segunda-feira, 6 de maio de 2019

A nova ala pediátrica do S. João continua por construir. As situações chocantes (com fotos), as suspeitas sobre o dinheiro e o passa-culpas.

Há um ano rebentava o escândalo. Mas a situação continua igual. Os pais descrevem e mostram em fotos a situação degradante. Os responsáveis passam culpas sobre os atrasos. E nada muda.

Crianças internadas em contentores, a fazer quimioterapia em corredores, transportadas de ambulância para fazer exames dentro do próprio hospital, contentores de lixo em áreas comuns, buracos na parede, uma casa de banho para pais e mães e acusações de que a promessa de construção não é mais do que uma caça ao voto. São algumas das críticas lançadas pela associação de pais, que em Abril do ano passado, denunciou as más condições da ala pediátrica do Hospital de São João, no Porto.

O centro hospitalar tem um projecto para construir um centro de pediatria pelo menos desde 2009. Foi criada uma associação de mecenas com o objectivo de arrancar com a construção através da angariação de fundos privados. A primeira pedra da obra foi lançada em 2015, a empreitada chegou a começar, no final desse ano, mas foi parada em 2016. O hospital não desocupava o terreno de construção e o governo não libertava o financiamento. Os últimos 10 anos foram de avanços e recuos para a construção do Joãozinho, que continua sem sair do papel. Agora, está prometido o arranque da obra até ao final de 2019, mas os pais não acreditam. Nem com a doação de 40 mil euros dos Metallica depois do concerto em Lisboa, que colocou o tema mais uma vez nos media.

Filme dos acontecimentos: avanços e recuos e projetos que não saíram do papel

Corria o ano de 2009 quando o então presidente do conselho de administração do Hospital de São João, no Porto, António Ferreira, anunciou a ideia que prometia mudar a vida das crianças que precisam de cuidados de saúde na pediatria da unidade hospitalar. O projeto remontava já a 2007 e propunha construir um hospital pediátrico inserido numa das alas do hospital, financiado por patrocinadores e com 4 milhões de euros angariados.

A campanha ‘Um lugar pró Joãozinho’ prometia um novo hospital com cem camas, cuja inauguração estava prevista para o primeiro semestre de 2011. Segundo António Ferreira, na altura, “foi possível encontrar uma série de parceiros e financiadores” que estavam “disponíveis para ajudar, quer através do fornecimento de materiais para a construção da unidade pediátrica”.

“Ainda este ano, todos os doentes abandonarão a área da pediatria e ficarão em instalações provisórias que irão já ser francamente melhores que as atuais”, precisou o antigo presidente do Conselho de Administração, a 13 de outubro de 2010.

Não foi em 2010 que as crianças foram transferidas para contentores, mas não tardou muito. A transferência para instalações provisórias, que se tornaram definitivas, deu-se em 2011.

Até 2013, porém, o projeto não avançou. Nesse ano, surgiu a ideia de criação de uma associação que implementasse o projeto que ainda não tinha saído do papel. É então criada a Associação “Um Lugar para o Joãozinho”, constituída a 13 de janeiro de 2014. O objetivo “é o de obter financiamento para a nova Ala Pediátrica do Centro Hospitalar de São João”. A obra foi entregue ao consórcio Lúcios/Somague, por 25 milhões de euros, que seriam angariados através de contribuições de mecenas.

A 3 de março de 2015, o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho deslocou-se ao Porto para a cerimónia de lançamento da primeira pedra para a construção da Ala Pediátrica do Hospital de São João. A acompanhá-lo estavam Rui Moreira, presidente da Câmara do Porto, o presidente do Centro Hospitalar, António Ferreira e o presidente da Associação “O Joãozinho”, Pedro Arroja. No seu discurso, o então chefe de Governo afirmou: “Não podemos deixar de acolher com entusiasmo este tipo de iniciativas”. Mas reconhecia “que tal não significa que o Estado se deva desresponsabilizar“.

Foi assim assinalado o início, no terreno, de “um projeto de solidariedade e envolvimento da sociedade civil”, como referia a autarquia portuense. O estaleiro da obra foi montado ainda em abril desse ano.

Passaram-se cinco meses do lançamento da primeira pedra e, em agosto de 2015, foi assinado um acordo entre a associação humanitária, o hospital e as duas construtoras para avançar com a obra da nova ala pediátrica. De abril a agosto de 2015, a empreitada esteve parada, devido a divergências entre a administração do hospital e a associação. As dúvidas começaram a instalar-se. O Hospital de São João decidiu pedir um parecer ao escritório de advogados Cuatrecasas. Pedro Arroja, presidente da associação O Joãozinho afirmou, na altura, que se tratava de “um documento em que o hospital só tem direitos e os mecenas só têm obrigações”, que impõe “condições inaceitáveis” e que levantava “a hipótese de recurso a um tribunal no caso de incumprimentos de execução técnica da obra ou do prazo”. O acordo assinado em agosto previa que o consórcio Lúcios/Somague poderia avançar com a empreitada, que não estava dependente de visto do Tribunal de Contas.

A obra começou a 2 de novembro de 2015, cerca de um mês depois das eleições legislativas de 4 de outubro, e ainda o Governo de António Costa não tinha tomado posse, o que só aconteceu a 26 de novembro desse ano. Em fevereiro de 2016, António Oliveira e Silva tornou-se o novo presidente do conselho de administração do Centro Hospitalar e Universitário de São João e tomou as rédeas do hospital e do projeto para a ala pediátrica.

Porque é que a obra não avançou?

Em março de 2016, o conselho de administração do Centro Hospitalar e Universitário São João afirmou categoricamente que as obras da ala pediátrica, iniciadas em 2015 com fundos privados, só seriam possíveis com investimento público. O hospital argumentava que havia um “desfasamento total entre as verbas angariadas” pela Associação Joãozinho e “o orçamento total da obra”.

António Oliveira e Silva, que renunciou ao lugar na administração do hospital de São João em janeiro deste ano, depois de o mandato ter terminado no final do ano passado, e só saiu do cargo no final de fevereiro, garantiu ao Observador que havia “vontade política” para o avanço da empreitada da ala pediátrica. “Havia um projeto já antigo, nunca houve autorização até há relativamente pouco tempo, embora houvesse vontade política. As autorizações só foram conseguidas no final do ano passado”, afirmou.

Segundo o ex-responsável que teve este projeto em mãos durante aproximadamente três anos, “o hospital até muito recentemente não dispunha de verbas próprias nem havia verbas públicas atribuídas para a construção da ala pediátrica, por isso é que houve uma tentativa de, através de iniciativas de mecenato, tentar construir sem o recurso a dinheiro público”. Tinha o projeto em mãos e não na gaveta, garante António Oliveira e Silva, que diz ainda que “era preciso que fossem libertadas verbas”, deixando claro que essa responsabilidade cabia apenas ao Ministério da Saúde e ao Ministério das Finanças. Sem dinheiro público, não era possível fazer nada, segundo conta.

Oliveira e Silva não tem dúvidas de que a associação e os mecenas tinham as melhores intenções: “Eu fiz o máximo possível para chegar a acordo com a associação Joãozinho porque sempre respeitei as pessoas que se voluntariam para este tipo de iniciativas”, mas reforça que o apoio mecenático poderia ter sido canalizado para outras ajudas : “Mesmo não assumindo o encargo da obra de construção, a associação podia constituir-se como um apoio. É preciso muita coisa para a pediatria, como equipamentos, mas isso nunca foi aceite”.

Opinião diferente tem Pedro Arroja, o presidente da Associação O Joãozinho. “O hospital de São João nunca cumpriu a cláusula primeira do acordo que celebrou connosco de nos ceder o espaço para que nós pudéssemos fazer a obra”, disse o advogado ao Observador. “A nossa obra parou em março de 2016, se o governo tivesse obstaculizado imediatamente e tivesse feito a obra, eu compreendia. Agora passaram três anos em que as crianças permaneceram naquelas condições miseráveis. O que é que uma associação mecenática pode contra o governo do país? Nada”.

Já Jorge Pires, fundador da Associação Pediátrica Oncológica do Hospital de São João (APOHSJ), quando questionado pelo Observador sobre o porquê da obra não ter sido travada e não ter avançado durante esta legislatura, disse de forma clara: “Ideologia da esquerda, não há dúvida. Dizem que é do Estado, que tem que ser o Estado a pagar. Tanto o Partido Comunista como o Bloco de Esquerda me disseram isso, e alguns deputados do PS”.

Outra das razões principais que impedia o avanço da obra era a localização do serviço de sangue do hospital no estaleiro da empreitada iniciada no final do ano de 2015 pelo consórcio Lúcios/Somague. Pedro Arroja diz que a associação O Joãozinho esteve três anos com a obra interrompida porque o hospital, desde que o Governo atual entrou em funções, não disponibilizou o espaço para que a obra pudesse continuar, mantendo o espaço ocupado com o serviço de sangue, que é para ser demolido. O serviço de sangue “está no caminho da obra”, de acordo com Arroja e Jorge Pires.

Este último, que se assumiu como porta-voz dos pais com filhos internados na oncologia, indicou ao Observador que “há cartas da construtora, às quais eu tive acesso, que dizem que o serviço de sangue impede a frente de obra, que não pode continuar enquanto o serviço não sair de lá. Há uma maneira de parar a obra, sem ser deliberadamente. Não cumprindo a parte de desobstrução do espaço, automaticamente a obra para”.

António Oliveira e Silva reconhece que, para a construção, teria que se arranjar outra localização para o serviço em causa. A alternativa “era demolir o serviço de sangue e colocá-lo também em instalações provisórias”. “Arriscava-me a ter duas coisas: a não resolver a pediatria e colocá-la em instalações provisórias e ter outro serviço em instalações provisórias, absolutamente nuclear para o hospital, onde se faz todo o processamento de sangue. E, se não houvesse garantias de que a ala pediátrica fosse para a frente, então passava a ter dois ou três serviços em instalações provisórias, o que não seria muito aceitável”, explica.

Agora, o serviço de sangue irá mesmo ser deslocalizado, avançou o antigo presidente do conselho de administração do hospital: “Felizmente, conseguiu-se uma negociação com o Instituto Português de Sangue e Transplantação que tem um edifício nos terrenos do hospital e que é adequado para receber o serviço de sangue.  É para aí que irá o serviço, isso já está absolutamente determinado”.

Entre projetos, avanços e recuos, houve ainda um memorando assinado simbolicamente, a dia 1 de junho de 2017, dia da criança. O documento foi assinado pela atual ministra da saúde enquanto presidente da ACSS – Administração Central do Sistema de Saúde, o presidente do conselho de administração do hospital, e o presidente da ARS N – Administração Regional de Saúde do Norte. Segundo Jorge Pires, este memorando previa mais um investimento para construir a ala pediátrica: dois milhões de euros em 2017, 12 milhões em 2018 e 8 milhões em 2019, e que a obra estaria pronta este ano. “O que aconteceu a esse memorando? Nada. Nem podia acontecer, primeiro porque eles não tinham dinheiro, não podiam dizer que iam gastar o que não tinham, nem tinham autorização para um ajuste direto ou um concurso que lhes permitisse usar o dinheiro se o tivessem”, conclui.

As denúncias dos pais: más condições dos contentores

10 de abril de 2018. Jorge Pires, pai de um menino com um tumor cerebral, fez a denúncia que haveria de provocar um escândalo: “Quimioterapia no corredor” no Hospital de São João. A realidade não era nova, mas a revolta tornou-se pública e mediática. A notícia foi publicada pelo Jornal de Notícias. A denúncia estava relacionada com o facto de os tratamentos de quimioterapia estarem a ser feitos às crianças em ambulatórios num corredor, além de outras queixas de falta de condições na unidade de internamento da pediatria, localizada em contentores, como contentores de lixo nos corredores.

Ao Observador, Jorge Pires explica que criou que a APOHSJ no final de 2017 porque tinha o filho a ser tratado na oncologia e viu muita coisa má. “Só com cunhas consegui marcar uma reunião com a administração do hospital”, afirma. Quando lá foi, levou uma lista de “coisas absurdas e estranhas” que se verificavam num hospital como o São João. Foi-lhe agradecida a postura e foi-lhe dada razão. Na prática, reclama que nada foi feito para alterar a situação das condições do internamento oncológico das crianças.

As críticas e os alertas que faz são de várias ordens. Começando pelos contentores, recorda que estão alugados e que o Ministério Público até já está a investigar o caso, após declarações feitas pela bastonária da Ordem dos Enfermeiros. O inquérito foi aberto depois de, no ano passado, Ana Rita Cavaco ter pedido uma investigação aos contratos de aluguer dos contentores, em entrevista à Lusa. A bastonária afirmou que “o nome das empresas [contratadas] muda sistematicamente”, mas “a pessoa é sempre a mesma”, sublinhando que estão em causa “milhares de euros” gastos por mês.

Jorge Pires assina por baixo, e pergunta: “Porque é que o senhorio não é chamado a cumprir as suas responsabilidades?”. E diz mais: “É estranho um senhorio a quem pagámos 390 mil euros em 2016 e em 2017 passa para 700 mil euros. Como é que há um aumento brutal da renda, não havendo um aumento da área de contentores, não há contentores novos, nem qualidade. Até pelo contrário, a qualidade desgasta-se com o passar do tempo”. Segundo o pai, o hospital terá dito que fez uma auditoria e que está tudo bem.

Entre as más condições, Jorge Pires, fala em contentores de lixo nos corredores, em locais onde passam doentes e familiares e junto aos elevadores, saídas de emergência bloqueadas por condutas, sofás rotos, buracos nas paredes, uma praga de moscas no bloco operatório e uma única casa de banho com um chuveiro destinada aos pais e mães que dormem na ala pediátrica oncológica. Esta casa de banho será utilizada por 40 a 50 pessoas diariamente.

Dos episódios que relatou ao Observador, o fundador e porta-voz da APOHSJ destacou dois em particular: afirma que o hospital gastou 300 mil euros em melhoramentos dos contentores, aquando da visita do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa à ala pediátrica, no dia de Natal do ano passado. “Isto é um disparate completo!”, criticou, dizendo que foi feita uma “lavagem aos contentores” para receber o Chefe de Estado.

Garantiu ainda que foi colocado um telhado novo numa parte da ala que, no início deste ano, teve de ser esvaziada: “À primeira tempestade, o enfermeiro Francisco, que é o enfermeiro chefe, teve que evacuar a sala de quimioterapia porque chovia lá dentro, entrava água”. O porta-voz dos pais ainda afirmou que quis oferecer uma cortina para um quarto de isolamento, depois de a ter pedido ao hospital e nada ter sido feito, nas palavras de Jorge Pires. “Às 5 da manhã entrava toda a claridade pelo quatro de um miúdo que estava a fazer quimioterapia e a vomitar. Disseram que estavam à espera de orçamento”. O problema terá sido resolvido aquando da visita de Marcelo Rebelo de Sousa, segundo conta o pai ao Observador: “Quando lá foi o Marcelo puseram mais um cortina em cada quarto. Até aos pais pedirem, não havia. E para o presidente vir cá ver o bonito, já valeu a pena gastar dinheiro”.

O segundo episódio está relacionado com o transporte das crianças para fazerem tratamentos e exames. As crianças internadas são deslocadas em ambulâncias desde os contentores até ao edifício principal do Hospital de São João com frequência. São doentes imunodeprimidos, que estão em isolamento num ambiente altamente controlado, mas que, depois, são obrigados a sair à rua, correndo o risco de apanhar frio ou um vírus ou uma bactéria.

O porta-voz da associação de pais revela o caso de uma criança “que estava a fazer radioterapia, estava em estado muito débil, infelizmente, e foi fazer radioterapia nestas condições. Sabe quantas horas esteve à espera da ambulância para voltar para o quarto? Quatro horas. Isto é desumano, é criminoso fazer isto a uma criança que está em perigo de vida”. Jorge Pires avança que, na altura, foi aberto um inquérito dentro do hospital a esta situação.

O presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, ofereceu uma ambulância nova para o transporte, mas, segundo o fundador da APOHSJ, o risco que ocorre com esta deslocalização dos doentes mantém-se. Jorge Pires questiona ainda qual é o papel da Entidade Reguladora de Saúde nestes casos e não percebe como não há relatórios de inspeções.

António Oliveira e Silva, na altura em final de mandato no conselho de administração do Centro Hospitalar e Universitário de São João, nega esta informação e afirma que não tem conhecimento da espera de quatro horas de uma criança pelo transporte para a levar ao quarto dentro do próprio hospital. Diz até que um caso destes “seria muito estranho”, até porque sempre houve uma ambulância dedicada em exclusivo a esse tipo de transportes, mesmo antes de o hospital receber a nova ambulância oferecida pela Câmara do Porto, que tem melhores condições.

Sobre as obras que Jorge Pires afirma que foram feitas com o objetivo de maquilhar as más condições e tapar os buracos por altura da visita do Presidente da República, António Oliveira e Silva garante que os melhoramentos já estavam anunciados, foram feitos ao longo de meses “e alguns, provavelmente, acabaram nessa semana”. O ex-administrador revela que nas casas de banho também estavam previstas recuperações e melhoria das condições, tal como a requalificação de um espaço para servir de sala para os pais e uma ludoteca só para as crianças que estão com as defesas em baixo e que estão separadas das outras.”Isso tudo ficou em andamento. Isso nunca foi esquecido. As pessoas não podem pensar que estão ali meia dúzia de sádicos que não fazem nada com o objetivo de tornar isto assim tão dramático”, refere Oliveira e Silva ao Observador. Ainda assim, o ex presidente do conselho de administração faz o mea culpa: “Não estou a dizer que as condições são boas, porque eu próprio assumi que as condições eram miseráveis, porque eram mesmo, e era preciso chamar a atenção de uma maneira forte para se conseguir aquilo que se conseguiu, embora tenha demorado tempo”.

Associação O Joãozinho abandona a obra

A 15 de abril, depois de anos de luta entre a Associação O Joãozinho e o Hospital de São João, surgiu o anúncio que deita por terra a construção da ala pediátrica com recurso a financiamento de mecenas. Na prática, Pedro Arroja e o projeto que lidera anunciam publicamente que vão abandonar definitivamente a construção da ala pediátrica, da qual, até aqui, tinham a titularidade. Justificam que levaram ao “limite a sua missão mecenática”, como anunciou Pedro Arroja à Lusa.

Ao Observador, o responsável aponta o dedo ao hospital: “Nunca cumpriu a cláusula primeira do acordo que celebrou connosco, de nos ceder o espaço para que nós pudéssemos fazer a obra”, através da deslocalização do Serviço de Sangue, o que chegou a motivar uma ação em tribunal. O hospital também chegou a avançar para a justiça com o objetivo de obter de volta a parcela do terreno.

Segundo Pedro Arroja, o Governo anda há um ano, desde o escândalo público da denúncia dos pais, a afirmar que fará a obra. Assim, decidiram tomar uma decisão “em nome do bem das crianças”: “Já que o Governo não nos deixa a nós fazer a obra, entendemos não ser um impedimento para que o Governo a possa fazer”. Isso não significa, porém, que Arroja acredite mesmo que a construção vai avançar como agora é anunciado. Diz que “os timings têm sempre escorregado” e que continuarão a escorregar.

Depois de muitos diferendos e de o hospital ter pedido reiteradamente para que a associação devolvesse os terrenos, Pedro Arroja assume a frustração e afirma que a obra estava encaminhada para se fazer por via mecenática com o apoio das grandes empresas do país. Para o presidente da Associação O Joãozinho, o grande obstáculo foi sempre o Governo, que “boicotou” a empreitada desde que a obra parou em março de 2016. A espera terminou e agora o terreno está aberto, “lutámos, falámos com a administração do hospital, com dois ministros, a pedir por favor obriguem o hospital a desocupar o espaço, a cumprir aquilo que assinou para que nós possamos continuar a obra. Nada feito, disseram sempre que não. Não vale a pena bater contra uma parede”, desabafa Pedro Arroja.

Se a associação tivesse tido a possibilidade de avançar com a obra, garante que “a esta hora já estaria pronta e paga. Não tenho dúvida nenhuma acerca disso, havia um plano financeiro, havia consórcio construtor, e estava tudo a andar maravilhosamente bem mas o governo escolher sacrificar as crianças mais três anos aquelas condições miseráveis e indignas, palavras do ex presidente do hospital de São João”.

Ora, António Oliveira e Silva tem outra versão dos factos. “O que foi pedido à associação O Joãozinho, um mês depois de eu ter entrado, foi que nos desse garantias de construção. Que nos dissessem assim “nós temos este dinheiro, temos timings para cumprir e garantimos a construção”. Garantias essas nunca foram dadas, segundo o ex administrador. De acordo com Oliveira e Silva, “a associação argumentava sempre que tinha mecenas, mas o que é certo é que nós não podíamos ficar por aí. Tínhamos que ter garantias, que não tínhamos.” O receio era de que houvesse um “pretexto para o Estado nunca se envolver diretamente no assunto”.

Jorge Pires da APOHSJ, afirma ao Observador que a Associação Joãozinho podia não ter “todo dinheiro todo de uma vez, porque a obra seria paga em três exercícios fiscais. Uma empresa em vez de se descapitalizar num ano só, vai distribuindo por vários exercícios. Não dá para pedir às empresas que ponham o dinheiro na conta se a obra está parada”. Contudo, observa que nunca houve da parte da construtora acusação de que havia falta de dinheiro para a obra e que até estava previsto que o consórcio recebesse adiantado. O porta-voz considera que a associação e Pedro Arroja não tinham qualquer tipo de postura clandestina, pelo contrário, tiveram apoio institucional para se tornarem os impulsionadores da construção.

A Associação Joãozinho decidiu, finalmente, doar a frente de obra, tal como está, já com os primeiros trabalhos de demolição efetuados, conforme o acordo de cooperação que foi celebrado. A associação humanitária garante que vai continuar a ajudar as crianças, e está em conversações com a associação de pais, para que indique as carências mais graves, com o objetivo de canalizar verbas para a ajuda de situações específicas e para quem mais precisa, as crianças e as suas famílias.

“Uma vez que o hospital não quis a construção com dinheiro privado, esse dinheiro privado não deve ser doado ao hospital. O dinheiro deve ser canalizado para ajudar as crianças” afirma Jorge Pires da APOHSJ, que acedeu ao repto lançado por Pedro Arroja para fazer uma proposta para identificar os casos mais sensíveis. Vamos colaborar, não queremos dinheiro nenhum para nós, nunca quisemos. Temos aqui o papel de denunciantes e de acompanhantes deste processo, e não vamos querer que passe por nós um cêntimo sequer. Vamos fazer a ponte só”, diz o porta-voz dos pais.

As dúvidas sobre as verbas de donativos

Jorge Pires, o porta-voz da APOHSJ, afirmou ao Observador que tem dúvidas sobre o dinheiro que foi angariado quando foi criado o projeto “Um Lugar para o Joãozinho”, por iniciativa do próprio hospital, tendo depois sido criada a associação O Joãozinho que ficou encarregue da angariação de fundos privados. O projeto inicial, lançado em 2009, já previa uma campanha de financiamento que chegou a ir para o terreno. Em outubro de 2010, o Jornal de Notícias publicava que o projeto “Joãozinho” já tinha angariado 4 milhões de euros.

Jorge Pires pergunta: “Quanto dinheiro foi transferido do hospital para associação Joãozinho?”, e responde, “foram transferidos 549 mil euros”. Se foi assim, volta a questionar “o que foi feito dos outros 3 milhões e qualquer coisa da diferença que havia para os 4 milhões que havia angariado para a obra?”.

António Oliveira e Silva, anterior presidente do Conselho de Administração do Hospital de São João, nega esta versão. Afirma ao Observador, que o centro hospitalar conseguiu angariar à volta de 580 mil euros, “o que para uma construção que estava orçamentada em 25 milhões de euros era irrelevante”. Nunca houve quatro milhões, assegura Oliveira e Silva, que reconhece, contudo que houve um anúncio público de haver essa possibilidade que nunca se concretizou. Os 580 mil euros, garante, que foram transferidos para O Joãozinho, aquando da constituição da associação.

Jorge Pires ainda afirma que foram feitos programas de televisão com números pagos a contribuir para a obra do Joãozinho e pergunta quem controlou esse dinheiro, que considera que foi desnorteado. Entre as iniciativas de apoio e obtenção de financiamento solidário que foram levadas a cabo, Oliveira e Silva destaca a contribuição com um euro do salário por parte dos funcionários do hospital, ou fundos conseguidos em corridas e meias-maratonas, e até, a ajuda para conseguir o trabalho de educadoras para dar apoio às crianças internadas ao fim de semana. Sobre chamadas de valor acrescentado, só tem conhecimento de um caso desse tipo de apoio que ocorreu durante a Gala dos 50 anos do Hospital de São João, em 2009.

Transferência provisória para edifício principal só em junho, mas esteve prevista para abril

Antes de deixar o cargo, António Oliveira e Silva fez mais um anúncio que sofreu um recuo. A 3 de janeiro deste ano, o então presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar e Universitário de São João, afirmava que as crianças com doença oncológica internadas em contentores iriam ser transferidas para o edifício principal em abril. O mês já chegou ao fim e nada disso se verificou.

O hospital anunciou, posteriormente, que essa transferência ocorrerá agora em junho. Esta é mais uma situação alvo da revolta de Jorge Pires. O presidente da APOHSJ reclama que “O Dr. Oliveira e Silva garantiu-me que estava tudo a decorrer dentro dos prazos até ele sair. Estavam agendadas duas semanas no mês de abril para limpeza e reabilitação no novo espaço que iria acolher as crianças, mas que achava estranho esta mudança radical de prazos”. António Oliveira e Silva tinha assumido um compromisso, que não foi cumprido. O Hospital de São João é agora liderado por Fernando Araújo, ex-secretário de Estado Adjunto e da Saúde.

Jorge Pires considera que na base do problema está a falta de funcionários para assegurar os serviços na ala oncológica remodelada do edifício central, e no internamento de pediatria, que para já irá continuar nas instalações dos contentores. “Como é que vão mudar as crianças de oncologia para o internamento lá dentro, se para o fazer precisam de deslocalizar auxiliares, médicos, enfermeiros? Se não contratarem auxiliares que não têm, não podem mudar as crianças”. Uma contratação nova precisa de um a três meses para se integrar no serviço, perguntei eu no hospital. O pai, afirma que os profissionais já deviam ter sido contratados, porque segundo sabe, os funcionários precisam de ganhar ritmos. Mais uma vez, acusa os responsáveis políticos de “criar uma expectativa positiva nas pessoas, numa altura eleitoral. Na prática quem está lá dentro sabe que não vai acontecer nada. É uma manobra política para cativar votos”.

Oliveira e Silva tem outra explicação. Apesar de já ter deixado a liderança dos destinos do São João, afirma que a transferência das crianças está dependente de duas obras nos pisos 7 e 8, para onde vão os serviços de neurocirurgia – que está em contentores há mais tempo de que a pediatria e em condições muito piores – e o serviço de hematologia clínica. A transferência deste último serviço já está concluída. Esta terça-feira, o hospital anunciou que “após o término das obras no piso 8 conseguiu-se finalmente concluir a união das duas vertentes do Serviço de Hematologia Clínica, separadas desde há mais de 10 anos, no mesmo espaço físico. O novo serviço integra a Unidade de Transplantação com oito quartos de isolamento, uma área de tratamento de doentes leucémicos e hemato-oncológicos com 10 quartos de isolamento e 14 camas de enfermaria”.

Para o antigo presidente do conselho de administração do hospital, “é uma questão de instalações. A obra está pronta”, mas a transferência já não volta atrás. Sobre as questões levantadas acerca de falta de pessoal de enfermagem e auxiliar, Oliveira e Silva afirma que as contratações estão garantidas pelo Ministério da Saúde, já que “a pulverização dos serviços, o facto de ter o serviço só num sítio e passar a tê-lo em dois ou três, obriga a ter mais profissionais”.

Governo e hospital garantem: obra começa até ao final do ano, mas as dúvidas continuam

“Fui à Assembleia da República pedir o ajuste direto, todos me deram razão. Quiseram ficar com os louros da proposta de alteração ao Orçamento de Estado, que lançaram mais tarde. As politiquices têm destas coisas”. A afirmação é de Jorge Pires que lidera a APOHSJ, que reclamava uma medida de exceção face à gravidade da situação.

Jorge Pires foi ouvido na Comissão Parlamentar de Saúde a 10 de outubro de 2018, exatamente seis meses depois de ter denunciado as más condições do internamento pediátrico oncológico no Hospital de São João. No dia 20 do mesmo mês, a associação promoveu um cordão humano como forma de protesto e para chamar a atenção para o problema. Ainda sem garantias de financiamento ou de um mecanismo que assegurasse a obra, oito dias depois, Fernando Jesus, deputado do PS, anunciou que as obras de construção da nova ala pediátrica iriam começar em janeiro de 2019. A 7 de novembro do ano passado, o PSD sugeriu que o ajuste direto deveria ser considerado neste caso. No dia 15 desse mês, o PS, através do líder parlamentar e presidente do partido, Carlos César, anunciou a proposta socialista para o efeito. O ajuste direto, que implicou uma alteração ao Orçamento de Estado de 2018, foi aprovado por unanimidade no parlamento a 27 de novembro. No dia seguinte, José Artur Paiva, diretor clínico do Centro Hospitalar e Universitário de São João afirma, em declarações aos jornalistas na unidade hospitalar, “as obras arrancam já em 2019 e prevê-se que fiquem concluídas em 2021”.

Antes da aprovação do ajuste direto, a APOHSJ estudava uma queixa-crime contra quem mandou parar a obra, e acusava a ministra da saúde Marta Temido de deixar o projeto na gaveta. Essa queixa não foi para a frente.

No dia de Natal, Marta Temido acompanhou a visita de Marcelo Rebelo de Sousa à pediatria, e afirmou, que as obras deviam arrancar em 2019 e ficar prontas em 24 meses. O Presidente da República disse que o projeto já estava “numa nova fase”, com um “calendário muito preciso”, afirmando-se convicto de que as obras arrancariam este ano. A 3 de janeiro, no dia em que a Câmara do Porto entregou uma ambulância nova para transporte das crianças, António Oliveira e Silva prestes a sair do cargo de liderança da administração da unidade hospitalar, referiu que a construção devia arrancar no início do segundo semestre deste ano. Ainda hoje mantém a convicção de que “o processo está nos prazos que estavam previstos”. A 22 de fevereiro, no final de uma reunião com as várias partes envolvidas no processo, a ministra da Saude afirmava que as obras começam no final deste ano ou no início do próximo e que o Governo já tinha canalizado “23 milhões de euros”, 19 milhões para a empreitada, e 3 milhões para o capital estatutário da nova pediatria. Entretanto, o projeto para a construção teve que ser revisto, e estava previsto que fosse entregue até ao final deste mês de abril, o que de facto aconteceu.

Em comunicado, no passado dia 29 de abril, o Centro Hospitalar Universitário São João anunciou que “recebeu projeto da Ala Pediátrica e designou grupo de trabalho independente para estabelecer critérios de seleção de empresas para execução da obra”. A empresa Aripa Arquitectos cumpriu assim o prazo mas ainda faltam outras revisões. Segundo o hospital, seguem-se as fases de revisão técnica e adjudicação da empreitada que vão tornar possível o início obra até ao final de 2019.

O projeto será agora remetido para os Ministérios da Saúde e das Finanças e para uma entidade que fará a revisão técnica de acordo com as exigências legais em vigor. Isto irá demorar 45 dias. O projeto promete “um edifício funcional, adaptado aos cuidados multidisciplinares de elevada diferenciação prestados a crianças e adolescentes com doença complexa, na região Norte”, além de refletir “a complementaridade na prestação de cuidados em pediatria com outros hospitais públicos, nomeadamente o Centro Materno-Infantil do Norte/Centro Hospitalar do Porto e o Instituto Português de Oncologia do Porto”.

O esboço aposta ainda na cirurgia de ambulatório, na diferenciação de camas de cuidados intensivos e intermédios, e será, segundo o hospital, “a única estrutura da região preparada para dar resposta a crianças politraumatizadas, com doença cardíaca, e necessidade de cirurgia, “com doença do foro neurocirúrgico”, e por último “a parte importante das crianças com doença oncológica”.

O grupo de trabalho independente, presidido por Joaquim Poças Martins, presidente do Conselho Diretivo do Norte da Ordem dos Engenheiros, foi segundo o São João, criado “por razões de transparência e de defesa do superior interesse público” e para estabelecer os critérios para selecionar o conjunto de empresas habilitadas” para a empreitada. Tudo isto “não atrasará o projeto”, segundo o hospital.

O Centro Hospitalar Universitário São João “congratula-se por todo o processo de construção da Ala Pediátrica estar a decorrer sem atrasos em relação ao plano estabelecido”.

Apesar do anúncio as dúvidas continuam. Pedro Arroja, da Associação O Joãozinho tem uma convicção pessoal: “Este governo nunca fará esta obra, nem o governo que virá a seguir”, afirma, dizendo que apesar dos anúncios da ministra da saúde Marta Temido de que a obra arrancará no final do ano, a governante não pode dar certezas. “Ora no final do ano ela já não lá estará, porque há eleições em outubro”. E acrescenta, que por ele, a obra já estaria feita e paga.

Jorge Pires da APOHSJ, lança críticas à ministra por ter dito publicamente que não iria dormir descansada enquanto este problema não estivesse resolvido, e conclui, “a senhora não deve dormir, com certeza”. Jorge Pires acha que “o Governo está permanentemente a mandar areia para os olhos das pessoas” e que tenta manipular e ludibriar a informação. Com acusações de má gestão do dinheiro público ao executivo, o presidente da Associação Pediátrica Oncológica ainda lamenta o facto de o primeiro-ministro nunca ter visitado os contentores da ala pediátrica do Hospital de São João e lança um desafio: “Eu desafio o dr. António Costa: venha ver aquilo comigo, para saber aquilo que nós passamos, não é numa visita encapotada para ficar todo contente, não, venha ver e falar com quem realmente vive aquele problema. Ele nunca veio, não dá a cara. A cobardia de quem manda é muito grande quando não dão a cara”.

Jorge Pires considera que o facto de o país começar a atravessar um período eleitoral é o motivo para os anúncios de avanço do processo de construção da nova ala pediátrica. “Eles andam a empurrar para a frente para quando chegar a altura das eleições dizerem “agora vamos fazer”, para os eleitores ficarem contentes. Mas não, o que é certo é que não está a acontecer nada para que isso aconteça”. Dez anos depois dos primeiros movimentos para a construção da nova pediatria do Centro Hospitalar e Universitário de São João, no Porto, centro de referência e ponto central no tratamento de crianças de toda a região norte, as crianças continuam internadas em contentores. O Governo e o hospital garantem que a segunda pedra, depois da primeira lançada por Passos Coelho em 2015, será cimentada até ao final do ano.

Tânia Teixeira

Revisitando os cartoons de Maomé.

A liberdade de expressão é um valor em si mesmo e não pode ficar condicionada pela simpatia ou antipatia de qualquer cartoon.

A ira manifestada pelo Presidente Donald Trump relativamente a um cartoon desenhado por António, veio novamente colocar na ordem do dia os limites da liberdade de expressão. Inclusivamente, alguns que defendem o cartoon são aqueles que criticaram a liberdade de expressão aquando da publicação dos 12 cartoons de Maomé. Afinal a ideia mais generalizada consistiu na publicação de caricaturas por um jornal de «direita» ou de «extrema-direita», cujo objetivo era aviltar todos os crentes islâmicos. Mas será que esta ideia estava correta?

Kenan Malik (crente islâmico) escreveu um livro sobre esta problemática descrevendo pormenorizadamente o episódio que ficou conhecido como os 12 cartoons de Maomé. Afinal qual a sua origem?

Kâre Bluitgen é conotado «com a esquerda» e defende a integração dos muçulmanos na sociedade dinamarquesa. Em 2005, escreveu um livro para crianças sobre o Islão intitulado «O Corão e a Vida do Profeta Maomé», visando promover uma melhor compreensão da religião islâmica. Para o efeito, procurou um cartoonista para ilustrar o livro.

Os três primeiros recusaram, receando ter o mesmo destino de Theo Van Gogh (realizador holandês morto por Bouyeri, líder da célula Hofstad). Posteriormente, o jornal «conotado com a esquerda» Politiken, retratou esta demanda frustrada. Em resposta, o «jornal conotado com a direita» Jylland Posten, solicitou a 40 cartoonistas da Dinamarca para retratar Maomé: 12 aceitaram o repto e assim foram publicados em 30 de setembro de 2005.

Uma semana após a sua publicação, sem ter havido qualquer tipo de polémica, os jornais contactaram uma série de imãs sobre o assunto, entre os quais Ahmad Abu Laban. Aquele clérigo radical residente na Dinamarca, já tinha assumido posições controversas, tais como admirar Bin Laden assim como vertera «lágrimas secas» com os atentados terroristas jihadistas do 11 de setembro de 2001.

Insatisfeito com a falta de condenação por parte do governo dinamarquês, Abu Laban liderou uma delegação a vários países árabes, cujo objetivo consistia em «internacionalizar a questão dos cartoons». Na organização da Conferência Islâmica em Meca, compilaram uma pasta de arquivo composta por 43 páginas, no qual a delegação acrescentou mais três cartoons que não faziam parte dos 12 cartoons originais. O objetivo consistia em exacerbar as multidões e funcionar como contrainformação.

Afinal, o cartoon mais sensacionalista pertencia a um evento de «chamamento de porcos» que decorreu em França no qual um indivíduo usava um nariz de porco de borracha. Todavia, essa fotografia (dissimulada como cartoon) foi incluída como fazendo parte dos cartoons, com o propósito de instigar o ressentimento.

Respeitante aos 12 cartoons, um dos mais polémicos (supostamente), consubstanciava-se na ilustração de Maomé com um turbante em forma de bomba. Para os islamitas, apenas uma interpretação era possível: cobrir a cabeça do profeta com uma bomba era sugerir que todos os seus fiéis eram terroristas. Contudo, outras leituras eram possíveis — porquanto o cartoon não tinha texto.

Diversos autores sustentaram que a caricatura assemelhava-se a Abu Laban e era uma forma de criticar as suas posições extremistas (v.g. era a favor da tática dos «bombistas suicidas» em Israel). Era possível fazer outra interpretação: Maomé com uma bomba na cabeça visava denunciar a instrumentalização da religião pelos terroristas jihadistas — e que o autor do cartoon (Kurt Westgaard) veio posteriormente a confirmar.

Porém, decisores políticos, desde Bill Clinton, passando por Jack Straw, entre outros, lamentaram a publicação destes cartoons, que apenas podiam ser qualificados como um ataque ao Islão.

Mas será que retratar Maomé constitui uma ofensa ao Islão?

A descrição verbal de Maomé (v.g. nem alto, nem magro, cabelo preto) é usual em várias fontes (Ali Talib). De igual maneira, a representação da sua caligrafia (palavra Maomé), também é bastante frequente e aceite na religião Islâmica.

E a sua representação visual?

Inicialmente, a representação humana (ou até de formas não humanas) em mesquitas e moedas foi usual no Islão mas com a sua consolidação essa representação passou (gradualmente) a não ser feita. Segundo uma interpretação do Islão, a suposta proibição da representação visual de Maomé visa evitar que aquele fosse objeto de adoração. Apenas e somente Alá deve ser objeto de adoração.

Porém, isso não impediu a representação visual de Maomé (com o rosto coberto ou a descoberto) ao longo dos tempos e por crentes islâmicos, como sustenta Ali Widjan, crente islâmica, académica especializada em História de Arte e pertencente à Família Real Jordana. Num ensaio escrito em 1999, a Académica demonstrou que a proibição da retratação visual de Maomé surgiu no século XVII apesar dos islamitas advogarem que a sua retratação sempre foi proibida pela religião islâmica.

Mas afinal a representação visual de Maomé é inexistente na esfera pública? A resposta é negativa e apontemos os seguintes dois exemplos:

Desde 2008 que existe em Teerão uma representação visual de Maomé, num extenso mural.

No edifício que alberga o Supremo Tribunal Federal nos EUA, estão patentes 18 frisos (colocados em 1935) retratando legisladores proeminentes (v.g. Confúcio, Salomão), incluindo Maomé, que segura o Corão. Inclusivamente, foi emitida uma fatwa por parte de Taha Jaber al-Alwani (professor na Universidade de Al-Azhar no Cairo), salientando que os muçulmanos devem ter orgulho neste tipo de representação.

A liberdade de expressão é um valor em si mesmo e não pode ficar condicionada pela simpatia ou antipatia de qualquer cartoon.

Francisco Jorge Gonçalves

Eurodeputados têm rendimentos de até 1,2 milhões de euros durante o seu mandato.

O salário base mensal dos eurodeputados é de 6.824,85 euros mas chegam a receber 250 mil euros por ano, o que corresponde a um total de 1,2 milhões de euros durante os cinco anos de mandato.

O salário mensal dos deputados ao Parlamento Europeu, antes da dedução de impostos é de 8.757,70 euros e após os descontos comunitário  ficam com 6.824,85 euros. Além disso, na maioria dos países da UE os deputados pagam ainda um imposto nacional suplementar no seu país de origem.

O ordenado final de um deputado, depois de impostos, depende das normas de tributação no seu país e pode chegar aos 20 mil euros mensais, devido a ajudas de custo, escreve o Jornal de Notícias na sua edição impressa desta segunda-feira

Em entrevista ao JN, a socialista Ana Gomes não o considera excessivo. “Acho que é adequado, controlado e rigoroso. Os políticos em Portugal é que são mal pagos, o que cria situações que são portas abertas para a promiscuidade, corrupção e alguns esquemas”.

O ex-autarca Fernando Ruas considera serem “vencimentos normais e iguais para deputados de todos os países. São confortáveis para o cargo”.

Contrariamente, Marinho e Pinto afirmou ao JN que este rendimento “é excessivo”, o pagamento de 20 mil euros mensais aos deputados, que corresponde aos subsídios atribuídos além dos salários, “afasta os eleitores dos eleitos, fazendo a ascensão do populismo”.

Com a entrada em vigor do Estatuto Único dos Deputados, em julho de 2009, os deputados ao Parlamento Europeu passaram a receber todos o mesmo salário mas ainda assim há algumas exceções ao Estatuto Único. Os deputados que exerceram um mandato antes das eleições de 2009 puderam optar por manter o anterior regime nacional aplicável aos salários, recebiam o mesmo montante que os deputados nacionais.

O salário de base corresponde a 38,5 % do vencimento de base de um juiz do Tribunal de Justiça Europeu, o que significa que os deputados ao Parlamento Europeu não decidem, nem podem decidir, sobre o seu próprio salário.

Os salários são suportados pelo Parlamento Europeu.

Um eurodeputado pode receber 250 mil euros por ano

Ao salário acrescem os subsídios, levando a que um eurodeputado chegue a receber 250 mil euros por ano, conclui o Jornal de Notícias. Ou seja, corresponde a um total de 1,2 milhões de euros durante os cinco anos de mandato.

Um eurodeputado recebe 4.513 euros mensais para custos com o gabinete, 320 euros diários para despesas de alojamento e alimentação, mais 24.943 euros mensais para pagar assistentes (que no caso dos 21 eurodeputados portugueses  são 90).

Podem ainda pedir a devolução de despesas de transporte e têm direito a usar veículos oficiais do Parlamento Europeu. Recebem um subsídio de 150 euros por cada sessão de reuniões fora da União Europeia e têm direito ao reembolso de dois terços das suas despesas de saúde e seguro de saúde.

No final do mandato ainda têm direito a um subsidio de reintegração igual ao seu vencimento, equivalente a um mês por cada ano de mandato, pelo período máximo de dois anos.

O eurodeputado do PSD, Fernando Ruas diz ao JN que “esses subsídios não podem ser contabilizados como salários. Servem para cobrir despesas”, sublinhando que o seu “vencimento é de seis mil euros”.

Os deputados também têm direito a uma pensão de aposentação a partir dos 63 anos. O montante da pensão equivale, por cada ano completo de exercício do mandato, a 3,5 % do montante do salário, não podendo, porém, exceder 70% no total. Em caso de morte, o conjugue recebe 60% do valor da pensão do eurodeputado e os filhos 20%. O custo destas pensões é suportado pelo orçamento da União Europeia.

O Parlamento Europeu é composto por 751 deputados eleitos nos 28 Estados-Membros da União Europeia alargada. Desde 1979, os deputados ao Parlamento Europeu são eleitos por sufrágio universal directo e por cinco anos. As próximas eleições decorrem a 26 de maio.

Faz hoje cinco anos que Portugal decidiu sair do resgate sem programa cautelar.

Estávamos em 2014 e Pedro Passos Coelho liderava o Governo de coligação entre PSD e CDS. A decisão surgiu depois de uma reunião extraordinária do Conselho de Ministros.

O Governo liderado por Passos Coelho decidiu há cinco anos que Portugal ia sair do programa de resgate financeiro sem recorrer a qualquer programa cautelar, regressando assim autonomamente aos mercados.

Em 04 de Maio de 2014, um domingo, Pedro Passos Coelho anunciou, numa declaração ao país pouco depois das 20:00, a partir da sua residência oficial, em São Bento, que o Governo tinha decidido em Conselho de Ministros que Portugal iria sair do programa de assistência “sem recorrer a qualquer programa cautelar”.

“Depois de uma profunda ponderação de todos os prós e contras, concluímos que esta é a escolha certa na altura certa. É a escolha que defende mais eficazmente os interesses de Portugal e dos portugueses e que melhor corresponde às suas justas expectativas”, afirmou o chefe do executivo PSD/CDS-PP, após uma reunião extraordinária do Conselho de Ministros.

Naquele dia, o então primeiro-ministro disse que Portugal podia dispensar um programa cautelar porque a estratégia de regresso aos mercados e a consolidação orçamental tinham sido bem-sucedidas e o país recuperara a credibilidade externa.

“A nossa escolha está alicerçada no apoio dos nossos parceiros europeus, que de forma inequívoca o manifestaram fosse qual fosse a opção que viéssemos a tomar”, frisou também Passos Coelho.

As reacções não se fizeram esperar. A Comissão Europeia garantiu que apoiaria Portugal na sua “escolha soberana”, considerando que as autoridades portuguesas tinham avaliado “cuidadosamente todos os parâmetros relevantes da situação económica e financeira do país” antes de tomarem a decisão.

A directora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, elogiou “a posição forte” de Portugal para completar a consolidação orçamental e garantiu que a instituição iria “trabalhar de perto” com as autoridades portuguesas para ultrapassar os problemas que permaneciam.

O então secretário-geral do PS, António José Seguro, sublinhou que a saída sem programa cautelar era o cenário previsto desde o início do programa, mas alertou que os portugueses teriam de suportar mais sacrifícios, referindo o anúncio do aumento do IVA e da Taxa Social Única.

Já o CDS-PP considerou ser um dia “positivo e histórico” para Portugal, enquanto o PSD congratulou-se com a saída de Portugal do memorando de ajuda sem novo apoio financeiro, criticando o que apelidou de “egoísmo eleitoral” do PS.

O Bloco de Esquerda classificou o anúncio como “um foguetório”, considerando que os únicos a ter uma “saída limpa” em Portugal foram os mercados financeiros e os milionários, enquanto o PCP acusou o Governo de “hipocrisia e cinismo”.

De recordar que Portugal pediu assistência financeira em 06 de Abril de 2011, com José Sócrates como primeiro-ministro. Um mês depois, em 05 de Maio, a ‘troika’, constituída por elementos da Comissão Europeia, do Banco Central Europeu (BCE) e do FMI, apresentou o programa de assistência financeira a Portugal, no valor de 78 milhões de euros.

Como Rio recuou em três actos e disse a Costa que hoje perdeu um amigo.

Rio, como tem sido habitual quando o atacam, reagiu com ferocidade. Lembrou Sócrates, Pedrógão e enalteceu a manha de Costa recuperando Seguro. Acabou a coexistência pacífica ao centro.

Sempre que se sente acossado, Rui Rio abandona o estilo opositor suave e transforma-se em opositor feroz. No hotel Sheraton, no Porto, onde fez o discurso da vitória sobre Santana e onde começou a derrotar Montenegro, disferiu o mais duro ataque que alguma vez fez a António Costa. O líder da oposição tinha uma relação de respeito mútuo com o primeiro-ministro, e se nos últimos tempos eram evidentes os sinais de que essa relação estava a azedar, a partir deste domingo ficou claro que passou a encarar Costa mais como um inimigo do que como um adversário. Chamou-lhe muito do que de mau há para chamar a um político, acusando-o de farsa, mentira, hipocrisia ou falsidade.

Rio queixou-se ainda do tacticismo e da manha de Costa perante o país. E para o fazer foi, ele também, táctico: ao líder do PSD não lhe interessavam nada eleições nesta altura. Rio voltou a não virar costas à liça política e, ao mesmo tempo que denunciava uma peça teatral de António Costa em três actos, ele próprio fazia um recuo táctico recorrendo à mesma estrutura narrativa.

Se Costa perdeu claramente um amigo (político) Rio deixou também um aviso: o primeiro-ministro pode ter perdido a confiança em PCP e BE, mas também não é com o PSD que contará para figuração em acordos. O discurso de Rui Rio foi um decretar do fim da crise política, mas também uma tentativa de isolar o PS no Parlamento.

Ato I do recuo: segurar o Governo e colocar o ónus no PS

Se o Governo e o Partido Socialista persistirem em recusar as cláusulas de salvaguarda financeira, então o PSD não poderá votar favoravelmente o diploma final, porque, ele, nessa circunstância, pode efectivamente vir a originar excessos financeiros que as finanças públicas poderão não conseguir suportar”

Rui Rio omitiu a principal razão pela qual não quer deixar cair o Governo: o presidente do PSD não quer eleições antecipadas, muito menos num momento em que o PSD (e o CDS também) foi apanhado em situação de fragilidade debaixo dos holofotes. Acusou Costa de tacticismo, mas segura o Governo também por questões de cálculo eleitoral. Se as sondagens fossem outras, talvez a atitude do PSD fosse outra, mais parecida com o PEC IV. E mesmo assim, o tema não ajuda e poderia ter efeitos nefastos numa das principais mensagens de Rio e do PSD: a responsabilidade e o rigor financeiro. O líder social-democrata, que também já demonstrou ser hábil politicamente, ensaiou uma resposta em três actos para que o recuo não pareça um recuo. Pelo caminho, tentou sempre estraçalhar Costa. Já na parte final do discurso, Rio disse a frase que serviu como uma espécie de decreto de fim da crise política: o PSD vota contra a proposta caso não sejam aprovadas cláusulas de sustentabilidade financeira. Ou nas palavras que usaria segundos depois: “Chegamos, assim, ao acto final da peça de teatro com que o senhor primeiro-ministro resolveu brindar os portugueses durante estes três últimos dias”. Quis, no entanto, deixar claro que o PSD só vota contra “se Governo e PS persistirem em recusar as cláusulas de salvaguarda financeira”. O objectivo é tentar colocar o ónus da mudança de voto do PSD numa “incoerência” do PS.

Ato II do recuo: Desvalorizar a aprovação na especialidade

Ainda nenhum diploma foi votado sobre o descongelamento das carreiras dos professores. Apenas se sabe o que cada partido queria alterar ou rejeitar. Daqui, apenas resulta a proposta para votação final no plenário da Assembleia da República. Por isso, o PSD vai coerentemente manter as suas posições sem qualquer alteração. Vamos propor no plenário a inclusão das propostas de salvaguarda financeira que fizemos na comissão, e que o PS incoerentemente rejeitou.”

Para justificar que o PSD não está a recuar (para não dar uma imagem de fraqueza), Rio desvaloriza a aprovação da proposta em sede de especialidade na Comissão Parlamentar de Educação. O presidente do PSD foi dez anos deputado e sabe bem que uma aprovação em sede de especialidade não é um mero esboço e que, a maior parte das vezes, a votação em plenário é quase uma mera formalidade, seguindo aquilo que foi decidido na especialidade. Ou seja: o PSD permitiu que a proposta seguisse para plenário, mesmo sem as cláusulas de sustentabilidade (que como Rio disse, e bem, foram chumbadas com o voto decisivo do PS). É verdade que está sempre prevista a hipótese de haver avocações a plenário (voltar a votar artigos em que votam todos os deputados no hemiciclo), mas também é verdade que o PSD podia ter travado logo a proposta na comissão ao ver que as cláusulas foram chumbadas. E mesmo depois disso, anunciar que não estava satisfeito e que iria avocar as matérias que não tinha conseguido fazer aprovar em comissão. Não o fez. Até este domingo (de resto, tal como Cristas e o CDS).

Ato III do recuo: Fazer promessa eleitoral

Por isso, se o PS nos obrigar a reprovar a proposta por irresponsabilidade política e financeira da sua parte, o PSD assumirá no seu programa eleitoral, exactamente o mesmo compromisso que consta da proposta que, sobre esta matéria, fizemos na Assembleia da República.

Rio já antecipa a fúria dos professores e, em particular, do sindicato de Mário Nogueira. Sabe que podia aqui capitalizar algum descontentamento dos professores com o PS (muitos fazem parte do voto móvel do “centrão”), mas que perde essa oportunidade ao voltar atrás. Fá-lo também, aliás, para não perder outra franja importante do eleitorado: a do rigor das contas públicas e até a que está numa ala mais liberal e cronicamente contra o “partido do Estado”. Assim, para mostrar que “não tem duas caras”, Rio faz uma promessa: se a proposta for chumbada, vai inclui-la no programa eleitoral do PSD. Mais uma vez, pretende evitar que digam que recuou.

Posta em marcha a estratégia para justificar a resposta do PSD ao ultimato do primeiro-ministro, Rio não quis deixar Costa a celebrar a vitória e marcou o discurso com críticas violentas:

Oiçam, portugueses, Costa é um manhoso

É pois neste enquadramento, que o senhor primeiro-ministro anunciou ao país, num acto de desespero e numa encenação com fraco sentido de Estado, que para evitar o caos financeiro apresentará a sua demissão se o diploma vir a ser aprovado. Um gesto a fazer lembrar o golpe interno no PS contra António José Seguro. Ou no Parlamento após a derrota eleitoral de 2015. Um acto de fuga às responsabilidades, que se assemelha aquele jogador que, estando a perder o jogo e sem que ninguém lhe toque, se atira para o chão a ver se engana o árbitro e consegue um penálti inexistente.

Rio comunicou ao país que ele próprio deixou de confiar em Costa. Que Costa não conta mais com ele. Que se acabou a coexistência pacífica que até foi cooperante (com dois acordos PS-PSD). Sem usar estas expressões, falou mais no primeiro-ministro como inimigo, um malfeitor, do que como um mero adversário. Acusou-o de hipocrisia, falsidade, mentira, tacticismo, falta de sentido de Estado. Rio que estão já muito longe dos tempos de cumplicidade quando ambos se uniam como autarcas das duas maiores câmaras do país em defesa dos munícipes. E, falando para os portugueses, lembrou que Costa “traiu” António José Seguro, que arrumou Passos Coelho com tacticismo parlamentar e acusou-o de ser um fingido. Rio quis ainda dizer aos portugueses que o PS caminha para uma derrota (ou uma “vitória de Pirro”, como lhe chamaria Soares) nas Europeias e que foi por isso que Costa, o calculista, montou uma “lamentável encenação”. Rio puxou dos galões (leia-se sondagens) para dizer que a campanha para Bruxelas está a “correr bastante mal” ao PS.

Dedo nas feridas: Pedrógão, familygate e Tancos

Morreram mais de 100 pessoas nos incêndios de 2017 e o primeiro-ministro não se demitiu (…) os membros deste Governo enxamearam a administração pública com os seus familiares e amigos socialistas e o primeiro-ministro não se demitiu. Roubou-se material de guerra em Tancos como quem rouba um galinheiro e não se demitiu. Morrem portugueses porque uma estrada no Alentejo abateu por desleixo na segurança e não se demitiu. Agora, porque a AR — que ele tão bem soube utilizar para formar governo sem ter ganho as eleições — debate um diploma com reduzidíssima implicação financeira, face ao que o próprio Governo já tinha assumido, monta um golpe de teatro amador e ameaça que se vai embora. Comigo, não pode contar para ser figurante em peças de teatro de má qualidade, nem para ser corredor de velocidade em disputas mediáticas.

Há aqui uma mudança no tom de discurso e no estilo de Rui Rio. A exemplo do que costuma fazer, por exemplo, o candidato às europeias Paulo Rangel, Rio vai buscar assuntos mais agressivos para António Costa e para o PS, como as mortes dos incêndios de 2017 ou o roubo de armamento em Tancos. Se já tinha existido um Rio 2.0, após a moção de censura (em que prometia ser mais combativo com o PS) este é um Rio 3.0 que usou a artilharia pesada para cima de Costa. Não é propriamente uma surpresa (o próprio Rio admite que é assim) mas antes a confirmação de que quando se sente acossado, Rio se torna mais combativo, mais incisivo e mais politicamente eficaz. Quanto mais a luta aquece, mais Rio mostra as diferenças para o PS.

PSD é o partido do rigor, PS é o partido de Sócrates

O líder socialista quis fabricar um caso político de vitimização para enganar os portugueses. Um número de ilusionismo eleitoral para atacar o PSD e a mim próprio e tentar criar a falsa ideia de que estamos a aprovar medidas que empurrariam o país para uma orgia orçamental (…) Na minha vida nunca pus em causa o equilíbrio financeiro das instituições por que fui responsável. Nem na gestão política, nem na gestão profissional enquanto economista. Se há matéria em que poucos me podem dar lições é sobre questões de rigor na gestão dos dinheiros públicos. O despesismo dos dinheiros do Estado nunca fez nem fará parte da minha forma de actuar na política. Do mesmo não se podem orgulhar outros d0s que nos últimos dias nos têm cinicamente tentado dar lições de finanças em tudo o que é espaço mediático, principalmente aqueles que participaram nos governos presididos pelo engenheiro Sócrates. Haja alguma decência e algum respeito pela verdade.

Rui Rio fez um discurso que pode não ser ter sarado as feridas que eventualmente este caso tenha causado no seu eleitorado natural, mas funcionará para dentro do partido. É um discurso em alguns pontos inatacável até para os herdeiros do passismo sem Passos. Desde logo, Rio foi buscar o seu currículo e a fama de rigor nas contas públicas (na câmara do Porto, no PSD como secretário-geral de Marcelo e agora novamente no PSD a garantir como líder a redução do passivo). Tinha de fazê-lo porque era precisamente essa imagem que esteve  em risco durante todo o fim-de-semana. Depois, passou ao ataque, e disse basicamente que não aceitava lições de ex-governantes de Sócrates. O visado era o número dois do Governo, Augusto Santos Silva. Mas, indirectamente, visou todos os que integraram os governos de Sócrates. O que também inclui António Costa. Desta vez, os adversários internos não se podem queixar de falta de ataque ao PS. Embora Relvas tenha vindo a terreno para criticar, Rio soube estancar bem qualquer nova tentativa de balcanização do PSD.

Rui Pedro Antunes

https://observador.pt/especiais/como-rio-recuou-em-tres-atos-e-disse-a-costa-que-hoje-perdeu-um-amigo/

domingo, 5 de maio de 2019

Salários reais diminuem em Portugal entre 2015 e 2018

Economista Eugénio Rosa analisa dados do Ministério do Trabalho.

“O poder de compra quer das remunerações base, quer do ganho médio dos trabalhadores do sector privado diminuiu entre 2015 e 2018”, estas são as principais conclusões do economista Eugénio Rosa, que avança que os dados são divulgados no Boletim Estatístico do Ministério do Trabalho.

O economista garante ainda que durante estes três anos, a remuneração base média mensal dos trabalhadores do sector privado aumentou 2,8%, uma vez que o valor passou de 951 euros para 977. “No entanto, se deduzirmos o efeito corrosivo do aumento de preços verificado neste período (2,9% segundo o INE) conclui-se que o poder de compra da remuneração base mensal diminuiu 0,2%”, diz Eugénio Rosa numa análise realizada recentemente.

A mesma análise acrescenta que o mesmo aconteceu em relação ao ganho médio que, “para além da remuneração base inclui todas as remunerações variáveis”. Diz ainda Eugénio Rosa que, segundo o Boletim Estatístico do Ministério do Trabalho, “entre 2015 e 2018, o ganho médio nominal dos trabalhadores, portanto antes de deduzir os efeitos da subida de preços, aumentou 2,3%, mas quando se deduz o efeito corrosivo da subida de preços já se verifica uma diminuição de 0,6% no poder de compra do ganho médio”.

Com base nestes dados, o economista acusa: “quando se enche a boca afirmando que se verificou uma recuperação dos rendimentos de todos os portugueses, é preciso sermos sérios e falar verdade no que se diz, e não esquecer estes dados divulgados pelo próprio Governo que abrangem a maioria dos trabalhadores”.

Outro aspecto que, garante Eugénio Rosa, é revelado nos dados do Ministério do Trabalho, é o peso “cada vez maior (em percentagem) ”, dos trabalhadores que recebem o salário mínimo nacional. “Durante este período, o salário mínimo nacional teve um aumento significativo de 14,9% (em termos reais +11,6%) mas o dramático é que a percentagem dos portugueses que recebem o salário mínimo nacional cresceu muito com o Governo de Costa”, diz.

O analista garante que em 2015, correspondia a 21,4% dos trabalhadores e, em 2018, tinha aumentado para 25,6%. Lê-se ainda na análise que em 2018, cerca de 26 em cada 100 portugueses tinha para viver apenas o salário mínimo nacional. “E se deduzirmos 11% para a Segurança Social restam apenas 516,2 euros. Isto significa que em 2018, 1.245.000 de trabalhadores portugueses viviam apenas com 516 euros (em 2015, eram 973 mil que viviam com o salário mínimo) ”, diz.

Daniela Soares Ferreira
daniela.ferreira@newsplex.pt

sexta-feira, 3 de maio de 2019

World Bank Commodities Price Data (The Pink Sheet)

http://pubdocs.worldbank.org/en/575341556832785539/CMO-Pink-Sheet-May-2019.pdf

Maioria dos funcionários das conservatórias e cartórios ganha acima da média.

A que propósito isto acontece? Por incompetência, má-fé de governantes que deixaram que se chegasse a este ponto?

Cálculo ficcionado gera um desperdício anual de mais de três milhões de euros, diz o "Diário de Notícias".

Uma grande maioria dos funcionários das conservatórias e cartórios está a ganhar muito acima da média da função pública, de acordo com a edição de hoje do "Diário de Notícias". Isto deve-se a uma base de cálculo ficcionado que gera um desperdício de três milhões de euros por ano.

Segundo dados apurados pelo “Diário de Notícias”, na Grande Lisboa e no Grande Porto nenhum funcionário recebe menos de 2. 500 euros de vencimento no final de cada mês.

Estes trabalhadores têm um regime de vencimento que engloba uma percentagem fixa e outra variável, calculada com base nas receitas obtidas pelo serviço. Estas receitas foram calculadas pela última vez em 2001. Desde então, haja mais ou menos receita por parte do Estado, os funcionários ganham sempre o mesmo.

A base do vencimento nestes serviços é, em média, de 700 euros, mas não há nenhum funcionário das conservatórias e cartórios que leve menos de dois mil euros para casa.

Colectânea de alguns provérbios por ordem alfabética.


A

A voz do povo é a voz de Deus.

Aprender até morrer.

A falar é que a gente se entende.

A palavra é de prata e o silêncio é de ouro.

As palavras são como as cerejas, saem umas atrás das outras.

A verdade, manda Deus que se diga.

A mentira tem pernas curtas.

Apanha-se mais depressa um mentiroso que um coxo.

A ver vamos, como diz o cego.

As paredes têm ouvidos.

Antes que cases olha o que fazes.

Antes só que mal acompanhado.

Antes a morte que a má sorte.

Amor com amor se paga.

Amor a quanto obrigas.

Antes tarde do que nunca.

Antes vergar do que torcer.

As aparências iludem.

Amigos, amigos, negócios à parte.

Amigo não empata amigo.

Águas passadas não movem moinhos.

Água mole em pedra dura tanto dá até que fura.

Ao que erra perdoa-se uma vez, mas não três.

A ocasião faz o ladrão.

A preguiça morreu à míngua.

A pé de pobre todo o calçado serve.

A fome é negra.

A ração não é para que se talha, é para quem a come.

Ao menino e ao borracho põe-lhe Deus a mão por baixo.

A justiça de Deus tarda, mas não falha.

A esperança é a última a morrer.

A beleza não se põe à mesa.

A mulher e a sardinha quer-se da mais pequenina.

A viola quer-se na mão do tocador.

Albarda-se o burro à vontade do dono.

Atrás de mim virá quem de mim bom fará.

Atrás do beijo vem o desejo.

À primeira quem quer cai, à Segunda cai quem quer.

A pensar morreu um burro.

A morte da bezerra é negra.

A boa fogueira faz a boa cozinheira.

A procissão ainda vai no adro.

A cavalo dado não se olha ao dente.

A Maria nabiça tudo que vê tudo cobiça.

Até ao lavar dos cestos é vindima.

A boca que diz sim, também diz não.

Amigo fiel e prudente, vale muito mais que um parente.

Ao médico, ao advogado e ao abade, falar a verdade.

Aos 40 ou vai ou arrebenta.

A união faz a força.

À boda ou baptizado, não vás sem ser convidado.

Aquele que traz é sempre bem recebido.

A felicidade não tem limites.

Amor com amor se paga e com desdém se apaga.

A inveja morreu solteira.

A brincar se dizem as verdades.

A fome é má conselheira.

B

Boca fechada não entram moscas.

Boca que pedes, coração que desejas.

Bolsa de pobre e boca de rico

Boa romaria faz, quem em sua casa fica em paz.

Bebé que não ri ao fim do mês ou é tolo ou o pai que o fez.

Burro velho não toma andadura.

Boas contas faz o preto.

Boda molhada é boda abençoada.

Burro nunca chega a carroceiro.

C

Cada um por si e Deus por todos.

Candeia que vai à frente alumia duas vezes.

Cada terra tem seu uso, cada roca tem seu fuso.

Com o mal dos outros ninguém se governa.

Com homem perdido ninguém se meta.

Cada cabeça, cada sentença.

Cada macaco no seu galho.

Cá se fazem cá se pagam.

Cautela e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém.

Casa roubada trancas à porta.

Canta que logo bebes.

Coisa ruim não tem perigo.

Com papas e bolos se enganam os tolos.

Com o fogo não se brinca.

Cresce e aparece.

Com vinagre não se apanham moscas.

Com o tempo tudo se esquece.

Com a verdade me enganas.

Com um tiro matam-se dois coelhos.

Cão que ladra não morde.

Casa de ferreiro, espeto de pau.

Casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão.

Chuva de Verão, chove agora e logo não.

Contra factos não há argumentos.

Cada um sabe onde lhe aperta o calo.

Chapa ganha, chapa batida.

Comer e dizer mal é manha de Portugal.

Cada doido tem a sua mania.

Cada um come do que gosta.

Cada um sabe de si.

D

De médico e louco, todos nós temos um pouco.

Dá Deus nozes a quem não tem dentes.

Deus dá o frio conforme a roupa.

Deus ajuda a quem cedo madruga.

Deus escreve direito por linhas tortas.

Deus não é de vingança, mas castiga pela mansa.

Deus não dorme.

De boas intenções está o Inferno cheio.

De Espanha nem bom vento nem bom casamento.

De noite todos os gatos são pardos.

De pequenino se torce o pepino.

De contente se ri o dente.

Devagar se vai ao longe.

Devagar morreu um burro à beira do riacho.

Depressa e bem há pouco quem.

Depois de comer não faltam colheres.

Depois da tempestade vem a bonança.

Dente por dente, olho por olho.

Deitar cedo e cedo erguer, dá saúde e faz crescer.

Donde menos se espera é que elas saem.

Diz-me com quem andas dir-te-ei quem és.

De velhinho se torna o menino.

Das grandes coisas estão as sepulturas cheias.

De grão a grão enche a galinha o papo.

De hora a hora Deus melhora.

Devagar com a andor que o Santo é de barro.

De mal agradecidos está o Inferno cheio.

E

É mais prudente pensar e falar do que falar e pensar.

É pelo saber que vem o ter.

É pior a emenda que o soneto.

É nos momentos difíceis que se conhecem os amigos.

Em tempo de guerra não se limpam as armas.

Engana menino e papa-lhe o pão.

Entre marido e mulher ninguém meta a colher.

Entre marido e irmãos ninguém meta as mãos.

Entre mortos e feridos alguém há-de escapar.

Escândalo aparta amor.

Enquanto o pau anda no ar folgam as costas.

Errar é próprio do homem.

Escorregar não é cair.

Em Roma sê romano.

Enquanto se canta não se assobia.

F

Filho és, pai serás, assim como fizeres, assim acharás.

Filhos criados, trabalhos dobrados.

Filho de peixe sabe nadar.

Fui a casa do meu vizinho, envergonhei-me vim para casa remediei-me.

Feliz ao jogo, infeliz aos amores.

Falai no mau e aprontai o pau.

Fala baixo que as paredes têm ouvidos.

Fazer bem sem olhar a quem.

Faz o que eu digo e não faças o que eu faço.

G

Grande a nau, grande a tormenta.

Guarda que comer e não guardes que fazer.

Guardado está o bocado para quem o há-de comer.

Grão a grão enche a galinha o papo.

Gostos não se discutem.

Gaivotas em terra, tempestade no mar.

Gato miador não é bom caçador.

Gato escaldado de água fria tem medo.

Gordura é formosura.

Gaba-te cesto que vais à feira e ficas sem fundo.

Gaba-te cesto que vais à vindima.

H

Há males que vêm por bem.

Há sempre um testo para cada panela.

Há muitas Marias na terra.

Homem velho e mulher nova têm filhos até à cova.

Homem prevenido vale por dois.

Há sempre um sapato roto para um pé descalço.

J

Já que Maomé não vai à montanha, vai a montanha a Maomé.

L

Longe da vista, longe do coração.

Ladrão que rouba ladrão tem 100 anos de perdão.

Lé com cré e Maria com sua avó.

Lua nova trovejada 30 dias é molhada.

Lua deitada marinheiro em pé.

M

Mais vale quem Deus ajuda do que quem cedo madruga.

Mais vale um pássaro na mão do que dois a voar.

Mais vale cair em graça do que ser engraçado.

Mais vale prevenir do que remediar.

Mais vale só do que mal acompanhado.

Mais vale tarde do que nunca.

Mais vale sê-lo do que parecê-lo.

Muito se engana quem cuida.

Muita parra e pouca uva.

Muitos poucos fazem muitos.

Merenda comida, companhia desfeita.

Menino farto não é corredor.

Manda quem pode, obedece quem deve.

Mais vale ser desejado do que aborrecido.

Mais vale dar do que pedir.

Morra Marta, mas morra farta.

Mãos frias coração quente, amor para sempre.

Mal por mal, antes na cadeia do que no hospital.

Mais vale pouco do que nada.

N

No melhor pano cai a nódoa.

Nem só de pão vive o homem.

Nem tudo o que reluz é ouro.

Nas costas dos outros vemos as nossas.

No bom pano cai a nódoa

Não há Sábado sem sol nem Domingo sem missa nem Segunda sem preguiça.

Não há bem que sempre dure nem mal que nunca acabe.

Não há luar como o de Janeiro nem amor como o primeiro.

Não há mão que agarre o tempo.

Não há fome que não traga fortuna

Não há bela sem senão.

Não há dois sem três.

Não há regra sem excepção.

Não há amor como o primeiro.

Não julgues para não seres julgado.

Não metas em tua casa quem dela te tire.

Não se deve meter foice em ceara alheia.

Não se deve brincar com coisas sérias.

Não se pode remar contra a maré.

Não se pode fazer omelete sem ovos.

Não metas o nariz onde não és chamado.

Nunca é tarde para amar.

Nunca é tarde para começar.

Nunca peças a quem pediu nem sirvas a quem serviu.

Nunca digas desta água não beberei.

Nunca contes o teu segredo a ninguém, uma amiga tem amiga outra amiga amiga tem.

No dia de S. Tiago pinta o bago.

No dia de S. Martinho vai à adega e prova o teu vinho.

No carnaval ninguém leva a mal.

No poupar é que esta o ganho.

Na primeira quem quer cai, na segunda cai quem quer.

Na terra dos cegos quem tem um olho é rei.

Na vida é melhor andar num pé só do que em dois de muletas.

Ninguém foge ao seu destino.

Ninguém é profeta na sua terra.

Ninguém é pobre senão do juízo.

Não cuspas para o ar que te cai na cara.

Não gastes cera com sapatos de defunto.

Não deixes para amanhã o que podes fazer hoje.

Não está morto quem esperneia.

O

O que arde cura e o que aperta segura.

O saber esperar é uma virtude.

O amor é cego.

O que os olhos não vêm o coração não sente.

O que for teu às tuas mãos vem ter.

O que se há-de dar ao rato dá-se ao gato.

O que é vivo sempre aparece.

O que não mata engorda.

O que é de mais é erro.

O que o berço dá a tumba leva.

O que não se faz no dia de Santa Luzia, faz-se no outro dia.

O que é bom por si se vende.

O que é bom depressa acaba.

O que não há , remediado está.

O que a mão direita faz, a esquerda desconhece.

O que é barato sai caro.

O cão é o melhor amigo do homem.

O prometido é devido.

O bom filho à casa torna.

O ciúme nasceu cego e morreu surdo.

O saber não ocupa lugar.

O destino a Deus pertence.

O seguro morreu de velho.

O silêncio é de ouro.

O trabalho enriquece, a preguiça empobrece.

O trabalho do menino é pouco, mas quem o não aproveita é louco.

O dinheiro não traz felicidade.

O mais mal é de quem vai, porque quem cá fica se não come depenica.

O homem põe e Deus dispõe.

O sol quando nasce é para todos.

O segredo é a alma do negócio.

O que é doce nunca amargou.

O que não há se escusa.

O seu a seu dono.

O rabo é o pior de esfolar.

Ou oito ou oitenta.

O que é doce nunca amargou.

O rio corre para o mar.

O mal vem às braçadas e sai às polegadas.

O fruto proibido é o mais apetecido.

O último a rir é quem ri melhor.

O mundo é uma bola quem anda nele é que se amola.

O mundo é como uma cebola que se descasca a chorar.

O seu a seu tempo.

O Zé nabiça tudo o que vê tudo cobiça.

Os homens não se medem aos palmos.

Os pecados dos nossos avós pagámo-los nós.

Os brincos acabam sempre em chorincos.

Os cães ladram e a caravana passa.

Os fins não justificam os meios.

Os filhos da minha filha meus netos são os da minha nora serão ou não.

Onde há fumo há fogo.

Onde canta galo não canta galinha.

Onde entra o beber sai o saber.

Olha para o que eu digo e não olhes para o que eu faço.

O mal e o bem à cara vem.

O velho que se cura cem anos dura.

O que é do homem o bicho não come.

O que tem de ser nosso às nossas mãos nos vem ter.

O mar que é mar nem sempre está cheio.

O casamento e a mortalha no céu se talha.

Os amigos são para as ocasiões.

Onde há galos não cantam galinhas.

P

Parar é morrer.

Palavras leva-as o vento.

Palavra de burro é coice.

Palavras loucas, orelhas moucas.

Para conhecer o vilão dá-lhe um bastão para a mão.

Para grandes males, grandes remédios.

Para morrer, basta estar vivo.

Para vilão, vilão e meio.

Para a frente que atrás vem gente.

Para baixo todos os santos ajudam.

Para teu conselheiro não esqueças o travesseiro.

Para bom entendedor meia palavra basta.

Para pés de pobre todo calçado serve.

Pela aragem se vê quem vai na carruagem.

Pela boca morre o peixe.

Pássaro de campo não quer gaiola.

Presunção e água benta cada um toma a que quer

Por bem fazer, mal haver.

Pano velho não tem remendo.

Patrão fora dia santo na loja.

Pão pão, queijo, queijo.

Preso por ter cão preso por não ter.

Pau torto tarde ou nunca se endireita.

Primeiro está a obrigação, depois a devoção.

Palavra de homem não volta atrás.

Passa o dia passa a romaria.

Paciência tem limites.

Pede o guloso para o desejoso.

Perdoa-se o mal que faz pelo bem que sabe.

Por morrer uma andorinha não acaba a Primavera.

Q

Quem muito fala pouco acerta.

Quem canta seu mal espanta.

Quem não se sente não é filho de boa gente.

Quem poupa mata caça.

Quem tem canseiras não dorme.

Quem dá o que tem a pedir vem.

Quem dá o que tem antes que morra merece com uma cachaporra.

Quem de bom se faz as abelhas o comem.

Quem o inimigo poupa aos pés lhe morre.

Quem ventos semeia tempestades recolhe.

Quem o alheio veste na praça o despe.

Quem sai aos seus se sai não degenera.

Quem corre por gosto não cansa.

Quem não tem que fazer faz colheres de pau.

Quem alto quer subir ao mais baixo vem cair.

Quem tem amigos, não morre na cadeia.

Quem dá aos pobres, empresta a Deus.

Quem não chora não mama.

Quem cedo madruga, Deus ajuda.

Quem espera, desespera.

Quem espera sempre alcança.

Quem andou, não tem para andar.

Quem de novo não morre, de velho não escapa.

Quem espera por sapatos de defunto, anda toda a vida descalço.

Quem vai ao mar, prepara-se em terra.

Quem muito sabe amiúde se engana.

Quem o feio ama, bonito lhe parece.

Quem casa quer casa.

Quem anda à chuva molha-se.

Quem muito dorme pouco aprende.

Quem tem muito riso tem pouco siso.

Quem mais tem mais quer.

Quem tem burro e anda a pé ainda mais burro é.

Quem nunca se aventurou nem perdeu nem ganhou.

Quem muito promete muito falta.

Quem com cães se deita com pulgas se levanta.

Quem não é para comer não é para trabalhar.

Quem conta um conto, acrescenta-lhe um ponto.

Quem se veste de ruim pano, veste-se duas vezes no ano.

Quem tarde vier comerá do que trouxer.

Quem dá e torna a tirar ao inferno vai parar.

Quem dá e tira para o Inferno gira

Quem ao tasco vai comer duas casas vai manter.

Quem não tem cão caça com gato.

Quem não quer ser lobo não lhe veste a pele.

Quem não sabe fazer, não sabe mandar.

Quem não tem o sermão, não teme o bordão.

Quem mais jura mais mente.

Quem vai à guerra dá e leva.

Quem procura sempre encontra.

Quem com ferros mata com ferros morre.

Quem é desconfiado não é fiel.

Quem tem unhas toca guitarra.

Quem vai ao mar perde o lugar.

Quem dá o pão, dá a criação.

Quem não trabuca, não manduca.

Quem tem telhados de vidro não pode atirar pedradas.

Quem tudo quer saber nada se lhe diz.

Quem tem cu tem medo.

Quem tem medo compra um cão.

Quem torto nasce tarde ou nunca se endireita.

Quem parte e reparte e não fica com a melhor parte ou é tolo ou não tem arte.

Quem não come por já ter comido, não há nada perdido.

Quem casa não pensa, quem pensa não casa.

Quem tudo quer tudo perde.

Quem trabalha Deus ajuda.

Quem mal ou bem fizer a cama, nela se deita.

Quem te avisa teu amigo é.

Quem tem vergonha passa mal.

Quem se mete em atalhos nunca se livra de trabalhos.

Quem se mete em atalhos mete-se em trabalhos.

Quem brinca com fogo, queima as mãos.

Quem nunca comeu até os dedos lambusa.

Quem tem fama deita-se na cama.

Quem nada cria nada tem.

Quem não arrisca não petisca.

Quem vier atrás que feche a porta.

Quem que vai, quem não quer manda.

Quem estraga velho paga novo.

Quem cala consente.

Quem desdenha quer comprar.

Quem meu filho beija minha boca adoça.

Quem paga adiantado é mal servido.

Quem não deve não teme.

Quem dorme com crianças acorda molhado.

Quem com garotos se deita cagado se levanta.

Quem paga o que deve sabe o que lhe fica.

Quem se abaixa todos lhe vêm ao rabo.

Quem não te conhecer que te compre.

Quem quer bolota trepa.

Quem não vê não peca.

Quem não sabe é como quem não vê.

Quem nasceu para tostões não chega a milhões.

Quem vê caras não vê corações.

Quem tem sarna coça-se.

Querer é poder.

Quando urina um português, urinam logo dois ou três.

Quando um burro fala os outros baixam as orelhas.

Quando a cabeça não regula o corpo é que as paga.

Quando o gato não esta os ratos fazem festa.

Quando a esmola é grande o pobre desconfia.

Quando não há pão até migalhas vão.

Quando Deus fecha uma porta abre logo uma janela.

Quem joga demais acaba perdendo.

Quanto mais prima mais se lhe arrima.

Quanto mais velho mais gaiteiro.

Quem pergunta quer saber.

Quem dá o que tem a pedir vem.

Quem tem boca vai a Roma.

Quem tem muitos filhos é pobre.

Quem é vivo sempre aparece.

Quem semeia colhe.

Quem escuta, de si ouve.

Quem manda pode, quem tem juízo obedece.

R

Rei morto, rei posto.

Roma e Pavia não se fizeram num dia.

Remenda o teu pano que te dura mais um ano.

Recordar é viver

S

Saber esperar é uma virtude.

Só perde quem tem.

São mais as vozes do que as nozes.

Só esteja quem só se deseja.

Se queres bom conselho pede-o ao velho.

São Bráz da mata que se engana a gata.

Santos ao pé da porta não fazem milagres.

Se queres ver o teu corpo, mata o porco.

Se Maomé não vai à montanha, vai a montanha a Maomé.

Saco vazio não fica de pé.

T

Três foi a conta que Deus fez.

Tal pai, tal filho.

Tristezas não pagam dívidas.

Tudo o que vem à rede é peixe.

Tudo tens, tudo vales, nada tens, nada vales.

Todos os caminhos vão dar a Roma.

Todo o burro come palha, a questão é saber dar-lha.

Tão grande é o dia como a romaria.

U

Uma desgraça nunca vem só.

Uma mão lava a outra e as duas lavam a cara.

Uma andorinha só não faz a Primavera.

Uzeiro e vezeiro.

V

Vozes de burro não chegam ao céu.

Vamos andando e vamos vendo.

Velhos são os trapos.

Vamos à vida que a morte é certa.

Vão-se os anéis e fiquem os dedos.

Ver para crer como S. Tomé.

Vira o disco e toca o mesmo.

Vai-te ganho que dás perca.

Vira-se o feitiço contra o feiticeiro.

Viver não custa, o que custa é saber viver.

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