sexta-feira, 5 de julho de 2019

O que fazer se estiver alguns dias sem abrir as suas torneiras?

Eu costumo faze-lo.

A água destinada ao consumo humano, distribuída através de rede pública até às redes prediais, deve ser consumida num espaço de tempo de alguns dias, após o que pode sofrer alterações das suas características qualitativas, especialmente se estiver em contacto com tubagens e acessórios cujo estado de conservação não seja o ideal.

Depois de uma ausência prolongada de vários dias sem o uso de uma rede domiciliária, a água que tenha ficado estagnada no interior dessa rede deve ser eliminada, retirando uma quantidade de água similar ao volume da zona habitada.

Numa residência de dimensão média, para que a renovação se verifique, deve efectuar a descarga dos autoclismos e deixar correr a água das torneiras, durante 2 ou 3 minutos, para alguns baldes ou recipientes. Aproveite essa água para a sanita, rega de plantas ou lavagens.

Se a coluna do edifício não estiver nas melhores condições, ou até se existirem na mesma rede algumas casas desocupadas, pode ser necessário realizar descargas com maior caudal até obter uma água transparente a olho nu e sem odores (com excepção do desinfectante que está presente na concentração indicada para constituir uma barreira sanitária).

Deve, no entanto, notar-se que a água em Almada é distribuída com requisitos de qualidade que a tornam própria para consumo humano, mesmo depois de algum tempo parada, servindo estas recomendações apenas para aumentar o nível de segurança para todos os utilizadores (em especial para aqueles cuja saúde tenha algumas debilidades e/ou por recomendação médica).

Um conselho dos SAMS de Almada

quarta-feira, 3 de julho de 2019

Mercosul: O histórico momento de mais um prego no caixão do planeta.

Com a conclusão do acordo de livre comércio com o Mercosul (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai), o bando político que governa o lado europeu do mundo provou mais uma vez que a sua irresponsabilidade e hipocrisia são abismais.

Por obséquio, explicai-nos como, mas COMO se conciliam os constantes compromissos de cumprimento dos acordos de Paris sobre o Clima com a promoção da devastação da floresta amazónica e da biodiversidade, a contaminação e esterilização dos solos à custa de práticas de monoculturas intensivas de grande escala ensopadas em pesticidas, a pecuária encharcada de antibióticos, a engenharia genética, a manutenção das externalidades negativas – p. ex. porque os custos dos danos ambientais adjacentes ao transporte de produtos não são incluídos no preço dos mesmos – enfim, com a prossecução do mesmo modelo de desenvolvimento obsoleto e destruidor que está a arruinar o planeta?

E COMO se encaixa a exaltação dos direitos humanos como valores europeus e a falta de pruridos em assinar acordos com quem os despreza, como Bolsonaro faz gala em demonstrar que faz?

Denominais de histórico este acordo comercial, porque sois uns farsantes cínicos, dirigentes rasteiros desta Europa esfiapada.

É que não sabeis escrever História. Escreveis episódios de telenovela reles e perversa, seguindo o primário lema do sacrifício do planeta em benefício dos lucros da vossa indústria trapaceira.


Por Ana Moreno

https://aventar.eu/2019/06/30/mercosul-o-historico-momento-de-mais-um-prego-no-caixao-do-planeta/

Família política do PS

Uma quinta-feira destas, o Costa chega ao Conselho de Ministros e diz-lhe a assessora:
  - Senhor Primeiro Ministro, hoje temos muita gente a faltar…
  - Então?
  - Houve muita gente a ligar de manhã, a avisar que hoje não podia vir…
  - Quem?
  - Olhe… O Ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social não pode vir porque lhe morreu o Pai.
  - Ok…
  - A Ministra da Presidência e da Modernização Administrativa não pode vir porque lhe morreu o Avô.
  - Ok…
  - O Ministro dos Negócios Estrangeiros não pode vir porque lhe morreu um cunhado.
  - Ok…
  - O Ministro da Defesa Nacional não pode vir porque lhe morreu um primo.
  - Ok…
  - O Ministro da Administração Interna não pode vir porque lhe morreu um irmão.
  - Ok…
  - A Ministra da Justiça não pode vir porque lhe morreu um tio.
  - Ok…
  - O Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior não pode vir porque lhe morreu o sogro.
  - Ok…
  - A Ministra da Saúde não pode vir porque lhe morreu um sobrinho.
  - Desculpe lá, mas como é que morreu tanta gente no mesmo dia?!?
  - Senhor Primeiro Ministro, só morreu uma pessoa… Mas como eles são todos família…

terça-feira, 2 de julho de 2019

Em Portugal pensa-se pouco Inês Pedrosa.

Inês Pedrosa é porteira do 10 de Junho e não vai franquear a subida ao púlpito de alguém que meramente “pensa em Portugal”, nem de quem apenas “pensa sobre Portugal”. Não, exige quem “pensa Portugal".

No passado dia 14, no “Último apaga a luz”, da RTP3, Inês Pedrosa afirmou que, para discursar no 10 de Junho, “é preciso ter pensado o país”. Algo que, considera ela, João Miguel Tavares não terá feito. A expressão intrigou-me. O que significa “pensar o país”? É diferente de “pensar no país”? E de “pensar sobre o país”? Parece óbvio que sim. Inês Pedrosa pode não pesar muitas coisas, mas de certeza que pesa as palavras. Afinal, é escritora. E se, entre as palavras pesadas, há algumas que lhe merecem especial atenção, são todas as que rodeiam o verbo “pensar”. Afinal, é mulher. E, como sabe qualquer homem a quem uma mulher já perguntou “em que é que estás a pensar?”, não se conjuga “pensar” displicentemente. Portanto, Inês Pedrosa sabe a diferença e optou por destacá-la: João Miguel Tavares pode pensar no país, pode até pensar sobre o país, mas, é evidente, não pensou o país.

“E qual é a diferença?”, pergunta o leitor, da forma rústica tão típica das pessoas que às vezes pensam nesta temática, até pensam sobre esta temática, mas nunca pensaram esta temática. Até porque, se já o tivessem feito, não seriam pessoas que perguntam, mas sim que indagam.

A diferença está na profundidade da reflexão. “Pensar em” é superficial. Uma pessoa que apenas “pense em” Portugal consegue continuar a pensar noutros países, sem se aborrecer muito. “Pensei em Portugal, mas acabei por pôr Peru”, é uma frase que se ouve quando calha a letra P num jogo de STOP. “Pensar sobre” é diferente, pede um bocadinho mais de esforço. Implica que uma pessoa levante ligeiramente o rabo da cadeira, para se poder debruçar “sobre”. Não se consegue “pensar sobre” dois temas ao mesmo tempo, embora seja exequível acumular um “pensar sobre” com dois ou três “pensar em”. Já “pensar o” exige um poder de análise apenas compatível com uma vida toda dedicada ao tema, em detrimento da família, da diversão e da higiene, possivelmente regada com um ligeiro toque de Asperger. Por exemplo: alguém que pensa em comida é uma pessoa normal com larica; alguém que pensa sobre comida é badocha; alguém que pensa comida tem duas estrelas Michelin. Não sei se me fiz entender, é provável que não. Acho que se vê que pensei no assunto, mas não cheguei sequer a pensar sobre o assunto, quanto mais pensar o assunto.

Daí eu ter chegado tarde a esta questão do 10 de Junho. Quis preparar-me devidamente e para isso precisei de pensar Inês Pedrosa. Não foi fácil. Comecei por pensar em Inês Pedrosa. Suavemente, primeiro, para não me aleijar. Uma ou duas vezes ao dia, seguidas de alongamentos, hidratação e descanso. Ao fim de uma semana estava a conseguir pensar sobre Inês Pedrosa. A bizarria inicial das minhas meditações foi sendo substituída pela bizarria intermédia das minhas meditações. Mas só anteontem, depois do banho turco e de um jejum de 36 horas, consegui, finalmente, pensar Inês Pedrosa. Entrei numa espécie de transe e foi-me revelada a verdade. Estou, finalmente, em condições de me pronunciar.

Descobri que Inês Pedrosa, enquanto intelectual, beneficiou do mesmo fenómeno que eu, enquanto humorista. Ambos lucrámos com a crueldade da televisão: impiedosa na forma como nos mostra ao mundo, realça os nossos defeitos que, paradoxalmente, nos dão credibilidade profissional. Eu, cotejado com homens mais altos, magros e bonitos, apesar de achincalhado fisicamente, ganhei ao nível humorístico. Ser gordo e feio tem, por si só, piada. Inês Pedrosa beneficiou da mesma coisa. Comparada com Raquel Varela que, por ser jovem, bonita, esguia e bem arranjada, acaba por parecer superficial e fútil, Inês Pedrosa ganha uma gravitas que não possui. Sei, por experiência própria, que esta sorte confere auto-confiança, uma bazófia que nos faz arriscar toda e qualquer baboseira. Como esta da exigência, para o 10 de Junho, de alguém que tenha pensado o país. Inês Pedrosa requer um intelectual desse jaez, que pense o país e saiba não só o que significa jaez, mas também que é “desse jaez” e não “dessa jaez”. Inês Pedrosa é uma porteira do 10 de Junho e não vai franquear a subida ao púlpito de alguém que meramente “pensa em Portugal”, como um agente de viagens a sugerir destinos de férias; nem de alguém que apenas “pensa sobre Portugal”, como um filósofo de ressaca. Não, exige quem “pensa Portugal”, assim, sem preposições que limitem o alcance da reflexão. Por mais snob que Inês Pedrosa pareça, ela tem razão. Para falar sobre um tema, é obrigatório que se tenha pensado o tema.

Por isso acho estranho que Inês Pedrosa tenha dito que ter João Miguel Tavares a discursar seria a mesma coisa que ter lá um padeiro. Porque se percebe logo que Inês Pedrosa não pensou padeiros. Ao contrário de mim. Não sendo um, dou emprego a vários. A relação entre patrão e empregado pode parecer longínqua, mas existe proximidade.  Como Inês Pedrosa bem saberá, uma pessoa a quem pago o salário hoje, pode vir a estar casada comigo amanhã. E não há mal nenhum nisso, mesmo que haja dinheiros públicos ao barulho.

Inês Pedrosa pode pensar em padeiros. Pode até pensar sobre padeiros. Mas vê-se que não pensa padeiros. Há quanto tempo não verá um? Se se tivesse informado, saberia que, à hora do discurso, nenhum padeiro está acordado, pois passou a noite a amassar. Portanto, Inês Pedrosa não pode esnobar um padeiro que, de antemão, já esnobou o discurso do 10 de Junho, deixando-se dormir.

Confesso que não percebo a embirração de Inês Pedrosa com os padeiros. Afinal, são quem prepara o pão e bolos que ela, evidentemente, aprecia. Já a embirração com João Miguel Tavares, percebo-a bem. Inês Pedrosa não leva a mal que João Miguel Tavares não pense Portugal, leva a mal que João Miguel Tavares não pense Portugal da forma como ela acha que o país devia ser pensado. Isto é, na sua totalidade. É que João Miguel Tavares até pensa Portugal, mas fá-lo aos bocadinhos: pensa Vale do Lobo, pensa Cova da Beira, pensa Rua Castilho, pensa um outlet em Alcochete, pensa o edifício na Fontes Pereira de Melo onde é a sede da PT.

E é isso que Inês Pedrosa e os que se irritaram com o discurso não admitem: João Miguel Tavares recorda José Sócrates, o Primeiro-Ministro que os socialistas veneravam e querem agora esquecer que se trata de um vigarista que, digamos, pensou burlas. Alegadamente, claro. Sócrates, em Portugal, é metonímia para corrupção e, por coincidência, Inês Pedrosa teve o cuidado de avisar que falar sobre corrupção é alarmismo e populismo. Disse-o de uma maneira que até parece que praticá-la não é tão grave.

João Miguel Tavares é um post it que lembra, entre outras coisas, que o actual PM foi número 2 de Sócrates, que o actual número 2 do PM foi número 3 de Sócrates, que o outro número 2 de Sócrates, cujo filho viveu em Paris às suas custas, é agora eurodeputado do PS e que, só para falar em temas recentes, a CGD foi usada por Sócrates para controlar o BCP. O problema de Inês Pedrosa é que o 10 de Junho fê-la pensar em João Miguel Tavares. Aliás, pela exasperação demonstrada, foi mais profundo que isso: o 10 de Junho fê-la pensar João Miguel Tavares.

José Diogo Quintela

Seis coisas que os homens jamais devem dizer a uma mulher na cama.

Citar o nome da ex ou fazer um comentário negativo sobre o corpo da parceira pode acabar com a sua noite de sexo. Tenha cuidado, muito cuidado.

Para algumas mulheres não há nada mais excitante do que ouvir algumas palavras picantes ao pé do ouvido durante a relação sexual.

Todavia, existem algumas coisas que jamais deve dizer a uma mulher na cama (antes, durante ou depois do sexo) se não quer arruinar a Hora H, como destaca a revista norte-americana GQ.

Já sabe se não tem nada simpático para dizer, então não diga nada...

1 – “Estás mais gorda”;

2 – “Não vamos usar preservativo?”;

3 – Conversar sobre banalidades durante o sexo (sobre dinheiro ou o dia chato que teve no trabalho, por exemplo);

4 – “Não quero fazer sexo oral”;

5 – “Dizer que tem de ser rápido”;

6 - “Na próxima vez, veste uma lingerie mais bonita ou mais fácil de tirar”.

Não deixe que a sua língua (sem trocadilhos) arruíne o momento.

por Liliana Lopes Monteiro

Portugal já teve automóveis quase totalmente cá fabricados.

Marcas de automóveis portuguesas? Sim, também tivemos e não foram poucas. Conhece 12 marcas que ficaram na história da indústria automóvel nacional.

Diariamente falamos de carros suecos, italianos, bávaros, franceses, nipónicos, etc. Infelizmente, nunca (ou quase nunca) falamos dos carros e das marcas automóveis portuguesas.

Apesar de nenhuma destas marcas estar activa, com excepção da AC Sport Car, que retomou em 2018, não deixam de ter o seu honroso lugar na história. Esta lista de modelos faz parte da sua herança.

AC Sport Car

O AC Sport Car, produzido de forma artesanal na oficina ‘A. Cação Automóveis’ entre 1982 e 1988, é um desportivo de dois lugares com mecânica e chassis da Volkswagen e uma carroçaria em fibra de vidro que vai buscar inspiração a modelos britânicos, alemães e italianos. A frente faz lembrar um britânico Lotus Esprit dos anos 70, as portas abrem para cima e são inspiradas nas “asas de gaivota” do alemão Mercedes 300 SL e a lateral tem ares do italiano Lancia Stratos. Da ficha de especificações técnicas constam quatro motorizações (de 1.2 a 1.6 a gasolina, de 34 a 50 cv), motor de quatro tempos arrefecido a ar “com sistema automático de arranque que garante arranque imediato em dias frios”, caixa de quatro velocidades e tração traseira, para além de uma vasta lista de equipamentos de série e outra de extras.

ALBA

Alba 1952

O ALBA foi integralmente construído na metalúrgica Alba em Albergaria-a-Velha entre 1952 e 1954 por António Augusto Martins Pereira. Estima-se que foram construídas apenas três unidades do carro com estilo italiano, sendo que a unidade original (a da fotografia) encontra-se em exposição no Museu do Caramulo. O ALBA integrava um motor (também ele construído pela metalúrgica) de 4 cilindros com 1500 cm3 de capacidade e 90 cv de potência, caixa de quatro velocidades e atingia os 200 km/h de velocidade máxima.

DM

DM

Construído por Dionísio Mateus na Auto Federal Lda no início da década de 50, o DM era animado por um motor de 1100 cm3 com 4 cilindros que o fazia produzir 65 cv. Era leve (500 kg) e conseguia atingir os 170 km/h.

Edfor

Edfor

Fabricado em 1937 por Eduardo Ferreirinha, o Edfor usava um motor V8 produzido pela Ford com 3620 cm3, velocidade máxima de 160 km/h e 970 kg de peso total. Antes de ser cineasta, e muito antes de se ter tornado no mais famoso realizador de cinema português de todos os tempos, Manoel de Oliveira já era famoso por ser piloto de automóveis e chegou até a conduzir o Edfor nas competições em que participava.

Felcom

Felcom

A junção entre um Ford A, um Turcat-Méry e um Miller deram origem ao Felcom, construído entre 1933 e 1935.

AGB IPA

AGB IPA

Quando apresentado na Feira das Indústrias, em 1958, foi considerado uma revolução na indústria metalo-mecânica portuguesa por por se apresentar com linhas arredondadas e estar disponível tanto na versão coupé de dois lugares ou familiar de quatro lugares. O AGB IPA, limitado a apenas cinco exemplares, estava equipado com um motor British Anzani de dois cilindros com 300 cm3 a dois tempos com, aproximadamente, 15 cv.

Segundo o livro “Automóveis Portugueses”, editado pelo Museu do Caramulo:

A licença para o fabrico em série teve a feroz oposição do então secretário de Estado da Indústria, que havia já optado por outra direcção na política industrial e que passava pela montagem de veículos em CKD (completly knocked down) de marcas europeias e americanas.

Marlei

Marlei

O Marlei, construído pelo mecânico Mário Moreira Leite, usava a base do Opel Olympia Caravan e contava com 48 cv provenientes de um motor de 1588 cm3, caixa manual de quatro velocidades e atingia os 160 km/h de velocidade máxima.

MG Canelas

MG Canelas

Este modelo recorria a um chassis tubular construído em aço (em vez de alumínio), diferenciando-se dos carros de corrida dos anos 50. Debitava 95 cv através do motor de 1500 cm3 com quatro velocidades, atingindo a velocidade máxima de 195 km/h.

Olda

Olda

A marca Olda surgiu em 1954 e conquistou as pistas não só devido à qualidade do projeto — que utilizava tanto o chassis como o motor do Fiat 1100 —, como também à excelente prestação do piloto e técnico do veículo Joaquim Correia de Oliveira. O motor italiano de quatro cilindros tinha 80 cv, 1493 cm3 e caixa de quatro velocidades. Pesava 500 kg e atingia 165 km/h de velocidade máxima.

Portaro

Portaro

O Portaro (contração de Portugal e ARO), era um todo o terreno fabricado no nosso país, usando como base original o jipe 240 4×4 da marca romena ARO. Após a parceria, o jipe entrou nas linhas de montagem da Fábrica de Máquinas Agrícolas do Tramagal, em Abrantes, em 1975. Em 1990, após ter vendido quase 7000 veículos em Portugal, e ter exportado alguns milhares de jipes, a Portaro entrou um falência e fechou as portas. O principal motivo da falência é apontado como a falta de apoio por parte do Estado à indústria automóvel nacional.

Sado

Sado 550

O Sado 550 era o verdadeiro “Smart ForTwo dos anos 80″. Após ter sido colocado à venda, em 1982, a procura era tão grande que chegaram a ter lista de espera. O pequeno Sado recorria a um motor de dois cilindros com 547 cm3, produzindo apenas 28 cv. Pesava 480 kg, tinha uma caixa de quatro velocidades e a velocidade de ponta ficava-se pelos 110 km/h — os primeiros protótipos chegavam aos 130 km/h. Imaginem

UMM

UMM

A UMM (União Metalo-Mecânica) foi uma empresa portuguesa fundada em 1977 com o objetivo de fabricar veículos todo o terreno para a indústria e agricultura. O sucesso da marca foi garantido, chegando a ter várias variantes do modelo (cabrio, com tejadilho, versão de cinco portas, etc.). Em 2006, a empresa retira-se do mercado, deixando um marco na história do setor em Portugal.

Imagens: Museu do Caramulo e Outros
Fonte: MotorBits e outros

Logótipos de automóveis.

São muitos os apaixonados por carros, especialmente por determinadas marcas, mas, provavelmente, nem todos saberão a origem dos logótipos que os identificam. Escolhemos alguns dos mais conhecidos para contar a história que está por trás dos seus visuais únicos, das cores ou símbolos que os tornaram conhecidos.

Alfa Romeo

O anel azul com a inscrição “Alfa Romeo Milano” representa a família real de Milão, sendo também a bandeira desta cidade italiana, onde a marca nasceu. A cruz de São Jorge sobre um fundo branco, seguia a tradição de utilizar símbolos regionais nas competições automóveis. Ao lado, a serpente verde, conhecida por Biscione, foi criada por Ottone Visconti, Arcebispo de Milão e existem várias versões que explicam o seu significado. Pode ser uma figura mitológica que dá á luz uma criança ou uma cobra que alguns acreditam ter sido um presente do Arcebispo à qual foi adicionado um muçulmano na boca para simbolizar a vitória após o domínio de Jerusalém. Nascimento ou morte? A marca insiste que o seu logo representa antes o nascimento, representado por uma figura humana a emergir da boca de uma cobra, como um novo homem.

Mercedes-Benz

A estrela de três pontas representa as três áreas para as quais a marca construía meios de transporte: ar, água e terra. Com um design mais simplificado desde a década de 20, a estrela prateada continua a simbolizar luxo e a imagem de uma das mais apetecíveis marcas de automóveis ao longo dos tempos.

Lamborghini

Além de ser do signo de touro, Ferruccio Lamborghini, foi um apaixonado pelas touradas espanholas. E foi isso mesmo que o criador da marca que quis expressar no desenho do logo da Lamborghini, famosa por produzir automóveis tão poderosos quanto o animal que os representa.

Abarth

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O logótipo da Abarth revela o signo de Karl Aberto Abarth, inscrito num escudo e que transmite a ideia de paixão e triunfo. Abaixo do nome, encontram-se as cores da bandeira da Itália (verde, branco e vermelho). O vermelho e amarelo que preenchem o interior do escudo reflectem a paixão, intensidade e energia, sentimentos presentes na competição automóvel.

Ford

Ao que consta não existe nenhuma história especial para a origem do logótipo Ford. É apenas o nome da marca inscrito com a caligrafia do seu fundador, Henry Ford, inserido numa forma oval que de qualquer forma se tornou mundialmente conhecido e que identifica de imediato os seus produtos.

Tesla

O T de Tesla representa a secção de um motor eléctrico. E o CEO da marca foi mais longe ao admitir que, neste caso, foi seguido o mesmo raciocínio utilizado em relação à SpaceX, cujo símbolo faz lembrar a trajectória de um foguetão. Concebido pela RO-Studio, empresa de Nova Jersey especialista em design, que idealizou igualmente o logótipo da empresa espacial, inicialmente o “T” foi colocado sobre um escudo prateado. Mas da mesma forma que o fabricante de automóveis inicialmente foi baptizado de Tesla Motors e depois deixou cair o Motors, assim também o escudo desapareceu, deixando o “T” sozinho e em posição dominante.

Porsche

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É um dos mais famosos logos que possui as cores da bandeira da Alemanha e o nome da cidade desta marca de automóveis: Stuttgart. A figura do cavalo passa a imagem de poder e rapidez. Além disso, são animais criados em Stuttgart.

Jaguar

O maior felino da América e terceiro no mundo a seguir ao tigre e ao leão, foi escolhido para representar a graça, o porte e a força desta marca. Mas nem sempre foi assim, já que até à II Guerra Mundial, a marca ostentava como logo um “SS” (de Swallow Sidecar Company), que após o conflito e por razões óbvias foi posto de lado, dando lugar ao Jaguar.

Saab

Apesar de ter sofrido algumas alterações ao longo do tempo, resultado de fusões com outras empresas como a Scania, o logotipo Saab sempre ostentou um símbolo ligado às suas origens: um Grifo vermelho, animal mítico, metade leão, metade águia que adorna as cristas heráldicas da cidade de Östergötland, cidade em que a Saab foi fundada.

Volkswagen

Ao longo da história da Volkswagen, o seu logótipo recebeu diversas actualizações, incluindo variações de cores. No entanto, todas as versões têm algo em comum: as letras “V” e “W” dentro de um círculo, que a partir de 2013 passou a adoptar um tom azul mais actual e mais identificativo dos valores da marca: tradição e inovação.

Ferrari

O logótipo da Ferrari é um cavalo negro levantado sobre as patas traseiras, inserido num fundo amarelo. O símbolo traz as letras S e F, as iniciais de Scuderia Ferrari, nome da marca na altura da sua fundação. Quanto às cores, o amarelo é a cor da cidade natal de Enzo Ferrari (Modena), e as cores das listas correspondem às da bandeira italiana.

Maserati

A companhia era administrada por três irmãos, mas foi o quarto que criou o seu logótipo. O tridente foi baseado na estátua do deus romano Neptuno, que pode ser vista na Piazza Maggiore, em Bologna. As cores azul e vermelho representam as cores da cidade.

BMW

A marca foi fundada depois dos irmãos Karl Rath e Gustav Otto terem obtido autorização do governo alemão para produzirem motores de avião em 1917. O logótipo, contém o símbolo de uma hélice de avião, nas cores azul e preta proveniente de uma antiga bandeira da Baviera. Tem como sigla a palavra BMW que é a abreviatura de Fábrica de Motores da Baviera (Bayerische Motoren Werke).

autoclube.acp.pt

O que são cookies?

Se você já leu um artigo de jornal sobre a internet, é provável que alguém, em algum lugar vai ter mencionado 'cookies'. Eles podem ter sido explicada como um mal e intrusiva espiar o mecanismo de rastreamento de todos os seus movimentos na net - ou um inócuo dispositivo projectado para tornar sua vida mais fácil. Este guia deve esclarecer qualquer confusão e aliviar qualquer preocupação.

Primeiro e ao contrário da crença popular, os cookies não são programas. Eles não fazem nada em tudo. Eles são simples 'arquivos de texto', que você pode ler usando o programa Notebook no seu próprio PC. Normalmente, eles contêm duas partes de informações: um local único e nome de usuário ID.

Como eles funcionam?

Quando você visita um site que utiliza cookies pela primeira vez, um cookie é baixado em seu PC. Da próxima vez que você visitar esse site, seu PC verifica para ver se tem um cookie que é relevante (ou seja, contenha o nome do site) e envia as informações contidas naquele biscoito para o site.

O site então 'sabe' que já esteve ali antes e em alguns casos, alfaiates, o que aparece na tela para ter em conta esse facto. Por exemplo, pode ser útil para variar o conteúdo de acordo com se é seu primeiro foi visitar um site – ou seu 71º.

A coisa boa sobre cookies…

Alguns cookies são mais sofisticados. Eles podem gravar quanto tempo você gasta em cada página em um site, o que liga você clicar, nem suas preferências para layouts de página e esquemas de cores. Eles também podem ser usados para armazenar dados sobre o que está em seu "carrinho de compras', adicionando itens como você clicar.

As possibilidades são infinitas, e geralmente o papel de cookies é benéfico, tornando a sua interação com sites visitados com frequência mais suave - para nenhum esforço extra de sua parte. Sem os cookies, compras on-line seria muito mais difícil.

... e o mau

Então, por que a paranoia? A resposta provavelmente depende de como se sente sobre organizações – tanto as grandes empresas e governo – armazenamento de informações sobre você. Não há nada especialmente secreto ou excepcional sobre as informações coletadas por cookies, mas você só pode não gosta da ideia de seu nome que está sendo adicionado a listas de marketing, ou suas informações sendo usado para direcionar você para ofertas especiais. É seu direito, assim como os outros têm o direito de acompanhar o processo.

Quando cookies primeiro começaram a aparecer, houve controvérsia. Algumas pessoas os consideraram inerentemente sorrateira - seu PC estava sendo usado (sem aviso) para armazenar informações pessoais sobre você, que poderiam ser usadas para construir uma imagem de seus hábitos de navegação.

Cookies e a lei

Sites mais modernos usam cookies de alguma forma, e é improvável que a maioria dos usuários de internet nem nota cookies trabalhando em segundo plano enquanto eles navegam de site para site. Até agora foi até usuários individuais para bloquear ou permitir cookies usando as configurações em seu navegador de internet. Partir do final de maio de 2012, uma nova lei da UE exigiu todos os sites que usam cookies para buscar a sua permissão expressa para armazenar e recuperar dados sobre seus hábitos de navegação.

A maioria dos sites agora vai chamar a atenção para sua política de cookies quando você primeiro visite a página inicial. Não ser adiadas por isso, provavelmente você estava compartilhando detalhes com o site antes, sem mesmo sabê-lo. Em muitos casos, você pode clicar para diz que entende a política de cookies mas muitos instância pode simplesmente ignorar o anúncio e continuar navegando normalmente.

Sites continuarão a usar cookies e as informações que eles armazenam a fim de tornar a sua navegação on-line uma experiência mais fácil e mais agradável. Cookies não são nada a temer, mesmo se os prompts de novos buscando seu consentimento podem parecer um pouco irritante para o usuário de internet cauteloso.

No Reino Unido, escritório do Comissário de informação (ICO) irá acompanhar sites para certificar-se que satisfazem esta nova legislação, assim não haverá nenhuma evitar os regulamentos. Sites tiveram mais de um ano para fazer as alterações de seu código, que não deverá haver nenhuma desculpa!

Você claro, ainda pode mudar como os cookies são armazenados em sua máquina clicando no menu 'Ferramentas' no seu navegador de internet, mas você pode achar que a nova lei significa suas preocupações sobre privacidade e seus dados pessoais foram abordados.

BBC

segunda-feira, 1 de julho de 2019

Alimentação e Colesterol

O colesterol é uma gordura muitas vezes vista como prejudicial e que ameaça a boa saúde do sistema cardiovascular. A verdade é que tal só acontece se o colesterol se encontrar em níveis elevados no organismo, pois em níveis aceitáveis o colesterol é uma substância essencial e benéfica para o seu correcto funcionamento. O colesterol é fundamental para a produção de vitamina D, que aumenta a absorção intestinal de cálcio e intervém na regulação do humor, de ácidos biliares, que auxiliam a digestão, e na produção de diversas hormonas, como as hormonas sexuais e o cortisol. Tem também uma importante função estrutural, encontrando-se presente nas membranas de todas as nossas células. O colesterol é produzido pelo nosso organismo e deve também ser obtido através da alimentação, numa dose máxima de 300mg/dia.

O problema começa quando os níveis de colesterol – tanto total como LDL – se encontram elevados. As LDL são substâncias transportadoras de uma grande quantidade de colesterol do fígado – onde é produzido – para os tecidos (dos músculos e dos órgãos) para que este possa ser utilizado. Se estiverem em excesso, podem acumular-se nas paredes dos vasos sanguíneos e começar a desenvolver um processo inflamatório. São por isso normalmente chamadas de “mau colesterol”. As HDL, por sua vez, são substâncias transportadoras de uma pequena quantidade de colesterol dos tecidos e dos vasos novamente para o fígado – desta vez para ser eliminado. Funcionam como “agentes de limpeza” do organismo no que toca ao colesterol e são comummente chamadas de “bom colesterol”. Ambas são necessárias, mas em quantidades adequadas. Os valores de LDL são considerados adequados quando são inferiores a 115mg/dl, enquanto que os valores de HDL devem ser superiores a 35mg/dl nos homens ou 45mg/dl nas mulheres para que desempenhem um efeito protector a nível cardiovascular. Os níveis de colesterol total devem situar-se abaixo de 190mg/dl. Para doentes de risco (com patologias cardiovasculares, diabetes ou insuficiência renal) os valores de LDL, HDL e colesterol total mudam para 100mg/dl, 40mg/dl e 175mg/dl, respectivamente.

Quando o colesterol total e o colesterol LDL se encontram elevados, aumenta o risco da sua deposição na parede dos vasos sanguíneos, desencadeando um processo inflamatório que tende a aumentar a deposição de mais colesterol e mais substâncias circulantes nesse local. A este processo dá-se o nome de aterosclerose (saiba mais aqui e aqui). A aterosclerose está na origem de vários problemas cardiovasculares, tais como hipertensão, insuficiência cardíaca, angina de peito, enfarte agudo do miocárdio, acidente vascular cerebral e trombo, uma vez que o processo inflamatório tende a agravar-se e a perturbar o normal funcionamento do sistema circulatório. A formação da placa aterosclerótica aumenta a rigidez dos vasos sanguíneos e diminui o seu calibre, pelo que a circulação sanguínea é dificultada e o coração necessita de realizar um maior esforço para que o sangue chegue até aos tecidos. A incapacidade do coração conseguir um afluxo de sangue adequado até aos órgãos pode comprometer o seu funcionamento, incluindo o do próprio músculo cardíaco, quando não é suficientemente irrigado, provocando dores ao nível do peito. Se a placa aterosclerótica obstruir totalmente os vasos sanguíneos, pode provocar derrames, rompimento dos vasos sanguíneos ou a formação de trombos e a sua migração para outras partes do corpo.

Estas doenças são a principal causa de morte no mundo ocidental e também em Portugal. Estima-se que dois terços da população adulta portuguesa têm o colesterol elevado. Para evitar eventos cardiovasculares, é necessário prevenir esta situação. Se, por um lado, existem factores de risco incontornáveis, como a hereditariedade e o aumento da idade, existem outros associados a estilo de vida e que dependem do controlo individual, como hábitos tabágicos, sedentarismo e má alimentação.

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Prevenção e tratamento de hipercolesterolémia com a alimentação

No que toca à alimentação, o consumo de grandes quantidades de gordura saturada e trans é o principal fator responsável pelo aumento dos níveis de colesterol. A gordura saturada está presente em alimentos de origem animal, como carne (sobretudo de animais ruminantes, como bovinos, borrego e cabrito) e derivados (chouriço, farinheira, morcela e produtos semelhantes), vísceras, laticínios, manteiga, e ainda em produtos de pastelaria e confeitaria. Aparece também em diversos produtos processados, juntamente com as gorduras trans, como bolachas, chocolates, snacks doces e salgados, molhos e produtos de fast food (pizzas, hambúrgueres, sopas e refeições pré-feitas e congeladas). As gorduras trans aparecem também em gorduras vegetais modificadas para se apresentarem na forma sólida à temperatura ambiente, como alguns tipos de margarina (utilizados para fins industriais e não as margarinas de consumo direto). Estas gorduras simultaneamente aumentam a taxa de formação de LDL e reduzem a sua taxa de destruição, aumentando significativamente os seus níveis plasmáticos bem como o risco de aterosclerose e doenças derivadas. As gorduras trans diminuem ainda a formação de HDL.

O consumo de grandes quantidades de gordura saturada vem muitas vezes associado a um reduzido consumo de fibras e gorduras insaturadas, e a um elevado consumo de açúcares simples. A fibra está presente na fruta, nos vegetais, nas leguminosas e nos cereais integrais, e não só auxilia no controlo do apetite e numa ingestão alimentar mais controlada qualitativamente e quantitativamente, como aumenta a excreção de colesterol a nível intestinal. As gorduras insaturadas, presentes ao nível do azeite, óleos vegetais, sementes, frutos oleaginosos e peixes gordos, estão associadas à redução dos valores de LDL e ao aumento dos valores de HDL. Os açúcares simples estão presentes em muitos alimentos, desde fruta, mel e laticínios, aos produtos processados acima descritos; normalmente em dietas ricas em gordura saturada e trans o elevado consumo de açúcares simples provém maioritariamente deste último grupo de alimentos. O consumo elevado de açúcares simples aumenta a formação de reservas de gordura e, consequentemente, leva a um aumento do peso corporal que constitui um fator de risco para a hipercolesterolémia.

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Para conseguir reduzir o colesterol, deve então:

  • Aumentar o consumo de vegetais
  • Garantir o consumo de 2 a 3 peças de fruta por dia
  • Trocar os cereais e derivados de cereais refinados por versões integrais
  • Aumentar o consumo semanal de peixes gordos e diminuir o consumo de carne, preferindo as carnes “brancas” e sempre retirando a pele e toda a gordura visível
  • Incluir na alimentação sementes, frutos oleaginosos e leguminosas
  • Preferir o azeite, óleos vegetais e cremes vegetais em detrimento da banha e manteiga
  • Evitar a ingestão de produtos de charcutaria, de produtos de pastelaria e confeitaria, snacks doces e salgados e de outros produtos processados ricos em gordura saturada e trans e açúcares.

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Durante muito tempo considerou-se que o consumo de colesterol através da alimentação provocava um aumento do colesterol sérico. Assim, até há bem pouco tempo, as recomendações passavam por diminuir ou mesmo evitar o consumo de alimentos ricos em colesterol – produtos de origem animal, especialmente carnes, marisco e ovos (cuja recomendação passava pelo consumo máximo de 1-2 ovos por semana). Atualmente, sabe-se que o colesterol alimentar tem pouca influência no colesterol sérico, pois o organismo, ao ter mais colesterol fornecido endogenamente, diminui o colesterol produzido no fígado. O colesterol sérico não sofre, portanto, grandes alterações. Claro que isso não significa que se possa consumir estes alimentos desregradamente; moderação é a palavra-chave e sempre dentro dos 300mg de colesterol alimentar por dia.

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Outras considerações

Para um melhor controlo dos níveis séricos de colesterol, deve fazer análises periodicamente e analisar os valores de colesterol total, LDL e HDL, verificando se se encontram dentro dos valores considerados adequados e/ou se as alterações no estilo de vida surtiram já algumas mudanças positivas nestes valores. Para além das alterações alimentares referidas, deve também moderar o consumo de álcool, evitando a ingestão frequente de mais de uma ou duas doses diárias, e cessar hábitos tabágicos caso os apresente. Deve igualmente garantir entre 7h a 8h horas de sono diárias, a prática regular de exercício físico e o controlo frequente do peso corporal, reduzindo ou mantendo o peso dentro dos valores aceitáveis para a altura e estrutura corporal.

Joana Ferreira

Nutricionista Estagiária à Ordem dos Nutricionistas

Os espectadores activos contra os espectadores activos — a inércia e o desprezo pela nossa língua.

Os políticos preocupam-se muito com as beatas no chão, mas nada com a riqueza ortográfica do português.


À memória do Vasco Graça Moura.

Se pensam que este artigo é duro, imaginem o que ele escreveria.

Prometi a mim próprio escrever um ou dois artigos por ano contra o chamado “acordo ortográfico”.
E fiz essa promessa para não pecar do mesmo mal da inércia, que é a principal força que mantém este acordo vivo. Na verdade, são duas forças conjugadas, uma, a inércia, e a outra, o desprezo pela língua portuguesa. São duas forças muito poderosas e, conjugadas entre si, ainda mais poderosas são. Mas são forças negativas, que misturam preguiça, indiferença, incultura, desprezo pela memória, e irresponsabilização pelo desastre e fracasso diplomático que representou o acordo.
  O resultado é que todos os anos o português escrito em Portugal se afasta do do Brasil, de Angola, Cabo Verde, onde o acordo ou não existe ou não é aplicado. Ficamos com um português de ortografia pobre, menos resistente a estrangeirismos e menos expressivo, em nome de um objectivo falhado: o de fazer a engenharia da língua de forma artificial. E não me venham com o “pharmácia” e farmácia, porque o contexto deste acordo inútil é muito diferente dos anteriores, porque foi feito num momento em que tudo aconselharia prudência em mexer numa língua cujas ameaças principais não vêm da falta de unificação ortográfica, mas da correlação entre a perda de dinamismo social e a riqueza da língua, ortografia, léxico, gramática e oralidade. E aqui Portugal fica sempre a perder com o Brasil.

E não me venham também com o facto de ser apenas um acordo na ortografia, que não afecta a oralidade, nem a riqueza lexical.
  Afecta e muito, porque lemos com os olhos, e para lá dos olhos é a imagem das palavras que fica, e uma coisa é ser-se “espetador” e outra ser-se espectador, apesar da inútil dupla grafia. Por detrás do espetador, como diria o Napoleão diante das pirâmides, mais de dois mil anos de civilização contemplam os infelizes do acordo, sem pai nem mãe latina e grega. Mas quem é que quer saber disso?
  Este é um dos casos em que fico populista e atiro em cima “deles”, os políticos. “Eles” preocupam-se muito com as beatas no chão, mas nada com riqueza ortográfica do português, na sua memória, nas palavras antigas que são o solo que pisamos. E é por isso que o acordo serve a ignorância, dos políticos do PS e do PSD e do CDS, que deixaram à suposta geração designada “a mais preparada de sempre”, um dos mitos com que alimentamos a nossa mediocridade colectiva. Sim, uma geração que faz cursos universitários sem ler um livro, e que fala com
  a expressividade dos SMS e do Twitter numa linguagem gutural e pobre, que o acordo ajuda a consolidar.
  O Big Brother de Orwell eliminava do vocabulário todos os anos algumas palavras.
  Para ele, a linguagem patológica dos escassos caracteres do Twitter, onde não passa um argumento racional, mas passa com facilidade um insulto, seria um ideal a conseguir. Falar com vocabulário variado e rico, algo que só se tem lendo, dá poder. O Big Brother queria retirar poder e não tenho dúvidas de que gostaria do acordo ortográfico, para eliminar a memória das palavras vindas dos dias de cor e passar ao cinzento da farda.
  Na verdade, é um problema maior do que a ortografia, é o problema da cultura e da democracia, onde todos os dias os parâmetros de mínima exigência são baixados, pelos pais, pelos professores, pelas instituições e, como o peixe apodrece pela cabeça, pela nonchalance dos nossos políticos pelas coisas importantes. E se há comparação que me honra é com o Velho do Restelo. Na verdade, o Velho do Restelo é uma das personagens mais interessantes e criativas d’Os Lusíadas. E tinha razão.
  E deixem-me lá as excepções. A regra é que os mais velhos traíram a memória da língua, e os mais novos vivem bem no mundo do Big Brother. O tecido cultural do país, agredido pelo acordo, não é feito de excepções mas sim da regra, e a contínua enunciação das excepções só serve para esconder a regra.
Pode-se ser culto sem saber quem era Ulisses, ou Electra, ou Lear, ou Otelo ou Bloom? Não, não pode. Como não se pode ser culto sem perceber a inércia, ou o princípio de Arquimedes. E, no caso português, sem ter
  lido umas frases de Vieira, ou saber quem eram Simão Botelho, Acácio, o sr. Joãozinho das Perdizes, ou Ricardo Reis, ele mesmo. E não me venham dizer que sabem outras coisas. Sabem, mas não chega, são menos, são diferentes, e não tem o mesmo papel de nos fazer melhores, mais donos de nós próprios e mais livres. Sim, livres, porque é de liberdade que se está a falar.

José Pacheco Pereira - Historiador. Escreve ao sábado no Publico

Vladimir Putin

O Presidente russo, Vladimir Putin, mostrou (28-06-2019) como o seu pensamento é verdadeiramente assustador e pode ser uma ameaça. Em entrevista ao Financial Times na véspera do início da cimeira do G20, criticou o liberalismo nestes termos: “Esta ideia liberal pressupõe que nada precisa de ser feito, que os migrantes podem matar, pilhar e violar com impunidade porque os seus direitos como migrantes devem ser protegidos.”

sábado, 29 de junho de 2019

Qual a quantidade de água que devemos beber por dia?

No início do século 19, as pessoas tinham que estar à beira da morte antes de se dignarem a beber água. Somente aqueles "reduzidos ao último estágio da pobreza satisfazem sua sede com água", dizia Vincent Priessnitz, fundador da hidroterapia, também conhecida como "a cura pela água".

Os tempos, de fato, mudaram. Somos bombardeados actualmente por uma série de mensagens dizendo que devemos tomar litros de água todos os dias, o que seria o segredo para ter uma boa saúde, se sentir mais disposto, perder peso e até evitar o câncer.

Passageiros são encorajados a andar com garrafas de água durante as viagens de metrô no Verão de Londres; recomenda-se aos estudantes levar água para a sala de aula; enquanto algumas reuniões de trabalho não podem começar sem que haja uma jarra de água gigante no meio da mesa.

Mulher bebendo água

O conselho que mais ouvimos é a "regra do 8x8": a recomendação não oficial de que devemos tomar oito copos de 240ml de água por dia, o que equivale a pouco menos de dois litros, além de quaisquer outras bebidas.

Essa "regra", no entanto, não é respaldada cientificamente - tampouco as directrizes oficiais do Reino Unido ou da União Europeia dizem que devemos beber tanta água assim.

Tudo indica que a recomendação de tomar dois litros de água por dia vem de interpretações equivocadas de duas fontes diferentes - ambas de décadas atrás.

Em 1945, o Comité de Nutrição e Alimentos do Conselho Nacional de Pesquisa dos EUA aconselhou os adultos a consumirem um mililitro de líquido para cada caloria de alimento.

Isso equivaleria a 2 litros para mulheres que adoptam uma dieta de 2 mil calorias, e 2,5 litros para homens que consomem 2,5 mil calorias.

Mas essa recomendação não era exclusiva para água - incluía a maioria dos tipos de bebidas - assim como frutas, legumes e verduras, que podem conter até 98% de água.

Em 1974, o livro Nutrition for Good Health ("Nutrição para uma boa saúde", em tradução livre), escrito pelos nutricionistas Margaret McWilliams e Frederick Stare, recomendava que um adulto médio deveria tomar entre seis e oito copos de água por dia.

E, segundo os autores, isso também incluía frutas e legumes, café e refrigerantes, até mesmo cerveja.

Confiar na sede

Não há dúvida de que a água é importante.

A água, que representa cerca de dois terços do nosso peso corporal, transporta nutrientes e resíduos ao redor do organismo, regula a temperatura, age como um lubrificante e amortece as nossas articulações, desempenhando uma função na maioria das reacções químicas que ocorrem dentro de nós.

Estamos constantemente perdendo água por meio do suor, da urina e da respiração. Garantir que temos água suficiente é essencial para evitar a desidratação.

Os sintomas da desidratação podem se tornar detectáveis quando perdemos entre 1% a 2% da água do nosso corpo.

Entre eles, estão: urina amarela escura; cansaço, tontura; secura na boca, nos lábios ou nos olhos; urinar menos de quatro vezes ao dia. Mas o sintoma mais comum? Simplesmente sentir sede.

Em casos graves e mais raros, a desidratação pode ser fatal.

Anos de afirmações infundadas em torno da regra do 8x8 nos levaram a acreditar que sentir sede significa que já estamos perigosamente desidratados.

Mas a maioria dos especialistas concorda que não precisamos de mais líquido do que a quantidade que nossos corpos pedem, quando pedem.

"O controle da hidratação é uma das coisas mais sofisticadas que desenvolvemos na evolução, desde que os ancestrais saíram do mar para a terra. Temos uma grande quantidade de técnicas sofisticadas que usamos para manter a hidratação adequada", diz Irwin Rosenburg, cientista do Laboratório de Neurociência e Envelhecimento da Universidade de Tufts, em Massachusetts, nos EUA.

Em um corpo saudável, o cérebro detecta quando o organismo está desidratado e activa a sede para estimular que a gente beba água. Também libera um hormônio que envia sinais aos rins para conservar água concentrando a urina.

"Se você ouvir seu corpo, ele vai te avisar quando estiver com sede", diz Courtney Kipps, consultor em medicina esportiva e professor do Instituto de Medicina Esportiva, Exercício e Saúde na University College London (UCL).

"O mito de que é tarde demais quando você está com sede é baseado na suposição de que a sede é um marcador imperfeito de um deficit de líquido, mas por que todo o resto no corpo deve ser perfeito e a sede imperfeita? Funcionou muito bem durante milhares de anos de evolução humana", avalia.

Embora a água seja a opção mais saudável, uma vez que não tem calorias, outras bebidas também nos hidratam.

Embora a cafeína tenha efeito diurético moderado, as pesquisas indicam que o chá e o café ainda contribuem para a hidratação - assim como as bebidas alcoólicas.

Água faz bem à saúde?

Há poucas evidências sugerindo que beber mais água do que nossos corpos pedem oferece benefícios extras, além de evitar a desidratação.

No entanto, vários estudos mostram, por exemplo, que beber o suficiente para evitar a desidratação leve ajuda a função cerebral e a capacidade de realizar tarefas simples, como a resolução de problemas.

Algumas pesquisas indicam ainda que a ingestão de líquidos pode ajudar a controlar o peso.

Mas Barbara Rolls, professora de medicina intensiva da universidade UCL, diz que qualquer perda de peso associada à água tem mais chance de estar relacionada ao uso da água como substituto de bebidas açucaradas.

"A ideia de que se entupir de água antes da refeição elimina peso não está bem sustentada."

"E a água que consumimos por si só se esvai rapidamente do estômago. Mas se você consome mais água por meio da comida, como uma sopa, isso pode ajudar você a se sentir satisfeito, pois a água está ligada à comida e fica no estômago por mais tempo", explica.

Outro suposto benefício para a saúde de beber mais água é que melhora o aspecto da pele.

Mas não há evidência suficiente para sugerir que existe um mecanismo científico confiável por trás disso.

Água em excesso pode fazer mal?

Quem tenta tomar oito copos de água por dia não está causando nenhum mal a si mesmo.

Mas a crença de que precisamos beber mais água do que o nosso corpo pede às vezes pode ser perigosa.

O consumo excessivo de líquidos pode se tornar grave quando provoca diluição de sódio no sangue. Isso cria um inchaço no cérebro e nos pulmões, à medida que o líquido se desloca para tentar equilibrar os níveis de sódio no sangue.

Ao longo da última década, Kipps teve conhecimento de pelo menos 15 casos de atletas que morreram de excesso de hidratação durante eventos esportivos.

Ele suspeita que esses casos acontecem em parte porque desconfiamos de nosso próprio mecanismo de sede e acreditamos que precisamos beber mais do que nosso corpo está pedindo para evitar a desidratação.

"Enfermeiros e médicos em hospitais lidam com pacientes gravemente desidratados, que têm condições médicas graves ou que não puderam beber por dias, mas esses casos são muito diferentes da desidratação que as pessoas se preocupam durante as maratonas", explica.

Johanna Pakenham correu a Maratona de Londres de 2018, a mais quente já registrada, e acabou indo parar no hospital.

Ela bebeu tanta água durante a corrida que acabou se hidratando em excesso, desenvolvendo um quadro de hiponatremia (baixos níveis de sódio no sangue).

"Minha amiga e meu companheiro pensaram que eu estava desidratada e me deram um copo grande de água. Eu tive um ataque e meu coração parou. Fui levada de helicóptero para o hospital e fiquei inconsciente da noite de domingo até a terça-feira seguinte", relembra.

Pakenham, que planeja correr a maratona novamente neste ano, diz que o único conselho de saúde que recebeu de amigos e cartazes de divulgação da maratona foi beber muita água.

"Quero que as pessoas saibam que algo tão simples pode ser tão mortal."

"Tudo o que eu precisava para ficar bem eram algumas pastilhas de electrólitos, que aumentam os níveis de sódio no sangue. Já tinha feito algumas maratonas antes e não sabia disso", diz ela.

Quanto devemos tomar?

A ideia de que devemos estar constantemente hidratados significa que muitas pessoas levam água para aonde quer que vão, e bebem mais do que seus corpos necessitam.

"O máximo que uma pessoa na temperatura mais quente possível no meio do deserto pode suar é dois litros em uma hora, mas isso é muito difícil", diz Hugh Montgomery, director de pesquisa do Instituto para o Desporto, Exercício e Saúde de Londres.

Por isso, para o especialista, não é necessário sair por aí com uma garrafa de 500 ml de água para uma viagem de 20 minutos no metrô, "porque você nunca vai ficar quente o suficiente para transpirar nesse ritmo, mesmo que esteja empapado de suor".

Para aqueles que se sentem mais confortáveis em seguir as orientações oficiais, em vez da própria sede, o sistema de saúde público do Reino Unido (NHS, na sigla em inglês) recomenda beber entre seis a oito copos de líquido por dia, incluindo leite com baixo teor de gordura e bebidas sem açúcar, como chá e café.

Também é importante lembrar que nossos mecanismos de sede perdem a sensibilidade quando passamos dos 60 anos.

"À medida que envelhecemos, nosso mecanismo natural de sede se torna menos sensível e nos tornamos mais propensos à desidratação do que os mais jovens. E talvez precisemos estar mais atentos aos nossos hábitos de consumo de líquidos para nos manter hidratados", diz Davy.

A maioria dos especialistas concorda que a necessidade de líquido varia de acordo com a idade, a estrutura corporal, o género, o ambiente e o nível de actividade física de cada indivíduo.

"Uma das falácias da regra do 8x8 é a simplificação excessiva de como nós, como organismos, respondemos ao ambiente em que estamos inseridos", diz Rosenburg.

"Devemos pensar na necessidade de líquidos da mesma forma que a necessidade de energia".

A maioria dos especialistas tende a concordar que não precisamos nos preocupar em beber uma quantidade arbitrária de água por dia: nossos corpos sinalizam quando estamos com sede, como fazem quando estamos com fome ou cansados.

O único benefício para a saúde de beber mais do que o necessário é, ao que parece, as calorias extras que você gasta correndo para o banheiro com mais frequência.

Leia a versão original desta reportagem (em inglês) no site BBC Future.

sexta-feira, 28 de junho de 2019

O historiador da Grécia Antiga que ‘previu guerra inevitável‘ entre EUA e China–Tucídides

Não faz muito tempo, a ascensão da China era vista como essencialmente benigna. Uma economia em crescimento, pensava-se, andaria de mãos dadas com um sistema político mais liberal. A China estava, para usar uma frase popular entre especialistas americanos, tornando-se uma potência global responsável.

Mas, hoje, a China é cada vez mais vista como uma ameaça. De fato, muitos temem que a rivalidade entre China e Estados Unidos possa até levar a um conflito com ramificações globais. Os dois países estariam em curso inevitável rumo à guerra?

Um novo conceito proposto nos Estados Unidos, que remete à Grécia Antiga e ao trabalho de Tucídides, o historiador da Guerra do Peloponeso entre Atenas e Esparta, pode ajudar a responder esta questão.

O cientista político Graham Allison, professor do Centro Belfer da Universidade de Harvard, é um dos principais estudiosos das relações internacionais americanas.

Seu livro, Destined For War: Can America and China Avoid Thucydides Trap? (Destinados à guerra: Estados Unidos e China conseguirão evitar a armadilha de Tucídides?, em tradução livre; Houghton Mifflin, 2017), tornou-se leitura obrigatória para muitos formuladores de políticas, acadêmicos e jornalistas.

A armadilha de Tucídides, diz Allison, é a dinâmica perigosa que ocorre quando um poder em ascensão ameaça a posição de um poder já estabelecido - no passado, Atenas, e, hoje, os Estados Unidos.

No antigo mundo grego, foi Atenas que ameaçou Esparta. No fim do século 19 e começo do século 20, a Alemanha desafiou a Grã-Bretanha. Hoje, uma China em ascensão está potencialmente desafiando os Estados Unidos.

Ao analisar 500 anos de história, Allison identificou 16 exemplos de potências emergentes que confrontaram um poder estabelecido: em 12 dos casos, issou levou à guerra.

A rivalidade entre Washington e Pequim é, segundo ele, "a característica que define as relações internacionais atuais e no futuro próximo". Então, perguntar se Estados Unidos e a China conseguirão evitar a armadilha de Tucídides não é uma questão meramente acadêmica. A armadilha rapidamente se tornou um grande prisma analítico através do qual se pode ver a competição entre Washington e Pequim.

Claro, nem todo mundo concorda. "Acho que o equilíbrio de poder não apóia a hipótese da armadilha de Tucídides", diz Hu Bo, professor do Instituto de Pesquisas Oceânicas da Universidade de Pequim e um dos principais estrategistas navais da China.

Embora a ascensão da China seja notável, ele acredita que sua força global simplesmente não seja comparável à dos Estados Unidos. A China teria alguma chance de se equiparar ao poderio dos Estados Unidos apenas na região do Pacífico Ocidental

Mas um confronto nesta região poderia ser suficiente para levar essas duas grandes potências à guerra. Não menos importante é o fato de que a China está buscando construir a maior armada naval do mundo.

"Isso não é apenas impressionante nos tempos atuais", diz Andrew Erickson, professor de estratégia da Faculdade de Guerra Naval dos Estados Unidos e um dos principais especialistas em Marinha chinesa. "Isso é impressionante em termos históricos."

A qualidade dos equipamentos da China também está melhorando significativamente, com navios de guerra maiores e mais sofisticados, cujas capacidades, em muitos aspectos, estão se aproximando das de embarcações ocidentais.

A estratégia marítima chinesa também está se tornando mais assertiva.

Embora o foco dessa assertividade permaneça, por enquanto, relativamente próximo do território chinês, Pequim está tentando elevar os custos de uma possível interferência dos Estados Unidos em uma crise.

Quer ser capaz de manter os americanos à distância se, por exemplo, decidir usar sua força contra Taiwan. E os Estados Unidos estão determinados a manter seu acesso à região.

Mas as crescentes tensões sino-americanas também são produto de fortes personalidades.

Elizabeth Economy, diretora de Estudos da Ásia no Conselho de Relações Internacionais, um centro de pesquisa baseado nos Estados Unidos, diz que Xi Jinping tem sido um líder transformador com "uma visão muito mais expansiva e ambiciosa sobre o lugar da China no cenário global".

Ela argumenta que o elemento mais subestimado da ambição do presidente chinês é "seu esforço para reformular normas e instituições do cenário global de um modo que reflita mais de perto os valores e prioridades chineses".

Os Estados Unidos também estão revendo sua posição. Washington classificou a China, juntamente com a Rússia, como uma "potência revisionista", ao dizer que ambos querem "redifinir o mundo de acordo com seu modelo autoritário".

Os militares americanos agora consideram a China como um rival quase em pé de igualdade, um ponto de referência com o qual os poderios naval e aéreo dos Estados Unidos devem ser comparados.

Uma segunda Guerra Fria?

Mas, ainda que haja um ânimo diferente em Washington, ainda estão sendo dados os primeiros passos no estabelecimento de uma nova estratégia para lidar com Pequim.

Alguns falam da possibilidade de uma segunda Guerra Fria, desta vez entre os Estados Unidos e a China. No entanto, ao contrário da Guerra Fria do século 20, entre americanos e soviéticos, as economias americana e chinesa estão profundamente interligadas. Isso dá à rivalidade uma nova dimensão: uma batalha pelo domínio tecnológico.

A gigante de telecomunicações chinesa Huawei está no centro desta turbulência. Os Estados Unidos estão se recusando a permitir que a tecnologia da empresa seja usada em futuras redes de comunicação e estão pressionando aliados para impor uma proibição semelhante.

Além de restringir a compra de produtos da Huawei, os Estados Unidos também estão processando criminalmente a empresa e sua diretora financeira, Meng Wanzhou, filha do fundador da companhia, Ren Zhengfei, que foi presa no Canadá em dezembro, a pedido de autoridades americanas.

A batalha de Washington com a Huawei exemplifica preocupações mais amplas com o setor de alta tecnologia da China em relação ao roubo de propriedade intelectual, vendas ilícitas ao Irã e espionagem.

Por trás de tudo isso, está o temor de que a China possa em breve dominar tecnologias-chave para a prosperidade futura, como internet, carros autônomos e inteligência artificial. A economia e a estratégia global estão intrínsicamente ligadas a este debate, com a China decidida a se tornar um ator global dominante na próxima década.

Isso obviamente dependerá da China continuar a crescer. Há sinais de que sua economia pode estar enfrentando problemas ao se apegar ao modelo autoritário e rejeitar outras reformas de mercado. O que pode acontecer se o progresso econômico diminuir?

Alguns argumentam que Xi Jinping pode conter suas ambições. Outros temem que isso possa enfraquecer sua legitimidade na China e encorajá-lo a fortalecer o nacionalismo, levando potencialmente a uma assertividade ainda maior.

A rivalidade entre a China e os Estados Unidos é real e não vai a lugar algum. Um erro de cálculo estratégico é um risco claro. Os dois países estão em uma encruzilhada estratégica. Ou eles encontrarão maneiras de acomodar os interesses um dos outro ou terão um relacionamento muito mais conflituoso.

Isso nos traz de volta à armadilha de Tucídides. Mas Allison enfatiza que nada aqui está gravado em pedra. A guerra entre Estados Unidos e China não é inevitável. Seu livro, ele diz, é sobre diplomacia, não sobre destino. BBC