O problema não está na disciplina mas sim naquilo em que ela se transformou num país em que um partido, o PS, se comporta como dono do Estado e faz dos serviços públicos uma extensão do seu poder.
Lição n.º 1. O primeiro-ministro integra a comissão de honra de Luís Filipe Vieira à presidência do Benfica. Não há incompatibilidade. É o chamado direito à sua “contradição íntima” explica a ministra da Justiça, Francisca Van Dunem.
Luís Filipe Vieira retira o primeiro-ministro da sua comissão de honra. A ministra da Justiça, Francisca Van Dunem, não explicou mais nada mas deve tratar-se do exercício do direito à coerência pública por parte de Luís Filipe Vieira, como diria, não duvido, o menino Tonecas.
O menino Tonecas, aquele que nunca cumpria com o seu dever mas arranjava uma resposta ardilosa para todas as situações e validava uma coisa e o seu contrário, tornou-se na figura tutelar do momento. A ministra da Justiça, com a sua desastrada referência a Mitterrand para dar conta das contradições de António Costa, é apenas mais um protagonista a confirmar o que se me foi tornando uma evidência perante as palavras e os actos dos nosso governantes, Presidente da República e dra. Graça Freitas incluídos: todos eles, tal como o menino Tonecas, estão imbuídos de uma lógica imbatível que não serve rigorosamente para mais nada, a não ser, claro, para justificar o respectivo protagonismo.
Lição n.º 2. Para atalharmos caminho convém que fixemos um ponto à laia de sumário: a escola é, em Portugal, neste momento, um local de transmissão de algum conhecimento e de muita ideologia. Em caso de dúvida, a ideologia prevalece. Como não podia deixar de ser, a disciplina de Cidadania e Desenvolvimento tornou-se um espaço por excelência de doutrinação.
Mas o invólucro ideológico está longe de se restringir a esta disciplina. Do Português à História, e com particular destaque para os estudos dito do meio, as crianças e adolescentes são doutrinados num ranço maçónico-progressista que os leva a papaguear sem pensar frases como esta retirada de uma manual de Geografia de 12.º ano, no caso intitulado Visão do Mundo mas que não está de modo algum solitário nesta sua perspectiva política: “A questão principal do processo de globalização é que ela corresponde a uma forma de capitalismo ultra-liberal. Os Estados dos países pobres não garantem níveis salariais justos, fazendo com que o nível económico não se traduza em melhorias apreciáveis nas condições de vida”.
A situação também não é nova, os exemplos do fervor ideológico não faltaram ao longo do século XX na escola portuguesa: as questões da identidade de género sucedem-se aos anúncios do apocalipse por causa da industrialização (capitalista, naturalmente), que por sua vez sucedeu ao homem que havia de ser novo na sociedade igualitária, que por sua vez fora antecedido pelo combate à sociedade de consumo…
A diferença está portanto não no uso da escola para transmitir ideologia mas sim em agora a doutrinação se ter transformado numa das suas principais prioridades, ultrapassando a própria transmissão de conhecimento. Como logo se viu em 2016, quando o PS, BE e PCP reduziram em 57 por cento o financiamento dos contratos de associação que mantinham com vários colégios privados a qualidade do ensino não era a questão prioritária do governo das esquerdas. Agora, em 2020, face ao caso da família que não autoriza os seus filhos a frequentar a disciplina de Cidadania e Desenvolvimento, a vertente ideológica do Ministério da Educação tornou-se mais óbvia. Afinal, o problema não está na disciplina mas sim naquilo em que ela se transformou num país em que um partido, o PS, se comporta como dono do Estado e faz dos serviços públicos uma extensão do seu poder. Parafraseando Elisa Ferreira e o seu inesquecível “Esqueceram-se de vos dizer que o dinheiro é do Estado, é do PS” esqueceram-se de vos dizer que a disciplina de Cidadania e Desenvolvimento é do PS.
Lição n.º 3. A idiotia a que nos está a conduzir a desvalorização do conhecimento está bem estampada naqueles cartazes da EDP em que uns jovens apresentados como “Geração Zero” apelam sorridentes a um mundo com “Zero CO2”. Ou seja,helena a um mundo em que estariam mortos eles e as árvores que alegadamente querem defender. Não interessa não saber para que serve o CO2 e como ele é indispensável à vida, o que conta é que dizer “Zero CO2” é um bom slogan.
Helena Matos
Observador