terça-feira, 14 de julho de 2020

António Mexia.

António Luís Teixeira Guerra Nunes Mexia. Foi demitido no arranque da carreira, mas chegou a gestor mais bem pago do país.

Antes da EDP Mexia já dava nas vistas. Fez a ponte para o projecto da Autoeuropa, mas acabou demitido. Na Galp, estava em vias de perder o cargo, quando Santana o chamou. Parte 1 de um perfil essencial

O nome de António Mexia é praticamente sinónimo de EDP depois de 14 anos de liderança, divididos por cinco mandatos, que atravessaram cinco governos, um resgate financeiro a Portugal, uma mudança de accionista de referência, uma comissão parlamentar de inquérito e uma OPA (Oferta Pública de Aquisição) falhada. A suspensão de funções de presidente executivo na maior empresa portuguesa, determinada por ordem judicial no quadro do inquérito-crime ao caso EDP, veio pôr um travão a uma carreira única na administração de empresas portuguesas. O presidente da EDP e o presidente da EDP Renováveis, João Manso Neto, enfrentam suspeitas de corrupção activa e participação económica em negócio.

Mas até chegar a ser o gestor mais bem pago de Portugal — em 2019 recebeu uma remuneração bruta de 1 milhão de euros, mais 325 mil euros de bónus pelos resultados de 2018 e mais 826,4 mil euros de prémios  atribuídos pelo ano de 2016 e só agora pagos — há um António Mexia com uma carreira de sucessos e também desaires. Ao longo desses anos, ganhou fãs e conquistou aliados — e fez inimigos.

A carreira de António Mexia no mundo dos negócios arrancou no final da década de 198o, a protagonizar os contactos iniciais, e decisivos, para captar o maior investimento industrial que Portugal viria a ter no ciclo de pós-adesão à então Comunidade Económica Europeia. Foi ele quem enviou a carta ao responsável do construtor americano Ford em que afirmava a intenção do Governo português de conceder um pacote elevado de incentivos financeiros para trazer a fábrica de automóveis que a Ford/Volkswagen queria instalar na Europa — e que hoje todos conhecem como Autoeuropa. Havia vários países na corrida e o número que Mexia pôs em cima da mesa era suficientemente elevado para chamar a atenção dos construtores e colocar Portugal em bom lugar nesta corrida.

Entre 1988 e 1990, António Mexia começou a chamar a atenção no mundo dos negócios. Quem trabalhou com ele — ou perto dele — descreve uma pessoa brilhante, com iniciativa e capacidade de afirmação, com ideias inovadoras e capacidade de as executar, sem medo de decidir. Sabia escolher muito bem equipas e mostrou logo capacidade de liderança. Tudo isso fez com que fosse convidado para cargos de responsabilidade e direcção logo no início da carreira. Talvez essa reduzida experiência como subordinado ajude a explicar porque também despertou cedo os primeiros ressentimentos e inimizades, algumas das quais o iriam acompanhar ao longo de muitos anos.

A conquista da Autoeuropa e o despedimento público

Nos anos 80, conquistar aquela que viria a ser a futura Autoeuropa era uma missão prioritária para o Governo do PSD, liderado por Cavaco Silva. Mas desde logo foram visíveis as tensões internas entre os decisores políticos e as suas equipas — cada um deles lutava para aparecer associado aquele grande projecto.

Quem parecia estar a ganhar esta corrida era o lado do ministro do Comércio, Joaquim Ferreira do Amaral, que tinha como assessor João Líbano Monteiro (que viria a fundar uma das mais importantes agências de comunicação do país) e António Mexia no ICEP (Instituto do Comércio Externo de Portugal, hoje AICEP). Do outro lado estava o Ministério da Indústria, liderado por Luís Mira Amaral, cujo papel na atracção do projecto também era importante, mas que não conseguia o mesmo protagonismo na opinião pública que resultava das declarações de António Mexia aos jornais. Anos mais tarde, quando se voltaram a reencontrar no sector da energia, Mira Amaral, esteve quase sempre no lado oposto às estratégias defendidas por Mexia.

Mexia tinha chegado ao gabinete do secretário de Estado do Comércio, Miguel Horta e Costa, em 1986, aos 29 anos,  por sugestão de António Borges, que o conhecia do meio académico. A carreira de Mexia como professor de Economia começara na Suíça, onde se licenciou na Universidade de Genebra, e prosseguiu em Portugal, na Nova e na Católica.

Após dois anos de trabalho no seu gabinete, Miguel Horta e Costa achou que António Mexia era uma boa aposta para o ICEP, a agência que tinha a missão de captar investimento estrangeiro, e juntou-o a um quadro do Estado de reconhecida competência, António Alfaiate, que tinha sido director-geral do Comércio.

Mas o que no papel pareciam dois perfis complementares veio a revelar-se um desastre. Não havia química entre os dois, tinham formas de pensar diferentes, a relação profissional e pessoal era péssima. O mal-estar era profundo dentro do ICEP, onde o presidente António Alfaiate se sentia permanentemente desautorizado. António Mexia não lhe respondia em termos hierárquicos, mas sim ao secretário de Estado e ao ministro — e deixava o presidente às escuras sobre o estado das negociações com os americanos da Ford.

Quando Joaquim Ferreira do Amaral deixou a pasta do Comércio para assumir as Obras Públicas, o novo ministro, Fernando Faria de Oliveira, foi confrontado com uma situação insustentável na relação entre os principais executivos do ICEP. Com o maior projecto internacional em jogo, sentiu que precisava de resolver o impasse. O secretário de Estado que ficou com a tutela do Comércio, Neto da Silva, ainda fez uma tentativa para clarificar as competências dos gestores desavindos. Mas a única coisa em que os dois concordavam era que nenhum deles queria trabalhar com o outro e isso selou o seu destino. A solução foi despedir toda a administração do ICEP, uma demissão que até foi pré-anunciada nos jornais.

Resolvido o problema, foram nomeados para a agência Pedro Almeida e Athaide Marques, que mais tarde viria a assumir a presidência. Será esta equipa, com a tutela de Neto da Silva e do ministro Faria de Oliveira, que irá fazer aterrar com sucesso a fábrica de Palmela, um investimento inicial de 430 milhões de contos (qualquer coisa como 2150 milhões de euros).

O contracto foi assinado meses depois da mudança de protagonistas, em Junho de 1991. António Mexia já não apareceu na fotografia, mas o seu nome ficou ligado à história de sucesso que trouxe a fábrica da Autoeuropa para Portugal, como aliás recorda Luís Palma Féria na sua história do sector automóvel em Portugal. Mexia teve a visão chamar a atenção dos investidores com a promessa de grandes apoios financeiros — ainda que depois tenha sido necessário renegociar em baixa os valores referenciados.

A demissão pública não afectou a carreira de António Mexia, que logo no mesmo ano, em 1990, entrou para a administração do Banco Espírito Santo de Investimento, na altura ESSI. A família Espírito Santo estava já na pole position para recuperar a jóia do grupo, o BESCL (Banco Espírito Santo) numa privatização feita à sua medida. Ricardo Salgado ainda não era o presidente todo-poderoso, mas já tinha grande influência.

É no ESSI que António Mexia se cruza com outro jovem promissor gestor, António Carrapatoso (hoje presidente do conselho de administração do Observador). A convivência é curta porque Carrapatoso começa a trabalhar no projecto da Telecel, que iria explorar a segunda rede móvel em Portugal. Depois de montado o projecto e encontrados os investidores — o grupo Espírito Santo seria um deles, tal como Américo Amorim — o jovem gestor do ESSI dá o salto para presidente da Telecel Vodafone, onde ficaria até 2014.

Do GES ao gás, com Pina Moura e o cunhado de Guterres

Não é claro como Mexia arranja o emprego no ESSI, onde o pai também trabalhou. Mas, por essa altura, já conhecia António Moura Santos, um empresário e intermediário de grandes negócios que iam desde as compras de carvão para a EDP (ainda uma empresa pública) a operações montadas pelo banco de investimento do Grupo Espírito Santo.

Moura Santos terá desempenhado um papel determinante na viragem da carreira de António Mexia, anos mais tarde. Quando António Guterres chega a primeiro-ministro, Moura Santos passou a ser conhecido nos bastidores  como “o cunhado de Guterres”. Parecia estar em todos os grandes negócios, sempre na sombra, nunca como protagonista mas sempre como intermediário — o homem que apresenta alguém a alguém e faz o negócio acontecer, ganhando alguma coisa com isso (seja dinheiro ou influência).

Neste caso, António Moura Santos terá apresentado António Mexia a Joaquim Pina Moura. O então ministro da Economia teria conhecido o irmão da primeira mulher do primeiro-ministro em casa deste, depois de ter conquistado a confiança de Guterres nos anos em que foi seu secretário de Estado Adjunto.

A apresentação dos dois, num jantar em casa de Moura Santos, tinha como objectivo indicar um dos pivôs da reorganização do sector energético que o então ministro da Economia ia promover, de encontro às propostas apresentadas pelos grandes grupos portugueses que eram accionistas da Petrogal, e cuja liderança estava nas mãos do Grupo Espírito Santo e de Ricardo Salgado.

De acordo com um perfil publicado em 2017 pela revista do Público, Moura Santos terá mais do que uma intervenção na carreira de gestor de António Mexia. É certo que os dois se conheciam e tinham trabalhado em pelo menos um projecto comum quando o gestor estava na banca de investimento: a construção de centrais de cogeração no Brasil, uma operação que juntou Moura Santos, a Partex e a EDP. A energia viria a marcar o futuro de António Mexia.

Após anos de prejuízos e sem conseguir crescer fora de Portugal, a Petrogal era à data o patinho feio das grandes empresas industriais que o Estado queria vender. Os privados nacionais — GES, Monteiro de Barros, Amorim — estavam fartos de ter capital empatado numa empresa que foi várias vezes ao mercado, mas que ninguém parecia querer. Foram bater à porta de Pina Moura com um projecto de juntar o gás natural ao petróleo. O mercado de gás natural estava em pleno crescimento, alimentado por investimentos de muitos milhões de euros, uma expansão que se fazia à custa do petróleo. O Estado controlava duas empresas: a Gás de Portugal que tinha a distribuição aos clientes finais, e a Transgás que construía a rede e tinha os contractos de abastecimento. Foi por proposta dos privados da Petrogal que nasceu a Galp, uma holding que juntou o petróleo e o gás, dois braços do mesmo grupo. E, para dirigir o braço de maior potencial — o gás — foi escolhido António Mexia.

Das guerras internas na Galp à liderança

O gestor chega à liderança das empresas de gás em 1998, tinha 41 anos, onde irá trabalhar na criação da holding da energia que foi vendida por um bom preço à petrolífera italiana Eni. O negócio permitiu aos privados nacionais encaixar uma mais-valia significativa na venda da sua participação e, como bónus, tiveram direito a uma isenção do imposto sobre os ganhos extraordinários. Tinha compensado juntar o gás ao petróleo.

Na liderança da Petrogal estava o carismático Manuel Ferreira de Oliveira, que tinha regressado a Portugal depois de uma carreira internacional bem sucedida. Rapidamente Ferreira de Oliveira entra em choque com o novo projeto para o grupo Galp que dava prioridade ao gás natural, em prejuízo do petróleo, na estratégia e nos recursos.  Demite-se com avisos de que a italiana Eni iria tomar conta da Galp.

À frente da holding do gás natural estava outro expatriado regressado, Bandeira Vieira, que tinha feito carreira na petrolífera belga Fina. Bandeira Vieira vai manter o projeto de Ferreira de Oliveira de desenvolver a área de exploração e produção de petróleo, com concessões em Angola e também no Brasil. Mas as tensões na holding de energia não terminam com a saída de Ferreira de Oliveira — também há conflitos entre o presidente da Galp e o gestor do gás.

Saem notícias a dizer que Bandeira Vieira falou com o ministro Pina Moura pedir a demissão de António Mexia. Mas quem acaba por sair é ele, numa demissão nunca explicada. Bandeira Vieira deu uma entrevista final ao Diário Económico a contar a sua versão, mas foi ameaçado com a perda da indemnização e as suas declarações nunca foram publicadas. Pelo caminho ficou também Jorge Santos Silva, um gestor da Shell que tinha substituído Ferreira de Oliveira na Petrogal e feito um emagrecimento da área dos combustíveis.

A saída dos dois gestores deixa aberto o caminho para António Mexia assumir sozinho a liderança executiva da Galp Energia. Com Rui Vilar a ocupar o cargo de chairman, Mexia chega a CEO de uma das maiores empresas portuguesas em 2001, ainda no Governo de António Guterres e com Pina Moura na tutela.

Aos 44 anos tem um percurso invejável, mas foi fazendo inimigos pelo caminho. Um dos mais visíveis publicamente terá sido Ferreira de Oliveira. Os dois homens foram vice-presidentes no início da Galp e trabalharam pouco tempo juntos, mas foi suficiente para os colaboradores de ambos sentirem o choque de personalidades, dizem várias fontes. Mexia era um homem da banca e do mundo, Ferreira de Oliveira era um engenheiro e um homem do petróleo.

A saída de Ferreira de Oliveira e a recentragem da Galp do petróleo para o gás natural não caiu bem dentro de algumas estruturas da Petrogal que se consideravam prejudicadas no acesso a cargos de chefia por pessoas contratadas ou promovidas por António Mexia. Por outro lado, o gestor confrontava-se com o que achava ser uma estrutura de “empresa pública”, com muitos cargos e assessorias que não faziam sentido. Uma das pessoas afastadas pelo gestor, mas neste caso na Gás de Portugal, foi Henrique Gomes, com quem António Mexia veio a confrontar-se já na EDP nos primeiros meses da chegada da troika a Portugal.

Se é certo que fez inimigos, foi também na Galp que encontrou, e em alguns casos contratou, os quadros que o iriam acompanhar nas etapas seguintes da sua carreira. Foi igualmente quando estava na empresa que fez aliados que iriam ser preciosos mais tarde. Um dos principais foi Pedro Santana Lopes, que o gestor terá conhecido quando deu uma conferência sobre energia na Figueira da Foz, município que era então dirigido pelo social-democrata.

Quase todos os que o conhecem — mesmo os que não gostam dele — destacam a inteligência, a visão, o pragmatismo e a capacidade de comunicação e de estabelecer relações com quem o rodeia. Mas pode passar nos corredores sem dizer bom dia, mesmo que também seja capaz de mostrar empatia pessoal. E é muito focado nas suas prioridades: consegue ouvir e processar o que lhe dizem mesmo quando não concorda. E às vezes (poucas) até o conseguem fazer mudar de ideias.

Também há quem lhe aponte um certo calculismo nas relações e a preocupação em cultivar as ligações certas com o poder, seja económico, político ou accionista, para ele próprio se manter no poder, um traço que se terá reforçado depois da experiência que viveu na Galp com a mudança política que se dá em 2002.

Muda o Governo, muda a estratégia. Fica o gestor, mas em equilíbrio precário

Foi na presidência da Galp que António Mexia enfrentou as dificuldades da falta de sintonia política. Depois de ter mantido uma excelente relação com Pina Moura, alinhados na mesma estratégia, eis que António Guterres cai e chega ao poder Durão Barroso. Teoricamente mais próximo de um Governo do PSD, o então presidente da Galp tinha uma ótima relação com um dos mais importantes barões do partido, Pedro Santana Lopes — mas Santana não estava no Governo.

A pasta da Economia foi entregue a Carlos Tavares, que estava preocupado com as duas maiores empresas da energia onde o Estado era acionista. A Galp estava em risco de cair nas mãos da Eni; e a EDP estava em conflito com a ex-parceira Iberdrola. A elétrica espanhola era muito maior e mostrava um grande apetite por Portugal, a EDP precisava de ganhar músculo para lhe fazer frente.

Homem da banca, Tavares chamou outro ex-banqueiro. João Talone (accionista do Observador) estava livre para estudar a reorganização do setor depois de sair do BCP. E propôs desfazer aquilo que Pina Moura (e António Mexia) tinham feito: obrigar a Galp a vender o gás natural à EDP e à Eni, abandonando este negócio, ao mesmo tempo que se livrava da incómoda empresa italiana no seu capital. Carlos Tavares não só aplaudiu a solução como convidou o seu promotor a executá-la, nomeando João Talone presidente da EDP.

Foram anos duros para António Mexia, apesar do apoio de outro social-democrata, Joaquim Ferreira do Amaral que substituiu Rui Vilar na presidência não executiva da Galp. Mexia estava do lado errado das opções políticas pela primeira vez na sua carreira.

O distanciamento face ao poder político era visível até na distribuição de lugares numa viagem oficial que Durão Barroso fez a Angola em 2003. Num avião recheado de empresários e gestores, a Galp era à data um investidor fundamental no país. O presidente da EDP, João Talone, seguia na classe executiva perto do primeiro-ministro e dos homens da banca. Já a equipa de gestores da Galp seguia mais atrás, a meio do avião, apanhando com o fumo das últimas cadeiras. António Mexia evitava fumar porque tinha um problema de asma, mas não resistia a um cigarro pontual, sobretudo depois de ir trabalhar para a EDP.

A cadeira ao lado de Durão Barroso estava vazia, mas ia sendo ocupada por pessoas que queriam ter uma conversa mais particular com o primeiro-ministro.  Uma delas foi Ferreira do Amaral — o chairman da Galp era o pivô das relações institucionais com um Governo hostil aos interesses dos então gestores da empresa.

O que terá começado por uma estratégia divergente, rapidamente evoluiu para um conflito de natureza mais pessoal, ou pelo menos de estilos. Mexia estava habituado a gerir sem interferência das tutelas, mas Carlos Tavares queria deixar claro que quem mandava era ele, porque o Estado e as empresas do Estado tinham mais capital na Galp.

O ministro não gostou de várias atitudes dos gestores da empresa e chegou a contrariá-las em público. Quando Ferreira do Amaral confirmou a intenção de vender a produção de petróleo em Angola, que estava a dar os primeiros frutos, o ministro da Economia corrigiu-o, em declarações aos jornalistas nas quais garantiu que a decisão cabia ao acionista Estado. Esta operação tinha sido defendida por António Mexia como forma de canalizar recursos financeiros do petróleo, que exigia muito investimento, para o gás, mas o então Presidente da República Jorge Sampaio interveio e travou a transação.

Outra fonte de conflito foi a entrada em Bolsa da Galp, que iria conduzir a uma redução do poder do Estado. Numa viagem a Madrid, António Mexia falou aos jornalistas num calendário para a operação e, quando as notícias chegaram a Lisboa, Carlos Tavares ficou furioso e telefonou logo ao presidente da Galp. A perturbação foi tal que Mexia e alguns membros da comitiva perderam o avião de regresso a Lisboa. No dia seguinte, o ministro da Economia repetiu em público o que terá dito em privado: quem decide a privatização da Galp é o Governo.

A refinaria de Matosinhos que Mexia queria fechar, por não ser um ativo muito rentável, foi outro ponto de frição com o Governo. As relações atingiram o ponto mais baixo quando o ministro da Economia lançou um concurso para vender a Galp sem o gás natural.

Esta foi uma das operações mais disputadas de uma empresa do Estado, com três fortíssimos concorrentes. Um deles era o fundo americano Carlyle, associado a alguns dos antigos acionistas portugueses da Petrogal, incluindo o Grupo Espírito Santo, e que seria o favorito de António Mexia. Se ganhasse, este ficaria no cargo, de acordo com a imprensa da altura. Mas quem venceu foi um consórcio formado pelo BPI e empresários do Norte, liderado por Ferreira de Oliveira, o antigo rival da Petrogal. Com este desfecho — a operação não viria a concretizar-se porque o negócio foi chumbado pela Comissão Europeia de Durão Barroso, mas Ferreira de Oliveira chegou à presidência da Galp depois de Américo Amorim se tornar o maior acionista — , só restava a António Mexia abandonar a presidência da Galp. O que se seguiu foi totalmente inesperado.

Presidente da Galp em risco chega a ministro

Em junho de 2004, Portugal estava absorvido pelo Euro — do qual a Galp era uma das patrocinadoras e o seu presidente executivo andava a distribuir camisolas da seleção — quando Durão Barroso abandona o Governo para presidir à Comissão Europeia. Pedro Santana Lopes, que era então presidente da Câmara de Lisboa, sobe a primeiro-ministro, sem eleições. E leva consigo António Mexia para um inesperado cargo de ministro das Obras Públicas. Será a estreia política do gestor e, apesar de ser um Governo curto e de grande turbulência, Mexia não se dá mal no cargo. Um dos seus grandes trunfos é a amizade e grande empatia que tem com Santana Lopes. Mexia fora seu apoiante desde os tempos do agora primeiro-ministro como autarca na Figueira da Foz.

Outro aliado de Mexia foi Álvaro Barreto, ministro Adjunto e da Economia, que apoiou o colega das Obras Públicas quando este decidiu segurar Fernando Pinto na TAP. A equipa de gestores brasileiros, que à data era muito respeitada pelo trabalho feito na companhia, estava de saída para dar lugar a Cardoso e Cunha, um peso pesado do PSD. Assim que chegou a ministro, António Mexia travou esta nomeação e manteve a administração da TAP. Cardoso e Cunha e o colega de Governo que tinha a Energia (Sampaio Nunes) viriam a integrar o grupo de personalidades que apresentou uma queixa na Comissão Europeia contra o negócio feito entre o Estado e a EDP liderada já por Mexia sobre as barragens.

Nos oito meses em que esteve no cargo, Mexia foi sobretudo um decisor com as costas quentes. Tinha a reputação de competência num Executivo com tinha muitos erros de casting, contava com o apoio do primeiro-ministro e uma comunicação eficaz. Ao seu lado, estava como secretário de Estado, estava Jorge Borrego, um quadro da energia que António Mexia tinha levado para a Gás de Portugal e mais tarde para a Galp.

Mexia decidiu praticamente tudo o que havia para decidir e estava pendente no Ministério das Obras Públicas. Afinal, um dos lemas que assenta no seu estilo de gestão, de acordo com um antigo colaborador, é o de que vale mais uma decisão imperfeita no tempo certo do que uma boa decisão fora de prazo.

O ministro apresentou uma solução para a cobrança de portagens nas Scut (com uma tecnologia que viria ser implementada anos mais tarde por um governo socialista); indexou o preço dos passes sociais à evolução do custo dos combustíveis; apresentou um plano para sanear as empresas públicas de transporte que introduzia prémios e critérios de gestão por metas; lançou a ideia singular para uma expansão do Metro de Lisboa que serviria os bairros históricos da capital.

Um TGV e duas pontes em véspera de eleições

Já nos últimos dias como ministro, e com eleições marcadas, não resiste a uma tentação comum aos políticos e anunciou o projeto para a linha de TGV entre Lisboa e Porto (em 2003, o Governo de Durão Barroso tinha anunciado quatro ligações de alta velocidade, três com Espanha e uma interna). O traçado combinava troços novos e partes modernizadas da Linha do Norte. Era um investimento de 3,8 mil milhões de euros para ligar as duas cidades em 1h35 minutos até 2012 e  que envolvia ainda a construção de uma nova travessia (ferroviária) sobre o Tejo, que seria provavelmente no eixo Chelas/Barreiro. Antes foi estudada, e afastada, a possibilidade de o TGV entrar pela Ponte 25 de Abril, porque limitaria um serviço ferroviário de alta prestação pretendido.

Mas não ficou por aqui. Com base num parecer do Conselho de Obras Públicas, António Mexia anunciou ainda a construção de uma ponte (ou túnel) rodoviária entre Algés e Trafaria, uma velha aspiração da concessionária Lusoponte que seria financiada por fundos privados e receitas de portagem.

O tempo não permitiu avaliar se seriam decisões fundamentadas, ou sequer executáveis (como o metro ligeiro nas colinas de Lisboa). José Pacheco Pereira, no programa da TVI24 “Circulatura do Quadrado”, recordou esta semana o anúncio onde Mexia propôs uma nova travessia sobre o Tejo como sendo “completamente impreparado”: “Não sabia se era por túnel, se era por ponte, onde é que começava e onde acabava. Essa conferência, dada supostamente como ministro das Obras Públicas, foi uma farsa eleitoral que desqualifica quem a faz”.

Quando o confrontaram com o timing político destas decisões, o então ministro argumentou que seria “insustentável” adiar a tomada de decisões sobre a gestão da mobilidade das pessoas”, sobretudo quando são projetos que demoram anos a concretizar-se.

Muitas destas decisões foram revertidas pelo PS em 2005. Mas algumas ficaram, como a escolha de António Ramalho, gestor que também vinha da banca e estava a trabalhar para a rede de alta velocidade, para a presidência da CP, as negociações que levaram a TAP a comprar a Portugália ao Grupo Espírito Santo, e o projeto da ponte Chelas/Barreiro ligado ao TGV que acabou por não sair do papel.

A passagem de Mexia pelo Governo ficou marcada por uma decisão dramática tomada em poucas horas numa sexta-feira à noite: o encerramento do túnel ferroviário do Rossio, por onde chegava a maioria dos comboios da Linha de Sintra. Foi a resposta a um relatório do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) que alertava para uma deficiência estrutural no túnel com risco para a segurança. O problema era conhecido e já há muitos anos que a gestora da rede queria fazer obras neste túnel, mas não se entendia com a CP por causa da perturbação nos horários. A situação ter-se-á agravado, segundo a Refer.

A proposta de encerrar o túnel recebeu luz verde do secretário de Estado, Jorge Borrego, e também do ministro António Mexia, depois de a comunicar a Santana Lopes. O primeiro-ministro ainda terá perguntado se seria possível esperar por segunda-feira para reorganizar a oferta de comboios, mas no Ministério ninguém quis arriscar: a Ponte de Entre-os-Rios tinha caído apenas quatro anos antes.

Apesar de admitir que “não havia nada que impedisse que o túnel continuasse a laborar”, o então ministro sublinhou que havia um risco numa zona de 40 metros. “Seria necessário intervir. Porque deveríamos adiar a intervenção se era necessária?” Depois de uma madrugada a refazer os horários com as empresas de transportes, no sábado, 23 de outubro de 2004, o túnel fechou. Só reabriu mais de três anos depois, com uma grande derrapagem nos custos e no calendário previstos para a obra.

Quando é aprovado em Conselho de Ministros o ajuste direto desta obra por 50 milhões de euros, dada a “extrema urgência”, o Governo de Santana Lopes já tinha os dias contados. A demissão acontece em novembro e as eleições são em fevereiro do ano seguinte. Mexia fica ao lado do líder do PSD e coordena o programa político que o partido leva a votos. Se ganhasse, estaria na calha para ser super-ministro.

Em fevereiro de 2005, José Sócrates conquista a primeira maioria absoluta para os socialistas. Os tempos eram de mudança, mas nem todas foram previsíveis. Depois do apoio a Santana Lopes, que se demite da liderança do PSD, António Mexia está desempregado e sem aparentes oportunidades de carreira em empresas onde o Estado tinha influência.

De um Governo à direita ao maior cargo da vida com a bênção do PS

No início de 2004, António Mexia foi um dos fundadores do Compromisso Portugal. O movimento de gestores e empresários mais jovens e internacionais opunha-se a visões mais tradicionais da defesa dos centros nacionais que até então dominavam a classe empresarial. O movimento, que tinha como porta-voz António Carrapatoso,  então presidente da Vodafone, defendia também um maior liberalismo económico e queria colocar na agenda as reformas estruturais no Estado que, do seu ponto vista, Durão Barroso não estava a promover.

À data presidente da Galp, António Mexia esteve no movimento inicial, mas não foi um das figuras mais centrais nos trabalhos deste movimento que reuniu no Convento do Beato centenas de pessoas em fevereiro de 2004. Mas foi lá que se cruzou com várias personalidades com quem partilhava alguns conceitos económicos e ideológicos e que tiveram ou vieram a ter alguma influência na sua carreira. Entre eles António Borges, Paulo Teixeira Pinto e Diogo Vaz Guedes.

Terá sido Mexia a propor para secretário-geral do movimento Rafael Mora, o dinâmico partner da consultora de recursos humanos Heidrick and Struggles, que também estava com Nuno Vasconcelos na Ongoing. A consultora ficaria célebre pelo modelo de governo implementado no BCP e que foi o pretexto para o confronto entre Jardim Gonçalves e Paulo Teixeira Pinto. Este modelo foi replicado na EDP quando Mexia foi nomeado e coube à consultora desenhar também o modelo dos prémios de desempenho dos gestores que tanta polémica causou anos mais tarde.

O Compromisso Portugal tem sido apontado como um dos cenários preparatórios para a chamada guerra do BCP, que rebentou em 2007 e que também foi um conflito de gerações e visões empresariais. António Mexia, presidente da EDP há pouco mais de um ano, é visto como um aliado de Paulo Teixeira Pinto. O núcleo à volta de Jardim Gonçalves irá atacá-lo pelo papel central que terá tido na definição uma nova solução de liderança para o banco, e que foi desenhado numa reunião entre alguns acionistas na sede da EDP.

Ainda em exercício de funções governativas, Mexia reencontrou-se com os promotores do Compromisso Portugal, que se reuniram com os líderes dos principais partidos antes das eleições de 2005 para os sensibilizar para a sua agenda reformista e produziram uma avaliação dos programas partidários. Na crítica ao programa do PSD, coordenado por Mexia, reconheceram uma maior clareza nos princípios, valores e compromissos, mas apontaram várias falhas na definição do papel do Estado e na especificação de medidas. No capítulo sobre a reforma do sistema político, concluíram que o PSD “esquece” o tema, enquanto os socialistas apontam caminhos.

Livre depois das eleições de 2005, Mexia terá ponderado ficar na política, tendo admitido que “gostou imenso”  da experiência como ministro. As fotos desse tempo mostram quase sempre um homem descontraído e à vontade no seu papel.

Um perfil publicado pela revista Sábado em 2004, quando foi para o Governo, mostra um outro lado, pessoal e familiar, do executivo de empresas. Desde andar à boleia e servir mesas em restaurantes na Suíça, onde estudou, para ajudar a pagar as despesas, até è relação com a filha então criança e a referência à primeira mulher, que era pianista (António Mexia está atualmente com Guta Moura Guedes, presidente da associação da ExperimentaDesign), Nesse artigo fala-se também da paixão pela música, desde a clássica à pop, e da prática de desportos como o ténis, a equitação ou o ski, apesar de a natação se ter tornado a opção para quem desenvolveu problemas nas costas. Entre os amigos contavam-se artistas, como por exemplo Rodrigo Leão, e há quem se lembre de o ver aparecer de boina basca quando passava pela empresa ao fim de semana.

Mas, tal como aconteceu a outros quadros empresariais e da gestão ligados ao PSD, a carreira política a que nunca fechou a porta não arrancou. Colaboradores próximos admitem que o gestor estaria pouco disponível para fazer aquilo que seria necessário para chegar mais longe. Não era pessoa para andar a distribuir cumprimentos pelos populares.

No verão de 2005, o seu nome é então falado para presidir à Vivo, a operadora móvel brasileira que a Portugal Telecom dividia com a espanhola Telefónica. A ideia terá vindo de Miguel Horta e Costa, o antigo secretário de Estado que contratou Mexia para o seu gabinete e que era à data presidente da PT. Mas a sugestão não reúne o necessário consenso.

A Telefónica, cuja área internacional era então liderada pelo português António Viana Batista (accionista do Observador), torce o nariz à escolha de Mexia. Estava previsto entre os dois sócios que, depois da saída do primeiro gestor português da Vivo, a empresa seria gerida por um brasileiro. Já um perfil publicado em 2017, da autoria da jornalista do Público Cristina Ferreira, indica que quem não quis Mexia na Vivo foi Ricardo Salgado. O então presidente do BES, o maior acionista privado da PT, terá receado o desagrado de Sócrates pela escolha de uma pessoa próxima do Governo anterior.

A proximidade de Mexia com o PSD não impediu que, menos de um ano depois e para surpresa de muitos, fosse nomeado para a maior empresa portuguesa, onde o Estado era o principal acionista. O nome do gestor foi avançado pelos principais acionistas privados da EDP, que aliás já o confirmaram ao Ministério Público. Paulo Teixeira Pinto, então presidente executivo do BCP, foi um dos promotores da ida de Mexia para a EDP, tendo sido apoiado pelo grupo José de Mello e pela espanhola Cajastur.

O Governo de Sócrates, onde Manuel Pinho assumia a pasta da Economia, tinha dado aos acionistas portugueses margem para indicarem o sucessor de João Talone. O gestor tinha feito apenas um mandato na liderança da elétrica. Apesar dos sucessos em dar escala à EDP, a sua estratégia de juntar o gás tinha caído em Bruxelas. Talone era visto como muito próximo do Governo de Durão Barroso e, como o próprio contou no Parlamento, não havia uma relação de confiança com o novo Executivo, em particular com o ministro da Economia, que estaria mais aberto às pretensões da Iberdrola de chegar à administração da elétrica.

Num gesto inédito, o presidente executivo da EDP faz um comunicado ao mercado no início do ano a dizer que não pretende fazer um novo mandato. Nele, alerta para a ausência “inaceitável” de uma tomada de posição pública por parte dos acionistas de referência contra a possibilidade de a Iberdrola chegar aos órgãos sociais da elétrica, um recado para o Governo.

Se parece confirmado que foi proposto pelos acionistas privados da EDP, o nome de António Mexia passou sem resistência no Governo socialista, apesar de haver quem preferisse o presidente da REN, José Penedos, um homem do setor que era também do PS e tinha sido secretário de Estado.

Manuel Pinho e António Mexia já se conheciam do Grupo Espírito Santo. As relações pessoais entre os dois não seriam as melhores quando Pinho chegou a ministro porque terá havido divergências do tempo em que Mexia esteve no banco Essi e Manuel Pinho regressou ao grupo BES em 1995, depois de ter tido uma passagem pelo Governo do PSD como diretor-geral do Tesouro. Mas havia outra afinidade entre os dois: António Mexia foi padrinho do filho de Manuel Pinho. O convite terá chegado por ter emprestado a casa em que vivia em Genebra, na Suíça, para Manuel Pinho e a mulher passarem uns dias.

Os dois iriam estar no centro da investigação judicial que agora levou à queda de Mexia. Mas, até chegar aí, o homem que passou de gestor a ministro e de ministro a gestor outra vez passaria 14 anos à frente de uma das maiores empresas portuguesas.

Na segunda parte deste perfil são contadas as histórias dos 14 anos de António Mexia na liderança EDP.

Ana Suspiro – Observador 12 jul 2020,

“Marroquinos” que, só por um acaso, não falam francês…

Em 16 de Junho de 2020. Os 22 migrantes, que alegam ser de origem marroquina,

Tenho de rectificar um comentário que fiz.Disse achar estranho uma embarcação costeira, atrever-se em alto-mar, no Atlântico, com um motor de 50 CV.

Depois de analisar as imagens, constatei que:A embarcação é de pesca costeira, em madeira, pesa mais de 1 tonelada (1000kg).

Não é de alto-mar.

Depois, disse (presumi) que tinha atravessado o Estreito de Gibraltar.

Falso.

Agora sei que partiu da costa Atlântica de Marrocos.

Agora, vamos fazer contas.

Ora só o casco pesa no mínimo 1000kg, agora temos 22 manfias, como passageiros (vamos calcular cerca de 70kg, cada um), temos mais 1600kg. Acrescentar o peso do motor, o combustível e outros, vamos apontar 600 kg. Já vamos em 3200kg.

Agora expliquem lá, como é que um motor de 18 CV (e não 50CV), faz cerca de 300km, (isto em linha recta) em alto mar, sem terra à vista, sem mapas, sem bússola, sem GPS, sem nenhum sistema de orientação?

Expliquem-me também, como estes “marroquinos”, não sabem uma palavra de Francês?

Não têm documentos (deve ser efeito da guerra em Marrocos), mas têm telemóveis e sapatos da Nike.

Se isto não é, mais um caso de invasão do Espaço Shengem, não sei que dizer.

Muito mal a actuação da Marinha Portuguesa, das Forças da Nato, da Policia Marítima e da Defesa Nacional.

Teve de ser um pescador a “acordar” as Autoridades e dar o alerta.

Pelo jeito, estavam todos a dormir no quartel e ninguém se dignou, olhar para o radar.

É mais que evidente, que esta embarcação, veio a reboque de outra e que foram largados a poucas milhas da costa.

Quem foi?

Mistério!

Não se sabe.

Pudera, os gajos que deviam estar a olhar para o radar, estavam a dormir.

Depois do alerta, pânico geral no quartel.

Intercepção no mar.

Que fizeram?

Mandaram-os sair das nossas aguas (com umas boas coimas, em cima)?

NÃO.

Escoltaram-os até terra, fizeram-lhes testes (que eu nunca fiz), deram-lhes, roupa, comida, refrigerantes, transporte e puseram-os num hotel.

Desconhecido

PS: eu como muitos já vimos filmes de como se faz esta emigração…

UM DIA ISTO TINHA QUE ACONTECER

Está à rasca a geração dos pais que educaram os seus meninos numa abastança caprichosa, protegendo-os de dificuldades e escondendo-lhes as agruras da vida.

Está à rasca a geração dos filhos que nunca foram ensinados a lidar com frustrações.

A ironia de tudo isto é que os jovens que agora se dizem (e também estão) à rasca são os que mais tiveram tudo.

Nunca nenhuma geração foi, como esta, tão privilegiada na sua infância e na sua adolescência. E nunca a sociedade exigiu tão pouco aos seus jovens como lhes tem sido exigido nos últimos anos.

Deslumbradas com a melhoria significativa das condições de vida, a minha geração e as seguintes (actualmente entre os 30 e os 50 anos) vingaram-se das dificuldades em que foram criadas, no antes ou no pós 1974, e quiseram dar aos seus filhos o melhor.

Ansiosos por sublimar as suas próprias frustrações, os pais investiram nos seus descendentes: proporcionaram-lhes os estudos que fazem deles a geração mais qualificada de sempre (já lá vamos…), mas também lhes deram uma vida desafogada, mimos e mordomias, entradas nos locais de diversão, cartas de condução e 1.º automóvel, depósitos de combustível cheios, dinheiro no bolso para que nada lhes faltasse. Mesmo quando as expectativas de primeiro emprego saíram goradas, a família continuou presente, a garantir aos filhos cama, mesa e roupa lavada.

Durante anos, acreditaram estes pais e estas mães estar a fazer o melhor; o dinheiro ia chegando para comprar (quase) tudo, quantas vezes em substituição de princípios e de uma educação para a qual não havia tempo, já que ele era todo para o trabalho, garante do ordenado com que se compra (quase) tudo. E éramos (quase) todos felizes.

Depois, veio a crise, o aumento do custo de vida, o desemprego, … A vaquinha emagreceu, feneceu, secou.

Foi então que os pais ficaram à rasca.

Os pais à rasca não vão a um concerto, mas os seus rebentos enchem Pavilhões Atlânticos e festivais de música e bares e discotecas onde não se entra à borla nem se consome fiado.

Os pais à rasca deixaram de ir ao restaurante, para poderem continuar a pagar restaurante aos filhos, num país onde uma festa de aniversário de adolescente que se preza é no restaurante e vedada a pais.

São pais que contam os cêntimos para pagar à rasca as contas da água e da luz e do resto, e que abdicam dos seus pequenos prazeres para que os filhos não prescindam da internet de banda larga a alta velocidade, nem dos qualquercoisaphones ou pads, sempre de última geração.

São estes pais mesmo à rasca, que já não aguentam, que começam a ter de dizer "não".

É um "não" que nunca ensinaram os filhos a ouvir, e que por isso eles não suportam, nem compreendem, porque eles têm direitos, porque eles têm necessidades, porque eles têm expectativas, porque lhes disseram que eles são muito bons e eles querem, e querem, querem o que já ninguém lhes pode dar!

A sociedade colhe assim hoje os frutos do que semeou durante pelo menos duas décadas.

Eis agora uma geração de pais impotentes e frustrados.

Eis agora uma geração jovem altamente qualificada, que andou muito por escolas e universidades mas que estudou pouco e que aprendeu e sabe na proporção do que estudou.

Uma geração que colecciona diplomas com que o país lhes alimenta o ego insuflado, mas que são uma ilusão, pois correspondem a pouco conhecimento teórico e a duvidosa capacidade operacional.

Eis uma geração que vai a toda a parte, mas que não sabe estar em sítio nenhum.

Uma geração que tem acesso a informação sem que isso signifique que é informada; uma geração dotada de trôpegas competências de leitura e interpretação da realidade em que se insere.

Eis uma geração habituada a comunicar por abreviaturas e frustrada por não poder abreviar do mesmo modo o caminho para o sucesso. Uma geração que deseja saltar as etapas da ascensão social à mesma velocidade que queimou etapas de crescimento. Uma geração que distingue mal a diferença entre emprego e trabalho, ambicionando mais aquele do que este, num tempo em que nem um nem outro abundam.

Eis uma geração que, de repente, se apercebeu que não manda no mundo como mandou nos pais e que agora quer ditar regras à sociedade como as foi ditando à escola, alarvemente e sem maneiras.

Eis uma geração tão habituada ao muito e ao supérfluo que o pouco não lhe chega e o acessório se lhe tornou indispensável.

Eis uma geração consumista, insaciável e completamente desorientada.

Eis uma geração preparadinha para ser arrastada, para servir de montada a quem é exímio na arte de cavalgar demagogicamente sobre o desespero alheio.

Há talento e cultura e capacidade e competência e solidariedade e inteligência nesta geração?

Claro que há. Conheço uns bons e valentes punhados de exemplos!

Os jovens que detêm estas capacidades-características não encaixam no retracto colectivo, pouco se identificam com os seus contemporâneos, e nem são esses que se queixam assim (embora estejam à rasca, como todos nós).

Chego a ter a impressão de que, se alguns jovens mais inflamados pudessem, atirariam ao tapete os seus contemporâneos que trabalham bem, os que são empreendedores, os que conseguem bons resultados académicos, porque, que inveja! que chatice!, são betinhos, cromos que só estorvam os outros (como se viu no último Prós e Contras) e, oh, injustiça!, já estão a ser capazes de abarbatar bons ordenados e a subir na vida.

E nós, os mais velhos, estaremos em vias de ser caçados à entrada dos nossos locais de trabalho, para deixarmos livres os invejados lugares a que alguns acham ter direito e que pelos vistos - e a acreditar no que ultimamente ouvimos de algumas almas - ocupamos injusta, imerecida e indevidamente?!!!

Novos e velhos, todos estamos à rasca.

Apesar do tom desta minha prosa, o que eu tenho mesmo é pena destes jovens.

Tudo o que atrás escrevi serve apenas para demonstrar a minha firme convicção de que a culpa não é deles.

A culpa de tudo isto é nossa, que não soubemos formar nem educar, nem fazer melhor, mas é uma culpa que morre solteira, porque é de todos, e a sociedade não consegue, não quer, não pode assumi-la. Curiosamente, não é desta culpa maior que os jovens agora nos acusam.

Haverá mais triste prova do nosso falhanço?

Mia Couto

segunda-feira, 13 de julho de 2020

O AVENTAL DA AVÓ


O primeiro fim do avental da avó foi proteger a roupa de baixo.

Depois… serviu como luva para tirar a panela do fogão…

Foi maravilhoso para secar as lágrimas dos netos e também para limpar as suas caras sujas.

Do galinheiro, o avental foi usado para transportar os ovos e, às vezes, os pintainhos.

Quando os visitantes chegavam, o avental servia para proteger as crianças tímidas.

Quando fazia frio, à avó servia de agasalho.

Esse velho avental era um fole agitado, para avivar o lume da lareira.

Era nele que levava as batatas e a madeira seca para a cozinha.

Da horta, servia como um cesto para muitos legumes, depois de apanhadas as ervilhas, era a vez de arrecadar nabos e couves.

E, pela chegada do Outono, usava-o para apanhar as maçãs caídas.

Quando os visitantes apareciam, inesperadamente, era surpreendente ver quão rápido esse velho avental podia limpar o pó.

Quando era a hora da refeição, da varanda, a avó sacudia o avental e os homens, a trabalhar no campo, sabiam, imediatamente, que  tinham

que ir para a mesa.

A avó também o usou para tirar a tarte de maçã do forno e colocá-la na janela para arrefecer.

Passarão muitos anos, até que alguma outra invenção ou objecto possa substituir esse velho avental da minha Avó.

Em memória das nossas avós, enviei esta história para aqueles que achei que a apreciarão.


(Tradução e adaptação livre de um texto, em Castelhano, em CITAS LITERÁRIAS).

terça-feira, 7 de julho de 2020

*IRLANDÊS: OS ESCRAVOS BRANCOS ESQUECIDOS*

Eles vieram como escravos: carga humana transportada em navios britânicos com destino às Américas. Eles foram enviados por centenas de milhares e incluíam homens, mulheres e até as crianças mais novas.

Sempre que se rebelavam ou mesmo desobedeciam a uma ordem, eram punidos da maneira mais severa. Os proprietários de escravos pendurariam suas propriedades humanas pelas mãos e incendiariam as mãos ou os pés como uma forma de punição. Alguns foram queimados vivos e tiveram suas cabeças colocadas em lanças no mercado como um aviso para outros cativos.

Nós realmente não precisamos passar por todos os detalhes sangrentos, precisamos? Conhecemos muito bem as atrocidades do tráfico de escravos na África.

Mas estamos falando sobre a escravidão africana? O rei James VI e Charles I também lideraram um esforço contínuo para escravizar os irlandeses. Oliver Cromwell, da Grã-Bretanha, aprimorou essa prática de desumanizar o vizinho do lado.

O comércio de escravos irlandês começou quando James VI vendeu 30.000 prisioneiros irlandeses como escravos para o Novo Mundo. Sua Proclamação de 1625 exigia que prisioneiros políticos irlandeses fossem enviados ao exterior e vendidos a colonos ingleses nas Índias Ocidentais.

Em meados dos anos 1600, os irlandeses eram os principais escravos vendidos para Antígua e Montserrat. Naquela época, 70% da população total de Montserrat eram escravos irlandeses.

A Irlanda rapidamente se tornou a maior fonte de gado humano para os comerciantes ingleses. A maioria dos primeiros escravos do Novo Mundo era na verdade branca.

De 1641 a 1652, mais de 500.000 irlandeses foram mortos pelos ingleses e outros 300.000 foram vendidos como escravos. A população da Irlanda caiu de cerca de 1.500.000 para 600.000 em uma única década.

As famílias foram destruídas porque os britânicos não permitiram que os pais irlandeses levassem suas esposas e filhos através do Atlântico. Isso levou a uma população desamparada de mulheres e crianças sem-tecto. A solução da Grã-Bretanha foi leiloá-los também.

Durante a década de 1650, mais de 100.000 crianças irlandesas entre 10 e 14 anos foram retiradas de seus pais e vendidas como escravas nas Índias Ocidentais, Virgínia e Nova Inglaterra. Nesta década, 52.000 irlandeses (principalmente mulheres e crianças) foram vendidos para Barbados e Virgínia.

Outros 30.000 homens e mulheres irlandeses também foram transportados e vendidos pelo maior lance. Em 1656, Cromwell ordenou que 2.000 crianças irlandesas fossem levadas para a Jamaica e vendidas como escravas para colonos ingleses.

Hoje, muitas pessoas evitarão chamar os escravos irlandeses do que realmente eram: escravos. Eles apresentarão termos como "Servidores contratados" para descrever o que ocorreu aos irlandeses. No entanto, na maioria dos casos dos séculos XVII e XVIII, os escravos irlandeses nada mais eram do que gado humano.

Como exemplo, o comércio de escravos na África estava apenas começando nesse mesmo período. É bem registrado que os escravos africanos, não contaminados pela mancha da odiada teologia católica e mais caros para comprar, eram frequentemente tratados muito melhor do que seus colegas irlandeses.

Os escravos africanos eram muito caros durante o final dos anos 1600 (£ 50 Sterling). Os escravos irlandeses eram baratos (não mais que 5 libras esterlinas). Se um fazendeiro chicoteava, marca ou espancava um escravo irlandês até a morte, nunca era um crime. A morte foi um revés monetário, mas muito mais barato do que matar um africano mais caro.

Os mestres ingleses rapidamente começaram a criar as irlandesas tanto para seu próprio prazer pessoal quanto para obter maiores lucros. Os filhos de escravos eram eles próprios, o que aumentava o tamanho da força de trabalho livre do mestre.

Mesmo que uma irlandesa conseguisse sua liberdade, seus filhos continuariam escravos de seu mestre. Assim, as mães irlandesas, mesmo com essa nova emancipação encontrada, raramente abandonam seus filhos e permanecem em servidão.

Com o tempo, os ingleses pensaram em uma maneira melhor de usar essas mulheres para aumentar sua participação no mercado: os colonos começaram a criar mulheres e meninas irlandesas (até os 12 anos) com homens africanos para produzir escravos com uma aparência distinta. Esses novos escravos “mulatos” trouxeram um preço mais alto que o gado irlandês e, da mesma forma, permitiram aos colonos economizar dinheiro ao invés de comprar novos escravos africanos.

Essa prática de cruzar fêmeas irlandesas com homens africanos continuou por várias décadas e foi tão difundida que, em 1681, foi aprovada uma legislação "proibindo a prática de acasalar mulheres escravas irlandesas a homens escravos africanos com o objetivo de produzir escravos para venda". Em suma, foi interrompido apenas porque interferiu nos lucros de uma grande empresa de transporte de escravos.

A Inglaterra continuou a enviar dezenas de milhares de escravos irlandeses por mais de um século. Registros afirmam que, após a Rebelião Irlandesa de 1798, milhares de escravos irlandeses foram vendidos para a América e a Austrália. Houve abusos horríveis de cativos africanos e irlandeses. Um navio britânico até jogou 1.302 escravos no Oceano Atlântico, para que a tripulação tivesse comida suficiente para comer.

Há pouca dúvida de que os irlandeses experimentaram os horrores da escravidão tanto (se não mais no século XVII) quanto os africanos. Também há pouca dúvida de que aqueles rostos bronzeados e bronzeados que você testemunha em suas viagens às Índias Ocidentais são provavelmente uma combinação de ascendência africana e irlandesa.

Em 1839, a Grã-Bretanha finalmente decidiu por si mesma encerrar sua participação e parou de transportar escravos. Embora a decisão deles não impedisse os piratas de fazer o que desejavam, a nova lei concluiu lentamente este capítulo da miséria irlandesa.

Mas, se alguém, preto ou branco, acredita que a escravidão era apenas uma experiência africana, eles entenderam completamente errado. A escravidão irlandesa é um assunto que vale a pena lembrar, não apagando de nossas memórias.

Mas, por que isso é tão raramente discutido? As lembranças de centenas de milhares de vítimas irlandesas não merecem mais que uma menção de um escritor desconhecido?

Ou a história deles é a que seus mestres ingleses pretendiam: desaparecer completamente como se nunca tivesse acontecido.

Nenhuma das vítimas irlandesas voltou a sua terra natal para descrever sua provação. Estes são os escravos perdidos; aqueles que o tempo e os livros de história tendenciosos esqueceram convenientemente.

Nota histórica interessante: a última pessoa morta nos Julgamentos das Bruxas de Salem foi Ann Glover. Ela e o marido foram enviados para Barbados como escravos na década de 1650. O marido dela foi morto por se recusar a renunciar ao catolicismo.

Nos anos 1680, ela trabalhava como empregada doméstica em Salem. Depois que algumas das crianças que ela cuidava ficaram doentes, ela foi acusada de ser uma bruxa.

No julgamento eles exigiram que ela dissesse a Oração do Senhor. Ela fez isso, mas em gaélico, porque não sabia inglês. Ela foi enforcada.

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( via Monique Ray / Curiosidades históricas)

sexta-feira, 3 de julho de 2020

O Fim do “Milagre Português” e o declínio da mentira!

Num silêncio aparente por parte do vírus, parecia que a situação estava circunscrita e controlada, levando à euforia do “Milagre Português”, como se de uma predestinação divina se tratasse. Pior era Impossível! Entre as muitas pressões por um lado, das associações empresariais e dos sindicatos por outro, ao abrigo da urgência de não se matar a economia traçou-se o destino de uma crónica de uma morte anunciada.

Durante o período da Segunda Guerra Mundial, os Aliados mapearam os buracos das balas nos aviões que foram atingidos pelo fogo Nazi, procurando dessa forma reforçar os aviões nas áreas fortemente fustigadas pela artilharia inimiga para que estes pudessem resistir mais à dureza desses confrontos.

O pensamento imediato foi reconstruir e reforçar as áreas dos aviões que tinham mais pontos vermelhos assinalados (que tinham sido mais atingidos). Teoricamente era uma dedução “lógica”, afinal estas foram as áreas mais afectadas. Mas Abraham Wald, um matemático da altura, chegou a uma conclusão completamente diferente: os pontos vermelhos representavam apenas os danos nos aviões que conseguiam voltar às suas bases.

As áreas que realmente deveriam ser reforçadas deviam ser as zonas onde não havia pontos vermelhos, pois essas eram justamente aquelas onde o avião uma vez atingindo não sobreviveria. Este fenómeno ficou conhecido como Viés de Sobrevivência (distorção na maneira de observar, avaliar e agir em relação à realidade dos factos). Dá-se quando olhamos para as coisas que sobreviveram, quando devíamos concentrar-nos nas que não. E é aqui, que o “Milagre Português” caiu por terra!

Qualquer que fosse o partido que estivesse no actual exercício de funções de governação, nunca estaria suficientemente preparado para uma hecatombe destas e disso são exemplo, as mais variadas abordagens a esta Pandemia, consequência do vírus Covid-19, nos mais diversos Países e suas consequências. E em Portugal, não fugimos à regra passámos por uma abordagem inicial de sensibilização bem conseguida, junto de um comportamento exemplar por parte da maioria dos Portugueses, apreendendo com o que se estava a passar em tempo real nos outros Países, contando internamente com o apoio dos Partidos da coligação que suportam o actual governo, passando pelos partidos da oposição, nomeadamente o PSD, que teve sempre uma atitude responsável, construtiva e de cooperação frente a esta situação difícil em que o Pais mergulhou.

Para além disso, a simbiose era quase perfeita entre o Presidente da República e o Primeiro-ministro. Aparentemente estavam reunidas condições únicas para se fazer um excelente trabalho político, diferente da “politiquice” aproveitando a janela de oportunidades que estas crises abrem. A difícil tarefa de compreender o óbvio! Na gestão deste tipo de crises, importa saber se o somatório das partes é inferior, igual ou superior ao todo, ou seja, se temos o controlo de todas as variáveis e neste caso, era óbvio que não!

Sabia-se que o vírus teria vários picos como qualquer mutante, que estava a apreender esta nova realidade e seria ele, que mais tarde ou mais cedo marcaria o ritmo das nossas vidas, enquanto não se descobrir algo que o neutralize. E é aqui, que entramos na gestão das expectativas! Entre aquilo que as pessoas querem ver, ouvir e a realidade concreta, vai uma grande diferença! A verdade pode ser dura, mas não deixa de ser a verdade.

Num silêncio aparente por parte do vírus, parecia que a situação estava circunscrita e controlada, levando à euforia do “Milagre Português”, como se de uma predestinação divina se tratasse. Pior era Impossível! Entre as muitas pressões por um lado, das associações empresariais e dos sindicatos por outro, ao abrigo da urgência de não se matar a economia traçou-se o destino de uma crónica de uma morte anunciada.

O erro foi partir-se de uma perspectiva ou falta dela, de que a economia existe por vontade própria e está para lá da dimensão do serviço em prol do bem-estar humano, esquecendo-se de que se não houver pessoas ela não existe. Se a tudo isto juntarmos a falta de perspectiva e compreensão da verdadeira dimensão e escala desta mudança de Paradigma que esta em andamento, facilmente se cai no cúmulo do erro - que é aplicar sistematicamente as mesmas fórmulas à espera de resultados diferentes.

Os sinais tinham de ser dados no sentido de restituir alguma confiança e esperança junto da população, dos mais variados quadrantes da sociedade e foram dados, como foi o caso do soundbite - “O Novo Normal”! Comemorações, Celebrações, Espectáculos, Manifestações descontextualizadas começaram a acontecer um pouco por todo o lado, sem uma justificação plausível passaram a ser excepção, violando as regras que foram impostas a todos a bem da contenção da propagação do vírus, como se houvesse cidadãos de primeira e de segunda. Toda esta embrulhada, conjuntamente com a negação da realidade, só veio confundir ainda mais e dividir a opinião pública que já se encontrava saturada e à beira de um ataque de nervos em consequência do confinamento.

Quando os sinais de quem de direito vêm tortos, tarde ou nunca se endireitam! Passámos de “Bestiais a Bestas” rapidamente, esvaziando-se assim, todas as expectativas milagrosas confrontadas com a dura realidade de quem não sabia da missa a metade e que ainda a procissão vai no adro! Tal como na Segunda Guerra Mundial, o fenómeno - Viés de Sobrevivência (distorção na maneira de observar, avaliar e agir em relação à realidade dos factos) que se dá, quando olhamos para as coisas que sobreviveram, quando devíamos concentrar-nos nas que não. Pergunto-lhe a si, que está a viver a actual crise, como é que está a observar as coisas?

VÍTOR NAVALHO

Psicólogo e Presidente da GRACI – Grémio das Artes e Ciência

quinta-feira, 2 de julho de 2020

COMPRE JORNAIS

O jornal impresso em papel, como sempre o conhecemos, realmente não poderá nunca ser substituído pela internet.

A seguir, alguns dos importantes usos do jornal:

    Uso doméstico:

     Cobrir bananas ou abacate para amadurecer.

     Recolher lixo.

     Limpar vidros.

     Dobradinho, serve para alinhar os pés da mesa.

     Embrulhar louças numa mudança.

     Recolher a caca do cachorro.

     Forrar a gaiola do passarinho.

     Cobrir os móveis e o chão antes de pintar a casa.

     Evitar que entre água por baixo da porta.

     Proteger o chão da garagem quando o carro está a pingar óleo.

     Embrulhar o tacho do arroz para o manter quente.

     Fazer palmilhas para os sapatos para os dias frios e chuvosos.

     Matar moscas, baratas e demais insectos.

     Na época da crise económica, usá-lo como papel higiénico, mesmo que seja um pouco duro.

     Uso educativo:

     Bater no focinho do cão quando faz xixi dentro de casa.

     Fazer barquinhos de papel.

     Arrancar um pedacinho em branco para anotar um número de telefone.

    Usos comerciais:

     Alargar os sapatos.

     Encher carteiras de senhora para conservar a forma.

     Embrulhar peixes.

     Embrulhar pregos na loja de produtos para construção.

     Fazer um chapeuzinho para o pintor.

     Cortar moldes para o alfaiate ou para a costureira.

     Embrulhar quadros.

     Embrulhar flores.

    Embrulhar as castanhas assadas

     Uso festivo:

     Acender a churrasqueira ou a lareira.

     Rechear a caixa do presente-surpresa.

     Outros Usos:

     Fazer bolinhas para atirar aos companheiros de classe.

     Fazer uma capinha para o machado ou foice.

     Nos filmes, para os bandidos esconderem o revólver.

     Para te esconderes atrás dele quando não queres que te vejam.

     Ah, … e por último: para ler as notícias !

     Alguém consegue fazer isto tudo com o computador?

    Usar molhado, para misturar com gesso, para formas

Afinal o Infarmed mudou mas foi para Enfardamed.

Aqui há tempos foi notícia que o governo de António Costa pretendia mudar o Infarmed para o Porto. Naquele que terá sido um, creio que singular, caso de incumprimento de uma promessa governativa, o Infarmed permaneceu bem quietinho em Lisboa. Entretanto, na semana passada, constatámos que, afinal, houve efectivamente uma mudança na Autoridade Nacional do Medicamento. Só que não se tratou de uma mudança de localização, mas antes de uma mudança de designação. Depois de, na última reunião semanal sobre a Covid-19 lá realizada, António Costa ter chegado a roupa ao pêlo da Ministra da Saúde, o Infarmed passou a ser conhecido como Enfardamed.

Sobre este incidente, a ministra Marta Temido afirmou que “se o Primeiro-Ministro puxou as orelhas à Ministra da Saúde teria certamente razão”. Portanto, a ver se percebi. Marta Temido não tem a certeza de ter sido vilipendiada pelo Primeiro-Ministro mas, na dúvida, e caso tenha de facto enfardado, considera que foi justíssimo. E mesmo que desta vez não tenha feito nada de mal, não importa. O correctivo aplicado por António Costa fica já em carteira, por conta de patacoadas vindouras. É incrível como, mesmo numa polémica em que calha os dois membros do Governo envolvidos não serem familiares, continua a parecer que estamos perante um típico caso de violência doméstica.

O certo é que, a juntar àquele episódio na campanha para as Legislativas em que António Costa quis agredir um idoso, desta feita o Primeiro-Ministro fustigou a Ministra da Saúde. Ou seja, tanto para ministras que desejem permanecer à frente da pasta da Saúde, como para os velhinhos, António Costa é uma ameaça muito mais aterradora que a própria pandemia de coronavírus. Aliás, nos futuros compêndios de História de Portugal figurará, não a ministra Marta Temido, mas sim o implacável chefe de governo António Costa, O Temido. E receio bem que, como para a Covid-19, também para esta outra maleita estejamos bastante longe de descobrir a vacina.

Embora dê razão ao Primeiro-Ministro quando se queixa da falta de clareza dos dados que os técnicos de saúde lhe têm fornecido. Então se António Costa, que tem de dominar toda a sorte de informação de molde a tomar decisões sobre a vida de milhões de pessoas, ainda não foi sequer informado pelos técnicos de saúde que os antibióticos não servem para matar vírus, como é que querem que ele tome boas decisões? Primeiro deixem o homem completar a lição introdutória do manual “Covid-19 para Totós” e, então sim, exijam-lhe medidas que façam sentido.

E foi precisamente à conta de toda uma miríade de decisões parvas que, neste momento, Portugal possui o segundo pior rácio de contágio da Europa. Resultado, os únicos turistas que vamos receber este Verão são mesmo os planteis das equipas que vêm disputar a Liga dos Campeões. Agora, é óbvio que há inúmeros países europeus a manipular os números de contágios para nos roubarem turistas. Felizmente, qual António Costa e Silva gizando planos para 10 anos em 2 dias, também eu idealizei um estratagema para resolver o problema do turismo português, mas em escassos 17 segundos. A solução é muito simples: demitir a directora da DGS e a Ministra da Saúde e trocá-las por dois taxistas, daqueles que fazem serviço no Aeroporto de Lisboa. Se lá fora andam a aldrabar nos números para nos prejudicar, levavam logo com os novos governantes-fogareiros: com a criatividade deste meninos ao nível do manuseamento do taxímetro, aí sim, também nós manipulávamos números para roubar turistas, mas à séria.

Tiago Dores

https://observador.pt/opiniao/afinal-o-infarmed-mudou-mas-foi-para-enfardamed/

segunda-feira, 29 de junho de 2020

Um muçulmano é um árabe? Não

Um árabe não é um muçulmano, islâmico não é o mesmo que um islamita, nem um jihadista. Entenda onde é que estes termos se afastam e aproximam.

Os atentados terroristas que mataram 129 pessoas em França (em 2015) reacenderam a discussão sobre as relações entre o Ocidente e o mundo árabe. É dele que chegam palavras que são facilmente confundidas: porque um árabe não é necessariamente um muçulmano e dizer “islâmico” não é o mesmo que dizer “islâmica”. Eis as diferenças entre estes e outros termos.

O mundo árabe

Por norma, quando utilizamos a palavra “árabe” não fazemos a diferenciação entre a origem geográfica e a origem linguística do termo. O que acontece é que chamamos árabes a todos os que residem num dos 10 países da Península Arábica e aos países onde, embora não estejam inseridos nesse território, a maioria da população fala árabe. Em suma, são 21 países que têm maioria muçulmana. Em conjunto com o Estado Palestino compõem a Liga Árabe.

O termo “árabe” não tem carácter religioso, mas sim cultural: refere-se a todos os que partilham algum costume ou ritual relacionado com o idioma árabe, que nasceu na Península Arábica. O árabe é o idioma oficial dos países que compõem essa península, assim como de mais alguns países de maioria muçulmana, mas não todos. É também a língua oficial do Islamismo, a religião que se rege pelo Corão.

Árabes da península da Arábia

Aqui existem sete países – Arábia Saudita, Bahrein, Emirados Árabes Unidos, Kuwait, Omã, Qatar e Iémen -, todos geograficamente incluídos na península da Arábia e tendo o árabe como língua oficial. Todos eles são também países muçulmanos.

Árabes que não pertencem à península da Arábia

Há mais 14 países em que o árabe é a principal língua oficial e ficam fora da península arábica: Mauritânia, Marrocos, Argélia, Tunísia, Líbia, Egipto, Sudão, Djibouti, Somália, Jordânia, Líbano, Síria e Iraque, para além da Autoridade Palestiniana. Nem todos os que nasceram ou vivem nesses países podem ser considerados árabes – há, por exemplo, importantes comunidades berberes em Marrocos e na Argélia, aguerridas minorias curdas na Síria e no Iraque, para além dos drusos do Líbano e da Síria. Também não são todos muçulmanos, podendo existir importantes comunidades cristãs (como os coptas no Egipto ou os maronitas no Líbano), ou ainda influentes elites judaicas (caso de Marrocos). Por fim há também uma importante minoria árabe que vive em Israel.

Países muçulmanos que não são árabes

Os países de maioria muçulmana não-árabes são em maior número que os árabes e, sobretudo, são muito maiores em população. Espalham-se pela África sub-sariana, pela Europa (Albânia e Bósnia-Herzegovina), pela antiga União Soviética e pela Ásia, onde se localizam os três países muçulmanos com mais população: a Indonésia, o Bangladesh e o Paquistão.

Países com minoria muçulmana considerável

Assume-se que os países com minoria muçulmana considerável são aqueles em que mais de 20% da população é muçulmana. Apesar de a população muçulmana na Índia ser inferior em percentagem a esse valor, este país está incluído na lista porque tem quase 175 milhões de muçulmanos (segundo os dados de 2004 da CIA World Fact Book), o que faria dele o segundo país muçulmano mais populoso do mundo, logo a seguir à Indonésia.

O mundo muçulmano

Muçulmano é todo aquele que se rege pelo Islamismo, a religião cujo profeta é Maomé e tem como livro sagrado o Corão. A palavra muçulmano deriva do termo árabe “aslama”, que significa “submetido a Deus”. O muçulmano está para o Islamismo como o cristão está para o Cristianismo.

E assim como este último está dividido por vários ramos (católicos, protestantes, ortodoxos), também os muçulmanos podem pertencer a uma vertente específica do Islamismo, dividindo-se em dois grandes ramos, os sunitas e os xiitas. Dentro destes ramos existem ainda outras variantes mais específicas e localizadas.

Ser muçulmano e ser árabe não é pois sinónimo. Dentro dos países árabes há quem não siga o Islamismo e, portanto, não seja muçulmano. Há, por exemplo, árabes cristãos: no Líbano chamam-se maronitas e no Egipto coptas ortodoxos.

Em África, os países muçulmanos não árabes – e com costumes tipicamente africanos – são 18: Benin, Burkina Faso, Camarões, Chade, Costa de Marfim, Gabão, Gâmbia, Guiné-Bissau, Mali, Moçambique, Níger, Nigéria, Senegal, Serra Leoa, Somália, Sudão, Togo e Uganda. Alguns destes países têm constituições laicas, mas neles os residentes muçulmanos têm uma voz muito activa.

Mesmo dentro dos países árabes, nem todos são muçulmanos: os berberes e os curdos são dois exemplos. Os berberes são maioritariamente muçulmanos mas não se assumem como tal e designam-se de “imazighen”, que significa “homem livre”. Por sua vez, os curdos, com origem no Curdistão, região que inclui territórios do Iraque, Irão, Síria, Turquia, Geórgia e Arménia, a maioria é sunita e 1/3 da população yazdanita, religião monoteísta praticada sobretudo antes da islamização na Idade Média.

Muçulmanos na Europa

O país europeu (se assim o podemos designar) com maior percentagem populacional muçulmana é a Turquia: dos quase 75 milhões de habitantes, 99% segue o Islamismo. Ainda assim, este país declarou-se oficialmente laico. Mas é nos Balcãs que estão os restantes países muçulmanos da Europa: na Albânia, no Kosovo e na Bósnia-Herzegovina, cerca de metade da população é muçulmana e a outra metade é cristã.

O mundo islâmico… ou islamita?

É importante desde já esclarecer um aspecto: os termos “islâmico” e “islamita” não significam o mesmo. Diz-se “islâmico” tudo o que está relacionado com o islamismo. É, portanto, um termo relacionado com esta religião, cujo profeta e identidade máxima é Maomé e os seus ensinamentos.

Por outro lado, diz-se islamita todo aquele que assume uma visão integralista do Islão, fazendo uma leitura ortodoxa e literal dos textos sagrados e pretendendo impor a toda a vida social, cultural, política e económica aos ensinamentos religiosos e o quadro legal da sharia.

Muitos islamitas defendem os seus princípios de forma pacífica, mesmo que por vezes de forma opressiva, como sucede, por exemplo, na Arábia Saudita. Não devem, portanto, ser confundidos com os jihadistas. Essa palavra, que vem do árabe, significa “aquele que se empenha” e designa os combatentes violentos das facções mais fundamentalistas e radicais do Islamismo.

Ser muçulmano e ser árabe não é pois sinónimo. Dentro dos países árabes há quem não siga o Islamismo e, portanto, não seja muçulmano. Há, por exemplo, árabes cristãos: no Líbano chamam-se maronitas e no Egipto coptas ortodoxos.

Em África, os países muçulmanos não árabes – e com costumes tipicamente africanos – são 18: Benin, Burkina Faso, Camarões, Chade, Costa de Marfim, Gabão, Gâmbia, Guiné-Bissau, Mali, Moçambique, Níger, Nigéria, Senegal, Serra Leoa, Somália, Sudão, Togo e Uganda. Alguns destes países têm constituições laicas, mas neles os residentes muçulmanos têm uma voz muito activa.

Mesmo dentro dos países árabes, nem todos são muçulmanos: os berberes e os curdos são dois exemplos. Os berberes são maioritariamente muçulmanos mas não se assumem como tal e designam-se de “imazighen”, que significa “homem livre”. Por sua vez, os curdos, com origem no Curdistão, região que inclui territórios do Iraque, Irão, Síria, Turquia, Geórgia e Arménia, a maioria é sunita e 1/3 da população yazdanita, religião monoteísta praticada sobretudo antes da islamização na Idade Média.

Muçulmanos na Europa

O país europeu (se assim o podemos designar) com maior percentagem populacional muçulmana é a Turquia: dos quase 75 milhões de habitantes, 99% segue o Islamismo. Ainda assim, este país declarou-se oficialmente laico. Mas é nos Balcãs que estão os restantes países muçulmanos da Europa: na Albânia, no Kosovo e na Bósnia-Herzegovina, cerca de metade da população é muçulmana e a outra metade é cristã.

O mundo islâmico… ou islamita?

É importante desde já esclarecer um aspecto: os termos “islâmico” e “islamita” não significam o mesmo. Diz-se “islâmico” tudo o que está relacionado com o islamismo. É, portanto, um termo relacionado com esta religião, cujo profeta e identidade máxima é Maomé e os seus ensinamentos.

Por outro lado, diz-se islamita todo aquele que assume uma visão integralista do Islão, fazendo uma leitura ortodoxa e literal dos textos sagrados e pretendendo impor a toda a vida social, cultural, política e económica aos ensinamentos religiosos e o quadro legal da sharia.

Muitos islamitas defendem os seus princípios de forma pacífica, mesmo que por vezes de forma opressiva, como sucede, por exemplo, na Arábia Saudita. Não devem, portanto, ser confundidos com os jihadistas. Essa palavra, que vem do árabe, significa “aquele que se empenha” e designa os combatentes violentos das facções mais fundamentalistas e radicais do Islamismo.


Marta Leite Ferreira

17 nov 2015,

https://observador.pt/2015/11/17/glossario-um-muculmano-nao-um-arabe/

sexta-feira, 26 de junho de 2020

Monarquia no PS: D. Costa e Príncipes Herdeiros

Urgem reformas em Portugal que nos elevem para o topo europeu em vez de nos levarem para o fundo do mundo. Tem de haver uma lei a sério, com efeitos imediatos contra o nepotismo.

Na escadaria dos Paços do Concelho de Lisboa há uma escultura a celebrar a república portuguesa e a educação. Em oito anos a vê-la diariamente, Dom António Costa e a sua corte na actual direcção do PS não aprenderam nada sobre serem republicanos e laicos; preferem ser monárquicos e fundamentalistas.

Nesta república semelhante à de Bolsonaro e filhos, Costa sénior para pôr Costa júnior a presidente de junta, trocou esse lugar pelo de deputado com Pedro Cegonho. Não houve um único voto envolvido nestas transacções do regime apodrecido. Tal como ninguém escolheu o rei D. Carlos, nenhum eleitor escolheu quer Dom Pedro Cegonho para deputado da assembleia da república quer Dom Pedro Costa para presidente da junta de freguesia de Campo de Ourique. Para integrar a lista geral de deputados por Lisboa do PS, Cegonho não foi escolhido sequer pelos militantes socialistas que já não contam para nada. Cegonho só foi eleito especificamente pela população para presidente da junta. Costa júnior não foi eleito presidente. Dava era jeito lá em casa do pai Costa o filho ser presidente da junta. Num país falido porque governado há décadas por estes métodos da corte política, de que há de viver o real primogénito sem ser do Estado?

Claro que houve “eleições” como havia no MPLA de José Eduardo dos Santos que também ajudava a filha devido á “competência” dela. Alguns Lisboetas militantes do PS tiveram de pôr a cruz na lista única de candidatos a deputados por Lisboa do PS escolhida por Costa onde Cegonho estava incluído. Isso foi só encenação pois o voto dos militantes só conta quando agrada ao chefe. Por exemplo na Distrital de Braga os militantes votaram por larga maioria para incluírem candidatos de valor na lista de deputados do PS por aquele círculo. No entanto, Costa, removeu da lista de candidatos os que tinham valor e tinham sido eleitos pelos militantes. Não davam jeito a D. Costa: Eram republicanos éticos e podiam não compactuar com arranjos familiares ou caros negócios na TAP, Lítio, BES, SIRESP e Kamov. Assim, como podemos combater o conflito de interesses e lobbies?

Quanto à população, em nenhum círculo eleitoral do país, pode escolher unipessoalmente o seu deputado do PS. Nós portugueses tivemos de votar por atacado em listas distritais gerais de nomes sancionados todos por D. Costa, sem escolher nem saber que deputado nos representa especificamente, como aconteceria numa democracia avançada. Não representando a população, como combateremos a abstenção que põem em causa a democracia?

Esta corte monárquica de Ex jotas partidários, que nenhum eleitor pode escolher unipessoalmente para a assembleia da república ou governo, acumulam cargos e respectivos salários como se fossem super gestores. Isto apesar de não terem experiencia profissional relevante fora da política. Cegonho acumulou ser deputado da nação e presidente de junta. Há outros presidentes de juntas de Lisboa que são deputados nacionais e acumulam vários cargos subsidiados pelo estado claro. Esta fidalguia tem uma ganância tão grande por dinheiro do estado que quer lá saber de ter tempo para gerir bem. Desprezam os milhões de cidadãos que deveriam servir e os milhares de portugueses qualificados que poderiam fazer a tempo inteiro cada um dos múltiplos cargos que cada um destes fidalgo tem. Como se não bastassem estes vícios cumulativos no activo político, até os políticos reformados acumulam reforma com subvenção vitalícia. Na corte acreditam mesmo que há 2 pesos e 2 medidas: uma para a plebe outra para eles. Estes filhos de algo – ou quem os puser avante no poder – até podem fazer festas numa pandemia enquanto a população não pode. Que exemplo de democracia, qualificação, dedicação e resultados dá tal classe política?

O nepotismo está conotado com países que são pobres precisamente por não terem os melhores a governar, mas familiares de governantes a terem todos os cargos e privilégios sem saber gerir nada. Pode-se argumentar que num país rico como a América actual há também nepotismo com Trump a orientar a filha e o genro lá na Casa Branca. Isso é condenável, como outras coisas em Trump, mas Trump e a família já eram ricos antes da política. Nem a filha nem o genro auferem salários do estado. Por contraste, devido à política, na corte de Costa ascenderam socialmente, vivendo bem acima da média salarial portuguesa. Vários amigos de Costa nos negócios custam-nos milhares de milhões. Tudo o que seja parente e sobrinha de Carlos César está no governo nacional ou regional e empresas do estado independentemente do mérito ou qualificações (curiosamente na História já Cícero nos tinha alertado que depois do César original, Júlio, seria destruída a república e os imperadores passariam todos a ser familiares de César). Os irmãos Mendes têm a chefia do parlamento e a responsabilidade máxima pelos nossos impostos, sem qualquer qualificação ou experiencia profissional fenomenal em, por exemplo, políticas fiscais para atrair investimento internacional que gere riqueza. Uma orgia de monarquia e nepotismo maior e mais dispendiosa per capita que a de Trump apesar do país ser mais pobre. Os Portugueses ganham metade do que os Americanos ganham e são taxados o dobro. Enquanto os perdões fiscais vão para a Energia, os portugueses de classe média sofrem perseguições fiscais ou cartas atrasadas para as multas serem inevitáveis. Tudo contado, no final do mês um Americano médio pode ficar com um salário líquido até quatro vezes maior que o de um Português. Boa governação cá e defeitos só lá fora?

Houve um retrocesso civilizacional em Portugal. O PS de D. António Costa Bolsonaro dos Santos Trump, de novo rei de Portugal e dos Algarves, tornou-se numa espécie de monarquia de sangue não azul, mas onde o sangue de meia dúzia de famílias com garante sempre um bom cargo no estado, no governo, no parlamento, numa autarquia ou numa empresa pública sem qualquer eleição ou avaliação imparcial de resultados. Vieira da Silva pôs a filha a ministra e a mulher a deputada. Ana Paula Vitorino pôs o marido a ministro. Os deputados e governantes Ex jotas partidários já de meia idade põem as mulheres na TAP, na câmara de Lisboa ou no governo. Tanto lhes dá desde que o contribuinte pague tudo e muito. Não são capazes de fundar empresas ou esforçarem-se a trabalhar no privado que não viva do estado. Costa tem uma visão tão limitada para a família (quanto mais para a nação!) que nunca se lembrou de ensinar ao filho “vai qualificar-te, trabalhar no privado ou lá para fora para aprenderes como os outros países ficam ricos.” O plano foi sempre viverem do estado. Isto é ainda pior que a monarquia antiga porque essa preocupava-se em educar os príncipes para governarem. Nem a Rainha de Inglaterra tem o descaramento de orientar a família tanto no estado, sem exigir qualificações e profissões, como no actual PS fazem. Não há portugueses mais qualificados que esta meia dúzia de famílias governantes por direito monárquico?

Urgem reformas em Portugal que nos propelem finalmente para o topo europeu. É necessária uma lei séria e muito mais abrangente que a que existe, contra o nepotismo. A cunha e o favoritismo em Portugal é um problema bem mais grave e com mais danosas consequências para a vida dos cidadãos que noutros países. O país é mais pobre que a França (que legislou forte em 2017 contra o nepotismo) logo a população paga muito mais os efeitos de ser governada por uma monarquia degenerada. As contratações para os cargos de maior responsabilidade têm de ser não por nomeação monárquica de amigos ou familiares de políticos, mas por avaliação criteriosa de currículos, capacidades, méritos e resultados passados. Façam-se contratações da mesma maneira que a Fundação para a Ciência e Tecnologia já faz para atribuir bolsas de investigação, desde o saudoso e grande socialista democrático inteligente Mariano Gago. O grande Gago não escolhia a família e amigos como o pequenino Costa, exigia os melhores e para isso instituía um júri de mérito, internacional e imparcial. A riqueza da democracia faz os países ricos. Se não fizermos reformas assim como eliminaremos os vícios políticos que perpetuam a nossa pobreza?

Para transparência total, o autor destas linhas é há quase 2 décadas um profissional qualificado da indústria farmacêutica internacional que nunca viveu da política. No entanto, é militante do PS desde 1988 por admirar os fundadores heróis laicos e republicanos. Antes do exilio no estrangeiro foi eleito coordenador da secção do PS de Sesimbra e membro de comissão nacional do PS. Com um grupo íntegro e honesto já ganhamos a distrital de Setúbal no passado. Já no exilio, conseguimos montar uma oposição interna em Setúbal a Costa e seus fidalgos locais, os barões Mendes (os cavaleiros da ordem de Santiago, que tem a sua espada inscrita nos símbolos dos concelhos do distrito de Setúbal, devem estar às voltas na campa, por verem tão fraca fidalguia). Agora, mesmo que este autor ou outro/a que não fossem da linha de Costa ganhassem a presidência da distrital de Setúbal e fossem eleitos pelos militantes para integrarem a lista de deputados do PS por Setúbal, como não há democracia no PS monárquico, Costa nunca permitiria a eleição para o parlamento de alguém contra o nepotismo e que exigisse reformas, mérito e resultados. Isto como Costa riscou a lápis azul outros no distrito de Braga e pelo país. Como risca a Ana Gomes de candidata à presidência. Com gente de bem riscada, como não há de a política repugnar a população?

Na corte de Costa além de não serem republicanos também não são laicos. São fundamentalistas religiosos. Como o filosofo-ministro Luc Ferry explicou “as religiões providenciam ilusões exigindo que abandonemos a razão e paguemos o preço de não podermos pensar livremente.” Na direcção actual do PS, incluindo os nascidos nos anos 1970s e mais novos, exigem obediência total à ilusão do divino poder deles invocando até fazerem “milagres” nas finanças e na saúde. A Europa não acredita em tais milagreiros fundamentalistas, fechando-nos as portas dos aeroportos na cara devido ao Covid-19 e exige-nos impostos em troca de ajuda humanitária. Há pobres almas que se não rastejarem perante a corte monárquica e religiosa do PS actual e não abdicarem dos princípios que estiveram na base da fundação PS, perdem empregos. Ora sabemos que no país mal gerido por Costa e seus há décadas, há poucos bons empregos, raros como água no deserto. Por isso que alternativas tem alguns se não serem lacaios cobardes da corte falando só grosso contra quem não tiver poder?

Poder-se-ia argumentar que, no passado, familiares de Soares no PS também tiveram destaque. No entanto, a família Soares já tinha a sua empresa educacional credível e fonte de riqueza fora da política. Era e é dum magnifico calibre intelectual mais próximo da nobreza de alma dos irmãos Kennedy do que da pequenez da obsessão doentia pela cunha e fidalguia de Costa. O Autoconfiante Soares adorava e promovia o debate de ideias diferentes dentro e fora do partido, combateu o comunismo e fez-nos entrar na Europa, galvanizando a nossa qualidade de vida. O inseguro Costa tem pavor da diferença de opinião, aproxima-nos do comunismo e afasta-nos dos padrões éticos e financeiros da Europa. Costa promoveu a expulsão de centenas de militantes do PS. Militantes há décadas no PS não puderam ser candidatos a presidentes das suas câmaras, mesmo tendo sido eleitos pelas concelhias locais do partido. O delito de opinião deles foi terem apoiado Seguro e serem condenados a ter de concorrer nas autarquias fora do PS. Valerá ainda a pena ser militante do PS e acreditar que, depois da tragédia de D. Costa e seus príncipes herdeiros jotas partidários, é possível recuperar no partido socialista a ética laica e republicana e respectiva liberdade de discussão que construa reformas e uma visão estratégica da nação no topo da Europa?

Com Costa igual a Dos Santos ou Bolsonaro, minguou assim para poucochinho o outrora grande PS de Soares, Sottomayor Cardia ou Tito de Morais. O partido já foi republicano e laico, moderado ao centro esquerda e pro-europeísta, combatendo corajosamente quer os ditadores de esquerda quer os de direita. Agora afastou-se dos antigos altos padrões europeus, republicanos e laicos. Tornou-se numa caricatura dos regimes que antes combatia, misto do pior da monarquia com o pior da extrema esquerda e da extrema direita. Afastou do poder os militantes mais pensantes e questionadores, expulsou os mais mobilizadores da população, tirou por completo o poder às bases, reduzindo a militância à insignificância. Costa promoveu à liderança actual uma reduzida e consanguínea monarquia de governantes Ex jotas já de meia idade mais ainda sem profissão a não ser viverem da política. Esta fidalguia tem tiques, censura e resultados económicos parecidos com repúblicas tropicais das bananas quer de esquerda chavista quer de direita pinochetiana. Pode já não haver salvação para tamanha corrupção. Estes nobres sem nobreza só se mantem no poder por aquilo que Noam Chomsky explicou sobre controlo dos media: “se a população não souber que há melhores alternativas não pode votar nelas e pensa que está sozinha no seu desespero e abstenção”. Por quanto mais tempo estes monárquicos do PS não terão oposição externa e calarão na TV e jornais impressos tradicionais lisboetas a oposição interna republicana e reformista?

Pedro Caetano é MPH (Harvard), PgDip (Oxford), PC (London), MS (Michigan), PharmD (Ohio State), MBA (ESSEC), MBA (Mannheim), PhD (Michigan), AA (Cincinnati), Lic. (Lisboa); Ex-Professor de Farmacologia e Epidemiologia na Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa. Atual Director Global na Industria Farmacêutica baseado no condado de Oxford, Reino Unido.


(Artigo alterado às 11h24 a pedido do autor)

Pedro Caetano, no Observador.

Eu não sabia mãe.

Eu não sabia mãe, mas afinal nós é que temos a culpa. Toda a culpa.

Eu não sabia mãe que fazemos filas à porta dos serviços de registo e notariado para obter passaporte ou cartão do cidadão porque, como tão bem esclareceu a senhora secretária de Estado da Justiça, vamos para lá cedo demais e entupimos os serviços antes mesmo de eles abrirem.

Eu não sabia mãe, mas as florestas ardem por causa dos autarcas pouco diligentes, como explicou o senhor primeiro-ministro.

Eu não sabia mãe, mas se não há médicos nos hospitais é porque a Ordem dos mesmos não quer alargar o quadro de formação dos estudantes, como explicou a senhora ministra da Saúde em Março passado.

Eu não sabia mãe, mas se os enfermeiros fazem greve é porque estão em luta contra as medidas do Governo anterior (de Passos Coelho), como explicou o senhor primeiro-ministro. Este Governo só teve quatro anos para alterar essas medidas e por isso ainda não teve tempo.

Eu não sabia mãe, mas o SIRESP falhou por causa da PT, como disse o senhor primeiro-ministro.

Eu não sabia mãe, mas os professores fazem greve porque o Governo anterior (de Passos Coelho) os colocou numa situação de austeridade tão forte, tão forte, tão forte, que nem este Governo consegue repor os rendimentos e a contagem do tempo.

Eu não sabia mãe, mas afinal todas as greves decretadas durante este mandato foram o resultado das decisões do Governo anterior (de Passos Coelho), como explicou o senhor primeiro-ministro em Março passado.

Eu não sabia mãe, mas a falta de comboios ou de barcos é culpa dos trabalhadores que fazem greve às horas extraordinárias, como defendeu o senhor ministro do Ambiente em Junho passado, pois este Governo ao ver que o anterior (de Passos Coelho) tinha cortado no investimento público só agora conseguiu perceber, quatro anos depois, que devia encomendar material circulante.

Eu não sabia mãe, mas se o combustível nos faltar em Agosto é porque não atestámos o carro nem enchemos o número suficiente de jerricãs com carburante para atravessarmos a greve sem sobressaltos, como sabiamente recomendou o senhor ministro das Infra-estruturas e da Habitação.

Ainda bem mãe que há pessoas que nós elegemos para nos recordarem que a culpa é nossa e só nossa. Se não fossem estas pessoas mãe, eu continuaria ignorante pois tu, afinal, não sabes nada nem percebes nada e não conseguiste ensinar-me nada.

Quando eu era pequenino dizias-me que só seria um adulto quando assumisse as responsabilidades.

Ainda há adultos, mãe? (aqui o JD plagiou-me mas eu perdoo)


João Duque – Expresso

quarta-feira, 24 de junho de 2020

Apenas Sensatez e Clareza (Covid - 19)

Parecem-me bons conselhos.

1. «Talvez tenhamos de conviver com a covid-19 por vários anos. Não vamos negar nem entrar em pânico. Não vamos tornar as nossas vidas inúteis. Vamos aprender a conviver com este facto.»

2. «Não podemos destruir o novo coronavírus, que penetra nas paredes das células, apenas com as habituais regras de higiene, como lavar constantemente as mãos. A única coisa que vamos passar a fazer é ir à casa de banho mais vezes.»

3. «Apesar disto, lavar as mãos e manter distância física de dois metros é o melhor método de proteção.»

4. «Se não tem um paciente covid-19 em casa, não há necessidade de desinfectar as superfícies do lar constantemente.»

5. «Embalagens, botijas de gás, carrinhos de compras e caixas multibanco não transmitem o vírus. Lave as mãos e viva a sua vida como sempre a viveu.»

6. «A covid-19 não é uma infecção que se transmita de forma alimentar. Está associada a gotas de infecção, tal como a gripe. Não há risco comprovado de que a doença seja transmitida em alimentos.»

7. «Pode perder o olfato com muitas alergias e infecções virais. A perda de olfato é um sintoma comum em muitas complicações, e não apenas da covid-19.»

8. «Uma vez em casa, não temos necessidade obrigatória de trocar de roupa e de ir tomar banho. A limpeza é uma virtude, não pode ser uma paranóia.»

9. «O coronavírus não está no ar. Trata-se de uma infecção respiratória transmitida por gotículas que só acontece com o contato próximo.»

10. «O ar está limpo. Podemos caminhar pelos jardins, mantendo, naturalmente, a distância física de proteção.»

11. «O sabão normal é suficiente para eliminar o vírus que provoca a covid-19. Sabão antibacteriano nada resove. O corona é um vírus, e não uma bactéria.»

12. «Não precisa de preocupar-se com as entregas de comida em casa, ou mesmo take-away. Mas caso sinta mais confiança, pode aquecer os alimentos no microondas.»

13. «As probabilidades de levar o coronavírus para casa nos sapatos são as mesmas das de sermos atingidos pelo mesmo raio duas vezes no mesmo dia. Trabalho contra vírus há 20 anos e as infecções não se espalham assim, desta forma.»

14. «Ninguém fica protegido do vírus se tomar vinagre, nem sumos, nem gengibre. Podem favorecer a imunidade, mas nunca uma cura.»

15. «Usar máscara por longos períodos interfere nos níveis de respiração e de oxigénio. Use-a apenas, mas necessariamente, quando o distanciamento social for impossível, principalmente em espaços confinados.»

16. «Usar luvas também é má ideia. O vírus pode acumular-se na luva e ser facilmente transmitido se tocarmos no rosto. O que fazer? Aquilo que nenhum virologista se cansará de aconselhar: lavar as mãos regularmente.»

17. «A imunidade é muito enfraquecida ao permanecermos em ambientes fechados. Mesmo se comermos alimentos que aumentam a imunidade. Saia regularmente de casa. Vá a parques, à praia, ao campo. A imunidade é aumentada pela exposição a agentes patogéneos e não por ficar em casa a consumir alimentos fritos, condimentados, açucarados ou bebidas gaseificadas.»”