Em Lisboa, a linha de transportes colectivos sobre carris – os ‘Americanos’ – foi inaugurada a 17 de Novembro de 1873 entre a Estação da linha Férrea Norte e Leste (Stª. Apolónia) e o então extremo oeste do Aterro da Boa Vista (Santos). A rede cresceu nas décadas seguintes, foi alterada na sua bitola, e finalmente alterada em 1900 para tracção eléctrica.
Um ‘Americano’ a passar em frente ao teatro Nacional, no Rossio.
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…A lanterna vermelha do ‘americano’, ao longe, no escuro, parara. E foi em Carlos e em João da Ega uma esperança, outro esforço.
Ainda o apanhamos! Ainda o apanhamos!
De novo a lanterna deslizou e fugiu. Então, para apanhar o ‘americano’, os dois amigos romperam a correr desesperadamente pela Rampa de Santos e pelo Aterro, sob a primeira claridade do luar que subia.
(Assim termina, em Janeiro de 1887, esse extraordinário romance ‘OS MAIAS’, de Eça de Queiroz).
Os ‘Chora’
Os maiores concorrentes dos “Americanos” de tracção animal na Lisboa do século XIX eram os carros do “Chora”, propriedade de Eduardo Jorge, que nunca os vendeu, nem à Carris.
Nos anos 30 do século XIX, começaram a circular em Lisboa os primeiros transportes públicos de tracção animal, formando-se algumas décadas depois várias companhias dos chamados “Americanos”, comprados a uma empresa de Nova Iorque.
A primeira linha de “Americanos” começou a funcionar na capital em 1873, concorrendo com estes os “Jacintos”, os “Simplícios”, os “Florindos” ou os carros do “Chora”. Estes, criados por Eduardo Jorge em 1888, e não recorrendo a carris, transformaram-se nos mais famosos concorrentes dos “Americanos”.
Eduardo Jorge era um rapaz pobre que tinha vindo da província trabalhar para Lisboa, como moço de cavalariça dos “Americanos”, e o nome dado aos seus carros tem duas versões. Ou era uma corruptela da firma ‘Shore’, que os fabricava; ou então a alcunha que os empregados de Eduardo Jorge lhe puseram, por ele se estar sempre a chorar de ter poucos lucros com a empresa.
Em 1901, apareceram os eléctricos da Carris. Em 1905, com toda a rede já electrificada, os únicos carros de tracção animal que ainda resistiam eram os do “Chora”. Eduardo Jorge só desistiu em 1917, por causa das dificuldades trazidas pela I Guerra Mundial. Vendeu os cavalos e as mulas, pagou a todos os empregados e mandou incendiar os seus “Chora”, para a Carris não ficar com eles.
Em 1929, fundou na Amadora a Viação Eduardo Jorge, com as suas célebres camionetas amarelas, que duraria até 1995.
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