domingo, 6 de julho de 2025

João Maria Jonet não percebeu nada. Eu explico outra vez.

Espero que tenhas uma excelente campanha, João Maria. Mas faz-me um
favor: não te atrevas a comparar o esforço que cada um de nós fez, até
hoje, para chegar onde chegou.
Parabéns a João Maria Jonet pelo título do artigo "O privilégio de não
ser João Miguel". É incisivo, provocador, mauzinho q.b., e tem piada.
Está óptimo. Já o texto propriamente dito é uma colecção de provocações
desconchavadas, escritas com os pés, e que disparam para todo o lado.
Pior: fiquei com sérias dúvidas de que ele tenha percebido o que
escrevi. Bem sei que João Maria Jonet se fez homem no Twitter, mas
convém que dure mais do que 140 caracteres.
O meu texto sobre mérito, privilégio e família que tanto o irritou dizia
três coisas acerca da sua pessoa: 1) Tem 27 anos. 2) Pouco mais fez além
de estudar, comentar e tuitar. 3) Um jovem cheio de talento que tivesse
nascido em Bragança de famílias pobres, em vez de em Cascais de famílias
bem, jamais conseguiria reunir uma Comissão de Honra como a sua. Os
pontos 1 e 2 parecem-me factuais. Já o ponto 3 admite, para quem souber
ler, a possibilidade de Jonet ser um jovem cheio de talento nascido em
Cascais, que simplesmente tem mais oportunidades do que um jovem cheio
de talento nascido em Bragança. Isso bastou para lhe saltar a tampa, com
esta consequência lastimável: na terça-feira eu estava mais optimista
acerca do seu talento do que estou hoje.
Mas como o tema é importante, e João Maria Jonet parece ter reais
dificuldades em perceber o que escrevi, vou ignorar as dezenas de
afirmações bacocas que ele faz no seu artigo e responder à única
pergunta que me coloca: "Qual será a diferença de mérito entre o
comentador profissional, de 52 anos, que apareceu nos blogues e cresceu
nos media, e o candidato, de 27 anos, que apareceu nas redes sociais e
cresceu nos media?"
É fácil de responder. Aos 27, eu era jornalista na secção de cultura do
Diário de Notícias, para onde tinha entrado poucos anos antes graças a
uma bolsa de mérito atribuída ao melhor aluno do meu curso. Não "apareci
nos blogues", como muitos da minha geração, porque não tinha tempo para
isso: trabalhava das dez da manhã às dez da noite, seis dias por semana,
para tentar singrar na minha profissão, ser financeiramente independente
e poder casar-me com a mulher que amava.
Como estou há 25 anos neste meio, é verdade que fiz amigos que hoje são
figuras públicas. Mas alguém quer tentar adivinhar quantas pessoas da
elite lisboeta eu conhecia antes de ingressar na profissão, ou que os
meus pais conheciam, ou que os meus primos conheciam? É fácil contar:
zero pessoas. E por isso, sem o à-vontade próprio de quem nasceu no
Estoril ou no Restelo, e o acesso que isso confere, o João Miguel de
Portalegre nunca teria chegado onde o João Maria de Cascais chegou aos
27 anos.
A minha grande ambição aos 27 era conseguir um emprego estável que me
permitisse sustentar uma família. Sem círculo nem currículo, presidir a
uma câmara com um orçamento de 426,5 milhões estava para lá dos domínios
do imaginável. O privilégio não é apenas uma questão de dinheiro: as
elites sonham de maneira diferente. E sei-o porque os sonhos dos meus
filhos são, felizmente, muito maiores do que os sonhos que eu tinha na
idade deles. Por isso, quando falo no elevador social, não é para
impedir o jovem Jonet de Cascais de ser ambicioso. É para sublinhar a
importância de transmitir essa ambição aos Vinténs de Portalegre ou aos
Campelos de Bragança.
Espero que tenhas uma excelente campanha, João Maria. Mas faz-me um
favor: não te atrevas a comparar o esforço que cada um de nós fez, até
hoje, para chegar onde chegou.

https://www.publico.pt/2025/07/05/opiniao/opiniao/joao-maria-jonet-nao-percebeu-nada-explico-2138977

Há 248 professores que podem voltar à escola. Governo reduz docentes em mobilidade estatutária

Lá vão aumentar as baixas médicas...

Ministério reduziu em 25% as mobilidades atribuídas aos docentes das disciplinas e de agrupamentos onde mais fazem falta. Beneficiará sobretudo as regiões de Lisboa, Setúbal, Algarve e Alentejo.

Há 248 professores que vão poder voltar às escolas neste ano lectivo, uma vez que o Ministério da Educação reduziu o número de docentes em mobilidade estatutária — que estavam a trabalhar fora da sua escola — para fazer face à escassez de professores em grupos de recrutamento e áreas geográficas onde os alunos estão sem aulas durante períodos prolongados.

Todos os anos, a tutela autoriza a mobilidade especial de professores para que exerçam funções de natureza transitória, por exemplo, em serviços e organismos do próprio ministério ou de outros, nas escolas europeias, no âmbito da educação extra-escolar ou noutros serviços — estas funções estão, aliás, previstas no Estatuto da Carreira Docente.

Em termos gerais, para o ano lectivo que agora se inicia, foram destacados 2047 docentes de carreira por 667 entidades, como por exemplo a Fundação Portuguesa "A Comunidade Contra a SIDA" ou o Instituto de Apoio à Criança. No ano passado, tinham sido requisitados 2295 professores por 557 entidades — o que significa que são agora menos 11%, segundo os dados avançados pelo Ministério da Educação, Ciência e Inovação (MECI) ao PÚBLICO.

No entanto, esta percentagem é maior se se considerar apenas o total das mobilidades atribuídas, especificamente no caso dos docentes das disciplinas e de agrupamentos escolares onde se verifica mais falta de professores. Neste ponto, apesar de considerar que o trabalho feito no âmbito das mobilidades estatutárias é importante, o ministério tutelado por Fernando Alexandre fixara o objectivo de reduzir em 25% (face a 2023/2024) o número de mobilidades atribuídas nos grupos de recrutamento deficitários. ​É, de resto, uma das medidas do ambicioso plano +Aulas +Sucesso, apresentado em Junho, que pretende reduzir em 90% o número de alunos sem aulas a pelo menos uma disciplina durante o 1.º período em relação a 2023/2024. Segundo a tutela, no ano passado, esse número rondou os 20 mil.

No ano passado, houve 324 docentes destes grupos, onde se incluem os do Pré-escolar, Matemática e Ciências da Natureza, Português, Inglês, Geografia, Matemática, Física e Química, Informática — de 3.º ciclo e secundário — e Filosofia, a trabalhar fora das suas escolas. Este ano, esse número reduziu-se, tendo sido deferidas 241 mobilidades estatutárias nos grupos de recrutamento deficitários, cujos docentes provêm dos agrupamentos de escolas também identificados pelo ministério como tendo maiores dificuldades em recrutar professores. Ou seja, há 83 professores que poderão reforçar as escolas destes agrupamentos. E é aqui que o ministério diz já ter alcançado a meta: "Para o ano lectivo 2024/25, [houve] uma redução 25,62% nos grupos de recrutamento identificados como deficitários."

De acordo com a tutela, esta redução no número de professores destacados terá sobretudo impacto na Grande Lisboa e Península de Setúbal, Algarve e Alentejo — precisamente as zonas onde está identificada maior carência de professores.

"A mais-valia das funções que esses docentes vão desempenhar, e que são amplamente reconhecidas, não se sobrepõe, contudo, à importância de termos alunos com professor na sua escola. Por mais importantes que sejam essas funções no âmbito da mobilidade estatutária, nada é mais importante do que termos alunos com aulas", considera o MECI.