terça-feira, 8 de agosto de 2023

A defesa da semana com 4 dias de trabalho.

Juliet Schor • TED2022


Tenho estudado o trabalho desde os anos 80, e nunca vi nada como o que está acontecendo hoje. A ansiedade alimentada pela pandemia está a aparecer em todo o mundo. Nos EUA, mais de metade dos empregados relatam que se sentem cheios de <i>estresse</i> durante o dia, o abandono de empregos registrados atingem os quatro milhões por mês. As pessoas estão a ter esgotamentos.
Em resposta, um número crescente de empresas está a oferecer uma semana de quatro dias, ou seja, 32 horas, embora paguem cinco dias. Esta ideia não é nova, mas a pandemia deu-lhe uma velocidade acelerada. Os empregadores estão percebendo que, se podem repensar o local onde as pessoas trabalham, também podem repensar quantos dias estão a trabalhar.
Parece ótimo, mas será realista? Na verdade, é. Ao contrário das políticas em que uma das partes ganha à custa da outra, uma semana de quatro dias pode beneficiar trabalhadores, empresas e a sociedade e até pode ser uma porta de entrada para resolver a alteração climática.
Mas primeiro falamos do local de trabalho. Durante quase 10 anos, as empresas e os governos têm vindo a experimentar reduzir o número de horas sem cortes nos salários. Embora os resultados sejam variados, a investigação mostra que as pessoas sentem menos <i>estresse</i>, dão mais valor ao seu trabalho e têm uma vida melhor fora do trabalho. Na maioria dos casos, são tão produtivos em quatro dias como são em cinco. As empresas também podem encontrar benefícios com uma menor rotação de pessoal e um grupo de mais alta qualidade. Menos esgotamentos cumpridos os custos da assistência à saúde, os erros e trabalho inferior. Com meus colegas, estamos a estudar experiências de semana de quatro dias nos EUA e na Irlanda, com datas marcadas para começar no verão, no Reino Unido, na Nova Zelândia e na Austrália. Temos milhares de funcionários a participarem.
A Healthwise, uma empresa de formação não esperou pelo começo da nossa experiência. Em junho, os funcionários estavam a despedir-se aos montes. Em agosto, implementam uma semana de quatro dias. Seis meses depois, o CEO Adam Husney relata que as pessoas estão muito mais felizes e nunca foram tão produtivas. As demissões e as baixas por doença diminuíram, as receitas aumentaram e a satisfação dos clientes com números registrados. Os funcionários da Healthwise passam as sextas-feiras em atividades com a família, como esportes ou compras. Uma mãe de filhos pequenos relatou que agora consegue ir à pedicura, sem sentimentos de culpa. Uma semana de quatro dias pode ajudar nos cuidados pessoais na gestão do <i>stress</i>diário do racismo sistêmico, do sexismo e do classicismo.
Uma parte importante deste modelo é que, na troca deste dia livre, as pessoas estão dispostas a aumentar a sua produtividade nos quatro dias. Assim, embora possa passar menos tempo a trabalhar, não está necessariamente a realizar menos trabalho. O segredo é a reorganização do trabalho, eliminando as atividades menos produtivas. As reuniões são um alvo principal. Estou a ver toda a gente a concordar. A maioria das empresas protege a frequência e a duração das reuniões e o número de pessoas que as frequentam. Na Healthwise, as pessoas poupam tempo enviando mensagens aos colegas, em vez de telefonemas, o que inevitavelmente inclui alguma conversa social. Marcam tarefas pessoais, como consultas médicas no dia livre. E o ritmo de trabalho na empresa aumenta. "Sejamos sinceros", explicou um, "Deixei de espreitar no Facebook, como costumava fazer." Mas as pessoas adaptaram-se e preferiram ter um dia inteiro livre do que aos bocadinhos.As iniciativas do governo chegam a semelhantes. Em 2015, a cidade de Reykjavik e depois o governo nacional da Islândia se prepararam para oferecer semanas de 36 e de 35 horas, acabando por contratar mais de 2500 funcionários. Os resultados foram espetaculares. O <i>estresse</i>físico e mental baixou enquanto a ética no trabalho, a satisfeita no trabalho, o equilíbrio trabalho-vida, os níveis de energia, tudo melhorou. A produtividade e a qualidade do serviço mantiveram-se ou melhoraram. e a experiência foi considerada neutra em termos de receitas. Hoje, cerca de 85% de todos os empregados da Islândia gozam estes horários ou estão prestes a gozá-los. Os governadores da Espanha e da Escócia anunciaram experiências da semana de quatro dias em que vão subsidiar o pagamento do quinto dia.Uma das razões para estes sucessos é que, com a redução do tempo de trabalho, cada hora se torna mais produtiva. A Noruega e a Dinamarca os dois países da Europa com o menor número de horas de trabalho, em média, em cerca de 1380, aumentaram a produtividade. A França e a Alemanha igualmente. Em contraste, os países de muitas horas como o Reino Unido e a Itália têm uma produtividade muito, muito mais baixa. Os EUA, historicamente, são líderes mundiais de conformidade e provavelmente ainda seriam melhores hoje se o tempo de trabalho não fosse tão alto. Embora as firmas de tecnologia englobem o maior grupo que adotou a semana de quatro dias, as empresas também estão a mudar na banca, nas relações públicas, no <i>marketing </i>e no <i>design</i>, nas organizações sem fins lucrativos, bens de consumo e até uma cadeia de restaurantes.Mas também é verdade, que fazer 100% do trabalho em 80% do tempo não é possível em todo o lado. As manufaturas foram aceleradas já há décadas. Muitos professores e assistentes de bordo precisam trabalhar com vagar, sem intensidade. E, claro, os trabalhadores da saúde na linha da frente duma pandemia precisam de trabalhar menos, em vez de mais.
(Aplausos)
Obrigada aos trabalhadores da saúde.
Aqui, é instrutivo outro esforço do governo. Em 2014, a cidade de Gotemburgo, na Suécia, deu aos enfermeiros o dia de seis horas, numa das suas instalações Como se esperava, a saúde dos enfermeiros e seu bem-estar geral melhoraram, tal como a produtividade e a assistência aos doentes. Mas, nesta experiência, contrataram novo pessoal para as horas que não eram cobertas. O surpreendente foi descobrir que o menor pagamento de baixas por doença e subsídios de desemprego encontraram-se a esses tratamentos adicionais. Este caso dos suecos levanta uma questão mais importante e mais existencial. Quanto tempo devíamos dedicar ao trabalho? Em muitos países, os empregos estão a ser mais exigentes, em vez de menos. E, se pensarmos na poupança, a ideia de que os países ricos precisam de apertar o cinto, assentou raízes. Mas, na realidade, devíamos caminhar na direção oposta, à medida que a digitalização e a inteligência artificial ofereciam a possibilidade de reduzir o tempo de trabalho. No meio da fadiga pandémica, devíamos duplicar os esforços para restaurar a qualidade de vida e o tecido social, especialmente nos países ricos onde já se produz o suficiente para todos terem um bom nível de vida. Esta via tem o valor acrescentado de ajudar a resolver a crise climática. "Como assim?" podem perguntar. Com a semana dos quatro dias, há o impacto evidente da redução dos transportes. Mas se usarmos o crescimento da produtividade para continuar a reduzir as horas de trabalho, apenas nalguns pontos percentuais por ano, podemos criar uma dinâmica de descarbonização a longo prazo. A minha investigação, e como de outros, têm mostrado isto vezes sem conta em diversos países, estados e famílias. Uma das razões é que, quando as pessoas vivem sob <i>estresse</i>, têm tendência a escolher modos de viagem e atividades da vida diária mais rápidas e mais poluentes. Em contraste, quando as pessoas têm mais tempo do que dinheiro, têm tendência a ter uma pegada de carbono mais baixa. Mas a principal razão tem a ver com a dimensão da economia. Se optarem por trabalhar menos, os países estão a optar por não expandir a produção ao máximo, evitando assim emissões adicionais. As histórias de sucesso do carbono como a Alemanha e a Dinamarca têm tendência a ter menos horas de trabalho por ano. A França e os Países Baixos também têm taxas baixas em carbono e tempo de trabalho. A semana de quatro dias é um pagamento adiantado a uma nova forma de viver e trabalhar. E vamos precisar de ajuda do governo se queremos superar as empresas inovadoras que já viram as suas virtudes. Mas à medida que se espalha o fim de semana de três dias, podemos perceber que toda a gente merece o direito a tempo livre. Isso leva-nos à lógica de um rendimento base universal. Porque, sem apoio financeiro, os baixos aguardam não podem tirar o quinto dia. Há muito debate hoje em dia sobre o futuro do trabalho e as oportunidades que oferece. Mas há mais coisas em jogo aqui do que a oportunidade. Temos um imperativo. Um imperativo para enfrentar os desafios do momento atual. A pandemia, o esgotamento e a depressão, as desigualdades de etnias e de rendimentos, a crise climática. Uma semana de quatro dias aborda cada uma dessas áreas. Por agora, estamos a começar empresa a empresa. Mas à medida que se cria um impulso que se vai tornar universal, teremos de fazer a transição da resolução quanto à escassez para apreciar a verdadeira riqueza que representa. A nossa criatividade, a nossa solidariedade e a nossa humanidade.
Obrigada.
(Aplausos)
Helen Walters: Juliet, muito obrigada. Tenho uma pergunta prática para si. Referiu na palestra que as pessoas estavam a aproveitar a sexta-feira. Há alguma recomendação para que as pessoas se cansem de tudo o mesmo dia, ou é uma coisa que as pessoas podem escolher, o dia que querem? Qual é o mecanismo ideal para implementar?
JS: Cada empresa fá-lo-á como melhor funcionar para eles. É uma das coisas que consta na nossa experiência. oferecer formação e garantir com as empresas antes de começarem para perceber se são uma empresa que pode fechar durante um dia. Precisarão de ter serviços disponíveis para clientes permanentes? Por isso, tudo depende, estamos a ver diversos tipos.
HW. Obrigada Julieta.
(Aplausos)

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