao fim de três dias a ouvi-la agoirar com o fim do mundo daqui a 10 anos, aposto que vai haver marinheiros a perguntar se não dá para adiantar o apocalipse. Ou a quererem tanto parar as emissões de CO2, que deixem voluntariamente de respirar. Na melhor das hipóteses, a tripulação junta-se e vai soprar as velas, a ver se despacha a viagem.

Passar 15 dias fechado com uma adolescente mística que quer salvar o mundo à força, é como fazer um interrail com os Três Pastorinhos. E num comboio da CP. A miúda é um bocadinho assustadora, com aquelas tranças e os olhos sinistros. Parece a filha da Pipi das Meias Altas e do Chucky. Para a tripulação atazanada, o efeito de estufa vai rapidamente passar a efeito de estucha. É natural que às tantas fiquem tão obcecados com o clima que comecem a mandar Greta ir lá fora ver se chove.

José Diogo Quintela

Observador

Totalitarismozinho dos anos 40

Este discurso da emergência climática dá muito jeito em termos políticos. Em primeiro lugar, tudo o que acontece de mal deve-se ao clima. Logo, a culpa nunca é do Governo, é de toda a humanidade.

Georgina Figueiredo é ex-dirigente do PAN. No Domingo, postou este texto no Facebook: “Pensamento do dia: há gente a mais neste planeta. A maior parte desta não vale os recursos que consome. Cada vez mais tenho nojo destes semelhantes em espécie com que me vou cruzando e sou obrigada a partilhar o ar que respiro. Que venha uma praga que limpe esta merda de gente. Dixit”. As redes sociais reagiram instantaneamente (passe a redundância) e os jornais foram atrás (passe outra redundância), castigando o PAN por lhe fugir o pé para a eugenia. Com a miúfa própria de quem já tem algo a perder, o PAN veio logo distanciar-se da antiga camarada, como se ela não tivesse sarna. A meu ver, mal. O PAN não precisa de se preocupar com uma possível repercussão eleitoral que estas declarações possam ter. É sabido que o povo português não castiga os partidos pelas tropelias de ex-militantes, como prova a maioria absoluta que se prepara para oferecer ao antigo partido de José Sócrates.

Mas, não há dúvida que malhar no PAN é uma tendência deste ano. Não há outra razão para um post de uma anónima ex-dirigente causar tanto furor. O tema da sobrepopulação é habitual no meio dos fanáticos do armagedão e é costume lerem-se defesas apaixonadas da necessidade de diminuir o número de pessoas no mundo. Não é um preocupação exclusiva do PAN, é partilhada por chalupas de outras agremiações.

Nem de propósito, ainda há 15 dias, Bernie Sanders, o mais elogiado candidato à santidade progressista – mas também à presidência dos EUA – falou sobre o assunto. Numa entrevista, uma senhora do público perguntou se, sendo a sobrepopulação um problema e havendo a necessidade de dar poder às mulheres e educar toda a gente para a urgência de limitar o aumento da população, Sanders estaria disposto a pegar nesse tema e transformá-lo num ponto fulcral do seu plano para evitar uma catástrofe climática. Sanders disse que sim e que para isso é fundamental o apoio dos EUA às organizações internacionais que actuam nos países mais pobres, para que ajudem as mulheres que desejam fazer abortos. Ou seja, para Sanders, o aborto não é tanto um direito da mulher à auto-determinação do seu corpo, mas uma ferramenta de controlo de população no Terceiro Mundo. Obviamente, só se Bernie Sanders fosse do PAN é que a imprensa portuguesa teria criticado isto. Mas, já se sabe que admiramos mais um teórico do aprimoramento da raça humana através da selecção de quem se pode reproduzir, se vier do estrangeiro.

Neste momento, a embirração com o PAN é de tal ordem que qualquer coisa que faça é mal feita. Nos últimos dias, a queixa é que o PAN agora só fala de clima. É clima, clima, clima, clima. Clima, clima, clima. Clima. Clima, clima, clima. Sinceramente, nem acho que o PAN fale de mais no clima. Acho até que fala de menos. Se eu estivesse convencido de que o mundo ia acabar daqui a 10 anos (ou são 5? Isto é como os iogurtes, de cada vez que olho o prazo é mais curto) por causa do clima e que havia alguma coisa que se pudesse fazer para o evitar, também não me calava.

Aliás, começo a levar a mal os partidos que partilham a crença irracional com o PAN, mas resolvem ser moderados no discurso político, continuando a debater temas corriqueiros quando a Terra se prepara para desaparecer. Aquilo que André Silva chama, e bem, ecologiazinha dos anos 80 – numa boa demonstração de totalitarismozinho dos anos 40. Para quê discutir o acesso ao Ensino Superior, se todos os alunos vão morrer calcinados antes de chegarem ao fim do curso? Para quê reduzir o défice, se a Alemanha vai ser obliterada por um furacão e ninguém nos vai cobrar o que quer que seja? E as listas de espera nos hospitais, para quê preocuparmo-nos, se isto vai tudo para o galheiro? Portanto, toca a falar de clima. (Que, já agora, é uma óptima forma de controlo de população. Um maçador que fala de clima por tudo e por nada não tem grandes hipóteses de se reproduzir se, quando uma rapariga se mostrar disponível, vier com esta conversa: “Estás molhada? Ui! Realmente, o Painel Internacional sobre Alterações Climáticas alertou para o facto de a humidade ter aumentado bastante desde 1978!”)

Este discurso da emergência climática dá muito jeito em termos políticos. Em primeiro lugar, tudo o que acontece de mal deve-se ao clima. Logo, a culpa nunca é do Governo, é de toda a humanidade. “Incêndios? Era impossível salvar aquelas pessoas, o aquecimento global não deixou

Depois, qualquer proposta, por mais parva ou cara que seja, torna-se imediatamente justificada se se conseguir arranjar uma ligação, ainda que ténue, ao clima. “O Brasil não sabe cuidar da Amazónia, se calhar é melhor ocuparmos aquilo e ficarmos a tomar conta. Não temos interesse nenhum naquilo, mas é pelo clima”.

Finalmente, qualquer exigência, por mais justa que seja, é menosprezável face ao iminente cataclisma, que absorve todos os recursos disponíveis. Uma mãe a queixar-se da falta de condições do IPO pediátrico passa por mesquinha, face à necessidade de gastar todo o dinheiro na descarbonização, ou lá o que é. Mesmo que a nossa descarbonização seja despiciente, uma vez que a China e a Índia continuam a queimar carvão à bruta.

Ou seja, o discurso catastrofista sobre as alterações climáticas recompensa duplamente, já que desresponsabiliza e, ao mesmo tempo, dá poder. De facto, o clima anda muito estranho: finalmente é possível ter sol na eira e chuva no nabal. Se bem que metade da chuva são perdigotos dos fanáticos do clima a vociferarem para cima de nós.

José Diogo Quintela

Observador

quinta-feira, 26 de setembro de 2019

A carne de vaca para mim não me convém.

A vaca é um bicho sem qualquer tipo de préstimo: o leite agora só presta se for de soja, amêndoa, ou quinoa; os bifes afinal fazem mal à saúde e a produção de carne vai fazer a Terra explodir.

Esta semana tivemos mais um motivo para nos orgulharmos imenso do nosso país. Há uma universidade portuguesa, a Universidade de Coimbra, que está taco a taco com a Universidade de Cambridge do Reino Unido. “Mas a que nível?”, perguntarão os mais distraídos. “Em termos do prestígio do curso de Matemática Aplicada?” Não. “Então será pela quantidade de prémios Nobel da Química que lá se formaram?” Hum, também não. “Espera. Só pode ser por, depois de imensos médicos portugueses – muitos formados em Coimbra – terem emigrado para Inglaterra, haver agora médicos formados em Cambridge a imigrar aos magotes para Portugal”. E de novo, não. É ainda mais prestigiante que tudo isso. O que une os dois estabelecimentos de ensino é que também a Universidade de Coimbra vai eliminar o consumo de carne de vaca nas suas cantinas.
Na senda desta novidade a Tuna Académica da Universidade de Coimbra já acrescentou uma estrofe ao imorredoiro tema “A Mulher Gorda”, que é a seguinte:
A mulher que ingere carnes vermelhas
Para mim não me convém
Eu não quero andar na rua
Com uma apreciadora de acém
Perde-se um pouco ao nível da métrica, concedo, mas ganha-se claramente em activismo ambiental. Para justificar esta medida o reitor da universidade, Amílcar Falcão, destacou que “vivemos um tempo de emergência climática” e que é necessário “colocar travão nesta catástrofe ambiental anunciada”. Sem dúvida. E a culpa da calamidade ecológica é das sacanas das vacas. Que ainda por cima hoje em dia são um bicho sem qualquer tipo de préstimo: aqueles lindos tapetes em pele com o formato da vaca escalada, género dourada na grelha, estão fora de moda; o leite agora só presta se for de soja, amêndoa, ou quinoa (infelizmente tudo coisas dificílimas de ordenhar); os bifes afinal fazem mal à saúde e a produção de carne vai fazer a Terra explodir.
Portanto, toca a abater os mil milhões de cabeças de gado vacum que há no planeta e é já. Empilha-se a bicharada e incinera-se. Espera, incinerar talvez não seja o mais ecológico, que uma pira desse tamanho é coisa para fazer uma fumarada maior que a daquele vulcão islandês, o Eyjafjallanãoseiquêkull. Talvez seja melhor enterrar os bichos. Quer dizer, enterrar é coisa para contaminar os lençóis freáticos. Já sei. Senhor Reitor, a solução não é comer menos carne de vaca. A solução é, pelo contrário, comermos muito mais carne de vaca. A única forma de darmos contas destas malandra de vez é comermos vacas a um ritmo superior àquele a que elas se reproduzem. Esqueça as praxes frívolas tipo jogar vólei com ovos, ou medir a faculdade com um palito. Se já a partir deste ano lectivo cada caloiro for obrigado a ingerir meia tonelada de bifes da vazia por semestre ainda vamos a tempo de salvar a Terra!
O que me deixa tranquilo nisto das alterações climáticas é o facto da ONU estar preparada para abordar o tema de forma adulta, ponderada e tranquila. Nesse espírito a organização convidou para discursar na Cimeira da Acção Climática uma adolescente colérica e espavorida, Greta Thunberg. A propósito. O que terá a ONU a dizer do obsceno aproveitamento político que a ONU fez de uma menor com uma perturbação neuropsiquiátrica? A resposta certa é: “Sacana do Trump que não há maneira de alinhar nesta nossa histeria com as alterações climáticas, pá!”

A propósito do discurso irado da jovem sueca disse o Público que os “Líderes mundiais fizeram promessas, mas não limparam as lágrimas de Greta”. Depois desta muito chorosa apresentação restava uma saída digna a António Guterres: pedir desculpa à menina e mandá-la para casa descansar. Mas o secretário-geral das Nações Unidas tinha outros planos. Escaldado com a capa da Time de há três meses, desta vez tirou os sapatos e as meias e arregaçou as calças para não arriscar molhar o fato.

Tiago Dores – Observador

Na Madeira, Tino de Rans venceu o campeonato dos pequenos.

Entre os partidos mais pequenos, que foram no último domingo a votos na Madeira, também há vencedores e vencidos. A grande surpresa foi protagonizada pelo Reagir — Incluir — Reciclar

Nas regionais da Madeira, o RIR (Reagir — Incluir — Reciclar), fundado por Vitorino Silva (Tino de Rans) no início deste ano, teve mais do dobro dos votos da Aliança de Pedro Santana Lopes. A Iniciativa Liberal, que apostou numa campanha com cartazes irreverentes (a exemplo da linha nacional), Æcou atrás do PURP e um pouco acima do Chega. Entre os partidos mais pequenos, também houve surpresas na noite eleitoral madeirense. Num universo eleitoral pequeno, onde cabem pouco mais de 257 mil eleitores — Lisboa tem quase dois milhões e o Porto um milhão e meio —, existe grande proximidade entre eleitores e candidatos. É por isso natural que, como acontece em autárquicas, os eleitores votem em quem conhecem, mais do que na bandeira partidária que trazem. Esta lógica ajuda a explicar a votação do RIR, liderado por Tino de Rans.


Racismo? Bernardo Silva e Benjamim Mendy

Concordo, pois os tempos actuais estão-nos a transformar em algo que não gosto nada.



Jornal Publico

O fim da corrupção colocaria Portugal ao nível da Finlândia?

A afirmação de André Silva, dirigente do PAN, no debate a seis nas rádios, pode estar desactualizada em termos concretos, mas um estudo independente do final do ano passado estima em mais de 18 mil milhões de euros o custo anual da corrupção em Portugal.

A frase que foi dita por André Silva no debate a seis nas rádios desta quarta-feira refere-se a um estudo feito por Daniel Kaufmann, director dos Programas Globais do Instituto do Banco Mundial, publicado na revista trimestral do Fundo Monetário Internacional, Finance and Development, em Agosto de 2005. Mas que o custo da corrupção em Portugal é demasiado elevado, não parece haver dúvidas.

Embora sem fazer essa analogia, um outro estudo divulgado no final de 2018 pelo grupo parlamentar europeu Os Verdes calcula em mais de 18 mil milhões de euros ao ano o custo da corrupção em Portugal. O equivalente a 7,9% do PIB, calcula o estudo, feito originalmente pela RAND Europe, um instituto independente e sem fins lucrativos de pesquisa sediado no Reino Unido, cuja missão é ajudar, através da investigação e análise, promover a aplicação de políticas e a tomada de decisões.

Para se ter uma noção da dimensão dos valores em causa, o estudo afirma que esses 18,2 mil milhões de euros representam mais do que o orçamento anual para a Saúde, o dobro do que é gasto em educação, é mais de dez vezes superior ao orçamento para o combate ao desemprego e 72 vezes superior à verba despendida no combate aos incêndios.

“A verdade é que o país paga custos económicos, sociais e políticos muito pesados por causa da corrupção”, afirma ao PÚBLICO João Paulo Batalha, presidente da Transparência e Integridade (associada à Transparência Internacional), lamentando que este não esteja a ser um tema da pré-campanha nem dos debates entre os líderes partidários. O responsável considera que essa timidez dos responsáveis políticos em discutir o assunto se explica, porque “o tema é embaraçoso, até porque há condenações de políticos dos dois principais partidos”, mas considera que deve ser assumido como prioritário.

“É toda a economia que fica capturada e isto tem impactos brutais. Não conseguimos ter uma discussão útil e produtiva sobre questões importantes como o crescimento económico, o desenvolvimento ou o investimento estrangeiro, sem trabalharmos a questão do combate à corrupção e o impacto que esta tem no funcionamento da administração pública e na capacidade de atrair investimento estrangeiro produtivo em bens transaccionáveis. Não conseguiremos ter uma política de desenvolvimento económico e social sem enfrentar este problema”, afirma João Paulo Batalha.

Por esse motivo, o responsável considera que “a analogia de Portugal ter um crescimento semelhante ao da Finlândia” se o combate à corrupção fosse eficaz, “mesmo que não se possa fazer sem estudos técnicos complexos, é uma discussão que é importante ter porque tem a ver com o regular funcionamento das instituições democráticas”. “Se não tratarmos da capacidade do Estado de assumir políticas e implementá-las de forma livre e independente, todo o debate ideológico que se faça durante a campanha é pura manobra de diversão”, conclui.

Publico – Leonet Botelho

ISDS – Um sistema de (in)justiça empresarial

A “Justiça” mais injusta: ISDS, a arma exclusiva dos poderosos.

Até ao momento, o absurdo deste mecanismo é inversamente proporcional ao grau do seu conhecimento pelos cidadãos, que dele sofrem as brutais consequências.

Custa a acreditar que precisamente aos mais poderosos actores privados globais sejam outorgados direitos superiores, especiais e exclusivos, que lhes permitem exigir indemnizações multimilionárias sempre que consideram que medidas democraticamente adoptadas pelos Estados podem diminuir os seus lucros.

E não menos inconcebível parece que sejam precisamente os Estados a outorgar-lhes esses direitos e meios especiais, limitando o seu próprio poder legislativo e arriscando, em dimensão multimilionária, os recursos dos cidadãos.

Mas é exactamente isso que vem acontecendo de forma crescente e avassaladora através do ISDS (sigla em inglês do Investor-State Dispute Settlement), um instrumento de direito internacional privado, disponível exclusivamente para investidores estrangeiros processarem Estados e a que estes livremente se submetem, entre outros, através de acordos de investimento ou, por exemplo, da Carta da Energia, que Portugal também subscreveu.

A partir dos finais de 1960, o ISDS começou a ser incluído em acordos de investimento entre países, com o objectivo de proteger os investimentos privados em países ditatoriais ou corruptos. Nos primeiros 20 anos, os processos de ISDS foram raros; mas, a partir de 1990, o seu aumento foi vertiginoso, sendo hoje conhecidos mais de 560 casos a nível mundial. O que era uma excepção passou a ser um privilégio generalizado, incluído em acordos entre países democráticos onde rege o Estado de Direito – como aconteceu recentemente no acordo de comércio e investimento entre a União Europeia (UE) e o Canadá (mais conhecido por CETA).

A nível substancial, as empresas multinacionais passaram assim a beneficiar de direitos especiais e exclusivos, entre outros, através do conceito de “expropriação indirecta”. Este conceito não está ancorado na legislação nacional de muitos países, como, por exemplo, a Alemanha. Porém, recorrendo ao ISDS quando considerem que decisões legislativas dos Estados podem reduzir os seus lucros “legitimamente expectáveis”, os investidores estrangeiros – e apenas estes – podem transpor a justiça nacional e accionar essa justiça “superior”.

O inconcebível deste mecanismo não se limita, porém, à sua vertente substancial. Em termos processuais, a decisão não é tomada por um tribunal público e legitimado, mas por tribunais arbitrais privados, compostos por três árbitros escolhidos pelas partes – de entre um pequeno grupo de advogados ou juristas pagos com valores de $1000 à hora – e que podem assumir rotativamente o papel de acusação, defesa ou de decisão. As sessões são secretas (muitas vezes realizadas em quartos de hotel) e das decisões não há apelo possível, não existindo uma instância de recurso.

As custas de um processo ISDS são, em média, de oito milhões de euros – mesmo nos casos em que os Estados ganham os processos. Quando a decisão penaliza os Estados, o pagamento de indemnizações às grandes empresas chega aos milhares de milhões.

Mas o efeito dos ISDS vai mais longe ainda, pois a simples possibilidade de virem a ser processados por decisões regulatórias em defesa do consumidor ou do ambiente, dos direitos dos trabalhadores, etc., abre a porta ao chamado chilling effect, o efeito intimidatório sobre o próprio processo democrático.

Os casos de ISDS são pouco conhecidos, em parte por se processarem à porta fechada. O da Philip Morris International contra o Uruguai por políticas anti-tabaco, ou da empresa sueca Vattenfall contra o governo alemão pela decisão de abandonar a energia nuclear (exigindo uma indemnização de 4,7 mil milhões de euros) são apenas exemplos pontuais. Em Portugal, os accionistas da EDP anunciaram recentemente que iriam, via ISDS, contestar uma redução das chamadas “rendas excessivas”, no valor de 285 milhões de euros.

A gritante injustiça deste sistema paralelo e exclusivo já levou o Parlamento Europeu (PE) a tomar uma posição clara contra o ISDS e o tribunal europeu pronunciou-se sobre a falta de conformidade do ISDS com o direito europeu, a nível de processos entre os Estados-membros. Até a Comissão Europeia, defensora do sistema, acabou por adoptar um sistema cosmeticamente melhorado no CETA, em troca de o conseguir passar no PE.

O movimento europeu de cidadãos contra o ISDS, que ganhou força em finais de 2014 no contexto do planeado acordo de comércio e investimento entre a UE e os Estados Unidos da América (TTIP), prepara agora uma campanha para dar visibilidade à marcante injustiça do ISDS.

Porque, até ao momento, o absurdo deste mecanismo é inversamente proporcional ao grau do seu conhecimento pelos cidadãos, que dele sofrem as brutais consequências.


Ana Moreno
Activista da TROCA – Plataforma por um Comércio Internacional Justo
Publico 18-01-2019

Ver aqui um exemplo significativo.

https://www.youtube.com/watch?v=MmaupsBTAxQ

Comentários de um chinês sobre a crise na Europa.

não consegui garantir a autenticidade, mas partilho destas observações!

Kuing Yamang

1. A sociedade europeia está em vias de se auto-destruir.

O seu modelo social é muito exigente em meios financeiros.

Mas, ao mesmo tempo, os europeus não querem trabalhar.

Vivem, portanto, bem acima dos seus meios, porque é preciso pagar estes sonhos …2. Os industriais Europeus deslocalizam-se, porque não estão disponíveis para suportar o custo de trabalho na Europa, os seus impostos e taxas para financiar a sua assistência generalizada.

3. Portanto endividam-se, vivem a crédito. Mas os seus filhos não poderão pagar 'a conta'.4. Os europeus destruíram, assim, a sua qualidade de vida empobrecendo.

Votam orçamentos sempre deficitários. Estão asfixiados pela dívida e não poderão honrá-la.

5. Mas, para além de se endividar, têm outro vício: os seus governos 'sangram' os contribuintes. A Europa detém o recorde mundial da pressão fiscal.

É um verdadeiro 'inferno fiscal' para aqueles que criam riqueza.

6. Não compreenderam que não se produz riqueza dividindo e partilhando, mas sim trabalhando. Porque quanto mais se reparte esta riqueza limitada menos há para cada um. Aqueles que produzem e criam empregos são punidos por impostos e taxas e aqueles que não trabalham são encorajados por ajudas. É uma inversão de valores.

7. Portanto o seu sistema é perverso e vai implodir por esgotamento e sufocação.

A deslocalização da sua capacidade produtiva provoca o abaixamento do seu nível de vida e o aumento do… da China!8. Dentro de uma ou duas gerações, 'nós' (chineses) iremos ultrapassá-los.

Eles tornar-se-ão os nossos pobres. Dar-lhes-emos sacos de arroz…

9. Existe um outro cancro na Europa: existem funcionários a mais, um emprego em cada cinco. Estes funcionários são sedentos de dinheiro público, são de uma grande ineficácia, querem trabalhar o menos possível e apesar das inúmeras vantagens e direitos sociais, estão muitas vezes em greve. Mas os decisores acham que vale mais um funcionário ineficaz do que um desempregado…

10. (Os europeus) vão-se desintegrar directos a um muro e a alta velocidade…

quinta-feira, 19 de setembro de 2019

Os juízes inamovíveis e as inamovíveis cabeças.

O presidente do Tribunal da Relação de Lisboa respondeu às críticas acerca do regresso de Rui Rangel às secções criminais do tribunal (onde é chamado a avaliar recursos de crimes dos quais ele próprio é suspeito) com o argumento de que “uma das características do estatuto dos juízes é a sua inamovibilidade”. Ou seja, no entender de Orlando Nascimento, neste momento ninguém tem direito a tirar Rangel do seu lugar, porque ele ainda não foi acusado de nada, e muito menos condenado, e “mudar um juiz de um lado para o outro” numa situação destas seria “um caminho perigosíssimo”. A inamovibilidade é a única forma, diz o presidente da Relação de Lisboa, de ter “juízes independentes e sem medo”, que possam “decidir em consciência, sem depender de ninguém”. O que ele está a dizer está certo? Em abstracto, está certíssimo. No caso em concreto, é um absurdo — e é por isso que nunca convém transformar bons princípios em dogmas cegos. Fazê-lo é sempre um caminho para a inflexibilidade descerebrada e para a desgraça moral. A razão é simples: a realidade supera sempre a imaginação mais destemida dos legisladores, e a história da nossa vida em sociedade é a de um conflito permanente entre estimáveis princípios que subitamente se tornam incompatíveis. A inamovibilidade do juiz é um bom princípio? É, sim senhor. E a preservação da confiança dos cidadãos no exercício da Justiça? Também. O que fazer quando os dois princípios são inconciliáveis? Nesses casos, só o recurso ao bom senso e à discussão racional nos pode salvar. Ora, as personalidades dogmáticas não costumam ser boas nem numa coisa, nem na outra. Se, por um lado, há que agradecer ao presidente do Tribunal da Relação de Lisboa ter apresentado as suas justificações à comunicação social para o regresso de Rui Rangel ao local onde se suspeita que andou a cometer crimes; por outro lado, as suas justificações são extremamente problemáticas pela insensibilidade que revelam. Dir-me-ão: mas porque é que você está tão convencido da sua razão, e porque é que só Orlando Nascimento é que está a ser dogmático? Não é difícil perceber — é porque me parece bastante evidente, e do mais elementar senso comum, que o princípio do juiz inamovível está subordinado à confiança na Justiça. O juiz é inamovível por uma única razão: para que os cidadãos possam ter confiança no exercício do cargo, por saberem à partida que o juiz não precisa de recear as consequências na sua carreira de uma sentença difícil. O problema no caso de Rui Rangel é que essa confiança já não existe à partida. Não há nada para preservar. Explodiu. A confiança está destruída. Os indícios fortíssimos de um comportamento duvidoso estão espalhados por todos os jornais. Donde, Rui Rangel não só pode, como deve, ser movido para outro lado. Ao Jornal de Notícias, Orlando Nascimento chegou a declarar que tirar Rangel das secções criminais seria um “atentado à democracia”. A sério? Já o que se está a passar é bastante pacífico e deixa a democracia em excelente estado. Tivessem os jornalistas insistido, e é possível que Orlando Nascimento ainda acabasse a invocar um outro princípio, igualmente estimável: o da presunção de inocência. E, aí, o juiz Rui Rangel teria de permanecer no seu cargo, como nos bons velhos tempos, até sentença transitada em julgado. A verdade é esta: quando não se quer mexer uma palha, há sempre imensos bons princípios à mão, que justificam impecavelmente a nossa passividade.

João Miguel Tavares

quarta-feira, 18 de setembro de 2019

Alô Dona Edna! Ronaldo quer reencontrar a funcionária do McDonald's que lhe matou a fome em criança.

Bonito gesto de Cristiano Ronaldo.

Está lançado o alerta. Cristiano Ronaldo quer reencontrar e premiar Dona Edna e as outras duas colegas, as funcionárias do McDonald's perto do estádio onde treinava, que lhe mataram a fome à saída dos treinos, quando tinha 11 e 12 anos.

Na entrevista que deu à estação de televisão britânica ITV, Cristiano Ronaldo recordou a fome que passou na infância e adolescência e quer agora reencontrar e oferecer um prémio especial às empregadas do McDonald's como forma de lhes agradecer.

CR7 recordou momentos da sua infância na ilha da Madeira, quando tinha 11 e 12 anos e falou de um episódio que o marcou. "Tínhamos um pouco de fome. Havia um McDonald's ao lado do estádio, batíamos à porta e pedíamos para ir comer um hambúrguer qualquer. Estavam lá sempre a Edna e outras duas meninas", relembra o melhor jogador do mundo, que sente contudo uma dor no coração.

"Nunca mais as encontrei. Perguntei por elas em Portugal, mas entretanto fecharam aquele McDonald's. Mas, se esta entrevista puder ajudar a encontrá-las, ficaria muito feliz. Quero convidá-las para irem a Turim ou a Lisboa jantar comigo. Quero dar algo em troca."

Museológica da batata

Tiago Dores

Somos um povo com inclinação para a filosofia, com dotes de abstracção tão bons, tão bons, que acabamos por ser mais fortes a discorrer sobre museus imaginários do que a visitar museus reais.

É verdade que desde 2015 Portugal já foi ultrapassado em termos de PIB per capita pela Estónia, Lituânia e Eslováquia. Mas que diabo, o dinheiro não é tudo. O progresso de um país vê-se em inúmeros outros aspectos. Por exemplo no nível de desenvolvimento cultural. E aí Portugal pede meças aos melhores. Basta ver os casos recentes com os hipotéticos Museu Salazar e Museu dos Descobrimentos: ainda nem se sabe se vão existir e já incendeiam paixões mais fortes nos portugueses que um Museu do Louvre. O que faz particular sentido no caso do eventual museu sobre o Estado Novo porque, digam o que disserem, ao nível de olhares de carneiro mal morto o do Salazar é ainda superior ao da Mona Lisa. E não deixemos passar em claro que estas polémicas também comprovam que somos um povo com inclinação para a filosofia. Temos uma capacidade de abstracção tão boa, tão boa, que acabamos por ser mais fortes a discorrer sobre museus imaginários do que a visitar museus reais.

Um dos museus que estava na calha era o tal Museu dos Descobrimentos. Foi aliás uma promessa de campanha do presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Medina. Mas houve um grupo que se identificou como sendo de “cem pessoas negras” que assinaram uma carta aberta intitulada “Não a um museu contra nós!” e Medina acagaçou-se. O que me leva a crer que se calha ter sido Fernando Medina e não Vasco da Gama a comandar a frota que se propôs descobrir o caminho marítimo para a Índia não tinha sido necessário chegar ao Cabo da Boa Esperança e enfrentar o Adamastor para ponderar voltar para trás. À primeira tainha mais robusta que Medina avistasse à saída do Tejo ali para os lados do Bugio – ala! – era meia volta e casa. A chorar. E com um pinguinho nas ceroulas. Apostrofaria o Velho do Restelo:

Ó glória de mandar! Ó vã cobiça Espera, paremos a ladainha

Afinal já estão a regressar, chiça Retiro o que disse, estupidez minha

O que mais impressiona na tal carta “Não a um museu contra nós!” do grupo de “cem pessoas negras” — para quem “descobrimentos” e “escravatura” são uma e a mesma palavra –, é o facto dessas exactas pessoas serem a prova viva que afinal, ao contrário de tudo o que aprendemos na escola, os escravos eram tratados principescamente. Só assim se explica que este grupo de indivíduos, claramente eles próprios (o “nós” na carta não deixa dúvidas) vítimas do tráfico de escravos, tenham chegado a provectas idades de mais de 500 anos. Ou isso, ou, para além de Vasco da Gama ter descoberto o caminho marítimo para a Índia e Pedro Álvares Cabral ter descoberto o Brasil, houve algum outro explorador português que descobriu a criopreservação.

Agora que penso nisso, também vou enviar uma carta ao presidente da câmara de Lisboa a exigir o encerramento de um espaço museológico. O documento chamar-se-á “Não a um museu contra mim!” e nele argumentarei que o meu trisavô, funcionário da Companhias Reunidas Gás e Electricidade, faleceu depois de levar um valente esticão ao desatarraxar uma lâmpada em 1878. Portanto, o Museu da Electricidade tem de fechar as portas e é com carácter de extrema urgência.

O caso do Museu Salazar é ainda mais complicado. Desde logo porque parece nunca ter havido a ideia de criar um museu chamado Museu Salazar. Esse nome terá sido invenção do PCP, que ganhou tanta experiência a reescrever a historia que já o consegue fazer ainda antes dos acontecimentos terem sequer ocorrido. E na Assembleia da República os comunistas viram aprovado o seu voto de condenação do museu sobre o Estado Novo sem que nenhum partido se opusesse. O que mostra que o museu talvez seja de facto desnecessário. Quando um petiz perguntar “Ó pai, qual é a diferença entre o Parlamento do tempo do Salazar e o de hoje?”, a resposta é simples: “Filho, essa é fácil. No tempo do Salazar havia basicamente um partido e todos os deputados defendiam o mesmo. Hoje em dia há vários partidos.”

terça-feira, 17 de setembro de 2019

Como chegou a vespa asiática a Portugal? O que fazer se for picado? Conheça as respostas aqui

A vespa volutina, mais conhecida por vespa asiática, chegou à Europa há 15 anos e, desde 2011, os casos de picadas dolorosas e agressivas não pararam de surgir em território nacional.

Foto: Flicker

O que é uma vespa volutina, também conhecida por vespa asiática, e que é que se deve fazer quando se detecta um ninho da espécie? A Renascença preparou um explicador.

O último caso ocorreu no Parque da Pena, em Sintra, que foi encerrado na segunda-feira (dia 16) depois de ter sido descoberto um ninho na zona ocidental do parque.

Que aspecto têm e como chegaram a Portugal?

Esta espécie é predominantemente preta, com uma ampla faixa laranja no abdómen e uma faixa amarela na parte dorsal. As patas são também escuras, com extremidades amarelas.

A vespa volutina entrou na Europa através da França, em 2004, num carregamento de bonsais proveniente da China. A espécie rapidamente se reproduziu, tendo entrado em Portugal em 2011.

Onde se encontram os ninhos?

A detecção dos ninhos nem sempre é tarefa fácil. Alguns podem localizar-se em árvores baixas ou em telhados, sendo, por isso, facilmente visíveis, outros localizam-se em árvores altas, como, por exemplo, eucaliptos adultos. E, neste caso, é muito difícil ver os ninhos, não só pela distância ao solo como pelo facto desta espécie florestal apresentar folhas todo o ano.

Os ninhos destas vespas, como o que foi detectado em Sintra, podem chegar a um metro de altura e até 80 centímetros de diâmetro. No seu interior podem estar entre duas mil e 13 mil vespas.

Ninho de vespa asiática. Foto: Octávio Passos / Lusa

Ninho de vespa asiática. Foto: Octávio Passos / Lusa

O que fazer em caso de ser picado?

  • Remover o ferrão da vespa que possa ainda estar cravado na pele;
  • Lavar o local da picada abundantemente com água fria;
  • Em caso de sentir dor, tomar um analgésico, como paracetamol ou ibuprofeno. Seguir sempre as indicações do folheto e tomar a dose recomendada;
  • Se sentir comichão, aplicar gelo ou uma pomada de venda-livre comprada na farmácia específica para o alívio do sintoma. É também possível tomar um anti-histamínico;
  • Para reduzir o edema, aplicar gelo na lesão.

Posso ter um comportamento preventivo?

De acordo com o site oficial da CUF, existem algumas precauções que podem ser tomadas para reduzir o risco de ser picado:

  • Mantenha-se calmo e movimente-se devagar; não agite os braços nem as enxote;
  • Cubra a pele exposta usando mangas compridas e calças nos momentos do dia em que os insectos estão mais activos - como o nascer e o pôr do sol;
  • Calce sapatos fechados enquanto estiver na rua;
  • Aplique repelente de insectos - com entre 20 a 30% de DEET (dietiltoluamida) - na pele exposta e por cima da roupa. Se vai aplicar protector solar, faça-o antes de aplicar o repelente;
  • Nunca perturbe os ninhos dos insectos;
  • Mantenha os alimentos e bebidas tapados enquanto estiver a consumi-los ao ar-livre, especialmente os doces;
  • Em zonas de risco, mantenha as portas e janelas da casa e do carro fechadas, sobretudo no final do dia, ou coloque uma rede mosquiteira para prevenir a entrada de insectos.

Como se comporta e que impactos negativos tem?

A espécie é diurna e predadora de outras vespas, abelhas e outros insectos… No caso das abelhas, a vespa velutina espera que cheguem carregadas de pólen junto às colmeias. Depois de as capturarem, levam-nas para os seus ninhos para alimentar as larvas.

Na apicultura, a vespa asiática causa perdas devido à predação da abelha-europeia, enquanto que na agricultura, além de haver uma menor actividade de polinização, pode influenciar a produção frutícola.

Este é um dos grandes efeitos da presença desta espécie em território nacional, de acordo com o Plano de Acção para a Vigilância e Controlo da Vespa velutina em Portugal, criado em 2018.

Ninho de vespa volutina. Foto: Estela Silva / Lusa

Ninho de vespa volutina. Foto: Estela Silva / Lusa

Até que ponto afecta a segurança das pessoas?

Individualmente, não é mais agressiva para o ser humano do que a vespa-europeia, mas reage de forma bastante agressiva às ameaças do ninho.

Se se sentir ameaçada até cinco metros de distância do ninho, pode responder em grupo e perseguir essa ameaça a cerca de 500 metros.

Desde 2017 até ao corrente ano, verificou-se um aumento do número de denúncias. Em 2017, contabilizaram-se 499 avistamentos, número que aumentou para 708 em 2018 e que, este ano, até 25 de Agosto, somou 508 situações relacionadas com a presença de vespas asiáticas.

Em que pontos do país existem mais ninhos de vespas volutinas?

Os distritos onde se registaram mais denúncias, ao longo deste ano, foram no Porto (133), Braga (92), Viseu (60), Aveiro (53) e Coimbra (50).

A vespa asiática registou o primeiro avistamento em Portugal em 2011, no distrito de Viana do Castelo, e, desde aí, tem vindo a deslocar-se para o sul do país, sendo que Lisboa, até agora, é o distrito mais a sul onde existe a presença desta vespa.

Operação anti vespa asiática. Foto: Estela Silva / LusaOperação anti vespa asiática. Foto: Estela Silva / Lusa

Onde pode denunciar a localização de um ninho?

Através da linha SOS Ambiente e Território - 808 200 520 - do Serviço de Protecção da Natureza e do Ambiente da GNR, ou preencher um formulário na plataforma SOS Vespa, criada pelo Instituto de Conservação da Natureza e Florestas, a dar conta da localização de um ninho.

A plataforma SOS Vespa cartografa e monitoriza essas ocorrências através da colaboração de cidadãos e de instituições.

Também é possível pedir a colaboração da junta de freguesia da área da observação do ninho.

Que planos de acção existem em Portugal?

Em 2018, foi implementado o plano de acção para a vigilância e controlo da vespa velutina em Portugal, que visa a prevenção, vigilância e controlo desses animais em todo o território nacional, com vista à segurança dos cidadãos, à protecção da actividade agrícola e do efectivo apícola, bem como à minimização dos impactos sobre a biodiversidade.

Relativamente ao plano de acção, a GNR, através do SEPNA, tem participado nas acções de vigilância, controlo e destruição, assim como nas acções de formação e divulgação, além de efectuar o tratamento e encaminhamento de todas as denúncias recebidas através linha SOS Ambiente e Território.

Certo é que os cidadãos devem evitar fazer a destruição dos ninhos, uma vez que, se não for eliminado na sua totalidade, a vespa vai nidificar noutro local, persistindo o problema.

RR

quinta-feira, 12 de setembro de 2019

Plantas para varandas com muito sol.

Se a sua varanda tiver muito sol directo durante a maior parte do dia, terá de escolher plantas que exijam luz e que resistam bem ao calor. Algumas das quais pode escolher são:

- Gerânios: pode colocá-los pendurados nas grades na varanda ou em vasos.

Como cuidar de gerânios

Uma das flores mais comuns em jardins e varandas é o gerânio, que dá vida a qualquer recanto com suas flores multicoloridas. Trata-se de uma planta que resiste bem, inclusive às altas temperaturas, e é muito fácil de cuidar. Você pode combinar diferentes espécies e variedades de gerânios para conseguir assim um resultado espectacular e colorir todo o seu lar. Para que não fique nenhuma dúvida, explicaremos neste artigo como cuidar de gerânios.

Passos a seguir:

1-Em primeiro lugar, você deve considerar que os gerânios precisam de muita luz solar para um crescimento forte e saudável. Desta forma, recomendamos que sejam colocados em um local ensolarado de seu jardim ou terraço ou, caso estejam em áreas internas, próximo de janelas.

2-Trata-se de uma planta que floresce no Verão, por isso deve ser muito regada durante esta estação do ano; enquanto no Inverno, a frequência de irrigação deve ser muito menor, especialmente em climas frios.

3-Além disso, recomendamos o uso de um substrato pesado que retenha bem a umidade e monte um bom sistema de drenagem em vasos ou jardineira para evitar que fiquem encharcados.

4-Na Primavera, você deve fazer uma boa poda nos gerânios para que floresçam com mais força. Você terá de arrancar as folhas secas e mortas pelo ponto de união com o talo.

5-Da mesma forma, é necessário adubar estas flores com frequência, especialmente durante a floração; você pode usar adubo líquido específico para gerânios ou um genérico.

6-As flores e folhas não devem ser pulverizadas, já que possuem um toque aveludado e a água as estragaria. Para limpá-las, você pode usar um pano de tecido macio ou um espanador.

7-Você deve prestar especial atenção às pragas que podem afectar os gerânios, como é o caso da borboleta do gerânio, a mosca branca, ou outras pragas mais comuns.

- Petúnias: devem ser protegidas do vento.

Resultado de imagem para Petúnias

Petúnia é um género botânico pertencente à família Solanaceae. A etimologia do nome do género botânico 'Petúnia remete ao termo tupi-guarani grafado petum ou betum. É originária de locais tropicais e sub-tropicais da América do Sul. A maioria das petúnias que se encontram em jardins são híbridas.

Condições de cultivo e de manutenção

A petúnia é uma planta de sol pleno que tolera o frio moderado. O solo deve ser fértil e rico em matéria orgânica, pode adicionar húmus de minhoca. O  pH do solo deve ser levemente ácido. As petúnias  precisam de ser regadas periodicamente, por isso a sistema de drenagem do substrato deve funcionar muito bem. Apesar da floração ser mais intensa na Primavera, a petúnia floresce com menor intensidade durante todo o ano até que seu ciclo de vida termine.

- Tulipas: poderá combinar as diferentes cores e obter um resultado bonito. Leia aqui quais são as variedades das tulipas.Como cuidar de tulipas

As tulipas florescem na Primavera trazendo uma abundância de cor para o seu jardim. Com os devidos cuidados, poderá desfrutar destas magníficas flores de Primavera ano após ano. As tulipas proporcionam uma variedade de cores e texturas que vão desde tulipas em miniatura colocadas em espaços pequenos a gigantes que dominam a paisagem.

Vai precisar de:

  • Bolbos de tulipa
  • Fertilizantes
  • Adubo

Passos a seguir:

1-Veja revistas ou catálogos de sementes para determinar que tipo de tulipa quer fazer crescer. Tenha em conta que o tamanho, forma e cor que escolher depende da área que deseja fazer crescer, tulipas minúsculas num canto trará um toque delicioso de cor, mas as variedades das gigantes podem parecer fora do lugar delas.

2-Escolha um local ensolarado que tenha pelo menos 6 horas de luz solar directa. Emboras as tulipas floresçam com pouco sol, as flores no geral, serão mais pequenas e podem ter falta de cor. Repare que as tulipas florescem mais cedo e podem ser cultivadas sob árvores de folha caduca que ainda não têm folhas na Primavera. A chave é encontrar um sítio que receba muito sol na Primavera.

3-Prepare o solo do cultivo da terra de 8 a 10 centímetros. Remova pedras, raízes e detritos.

4-Adicione abundantemente adubo ou matéria orgânica sobre o solo e trabalhe-o correctamente.

5-Plante os bolbos da tulipa a 6-8 centímetros de profundidade, dependendo da variedade e do tamanho dos bolbos, com o topo para cima. A melhor época para plantar é no início do Outono para ter flores na Primavera. Plante as tulipas em grupos de três ou cinco.

6-Pulverize a parte superior do solo das tulipas com fertilizantes de flores e trabalhe em um ou dois centímetros do chão. Este fertilizante dissolve-se e, assim as flores alimentam-se quando chove.

7-Deixe as folhas de tulipa continuarem a crescer depois da floração. Depois de se tornarem amarelas ou castanhas e terem caído, pode cortá-las de novo ao nível do solo se assim o desejar. Após a floração, as tulipas usam a energia para fortalecer os bolbos para o próximo ano. Corte-as de novo antes de morrerem, pois pode impedir que floresçam de novo nos próximos anos.

Conselhos

  • Para prolongar a época de floração das tulipas, plante diversas variedades de plantas com diferentes épocas de floração. As tulipas florescem no início da Primavera, a meio da temporada e no final. Escolha várias que floresçam sucessivamente para obter uma impressionante exibição de cor.
  • Fertilize as tulipas estabelecidas na Primavera antes da floração. Fertilize de novo no Outono, conforme desejado.
  • Não corte de novo as folhas depois da floração. O período de tempo depois da floração, é quando as tulipas usam a energia para criar fortes focos de proliferação para o próximo ano.

- Rosas: existem as rosas trepadeiras que podem colocar-se nas grades ou nas colunas; as arbustivas, para floreiras e vasos até à borda, e as plantadas que é preferível para vasos perimetrais.

Como plantar uma roseira

Existem muitas formas de decorar o jardim, mas nada como plantar roseiras sendo que estas são umas das flores mais bonitas que existem. Além disso, desfrutaremos do seu aroma e cores, são ideais para embelezar as áreas exteriores da casa. Em um Como.com.br ensinam como plantar uma roseira no jardim.

Passos a seguir:

1-Espere a época da Primavera. É o mais aconselhável, sendo que esta é a melhor temporada para plantar roseiras, já que neste tempo a temperatura quente da terra favorece o desenvolvimento das raízes.

2-Plante as roseiras em uma área ensolarada. Antes de começar com a plantação determine a área onde vai plantar suas roseiras, e é necessário que esta área receba uma boa quantidade de sol, sendo que a maioria das espécies de rosa precisam de sol para crescerem saudáveis.

3-Lembre-se que as roseiras também precisam de vento fresco. Isto não quer dizer que as exponha demasiado a tempestades ou ventanias fortes porque estes poderiam ser prejudiciais.

4-Plante as roseiras num terreno de terra arenosa e com argila, sendo que estas são as melhores condições para o crescimento destas flores.

5-As roseiras não devem ser plantadas muito perto de muros. Estas plantas precisam de um espaço médio de 30 cm de distância para poder crescer e desenvolver-se livremente.

6-Uma noite antes de realizar a plantação deixe as rosas descansando num recipiente com água. Isto hidratará bem as plantas para que possam ter mais possibilidades de crescer saudáveis e fortes.

7-Com uma pá faça um buraco grande mexendo bem a terra. Se você precisar de adubar a terra, esta é uma boa oportunidade para fazer isso.

8-Coloque a roseira no buraco e cubra com a terra. É necessário que você compacte bem a terra exercendo pressão para que as raízes se firmem bem e cresçam como devem.

Durante as próximas semanas, regue várias vezes por dia e siga estas recomendações sobre como cuidar de uma roseira.

10-Também, a poda das roseiras é um dos cuidados mais importantes que estas flores precisam, para que cresçam fortes e saudáveis. É a forma de eliminar a madeira morta e assim contar com belas rosas. Desta forma, a roseira deverá ser podada pelo menos uma vez por ano, ainda que possam ser realizadas diversas podas.

- Laranjas: se tiver espaço suficiente, ficam bem nos cantos exteriores.

Como plantar uma laranjeira

A laranjeira é uma árvore de tamanho médio, costuma ter de sete a nove metros de altura. Tem uma copa redonda e uns ramos regulares. Para que lhe dê bons frutos deve plantar uma laranjeira num clima temperado e húmido, e além disso deve escolher um terreno um pouco inclinado e que possa regar abundantemente.

Vai precisar de:

  • Uma laranjeira
  • Um enxada
  • Terra fértil
  • Um regador

Passos a seguir:

1-Tem que escolher o melhor local que tiver para plantar uma laranjeira, e remover as ervas daninhas que possam existir no terreno escolhido.

2-Faça um buraco com uns 20 centímetros com a ajuda de uma enxada pequena.

3-Ponha um pouco de terra boa, especial para plantas, no fundo do buraco.

4-Ponhas as raízes da laranjeira no interior do buraco de forma a que fiquem todas dentro dele.

5-Tape o buraco com terra fértil de forma a que todas as raízes fiquem cobertas. Ponha terra até ao nível onde começa o tronco da planta.

6-Compacte um pouco a terra de forma que a a laranjeira fique direita.

7-Regue a laranjeira abundantemente com um regador depois de a plantar, e faça o mesmo nos próximos dias.

Conselhos

  • Deve escolher bem o lugar onde vai plantar a laranjeira, uma vez que estas árvores vivem muitos anos. Regue frequentemente a laranjeira e assim verá como lhe dá umas boas laranjas.

https://casa.umcomo.com.br/

https://revistajardins.pt

Outras plantas indicadas pela NASA para purificar o ar da sua casa

As plantas não servem apenas para a decoração da sua casa, elas também ajudam a purificar o ambiente.
Um estudo da NASA indicou 16 plantas que são capazes de absorver toxinas em ambientes fechados, ou seja, que conseguem purificar o ar do ambiente.

Para essa pesquisa, eles consideraram os principais poluentes como amónia, benzeno, formaldeído, tricloroetileno e xileno. Veja como cada planta ajuda a purificar o ar.

1. Antúrio

Essa planta é indicada para filtrar a amónia, que é bem comum em produtos de limpeza e é ideal para você ter na sua cozinha e banheiro.

Antúrio decoração

2. Crisântemo

Apesar desta flor precisar de mais cuidados e de luz e calor, ela ajuda a filtrar a amónia, benzeno, formaldeído, tricloroetileno e xileno.

Crisântemo purifica o ar da casa

3. Dracena de Madagáscar

Essa planta precisa de muito sol e não resiste a temperaturas baixas, e é indicada para filtrar substâncias como benzeno, formaldeído, tricloroetileno e xileno.

Plantas que gostam de sol

4. Espada-de-São-Jorge

Uma planta que é fácil de cuidar e não exige muitos cuidados. Ela é capaz de filtrar substâncias como benzeno, metanal, tricloroetileno, tolueno e xileno.

Espada-de-São-Jorge dentro de casa purifica o ar

5. Ficus

Normalmente usada em ambientes externos, ela é perfeita para colocar dentro de casa também, pois elimina poluentes como o benzeno, o formaldeído e o tricloroetileno.

Ficus dentro de casa decoração

6. Gerbera

Essa flor precisa de muito sol, por isso, coloque ela sempre em um local com bastante luminosidade. Além de liberar bastante oxigénio, ela filtra substâncias como o formaldeído, tricloroetileno, xileno.

flor Gérbera

7. Hera Inglesa

Perfeita para ambientes bem secos, pois ela umedece o ar, ela também é capaz de absorver quase todos os poluentes.

Hera Inglesa na decoração do banheiro

8. Jibóia

Uma planta super eficaz na absorção de benzeno, formaldeído e xileno, ela vive bem em ambientes com baixa incidência solar.

planta Jiboia para limpar o ambiente e purificar o ar

9. Lírio-da-Paz

Ideal para ambientes com a temperatura acima dos 18°C, é capaz de filtrar poluentes como benzeno, formaldeído, tolueno, tricloroetileno e xileno. Se ingerida, pode ser tóxica.

Lírio-da-Paz plantas que ajudam a purificar o ar

10. Liríope

Essa planta ajuda a remover a amónia, o formaldeído e o xileno do ambiente.

Liríope purifica o ar

11. Palmeira-bambu

Essa planta é perfeita para ficar ao lado de armários por absorver compostos liberados por tecidos, como o formaldeído e o xileno.

Palmeira-bambu decoração

12. Palmeira-ráfis

Como elimina substâncias presentes em produtos de limpeza, como a amónia, o formaldeído e o xileno, é indicada para ambientes como área de serviço, banheiro e cozinha.

Palmeira-ráfis dentro de casa

13. Planta Aranha

Recomendada para ambientes com sombra, ela absorve elementos como benzeno, formaldeído, monóxido de carbono e xileno.

Planta Aranha

14. Samambaia-americana

Fácil de cuidar, filtra poluentes como benzeno, formaldeído e xileno.

Samambaia-americana dentro de casa na decoração de mesa

15. Samambaia Kimberly

Requer mais cuidados do que a outra e elimina elementos como o formaldeído e o xileno do ar.

Samambaia Kimberly na decoração da casa

16. Tamareira-anã

Ela pode tomar sol e consegue filtrar o xileno proveniente da fumaça de cigarros e dos escapamentos dos automóveis, sendo uma óptima opção para deixar na entrada de casa.

Tamareira-anã na decoração de sacadas

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