sexta-feira, 27 de setembro de 2019

Quando o Belenenses se partiu ao meio.

Desde o início da época passada que há duas equipas chamadas Belenenses a competir no futebol português.

Aconteceu antes de chegar ao ano 99: em vez de um, passou a haver dois Belenenses no futebol português. Depois, houve a divisão de bens: um ficou com o futebol profissional e o direito de participar na primeira divisão; o outro ficou com o resto, e que não é pouco: os sócios, o Restelo, as modalidades, a história e um projecto de futebol profissional a médio prazo. Este é um resumo em poucas palavras de um dos grandes imbróglios na história recente do futebol português. Um nome, dois clubes e uma luta permanente: entre os “azuis” que jogam futebol distrital no Restelo e os “azuis” que jogam futebol de primeira em Oeiras. Esta é uma divisão que entrou em velocidade de cruzeiro e não há qualquer desejo de reunião em nenhum dos lados. O Belenenses SAD, liderado por Rui Pedro Soares, está a ter um início atribulado na sua segunda época de vida longe de Belém, enquanto vai tentando manter uma identidade longe do Restelo (com a criação de várias equipas de futebol de formação), já com um treinador despedido (Silas) e uma posição no último terço da tabela. Joga com um tom de azul diferente, tem um emblema com uma torre (e não com a cruz), não podendo utilizar quaisquer referências que possam ser ligadas à marca Belenenses, de acordo com uma providência cautelar apresentada pelo clube. A equipa que joga na I Liga continua a chamar-se Belenenses, mas, no entendimento do clube, a utilização do nome também é uma ilegalidade pela qual terá de pagar três mil euros por dia enquanto tiver esse nome — e essa multa, calcula o clube, já irá nos 600 mil euros. A SAD, por seu lado, tem uma acção a correr nos tribunais para recuperar o direito de evocar a história centenária dos “azuis”, que também não tem o direito de evocar — não fez qualquer menção à efeméride nas redes sociais ou no seu site, que não é actualizado desde o início de Agosto. Do lado do Restelo, com vista para o rio, o Clube de Futebol os Belenenses tem a ambição de chegar ao topo do futebol português o mais depressa possível, para além de cortar os laços que ainda tem com a SAD — o clube tem 10% da sociedade, mas o presidente “azul” Patrick Morais de Carvalho quer vender essa participação o mais depressa possível. Formou uma equipa a partir do zero, com uma estratégia que passou pelo recrutamento de jogadores com passado no clube e o aproveitamento da formação. Alcançou facilmente a promoção logo à primeira época, e, provavelmente, irá ser assim durante mais um par de temporadas, até chegar ao Campeonato de Portugal, onde as dificuldades serão maiores — se tudo correr sem falhas, o CF os Belenenses pode estar a festejar a subida à I Liga daqui a quatro anos. Ou seja, o cruzamento dos dois Belenenses em campo irá acontecer mais cedo ou mais tarde.

Marco Vaza

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