sábado, 6 de novembro de 2021

Desrespeito das novas regras para anúncios de casas dá multa de 250 a 44 890 euros.

Os anúncios para arrendamento de casas têm novas regras a partir desta quinta-feira e o desrespeito será punido com multa de 250 a 3740 euros para particulares e de 2500 a 44 890 euros para as empresas. Todos os textos publicitários têm de incluir a autorização de uso do imóvel, a tipologia e a área útil. Caso a publicidade seja da responsabilidade de uma empresa de mediação imobiliária, então é obrigatório indicar o número de licença.

Um ministério em “roda livre”.

Rastreios atrasados deixam 4500 cancros por diagnosticar.???

Oncologia é a ponta do iceberg e há muito mais doenças por identificar, alertam médicos e administradores. Utentes com menos 2,8 milhões de idas aos hospitais em 2020 e em 2021 comparativamente com 2019.

A incidência dos cancros da mama, do colo do útero e do cólon e reto está a diminuir. Podia ser uma boa notícia, mas não é. O que está a acontecer é que os doentes não estão a ser diagnosticados por incapacidade do Serviço Nacional de Saúde, nomeadamente dos rastreios oncológicos, profundamente afectados pela pandemia de Covid-19. Entre 2020 e 2021, pelo menos 4422 pessoas com aqueles tumores malignos ficaram por identificar e, consequentemente, por tratar, revela o mais recente estudo para o "Movimento Saúde em dia", apresentado esta quarta-feira. Para muitos, quando o diagnóstico chegar, poderá ser tarde de mais.

"É a ponta do iceberg", alertam a Ordem dos Médicos e a Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares, que integram o movimento criado durante a pandemia, juntamente com a farmacêutica Roche. Além do cancro, há milhares de doentes por diagnosticar com outras patologias como a diabetes e as doenças cardiovasculares. "Isto é apenas o que se pode contabilizar com base em dados públicos", refere Miguel Guimarães, notando que várias sociedades científicas têm vindo a alertar para a redução dos diagnósticos.

Aristides e a eutanásia.

A legalização da eutanásia, que era uma prática recorrente no regime nazi, é uma ofensa à memória de Aristides de Sousa Mendes.

Foi com pompa e circunstância que Aristides de Sousa Mendes recebeu honras de Panteão Nacional. O Ex-Cônsul de Portugal em Bordéus destacou-se pela sua acção humanitária durante a Segunda Guerra Mundial, dando vistos a judeus que, de outra forma, poderiam ter sido exterminados nos campos de concentração nazis. Por este motivo, foi reconhecido, em 1966, pelo Estado de Israel, como “Justo entre as Nações”.

É certo que Sousa Mendes, ao facultar os vistos a quem não se encontrava nas condições previstas para os receber, infringiu as ordens que tinha recebido. Também é sabido que pagou cara essa desobediência: foi demitido da carreira consular. Embora lhe tenha sido facultada uma pensão, a verdade é que era manifestamente insuficiente para garantir a sua sobrevivência, bem como a dos seus 14 filhos. Por isso, para além da humilhação da sua demissão dos quadros da carreira consular do Ministério dos Negócios Estrangeiros, que seu irmão César viria a chefiar, Aristides de Sousa Mendes também padeceu, a nível económico, as consequências do seu acto humanitário, vivendo, até à sua morte, uma dolorosa indigência.

Do caso Sousa Mendes, cuja complexidade histórica ultrapassa o âmbito desta crónica, interessa apenas o dilema moral: o cônsul ou cumpria as instruções que tinha e negava os vistos aos judeus perseguidos, ou lhes concedia esses salvo-condutos, desobedecendo às indicações que lhe tinham sido dadas. Por estar a cumprir ordens, era mínima a sua responsabilidade no extermínio dos judeus que, por esse motivo, não pudessem ser salvos, mas a sua desobediência era razão suficiente para a sua demissão compulsiva, que aconteceu, ficando seriamente ameaçada a sua sobrevivência.

Sousa Mendes, como é óbvio, não ignorava a responsabilidade em que incorria, mas não se escudou nas ordens recebidas, nem na legítima defesa, para optar pela atitude mais cómoda. Nem sequer pôs a subsistência da sua família à frente do direito à vida dos judeus, que só podia proteger com a concessão de vistos não autorizados. Consta que, nesse contexto, terá dito: “Se há que desobedecer, prefiro que seja a uma ordem dos homens, do que a uma ordem de Deus”.

Se Aristides tivesse agido como um escrupuloso funcionário, não teria incorrido, em termos estritamente jurídicos, em falta. Também do ponto de vista ético, se cumprisse os regulamentos vigentes, não cometeria nenhum ilícito, desculpado como estava pela obediência devida aos seus superiores, bem como pela obrigação moral de zelar pelo bem próprio e da sua família. Portanto, se o cônsul em Bordéus se negasse a conceder esses vistos, não teria sido nenhum criminoso, como o não foram, decerto, muitos outros funcionários que, em igualdade de circunstâncias, se limitaram a cumprir com as suas estatutárias obrigações. Mas, tendo desobedecido a essas ordens, prejudicando-se gravemente, tanto a nível pessoal como familiar, em termos profissionais e socioeconómicos, Aristides de Sousa Mendes foi heróico.

Infelizmente, a reabilitação do Ex-cônsul não aconteceu em sua vida. Readmitido, postumamente, na carreira de que foi compulsivamente exonerado, Aristides passou a ser, não obstante outros aspectos menos exemplares da sua vida, uma referência ética para todos os portugueses. O Estado, depois de o honrar com a distinção do Panteão Nacional, não pode agora ignorar, nem contradizer, o seu legado moral.

Esteve bem a Assembleia da República quando homenageou a memória do cônsul português, agora evocado em Santa Engrácia. Mas esta distinção só faz sentido na medida em que o parlamento valorizar a vida humana. Por isso, a legalização da eutanásia é uma ofensa à memória de Aristides de Sousa Mendes.

O Marechal Rommel colaborou na operação Valquíria, que pretendia a eliminação de Hitler. O fracasso do atentado implicou a morte dos conspiradores, mas como o mítico ‘leão do deserto’ era um herói nacional, foi-lhe dada a possibilidade de se matar a si próprio. Caso contrário, seria condenado à morte por um tribunal de guerra, e a sua viúva e filho ficariam desamparados. O marechal, tendo em conta o bem dos seus, aceitou pôr termo à vida – na realidade não se suicidou, porque a sua morte era já certa e inevitável – e teve um funeral de Estado. Mas, quando um general ofereceu à viúva o seu braço, a Senhora Rommel recusou, dizendo: Não é preciso levar tão longe a hipocrisia!

Também fez bem o Chefe de Estado quando remeteu, para o Tribunal Constitucional, a primeira versão do diploma pró-eutanásia aprovado pela Assembleia da República. Certamente, a objecção principal era e é a da inviolabilidade da vida humana, mas também os outros reparos, de carácter mais formal do que substantivo, eram pertinentes e, por isso, obrigaram à revisão do diploma, que iludiu a questão essencial. Em relação ao novo texto, o Professor Paulo Otero, catedrático da Faculdade de Direito, onde foi colega do Professor Marcelo Rebelo de Sousa e do actual Presidente do Tribunal Constitucional, considerou que foi pior a emenda do que o soneto. Foi da mesma opinião a Dr.ª Teresa de Melo Ribeiro, em excelente artigo aqui publicado no passado dia 3. Sendo esta nova versão ainda mais deficiente do que a primitiva, segundo o parecer dos ditos juristas, será de toda a justiça que, mais uma vez, seja chamado a pronunciar-se o Tribunal que tem por especial missão cumprir e fazer cumprir a Constituição, a qual consagra a inviolabilidade da vida humana.

Quer o Tribunal Constitucional se pronuncie sobre a inconstitucionalidade das normas constantes no novo diploma, ou não, o Chefe de Estado tem sempre a última palavra. Como qualquer outro cidadão, tem o direito e o dever de agir de acordo com a sua consciência. Foi, aliás, o que fizeram os deputados, na medida em que os programas partidários sufragados nas últimas eleições legislativas eram omissos sobre este particular e, nesta matéria, não foi imposta a disciplina de voto. Como católico, o Professor Marcelo Rebelo de Sousa é, obviamente, pró-vida – nenhum verdadeiro cristão pode ser a favor da eutanásia – mas esta questão não é confessional, como se provou pelo voto contra dos deputados do Partido Comunista Português. Claro que o Presidente se poderia desculpar com a reiterada votação parlamentar, a eventual não discordância do Tribunal Constitucional, a crise política em curso, a recuperação económica pós-pandemia, etc. Mas estes argumentos, ou quaisquer outros, porventura suficientes para um Pilatos, não bastam para legitimar uma promulgação que seria, inevitavelmente, uma traição à letra e ao espírito da Constituição e a todo o povo português, em especial à ampla maioria que, conhecendo as convicções humanistas do Chefe de Estado, não só o elegeu como, recentemente, o reelegeu.

Promulgar, à pressa, uma lei que legaliza a eutanásia, que não foi referendada pelo povo português, nem suficientemente debatida pela sociedade civil – da nova versão deste diploma nem sequer ao Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida (CNECV) foi dado conhecimento! – e que foi, agora, aprovada à pressão, por um parlamento moribundo, de duvidosa legitimidade política, seria, decerto, levar a hipocrisia longe de mais.

Para a cobardia há sempre razões sem razão: é nos momentos difíceis que se conhecem os heróis. O Cônsul de Portugal em Bordéus soube sê-lo, como o Santo Condestável, que hoje se celebra no nosso país, num contexto particularmente trágico e sofreu as terríveis consequências desse seu acto. O futuro de Portugal depende agora, mais do que nunca, de alguém que conhece bem a Constituição, assim como a nossa História e cultura humanista cristã. Já que não faltam razões jurídicas para vetar um diploma inconstitucional, tem os poderes necessários para legitimamente o fazer e conta com a oração dos crentes e a confiança dos portugueses, espera-se que o Presidente da República, para o bem da nação e da sua alma, saiba honrar o legado moral de Aristides de Sousa Mendes. Chegou a hora de salvar Portugal de uma reforma legislativa que pode conduzir, segundo a CNEVC, à “liberalização incontrolável da ‘licença para matar’ e à barbárie”.

P. Gonçalo Portocarrero de Almada

Observador

sexta-feira, 5 de novembro de 2021

Hino proibido.

O Ministro da Defesa Nacional, mais o militar CEMGFA, proibiram os militares paraquedistas em desfile no dia do exercito , que cantassem o seu hino como habitualmente, que existe há mais de sessenta anos, para além da proibição do uso da Boina Verde.Só hoje é que veio a público qual o motivo para esta proibição.

Existe um partido de esquerda que considera este hino:  HINO RACISTA.

Não divulgaram qual o partido.Já houve quem quisesse alterar a bandeira nacional.

Já existe quem quer demolir o Padrão dos Descobrimentos.

Existe uma cidadã estrangeira deputada na Assembleia da República que quer demolir uma parede por haver uma pintura que considera racista.

Tornou-se normal a palavra PROIBIR.

Depois disto, continuamos todos sentados impávidos e serenos.

À, é verdade, o Salazar é que proibia tudo.

Auditoria às sondagens das autárquicas. Não houve erro, mas “mecanismos” que mudaram opiniões.

Se estas empresas de sondagens não estavam a trabalhar para o governo socialista, com preponderância para o PS e apêndices, parecia!

Inventem agora as desculpas que quiserem… ou afinal são só incompetentes?

O problema não está só na ultima, está nas anteriores com especial incidência nos resultados do PSD e CDS… é significativo…

A auditoria interna realizada pela Intercampus às sondagens pré-eleitorais das últimas eleições autárquicas, que foram muito criticadas, não detectou erros. Assim, o que pode explicar as divergências são “mecanismos” que fazem mudar a opinião das pessoas.

Esta explicação é avançada pelo consultor Luís Valente Rosa que apresentou os resultados da auditoria.

“As sondagens pré-eleitorais foram criticadas, mas as sondagens de boca de urna acertaram na perfeição, como é habitual”, aponta o consultor citado pelo Correio da Manhã (CM).

As sondagens pré-eleitorais foram especialmente criticadas pelo PSD que conquistou a Câmara de Lisboa, com Carlos Moedas à cabeça, quando todas as sondagens davam a reeleição de Fernando Medina como certa.

Portugal. Criminosos não são escrutinados e têm porta aberta para entrar no desporto

A corrupção no desporto é uma matéria cada vez mais complexa. Longe vão os tempos em que se resumia ao pagamento ao árbitro em troca de um resultado. As apostas desportivas vieram dar uma dimensão global a este fenómeno e as entradas de investidores nas SAD podem ser convites ao crime.

Portas giratórias. "A Entidade da Transparência não passa de areia para os olhos"

Susana Coroado, presidente da Transparência e Integridade, braço português da Transparência Internacional, diz que a regulação das chamadas "portas giratórias" nas entidades reguladoras está "bem consolidada". Já na política, muito pelo contrário, as novas regras aprovadas em Junho de 2019, foram-no só para "cumprir calendário". A nova Entidade da Transparência, criada então, foi "areia para os olhos"

Ideias Feitas: Eu é que tenho medo físico da dra. Isabel Moreira

Alberto Gonçalves comenta as declarações da deputada socialista no debate sobre a eutanásia.

https://observador.pt/programas/ideias-feitas/eu-e-que-tenho-medo-fisico-da-dra-isabel-moreira/

Cecília Meireles “vira a página” e diz adeus à vida política.

Lamento que se vá embora uma das melhores parlamentares, que passou pela AR. Com um parlamento digno de dó, e uma baixíssima qualidade de deputados, perder a Cecília Meireles é mesmo uma tragédia.

Devo dizer que não sou apoiante do CDS, nem de algumas das suas ideias, mas a forma clara e sustentada como expõe é digna de admiração.

“Deputada centrista, que está há mais de dez anos no Parlamento, diz adeus à vida política. Cecília Meireles entende que é hora de “virar a página para uma vida nova”.

Cecília Meireles anunciou, em declarações à TSF, que irá abandonar a vida política depois de

concluído o actual mandato parlamentar. É a mais recente centrista a bater com a porta, afastando-se da liderança de Francisco Rodrigues dos Santos.

Apesar de admitir que não irá entregar o seu cartão de militante, a deputada decidiu deixar o Parlamento e não voltará a ser candidata nem a assumir “cargos partidários” em nome do CDS-PP.

Dada a situação que se vive no partido, esta é “a única decisão possível”. “Deixo o Parlamento e planeio virar uma página e começar uma vida nova.”

Para Cecília Meireles, as declarações de Francisco Rodrigues dos Santos, no Conselho Nacional, terão sido a gota de água.

“O presidente dirigiu-se a um grupo de pessoas de que também faço parte, dizendo que fazíamos terrorismo político, que passávamos a nossa vida a defender uma coisa e a fazer outra e que toda esta confusão era por causa de lugares de deputados. Isto são coisas graves de se ouvir e que não podem passar em branco”, explicou à TSF.

Vai mais longe ao afirmar que, por várias vezes, tornou-se “impossível” ter “condições para voltar a ser candidata no CDS ou pelo CDS” a qualquer cargo.

Ainda assim, salientou que “não é sem emoção que ponho um ponto final neste ciclo”, explicando que o CDS fez a “diferença” na vida política nacional, ainda que agora não esteja a “cumprir o seu papel”.


Cecília Meireles vai deixar a vida política, mas continua militante do CDS

Praça Greta Thunberg

Depois de nos despedirmos com um convencional Dia climático justo! chamo um Veículo Ambiental Resiliente de Transporte e sigo em direcção à Unidade de Erradicação da Memória dos Homens Brancos Mortos.


04 nov 2021, 00:19

Iniciou-se no domingo passado, em Glasgow, a Conferência da ONU sobre as Alterações Climáticas. Aí se reúnem os poderosos deste mundo para debaterem as estratégias a seguir com vista a contrariar o chamado “aquecimento global”. As discussões são acompanhadas, como é costume, por protestos, entre o puro e duro e o horrendo estilo “engraçado”, de vários grupos radicais que denunciam a retórica vazia dos líderes mundiais e a sua manifesta falta de vontade de encarar o problema na sua real dimensão apocalíptica. O que se seguirá às palavras dos líderes, afirmam, será nada, perfeitamente nada, pela milésima vez nada. Blá-blá-blá, só blá-blá-blá. “Estão-nos a roubar a nossa infância” dizem, inspirados por Greta Thunberg, alguns barbudos e outros adolescentes dos 7 aos 77 anos. “Podem enfiar a vossa crise climática pelo rabo acima”, disse a maluquinha em pessoa. Eis um espírito livre.

O problema não está, obviamente, na questão ecológica em si. O problema não está sequer na intrínseca falibilidade dos modelos utilizados para prever o futuro em matérias climáticas, assunto sobre o qual dispomos hoje em dia de uma vasta literatura razoavelmente esclarecedora. Tal falibilidade não deve justificar de forma alguma a indiferença perante os problemas ecológicos e funcionar como obstáculo a uma acção decidida, que tenha em conta os outros aspectos do bem-viver dos humanos e que contribua, na medida do possível, para a melhoria da saúde do planeta. O problema começa com a paixão pelos chamados worst-case scenarios, aquilo que um filósofo no seu tempo denominou “princípio do pior”, supostamente legitimados pelo princípio da precaução (se há a mais ínfima possibilidade de risco, devemos concentrar todas as nossas energias em evitá-lo). Tal paixão deu lugar, desde há várias décadas, às mais absurdas previsões, que tudo fizeram para ridicularizar legítimas preocupações. E o problema avoluma-se extraordinariamente com o fanatismo que essa paixão suscita e que o natural conformismo dos media amplifica com a sua consabida ligeireza. A retórica da “salvação” não engana. Se juntarmos esse particular fanatismo (e a sua ignorante amplificação mediática) a todos os outros fanatismos que por aí pululam, o panorama é deprimente para lá do dizível. E infiltra os espíritos, quer o queiram ou não. Não convém nunca subvalorizar a influência das ideias apaixonadas sobre a vida mental dos humanos, sobretudo quando estes gozam de um bem-estar que lhes permite não se concentrarem nos seus problemas mais imediatos e viverem, por antecipação, instalados no futuro. É uma velha e triste história, quase sempre com consequências danadas.

Talvez por causa de tudo isto, acordei ontem para um sonho. Não acordei, notem, de um sonho: acordei para um sonho. Acontece-me mais ou menos uma vez por ano, por razões que ainda estou para saber. Particular conjunção astral? Luminosos raios de inspiração divina? Algum queijo estragado? Um copo a mais? Não sei. Mas também não importa. O que é bom, o que é óptimo, o que é maravilhoso, deve ser aceite sem interrogação ou cepticismo. Apenas com agradecimento.

Acordei, portanto. Portugal era governado por uma coligação vasta e ecuménica e no Governo brilhava com inusitado fulgor o Ministério da Libertação Obrigatória (MLO), que promovia e implantava a ENINDU (Estratégia Nacional para a Igualdade e a Não-Discriminação Universais). Os efeitos da aplicação da ENINDU sentiram-se imediatamente e sob todas as formas em todo o lado. Os costumes, sob uma aturada vigilância das autoridades – o MLO era todo-poderoso –, mudaram, e mudou igualmente a linguagem, que se passou a subordinar integralmente aos princípios da ENINDU. Quase da noite para o dia, o mundo tornou-se uma coisa completamente diferente.

Eu tinha acabado de sair do meu espaço habitacional inclusivo. Dirigi-me, subindo a rua Audériu (antiga rua Nossa Senhora de Fátima) a um templo cívico de abastecimento alimentar. Ao entrar, reparei mais uma vez no letreiro fixado à porta: “Atenção! Este estabelecimento contém ainda embalagens de plástico. Recomenda-se às pessoas sensíveis que não frequentem os corredores indicados com a tabuleta «Crime»”. Comprei o que precisava (por estes dias, precisa-se de pouco – até porque há pouco) e saí de novo para a rua, tendo o cuidado de não me afastar do passeio e de não pisar a zoovia. As zoovias foram uma grande invenção do MLO, fundadas no princípio de um são convívio entre humanos e animais. “As cidades são tanto deles como nossas”, lê-se em grandes cartazes colocados um pouco por todo lado, com a fotografia de uma jovem apresentadora de televisão a lamber o focinho de um leão. Descendo a rua cruzei-me com um crocodilo que, com o seu sorriso franco, me abanou a cauda, e continuei até à Praça Greta Thunberg (antiga Praça Mouzinho de Albuquerque, vulgo Rotunda da Boavista). Maravilhou-me (maravilha-me sempre) a gigantesca turbina eólica que substituiu no seu centro o Monumento aos Heróis da Guerra Peninsular. Tapa um bocadinho a visão do edifício de Rem Koolhaas, rebaptizado Complexo dos Sons Outros/Casa da Alteridade, e do sempre imaculado imóvel do antigo Tabernáculo Baptista, hoje Habitação da Fé dos Seres Sencientes, mas é sem dúvida imponente e não contém qualquer referência ao passado, o que é obviamente fundamental.

Depois deste momento de contemplação e de uma breve incursão à Papelaria Lu (está tudo na mesma, como desde pelo menos 1970, até o nome, excepto que, na montra, Robin DiAngelo ombreia com Allan Kardec) e à antiga Casa S. Miguel (agora Casa ONU-Santo António) – o Talho da Boavista, ao lado, já não existe: transformou-se num Museu do Ódio Biológico –, atravessei a rua Audériu, em direcção à rua Blá-blá-blá. Parei num Espaço de Saúde, onde comprei uns medicamentos de que preciso para contrariar uma excepcionalidade negativa de vitalidade de que padeço e continuei em direcção ao grande edifício dos Roteiros do Empoderamento, outrora o primeiro centro comercial do Porto. O MLO organiza aí visitas guiadas pelos corredores vazios de lojas fechadas. Uma vez fui a uma. A guia, apontando as vitrinas desfeitas, explicava que a salvação do planeta exigia a morte do passado e que o efeito disso na alma humana era perfeito: ela própria não se lembrava de nada. “Foi assim, pelo esquecimento, que eu me empoderei”, concluiu, feliz. A ideia, de resto, encontra-se muito mais desenvolvida nos panfletos, de leitura obrigatória, do MLO sobre a ENINDU.

Mas, desta vez, não entrei. Limitei-me a apanhar um VART (Veículo Ambiental Resiliente de Transporte) em direcção à Unidade de Erradicação da Memória dos Homens Brancos Mortos, onde forneço o que agora se chama Episódios de Não-Transmissão Cognitiva. O livro de base dos meus Episódios é, como o de todos os outros colegas, a “Fragilidade Branca” de Robin DiAngelo, onde se expõe, com toda a clareza desejável, a tese do “racismo sistémico”. Depois, saí para o Momento Teatral. Qualquer que seja o curso, é, por decisão do MLO, imperativa a frequência dos Momentos Teatrais, num recinto próximo à Unidade. Os Momentos Teatrais constam de um diálogo entre dois actores. O diálogo é breve: “- És racista! – Não sou racista! – Dizeres que não és racista é a prova de que és racista! – Mas não sou! – És, mas não sabes! É o segredo do racismo sistémico!”. O diálogo – é só isto, mas repetido vezes sem conta – dura sempre uma hora, mas a saída dos Momentos Teatrais às vezes demora muito mais, porque só se pode sair depois de se admitir junto de um funcionário do MLO, estacionado à porta, que se é racista, e há sempre jovens que continuam a dizer que não são. Eu já sou velho e sou sempre o primeiro a dizer que sim.

E digo-o ainda mais depressa quando tenho medo de chegar atrasado a um jantar combinado com um ente comunicativo positivo, como agora se diz. A dona do espaço de alimentação sustentável anda macambúzia e quase chora quando nos traz a comida. Proibiram-na de cozinhar todos os pratos que dantes fazia e está inconsolável. Os pratos agora não têm nome e são todos iguais. As conversas com o ente comunicativo positivo também se tornaram quase todas iguais. Falamos das grandes vantagens das zoovias, cada vez mais largas. “Dantes eram feitas para esquilos!”, diz ele. “Precisamos de zoovias para elefantes!”, respondo eu.

Depois de nos despedirmos, com um convencional “Dia climático justo!”, chamei um VART para voltar à rua Audériu. Na Avenida Roubaram-me a Infância, não longe da Praça Greta Thunberg, no cruzamento com a rua Roubaram-me o Futuro, aconteceu, no entanto, algo que se tem tornado vulgar, embora a comunicação social (excepção feita à CMTV, verdade seja dita) tenda a ocultá-lo. Saído da zoovia, um tigre siberiano atravessou-se em frente ao carro, provocando uma travagem brusca. O condutor, lívido, seguiu as instruções do MLO, minuciosamente detalhadas nos documentos da ENINDU. Saiu do carro e dirigiu-se ao tigre. Eu fugi a correr para o passeio e consegui escapar, no meio de rugidos e gritos, só com uns pingos de sangue do motorista na roupa. Continuei a correr pela Avenida Roubaram-me a Infância, atravessei a Praça Greta Thunberg o mais depressa que pude e consegui chegar são e salvo ao meu espaço habitacional inclusivo.

Os animais têm dias, pensei – é como nós, não é? Reli, na cama, mais umas páginas de Robin DiAngelo, a reflectir: o que é que se pode acrescentar a isto? Já a tresler, com o sono, as verdades da “Fragilidade Branca”, ainda arranjei espaço para um “momento de esperança”, como manda o MLO: “Isto está melhor, muito melhor, e amanhã melhor estará. As zoovias serão mais largas, os Roteiros do Empoderamento mais vistos, o esquecimento mais perfeito…”.

Foi um sonho? Foi uma premonição? Hoje de manhã, embora ainda estivesse escuro, lá consegui ver, na Rotunda da Boavista, o Monumento aos Heróis da Guerra Peninsular. Nunca gostei tanto de o ter ali. Bebi dois cafés e voltei a espreitar: confirmado! O universo, subitamente, desbravou-se. Ainda posso ir ao Pingo Doce e comprar fruta à Dona Rosália, imprimir e fotocopiar papéis na loja do Sr. Mário no Brasília, almoçar ou jantar com amigos na Cozinha da Amélia e só falar de Robin DiAngelo se me apetecer. Uf! O mundo não é tão mau assim.

Mas o que me alegrou mais foi saber que, mesmo que o sonho fosse verdadeiro, tenho a certeza que, aqui na minha aldeia, a Dona Rosália, da Casa S. Miguel, continuaria a fazer tudo como fez até agora; que o Sr. Mário, idem aspas, limitando-se a mudar o nome da loja para “Copy & Company – Roteiros do Empoderamento”; e que a Amélia continuaria a servir o óptimo rabo de boi – às claras. A coragem do bom-senso é cada vez mais necessária contra as paixões apocalípticas. O meu único problema é comigo e com os meus colegas por esse país (e por esse mundo) fora: francamente, não sei. É que os livros, às vezes, como alguém há muito lembrou, dão fortes pancadas na cabeça. E é fácil, se a pancada for mesmo forte, encontrar nas mais inverosímeis doutrinas todos os sinais de uma verdade absoluta e inquestionável. Duvidam? Olhem para o passado. Ou, até é mais simples – olhem à vossa volta.


PS. Espero que a Greta em Glasgow, ou o Paddy da Web Summit em Lisboa, não anunciem a sua desfiliação do CDS. Isso sim, isso é que seria grave, excessivamente grave, como dizia o outro. E aí é que eu deixava definitivamente de ver televisão.


Paulo Tunhas.