Percebo a vontade de uma fanática como Greta Thunberg se meter num barco durante 2 semanas, só para provar o virtuosa que é. Não percebo é os tipos que, voluntariamente, se vão enfiar com ela naquilo.
É inegável que, no último século, a temperatura média da Terra aumentou cerca de 1° C. Como bem sabe quem já pegou num comando de ar condicionado para subir de 22 para 23 graus, trata-se de uma alteração de monta. Mesmo assim, a mudança verificada no clima empalidece face à mudança que, no mesmo período, se operou no temperamento das Gretas suecas mais célebres. Há quase 100 anos, Greta Garbo disse que queria que a deixassem em paz. Disse-o publicamente e em filmes, e demonstrou-o várias vezes. Gostava de estar sossegada e que não se metessem na sua vida. Agora, rompendo com uma tradição secular de resguardadas Gretas, temos a metediça Greta Thunberg, que faz questão de não deixar ninguém em paz, aborrecendo toda a gente com as suas desagradáveis profecias, metendo o nariz onde não é chamada e dizendo-nos como devemos viver.
A que se deverá esta impressionante mudança? Terá sido mera variabilidade natural? Afinal, na Suécia sempre houve diversidade de humores entre as Gretas mais conhecidas. No dealbar do séc. XIX, por exemplo, havia a famosa Greta Naterberg, uma extrovertida cantora folk. Mas uma oscilação destas, entre Garbo e Thunberg, é tão actual e no nosso tempo, que não pode ser explicada pela simples aleatoriedade estatística, até porque a nossa geração é especial e está destinada a assistir a grandes eventos e não meros acasos. Greta Garbo morreu no início dos anos 90, Greta Thunberg nasceu no início deste século. O que é que aconteceu entretanto que poderá ter causado esta alteração radical? Eu diria que há contribuição humana. É mudança de Gretas antropogénica. Uma pesquisa rápida no Google leva-me a concluir que a responsabilidade é do programa Big Show SIC. Entre 1995 e 2001, João Baião, o Macaco Adriano e o DJ Pantaleão animaram as tardes de Domingo da SIC. Entretanto, a Suécia passa de ter uma Greta discreta, para ter uma Greta intrometida. Uma Greta que bate recordes diários de intromissão, com a inconcebível intromissão do mês passado a ser ultrapassada pela extraordinária intromissão deste mês. Coincidência? Não creio. A correlação é inegável. Excepto, claro, para os negacionistas das alterações das Gretas. Para já, o consenso à volta desta tese ronda os 100%. Face a tão grande transformação de índoles, eu, se fosse à Suécia, começava a inspecionar com atenção as suas Gretas. Meti os dados num Excel e a previsão é que as próximas Gretas sejam ainda mais maçadoras.
Eu respeito os medos infantis. Sou pai para ir vinte vezes por noite acender a luz do quarto da minha filha, só para ela se certificar que não há lá bruxas. É uma forma normal de lidar com o medo. Outra coisa é vender a casa porque ela está convencida que há monstros no armário.
É o que este histerismo todo faz adivinhar. Neste momento, ao deixarem-se guiar pelo pânico desta jovem, é como se as Nações Unidas e os Governos pretendessem obrigar-nos a passar a dormir no chão, porque é debaixo das camas que vive o Bicho Papão.
Desta feita, a forma que Greta Thunberg escolheu para pregar um sermão ao mundo, foi dizer que andar de avião é pecado. Para mostrar como é fácil viver sem voar, vai viajar para Nova Iorque a bordo de um iate emprestado por um milionário e patrocinada pelo Yacht Club do Mónaco. Só por má vontade e desprezo pelo planeta é que nós, os labregos que ainda frequentam aeroportos, nos recusamos a fazer como ela. (Alguém devia dizer a Greta que, da última vez que um profeta embarcou num navio para ir a uma grande metrópole anunciar a destruição iminente se não houver arrependimento, foi comido por uma baleia).
Greta vai a Nova Iorque para participar em mais uma conferência das Nações Unidas sobre o clima. (Nas Nações Unidas fala-se tanto sobre o clima que estou convencido que aquele edifício em NY é um gigantesco elevador e Guterres o ascensorista mais bem pago de sempre). Quando entrar na baía de Nova Iorque, a primeira coisa que Greta verá vai ser a Estátua da Liberdade, tal como tantos emigrantes antes dela. Na altura, vinham em barcos lotados, fugindo à pobreza, à fome e à falta de recursos. Justamente as condições de vida que, num iate de luxo, Greta vem agora propor.
Durante mais de 100 anos, a Estátua saudou quem chegava, erguendo alto a sua tocha. Para os emigrantes pobres, a tocha representava um ideal, a liberdade. Para esta activista rica, a tocha também representa um ideal, o de um mundo iluminado pelo fogo, em vez de pela electricidade. Sorte tem o Frank Sinatra, que já morreu. Se Greta conseguir apagar as luzes, Nova Iorque vai deixar de ser a cidade que nunca dorme e a canção deixará de fazer sentido.
Percebo a vontade de uma fanática como Greta Thunberg se meter num barco durante duas semanas, só para provar o virtuosa que é. Não percebo é os tipos que, voluntariamente, se vão enfiar com ela naquilo que, na prática, é um T0 sem placa e cheio de humidade. Ao fim de três dias a ouvi-la agoirar com o fim do mundo daqui a 10 anos, aposto que vai haver marinheiros a perguntar se não dá para adiantar o apocalipse. Ou a quererem tanto parar as emissões de CO2, que deixem voluntariamente de respirar. Na melhor das hipóteses, a tripulação junta-se e vai soprar as velas, a ver se despacha a viagem.
Passar 15 dias fechado com uma adolescente mística que quer salvar o mundo à força, é como fazer um interrail com os Três Pastorinhos. E num comboio da CP. A miúda é um bocadinho assustadora, com aquelas tranças e os olhos sinistros. Parece a filha da Pipi das Meias Altas e do Chucky. Para a tripulação atazanada, o efeito de estufa vai rapidamente passar a efeito de estucha. É natural que às tantas fiquem tão obcecados com o clima que comecem a mandar Greta ir lá fora ver se chove.
José Diogo Quintela
Observador
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