sexta-feira, 5 de junho de 2020
sábado, 9 de maio de 2020
A desconfina flor
Bizarramente os meus compatriotas optaram por fazer fila em cabeleireiros e barbearias em vez de se dirigirem, como eu, à sede da CGTP. Um processo de filiação que vale bem mais que um corte de cabelo.
Como todos os portugueses que passaram as últimas semanas em quarentena, saí ontem de manhã preparado para enfrentar as bichas à porta do sítio onde toda a gente queria ir depois de quase dois meses de confinamento.
Bizarramente, ao chegar lá, não tinha ninguém à frente. Os meus compatriotas optaram por fazer fila em cabeleireiros e barbearias, em vez de se dirigirem, como eu, à sede da CGTP. Um processo de filiação que vale muito mais que um corte de cabelo. A trunfa espera bem mais dois ou três dias, eu já estou treinado a não olhar para espelhos. Mesmo importante é não perder os benefícios de pertencer à Intersindical. Nunca se sabe se não volta o Estado de Emergência. Prefiro ser um guedelhudo e passear por onde me apetece, do que um penteadinho que tem de cumprir escrupulosamente todas as regras do isolamento social.
Obviamente, o segundo local onde me dirigi foi ao médico. Depois de 52 dias em casa com uma mulher, 4 crianças e um cão, fui a um o otorrinolaringologista. Neste momento, estou surdo e não consigo falar sem ser aos berros. Sinto-me como um idoso que é capataz numa serração. Que opera dentro de um Hércules C-130. Onde estão a tocar os Moonspell. Com a Dulce Pontes como convidada especial.
O curioso é que, cá em casa, não notámos que estávamos a gritar muito uns com os outros. Só nos apercebemos no dia em que a polícia veio avisar que não podíamos fazer uma festa àquela hora da noite, quando eu só estava a embalar o meu filho com uma canção e umas palmadinhas na fralda.
(Por falar no bebé, tenho pena que, apesar do que a Ministra da Saúde disse, a Igreja mantenha o plano de festejar o 13 de Maio sem peregrinos, por causa do coronavírus – ou seja, desta feita, em vez de trazer pessoas a Fátima, um ser invisível afasta pessoas de Fátima. É que gostava de lá ir prestar homenagem. Nesta quarentena, desenvolvi uma admiração especial por Nossa Senhora. Também ela criou um filho que não tinha crianças com quem brincar. Maria, por causa de Herodes, que mandou matar todos os bebés até dois anos. Eu, por causa desta quarentena que tirou o miúdo da creche e me obriga a passar as 24 horas do dia com ele.
Não aconselho, aturar um pirralho que não tem amiguinhos da sua idade com quem se entreter. É que o meu filho está mesmo a imitar Jesus. Julga que eu sou Deus, porque parece achar que a minha paciência é infinita. E, de certa forma, também transforma água em vinho: desde que fiquei confinado com ele, é raro não estar com um copo de tinto na mão).
Apesar dos gritos, não se julgue que a quarentena foi um mau período familiar. Pelo contrário. Acho que tanto tempo juntos, ainda mais do que o costume, fortaleceu as relações entre todos. Especialmente, devo dizer com surpresa, a minha relação conjugal. Sinto que saímos deste período com um casamento ainda mais sólido. Na adversidade, conseguimos desenvolver uma cumplicidade que está ao alcance de poucos casais. No início, foi difícil. Qualquer coisa que um de nós dizia servia para iniciar uma discussão.
– O que vai ser o jantar?
– “O que vai ser o jantar?”, não é?
– Sim, qual é o problema?
– Podias perfeitamente ter perguntado “o que é o jantar?”, mas tinhas de enfatizar que é no futuro, não é? “O que vai ser”. Vai ser, porque esta preguiçosa ainda não fez nada. Se calhar nem vai fazer, a calona.
– Mas interessa a forma como eu conjugo?
– Ah! “Eu com jugo”! Lá está o menino a fazer-se de vítima. Tem uma canga pendurada, é?
– Não foi nada disso que eu disse.
– Fui eu que ouvi mal. Sou surda, querem ver?
– Não és nada surda.
– Então sou mentirosa. É isso?
Depressa percebemos que assim não íamos durar muito. E, ao longo das semanas, evoluímos. Deixámos de discutir por qualquer coisa que alguém dissesse. Começámos a entendermo-nos, já sabíamos o que o outro estava a pensar. De maneira que passámos a discutir quando ninguém dizia nada.
– O que foi isto?
– Eu não disse nada.
– Não disseste, mas a tua barriga fez barulho. Aí, a roncar de fome, como quem pergunta “o que é que vai ser o jantar?” “O que vai ser”, não é? José Diogo Quintela
Observador
sexta-feira, 7 de fevereiro de 2020
Coronavírus Seguir China. Máquina de censura falha e internet enche-se de raiva com a morte de médico que alertou para o surto do coronavírus.
A reacção dos internautas foi tal que nem a enorme máquina de censura chinesa na internet, a Great Firewall, foi capaz de dar conta das reacções. Publicações tornaram-se virais antes de serem apagadas.
Primeiro o símbolo de hashtag. Depois, os caracteres han. Quero liberdade de expressão: 1,8 milhões de visualizações. Queremos liberdade de expressão: 2 milhões de visualizações. A censura chinesa, rápida a apagar da internet o rasto de manifestações anti-censura ou anti-regime, foi incapaz de reagir em tempo útil. E o seu falhanço permitiu que a indignação com a morte do médico que alertou para o surto do novo coronavírus enchesse a Weibo, a principal rede social chinesa, de protestos.
De cada vez que um hashtag era apagado, surgia outro. Até mesmo a frase “o governo de Wuhan deve um pedido de desculpas ao Dr. Li Wenliang” teve milhares de visualizações antes de desaparecer para sempre no espaço.
▲Li Wenliang alertou para o início do surto. Foi admoestado pela polícia chinesa e obrigado a assinar um documento onde admitia ter violado a lei e "perturbado seriamente a ordem social". Não sobreviveu ao coronavírus.
terça-feira, 21 de janeiro de 2020
Mário Centeno
O ministro das Finanças disse ontem não estar “minimamente preocupado” com as injecções no Novo Banco, referindo-se ao seu impacto na estratégia orçamental do Governo, a propósito de uma notícia do PÚBLICO sobre o facto de o Governo ter em cima da mesa uma injecção final de 1400 milhões de euros no banco. Centeno não está preocupado, mas os portugueses estão e como é o dinheiro deles que alimenta o NB, o ministro devia estar preocupado. Não é de somenos.
Ministro diz que os apoios “são injecções temporárias e não fazem parte da trajectória orçamental” que o “país tem seguido”
“Temos vindo a cumprir [os objectivos orçamentais] ao longo dos anos, não vai ser 2020 que vai ser novidade nesse aspecto”
Mário Centeno Ministro das Finanças
quinta-feira, 10 de outubro de 2019
Morreu Philippe Tome, um dos pais de Spirou
Morreu Philippe Tome, um dos pais de Spirou.
Guionista e ilustrador, fez dupla com Janry e deu a Spirou o que lhe faltava: uma infância.
Philippe Vandevelde, autor belga de banda desenhada que trabalhava sob o pseudónimo Philippe Tome, morreu no domingo, aos 62 anos. Foi um dos pais artísticos do célebre Spirou, o jovem jornalista que vive aventuras num mundo recheado de esquilos, inventores e misteriosas criaturas como o Marsupilami. Fazendo dupla com Janry, Tome deu a Spirou o que lhe faltava: uma infância.
Manuela Silva 1932-2019
Em 1986, juntamente com Alfredo Bruto da Costa, a economista realizou o primeiro grande estudo sobre a pobreza em Portugal. Morreu ontem aos 87 anos.
“Dedicou a sua vida e carreira às causas da justiça social e defendia que a pobreza é uma violação dos direitos humanos. Manuela Silva, professora catedrática do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG), que foi secretária de Estado para o Planeamento no I Governo constitucional, morreu ontem aos 87 anos. Ficará na história como pioneira no estudo da pobreza e desigualdade em Portugal. Nascida a 26 de Junho de 1932, em Cascais, Manuela Silva licenciou-se em Economia pelo ISEG, onde foi depois professora catedrática convidada. Em Julho de 2013, recebeu o doutoramento honoris causa pela Universidade Técnica de Lisboa, tendo sido ainda investigadora honorária no Instituto de Ciências Sociais. Mas foi em 1986 que, juntamente com Alfredo Bruto da Costa, realizou o primeiro grande estudo sobre a pobreza em Portugal. “A ela se deve a coordenação dos primeiros estudos científicos sobre a pobreza realizados em Portugal nos anos 1980. Ao longo da sua carreira publicou diversos livros e estudos sobre a economia e a sociedade em Portugal, nos quais revelou sempre uma profunda preocupação com os problemas do desenvolvimento, com as desigualdades, a injustiça social e as diversas formas de pobreza e de exclusão social”, diz a nota do ISEG”
Obituário - Filipa Almeida Mendes – Publico 09-10-2019
quarta-feira, 9 de outubro de 2019
Manuela Silva 1932-2019
Em 1986, juntamente com Alfredo Bruto da Costa, a economista realizou o primeiro grande estudo sobre a pobreza em Portugal. Morreu ontem aos 87 anos.
“Dedicou a sua vida e carreira às causas da justiça social e defendia que a pobreza é uma violação dos direitos humanos. Manuela Silva, professora catedrática do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG), que foi secretária de Estado para o Planeamento no I Governo constitucional, morreu ontem aos 87 anos. Ficará na história como pioneira no estudo da pobreza e desigualdade em Portugal. Nascida a 26 de Junho de 1932, em Cascais, Manuela Silva licenciou-se em Economia pelo ISEG, onde foi depois professora catedrática convidada. Em Julho de 2013, recebeu o doutoramento honoris causa pela Universidade Técnica de Lisboa, tendo sido ainda investigadora honorária no Instituto de Ciências Sociais. Mas foi em 1986 que, juntamente com Alfredo Bruto da Costa, realizou o primeiro grande estudo sobre a pobreza em Portugal. “A ela se deve a coordenação dos primeiros estudos científicos sobre a pobreza realizados em Portugal nos anos 1980. Ao longo da sua carreira publicou diversos livros e estudos sobre a economia e a sociedade em Portugal, nos quais revelou sempre uma profunda preocupação com os problemas do desenvolvimento, com as desigualdades, a injustiça social e as diversas formas de pobreza e de exclusão social”, diz a nota do ISEG”
Obituário - Filipa Almeida Mendes – Publico 09-10-2019