Com Marcelo e Costa aos comandos, Portugal não irá a lado algum. Estamos condenado ao clássico “ficar a chuchar no dedo”. O que só é positivo se a alternativa for chupar a língua ao Dalai Lama.
Náuseas, transpiração, alteração do equilíbrio. Tudo sintomas típicos de síndrome vertiginoso. De síndrome vertiginoso, ou da tentativa de acompanhar os casos e casões envolvendo o governo do PS, que nos têm sido apresentados a um ritmo que faz o Livin’ La Vida Loca de Ricky Martin parecer a marcha fúnebre de Frédéric Chopin.
As minhas desculpas, portanto, a todos os que buscam neste espaço informação actualizada e rigorosa sobre a vida política portuguesa. Por sorte, este grupo de leitores constitui aquilo a que, em matemática, mais especificamente em teoria dos conjuntos, se chama conjunto vazio. Pelo que não me sentirei tão culpado pela incapacidade de esmiuçar a mais recente polémica envolvendo as mudanças de departamento no Ministério das Finanças da esposa do Ministro das Infra-estruturas, João Galamba. Ficando assim com mais tempo disponível para as várias tomas diárias de Vomidrine.
Bom, mas a verdade é que nada parece convencer o Presidente da República a dissolver a Assembleia. Pelo menos foi isso que, ao fim e ao cabo, preconizou, no seu espaço de comentário na SIC, o boneco de ventríloquo. Perdão. O boneco de Marcelo. Ai. Peço desculpa. O Dr. Marques Mendes, assim é que é. O Dr. Marques Mendes.
Sim porque, como Marcelo Rebelo de Sousa já deixou sobejamente claro – às vezes até pela sua própria boca – isto não é para andar a trocar de governo como quem troca de cuecas. Tal como, aliás, isto não é para andar a trocar de cuecas como quem troca de calções de banho, na praia, à frente de tudo o que é transeunte, ou jornalista. Ou jornalista mascarado de transeunte, como daquela vez em que a jornalista-transeunte da TVI, Conceição Queiroz, “apanhou” o Presidente, totalmente por acaso, a sair da água qual médio-sereio numa praia da linha de Cascais.
Não é para andar a trocar sungas de banho à balda, até porque as idas frequentes ao mar acabam por manter uma pessoa lavadinha por baixo. Logo, poupando electricidade na utilização da máquina da roupa. Ainda que com algum prejuízo para a fauna marinha, eventualmente. Enfim, neste deve e haver de sustentabilidade, alguém do PAN que faça as contas ao que é melhor para o nosso planeta, e depois avise-me. Para eu fazer o contrário.
Mas voltando ao sonho lindo da dissolução do Parlamento, Marcelo Rebelo de Sousa considera tal cenário um pesadelo. Diz o Presidente que “não faz sentido” na actual conjuntura “falar periodicamente de dissolução”, sublinhando que a marcação de eleições significa “quatro meses de paragem”. Como se isso fosse um problema, uma “paragem”. Quer dizer, o governo do PS conduz este país, tipo chofer de autocarro escolar alcoolizado, rumo a um precipício. E nisto diz Marcelo: “O quê? Parar? Nunca!”. Encetando, de seguida, a famosa canção infantil omnipresente nas excursões da escola: “Senhor condutor, por favor/Ponha o pé no acelerador/Se chocar não faz mal/Vamos todos para o hospital.” A que se impõe um acrescento, em jeito de actualização: “E pedimos ao Senhor, louvado/Que o hospital seja privado.”
Portanto, aqui chegados e feitas as contas, literal ou metaforicamente, não interessa, estamos bem tramados. Porque literal, ou metaforicamente, ficaremos sempre a chuchar no dedo. O que, até há escassos dias, era uma perspectiva absolutamente deprimente. Eis senão quando, num ápice, ficar a chuchar no dedo transformou-se num cenário até bastante palatável. Convenhamos que é bastante menos péssimo ficar a chuchar no dedo que ter de chupar a língua ao Dalai Lama.
Observador
Tiago Dores - Colunista do Observador
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