domingo, 10 de setembro de 2023

A operação imobiliária especial do PCP-

O PCP demoliu uma referência da arquitetura portuguesa, para no mesmo local construir um edifício de sete pisos. Não é um atentado ao património. É sim a operação imobiliária especial do PCP.

Como é possível que num país em que os licenciamentos são um inferno para os cidadãos, um partido possa demolir uma casa considerada um marco na arquitetura portuguesa? Operação especial. Esta é a chave da questão. Tal como a Rússia diz não ter invadido a Ucrânia, mas sim estar a desenvolver uma operação militar especial, também o PCP não se dedica à especulação imobiliária (para mais à custa da destruição de importante património arquitetónico) mas sim à procura duma solução que valorize a cidade, no caso de Aveiro.

Tudo começa nos finais de 1974 quando o PCP ocupou em Aveiro a Casa Aleluia. Para o PCP a coisa não se podia fazer por menos: um projeto assinado por Silva Rocha, a Vivenda Aleluia, tinha sido a residência duma família ligada à cerâmica, a família Aleluia. O seu interior, de que faziam parte importantes peças de cerâmica, reflectia essa ligação.



Em 1974, a Casa Aleluia estava devoluta e antes que o ano acabasse já funcionava ali o Centro de Trabalho de Aveiro, designação que os comunistas dão às suas delegações e sedes.

Em 1974, note-se, os partidos não tinham sedes nem delegações. Conseguiram-nas à custa de ocupações supervisionadas pelo MFA e de contratos-empréstimos negociados sob o receio das ocupações. Também existiram doações e cedências mas basicamente impôs-se a lei do mais forte, não apenas em relação aos proprietários dos edifícios ocupados-alugados mas entre os próprios partidos. E, entre estes, o PCP podia mais. Assim, do modernista Hotel Vitória em Lisboa, que o PCP alugou em 1975 (seria interessante conhecer esse contrato de arrendamento), ao símbolo da chamada Casa Tradicional Portuguesa, que era a Casa Aleluia em Aveiro, o PCP instalou-se no que havia de mais interessante, imobiliariamente falando.

Com a normalização democrática, e num processo replicado em tantas outras ocupações, o ocupador tornou-se inquilino. Até que chegamos ao ano de 2006.

Em 2006 os proprietários da Casa Aleluia e senhorios do PCP anunciaram a sua intenção de demolir a Vivenda Aleluia para, no mesmo local, construírem um edifício de cinco andares. Ainda 2006 não tinha acabado e já a Câmara de Aveiro, então liderada por Élio Maia, independente eleito com o apoio duma coligação PSD-CDS – indeferia por unanimidade o pedido de demolição da Vivenda Aleluia e consequentemente o pedido de viabilidade para um novo edifício com cinco andares a ser construído no mesmo local. A autarquia invocou para este indeferimento um parecer da Comissão Concelhia de Património  e do Instituto Português do Património Arquitetónico (IPPAR) que classificara a "Vivenda Aleluia" como de "interesse arquitetónico".

O PCP considerou a decisão "exemplar" e explanava o seu desejo de ver esta decisão alargada a outros edifícios da cidade de Aveiro. Invariavelmente salientava-se a importância dos painéis de azulejos provenientes da antiga fábrica Aleluia, que faziam daquela vivenda um lugar único, e do esforço do PCP na preservação do edifício – preservação essa em que os senhorios, acusava o PCP, participavam a contragosto.

Em resumo a luta do PCP pela Casa Aleluia em 2006 era como que o prolongamento daqueles dias de Junho de 1975 quando povo em Aveiro cercara a vivenda sede do PCP com o intuito de correr com os comunistas.

Em 2014 – passaram entretanto oito anos – um comunicado da Direcção da Organização Regional de Aveiro (DORAV) do PCP informava que adquirira o edifício onde se encontra instalado o seu Centro de Trabalho, na Avenida Lourenço Peixinho. Por outras palavras, o PCP passara de inquilino a proprietário. Ou, se se preferir o outro lado desta transação imobiliária: uma vez inviabilizada pela autarquia qualquer operação imobiliária, os proprietários optaram por vender a Casa Aleluia aos inquilinos. Qual foi o valor da venda? Em que medida é que esse valor foi ou não afectado pela decisão da autarquia de inviabilizar a demolição da Casa Aleluia? – Ninguém fez estas ou outras perguntas, tanto mais que se considerou que o destino da Casa Aleluia estava assegurado. Nada mais enganador.

Em 2018 o PCP "diligenciou junto da Câmara Municipal para recolha de informação sobre o imóvel e o espaço envolvente e as condições de edificabilidade, de acordo com os instrumentos urbanísticos do município". Começava a operação imobiliária especial do PCP, aquela em que o PCP vai fazer exactamente o contrário daquilo que defendera: não só pretende demolir a Casa Aleluia como, no mesmo local, construir, um edifício. Sim, há uma diferença em relação aos antigos proprietários: em 2006, os então senhorios do PCP queriam construir um prédio com cinco pisos. O PCP sonha mais alto e vai até aos sete. Dezassete apartamentos irão ocupar em altura o espaço da antiga Casa Aleluia. Irão estes apartamentos para arrendamento acessível? Temos mesmo de perguntar, não só por causa da demagogia que caracteriza os comunistas na hora de discutir o arrendamento, mas também porque já não resta nada da Casa Aleluia.

Esta semana, mais precisamente a 7 de Setembro, o que ainda se mantinha de pé da Vivenda Aleluia foi abaixo. Pelo meio ainda se tiveram de ouvir aquelas arengas comunistas em prol da cultura a propósito da entrega dos azulejos da dita casa à autarquia, como se essa não fosse a opção derradeira perante o avançar do camartelo.

E o parecer do  Instituto Português do Património Arquitetónico (IPPAR) que classificava a "Vivenda Aleluia" como de "interesse arquitetónico", e que em 2006 inviabilizou o projeto de demolição-construção dos antigos proprietários? Pelos vistos não tinha qualquer valor. E a sempre tão activa Direção Geral do Património Cultural (DGPC), a quem foi pedida a classificação da Casa Aleluia como património nacional? Recusou. E a autarquia de Aveiro, liderada por Ribau Esteves (PSD/CDS), o que fez, ou, melhor dizendo, não fez? Decidiu não classificar o imóvel como património de interesse municipal.

Como é que em dezassete anos a administração central e local mudou assim de opinião? Sim, admitamos então que não se justificava a classificação da Casa Aleluia como património nacional ou municipal, mas em 2006 o entendimento foi outro. O que mudou na Casa Aleluia entre 2006 e 2023 além de o PCP, que era inquilino, ter passado a proprietário? Temos o direito de saber e o dever de perguntar.

Os comunistas são exímios em impor brutalmente a sua vontade nos períodos em que mandam e, não menos importante, em retirar todas as vantagens da legislação que contestam quando estão na oposição. Ficou para a história o despedimento dos trabalhadores de O Diário, um jornal afecto ao PCP, ao abrigo da legislação aprovada pelo governo de Cavaco Silva, que obviamente o PCP crucificava nas ruas por causa da implementação dessa mesma legislação.

O acontecido com a Casa Aleluia ilustra bem esta táctica do PCP: em 1974, os comunistas impõem a ocupação. Depois usam a lei para se tornarem inquilinos do edifício que tinham ocupado. Em seguida, e sempre no estrito cumprimento do quadro legal, conseguem ser protegidos na sua condição de inquilinos, não só mantendo a sua sede na Casa Aleluia como conseguido que fosse inviabilizado o projeto imobiliário dos então proprietários e senhorios. Quando finalmente se tornam proprietários vêem ser-lhes reconhecidos direitos que tinham sido negados anteriormente a outros. Tudo sempre dentro da lei. A definhar nas urnas, o PCP consegue não só demolir a Casa Aleluia – que quando lhe deu jeito defendeu como uma extraordinária referência arquitectónica – como se vai dedicar aos investimentos imobiliários. É em casos como este que se vê o poder da esquerda. Um poder que não tem correlação com o voto.

A dissociação entre os actos, as palavras e as alegadas boas intenções dos comunistas é um dos maiores embustes do século XX que, contra toda a racionalidade, se mantém vivo no século XXI.

Portugal, como muitos outros países, não tem qualquer monumento às vítimas do comunismo. Daí que me parece adequado que o edifício que vai ser construído no local onde existiu a Casa Aleluia se torne um símbolo do Embuste do Comunismo.

PS Acode-me uma dúvida inquietante: terá o PCP algum projeto para o Hotel Vitória? Sim, o PCP é de há muito o proprietário deste magnífico edifício assinado por Cassiano Branco de que (como não?) se tornaria inquilino em 1975. Se o PCP estiver com dificuldade em arranjar argumentos para legitimar uma qualquer intervenção no seu Centro de Trabalho da Avenida da Liberdade pode invocar que o edifício precisa de ser desnazificado pois naqueles anos em que o centro de Lisboa era um ninho de espiões, o então muito confortável Hotel Vitória gozava da preferência dos agentes do Eixo.

Observador


quinta-feira, 7 de setembro de 2023

Mozilla: “Até os brinquedos sexuais oferecem melhor proteção de dados do que os carros”

 

Por: SØREN KRAGBALLE

Mozilla: “Até os brinquedos sexuais oferecem melhor proteção de dados do que os carros”




Os carros modernos são os piores infratores quando se trata de transmissão de dados confidenciais e privados.

Os proprietários de automóveis modernos praticamente não têm qualquer controlo sobre os dados pessoais que os fabricantes de automóveis recolhem e potencialmente transmitem a terceiros.

“Os carros são oficialmente a pior categoria de produtos quando se trata de proteção de dados privados”, afirma um novo relatório da Mozilla Foundation, uma organização global sem fins lucrativos.

Todas as 25 marcas de automóveis testadas pela organização não cumpriram os padrões mínimos de proteção de dados da Mozilla. Isso inclui marcas como Ford, Toyota, VW, BMW e Tesla.

Ao longo de vários anos, a Mozilla testou e avaliou vários produtos para o processamento dos dados coletados, e a indústria automotiva oferece a menor proteção de todas, escreve The Verge .

84 por cento das marcas de automóveis testadas partilham os dados pessoais dos utilizadores dos automóveis com outras pessoas. Incluindo empresas que revendem dados, bem como potenciais negócios duvidosos.

76 por cento afirmam mesmo ter o direito de revender dados pessoais e 56 por cento. das marcas estão dispostas a compartilhar as informações do usuário com as autoridades e a polícia, se solicitado.

Assim, a protecção de dados das fábricas de automóveis é pior do que com aplicações que têm a ver com saúde mental e fabricantes de brinquedos sexuais – dois grupos que são notoriamente conhecidos pela fraca protecção de dados.

Como adendo ao relatório, a Mozilla também publicou uma visão geral explicando como as montadoras coletam e compartilham dados dos usuários.

Ele pode incluir tudo, desde o nome, endereço, número de telefone e endereço de e-mail do usuário até dados mais íntimos, como fotos, informações de calendário e até detalhes sobre a raça do motorista, informações genéticas e status de imigração.

A Mozilla afirma que as montadoras não cumpriram os padrões mínimos de segurança da organização para criptografia de dados e proteção antirroubo. 

Na verdade, a Mozilla afirma que os aplicativos de namoro normalmente fornecem informações de segurança de dados mais detalhadas sobre seus produtos do que os carros. 

https://finans.dk/erhverv/ECE16415948/mozilla-selv-sexlegetoej-giver-bedre-databeskyttelse-end-biler/?st=1


Um fracasso em toda a linha

 Em 2016, com muita pompa, Costa prometeu a universalização do pré-escolar até 2020. Em 2023, continuam milhares de crianças sem vaga. Pior: os números revelam que muito pouco se alterou nestes 7 anos.

«As crianças têm de estar todos os dias no centro das nossas preocupações. E a sua educação tem de ser a primeira das nossas prioridades, enquanto famílias e enquanto sociedade. (…) Sabemos que as crianças que frequentam o ensino pré-escolar têm maior sucesso escolar. (…) É por acreditarmos profundamente que o conhecimento é a chave para o nosso futuro, que fixámos como objectivo fundamental generalizar o ensino pré-escolar a todas as crianças a partir dos 3 anos de idade. (…)

Não queremos que ninguém fique para trás. (…) É este o caminho que temos de prosseguir, continuando a formar as diversas gerações, melhorando os mecanismos de transferência do conhecimento para as empresas. E a melhor forma de o fazer é aumentando os empregos de qualidade, que ofereçam confiança no futuro à geração mais qualificada que Portugal já formou, e que nunca mais queremos que seja forçada a emigrar. Queremos e precisamos destes jovens. (…)» Mensagem de Natal do Primeiro-Ministro António Costa, 2016

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 As promessas na política servem para eleger um candidato, mas servem também para o julgar após a eleição. São compromissos, rumos e ideias de futuro a que se pode aderir, tal como são metas e objectivos fixados cujo cumprimento compete aos cidadãos avaliar, quando a hora chegar. Em Dezembro de 2016, após um ano de improvável geringonça, António Costa escolheu o conhecimento e a educação como prioridades políticas na sua comunicação ao país, proferida a partir de um jardim-de-infância. À beira de se passarem sete anos sobre esta sua mensagem, é oportuno proceder à avaliação, não do que foi dito, mas do que foi feito.

2No arranque deste ano lectivo 2023/2024, existem ainda crianças sem vaga no pré-escolar. Como a idade é um critério de prioridade, o problema coloca-se sobretudo ao nível das crianças de 3 anos de idade. Quantas crianças estão sem vaga? O Ministério da Educação não esclarece — serão vários milhares de crianças. O compromisso do governo de universalizar o acesso ao pré-escolar às crianças a partir dos 3 anos de idade tinha previsto uma implementação gradual e uma meta temporal: até 2019, o final da legislatura do primeiro governo liderado por António Costa, teria de existir resposta prevista para todas as crianças e, em 2020, a universalização seria uma realidade. Três anos após esse prazo, ainda hoje se está longe de poder assegurar vagas para todas as crianças no pré-escolar.

3Alega o governo que, mesmo não tendo alcançado o objectivo, está-se hoje mais perto de o atingir. Infelizmente, os números contam uma história menos optimista. Usando por referência os dados publicados no último relatório estatístico do Conselho Nacional de Educação, a taxa de escolarização (percentagem de crianças em idade de pré-escolar que frequentam o pré-escolar) pouco se alterou nestes anos: era de 90,8% em 2016/2017; foi de 90,4% em 2020/2021. Os dados do CNE são úteis porque estratificam por idade: em 2020/2021, 78,3% das crianças de 3 anos frequentava o pré-escolar, um valor um pouco inferior a 2016/2017, mas idêntico (78,4%) ao de 2011/2012. Mesmo reconhecendo que a pandemia teve um impacto negativo de cerca de 2 pontos percentuais nestes dados de 2021, e que por isso em 2022 os dados serão ligeiramente superiores, a situação global parece estar relativamente estagnada — e longe da prometida universalização do pré-escolar a partir dos 3 anos de idade.

4Se em termos relativos a situação aparenta estar estagnada, em termos absolutos (número de vagas/crianças) os dados são elucidativos do que efectivamente (não) aconteceu. Ao longo dos últimos anos, o governo tem anunciado a abertura de novas vagas em pré-escolar, dando a entender que tem aumentado a capacidade instalada para receber as crianças. No entanto, o número de crianças matriculadas no pré-escolar em 2016 (259.850 crianças) é praticamente idêntico ao de 2022 (259.030 crianças) — dados retirados do Pordata. E, se recuarmos mais no tempo, constatamos que estes números são inferiores aos de anos anteriores: por exemplo, em 2012, o número de crianças no pré-escolar superou os 272 mil. Ou seja, os números revelam uma dupla falha de gestão. Por um lado, a criação de novas vagas na rede pública (menos de 3 mil) não trouxe mais crianças para o pré-escolar (apenas as transferiu da rede privada), visto que o número total de matriculados em 2022 é igual ao de 2016. Por outro lado, nos últimos 10 anos desapareceram vagas na soma das redes pública e privada, uma vez que em 2012 havia resposta no pré-escolar para muitas mais crianças e esta capacidade instalada, caso se tivesse mantido, seria agora eventualmente suficiente para que nenhuma criança ficasse de fora (porque, analisando a demografia, nasceram desde então menos crianças).

5Em 2016, com muita pompa, António Costa prometeu a universalização do acesso ao pré-escolar até 2020. Em 2023, continuam milhares de crianças sem vaga. Pior: os números revelam que muito pouco se alterou nestes 7 anos. O fracasso é em toda a linha. E, assim, o governo falhou todas as suas metas numa política que o próprio definiu como prioritária. Revela incapacidade, pois claro. Mas revela também como as promessas são lançadas à população de forma inconsequente, gerando expectativas em relação às quais não se observa real compromisso político. Aliás, a universalização do pré-escolar a partir dos 3 anos poderia ter sido atingida se existisse vontade política (nomeadamente, em disponibilização de verbas para o efeito). Não haja dúvidas: a educação serve de chavão útil para decorar discursos, mas não ascende a verdadeira prioridade política.

6Recuar à mensagem de Natal do primeiro-ministro em 2016 tem, pois, este interesse de nos introduzir a uma realidade paralela: um país cor-de-rosa, assente em promessas que não se cumpriram e numa visão para Portugal que não se concretizou. Voltar à realidade pode ser doloroso. Perante este fracasso, as famílias que não conseguirem vaga no pré-escolar ficarão perante o dilema de adiar a entrada dos filhos no pré-escolar (penalizando as suas probabilidades de sucesso escolar), ou de pagar (se o conseguirem) a frequência num estabelecimento privado (cerca de 300 euros mensais). Enquanto as intrigas palacianas animam o debate político, a vida real de milhares de famílias em dificuldades continua sem acesso ao prometido pré-escolar e ao primeiro patamar do elevador social.


Observador
Alexandre Homem Cristo

terça-feira, 5 de setembro de 2023

O Relatório de Atividades de Crime e Execução de 2022 do Departamento de Polícia da Cidade de Nova York

O relatório de atividades criminais e policiais de 2022 do Departamento de Polícia da Cidade de Nova York mostra: Não-brancos cometeram 97,1% dos homicídios e 98,9% dos tiroteios não fatais... Nova York é 32% branca