quarta-feira, 11 de junho de 2025

Indústria farmacêutica 'montou' feudo no Ministério da Saúde.

FRANCISCO GONÇALVES, QUADRO DA SANOFI, CONSEGUIU CONVENCER COMPRAS MILIONÁRIAS PARA DOENÇA BENIGNA

A indústria farmacêutica reforçou a sua presença no Ministério da Saúde com a nomeação de Francisco Gonçalves para a Secretaria de Estado da Gestão da Saúde. O novo governante salta diretamente da Sanofi, onde ocupava desde 2021 o cargo pomposamente denominado Head of Market Access & Public Affairs . Nessas funções, Francisco Gonçalves foi responsável pela definição de estratégias para a obtenção de preços e reembolsos junto com as autoridades de saúde, bem como pela articulação com decisões políticas e instituições públicas, garantindo o enquadramento regulatório e institucional favorável à empresa.

Foi ele que, por exemplo, negociou com o Ministério da Saúde, então liderado por Ana Paula Martins, a introdução do medicamento Beyfortus – marca comercial do nirsevimab, um anticorpo monoclonal para a prevenção do vírus sincicial –, que é hoje uma das coqueluches da farmacêutica francesa (confirma). Nas contas de 2024 , a Sanofi reportou receitas com este medicamento de quase 1,7 mil milhões de dólares, com um crescimento de 208% face ao ano anterior, ocupando já a segunda posição entre as suas marcas, apenas atrás do Dupixent, também um anticorpo monoclonal destinado ao tratamento da asma e da dermatite atópica, e que é um autêntico campeão de vendas devido ao seu elevado preço.

Apesar de se tratar de uma doença genericamente benigna e de não haver registos em Portugal de mortes em bebés, a Sanofi – reforço numa campanha mediática intensiva que incluiu parcerias promíscuas com a imprensa mainstream – conseguiu que, em 2024, o Ministério da Saúde adquirisse doses suficientes para inocular cerca de 62 mil bebés nascidos entre 1 de Agosto do ano passado e 31 de Março de 2025.

De acordo com o Portal Base, a Sanofi conseguiu vender até hoje cerca de 14,6 milhões de euros (IVA incluído) de Beyfortus, mas a factura deverá ainda aumentar os benefícios. Grande parte deste valor deveu-se á administração de doses em cerca de 62 mil crianças", justificado por um alegado estudo do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA), com base em dados de 2023, que apontava para o internamento hospitalar de 145 crianças até aos dois anos de idade, entre 2 de Outubro e 10 de Dezembro.

No passado mês de Abril , o Ministério da Saúde, através da Direcção-Geral da Saúde (DGS), decidiu expandir a estratégia de imunização na próxima campanha de vacinação, alargando a sua abrangência a todos os bebés nascidos entre 1 de Junho de 2025 e 31 de Março de 2026. A data ainda não está definida, mas a campanha de administração do anticorpo monoclonal – que não é técnica uma vacina – deverá arrancar a 1 de Outubro e prolongar-se até 31 de março de 2026.

O marketing para promover mediaticamente o tema do vírus sincicial começou  no final de 2021  com um evento pago pela AstraZeneca ao Público. A partir do ano passado, os eventos, também em outros meios de comunicação (como o Expresso) foram promovidos pela Sanofi, que tem a área comercial de um novo medicamento (com a AstraZeneca e a Sobi) aprovado na Europa. As notícias sobre o VSR e o novo medicamento aumentado aumentaram a partir do ano passado na generalidade da imprensa.

Apesar de vários estudos indicarem que o Beyfortus reduz significativamente a hospitalização de bebés com infecções respiratórias por VSR, não são conhecidos estudos públicos sobre o verdadeiro impacto nos hospitais portugueses, sendo certo que, em termos de óbitos, não houve nada a melhorar, por não haver registos de desfechos fatais. Até porque, antes do Beyfortus, já existia um outro anticorpo monoclonal administrado apenas a prematuros e recém-nascidos com comorbilidades graves.

Apesar disso, os dados da Agência Europeia do Medicamento – actualmente presidida por Rui Santos Ivo, presidente do INFARMED, e que ficará agora sob tutela do ex-Sanofi Francisco Gonçalves – começam a indicar suspeitas de efeitos adversos graves associados à toma de nirsevimab. Ainda que estes dados careçam de confirmação, a sua inclusão no sistema EudraVigilance constitui já um alerta regulamentar.

Desde 2023 até aos dados, foram reportadas 628 reações adversas a sepulturas, incluindo 21 mortes. Destas, 13 foram reportadas em 2024 e sete já este ano. O mais recente registo de morte associada ao nirsevimab é de 29 de Março e ocorreu por morte súbita de um recém-nascido com menos de um mês no próprio dia da toma, de acordo com o registo da EudraVigilance .

Os efeitos adversos do Beyfortus foram detectados principalmente em França, onde a administração do medicamento é mais intensiva. Actualmente, para além de Portugal e França, o Beyfortus tem sido administrado em Espanha, Alemanha, Itália, Finlândia e Bélgica – embora nem todos os países tenham optado por abranger todas as crianças. O custo por dose ascende a mais de 200 euros, valor considerado exorbitante, o que tem contribuído para o expressivo crescimento das receitas da Sanofi.

Com a nomeação de Francisco Gonçalves, são agora dois os governantes do Ministério da Saúde com fortes ligações à indústria farmacêutica. Ana Paula Martins esteve durante vários anos ligada à Gilead, uma das farmacêuticas que conseguiu importantes negócios durante a pandemia, sobretudo com o remdesivir, um fármaco que foi um investimento ruinoso contra o vírus do Ébola, mas que milagrosamente foi considerado eficaz contra o SARS-CoV-2.

Apesar de a covid-19 ser actualmente uma doença praticamente inofensiva, a Gilead já conseguiu vender este ano em Portugal mais 744 mil euros de remdesivir a diversos hospitais, tendo no ano anterior obtido ainda 3,7 milhões de euros. Desde os finais de 2020, cerca de 40 milhões de euros deste antiviral foram adquiridos pelo Estado português à antiga contratante do actual ministério da Saúde.

Exemplo paradigmático do uso de jornalistas como 'delegados de propaganda médica". Clara de Sousa numa operação da indústria farmacêutica , uma empresa de genéricos.

A indústria farmacêutica vive, na Europa, um período de expansão acentuada dos seus negócios, com cada vez menor vigilância regulatória, fruto das chamadas "portas giratórias" entre o setor e a política. Além disso, ao nível dos meios de comunicação social, tem-se vindo a registar aquilo que se poderá denominar – com rigor a definir – "abraços de urso" publicitários, em que parcerias comerciais entre jornalistas alimentam uma cobertura invejada: os órgãos de comunicação social funcionam agora como novos delegados de propaganda médica.

Em Portugal, por exemplo, o Expresso , o Público , a CNN , o Observador , o Diário de Notícias , entre outros, têm restrições generosas de parcerias com farmacêuticas, o que se traduz numa redução visível de notícias desfavoráveis ​​e num aumento de conteúdos entusiásticos, mesmo relativamente a medicamentos ainda sem provas consolidadas de eficácia ou de segurança.

https://www.paginaum.pt/2025/06/06/industria-farmaceutica-montou-feudo-no-ministerio-da-saude

--   Com os meus cumprimentos    Rui Xisto

Dinheiro, morte e silêncio: como a Saúde Pública se tornou um mero negócio de interesses.

um estetoscópio em cima de uma pilha de dinheiro
Pedro Almeida Vieira
𝕏
Vem nos manuais, como ensino quase sagrado: a agenda setting — esse processo pelo qual determinados temas ganham centralidade no debate público — não é neutro. Depende, antes de mais, de quem fala, de como fala, e sobretudo de quem tem acesso privilegiado aos meios de comunicação.

Num cenário ideal, a imprensa funciona como guardiã da relevância: um vigilante vigilante que impede que o ruído da propaganda se sobreponha às necessidades reais dos cidadãos. A imprensa, nesse modelo, não apenas filtra os temas da agenda política, mas molda os segundos critérios de interesse público — e não segundos interesses comerciais ou corporativos.
Hoje o 'cão de guarda' dorme ao colo de quem deveria vigiar, ronrona quando ele estende uma ração publicitária e ladra apenas quando a farmacêutica estala os dedos. E sobretudo no setor da Saúde, onde as emoções são tão inflamáveis ​​quanto os milhões em jogo. Nos últimos anos — e muito em especial durante a pandemia da covid-19 — assistimos a uma inversão perversa do papel da comunicação social. Longe de agir como mediadora independente, a imprensa tornou-se co-agente de um conluio entre interesses privados (sobretudo da indústria farmacêutica), entidades reguladoras capturadas e ministérios complacentes. Ao invés de fiscalizar, participou. Ao invés de questionar, amplificado. Ao preferir de desconfiar, vendeu.

Os meios de comunicação têm vindo a abdicar, cada vez mais, do seu papel de fiscalizador para assumir o de arautos e correias de transmissão de campanhas comerciais. Durante a pandemia, esse fenômeno atingiu o paroxismo: testes vendidos como salvação, vacinas endeusadas como tótem da civilização, medicamentos experimentais glorificados antes mesmo de qualquer avaliação crítica.

O Ministério da Saúde, os reguladores e uma parte significativa da comunidade médica — transformada em figura de publicidade institucional — pactuaram, em aliança obscena, com este novo regime sanitário-mediático. Aquilo que se melhorou foi previsível: venderam-se vacinas e testes como quem vende eletrodomésticos num canal de telecompra, com médicos mercenários a apresentarem o produto e jornalistas a garantirem que não teriam espaço para dúvidas nem para alternativas.

Alternativas essas que, ironicamente, foram diabolizadas não por falta de provas científicas, mas por excesso de interesses. Veja-se a ivermectina, cujo debate foi abafado com histeria moralista, enquanto se publicavam estudos que, mesmo sem conclusões definitivas, mereciam consideração científica, como se pode observar nesta meta-análise publicada já este ano no Annals of Medicine and Surgery .

Em 2020, a jornalista Filipa Traqueia, actualmente no jornal Expresso, achou por bem dissertar no Polígrafo sobre a (in)utilidade da vitamina D, usando como fonte de informação o pneumologista Filipe Froes, um dos médicos com maiores obrigações mercantilistas à indústria farmacêutica, conselheiro da DGS e da Ordem dos Médicos e 'guru' para a comunicação social durante a pandemia.


E veja sobretudo o caso da vitamina D, com provas acumuladas sobre o seu papel, transformadas em suplemento imunológico menor por não trazer dividendos às multinacionais. Afinal, há mais lucro em administrar medicamentos novos a milhões do que em distribuir sol e bom senso. Logo no início da pandemia, esse arauto do Jornalismo e da Ciência — estou a ironizar — chamado Polígrafo (e seguido por outros) tratou logo de menorizar a utilidade da vitamina D na prevenção e tratamento da covid-19. Isto, claro, é necessário ajuda de um dos maiores mercenários da indústria farmacêutica, Filipe Froes.

Hoje, sobre a covid-19, sabe-se que "níveis baixos de vitamina D aumentaram o risco de infecção entre 1,26 e 2,18 vezes, o risco de doença grave entre 1,50 e 5,57 vezes, o risco de admissão em unidades de cuidados intensivos (UCI) em mais do dobro, e o risco de morte entre 1,22 e 4,15 vezes", citando ipsis verbis as conclusões de uma meta-análise publicada este ano na Nutrition Reviews , da prestigiada Oxford Academic .

Mas se a pandemia foi um campo fértil para este jornalismo de parceria — entre aspas e sem ironia possível —, os anos que se seguiram não mostraram desculpas. Pelo contrário, refinaram-se os métodos, disfarçaram-se melhor os conluios, construíram-se narrativas com roupas de ciência e compaixão.


A nova fronteira de conquista são as doenças raras, sobretudo em idade pediátrica: um terreno fértil para comover corações, amolecer decisões orçamentais e aplicar tratamentos a preços pornográficos. O objetivo é simples: quanto mais raro para uma doença e mais jovem o doente, mais fácil será colocar o medicamento na agenda pública. Basta um caso mediático, uma associação de pais com boas relações, uma imprensa dócil e, claro, um ex-diretor de farmacêutica agora estrategicamente colocado numa comissão do Infarmed ou em carga política com acesso ao Orçamento.

O caso ontem revelado pela PÁGINA UM , sobre a entrada na Secretaria de Estado da Gestão da Saúde de um quadro da farmacêutica Sanofi , que negociou a compra de anticorpos monoclonais contra o Vírus Sincicial Respiratório (VSR), é paradigmático. A doença, cuja mortalidade é inexistente em Portugal, foi promovida à categoria de emergência sanitária. Resultado? Vinte milhões de euros em compras públicas para imunizar todos os recém-nascidos, incluindo aqueles que nunca estariam em risco. O produto é caro, a doença tornou-se mediaticamente "fofa" — por força das conferências e notícias sobre o tema , mercadejadas pela imprensa — e o argumento parece inatacável: salvar alguns bebês do sofrimento e trauma de um eventual internamento. O resultado da definição da agenda nisto.

Quem ousará pôr travão, redefinindo prioridades? A imprensa — cúmplice, dependente e indiferente — não. As sociedades médicas, muitas delas sustentadas por apoios da indústria, também não. E as decisões políticas, alimentadas pelo vão das portas giratórias entre o Estado e as farmacêuticas, muito menos.

Francisco Gonçalves, ex-Sanofi, e Ana Paula Martins, ex-Gilead: as 'portas giratórias' entre as farmacêuticas e o Ministério da Saúde.
Enquanto isso, o que sobra da saúde pública degrada-se em silêncio. Urgências encerradas. Hospitais saturados e mal equipados. Jovens médicos desmotivados e explorados, ao passo que as elites clínicas fazem fortuna acumulando consultas públicas e ações privadas. Listas de espera que se arrastam até ao absurdo. E, cereja pútrida no cimo do bolo, até as mesmas doenças associadas à água potável e ao saneamento — ou à falta deles — a matarem 525 pessoas no ano de 2023 em Portugal.

Este número degradante foi publicado ontem discretamente pelo INE, sob a forma de "taxa de mortalidade devida a fontes de água insalubre ou a condições de saneamento e higiene deficientes ou inexistentes por 100.000 habitantes" (vd. aqui ). Destas 525 mortes em 2023, três terão sido crianças com menos de 5 anos — portanto, mais do que mata o VSR. Em 2010, estes problemas sanitários foram causa de 116 óbitos, nenhum dos quais de crianças. Ninguém, na imprensa mainstream , que tem bolsas e bolsas de jornalistas, pegou no assunto. Tal como ninguém fez eco da notícia do PÁGINA UM em Setembro do ano passado onde já se revelava essa vergonhosa tendência de crescimento.
Sobre isto não há reportagens de abertura de telejornal? Onde está a indignação? Onde estão os editoriais de fundo?

Evolução da mortalidade por grupos etários entre 2010 e 2023 para doenças associadas a fontes de água insalubre ou a condições de saneamento e higiene deficientes ou inexistentes. Fonte: INE. Cálculos: PÁGINA UM com base na taxa de mortalidade e estimativas anuais da população por grupos etários.


Não estão. Porque essas mortes, por insalubridade e desleixo, não geram publicidade, nem contratos de venda de medicamentos, nem parcerias. São mortes pobres de interesse, sujas de realidade. E isso, a Senhora Ministra da Saúde, ex-Gilead, e o Senhor Secretário de Estado da Gestão da Saúde, ex-Sanofi, não estão para aí virados, porque a imprensa também não os faz virar para aí. Aquilo que interessa mesmo é vender medicamentos, porque basta um contrato, enviar um caminhão com os medicamentos salvíficos (ou não tanto) e fazer a transferência bancária com o dinheiro dos contribuintes para os cofres dos acionistas das farmacêuticas.

Sem os chatos dos jornalistas watchdogs , agora amestrados em petdogs , o mundo tornou-se distópico: sobrevivemos sem noção de que a Saúde Pública serve quase só para, com negócios contínuos, alimentar uma continuidade dos fármacos do setor farmacêutico, que nos salvarão sempre, exceto prova em contrário, que nunca se procurará.


--   Com os meus cumprimentos    Rui Xisto

quinta-feira, 5 de junho de 2025

Rohstoffe für die E-Mobilität - Matérias-primas para mobilidade elétrica

Perspectivas da política de desenvolvimento.

A comunidade global enfrenta um enorme desafio: as mudanças climáticas estão ameaçando a nossa própria subsistência. Somente se reduzirmos drasticamente as emissões de gases de efeito estufa podemos atingir a meta de 1,5 grau de Paris e preservar o nosso planeta para as gerações futuras. Isso requer uma transição nos setores de energia e transporte para alternativas de baixa emissão.

As emissões de dióxido de carbono provenientes do transporte são um dos principais impulsionadores das mudanças climáticas. Cerca de um quarto (23%) de todas as emissões de CO2 relacionadas à energia foram provenientes do setor de transportes em 2016, e a tendência é crescente. Também na Alemanha, o setor de transportes é a terceira maior fonte de emissões de dióxido de carbono.
Portanto, precisamos de uma transição global para a mobilidade: uma transformação do comportamento de mobilidade em direção à mobilidade ativa, pública e compartilhada, e uma mudança para tecnologias sustentáveis, como a mobilidade elétrica. Na Alemanha e em todo o mundo.

Isso chama a atenção para os pré-requisitos necessários para a mobilidade elétrica, como armazenamento de energia e baterias, e as matérias-primas necessárias para eles. As baterias de íons de lítio comuns hoje em dia requerem lítio, cobre, cobalto e outras matérias-primas. Isso coloca o design das cadeias de suprimentos em foco: como a mineração pode se tornar sustentável e justa, e como a reciclagem pode ser fortalecida no caminho para uma economia circular ao longo de todo o ciclo de vida de uma bateria, desde o design e uso até a coleta e o descarte?
Essas matérias-primas são frequentemente produzidas em países em desenvolvimento e emergentes. No entanto, a abundância de matérias-primas não leva automaticamente à redução da pobreza. Há, porém, exemplos encorajadores de países do Sul Global onde a renda da produção de matérias-primas tem sido capaz de melhorar permanentemente as condições de vida das  suas próprias populações.

Ao mesmo tempo, a produção de matérias-primas está associada a muitos riscos e desafios sociais e ambientais. O trabalho infantil é predominante na mineração de pequena escala; estima-se que aproximadamente 1 milhão de crianças trabalhem na mineração em todo o mundo. Em alguns lugares, conflitos violentos são financiados pelas receitas do comércio de commodities.

Em algumas regiões do mundo, a produção de matérias-primas leva ao desmatamento. O desmatamento contribui para a perda de biodiversidade e reduz a disponibilidade de serviços ecossistemas, como a qualidade da água. Além disso, os meios de subsistência das comunidades locais estão ameaçados.
A extração de matérias-primas para a transição da mobilidade global deve, portanto, ser realizada em conformidade com os padrões sociais e ambientais. Nosso futuro na Europa está intimamente ligado ao futuro dos países produtores de matérias-primas.
Por isso, o Ministério Federal Alemão para Cooperação e Desenvolvimento Económico (BMZ) há muito apoia os países parceiros no desenvolvimento sustentável de seus setores de matérias-primas. Por meio de projetos e iniciativas políticas, promovemos o desenvolvimento de cadeias de suprimentos de matérias-primas responsáveis ​​para que as pessoas e o meio ambiente possam se beneficiar da mineração.
Com este folheto, gostaríamos de oferecer uma visão geral das matérias-primas necessárias para a mobilidade elétrica e como sua produção responsável é apoiada pela cooperação alemã para o desenvolvimento.
Espero que você aproveite a leitura.

Dra. Heike Henn
Chefe da Diretoria 42 do Ministério Federal de Cooperação e Desenvolvimento Económico
"Clima e Energia; Desenvolvimento Urbano Sustentável; Meio Ambiente"
Comissária para Política Climática e Financiamento Climático


https://www.bmz.de/resource/blob/86342/rohstoffe-fuer-e-mobilitaet.pdf


--   Com os meus cumprimentos    Rui Xisto

O lago dos patos.

Comentário Pessoal: E ninguém é preso?

PORCA MISÉRIA

A F P

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O que a Transtejo fez é como se a TAP comprasse aviões que não podem atravessar nuvens.

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O lago dos patos

É curioso que um país que dobrou o Cabo Bojador, o Cabo das Agulhas ou o Cabo da Boa Esperança, veja os seus navios parados pelo cabo de alimentação.

03 jun. 2025, José Diogo Quintela, 'Observador'

Com a comoção eleitoral que se viveu em Maio, entre o resultado histórico do Chega e o resultado histórico do PS, passou despercebido um novo capítulo da gloriosa epopeia fluvial portuguesa. Ao contrário da epopeia marítima, a epopeia fluvial não se cobre de glória. Merecia, provavelmente, um cronista que redigisse a História Cómico-Fluvial. Desta feita, revelou-se que os célebres barcos eléctricos encomendados para fazer a travessia do Tejo, afinal são mais apropriados para navegar em lagos. As condições do estuário, com marés e ondulação, não são propícias para estes cacilheiros de água doce. Isto que a Transtejo fez é como se a TAP comprasse aviões que não podem atravessar nuvens.

É estranho. Há 500 anos, tínhamos naus que faziam 11 mil km até ao Japão. Agora, é com muita dificuldade que fazemos 11 km até ao Barreiro. As diferenças de perspectiva são um fenómenos fascinante: tanto fazemos do Atlântico um charco, como tornamos o Mar da Palha um oceano.

Repetindo o que já fiz quando aqui relatei o caso dos navios pela segunda, terceira e quarta vez, julgo que é importante recordarmos alguns dos acontecimentos mais marcantes desta gesta.

Em Outubro de 2020, o então Ministro do Ambiente Matos Fernandes anunciou que Portugal ia estar na linha da frente da transição energética com a encomenda de barcos eléctricos para fazerem a travessia do Tejo. Em Março de 2023, o Tribunal de Contas considerou o negócio irracional, porque os barcos tinham sido adquiridos sem as baterias e obrigou a Transtejo a fazer novo concurso para as comprar, o que acabou por encarecer o negócio. No mesmo mês, soube-se que o primeiro navio a chegar vinha com estragos . Já em 2024, a notícia era a dificuldade em licenciar as estações de carregamento e ligá-las à rede eléctrica, o que fez com que as baterias fossem carregadas com geradores a gasóleo. É curioso que um país que dobrou o Cabo Bojador, o Cabo das Agulhas ou o Cabo da Boa Esperança, veja os seus navios parados pelo cabo de alimentação.

Agora percebe-se que, para além disto tudo, os barcos não foram feitos para estas águas. Ou seja, mesmo quando houver baterias, cais de carregamento licenciados e ligação à rede eléctrica, os barcos não vão ter grande serventia.

É uma pena, porque são embarcações muito bonitas e amigas do ambiente. Basta consultar a página da Transtejo, que não consegue esconder o entusiasmo com o que significa esta mudança. Segundo a empresa, "o plano de renovação da frota Transtejo é uma decisão de um alcance estratégico inquestionável para toda a Área Metropolitana de Lisboa". E o termo é mesmo esse: "inquestionável", porque vê-se que, antes de avançar, ninguém fez a pergunta básica: "Estes barcos dão para aqui?"

No entanto, até ao dia de hoje, o sucesso da passagem da frota para 100% eléctrica ainda não é total. De acordo com Transtejo, nem todos os principais objetivos ainda não foram cumpridos:

1) Eliminar a emissão de C02 no Transporte Público – até agora não foi conseguido: com a supressão de viagens, os passageiros ficam no cais a bufar, um tipo de respiração que emite muito mais dióxido de carbono;

2) Incrementar significativamente a qualidade do serviço prestado nas ligações fluviais de Cacilhas, Montijo e Seixal – aqui julgo que há um erro ortográfico: escreveram "incrementar" em vez de "excrementar";

3) Melhorar a experiência da viagem fluvial – este objectivo foi alcançado com mestria: como é que se melhora o que não existe? Continuando a não existir, mas pagando mais caro;

4) Elevar os atuais padrões de comodidade, conforto e segurança – objectivo cumprido a 50%: estar horas em pé à espera do cacilheiro não é confortável, mas é muito mais seguro. Impossível naufragar;

5) Reduzir os atuais custos de manutenção – este objectivo foi ultrapassado. Se os barcos não navegam, não se gastam. Logo não necessitam de manutenção.

Onde a Transtejo marca pontos é na comunicação e imagem. Para mostrar a sustentabilidade da nova frota e a sua ligação à natureza, cada barco foi crismado com nomes de aves autóctones. Temos a cegonha, a garça, o flamingo e o íbis, entre outras. Porém, conspícua pela sua ausência, está a ave que, nestes casos de prodigalidade com dinheiros públicos, assume sempre o maior destaque: o pato. O que não se entende, pois é quase símbolo nacional. Pelos últimos censos, há cerca de 10 milhões no país.

Há uma segunda ave que também merecia honras de baptismo, devido à motivação de todos os que, pela sua vontade de parecer bem, contribuíram para esta medida: o pavão. Ou, em alternativa, por agora estarem à assobiar para o ar como se não fosse nada com eles, o canário.

Este caso tem o potencial de ser o maior escândalo financeiro em Portugal com barcos eléctricos. Ou, quando o primeiro navio naufragar por causa de uma ondinha mais forte, o segundo maior escândalo financeiro em Portugal com submarinos.

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