COSTA vai falar no Parlamento Europeu a 27.02.2024
https://www.youtube.com/watch?v=TlKRaxrYpys
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Missão: Improvável
(mas, com este Governo, nunca se sabe)
A defesa da Nação face ao fascismo implica a defesa de quem a representa, o Governo; e a defesa do Governo face ao fascismo obriga à defesa de quem o sustém, o Partido. Cautela com o fascismo.
02 mai. 2023, José Diogo Quintela, ‘Observador’
Assunto:
RELATÓRIO DA OPERAÇÃO ESPECIAL “Computas e vinho verde”
Prioridade: MÁXIMA Importância: VITAL
Impacto: ALTÍSSIMO Nível: ELEVADO
Categoria: NÃO TEM
Classificação: TOP SECRET CONFIDENCIAL
APENAS PARA OS SEUS LINDOS OLHOS
Operacional: AGENTE XXXX XXXXXX, Nº XXX/37
Às 22:51 do dia 26 de Abril recebi uma mensagem encriptada do Centro de Acção Operacional Superior activando um código Roxo que me fez largar imediatamente o serviço onde me encontrava destacado. Na altura, tratava-se da vigilância ao sujeito de interesse XXXX XXXXXX, o operador de câmara responsável pela captação indevida de conversas sensíveis sobre assuntos de interesse nacional levadas a cabo por Suas Excelências o Senhor Presidente da República, o Senhor Presidente da Assembleia da República e o Senhor Primeiro-Ministro. Da minha perícia inicial, que entretanto passei ao colega Agente XXXXXX XXXXXXX, Nº XXX/28, concluí estarmos perante um perigoso cameraman (são muito usados agora pela extrema-direita) em conluio com um perigoso editor de site (a extrema-direita passou a recrutar nesta categoria profissional) numa típica operação de agitprop de cariz fascista.
Às 22:57 estava na sede do CAOS para receber as minhas instruções orais directamente do Tenente-Coronel XXXXXX XXXXX. A seriedade do Tenente-Coronel (que nem sequer aludiu ao nosso Benfica, nem nada) fez-me compreender a gravidade da situação. O Tenente-Coronel referiu que eu tinha sido escolhido para esta missão pela minha experiência em temas de interesse nacional relacionados com membros do Governo, uma vez que fizera parte da equipa de resposta rápida enviada ao Alentejo para colocar papel higiénico na berma da A6, de modo a fazer parecer que o trabalhador atropelado pelo Ministro Eduardo Cabrita tinha ido fazer cocó ao separador central. Esses “trabalhadores incautos” têm sido muito usados em acções desestabilizadoras levadas a cabo pela extrema-direita. Uma tarefa pela qual recebi dois louvores, uma condecoração e um fim-de-semana com tudo pago (meia-pensão) no Hotel Alcobaça, em Alcobaça.
Segundo o Tenente-Coronel, a missão, urgente e secreta, consistia na recuperação de material informático contendo informação sensível, com impacto na segurança do Estado, obtida de forma ilegal por um agente duplo ao serviço de uma potência estrangeira, que, sob a identidade de “Frederico Pinheiro”, infiltrado no gabinete do Ministro João Galamba, se introduzira nessa noite no Ministério das Infraestruturas, imobilizando 12 agentes nacionais e evadindo-se montado numa bicicleta com que atravessou uma janela de vidro reforçado, lançando-se da varanda do 4º andar. Claramente um operacional treinado e extremamente perigoso, possivelmente um agente adormecido russo, formado na Escola de Minsk do ex-KGB. Um dos colibris do General Palhassov, sem dúvida. Têm sido muito usados pela extrema-direita.
Às 23:11, disfarçado de vendedor de raspadinhas (realizei o pecúlio de 27 euros – nota de entrega em anexo), postei-me à porta da morada do alvo, no número XX da Av. XXXX XXXXX XXXXX, em Lisboa. Às 23:25, enquanto vigiava o perímetro, registei actividade suspeita por parte de um operacional disfarçado de entregador da Glovo, que interceptei e capturei. Era um paquistanês (muito usados agora pela extrema-direita). Interroguei-o durante 15 minutos. Infelizmente, não dispus de mais tempo para o fazer, pois ele ainda tinha uma entrega de raviolis e carbonara para fazer e a comida italiana fria perde a graça. Deixei-o ir, não sem antes ficar com o seu contacto, porque dá jeito ter alguém a quem ligar nos dias mais movimentados, em que o tempo de espera de um McDonalds chega a ser uns absurdos 25 minutos. Fiquei também com a sua mochila e assumi o papel de entregador, para aceder à casa do agente inimigo. Inspeccionei a refeição, o que reforçou a minha ideia de se tratar de um subterfúgio: era de um restaurante vegan. Obviamente, um agente que acaba de desempenhar uma missão fisicamente exigente e que, sem dúvida, deve permanecer em estado de alerta e prontidão imediata, não pode ter uma alimentação à base de tofu e couve chinesa.
O sabotador abriu a porta de roupão, mostrando ser um profissional que sabe o valor de armas escondidas. De imediato, confrontei-o com o seu crime. Não o negou. Pelo contrário, de pronto entregou-me o computador, dizendo: “Aqui está, peço desculpa pelo incómodo”. A sua reacção desconcertou-me e, por momentos, perdi a calma. Não resisti a perguntar: “Não tem vergonha de, com a sua infame traição, estar a desvalorizar a TAP, uma empresa tão importante para o país?” Ao que ele respondeu: “Dizer que isto desvaloriza a TAP é o mesmo que estar a vender um chaço todo ferrugento, com os pneus furados, sem amortecedores, com os vidros partidos, motor gripado, e pedir para não fumar lá dentro, porque isso o desvaloriza”.
A inteligência da resposta, juntamente com não haver vestígios de presença feminina no apartamento, fez-me ter a certeza de estar perante um dos brilhantes burocratas do ISCTE, treinados no uso de ferramentas retóricas de controlo neurolinguístico (aquilo que os civis chamam “conversa fiada”).
Para evitar ser subjugado, não o deixei continuar. Disse apenas ter pena que ele não fosse mais como o Inspector-Geral das Finanças que falsificou um parecer porque, como disse com orgulho, antes de auditor, é português. E acusei-o de, por sua causa, a comunicação social só falar nas mentiras do Governo, em vez de nos fantásticos números do PIB.
Às 23.31 estava de volta ao carro com o computador. Numa primeira análise superficial consegui aperceber-me da gravidade da situação que o país enfrenta. Por exemplo, uma avaliação da caixa de e-mail permitiu ver que muitos mails com combinações sobre ocultar documentos à Comissão Parlamentar de Inquérito são enviados através de um Outlook sem licença oficial da Microsoft. É uma vergonha para Portugal quando os seus governantes cometem aldrabices em nome do Estado através de software pirateado.
Às 23.52 voltei ao Centro de Acção Operacional Superior e entreguei o computador, dando a missão como terminada.
NOTA: foi com grande honra e satisfação que levei a cabo esta missão. Por duas razões. A mais pessoal prende-se com o facto de a vítima ter sido o Ministro João Galamba. Não é um facto muito conhecido, mas o Ministro Galamba é um herói na comunidade de inteligência portuguesa, pela intrepidez que demonstrou, há quase dez anos, quando recolheu informação sobre a captura iminente de José Sócrates para o avisar. Para amador, foi um trabalho de excelência.
A outra razão é o amor à Pátria. É a minha modesta contribuição para o esforço de defesa nacional que nos cabe a todos, não só enquanto agentes do Estado, mas como patriotas que cumprem o seu dever. A defesa da Nação face ao fascismo implica a defesa de quem a representa, o Governo; e a defesa do Governo face ao fascismo obriga à defesa de quem o sustém, o Partido. Cautela com o fascismo. Cautela com os traidores do interesse nacional, que atacam Portugal via Governo e via Partido. Não esquecer: nada contra o Estado!
A bem da Nação, Agente XXXX XXXXXX, Nº XXX/37 (assinatura ilegível)
25 abr. 2023, José Diogo Quintela, ‘Observador’
A minha filha tem 12 anos e, ultimamente, as suas listas de desejos para o aniversário e para o Natal são sempre encimadas pelo TikTok. Mais do que roupa ou dinheiro, a minha filha quer que eu a deixe instalar a aplicação no telemóvel para poder assistir a jovens idiotas a falarem de roupa e dinheiro. Tem um desejo profundo por redes sociais que, para já, tenho conseguido contrariar com sucesso através de uma estratégia proactiva que passa por mostrar que o TikTok é uma perigosa bodega. Esta semana, por exemplo, enviei-lhe uma notícia sobre um rapaz que morreu depois de fazer um desafio no TikTok que consistia em tomar doses cavalares de um medicamento para alergias.
Como qualquer pré-adolescente, a minha filha tem sempre uma resposta: “Pai, mas eu não sou burra e não tomo medicamentos que podem fazer mal, eu sou esperta e penso. Só quero o TikTok para fazer danças”. Evidentemente, reagi como um pai orgulhoso pela boa capacidade de argumentação da sua filha: fui à procura de provas falaciosas que me ajudassem a ganhar a discussão. Não imaginam a quantidade de resultados que a internet devolve quando googlamos “dies while dancing”. Há muitos bailarinos a cair para o lado sem ser por fazer parte da coreografia. Sobretudo na Índia. Provavelmente, porque aquelas danças de Bollywood são muito exigentes ao nível de movimentos do pescoço. Tirei dois ou três screenshots e enviei para a minha filha. Ela respondeu: “Porque é que morreram?” E eu: “Porque desobedeceram ao pai delas”.
Portanto, acho que consegui adiar o TikTok, pelo menos até ao próximo aniversário. Mas é fatal que, mais cedo ou mais tarde, a minha filha venha a ter essa e as outras redes sociais, mais as novas que ainda hão-de inventar. O tempo não pára, ela vai crescer, não há nada que eu possa fazer quanto a isso. Resta-me deixá-la o melhor preparada possível para uma realidade que é inevitável.
No fundo, é mais ou menos a mesma coisa que, nos últimos tempos, o universo anda a fazer com o povo português. A tentar preparar-nos para uma realidade que, inexoravelmente, vai chegar. Fá-lo através de pequenas dicas, como esta, que nos indicam que José Sócrates se vai safar. É inevitável.
Para já, vão prescrever os crimes de falsificação de documentos. Sócrates tem interposto tantos recursos que vai esgotar-se o prazo para ser julgado pela simulação do contrato de arrendamento da casa de Paris, quando na realidade a casa era sua, assim como por ter forjado contratos com Domingos Farinho (que lhe escreveu a tese) e com António Peixoto (que tinha um blog de propaganda do Governo). Quando era Primeiro-Ministro, José Sócrates gostava de mostrar a sua boa forma física, fazendo jogging sempre que podia. Mas agora, da mesma maneira que há quem esteja a passar do ténis para o padel, Sócrates evoluiu e, em vez de correr, passou a recorrer. É o seu desporto de eleição. Por enquanto, tratam-se de infracções pequenas, claro, mas servem de amuse-bouche para o que se começa a aproximar: a prescrição dos crimes de corrupção, fraude fiscal e branqueamento de capitais.
Não nos iludamos. Desde aquela noite de Novembro, em 2014, quando Sócrates foi detido à saída do avião, sabíamos que, mais dia, menos dia, ele ia-se safar. Mesmo com todas as provas, as entregas de dinheiro vivo pedidas em código, a vida de luxo, os testas de ferro, os telefonemas incriminatórios, a ligação a Ricardo Salgado, mesmo com tudo isso, sabíamos que, mais dia, menos dia, Sócrates ia safar-se. Mais dia, menos dia é hoje.
E sabemos, mesmo que não queiramos, que, depois de safo, Sócrates não se vai deixar estar sossegado a aproveitar os milhões que tem guardados. (Emprestados pelo amigo, claro! Não estou a insinuar nada. Era só o que faltava que, no fim disto tudo, eu acabasse por ser o único condenado, a ter de pagar uma indemnização de milhares de fotocópias ao ex-PM). Não, Sócrates vai querer voltar a desempenhar um papel na política do país. Sócrates vai ser Presidente da República. Em 2036, respeitável ancião de 79 anos, bronzeado pela maresia ericeirense, apoiado por adeptos já sem vergonha de o serem, orgulhosos por poderem dizer “ele é inocente, nem sequer foi julgado”, Sócrates vai esmagar na primeira-volta. Haverá alguns refilões a escrever crónicas inflamadas a repisar as escutas, a casa de Paris, o amigo Santos Silva, o Freeport, a OPA da PT, a compra da TVI, a licenciatura ao Domingo, a bancarrota e toda a ladainha botabaixista. Poucos e cada vez mais ignorados. Um leitor incauto que, por engano, se deparar com um desses textos, há-de perguntar: “Quem é o Freeport? Onde é a OPA? O que é um Santos Silva?” Estes paranóicos anti-socráticos serão, em 2036, o que os maluquinhos da conspiração de Camarate eram ainda no início deste século. Por mais bem documentados que estivessem, nem os simpatizantes os queriam ouvir. O país não estava nem aí. E, em 2036, também não vai estar nem lá.
Estou convencido que José Sócrates vai ser um bom Presidente. É bom ter um milionário como Chefe de Estado. Marcelo Rebelo de Sousa fez figura de parolo quando recebeu a Rainha de Inglaterra. Se tivesse sido José Sócrates, não se rebaixaria. Sócrates teria tratado Isabel II como sua igual. Afinal, tinham mais ou menos o mesmo dinheiro e desde pequenos que ambos sabiam que iam reinar. Quer dizer, a Rainha Isabel só soube depois do seu tio ter abdicado, mas é quase a mesma coisa.
Como a minha filha com o TikTok, Portugal começa a estar preparado para ter José Sócrates como Presidente. Tenho a certeza que se vai dar muito bem com o Primeiro-Ministro Pedro Nuno Santos. Sim, PNS também é inevitável. E se para Sócrates é preciso que haja prescrições, para Pedro Nuno basta que haja descrições. Só esta semana, houve vários notáveis socialistas a fazê-las. Francisco Assis, Vítor Ramalho e António Costa descreveram os grandes méritos e capacidades da figura. Dizem que PNS é um grande quadro. Concordo. Capaz que seja aquele que envolve o maior cataclismo com aviões desde o Guernica. Mas é inevitável.
José Diogo Quintela
Estou empolgado com ficção televisiva de qualidade! Fico sempre assim quando estreia a nova temporada de uma das minhas séries predilectas. E na semana passada estrearam logo duas: Succession, na HBO, e As aventuras da TAP, na ARTV. Uma é a saga da empresa milionária e das traições, maroscas, esbanjamento imoral e tolices de quem quer mandar nela; a outra é a história de Logan Roy e família.
Depois de assistir aos primeiros dois episódios de ambas, já decidi: vou dedicar o meu tempo à da TAP. Enquanto esta temporada de Succession é mais do mesmo, a da TAP, dedicada à Comissão Parlamentar de Inquérito à Tutela Política da Gestão da TAP, introduz personagens novos que trazem frescura à narrativa. Até porque vêm tão focados limpar a imagem do Governo, que parecem lixívia com aroma floral.
O episódio de estreia é a audição a António Ferreira dos Santos, Inspector-Geral das Finanças, responsável pela elaboração do relatório que concluiu que Christine Ourmières-Widener é a única culpada pela indemnização ilegítima que Alexandra Reis recebeu. O episódio começa com a apresentação de Ferreira dos Santos, que diz aos deputados: “Entendemos que era importante ouvir as pessoas envolvidas ou que havia indício que conheciam o processo. Optámos por ouvir Alexandra Reis, o chairman, também o CFO e o ex-Secretário de Estado, a ideia era que eram as pessoas que havia indícios suficientes que tinham envolvimento directo no processo. As restantes, achámos que bastava por escrito”. Ou seja, a CEO, que é quem manda na empresa, que está tão envolvida que até é a principal responsável, não é ouvida. Numa frase, fica apresentada a personagem do Inspector-Geral das Finanças, mistura de dois outros famosos inspectores do audiovisual: o Inspector Clouseau, pela trapalhice, e o Inspector Max, pela fidelidade ao superior hierárquico.
Ferreira dos Santos explica porque é que optou por não ouvir presencialmente a CEO: “A questão para nós foi o facto de estarmos a falar – talvez achem graça – línguas diferentes. Percebemos, da audição que a senhora teve aqui, que talvez isso tenha sido utilizado para não responder a questões colocadas por deputados”. Vê-se que o Inspector-Geral fez o trabalho de casa. Assistiu à audição que Christine Ourmières-Widener já tinha prestado na Assembleia da República e apercebeu-se que, muitas vezes, ela não respondia directamente às perguntas que lhes eram colocadas. E apercebeu-se bem. Pelos vistos, a finta a questões é uma atitude típica de responsáveis quando são inquiridos. Basta ver que, nem uma hora depois de Ferreira dos Santos ter dito isto, alguns dos deputados que lhe estavam a fazer perguntas queixaram-se ao Presidente da Comissão de que o Inspector-Geral não se estava a deixar inspeccionar. Disse Hugo Carneiro do PSD: “Quando os deputados colocam perguntas, as perguntas têm de ser respondidas. A não ser que o depoente, ao abrigo dos seus direitos fundamentais, invoque, por exemplo, alguma causa que o possa prejudicar na sua defesa própria. E, se quiser, até se pode fazer acompanhar por advogado. Portanto, era bom termos perfeitamente noção do que estamos aqui a fazer. Se eu coloquei uma questão que não foi respondida, independentemente do meu tempo ter terminado, tenho direito a que a resposta seja dada, a não ser que alguma das causas que referi seja invocada”. E, momentos depois, Filipe Melo do Chega: “Eu entendo que, por estarmos numa Comissão de Inquérito, todas as questões devem ser respondidas. O sr. Inspector-Geral tem-no feito, de alguma forma, sem receio das palavras. Mas de outras notamos que tem alguma resistência em responder concretamente ao que é solicitado”.
Ora, como Ferreira dos Santos não se esquivou em francês, conclui-se que, quando fala em “línguas diferentes” se deve estar a referir ao facto da CEO ter uma língua bífida, como as serpentes. Está a chamar-lhe ardilosa. Daí não ter querido encará-la pessoalmente, para não ser endrominado pelas sibilantes.
Como todos os bons primeiros episódios, a audição de Ferreira dos Santos termina com uma revelação bombástica: a TAP tem uma nova rota! Até agora, o voo mais longo da TAP era para São Francisco, mas, depois do depoimento do IGF, descobrimos que Fernando Medina foi transportado para um sítio ainda mais longínquo. Deve ser a Lua, porque Medina consegue estar mais afastado de qualquer responsabilidade na TAP do que eu, que o máximo prejuízo que dei à companhia foi ter ficado com os headphones num voo que fiz há 3 anos.
O segundo episódio também não desilude. Trata-se da audição do CFO da TAP, Gonçalo Pires. São quase cinco horas, todas passadas com Gonçalo Pires a afirmar, repetir, reiterar e repisar que não teve nada, absolutamente nada a ver com o processo da saída de Alexandra Reis, do qual, aliás, apenas teve vago conhecimento informal. Qualquer espectador com um mínimo de experiência a assistir a filmes de terror sabe que, se o realizador está a esforçar-se muito para mostrar que um túmulo está vazio, é óbvio que, quando achamos que a fita acabou, vai saltar lá de dentro um zombie. Neste caso, foi no pós-genérico: um dia depois da audição, a CNN publicou duas conversas de WhatsApp entre a CEO e o CFO, da altura em que se negociou a saída de Alexandra Reis. A primeira:
CEO: Acordo alcançado com a Alexandra.
CFO: Pensava que ia demorar mais tempo. Parabéns.
A segunda:
CEO: A Alexandra respondeu?
CFO: Não.
CEO: Liga-lhe, se fora necessário: Claro que tu não sabes de nada.
CFO: Claro.
Percebe-se que, afinal, Gonçalo Pires sabia do processo. Tanto que até tinha uma opinião sobre quanto tempo poderia demorar a ser alcançado. E participou nele, ao ponto de ter uma ordem da CEO para falar com Alexandra Reis, uma espécie de missão secreta sobre a qual deveria negar saber o que fosse. Ordem que, diga-se, cumpriu com excelência, como se comprovou pelas respostas que deu na audição.
Quanto à diferença que o CFO quis sublinhar entre conhecimento oficial e informal, fica uma bocado esbatida quando constatamos (também pela reportagem da CNN) que a informalidade das mensagens por telemóvel é a mesma que é usada nas comunicações entre a CEO e o Secretário de Estado da tutela a propósito das decisões do Ministro das Infraestruturas. Que, recorde-se, era Pedro Nuno Santos, outro que na altura também não sabia de nada. Logo, na TAP, o WhatsApp não é uma mera aplicação de telemóvel para combinar jogos de padel com os colegas, é uma ferramenta profissional utilizada ao mais alto nível. Gonçalo Pires está a fazer confusão entre “conversa informal” e “conserva em formol”. Só esta última permite a preservação.
Espero que nunca privatizem a TAP. Ficarei muito desgostoso se a venderam, especialmente se for à Lufthansa. Não me apetece nada ter de aprender alemão para poder assistir às peripécias da TAP nas comissões de inquérito do Bundestag. Já desliguei as legendas a ver uma série escandinava e não é nada divertido.
Observador
Náuseas, transpiração, alteração do equilíbrio. Tudo sintomas típicos de síndrome vertiginoso. De síndrome vertiginoso, ou da tentativa de acompanhar os casos e casões envolvendo o governo do PS, que nos têm sido apresentados a um ritmo que faz o Livin’ La Vida Loca de Ricky Martin parecer a marcha fúnebre de Frédéric Chopin.
As minhas desculpas, portanto, a todos os que buscam neste espaço informação actualizada e rigorosa sobre a vida política portuguesa. Por sorte, este grupo de leitores constitui aquilo a que, em matemática, mais especificamente em teoria dos conjuntos, se chama conjunto vazio. Pelo que não me sentirei tão culpado pela incapacidade de esmiuçar a mais recente polémica envolvendo as mudanças de departamento no Ministério das Finanças da esposa do Ministro das Infra-estruturas, João Galamba. Ficando assim com mais tempo disponível para as várias tomas diárias de Vomidrine.
Bom, mas a verdade é que nada parece convencer o Presidente da República a dissolver a Assembleia. Pelo menos foi isso que, ao fim e ao cabo, preconizou, no seu espaço de comentário na SIC, o boneco de ventríloquo. Perdão. O boneco de Marcelo. Ai. Peço desculpa. O Dr. Marques Mendes, assim é que é. O Dr. Marques Mendes.
Sim porque, como Marcelo Rebelo de Sousa já deixou sobejamente claro – às vezes até pela sua própria boca – isto não é para andar a trocar de governo como quem troca de cuecas. Tal como, aliás, isto não é para andar a trocar de cuecas como quem troca de calções de banho, na praia, à frente de tudo o que é transeunte, ou jornalista. Ou jornalista mascarado de transeunte, como daquela vez em que a jornalista-transeunte da TVI, Conceição Queiroz, “apanhou” o Presidente, totalmente por acaso, a sair da água qual médio-sereio numa praia da linha de Cascais.
Não é para andar a trocar sungas de banho à balda, até porque as idas frequentes ao mar acabam por manter uma pessoa lavadinha por baixo. Logo, poupando electricidade na utilização da máquina da roupa. Ainda que com algum prejuízo para a fauna marinha, eventualmente. Enfim, neste deve e haver de sustentabilidade, alguém do PAN que faça as contas ao que é melhor para o nosso planeta, e depois avise-me. Para eu fazer o contrário.
Mas voltando ao sonho lindo da dissolução do Parlamento, Marcelo Rebelo de Sousa considera tal cenário um pesadelo. Diz o Presidente que “não faz sentido” na actual conjuntura “falar periodicamente de dissolução”, sublinhando que a marcação de eleições significa “quatro meses de paragem”. Como se isso fosse um problema, uma “paragem”. Quer dizer, o governo do PS conduz este país, tipo chofer de autocarro escolar alcoolizado, rumo a um precipício. E nisto diz Marcelo: “O quê? Parar? Nunca!”. Encetando, de seguida, a famosa canção infantil omnipresente nas excursões da escola: “Senhor condutor, por favor/Ponha o pé no acelerador/Se chocar não faz mal/Vamos todos para o hospital.” A que se impõe um acrescento, em jeito de actualização: “E pedimos ao Senhor, louvado/Que o hospital seja privado.”
Portanto, aqui chegados e feitas as contas, literal ou metaforicamente, não interessa, estamos bem tramados. Porque literal, ou metaforicamente, ficaremos sempre a chuchar no dedo. O que, até há escassos dias, era uma perspectiva absolutamente deprimente. Eis senão quando, num ápice, ficar a chuchar no dedo transformou-se num cenário até bastante palatável. Convenhamos que é bastante menos péssimo ficar a chuchar no dedo que ter de chupar a língua ao Dalai Lama.
Observador
Tiago Dores - Colunista do Observador
A titulo de curiosidade, para quem não saiba, o ordenado mínimo nacional é, em 2022: 705,00€/mês
Enquanto os portugueses perdem poder de compra, há uma minoria que resiste à sucessiva quebra de salários – especialmente os gestores de topo das maiores empresas cotadas em Bolsa, com remunerações mensais até aos seis dígitos. O recordista é Pedro Soares dos Santos, à frente do grupo Jerónimo Martins (que detém os supermercados Pingo Doce).
Em 2021, recebeu €3.075.000, ou seja, 262,6 vezes mais do que os trabalhadores da empresa (segundo a análise de 2021 da Deco) e 161,7 vezes acima da remuneração média anual (€19.054 em 2021, divulgada pelo Instituto Nacional de Estatística, INE). As contas são fáceis: se dividirmos a sua remuneração anual (salário fixo e prémios) por 14 meses, chegamos ao ordenado mensal bruto (antes dos descontos de impostos) de €219.642.
Só entre 2016 e 2021, o seu salário mais do que duplicou. “Estava muito abaixo dos seus congéneres europeus”, diz à SÁBADO fonte oficial da empresa. Por isso mesmo, “ao longo dos últimos cinco anos, foi delineada uma evolução salarial que permitisse uma maior aproximação à prática do mercado europeu”, prossegue.
Além de presidente do conselho de administração, Pedro Soares dos Santos é administrador delegado e o único com funções executivas na Jerónimo Martins. Os €3,08 milhões que recebeu em 2021 foram, aliás, os únicos milhões gastos com a comissão executiva de um dos 50 maiores retalhistas mundiais. Porque a comissão executiva é ele. E estes são alguns dos factores – mas não os únicos – que o fazem ter o maior salário do principal índice da Bolsa, justifica a empresa.
Uma remuneração que tem vindo a crescer à medida dos resultados do grupo: entre 2010 e 2020, as vendas mais do que duplicaram, ultrapassando os €20 mil milhões em 2021; o número de colaboradores aumentou mais de duas vezes, com a criação de mais de 64 mil postos de trabalho, e a capitalização bolsista cresceu 100%.
O volume de trabalho é intenso, não se limitando a Portugal. Desde que viveu na Polónia, pela primeira vez, entre 1998 e 2000, Pedro Soares dos Santos visita o país uma vez por mês (é a geografia além fronteiras que mais pesa nas contas do grupo, já que 75% da facturação se faz no estrangeiro). Passa outros sete dias a cada 30 na Colômbia (mercado em expansão). Quando está em Portugal, duas semanas por mês, entra no gabinete às 8h e a partir das 9h começa as reuniões de trabalho.
No ano passado, as 15 empresas do PSI pagaram mais de 20 milhões de euros aos seus presidentes executivos. E seis dos 14 CEOs receberam mais de 1 milhão de euros: ao ranking liderado por Pedro Soares dos Santos seguem-se Miguel Stilwell (EDP e EDP Renováveis), Andy Brown (Galp), Cláudia Azevedo (Sonae), João Castello Branco (Semapa, que em Maio deste ano deu lugar a um novo CEO, Ricardo Pires) e António Redondo (Navigator).
Em todas estas empresas, os salários são decididos por uma comissão de vencimentos que analisa centenas ou milhares de documentos enviados por vários departamentos e múltiplos indicadores.
Começando pelo presidente da Galp, o britânico Andy Brown: em 2021, além dos €1,236 milhões pagos ao líder, que assumiu a presidência em Fevereiro, a petrolífera teve de arranjar-lhe casa. O presidente não tinha morada em Portugal e esse foi um dos benefícios que a Galp lhe deu: €887.803,03 de remuneração fixa e €348.617,35 em “outros” (a SÁBADO pediu à Galp para os discriminar, mas a petrolífera não esclareceu). É nestes “outros” que estão incluídas regalias, como o subsídio de habitação.Pedro Soares dos Santos
Cláudia Azevedo (Sonae)
Os administradores executivos da Galp recebem, além disso, carro (com combustível, manutenção e seguros), telemóvel, iPad, computador portátil, seguros de saúde, de vida e de acidentes profissionais. No total, estes benefícios correspondem a 5% a 10% da remuneração.
No ano passado, a comissão de remunerações da Galp reuniu-se seis vezes e definiu o valor de outro cheque: a compensação a Carlos Gomes da Silva, cujo mandato como presidente só terminaria no fim do ano. Para sair antes (em Fevereiro), o gestor recebeu €3,75 milhões.
Na EDP, os cheques preparados para a saída do Ex-presidente António Mexia e de João Manso Neto, que liderava a EDP Renováveis, tiveram valores mais baixos. No caso de Mexia, que durante 14 anos liderou a empresa, a EDP comprometeu-se a pagar €800 mil por ano durante três anos (até 2023), para que o gestor não exerça funções na concorrência. No total, Mexia terá direito a €2,4 milhões, pagos semestralmente.
Já para Manso Neto, o acordo de não concorrência previa o pagamento de €560 mil por ano. Terá demorado uma semana a aceitar a proposta. Ainda recebeu a primeira tranche, mas acabou por devolvê-la quando Paulo Fernandes, vice-presidente do conselho de administração da Altri e presidente da Cofina (dona da SÁBADO) o desafiou para liderar a empresa de energias renováveis Greenvolt.
A seguir, Manso Neto rasgou o contracto de não concorrência que tinha assinado. “A EDP entendeu que tinha que devolver tudo e ele devolveu”, diz uma fonte próxima do gestor, que em Março restituiu à EDP €233.800 líquidos. De acordo com os relatórios oficiais da empresa, a este valor somou, em Maio, €5.548,39 que tinham sido creditados no seu Plano Poupança Reforma. Pelo menos em 2021, a aposta compensou: recebeu €766.660.
Actualmente, EDP e EDP Renováveis têm o mesmo CEO, Miguel Stilwell de Andrade, o segundo gestor mais bem pago do PSI. Aos 46 anos, recebeu, em 2021, €1,854 milhões. “Estas empresas são hoje líderes globais no sector da energia e têm presença em 29 mercados, dos quais 14 representam expansões concretizadas durante o mandato do actual presidente executivo”, diz à SÁBADO fonte oficial da eléctrica.
Na base da tabela remuneratória dos grandes gestores está António Rios Amorim. O presidente Corticeira Amorim, controlada pela família mais rica do País, recebeu €239.309,1 de salário fixo em 2021 (€17.129 brutos por mês). A sua remuneração variável foi igual à dos trabalhadores do grupo: €500, uma “gratificação excepcional” que, segundo o Relatório e Contas da empresa, foi atribuída aos colaboradores admitidos até 30 de Setembro de 2021 em empresas totalmente detidas pelo Grupo. O bónus veio na sequência dos bons resultados em contexto de pandemia.
O peso da remuneração variável tem vindo a aumentar, segundo Fernando Neves de Almeida, sócio da consultora Boyden Portugal. No caso do PSI, foi na Sonae, liderada por Cláudia Azevedo, que os prémios foram maiores (corresponderam a 68% do salário da filha de Belmiro de Azevedo); seguiram-se as remunerações dos presidentes da Navigator (56%), REN (53%), EDP, EDP Renováveis (50%) e Jerónimo Martins (50%), todos com pelo menos metade do salário dependente do cumprimento das metas definidas.
Entre as empresas analisadas pela SÁBADO, o Santander é quem prevê maior generosidade nos bónus: apesar de a compensação variável não poder, geralmente, ultrapassar os 100% da retribuição fixa, este limite pode ser “aumentado extraordinariamente até ao máximo de 200% se tal for aprovado pelos accionistas.”
Na banca, o recordista é o presidente do Santander, o único líder das cinco maiores instituições financeiras que em 2021 recebeu mais de 1 milhão de euros. No total, a Pedro Castro e Almeida foi atribuída uma remuneração de 1,5 milhões de euros: ao salário fixo de 513 mil euros (valores brutos, o correspondente a €36.643 por mês), junta-se uma remuneração variável que será parcialmente diferida até 2027 (e que ainda pode descer se não cumprir os objectivos).
Em segundo lugar está o habitual campeão salarial da banca, o presidente do BCP – em 2021 Miguel Maya recebeu €947 mil. Estes dois bancos foram, aliás, os únicos que no ano passado aumentaram as remunerações dos seus gestores. No Santander, os 14 administradores receberam, em 2021, €6,5 milhões, mais €1,88 milhões que no ano anterior. Já no BCP a administração teve, no total, um aumento de €430 mil.
No mundo da televisão generalista, que este mês marca a rentrée com novidades na grelha, ninguém bate o ordenado de Cristina Ferreira – “galáctico”, segundo a imprensa especializada. Desde o fim do Verão de 2020, que a directora de entretenimento e ficção da TVI, também accionista, de 45 anos (feitos esta semana, a 9 de Setembro), ganha €216,6 mil brutos por mês (€2,6 milhões anuais divididos por 12 meses, porque tem um contracto de prestação de serviços, ou seja, recebe através de uma das suas empresas).
Não esconde as férias em iates e os acessórios de luxo (malas a €5.000), cujas imagens publica no seu Instagram com 1,5 milhões de seguidores. Página que também serve de montra para os seus posts que, em 2015, já custavam €4.500 (cada) aos anunciantes. Hoje em dia, segundo fontes contactadas pela SÁBADO, os valores podem ascender aos €100 mil por post.
Contudo, a pressão das audiências e a perda para a SIC não a têm beneficiado. Mais: enfrenta uma batalha judicial com a estação de Paço de Arcos, que lhe moveu um processo por quebra de contracto (vigorava até Novembro de 2022).
O anúncio da transferência para a TVI – onde, aliás, começou a carreira ao lado de Manuel Luís Goucha – aconteceu com estrondo, a 17 de Julho de 2020. Dois meses depois, a SIC, que lhe pagava €1 milhão por ano, processou-a, pedindo uma indemnização de €20,3 milhões. A SÁBADO tentou obter esclarecimentos por parte do gabinete de comunicação da TVI e da agente que a representa, Inês Mendes da Silva, que não quiseram prestar declarações.
Neste meio, a agente tem vindo a tornar-se uma peça-chave para a negociação de salários com as direcções de programas das televisões. Porque muitas vezes o próprio não tem noção do seu valor de mercado – habitualmente são os representantes que o valorizam.
Beatriz Lemos, CEO da Glam (a agenciar actores e apresentadores há 20 anos) explica o processo à SÁBADO: “É muito raro fechar uma negociação em apenas uma reunião, pois há sempre vários temas a tratar, projectos novos a serem discutidos e integrados nesse contracto e, talvez, seja essa a parte mais demorada. A mais sensível – se é que podemos usar esse adjetivo – são as condições salariais.”
Normalmente, fecham-se contratos em duas reuniões. Em situações mais delicadas, e que podem implicar uma transferência de canal, a especialista fala em três reuniões, “pois estão mais variáveis a ser discutidas”, diz a especialista.
No caso de Manuel Luís Goucha, o segundo mais bem pago da TV (€50 mil por mês), o interlocutor é o marido Rui Oliveira. Este período joga a seu favor, já que o antigo rei das manhãs – agora lidera as tardes, superando a concorrente Júlia Pinheiro da SIC que ganha €25 mil brutos por mês –, está prestes a terminar contrato.
Alexandra Lencastre está na SIC, mas é paga ao projeto Duarte Roriz
António Pedro Cerdeira recebe ao projeto. Na foto, a contracenar com Luana Piovani na próxima novela da SICD.R.
Beatriz Lemos (CEO da agência Glam) negoceia contratos de vários atoresRicardo Meireles/SÁBADO
Concorrentes na TV e amigos fora dela: Júlia Pinheiro (SIC) e Goucha (TVI) são das estrelas mais bem pagasD.R.
José Eduardo Moniz, diretor-geral da TVI, quer segurá-lo mas nada está garantido, pelo menos oficialmente. Quando contactado pela SÁBADO, Rui Oliveira responde através da secretária uma curta declaração: “A partir de dia 1 de janeiro de 2023, o Manuel Luís Goucha é livre de escolher o seu futuro.” Poderá querer dizer continuidade ou uma reforma dourada aos 67 anos no seu monte no Alentejo – a Herdade da Pesqueirinha, perto de Monforte.
Quem mais ganha são os apresentadores do day time (período diurno), porque asseguram várias horas em antena e fazem a ponte para o horário nobre (hora do jantar). Ao vencimento mensal que, em média, oscila entre os €8 mil e os €20 mil brutos por mês, somam-se os extras por ações comerciais, como microespaços de publicidade inseridos no formato. Por exemplo, Cristina Ferreira ganhava €500 por cada, quando fazia as manhãs da SIC; já nas últimas galas do Big Brother, que conduziu na TVI, o valor de cada promo escalou aos €5.000.
Neste domínio, Fernando Mendes dá cartas no acesso ao horário nobre. Várias fontes da RTP contactadas pela SÁBADO reforçam que o apresentador do clássico O Preço Certo atrai publicidade para a estação pública. As marcas querem ficar associadas ao formato, que fideliza um público envelhecido, com mais de uma década de emissões contínuas – sendo o de maior longevidade da televisão. E as audiências provam que não está gasto, ficando à frente da concorrência.
Por tudo isto, o campeão das 19h lidera a tabela remuneratória, ex aequo com Catarina Furtado: €20 mil brutos por mês. Mais €12.366 do que recebe o presidente da RTP, Nicolau Santos, cuja remuneração está definida por lei e publicada nos relatórios e contas da estação pública. Em contraponto, um técnico da casa ganha, em média, entre €1.200 e €1.400 líquidos por mês, consoante o escalão.
Internamente, na RTP ninguém contesta o que vale o apresentador de 59 anos. Já foi aliciado pela TVI e pela SIC, mas tem rejeitado. A estação dá-lhe estabilidade, sem mexidas para outros projetos porque é neste que se sente bem, disse em entrevistas.
Há diferenças em relação à colega de 50 anos, e que são apontadas nos corredores por várias fontes ouvidas pela SÁBADO. Catarina Furtado está menos tempo em antena e Fernando Mendes “trará o triplo da publicidade”, comenta-se. Quem já trabalhou com ela explica à SÁBADO que não é bem assim: a apresentadora “dá prestígio” à RTP e, em estudos de mercado, o seu nome associa-se a credibilidade e confiança. Isto nota-se nas marcas que a procuram (Sacoor, por exemplo).
Seja como for, o conselho de administração da RTP (que aprova as remunerações) não comenta os números, quando questionado pela SÁBADO. Fonte oficial diz apenas: “Nunca revelamos valores de contratos, dependem do perfil, horário e periodicidade de cada programa e não do género dos profissionais que os apresentam.” A Comissão de Trabalhadores (CT) contrapõe: “Os valores de salários das estrelas da RTP são contratos de ‘artista’, fora do âmbito da tabela salarial e negociados sem interferência dos Órgãos Representativos dos Trabalhadores.”
No patamar dos €10 mil brutos por mês, a meio da tabela, estão Tânia Ribas de Oliveira (A Nossa Tarde) e Jorge Gabriel (Praça da Alegria). Tal como Fernando Mendes, Jorge Gabriel reafirma a estabilidade e, sem falar de valores, explica à SÁBADO: “Estou na RTP há 21 anos, com contratos de dois anos sucessivamente. Nunca me falharam no vencimento, ouvem a minha opinião e não me obrigam a fazer nada que colida com a minha dignidade profissional.”
Já lá vai o tempo em que as televisões tinham uma vasta galeria de caras exclusivas, isto é, atores que mesmo sem aparecerem no ecrã eram pagos principescamente. Caso de Alexandra Lencastre na TVI, onde recebia €16 mil brutos se trabalhasse e metade quando parada. Em 2020, transitou para a SIC mas em regime de avença: recebe ao projeto. Quando faz novelas, como a última Por Ti, cujas gravações terminaram em junho, passa, todos os meses, um recibo de €14 mil a que acresce o IVA.
Se fizer uma emissão em direto, como a de Estamos em Casa (junho de 2022), ganha à parte – mais precisamente €3,5 mil por conduzir três horas de direto. Somam-se as publicidades a suplementos e aparelhos auditivos em contratos de um ano e nunca por menos de €75 mil cada.
Ricardo Azedo, da agência Charlie, é quem a representa, escusando-se a falar de cachês. Outro agenciado da Charlie é António Pedro Cerdeira, de 52 anos, que vai protagonizar a nova novela da SIC em horário nobre, com estreia prevista para 6 de outubro e apresentada nesta terça-feira (6 de setembro). Fará de diplomata casado com Vanda Corte Real (vilã interpretada pela musa brasileira Luana Piovani).
A SÁBADO apurou que o vencimento do ator é de €9 mil por mês e será pago em moldes idênticos aos de Alexandra Lencastre. O próprio não comenta o que ganha, mas refere à SÁBADO a importância da agente à mesa das negociações. “Não tenho jeito com números, ela ajuda-me porque tem firmeza e distanciamento. Gosto de trabalhar e considero-me afortunado. O dinheiro não é, de todo, o principal objetivo.”
Lurdes Santos, a sua agente, reforça: “O valor do António é reconhecido e temos chegado sempre e facilmente a um consenso.” Em concreto, sobre a novela, houve duas reuniões (com ele, a agente, o diretor financeiro do projeto e o diretor de produção) e o acordo firmou-se à terceira, por telefone.
O ator grava 12 horas diárias, das 8h às 20h, e desloca-se pelos seus meios (carro) de casa (perto de Sintra) aos locais de gravações (Costa de Caparica e Setúbal), prescindindo do transporte que a produtora SP Televisão disponibiliza ao elenco.
Os tempos de pandemia foram particularmente difíceis para a classe artística, que viu contratos cancelados sobretudo no verão – época alta de concertos nas aldeias, pagos por municípios ou freguesias.
Após dois anos de compasso de espera, os cantores voltaram à estrada. Em julho e agosto, não havia terra que não anunciasse os cabeças de cartaz, com Tony Carreira a marcar pontos, chegando a cobrar por concerto mais de €50 mil, segundo o portal Base que divulga contratos públicos.
Nas remunerações do futebol, o francês Mbappé lidera. Renovou o contrato este verão com o Paris Saint-Germain e passou a ser o jogador mais bem pago do Mundo: €4,3 milhões líquidos por mês.
Entre os portugueses, Cristiano Ronaldo continua à frente, apesar de ter vindo a perder protagonismo no Manchester United (foi suplente em quatro jogos no início desta época), recebendo €1,3 milhões de euros por mês. É dos mais bem pagos da Liga inglesa, atrás de Kevin de Bruyne (€2 milhões) e Haaland (€1,8 milhões), avançados do Manchester City.
CR7 ganha mais do dobro de João Félix, que recebe cerca de €600 mil líquidos por mês no Atlético de Madrid, numa lista que em Espanha é liderada por Piqué (Barcelona), com €1,2 milhões por mês.
Outros portugueses com grandes salários são Bernardo Silva (€750 mil), Rúben Dias (€585 mil) e João Cancelo (€400 mil), todos do Manchester City. Em França, Vitinha (PSG) recebe €250 mil euros por mês e Renato Sanches (Lille) embolsa €170 mil. Já Rafael Leão, estrela do AC Milan, recebe €155 mil líquidos por mês, mas o clube italiano quer renovar-lhe o contrato e triplicar-lhe o ordenado, podendo em breve passar a ganhar cerca de 450 mil.
Em Portugal, destaca-se o alemão Draxler, que joga no Benfica e ganha €583,3 mil limpos por mês. O seu clube, PSG, paga 80% do salário. O restante (€116,6 mil/mês) é assegurado pelo clube dos encarnados.
Já o português mais bem pago num dos três grandes clubes é Pepe (FC Porto), com €227 mil euros mensais, seguindo-se João Mário (Benfica), com €215,8 mil. Também no Benfica, Rafa ganha €140 mil por mês. No Sporting, Pedro Gonçalves recebe €101,3 mil mensais e Trincão €100 mil (embora grande parte do salário seja pago pelo Barcelona, o seu atual clube).
Afastados dos salários milionários estão os ministros, deputados e dirigentes dos partidos, por serem titulares de cargos públicos. Assim atestam as últimas declarações de rendimentos, que os próprios entregaram ao Tribunal Constitucional (TC), em 2022, conforme a lei, e a SÁBADO consultou.
São opções de carreira, que o diga Luís Montenegro que viu os rendimentos baixarem desde que assumiu a presidência do PSD, a 4 de julho passado. Desde então, ganha €5.135 brutos por mês.
Na declaração entregue pelo próprio no TC há dias, e referente a 2021, indica €97.875 de rendimentos brutos de trabalho independente, decorrentes dos serviços de advocacia em nome individual. Acrescem €100.893 de rendimentos profissionais, comerciais e industriais. Tudo somado, em 2021 Luís Montenegro recebeu €198.768 brutos.
A 30 de junho último, em vésperas de ser eleito no 40.º congresso nacional do PSD, suspendeu a inscrição na Ordem dos Advogados. A advocacia pode, de facto, ser uma profissão rentável, se o profissional ganhar nome e tiver uma boa carteira de clientes.
Dos 30 mil inscritos na Ordem, muitos têm entre 25 a 35 anos e ganham entre €1.000 e €1.500 líquidos, por mês, baseados em oficiosas (defesas pagas pelo Estado a pessoas carenciadas). Ao fim de 10 a 15 anos de experiência, os bem-sucedidos atingem €3.500 líquidos por mês. Em termos de honorários, o valor mais comum é de €70 à hora mas pode ascender aos €300.
Neste contexto, o bastonário da Ordem, Luís Menezes Leitão abdicou da remuneração inerente ao cargo (cerca de €6.000 brutos) e manteve a de professor catedrático na Faculdade de Direito de Lisboa (cerca de €4.000 brutos). Além das aulas, continua a exercer advocacia porque, em seu entender, o bastonário não deve ser funcionário da Ordem, mas fazer vida de advogado.
O Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, outrora colega de Luís Menezes Leitão, ganha uma remuneração base de €7.722,10 prevista na lei. Juntam-se as despesas de representação (€3.088,84), mas depois dos descontos para impostos (€5.155,90) leva para casa €5.268,93.
O vencimento do chefe de Estado serve de referência ao primeiro-ministro. António Costa recebe o correspondente a 75% do ordenado do Presidente (dita a lei n.º 4/85). Na sua última declaração, entregue ao TC em maio de 2022, regista €7.300 de rendimentos prediais, três imóveis (dois em Lisboa e um no concelho de Lagoa) e está prestes a adquirir outro (“promitente comprador” escreve).
Nuno Melo, líder do CDS, é um apaixonado por carros antigos. Tem 17 enumerados na sua declaração no TC (como Morris Minor Station, o MG MGA 1600 ou Renault 4 GTL). “Vou declarar mais três. Nunca fugi com um cêntimo”, diz à SÁBADO.
No fim da tabela está André Ventura, líder do Chega, que regista no TC €48.473 (rendimento bruto de trabalho dependente em 2021, enquanto deputado em exclusividade). Ou seja, todos os meses, recebe cerca de €2.900 líquidos. “É a minha única fonte de rendimento. Tenho andado a propor cortes salariais nos titulares de cargos públicos, por isso não sou remunerado como líder do partido”, explica à SÁBADO.
https://www.sabado.pt/dinheiro/detalhe/os-maiores-salarios-em-portugal-70-profissionais-de-topo
29 Nov 2022, José Diogo Quintela, ‘Observador’
Estive a fazer contas e reparei que há quase 6 meses que não me alivio aqui de um pouco de anti-comunismo primário. É imenso tempo. De vez em quando, convém vazar o caixote de anti-comunismo, não vá o mais antigo começar a encrustar-se nas paredes. Depois só sai com aguarrás. Confesso que não percebo esta minha preguiça em fazer pouco de comunistas. É capaz de ser fastio. Há demasiadas razões para ser anti-comunista e eu pareço uma criança no corredor de bolachas de um supermercado (num país não comunista, claro). É tramado escolher. Por exemplo, como estamos em Novembro, posso recordar algumas façanhas do comunismo que se comemoram neste mês, como a Revolução Russa (um sucesso!), o Holodomor (idem!) ou o 25 de Novembro (não correu tão bem na altura, mas agora diz que é vintage). Além dessas efemérides, há a recente nomeação de Paulo Raimundo para vencedor das eleições para Secretário-Geral, a que se juntou a polémica em torno da sua biografia e do uso do termo “operário” para descrever um “burocrata” – o que, francamente, só escandalizou quem ainda não tinha percebido que o PCP também usa “operação” para “guerra” e “democracia” para “Coreia do Norte”.
No frenesim mediático a que Paulo Raimundo teve de se submeter para passar de “aquele desconhecido careca que é o novo boneco de ventríloquo da Comissão Política do Comité Central” para “aquele careca chamado Paulo que é o novo boneco de ventríloquo da Comissão Política do Comité Central”, destacou-se esta afirmação, no podcast “Perguntar não ofende”: “Não temos qualquer país capitalista no mundo, desde o mais pequeno ao maior, que tenha tido o objectivo concretizado de acabar com a fome. É um facto. A China, independentemente da forma como olhamos para ela, este objectivo foi traçado e foi concretizado”. Foi uma declaração que mostrou as dificuldades que Paulo Raimundo, com pouca experiência em lidar com a comunicação social, ainda tem em fazer-se entender. Houve quem achasse que Paulo Raimundo tinha dito que não havia fome na China, o que é uma crítica injusta, pois nem o mais aldrabão dos comunistas seria capaz de tentar impingir essa peta. Obviamente, o que Paulo Raimundo pretendia dizer era que a China acabou com a fome, no sentido em que já não a utiliza como ferramenta política. Essa já é uma declaração aceitável. De facto, há algum tempo que o PCC não mata de fome propositadamente. Até porque agora dispõe de outros meios mais discretos. No, fundo, a China não acabou com a fome. Deixou foi de causar a fome. Paulo Raimundo vai aprender a navegar estas subtilezas semânticas que são a base da comunicação do marxismo-leninismo.
Porém, se tiver de eleger um predilecto, não é nenhum destes temas que hoje anima o meu anti-comunismo primário. É antes esta notícia do Expresso, de dia 18: “Cortes de pessoal ajudam finanças do PCP”.
Trata-se de uma notícia tão favorável para o PCP, que podia perfeitamente estar no caderno de Economia. Começa logo pelo título. “Cortes de pessoal ajudam finanças do PCP” é jargão financeiro para o habitual estribilho “o capital expropria o trabalho”. Só que, desta vez, apresentado como aspecto positivo. Depois, logo a abrir, somos informados que “o PCP gastou, no ano passado, €2,6 milhões para pagar os salários dos seus funcionários, o que representa uma quebra de 17% face ao ano anterior”. Ou seja, o PCP está a despedir gente. Por outro lado, “(…) foi também graças a esta redução que as contas do PCP apresentaram, em 2021, um recorde estatístico e um saldo positivo de €1,6 milhões”. Ou seja, o PCP está a despedir gente e isso é muito bem jogado. Incrível. Está explicado porque é que o patronato nunca votaria nos comunistas para liderarem o país: os patrões querem os comunistas livres de incumbências, para os poderem contratar para as suas empresas. Uma companhia gerida pelo camarada responsável pelas contas do PCP não só dá lucro, como não tem contestação laboral.
O máximo que se ouviu a um funcionário do PCP foi, curiosamente, ao próprio Paulo Raimundo, na RTP, a lamentar o que o aumento da prestação da casa vai fazer ao seu orçamento doméstico. Recorde-se que o salário de um colaborador do PCP anda à volta dos 750 euros líquidos. Quer dizer, na realidade é um pouco menos. Segundo o Expresso, “Este ano, o partido vai mais longe e propõe, «com a mesma audácia e confiança», que os militantes entreguem «um dia de salário ao partido», a somar à quota habitual que já pagam (e que tem como referência 1% do ordenado), mais a contribuição sindical (com o mesmo valor de referência) e a obrigatória assinatura do «Avante!», que custa €64 por ano ou €65 para quem preferir a versão digital.” Ora, se um dia de salário são 34 euros (750 euros a dividir por 22 dias úteis), 1% do ordenado são 7,5 euros e a assinatura do Avante! vale 5 euros por mês, tudo somado dá 46,5 euros. Logo, na realidade, um funcionário do PCP, responsável por andar a entregar panfletos a exigir o aumento do salário mínimo para o valor digno de 850 euros, acaba por receber uns indignos 703,5 euros. Conseguir que um funcionário funcione assim é uma medida de gestão que tem de ser ensinada num daqueles MBA caros na Nova School o Business and Economics and Stuff. O CFO do PCP devia andar a fazer palestras sobre liderança motivacional. Se pensar no dízimo que pode sacar dos cachês, de certeza que o Partido não se opõe.
A mestria da gestão comunista também se vê nestes indicadores económicos: embora a redução da despesa com funcionários entre 2005 (primeiro ano da liderança de Jerónimo) e 2021 tenha sido de 41% (de 4,5 para 2,6 milhões de euros), a redução do património global do PCP no mesmo período foi de apenas 19% (de 23,3 para 18,7 milhões de euros – atenção, que estes valores são aquelas ninharias que aparecem na factura do IMI, nem sequer são os valores que se obtêm no mercado. Na realidade, estes 18 milhões devem ser alguns 180 milhões que o PCP tem em prédios). O que quer dizer que, sem levantar ondas, o PCP foi mandando malta para a rua em vez de descapitalizar um bocadinho só para preservar postos de trabalho. Aqui se vê o génio dos comunistas. Mantêm a fortuna ao mesmo tempo que correm com empregados – que, ainda por cima, são famosos por serem particularmente contestatários. Por exemplo, bastava o PCP vender um imóvel por 750 mil euros (valor patrimonial de 100 mil euros), ainda ficava com muitos milhões, e só essa operação dava para pagar a 71 funcionários durante um ano. Era muito giro, mas o que é que o Partido ganhava com isso? Assim, consegue fazer o mesmo trabalho com menos gente e, ao mesmo tempo, aumenta o número de desempregados para poder atirar à cara do Governo. É juntar o útil ao agradável.
O PCP é tão bem gerido que, se quisesse, tinha lugar num daqueles índices bolsistas, tipo NASDAQ-100 ou S&P-500. Podia perfeitamente ser a empresa estrela do PSICOPATA-20.
Um tipo sofria de dor de cabeça crónica infernal. Foi ao médico que, depois dos exames de praxe, disse:
− Meu caro, tenho uma boa e uma má notícia. A boa, é que posso curá-lo dessa dor de cabeça para sempre. A má notícia é que para fazer isso eu preciso castrá-lo! Os seus testículos estão pressionar a espinha, e essa pressão provoca-lhe a dor de cabeça .
Para aliviar o seu sofrimento preciso mesmo de removê-los.
O tipo entrou em choque e caiu em depressão.
Passou dias meditando. Indagava se havia alguma coisa pela qual valesse a pena viver, mas a dor de cabeça era cada vez maior e o tipo começa mesmo a ficar desesperado e aponderar.....
Não teve outra escolha senão submeter-se à vontade do bisturi.
Passados dias deixou o hospital, pela primeira vez em 20 anos, não sentia mais a dor de cabeça. No entanto, percebeu que uma parte importante de si estava-lhe faltando. Enquanto caminhava pelas ruas notava que era um homem diferente, mas que poderia ter um novo começo.
Parou em frente a uma montra de roupas masculinas de luxo.
Pensou !!!
"É disto mesmo que eu preciso",
− Quero um fato novo!!!, pediu ao vendedor.
O alfaiate, de idade avançada, deu uma olhadela, Diz-lhe:
Ora..ora vejamos... é um 44, longo.
Ele riu-se:
− É isso mesmo, como é que adivinhou?
− Bem estou no ramo há mais de 60 anos, muita experiência respondeu o alfaiate.
Experimentou o fato, que lhe ficou a preceito
Enquanto se admirava ao espelho, o alfaiate perguntou:
− Que tal uma camisa nova, ficar-lhe-ia bem?
Ele pensou por alguns instantes:
− Claro porque não!
O alfaiate olhou e disse:
− Hummm...34 de manga, e 16 de pescoço.
E ele pasmado:
− Mas... É isso mesmo! Como é que adivinhou?
− Bem estou no ramo há mais de 60 anos, muita experiência senhor.
Experimentou a camisa e ficou satisfeito.
Enquanto andava pela loja, o alfaiate sugeriu-lhe:
− Que tal umas cuecas novas?
− Claro.
O alfaiate olhou os seus quadris, e disse!
−Ora vejamos... Acho que é o 36.
Aqui, o tipo soltou uma gargalhada:
− Desta vez,enganou-se! Uso o tamanho 34 desde os 18 anos de idade.
O alfaiate sacudiu a cabeça, negativamente:
− Você não pode usar o 34. O tamanho 34 pressiona os testículos contra a espinha, e essa pressão deve provocar-lhe uma dor de cabeça infernal....
EXPERIÊNCIA É TUDO... (60 anos no ramo).
Negócio de médico é operar.
Antes de ser operado consulte sempre o seu alfaiate ...
COMENDADOR
MARQUES DE CORREIA
Expresso
José Diogo Quintela
13 set 2022, José Diogo Quintela, ‘Observador’
Em 1972, na Universidade de Stanford, o psicólogo Walter Mischel levou a cabo o que ficou para a posteridade como a “Experiência do marshmallow”. Nesse estudo, o investigador deixava uma criança sozinha numa sala, com um marshmallow à frente, dizendo-lhe que poderia comer logo a guloseima ou, caso se dispusesse a esperar, comer duas guloseimas mais tarde. Analisando o desenvolvimento futuro das crianças, o estudo concluiu que as que aguardavam pacientemente até comer o marshmallow apresentaram melhores resultados académicos, económicos e físicos ao longo da vida.
É um estudo famoso sobre recompensa diferida, embora as suas conclusões sejam cada vez mais postas em causa. Quer por outros investigadores, quer por António Costa. A forma como o Primeiro-Ministro apresentou o adiantamento de metade de uma pensão em Outubro, que depois será abatida a um futuro aumento a partir de 2024, mostra que há quem acredite que é preferível o proveito imediato, ainda que reduzido, ao recebimento futuro do valor total.
Tenho de admitir que, desta vez, Costa tem razão. Há uma ocasião em que é muito melhor receber já, ainda que menos, do que em receber tudo em 2024. É a ocasião passar-se em Portugal. Existem dois tipos de pessoas que são beneficiadas por adiantar o recebimento: crianças gulosas e impacientes e pensionistas portugueses. As primeiras não conseguem esperar; os segundos, não devem esperar. Sabe-se lá se, em 2024, a Segurança Social consegue pagar pensões? Mais vale ter meia pensão agora do que nenhuma em 2024.
O pensionista pode sentir que, ao receber adiantado em troca de aumentos futuros, está a matar a galinha dos ovos de ouro. Mas, na realidade, está é a garantir que ainda vê algum ouro. É que a galinha está com um cancro nas penas e vai falecer mais cedo ou mais tarde. O melhor é sacar já os ovos que se conseguirem tirar.
Os idosos portugueses têm razões para duvidar das promessas de António Costa, desde que na campanha eleitoral de 2019 ofereceu porrada a um velhinho, mas acabou por não conseguir dá-la. Porém, desta vez podem confiar à vontade. António Costa está a dizer a verdade quando promete que ninguém vai receber menos em Janeiro de 2024 do que recebeu em Dezembro de 2023. Se a Segurança Social estourar entretanto e o pensionista receber zero euros em Dezembro de 2023, é matematicamente impossível receber menos que isso no mês seguinte.
A questão é que a nossa sociedade está cada vez mais individualista. Há 30 anos, 4 contribuintes portugueses, sem se conhecerem de lado nenhum, juntavam-se ao fim do mês para partilhar um pensionista. Agora, ninguém divide nada com ninguém, cada um tem um reformado só para si. E a tendência é este egoísmo agravar-se, com os contribuintes mais novos a começarem a açambarcar mais pensionistas, os garganeiros.
A Segurança Social tornou-se num esquema de pirâmide. Duplamente: não só no sentido em que é preciso recrutar cada vez mais aderentes para sustentarem a despesa, mas também no sentido em que quem construiu as pirâmides foram escravos que não viram dinheirinho nenhum pelo trabalho que tiveram.
É por isso que a medida do Governo peca por defeito. Em vez de adiantar meia pensão, deviam era adiantar o dinheiro todo que é suposto o pensionista receber até morrer. Se há coisa que o cidadão português sabe é que é sempre melhor o dinheiro estar do seu lado do que no lado do Estado, que tem tendência em esbanjar em parvoíces.
Pelo menos, nunca houve um pensionista que, por exemplo, tenha desperdiçado o seu dinheiro na compra de uma companhia aérea falida.
E nem sequer precisou dos conselhos da Isabel Jonet para saber que isso seria estúpido.
Se sempre quis saber como é estar debaixo do solo lisboeta, a iniciativa Lisboa Subterrânea é a oportunidade perfeita. Trata-se de um dos passeios mais procurados na capital, levando os inscritos pelos subterrâneos da cidade e ainda a conhecer a Galeria do Loreto. A próxima visita acontece a 3 de Setembro.
Os participantes vão ter acesso a uma visita guiada debaixo da terra — e que liga o Reservatório da Mãe d’Água das Amoreiras ao miradouro de S. Pedro de Alcântara. A Galeria do Loreto era uma das cinco centrais que integravam o sistema Aqueduto das Águas Livres.
O percurso começa às 10 horas e o ponto de encontro é na Rua das Amoreiras, junto ao Reservatório da Mãe D’Água. São cerca de dois quilómetros que são percorridos ao longo de uma hora e meia. A organização sugere que leve roupa confortável, água, um snack para comer durante a manhã e, claro, uma máquina fotográfica.
Lynx Travel é uma das empresas que organizam visitas à “Lisboa debaixo de terra” e dá a conhecer os túneis subterrâneos. Estes passeios acontecem poucas vezes durante o ano e sempre que as inscrições abrem, esgotam-se rapidamente.
A visita custa 12€ por pessoa. Para se inscrever, só tem de preencher o formulário que está disponível no site Caminhando.
Quando o Presidente da República disse que, nos próximos meses, “cada qual fará o esforço para não estar doente”, fui obrigado a reflectir e concluí, com vergonha, que nunca antes fiz esse esforço. Tenho vivido de forma inconsciente, sem me empenhar para não adoecer — e por isso tenho tido, como é evidente, algumas doenças. A culpa não é só minha. A ciência, estranhamente, tem dirigido a sua atenção para a cura de doenças, quando seria mais fácil e barato lembrar às pessoas que devem fazer um esforço diário para não adoecer. Se todos fizessem esse esforço, o SNS funcionaria muito melhor, ocupado apenas com os preguiçosos que não se esforçam o suficiente. Alguns levam o desleixo tão longe que até acabam por morrer, o que não deixa de ser justo. Eu tenho padecido de algumas maleitas, e até já fui submetido a operações cirúrgicas mais de uma vez, só para se ter uma ideia do meu desmazelo. Talvez não seja justo, aliás, usar o verbo padecer. Provoquei algumas maleitas, assim é que é. Quando era pequeno, não me esforcei o suficiente para evitar o sarampo, a papeira e a escarlatina. Mas a idade adulta, curiosamente, não dá a ninguém a maturidade suficiente para aperfeiçoar o esforço para evitar doenças. Tenho reparado que os idosos, uma faixa da população com idade para ter juízo, são dos que menos esforço fazem para não adoecer.
Algumas pessoas ficaram exaltadas com as declarações do Presidente, em clara desobediência a essas mesmas declarações. Marcelo pede a todos um esforço para evitar adoecer e imediatamente há gente que fica apopléctica. Mania de contrariar. Para mim, as declarações do Presidente pecam por defeito. Os cidadãos, querendo, podem contribuir para não sobrecarregar outros serviços do Estado. Além de se esforçarem para não adoecer, os portugueses podem fazer outros esforços úteis. Por exemplo, se as crianças fizerem um esforço para se instruir, precisaremos de menos escolas. E se os cidadãos fizerem um esforço para não litigar, acabam-se os atrasos na justiça. O português ideal não precisa de ir à escola, nem ao hospital, nem ao tribunal. Na verdade, o português ideal é um português defunto. Quando pomos os nossos compatriotas no Panteão, não estamos bem a homenageá-los pelo que fizeram quando estavam vivos. Estamos a agradecer-lhes por terem deixado de sobrecarregar os serviços públicos, falecendo. Esse é o seu principal mérito.
Ricardo Araújo Pereira escreve de acordo com a antiga ortografia
https://leitor.expresso.pt/semanario/semanario2592-1/html/revista-e/estranho-oficio/agasalha-te-cidadao
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PS: Era para te mandar os 100 euros que me pediste, mas quando me lembrei já tinha fechado o envelope.
Desculpa a minha lêtra, mas eu tenho andado muito rouca.
Partilhado por: «O SALOIO» – Mafra | 29/06/2022.