sábado, 17 de outubro de 2020
sexta-feira, 16 de outubro de 2020
Seis razões por que isto ainda é uma choldra
Discutimos mais uma reportagem da SIC do que num escândalo de corrupção. Tomamos Lisboa pelo país nas políticas de habitação. E preferimos ser enganados a conhecer a verdade. Podes voltar João da Ega.
No tempo de Eça de Queiroz e de “Os Maias” o Portugal que interessava não era Lisboa, era o Chiado. E foi a olhar para esse Chiado que João da Ega, alter-ego do autor, carimbou esta nossa terra como uma “choldra torpe”, país de uma civilização “em segunda mão” e que “fica-nos curta nas mangas”.
130 anos depois vivemos, como quase sempre vivemos, entra o acabrunhamento de quem suspeita que choldra éramos e choldra somos e a euforia de espaçados momentos de glória. O que é trágico, pois entre ilusão e desilusão raramente temos tempo ou disposição para sacudir de vez a canga da pobreza porque nunca ganhamos a coragem necessária para enfrentar os problemas de frente e resolvê-los de vez.
Portugal hoje já não será só o Chiado, alargou-se ao Lux, ao Café In e ao Gattopardo, mas nele não são poucos os sinais deste nosso persistente e insuportável atavismo. Como esta meia dúzia de exemplos que recolhi só nestas últimas semanas.
1. O silêncio em torno da corrupção
Um antigo primeiro-ministro, José Sócrates, acusado de ter enriquecido com subornos. O mais poderoso dos banqueiros, Ricardo Salgado, suspeito de subornar e já acusado de 21 crimes. Um antigo ministro, Manuel Pinho, que recebia um ordenado paralelo numa offshore. Uma eléctrica, a EDP, que beneficiou de contratos de favor assinados por esse ministro. Um outro ex-ministro, Miguel Macedo, a ser julgado num processo de tráfico de influências.
Eu podia continuar com a lista, que é longa e deprimente. Mas o ponto não é esse. O ponto é o vergonhoso pacto de silêncio que parece ter caído sobre estes casos. O ponto é esta obsessão por dizer que a Justiça é a Justiça e que a Política é a Política, como que estes casos não fossem também casos políticos e inquietantes sinais da fragilidade nas nossas instituições. O ponto é o descaramento de quem, como Arons de Carvalho, da candidatura de António Costa a novo mandato à frente do PS, considera que “não é reprovável uma pessoa viver com dinheiro emprestado” depois de tudo o que já se sabe e só para recusar um debate interno no partido.
Pior: o ponto é perceber que os grandes escândalos medraram e medram numa cultura feita de chico-espertice, feita de esquemas e cunhas, uma cultura de que nos chegam notícias diárias, sejam elas dos que empregam toda a família na política ou dos que aldrabam o currículo académico, sejam elas as dos que recebem subsídios de viagem a duplicar ou dos que pedem subsídios a que não têm direito.
O ponto comum, e que cruza grande parte da vida pública, é que quando não se tem a espinha direita ou quando se confunde a legalidade formal com os imperativos éticos, tudo se torna possível. Conta a carreira, conta o partido, contam os amigos e a família, não conta o dever e ainda menos o país. E é aí que perdemos todos os dias, todos os santos dias.
Ainda agora foi revelado o mais recente relatório sobre Portugal do GRECO (Grupo de Estados contra a Corrupção, que funciona no quadro do Conselho da Europa) e nele se verifica que o nosso país só concretizou um das quinze recomendações que lhe foram feitas, uma vergonha.
E, no entanto, ninguém parece querer discutir como foi possível que esta doença chegasse ao topo do Estado e do sistema bancário, contribuindo e de que maneira para a bancarrota de 2011. Preferem-se, aparentemente, outras narrativas até porque muitos dos que hoje nos governam estão entre os que juram que nunca viram nada, nunca desconfiaram de nada. Tretas, mas tretas que dão paz de espírito.
2. A polémica das reportagens da SIC
É uma espécie de desdobramento do mal anterior. O que me interessa neste momento não é discutir se a SIC devia ou não ter procedido à divulgação dos vídeos dos interrogatórios – é uma questão que exige muito mais ponderação do que a da exaltação de uma matilha de comentadores. O que me interessa é a desproporção entre as reacções que esta controvérsia suscitou e a que foi gerada pelo conhecimento dos pagamentos a Manuel Pinho – uma desproporção que Francisco Teixeira da Mota não deixou de considerar curiosa.
De facto, o que pode explicar que uma reportagem cause mais indignação do que um dos mais graves, senão o mais grave caso de promiscuidade entre um governante e um grande grupo económico da história da nossa democracia? Só encontro duas explicações, e ambas não são boas.
A primeira é que já estamos anestesiados: as suspeitas de corrupção não só não nos surpreendem como já quase não nos indignam. Tomamo-las quase como uma fatalidade e reagimos com um encolher de ombros. Nisso somos cúmplices do silêncio dos partidos.
A segunda é que, no país do respeitinho, exaltamo-nos mais depressa com uma eventual violação do direito à imagem e à privacidade de suspeitos de crimes graves do que nos exaltaríamos se houvesse limitações à liberdade editorial da SIC. Achamos, mas achamos mal, que isso é que é um sinal de civilização e de que somos bem educados.
Repito: não estou a avaliar a decisão da SIC, estou a reflectir sobre o porquê da desproporção das indignações. E a pensar cá com os meus botões que, quando toca a liberdade, mesmo os que gostam de defender a liberdade de ofender se o que estiver em causa for o Charlie Hebdo, são lestos a declarem-se ofendidos, ou mesmo enojados, quando a coisa lhes toca mais perto de casa.
Se a SIC errou teve ao menos a coragem de errar. Não poderei dizer o mesmo de muitos dos “indignados”.
3. O drama das rendas e dos despejos
Quem ler os jornais ou vir as televisões achará que Portugal vive um drama habitacional. Tão pungente que os partidos se multiplicam em iniciativas legislativas e o consenso do momento é que é tudo por causa de uma lei de 2012, a “lei dos despejos”, ou “lei Cristas”. Nuns dias relata-se o drama humano daquele quadro da classe média que teve de exilar-se nos Olivais porque perdeu o apartamento no Saldanha. No dia seguinte repete-se acriticamente a alegação de que haverá “mais de 500 mil inquilinos precários”, um número absurdo se pensarmos que, de acordo com o último censo (2011), não chegava a 800 mil o total dos alojamentos familiares clássicos arrendados, isto num país onde existem quase seis milhões de casas ou moradias.
Instalou-se um histerismo que, mais uma vez, apenas reflecte o que se passa no umbigo do tal Portugal que circula no “Chiado alargado” dos nossos dias. E o que se passa é simples: durante décadas os centros de Lisboa e do Porto esvaziaram-se e caíram aos pedaços porque durante um século viveram-se várias formas de congelamento das rendas (porventura a única causa comum que uniu a I República ao salazarismo e este ao PREC e depois à democracia); milhões investidos em programas de reabilitação de pouco ou nada serviram; veio então a liberalização do mercado do arrendamento, chegou o turismo e o investimento estrangeiro, e os centros das cidades voltaram a ficar bonitos, limpos e modernos, graças a muito investimento privado; como tudo isso teve um custo, os preços subiram, e os que antes desdenhavam as ruínas das cidades velhas passaram a cobiçar o viço dos bairros renascidos; ou seja, tudo se explica mais facilmente se nos lembrarmos de que, como toda a gente sabe, a última palavra de “Os Lusíadas” é “inveja”.
E pronto. Num ápice passámos a ter um dramático problema habitacional, num instante ficámos familiarizados com o demónio da gentrificação e quando ainda mal se começava tentar perceber o que se podia melhorar num regime que permitiu um milagre de reabilitação urbana, eis que entre algumas propostas sensatas (outras nem tanto) do governo PS, os deputados do PS começam a falar em congelar despejos ou em expropriar casas. Seria um delírio se não fosse já um desastre anunciado.
Não vou hoje discutir o detalhe das propostas, apenas sublinhar o eterno retorno do estatismo e o desconchavo de um debate quem não parece capaz de perceber que nem em Lisboa se está a passar o que dizem – e o que dizem é que já não se pode viver no centro tão altas são as rendas, sendo que é no centro que se diz existir e hecatombe humana e social dos despejos. Pois bem, os dados do INE não parecem confirmar este diagnóstico, como se vê pelas imagens seguintes, extraídas do mais recente relatório do Instituto Nacional de Estatística relativo a 2017.
O primeiro mostra que as rendas mais caras de Lisboa não estão circunscritas aos bairros históricos, sendo que o preço médio mais elevado é mesmo num bairro recentíssimo, o Parque das Nações:
O segundo indica que a maior parte dos novos contratos de arrendamento de 2017 foram realizados, imaginem lá, na muito pouco sexy, pelo menos a acreditar nas notícias e reportagens, freguesia de Arroios:
Eu diria que estes dados não casam lá muito bem com o discurso dominante, mas isso pouco importa: quando os factos contrariam as ideias, o melhor é esquecer os factos. Ficamos muito de melhor com a nossa consciência – e com a garantia que insistiremos, de novo, nos erros de sempre.
4. A pequenez dos acordos de “bloco central”
Gostamos muito de teatro, tanto que estamos prontos a engolir qualquer rábula. Não sei quantos portugueses leram as quatro páginas da declaração conjunta do Governo e do PSD sobre descentralização, ou quantos leram as 24 páginas relativas aos fundos comunitários, mas o que gostaria realmente de conhecer é os números daqueles que, depois o fazerem, não acham que aquilo é apenas uma mão cheia de nada e outra de coisa nenhuma. Mais: se é para aquilo que se fala em “acordos de regime” e “convergências em nome do interesse nacional”, então eu vou ali e já venho.
Não é por acaso que não assistimos a nenhuma verdadeira discussão sobre o conteúdo dos documentos – é que não há ali nada ou quase nada para discutir. Aliás nem se percebe muito bem o que é que os dois partidos discutiram – não se percebe porque o PSD não deu a conhecer com antecedência as suas propostas, não se percebe pois o que se sabe das posições do Governo e PSD nestes domínios é que já convergiam antes de se falar em convergências, e não se percebe porque tudo o que vier a ser realmente substancial ficou para ser estudado mais tarde. Bem à portuguesa, nas comissões que forem necessárias.
Os acordos só serviram para uma encenação, uma dupla encenação: a de Rui Rio, que quer mostrar que não é Passos Coelho; e a de António Costa, que quer provar que não é só geringonça. Quem ganha mais com este número é fácil de perceber, quem não ganha nada somos nós todos, pois o que aprendemos, ou confirmámos, é que os dois partidos centrais do que gostam mesmo é de se entender quando toca a proteger as suas autarquias locais e chega a hora de pedir dinheiro à Europa. Assim se alimentam as suas redes de poder e influência, assim se consolidam as suas lideranças.
Fossem outras as intenções, isto é, houvesse real vontade de convergir sobre o que é difícil, sobre o que devia ultrapassar o tempo de uma legislatura, então o Governo teria aceite debater a reforma da Segurança Social e proposto consensualizar as novíssimas políticas de habitação. Mas não, isso fica para a chicane política, que assim é que estamos bem. Não nos levamos a sério nem tratamos de coisas sérias.
5. Os truques de Centeno, ou dizer uma coisa e fazer outra
Haverá muitas formas medir a austeridade, mas a única que conheço que me parece objectiva e séria é a que avalia as variações do saldo orçamental estrutural. É o único indicador que mede o esforço de contenção orçamental corrigido do ciclo económico, permitindo perceber se a redução do défice é apenas fruto do crescimento económico ou se, em cima deste, ainda há “austeridade”. Ninguém melhor do que Pedro Romano para o explicar (e fê-lo várias vezes no seu blogue Desvio Colossal), mas infelizmente ele já não está entre nós e por isso vou ter de recorrer a um post e a um gráfico já com alguns meses mas que permanecem bem actuais.
Olhando para estas colunas – que os dados mais recentes confirmaram no essencial, com o detalhe delicioso de o número verdadeiro para 2017 ter sido ainda mais elevado, 1% de acordo com as contas do Conselho de Finanças Públicas –, resulta evidente que os dois anos de geringonça foram dois anos de austeridade, e que o último ano de Passos Coelho é que foi um ano de relativo desapertar do cinto.
Hoje, depois de tudo o que Mário Centeno tem vindo a dizer e defender, já não restarão muitas dúvidas sobre a persistência da austeridade, quanto mais não fosse por termos registado em 2017 a maior carga fiscal de sempre. Sabemos também de massa se fez essa austeridade: com cativações e cortes no investimento, do lado da despesa, e com impostos indirectos em vez de impostos directos, do lado da receita.
É isso surpreendente? É. Porque nunca foi esse o discurso e porque nunca os Orçamentos de Estado foram tão mentirosos (no momento da sua aprovação) e tão teimosamente opacos (na fiscalização da sua execução).
Mas aqui o importante é notar como esta mentira política encontrou na geringonça o tipo de parceiros dispostos a engolir tudo, mesmo o que garantiam que nunca engoliriam – basta recordar as reacções grandiloquentes do Bloco e do PCP às novas metas orçamentais do Plano de Estabilidade a que nenhuma acção consequente se seguiu. Foi só teatro, se é que não foi mesmo só fumaça.
O mais triste e significativo é que estes anos nos mostraram que a mentira compensa. Compensa dizer uma coisa e fazer outra. Compensa oferecer com uma mão e tirar com a outra, desde que isso só se note mais tarde. Compensa ser dissimulado e escorregadio, pois isso é aplaudido pelos comentadores como sendo “habilidade política”.
O que não compensa mesmo é tentar ser verdadeiro e alertar os portugueses para as dificuldades. Eles preferem antes chupa-chupas e fingimentos.
6. A polémica do Museu das Descobertas
O derradeiro sinal de que isto, afinal, ainda é uma choldra é talvez o mais queirosiano de todos: a polémica sobre se deve ou não haver um Museu das Descobertas. Como dizia o João da Ega, “aqui importa-se tudo. Leis, ideias, filosofias, teorias, assuntos, estéticas, ciências, estilo, indústrias, modas, maneiras, pilhérias, tudo nos vem em caixotes pelo paquete”. Já não há paquetes como os desses tempos, há aviões e Internet, mas o disparate subscrito por um grupo de historiadores e “cientistas sociais” que não querem que um museu possa ter tal nome é apenas a mais recente importação de modas intelectuais alheias.
Não é apenas o politicamente correcto a impor-se, é o novo fanatismo que faz lei em tantas universidades e que pretende reescrever a história não em nome de qualquer método científico mais apurado, mas em nome de agendas políticas ditas libertadoras. Nem vou gastar muitas linhas a argumentar, pois estou farto destas litanias permanentes contra a “culpa do homem branco”, sobretudo do homem branco e ocidental, litanias que só contribuem para menorizar as outras civilizações e, pior do que isso, aprisioná-las num passado empobrecedor. Só me surpreende que pelo caminho estes fanáticos tenham conseguido atemorizar a Câmara de Lisboa e o seu presidente, que ficou sem saber se deve ou não cumprir uma promessa eleitoral.
Também isso é sinal dos tempos, pois na política tem-se medo de tudo. E mais medo se tem neste país onde o que mais me irrita é ouvir gente que diverge e o faz publicamente ser elogiada pela sua coragem. Coragem? Coragem porquê? Não somos um país livre?
Sim, somos. Mas também somos portugueses e, como notou Maria Filomena Mónica num trabalho do Observador sobre a actualidade de Eça, “nenhuma figura a ilustra melhor [a imagem dos portugueses de si mesmos] do que o Zé Povinho, um saloio patético que faz manguitos nas costas do patrão, porque, à sua frente, não tem coragem de dizer o que pensa.”
Apetece mesmo concluir: de facto, que choldra torpe.
quinta-feira, 15 de outubro de 2020
Gajos cobardes (em dois actos)
“O rapaz fala bem mas não presta”
(Miguel Torga)
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Se uma imagem vale mil palavras, os sete segundos da diatribe de António Costa contra os médicos descrevem-no melhor do que tudo o que possa ser escrito sobre o homem que governa Portugal.
por Mário Crespo
Primeiro Ato
Um espetro assombra a democracia em Portugal – o espetro da autocensura no jornalismo.
O perigoso argumentário que está a ser propalado por zelotas de boas-práticas jornalísticas onde se fala de ‘divulgação ilegal’ de notícias e de ‘não-vale-tudo’, anuncia mais do que uma deriva para o controlo oficial da informação. Na verdade, o que se passou nos últimos dias, diz-nos que o poder político já comanda muito do que hoje vemos, ouvimos e lemos e que está a tentar orientar a opinião publica nos sentidos que acha que lhe são favoráveis.
Se uma imagem vale mil palavras, os sete segundos da diatribe de António Costa contra os médicos descrevem-no melhor do que tudo o que possa ser escrito sobre o homem que governa Portugal.
Quando o primeiro-ministro fala de ‘médicos’ como ‘gajos’ ‘cobardes’ emite uma declaração crucial para contextualizar a sua atitude para enfrentar os múltiplos problemas de saúde pública do país em pandemia. O grupo de jornalistas que o entrevistou devia ter-lhe pedido imediatamente um comentário sobre os fundamentos de tão violento destrato. Nunca por nunca poderiam ignorá-la, como o tentaram fazer os responsáveis editoriais do Expresso.
Note-se bem que não houve nenhum caso de ‘off-the-record’. De resto, compromete muito o desempenho jornalístico, a falta de perceção que a classe jornalística portuguesa (se é que existe) está a mostrar sobre o conceito. O ‘off-the-record’ é o entendimento entre repórteres e os objetos de notícia onde o único compromisso eticamente possível é salvaguardar o anonimato da fonte. Nunca pode ser invocado para obliterar conteúdos ao sabor da conveniência dos entrevistados. Divulgar matéria noticiosa é a obrigação jornalística. Sem a divulgação inconveniente de conteúdos noticiosos não teria havido conhecimento do escândalo de Watergate, das infâmias da Casa Pia, da roubalheira no BPN ou das irregularidades nas contas de Sócrates. Na verdade, sem a divulgação dos conteúdos obtidos por trabalho jornalístico, não há democracia. Não divulgar o que Costa disse sobre os médicos seria um ato de censura.
Uma situação de entrevista (tanto mais na residência oficial do primeiro-ministro) é o mais formal dos atos de colheita de informação que pode haver numa democracia. Tudo o que for dito é registo público. Os jornalistas não se podem comportar aqui como confidentes dos estados de alma de um entrevistado grosseiro, como foi o caso da equipa do Expresso a avaliar pela bondosa entrevista que conduziram que só fez notícia a sério na parte que não queriam divulgar.
Quando há quatro anos António Costa, por causa de um deslize de linguagem inconsequente, empurrou João Soares para fora do seu Gabinete, justificou-se chamando os media e dizendo: «(...) recordei aos membros do Governo que, enquanto membros do Governo, nem à mesa do café podem deixar de se lembrar que são membros do Governo e, portanto devem ser contidos na forma como expressam as suas emoções.» Mais adiante nesta mesma declaração, que foi o equivalente à punhalada nas costas dada durante um abraço fraterno com que Macbeth assassina o seu amigo Banquo, António Costa referiria a prudência e o bom senso que é necessário ter «(...) nestes espaços comunicacionais que hoje não são de conversa privada nem reservada tornam-se, naturalmente, públicos.» Prudência e bom senso que lhe faltaram neste contacto com jornalistas onde seguramente não se portou como o mais importante membro do Governo. Mas, enfim, provavelmente Costa disse aquelas coisas porque se sentiu muito à vontade com jornalistas do Expresso. A entrevista denota isso, particularmente na forma irada e brusca como Costa descreveu para os seus venerandos, obrigados, assustados e tão passivos entrevistadores o entendimento absurdamente restritivo que tem das atribuições da Ordem dos Médicos: «(...) as Ordens não existem para fiscalizar o Estado! Ponto final!») E eles ficaram-se. E mudaram de assunto.
Segundo Ato
António Costa é hoje primeiro-ministro de um estranho Gabinete formado por gente que amaldiçoa a vida pública portuguesa desde José Sócrates. Gente que serviu com empenho o ‘animal feroz’ durante o Freeport. Que andou com Soares, Guterres e Sampaio durante a Casa Pia e, já agora, gente que comprou meia dúzia de Kamov que não voam enquanto o país arde. E é também um homem com um nervo e calculismo raros. Testemunhei isso a 27 de maio de 2014 quando foi inaugurado na Ribeira das Naus um discreto monumento a Maria José Nogueira Pinto.
António Costa era presidente da Câmara de Lisboa. Fez um lindíssimo discurso exaltando a figura de Maria José e o seu influente papel na vida portuguesa. Jaime Nogueira Pinto fechou a cerimónia com palavras de saudade que comoveram todos e nos deixaram no silêncio sem jeito das recordações que doem mesmo. Foi neste ambiente de soturno mutismo coletivo que António Costa dobrou as duas folhas A4 do seu elogio fúnebre, meteu-as no bolso de um amplo casaco de alpaca cinzenta clara, compôs a gravata, apertou a mão a dois ou três dos presentes, afastou-se uns dez metros do monumento e acenou às três câmaras de TV que estavam a cobrir a inauguração que correram para ele enquanto jornalistas estagiários no habitual frémito mediático estenderam microfones ansiosos.
Teriam passado uns cinco minutos desde que António Costa, presidente da Câmara de Lisboa, tinha carpido um esgaçado e lacrimejante elogio fúnebre a uma pessoa excecional quando de costas para o monumento a Maria José Nogueira Pinto, anunciou que se ia candidatar à liderança do Partido Socialista declinando uma litania violenta contra o Secretariado de António José Seguro. Já se sabia que Costa planeava esta afronta, mas não se sabia quando tomaria uma atitude pública. Escolheu o dia do elogio fúnebre a Maria José Nogueira Pinto.
Ao ver isto vieram-me à cabeça as palavras de Miguel Torga num comentário que fez depois de conhecer um distinto socialista que em tempo esgravatou a liderança do PS e que acabaria por atingir ‘gloria in excelsis’ nas alturas da vida publica, ‘urbi et orbi’ : «O rapaz fala bem, mas não presta».
A saber: o relato dessa conversa tida no consultório do Dr. Adolfo Correia da Rocha em Coimbra foi-me feito em ‘off-the-record’.
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Comentário Pessoal de AFP:
O ‘rapaz’ a que Miguel Torga se referiu só pode ser o ‘Vitito’ Constâncio ou o ‘Tonito’ Guterres...
Deve ser o ‘Tonito’, porque o ‘Vitito’ nunca falou bem...
Quanto ao CHICHIMÉCO...nem sequer fala bem ...mas também NÃO PRESTA (evidentemente).
segunda-feira, 12 de outubro de 2020
História e crescimento do Grupo ARRIVA
As origens
A sede da Arriva está situada em Sunderland, Reino Unido.
Em 1938, a família Cowie abriu uma loja de motociclos em segunda mão em Sunderland. Esse foi o primeiro empreendimento de uma empresa que cresceu até atingir o estatuto de empresa internacional com negócios por toda a Europa.
Em 1960 a empresa, ainda sob a designação de Cowie, mudou de actividade para a venda a retalho automóvel no Reino Unido. Em 1965, tornou-se numa sociedade anónima cotada na Bolsa de Valores de Londres e em 1980 iniciou a sua campanha para a aquisição de empresas de autocarros, com a compra da Grey-Green Coaches em Londres. Nos anos seguintes, registaram-se outras aquisições de empresas de autocarros, a maior delas – o British Bus Group plc – em 1996 que tornou a empresa no maior operador de autocarros no Reino Unido.
Em 1997, o Grupo Cowie alterou a sua designação para Arriva, juntando sob um mesmo nome a experiência de várias empresas. Nesse mesmo ano a Arriva adquiriu a sua primeira empresa na Europa continental.
Esta cronologia transporta-o por todo o processo de crescimento da Arriva, pormenorizando as suas várias aquisições, a adjudicação de contratos e os principais acontecimentos.
Em Agosto de 2010, a Arriva foi adquirida pela Deutsche Bahn, um dos principais líderes mundiais em termos de serviços de passageiros e logística, que emprega 220 000 funcionários em 130 países.
1980
Entrada no mercado de autocarros britânico com a aquisição da Grey-Green Coaches de Londres.
1991
A empresa expande-se para o sector do aluguer de veículos no Reino Unido. A divisão de aluguer de veículos é vendida 15 anos mais tarde, em 2006, quando a Arriva realiza o seu fundamental reposicionamento para se concentrar nos mercados do transporte de passageiros no Reino Unido e no continente europeu.
1996
Entre as aquisições de empresas de autocarros destaca-se o British Bus Group no Reino Unido.
1997
A Arriva entra no mercado dos transportes europeu com a aquisição da Unibus Holdings na Dinamarca, que também exerce a sua actividade na Suécia.
Apresentação da designação “Arriva”, reunindo mais de 140 nomes de marcas de transportes.
1998
A Arriva procede à aquisição da Vancom Nederland eda Veonn & Hanze nos Países Baixos, transformando a Arriva no maior operador de serviços de autocarros de turismo interurbanos e suburbanos.
1999
A Arriva expande as suas operações na Dinamarca com a aquisição da Bus Danmark. Adquire igualmente duas empresas de autocarros na Galiza, a noroeste de Espanha: Mercancias Ideal Gallego e Transportes Finisterre.
A empresa inicia a sua actividade de prestação de serviços de autocarros e comboios em Friesland, no âmbito de uma joint venture, e serviços de comboios em Groningen (assumindo o controlo total em 2003).
A Arriva anuncia o seu reposicionamento com o objectivo de se dedicar ao transporte de passageiros no Reino Unido e na Europa continental. Assim, as actividades do grupo ligadas ao aluguer de longa duração, venda a retalho de veículos e aluguer de veículos são alienadas.
2000
Entra no mercado português dos serviços de autocarros com a aquisição das empresas de autocarros Ami-Transportes e Abílio da Costa Moreira, a noroeste de Portugal.
2001
A Arriva adquire a Combus, o maior operador de autocarros dinamarquês.
2002
A Arriva adquire a Autocares Mallorca SL e a Donate Amenguel Ramis SL de Maiorca.
Adquire uma participação de 51% na Transportes Sul do Tejo, o maior operador de serviços de autocarros de turismo e autocarros regulares a sul de Lisboa, Portugal (atingindo os 100% em 2003).
A Arriva passa a ser o maior operador de autocarros do sector privado em Itália com a aquisição da SAB Autoservizi, que exerce a sua actividade a este de Milão, em especial na região da Lombardia, norte de Itália.
2003
A Arriva conclui o processo de aquisição da Transportes Sul do Tejo com a compra da restante participação de 49% do Grupo Barraqueiro (51 por cento foram adquiridos em 2002).
A Arriva passa a ter o controlo completo sobre a joint venture de serviços de autocarros/comboios nos Países Baixos, alterando a sua designação para Arriva Openbaar Vervoer NL.
Nos Países Baixos, a Arriva consegue um contrato para operação de serviços de transportes públicos na cidade e província de Groningen e na província de Drenthe (até Dezembro de 2009).
Na qualidade de primeira empresa privada a ganhar concessões para a exploração de serviços de comboios de passageiros na Dinamarca, a Arriva inicia o processo de exploração das franquias de oito anos no centro e norte da Jutlândia.
A Arriva inicia a exploração da nova franquia de serviços de comboios de passageiros por um período de 15 anos, servindo Gales e além fronteiras – Arriva Trains Wales/Trenau Arriva Cymru.
A divisão da venda a retalho de veículos motorizados é vendida no âmbito da estratégia da Arriva que passa a estar focada apenas nos mercados do transporte de passageiros no Reino Unido e na Europa continental.
2004
A Arriva chega ao mercado dos transportes públicos na Alemanha com a aquisição do Prignitzer Eisenbahn Gruppe. Adquire uma participação de 76,9% (atingindo os 100% em 2006) na Regentalbahn AG na região da Bavária, que presta serviços de comboios na Bavária, Turíngia e Saxónia.
A Arriva aumenta a sua quota no mercado dos transportes públicos em Itália com a aquisição de 49% da Società Autoservizi, F.V.G S.p.a (atingindo posteriormente os 60%).
A Arriva adquire a Wulff Bus A/S, um operador de autocarros dinamarquês que se enquadra geograficamente com a actividade já existente na Jutlândia e em Copenhaga. A Arriva passa a ser o maior operador de autocarros em Copenhaga com uma quota de 40% do mercado.
2005
A Arriva entra no mercado de autocarros alemão com a aquisição do Sippel Group, um dos maiores operadores de autocarros de capitais privados do país. A Arriva adquire a Blue Bus e a Coaches of Bolton no Reino Unido, alargando a sua presença a Bolton e região de Manchester.
A Arriva adquire uma participação de 80% do operador de autocarros italiano SADEM, que exerce a sua actividade em Piemonte e Valle d’Aosta, ficando em aberto a opção de compra dos restantes 20% em 2008 (concluído em 2008).
A Arriva anuncia a adjudicação do contrato para a exploração dos serviços de comboios na Bavária, a sul da Alemanha, entre Munique, Hof e Furth im Wald, por um período de dez anos, a contar de Dezembro de 2007.
Foi-lhe ainda adjudicado um contrato de 15 anos para a exploração em exclusivo dos serviços de comboios regionais em Friesland e Groningen, Países Baixos; e um contrato de seis anos para a exploração dos serviços de autocarros em Waterland, a norte de Amesterdão.
A Arriva aumenta a sua participação na Società Autoservizi F.V.G S. p. a. de 49 por cento (adquiridos em 2004) para 60 por cento.
2006
A Arriva adquire a Premier Buses, exercendo a sua actividade sob a designação MK Metro Ltd, de Milton Keynes, Reino Unido.
Adquire o operador de autocarros alemão Verkehrsbetriebe Bils KG, que exerce a sua actividade em Münsterland.
A Arriva adquire uma participação de 21,5% do Grupo Barraqueiro SGPS SA de Portugal, o principal operador de transportes de passageiros português (aumentado para 31,5 por cento em 2008).
A Arriva entra no mercado dos autocarros checo através da aquisição da Transcentrum Bus s.r.o, que exerce a sua actividade a norte de Praga.
A Arriva entra no mercado ferroviário sueco através de um contrato de nove anos para a exploração dos serviços de comboios regionais de Pågatåg, na região de Skåne, a sul da Suécia (2007).
Foi-lhe adjudicado um contrato de 12 anos para a exploração dos serviços de autocarros e comboios nos Países Baixos, entre Dordrecht e Geldermalsen.
Na Alemanha, ganha ainda um contrato de 10 anos para a exploração de serviços de comboios entre Munique, Oberstdorf e Lindau (2007) e um contrato de 12 anos para serviços de comboios entre Freilassing e Berchtesgaden na Bavária (2009).
A Arriva ganha o contrato para a aquisição de 80% do operador de autocarros Neiβeverkehr GmbH, a nordeste da Alemanha (2007).
A Arriva conclui o seu reposicionamento fundamental com a alienação da sua empresa de aluguer de veículos no Reino Unido.
A Arriva adquire uma participação de 35 por cento na Trieste Trasporti de Itália, que aumenta para 40 por cento em 2007.
A Arriva aumenta a sua participação na Regentalbahn AG da Alemanha de 76,9 por cento (adquiridos em 2004) para 100 por cento.
2007
A Arriva compra os operadores de autocarros espanhóis Esfera e Autocares Fray Escoba que circulam em Madrid.
A Arriva reforça a sua posição na República Checa com a aquisição das empresas Bosak Bus s.r.o. e Osnado Spol s.r.o.
A Arriva adquire uma participação maioritária na Osthannoversche Eisenbahnen AG, uma empresa ferroviária e rodoviária que exerce a sua actividade na Baixa Saxónia.
É adjudicada à Arriva a concessão para a exploração ferroviária de CrossCountry no Reino Unido.
A Arriva entra no mercado ferroviário sueco.
A Arriva e a PCC Rail, seus associados numa joint venture, ganham um contrato de 3 anos para a exploração dos serviços de comboios em Kujawsko-Pomorskie Voidvodship, noroeste da Polónia. Em 2010, a Arriva adquire a participação da parceira e a empresa passa a ser detida integralmente pela Arriva.
A Arriva entra numa joint venture com o Grupo Ferrovie Nord Milano e conclui o processo de aquisição de 49% do operador de autocarros italiano SPT Linea.
A Arriva adquire a Veolia Scandinavia, o segundo maior operador de autocarros dinamarquês.
A Arriva consegue um contrato para operação de autocarros em Estocolmo, com início em 2009.
A Arriva começa a operar dois novos contratos de serviços ferroviários, com a duração de 10 anos, na Baviera, Alemanha, através da Regentalbahn.
A Arriva consegue um contrato para 80 por cento do operador de autocarros Neisseverkehr GmbH, no nordeste da Alemanha (conseguido em 2006).
2008
A Arriva começa a operar o contrato de serviços de autocarros Hoeksche Waard e Goeree Overflakkee no sul de Roterdão.
A Arriva aumentou as suas acções no Grupo Português Barraqueiro para 31,5% (21,5 por cento adquiridos em 2006).
A Arriva aumentou as suas acções na SAIA Trasporti sediada em Brescia, Itália, para 100%.
A Arriva adquiriu a Tellings Golden Miller do Reino Unido, operador de transportes de passageiros nas áreas de aterragem e descolagem dos aeroportos.
A Arriva adquire as transportadoras espanholas Empresa de Blas y Cia S.L., bem como as suas subsidiárias, cujos autocarros operam em e nos arredores de Madrid.
A Arriva adquiriu 80 por cento da Interbus Invest, a holding da Eurobus Invest, o maior operador privado de autocarros na Hungria, e que opera serviços de autocarro na Hungria e na Eslováquia. Adquire os restantes 20 por cento em 2009.
A Arriva expande a sua presença em Brandenburg através da aquisição da Sudbrandeburger Nahverkehrs (SBN). A SBN opera serviços de autocarros na região de Oberspreewald-Lausitz.
Em Outubro de 2008, a Arriva adquire os restantes 20 por cento da empresa de autocarros SADEM S.p.A e da subsidiária Sapav S.p.A na região de Piemonte em Itália, detendo integralmente a empresa.
Na Suécia, é adjudicado o contrato ferroviário Göteborg-Örebo à Arriva, com início em 2009.
2009
A Arriva ganha o concurso rodoviário e ferroviário Achterhoek Rivierenland em Gelderland, Países Baixos. As operações rodoviárias começam em 2010 e as operações ferroviárias em 2012.
A Arriva adquire os restantes 20 por cento da Interbus Invest, a holding da Eurobus Invest da Hungria, e que opera serviços de autocarro na Hungria e na Eslováquia.
A Arriva recupera o contrato de serviços ferroviários de Jutlândia para um período de mais oito anos, a iniciar em 2010.
A Arriva consegue um contrato de 8 anos para operação de 65 autocarros na região de Halland no sul da Suécia a partir de Junho de 2010.
A Arriva torna-se o primeiro operador do sector privado a penetrar o mercado de Estocolmo em 10 anos, quando começa a operar 164 autocarros na capital sueca.
A Arriva expande as suas operações ferroviárias na Suécia com um novo contrato de operação entre Göteborg e Örebo.
A Arriva inicia um contrato de 12 anos que disponibiliza serviços ferroviários entre Frielassing e Berchtesgaden na Baviera, Alemanha.
2010
A Arriva adquire a participação de 50 por cento do seu parceiro de joint venture na Arriva PCC. A empresa ferroviária polaca, cuja designação foi alterada para Arriva RP, é agora integralmente detida pela Arriva.
No âmbito de um consórcio que inclui o Grupo Barraqueiro, a Arriva consegue um contrato de cinco anos para operação e manutenção do Metro do Porto, a rede de metro de superfície da cidade do Porto, a partir de Abril de 2010 (Portugal).
Em Agosto, a Arriva é adquirida pela Deutsche Bahn, um dos principais líderes mundiais em termos de serviços de passageiros e logística, que emprega 220 000 funcionários em 130 países
Como parte de um consórcio, a Arriva ganhou um contrato de 10 anos para operar serviços de autocarros em Malta e Gozo, a partir de Julho de 2011.
A Arriva ganhou um contrato ferroviário regional de 10 anos na região de Kujawsko Pomorskie, na Polónia. O contrato alarga as operações da Arriva durante os últimos três anos na Polónia e aumenta o número de quilómetros operados por ano em até 15 por cento.
Acerca da Arriva
A Arriva Portugal – Quem Somos
Fundada em 2000 a empresa resultou da aquisição e fusão institucional e operacional de 4 empresas de cariz familiar que operavam no Noroeste de Portugal:
João Carlos Soares e Filhos S.A.
Viação Costa e Lino, S.A.
Ami – Transportes, S.A.
Abílio da Costa Moreira e Companhia, S.A.
Contactos
ARRIVA Portugal – Transportes, Lda.
Rua das Arcas – Edifício Arriva
4810-647 PINHEIRO – GMR
GPS: N41º25’0″ W8º17’33″
Telefone: 253 423 500
Fax: 253 423 519
Email: geral@arriva.pt
Horario de Atendimento
(09:00 / 13:00 + 14:00 / 18:00) Dias úteis
domingo, 11 de outubro de 2020
As Relações Perigosas
Durante alguns meses, um grupo peculiar da nobreza francesa troca cartas secretamente. No centro da intriga está o libertino visconde de Valmont, que tenta conquistar a presidenta de Tourvel, e a dissimulada marquesa de Merteuil, suposta confidente da jovem Cécile, a quem ela tenta convencer a se entregar a outro homem antes de se casar. Lançado com grande sucesso na época, As relações perigosas teve vinte edições esgotadas apenas no primeiro ano de sua publicação. O livro ficou ainda mais popular depois de várias adaptações para o cinema, protagonizadas por estrelas hollywoodianas como Jeanne Moreau, Glenn Close e John Malkovich. E também boa parte do sucesso do romance deve-se ao fato de a história explorar com muita inteligência os caminhos obscuros do desejo. Esta edição, com tradução de Dorothée de Bruchard, traz uma introdução da editora inglesa Helen Constantine.
De: Choderlos de Laclos
A Guerra do Fim do Mundo
é considerado um raro exemplar dentro da vasta bibliografia de Mario Vargas Llosa, pois não segue o caminho traçado na maioria de suas obras. Em vez de optar por uma reunião de memórias e personagens familiarizados com sua vida pessoal, o autor mergulhou no sangrento confronto da Guerra de Canudos para tentar decifrar a verdadeira face por trás do mito chamado António Conselheiro. Em 1977, Vargas Llosa iniciou este romance, após se encantar, cinco anos antes, com a leitura de Os Sertões (1902), de Euclides da Cunha, obra que registrou o conflito com detalhes minuciosos e impressionantes. Após exaustivas pesquisas em arquivos históricos e viagens pelo sertão da Bahia, em 1980, ele terminou A Guerra do Fim do Mundo, livro que actualmente é reconhecido como o seu tour de force. Lançado originalmente em 1982, a obra é o primeiro romance que Vargas Llosa ambientou fora do Peru. Nela, o autor dá uma nova dimensão à história de António Conselheiro, em que personagens de carne e osso, alguns reais, outros imaginados, empreendem uma saga sem paralelos na história do país, uma saga que engloba tudo: honra e vingança, poder e paixão, fé e loucura.
sábado, 10 de outubro de 2020
Que orçamento aí vem?
por António Costa, Publisher
Bom dia, a proposta de Orçamento do Estado foi aprovado em conselho de ministros, mas há ainda muitos temas em aberto. (Um tempo estimado de leitura de 2 minutos e 24 segundos).
A proposta de Orçamento do Estado para 2021 já está aprovada em Conselho de Ministros, depois de uma maratona de 12 horas, mas, como o próprio Governo revelou, há um conjunto de temas ainda por definir, leia-se, os que são centrais para o apoio da Esquerda, do Bloco de Esquerda e do PCP. É por isto que ainda não se percebeu exactamente o que vai ser este orçamento, e mais parece agora uma manta de retalhos, um orçamento de emergência em que cada medida vale por si, mas sem uma visão de conjunto e uma estratégia coerente. E esse é o principal risco do orçamento.
O que quer o Governo com este orçamento? Quer acudir aos mais necessitados, quer proteger o emprego, quer distribuir rendimentos ou quer dar a prioridade à economia, ao investimento e às exportações? Ou quer tudo ao mesmo tempo? Há medidas necessárias, o Governo reviu, e bem, o plano de retoma, porque a retoma está a ser uma miragem para centenas de milhar de empresas, há apoios sociais em vista, há medidas fiscais para ajudar a tesouraria. Mas parece estar a transformar-se num orçamento de excepção, que olha apenas para os próximos meses.
O salário mínimo é um caso de estudo, e aconselho a leitura da opinião de Ricardo Pinheiro Alves, até há pouco director geral do Gabinete de Estudos do Ministério da Economia. "O salário mínimo como arma de propaganda", que vê para lá dos anúncios populares. E há uma área particularmente sensível e que, nas últimas horas, têm resultado em anúncios de mudanças que criam incerteza e instabilidade. É o caso da legislação laboral.
“Foi apreciada, na generalidade, a proposta de lei que procede à suspensão excepcional do prazo de contagem de prazos associados à caducidade e sobrevigência dos instrumentos de regulamentação colectiva de trabalho, nos termos previstos no Código do Trabalho”, lê-se no comunicado do Conselho de Ministros. Dito de forma simples, o Governo tenta aqui fazer um equilíbrio entre interesses de trabalhadores e empresas e dá com uma mão apoios no âmbito do plano de retoma e tira com a outra a flexibilidade de gestão num momento em que isso é ainda mais necessário.
Mais do que o impacto específico desta medida -- o presidente da CIP, António Saraiva, quer contrapartidas --, a suspensão da caducidade dos contractos de trabalho sinaliza uma instabilidade desnecessária num tema que estava estabilizado. Se o objectivo é apoio os mais desfavorecidos, e bem, criem-se condições como o novo apoio social que está também em discussão, mas não se alterem as regras do jogo, ainda por cima em cima deste ambiente que já é, ele próprio, incerto.
O Governo está, por outro lado, a criar os incentivos errados para que os sindicatos reabram a discussão da lei laboral, que o anterior ministro, Vieira da Silva, manteve no essencial depois das alterações introduzidas no âmbito da troika. E isso só pode trazer conflitualidade social.
A esquerda voltou a aumentar a pressão sobre o Orçamento do Estado, sabe exactamente o que está em causa, a presidências portuguesa da União Europeia, as eleições presidenciais e a crise -- e o dinheiro europeu que vai tardar a chegar -- e António Costa será tentado a dar o que pode, e o que não deve.
ECO
sexta-feira, 9 de outubro de 2020
Quais são as principais causas de morte nos EUA?
Cerca de 74% de todas as mortes nos Estados Unidos ocorrem como resultado de 10 causas. Nos últimos 5 anos, as principais causas de morte nos EUA permaneceram bastante consistentes.
De acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), houve 2.813.503 mortes registradas nos Estados Unidos em 2017.
A taxa de mortalidade ajustada por idade, que é responsável pelo envelhecimento populacional, é de 731,9 mortes por 100.000 pessoas nos EUA. Trata-se de um aumento de 0,4% em relação à taxa de mortalidade de 2016.
No entanto, o CDC aconselha que o uso de taxas ajustadas por idade é impreciso para classificar as causas de morte.
Todos os valores e percentuais aqui fornecidos vêm dos dados mais recentes do CDC, colectados em 2017.
Neste artigo, expandimos cada uma das principais causas de morte e fornecemos links para informações mais detalhadas sobre cada condição. Também classificamos as causas de acordo com o número de mortes por condição e sua percentagem da contagem geral de óbitos registrados nos EUA.
1. Doença cardíaca
mortes in 2017: 647,457
Percentagem o total mortes: 23.5%
Doenças cardíacas são a principal causa de morte para homens e mulheres. É o caso dos EUA e do mundo todo. Mais da metade de todas as pessoas que morrem por doença cardíaca são homens.
Profissionais médicos usam o termo doença cardíaca para descrever várias condições. Muitas dessas condições estão relacionadas ao acúmulo de placa nas paredes das artérias.
À medida que a placa se desenvolve, as artérias estreitam. Isso dificulta o fluxo sanguíneo ao redor do corpo e aumenta o risco de ataque cardíaco ou derrame. Também pode dar origem a angina,arritmias e insuficiência cardíaca.
Para reduzir o risco de morrer de doença cardíaca, uma pessoa pode proteger sua saúde cardíaca adoptando uma dieta saudável e fazendo exercícios regulares.
Ser capaz de reconhecer os sintomas de um ataque cardíaco também pode ajudar as pessoas a obter tratamento médico rápido e potencialmente salvar suas vidas.
2. Cancro
Mortes in 2017: 599,108
Percentual do total de óbitos: 21,3%
Câncer de pulmão e brônquio: 76.650 mortes
Câncer de próstata: 31.620 mortes
Câncer colorretal: 27.640 mortes
O cancro ocorre quando as células não morrem no ponto normal do seu ciclo de vida. Se o corpo de uma pessoa não pode controlar a disseminação dessas células, ela pode interferir com sistemas essenciais, que sustentam a vida e possivelmente levar à morte.
Todo mundo tem algum grau de risco, mas para a maioria dos cânceres, o risco aumentará com a idade. Algumas pessoas têm maior ou menor risco devido a diferenças na exposição a cancerígenos, como tabagismo ou exposição a poluentes químicos. Factores genéticos também desempenham um papel forte no desenvolvimento do câncer.
Raça e sexo também desempenham um papel no risco de uma pessoa desenvolver câncer, dependendo do tipo. Dito isto, o cancro de pulmão causa mais mortes do que qualquer outro câncer em homens e mulheres.
No entanto, os pesquisadores estão sempre tomando medidas para avançar no tratamento do câncer. De fato, a taxa de mortalidade por todos os cânceres nos EUA caiu 26% desde 1991.
Estimativa de mortes relacionadas ao câncer para 2019
A American Cancro Society estima quantas pessoas morrerão de certos tipos de cancro em 2019.
Segundo eles, as principais causas de morte por câncer para homens serão:
Câncer de pulmão e brônquio: 66.020 mortes
Câncer de mama: 41.760 mortes
Câncer colorretal: 23.380 mortes
As principais causas de morte por câncer para mulheres serão:
3. Lesões não intencionais
Mortes in 2017: 169,936
Percentual do total de óbitos: 6%
Acidentes, ou lesões não intencionais, são a 4ª principal causa de morte nos EUA no geral, e a principal causa de morte para as pessoas de 1 a 44 anos.
Possíveis medidas de prevenção
Acidentes são involucionais e geralmente inevitáveis. No entanto, há muitas maneiras de reduzir o risco de ferimentos acidentais e morte.
Alguns componentes-chave da prevenção de acidentes incluem o foco na segurança rodoviária e no local de trabalho, como usar o cinto de segurança e nunca dirigir ou operar máquinas pesadas sob a influência de álcool ou drogas.
4. Doença respiratória inferior crónica
Mortes em 2017: 160.201
Percentagem o total mortes: 5.7%
doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC)
Bronquite
Enfisema
Asma
Doença respiratória inferior crónica refere-se a um grupo de condições pulmonares que bloqueiam o fluxo de ar e causam problemas respiratórios. Essas doenças incluem:
Fumar aumenta drasticamente o risco de uma pessoa desenvolver essas condições.
5. AVC e doenças cerebrovasculares
Mortes in 2017: 146,383
Percentagem o total mortes: 5.2%
Curso
ataque isquémico transitório, ou mini derrame
hemorragia subaracnóide
demência vascular
Doenças cerebrovasculares se desenvolvem devido a problemas com os vasos sanguíneos que abastecem o cérebro.
Quatro das doenças cerebrovasculares mais comuns são:
Todos os anos, mais de 795.000 pessoas nos EUA têm um derrame. O risco de derrame varia de acordo com raça, etnia e idade.
As maiores taxas de mortalidade por acidente vascular cerebral nos EUA ocorrem no Sudeste.
6. Doença de Alzheimer
Mortes in 2017: 121,404
Percentagem o total mortes: 4.3%
Demência refere-se a um grupo de condições que causam um declínio na função cognitiva. Isso afecta a capacidade de uma pessoa de realizar actividades cotidianas.
Danos nas células nervosas do cérebro causam demência. Como resultado do dano, os neurónios não podem mais funcionar normalmente e podem morrer. Isso, por sua vez, pode levar a mudanças na memória, comportamento e capacidade de pensar claramente.
A doença de Alzheimer é apenas um tipo de demência. Outro tipo, chamado demência vascular, pode causar sintomas semelhantes, mas em vez disso resulta de alterações no fluxo sanguíneo para o cérebro.
Para pessoas com Alzheimer, danos nos neurónios e morte acabam prejudicando sua capacidade de realizar acções essenciais, como caminhar e engolir.
As pessoas em fase final desta condição podem não ser capazes de sair de sua cama e podem exigir cuidados 24 horas por dia. Alzheimer é fatal.
Nos EUA, estima-se que 5,8 milhões de pessoas tenham actualmente a doença de Alzheimer, de acordo com a Associação de Alzheimer. Esse número pode subir para 14 milhões de pessoas até 2050, à medida que a expectativa de vida continua a aumentar.
O Alzheimer também é a única causa de morte no top 10 que os médicos especialistas não podem curar, prevenir ou desacelerar.
7. Diabetes
Mortes in 2017: 83,564
Percentagem o total mortes: 3%
Diabetes é uma condição em que o corpo não pode mais controlar a glicemia, o que leva a níveis perigosamente altos de glicose no sangue. Isso se chama hiperglicemia.
A hiperglicemia persistente pode danificar os tecidos do corpo, incluindo aqueles nos nervos, vasos sanguíneos e olhos.
O corpo converte a maioria dos alimentos que as pessoas comem em glicose, um açúcar simples, que pode então usar para energia. O pâncreas, um órgão perto do estômago, faz um hormônio chamado insulina para mover glicose da corrente sanguínea para as células.
Existem dois tipos principais de diabetes: diabetes tipo 1 e diabetes tipo 2.
Os corpos de pessoas com diabetes tipo 1 não produzem insulina, então essas pessoas precisam complementar seu suprimento. Os corpos de pessoas com diabetes tipo 2 não podem usar insulina efectivamente.
No entanto, é possível controlar o risco de diabetes tipo 2 com um manejo dietético cuidadoso e exercícios regulares.
O diabetes pode causar sérias complicações de saúde, incluindo doenças cardíacas, cegueira, insuficiência renal e a necessidade de amputação das extremidades inferiores.
8. Influenza e pneumonia
Mortes in 2017: 55,672
Percentagem o total mortes: 2%
A gripe, ou gripe, é uma infecção viral altamente contagiosa. É uma das doenças mais graves da temporada de Inverno.
A gripe se espalha facilmente de pessoa para pessoa, geralmente quando alguém que carrega o vírus tosse ou espirra.
Uma pessoa pode ter a gripe mais de uma vez, já que muitas cepas diferentes do vírus podem causar infecção. Eles podem pertencer a uma das três famílias diferentes de gripe: A, B ou C.
Os vírus tipo A tendem a afectar os adultos mais severamente,enquanto os vírus tipo B na maioria das vezes causam problemas de saúde em crianças. Vírus tipo C são bastante incomuns.
Pneumonia, uma condição grave que causa inflamação dos pulmões, pode causar complicações em pessoas que estão gripadas.
Pneumonia faz com que os sacos de ar nos pulmões se encham com pus e outros fluidos, impedindo que o oxigénio atinja a corrente sanguínea. Se há muito pouco oxigénio no sangue, as células do corpo não podem funcionar. Isso pode ser fatal.
9. Doença renal
Mortes in 2017: 50,633
Percentagem o total mortes: 1.8%
Nefrite, síndrome nefrótica e nefrose são todas as condições que afectam os rins.
Doença renal crónica (DRC) causa danos nos rins. Rins danificados não podem filtrar sangue, bem como rins saudáveis. Como resultado disso, o desperdício do sangue permanece no corpo e pode levar a outros problemas de saúde.
Cerca de 30 milhões de pessoas nos EUA podem ter CKD até certo ponto. Ter mais de 60 anos aumenta o risco de DRC, assim como ter um histórico familiar disso. Pressão alta e diabetes são mais propensos a causar a DRC.
A DRC se desenvolve em estágios, e geralmente não causa sintomas até o estágio mais avançado. Assim, passar por exames regulares pode ajudar a reduzir o risco de uma pessoa morrer de doença renal.
10. Suicídio
Óbitos em 2017: 47.173
Quando uma pessoa morre por suicídio, ela pode ter vivido com uma condição de saúde mental - como depressão, ansiedade ou transtorno bipolar - por um longo tempo.
No entanto, nem todas as pessoas que tentam suicídio ou morrem por ele têm essas condições.
O suicídio é a segunda principal causa de morte entre pessoas de 10 a 34 anos.
Estabelecer uma forte rede de apoio, tomar medicamentos adequados e procurar terapia pode ajudar a reduzir o risco de suicídio
https://www.medicalnewstoday.com/articles/282929#alzheimers-disease
quinta-feira, 8 de outubro de 2020
Nomenclatura Gramatical Portuguesa
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO NACIONAL
Gabinete do Ministro
Portaria n.º 22 664
Considerando a necessidade que entre nós se faz sentir, sobretudo no campo do ensino primário e do ensino secundário, e a exemplo do que acontece noutros países, de fixar a nomenclatura gramatical, pondo termo às divergências perturbadoras que se verificam nesse domínio e contribuindo assim para a defesa e valorização da língua, inapreciável valor espiritual e fundamental instrumento de cultura;
Considerando que, por despacho de 4 de Julho de 1963, o Ministro signatário da presente portaria tomou a iniciativa de mandar proceder aos trabalhos necessários para tal fim e que estes se encontram pràticamente ultimados;
Considerando, com efeito, que, de harmonia com a orientação traçada naquele despacho, bem como nos de 22 de Julho de 1964, de 8 de Fevereiro de 1965, de 1 de Maio de 1965, e de 13 de Novembro de 1965, foram elaborados três sucessivos projectos de nomenclatura gramatical portuguesa: o primeiro da autoria do Doutor Manuel de Paiva Boléo, o segundo e o terceiro como resultado de revisões efectuadas por uma comissão constituída pelo Doutor Manuel de Paiva Boléo (presidente) e pelos licenciados Augusto Silva Reis Góis, Francisco da Costa Marques, Adriano Leite Teixeira e Maria Alice Nobre Gouveia;
Considerando que o segundo projecto foi largamente difundido na metrópole, no ultramar e no Brasil, tendo sido posto ao alcance fácil de quantos desejassem conhecê-lo e além disso enviado a numerosíssimas entidades e individualidades com especial competência e responsabilidades na matéria, a todos se havendo pedido a formulação de críticas, comentários e sugestões;
Considerando que efectivamente se recebeu grande número de críticas, comentários e sugestões, que foram objecto de atento estudo por parte da comissão e que esta tomou na devida conta ao elaborar o terceiro projecto;
Considerando que nos trabalhos realizados se procedeu com toda a meticulosidade e, como acaba de se evidenciar, se deu larga audiência às pessoas competentes para emitirem os seus juízos, que foram atendidos sempre que considerados procedentes;
Considerando que constituiu preocupação declarada da comissão nortear-se por critérios científicos, de harmonia com os progressos da linguística, mas ao mesmo tempo pelo respeito da tradição e pelas imposições da pedagogia;
Considerando que a comissão - que pelo seu zelo e competência bem merece ser louvada - teve assim o decidido propósito de elaborar um «código» de terminologia gramatical que, satisfazendo equilibradamente as exigências científicas e as pedagógicas, pudesse merecer a confiança do corpo docente e dos restantes interessados;
Considerando que, aliás, a fixação de terminologia não se confinou às nomenclaturas linguísticas consideradas mais necessárias ao ensino;
Considerando por outro lado a conveniência de não fazer entrar já em vigor generalizadamente a nomenclatura estabelecida, sujeitando-a a um período experimental, ao abrigo das disposições do Decreto-Lei n.º 47 587, de 10 de Março de 1967, sobre experiências pedagógicas, dada a importância da matéria, e conforme sugestão feita pelo comissão;
Considerando que a experiência a realizar poderá mesmo, como se afigura vantajoso, alargar-se a outros aspectos da língua portuguesa, prosseguindo e ampliando, neste importantíssimo domínio, o esforço de renovação lançado com a iniciativa ministerial que culmina agora na aprovação da Nomenclatura Gramatical Portuguesa;
Considerando que a existência de um período experimental oferecerá, além das vantagens científicas e didácticas que lhe são inerentes, a de proporcionar ensejo de levar ainda mais longe a aproximação entre a nomenclatura aprovada no Brasil, por portaria de 28 de Janeiro de 1959, e a aprovada agora em Portugal, e que, aliás, em conformidade com directriz ministerial, já procurou aproximar-se da primeira;
Nestes termos, manda o Governo da República Portuguesa, pelo Ministro da Educação Nacional:
1.º É aprovada a Nomenclatura Gramatical Portuguesa, a seguir publicada, e da qual se consideram como fazendo parte integrante as outras nomenclaturas linguísticas também adiante publicadas.
2.º Numa primeira fase, a Nomenclatura Gramatical Portuguesa só vigorará a título de experiência pedagógica, dentro do âmbito e segundo as regras que vierem a ser fixadas, ao abrigo do disposto no Decreto-Lei n.º 47 587, de 10 de Março de 1967.
3.º Findo o prazo estabelecido para essa experiência e para apreciação dos seus resultados, a Nomenclatura Gramatical Portuguesa entrará em vigor generalizadamente, tal como agora é aprovada ou com as alterações que tais resultados vierem porventura a aconselhar.
Ministério da Educação Nacional, 28 de Abril de 1967.
O Ministro da Educação Nacional, Inocêncio Galvão Teles
Nomenclatura Gramatical Portuguesa
Partes da gramática:
- Morfologia.
- Sintaxe.
Tipos de análise gramatical:
- Morfológica.
- Sintáctica.
Morfologia
A - Flexão das palavras:
- Variáveis.
- Invariáveis
B - Categorias gramaticais:
- Género.
- Número.
- Grau.
- Pessoa.
- Voz.
- Modo.
- Tempo.
- Aspecto.
C - Classes de palavras:
- Substantivos.
- Artigos.
- Adjectivos.
- Numerais.
- Pronomes.
- Verbos.
- Advérbios.
- Preposições.
- Conjunções.
- Interjeições.
(As palavras que participam da natureza substantiva ou adjectiva recebem a designação de nome, o que permite uma relacionação com «flexão nominal», «predicado nominal», etc.).
I - Substantivos
- 1. Classificação:
- Concretos e abstractos.
- Comuns e próprios.
- 2. Género:
- Masculino.
- Feminino.
- 3. Número:
- Singular.
- Plural.
(Quanto ao número, mencionem-se os colectivos e também os uniformes do tipo de «ourives» e «lápis»
- 4. Grau:
- Normal.
- Aumentativo.
- Diminutivo.
- 5. Locuções substantivas.
II - Artigos:
- 1. Classificação:
- Definido.
- Indefinido.
- 2. Género:
- Masculino.
- Feminino.
- 3. Número:
- Singular.
- Plural.
III - Adjectivos:
- 1. Género:
- Masculino.
- Feminino.
- (Quanto ao género, mencionem-se os adjectivos biformes e uniformes)
- 2. Número:
- Singular.
- Plural.
- (Quanto ao número, mencionem-se os uniformes do tipo de «simples» e «piegas»).
- 3. Grau:
- Normal.
- Comparativo.
- De igualdade.
- De superioridade:
- Sintético.
- Analítico.
- De Inferioridade.
- Superlativos:
- Relativo:
- De superioridade.
- De inferioridade.
- Absoluto:
- Sintético.
- Analítico.
- Relativo:
- 4. Locuções adjectivas.
IV - Numerais
- 1. Classificação:
- Cardinais.
- Ordinais.
- Multiplicativos.
- Fraccionários.
- Colectivos.
- 2. Género:
- Masculino.
- Feminino.
- 3. Número:
- Singular.
- Plural.
- 4. Locuções numerais.
V - Pronomes:
- 1. Classificação:
- a) Absolutos:
- Pessoais:
- Formas de sujeito.
- Formas de complemento.
- Possessivos.
- Demonstrativos.
- Relativos.
- Interrogativos.
- Indefinidos.
- Pessoais:
- b) Adjuntos:
- Possessivos.
- Demonstrativos.
- Relativos.
- Interrogativos.
- Indefinidos
- (Entre os pronomes pessoais, mencionem-se os reflexos e os recíprocos)
- a) Absolutos:
- 2. Género:
- Masculino.
- Feminino.
- (Considere-se ainda a existência do género neutro).
- 3. Número:
- Singular.
- Plural.
- (Considerem-se ainda o plural de majestade e o plural de modéstia).
- 4. Pessoa:
- Primeira.
- Segunda.
- Terceira.
- [Considere-se ainda a segunda pessoa indirecta, como forma de tratamento (p. ex. «Digam-me a verdade»)].
- 5. Locuções pronominais.
VI - Verbos
- 1. Classificação:
- a) Regulares.
Irregulares. - b) Defectivos:
- Pessoais.
- Unipessoais.
- Impessoais.
- c) Principais.
- Auxiliares.
- a) Regulares.
- 2. Conjugações:
- Primeira - de tema em a.
- Segunda - de tema em e.
- Terceira - de tema em i.
- 3. Voz:
- Activa.
- Passiva
- Com auxiliar
- Com palavra apassivante
- 4. Modo:
- Indicativo.
- Condicional.
- Conjuntivo.
- Imperativo.
- Infinitivo pessoal.
- 5. Tempo:
- Presente.
- Pretérito:
- Imperfeito.
- Perfeito.
- Simples.
- Composto.
- Mais-que-perfeito:
- Simples.
- Composto.
- Futuro:
- Imperfeito.
- Perfeito.
- 6. Aspecto.
- 7. Número:
- Singular.
- Plural.
- 8. Pessoa:
- Primeira.
- Segunda.
- Terceira.
- 9. Formas nominais:
- Infinitivo impessoal.
- Particípio.
- 10. Forma adverbial:
- Gerúndio.
- 11. Formas especiais de conjugação:
- Perifrástica.
- Pronominal.
- Pronominal reflexa.
- Pronominal recíproca.
- 12. Locuções verbais.
VII - Advérbios
- 1. Classificação:
- a) De lugar.
- De tempo.
- De modo.
- De afirmação.
- De negação.
- De dúvida.
- De exclusão.
- De inclusão.
- De designação.
- De quantidade.
- b) Advérbios interrogativos:
- De lugar.
- De tempo.
- De modo.
- De causa.
- c) Advérbios de oração.
- 2. Grau:
- Normal.
- Comparativo.
- Superlativo.
- 3. Locuções adverbiais.
VIII - Preposições:
- 1. Preposições.
- 2. Locuções prepositivas.
IX - Conjunções:
- 1. Classificação:
- a) Coordenativas:
- Copulativas.
- Disjuntivas.
- Adversativas.
- Conclusivas.
- Explicativas.
- b) Subordinativas:
- Integrantes.
- Condicionais
- Causais.
- Finais.
- Temporais.
- Concessivas.
- Consecutivas.
- Comparativas.
- a) Coordenativas:
- 2. Locuções conjuncionais.
X - Interjeições:
- 1. Interjeições.
- 2. Locuções interjectivas.
Sintaxe
A. Construção
- I - Concordância:
- Nominal.
- Verbal.
- II - Regência:
- Nominal.
- Verbal.
- Adverbial.
- III - Colocação:
- Ordem directa.
- Ordem inversa.
- IV - Coordenação.
- V - Subordinação.
- VI - Correspondência dos tempos.
B. Funções sintácticas:
- I - Na oração:
- 1. Elementos fundamentais da oração:
- a) Sujeito:
- Simples e composto.
- Indeterminado.
- (Considere-se ainda a existência de orações sem sujeito).
- b) Predicado:
- Verbal.
- Nominal:
- Predicativo:
- Do sujeito.
- Do complemento directo.
- Predicativo:
- [Considera-se ainda a existência de:
- Verbos de significação definida e de significação indefinida;
- Verbos transitivos e intransitivos;
- Orações sem predicado (oração nominal e frase nominal)].
- a) Sujeito:
- 2. Elementos complementares à oração:
- Complemento directo.
- Complemento indirecto.
- Agente da passiva.
- Complemento determinativo.
- Atributo.
- Aposto.
- Complemento circunstancial:
- De lugar.
- De tempo.
- De modo.
- De causa.
- De fim.
- De meio.
- De instrumento.
- De matéria.
- De companhia.
- 3. Vocativo.
- 4. Expressão de realce.
- 5. Núcleo.
- 1. Elementos fundamentais da oração:
- II - No período:
- 1. Tipo de período:
- Simples.
- Composto.
- 2. Composição do período:
- Por coordenação.
- Por subordinação.
- 3. Classificação das orações:
- a) Absolutas.
- b) Intercaladas.
- c) Coordenadas:
- Copulativas.
- Disjuntivas.
- Adversativas.
- Conclusivas.
- Explicativas.
- d) Subordinantes.
- e) Subordinadas:
- Substantivas:
- Relativas.
- Conjuncionais.
- Interrogativas indirectas.
- Infinitivas.
- Adjectivas e relativas:
- Explicativas.
- Restritivas.
- Adverbiais:
- Conjuncionais:
- Condicionais.
- Causais.
- Finais.
- Temporais.
- Concessivas.
- Consecutivas.
- Comparativas.
- Infinitivas, gerundivas e participiais:
- Condicionais, causais, etc. (conforme a circunstância que exprimem).
- Conjuncionais:
- Substantivas:
- 1. Tipo de período:
C - Espécies de discurso:
- Directo.
- Indirecto.
- Livre.
Outra nomenclatura linguística
Mais necessária ao ensino
Fonética descritiva
I - Fonemas:
- Vogais.
- Consoantes.
- Semivogais.
- 1. Vogais:
- Classificação:
- a) Quanto à zona de articulação:
- Anteriores.
- Centrais.
- Posteriores.
- b) Quanto ao grau de abertura:
- Abertas.
- Médias.
- Fechadas.
- c) Quanto à intervenção da cavidade nasal:
- Orais.
- Nasais.
- d) Quanto à intensidade:
- Tónicas.
- Subtónicas.
- Átonas:
- Pretónicas.
- Postónicas.
- 2. Ditongos:
- Classificação:
- Crescentes e decrescentes.
- Orais e nasais.
- Abertos e fechados.
- Tónicos, subtónicos e átonos.
- Classificação:
- 3. Tritongos.
- 4. Hiatos.
- 5. Consoantes:
- Classificação:
- a) Quanto ao modo de articulação:
- Momentâneas.
- Contínuas:
- Fricativas.
- Laterais.
- Vibrantes.
- Nasais.
- b) Quanto à zona de articulação:
- Bilabiais.
- Labiodentais.
- Alveolares.
- Palatais.
- Velares.
- c) Quanto à acção das cordas vocais:
- Surdas e sonoras.
- a) Quanto ao modo de articulação:
- Classificação:
- 6. Grupos consonânticos.
- 7. Consoantes geminadas.
II - Acento:
- Tónico.
- Subtónico.
III - Sílabas:
- Tónicas.
- Subtónicas.
- Átonas:
- Pretónicas.
- Postónicas.
IV - Vocábulos:
- Classificação:
- a) Quanto ao número de sílabas:
- Monossílabos.
- Dissilabos.
- Polissílabos.
- b) Quanto à posição da sílaba tónica:
- Agudos.
- Graves.
- Esdrúxulos.
- a) Quanto ao número de sílabas:
V - Pronúncia.
VI - Fonética sintáctica:
- Próclise.
- Ênclise.
- Crase intervocabular.
- Elisão.
- Ligação consonântica.
- Haplologia intervocabular.
- Entoação.
- Ritmo.
Ortografia
Abreviatura.
Alfabeto:
- Nomes das letras:
- á, bê, cê, dê, é, efe, gê, agá, i, jota, ele, eme, ene, ó, pê, quê, erre, esse, tê, u, vê, xis, zê.
- (Em abreviaturas e símbolos, e em palavras derivadas de nomes próprios estrangeiros, usam-se ainda as letras k, w e y, com os seguintes nomes: capa, vê duplo e ípsilon).
Letra
- Maiúscula.
- Minúscula.
Letra dobrada.
Diagrama.
Homógrafo.
Homófono.
Sinais gráficos:
- Agudo.
- Grave.
- Circunflexo.
- Apóstrofo.
- Cedilha.
- Traço de união.
- Til.
- Trema.
Pontuação
Sinais de pontuação e sinais auxiliares de escrita:
- Ponto final.
- Ponto de interrogação.
- Ponto de exclamação.
- Reticências.
- Dois pontos.
- Ponto e vírgula.
- Vírgula.
- Travessão.
- Parênteses.
- Colchetes.
- Parágrafo (§).
- Alínea.
- Aspas.
- Vírgulas altas.
- Sigla.
- Asterisco.
Lexicologia
I - Estrutura das palavras:
- 1. Elementos estruturais:
- Radical.
- Tema.
- Vogal temática.
- Supletivismo temático.
- Afixo:
- Prefixo.
- Sufixo:
- Nominal.
- Verbal.
- Adnominal.
- Característica.
- Desinência.
- Vogal de ligação.
- Consoante de ligação.
- 2. Família de palavras.
II - Formação de palavras:
- 1. Quanto à sua formação, as palavras podem ser:
- a) Primitivas.
- b) Provenientes de outras da mesma língua:
- Compostas por:
- Justaposição.
- Aglutinação.
- Derivadas por:
- Prefixação.
- Sufixação.
- Derivação imprópria.
- Derivação regressiva.
- 2. Hibridismo.
- 3. Onomatopeia.
Semântica
- Sinónimo.
- Antónimo.
- Homónimo.
- Parónimo.
- Metáfora.
- Sinédoque.
- Metonímia.
- Eufemismo.
- Disfemismo.
- Polissemia.
- Sentido pejorativo.
História da língua
I - Fonética histórica:
- 1. Acrescentamento de fonemas:
- Prótese.
- Epêntese.
- Paragoge.
- 2. Supressão de fonemas:
- Aférese.
- Síncope.
- Apócope.
- Haplologia.
- 3. Mudança de fonemas:
- Assimilação e dissimilação:
- Completa.
- Incompleta.
- Progressiva.
- Regressiva.
- Vocalização.
- Consonantização.
- Nasalação.
- Desnasalação.
- Palatalização.
- Despalatalização.
- Ditongação.
- Redução.
- Contracção:
- Crase.
- Sinérese.
- Diérese.
- Sonorização.
- Metafonia.
- Metátese.
- Assimilação e dissimilação:
II - História do léxico:
- Étimo.
- Etimologia.
- Palavras convergentes.
- Palavras divergentes.
- Variante.
- Via erudita.
- Via popular.
- Substrato.
- Superstrato.
- Importação de palavras.
- Exportação de palavras.
- Estrangeirismo.
- Arcaísmo.
- Neologismo.
- Antropónimo.
- Patronímico.
- Topónimo.
Outras denominações
- Analogia.
- Nivelamento analógico.
- Eufonia.
- Cacofonia.
- Gíria.
- Calão.
- Plebeísmo.
- Provincianismo.
- Gentílico.
Ministério da Educação Nacional, 28 de Abril de 1967. -
O Ministro da Educação Nacional, Inocêncio Galvão Teles.