o Diabo, 12 de Dezembro de 2025 •
HEnrIquE nETO
Aproxima-se o dia 18 do próximo mês em que todos seremos chamados a escolher o novo Presidente da República para os próximos cinco anos.
Trata-se de uma grande responsabilidade, na medida em que Portugal não vai bem, com elevados números de pobreza, com os serviços públicos em crise e a não servir
com um mínimo de dignidade os cidadãos, quando sucessivos governos navegam à vista sem estratégia e sem planeamento, além da escolha de governantes sem a qualidade, a seriedade e a competência que seriam necessárias. Há naturalmente excepções, mas que não fazem a primavera.
Acresce que o crescimento de uma direita de protesto permite que um Presidente eleito sem as necessárias credenciais democráticas possa embarcar numa revisão constitucional que nos faça regressar ao passado.
Há muitos anos que escrevo nos jornais com propostas de mudanças nos principais sectores da sociedade e da economia portuguesas, com a perfeita consciência da validade dessas propostas que são o resultado de alguma experiência, mas sem sucesso.
A estrutura política criada depois do 25 de Abril, falsamente democrática, tem permitido um poder excessivo dos partidos, em particular dos partidos da área do poder - Partido Socialista e PSD - que usam esse poder para exercer um domínio indevido sobre a sociedade através do Estado, o que inclui também grande parte da comunicação social.
Infelizmente, por alguma razão, todos os partidos têm recusado as reformas necessárias, nomeadamente a reforma das leis eleitorais, de forma a permitir que os cidadãos eleitores possam escolher os seus representantes no Parlamento e nas autarquias, como acontece na maioria dos países da União Europeia.
Assim, a perda de qualidade dos escolhidos pelos directórios partidários transformou-se num modelo em que os dirigentes cada vez menos qualificados escolhem outros ainda com menos qualificações, mas mais fiéis a quem os escolhe, com menos valores éticos e democráticos, mas mais abertos a processos de defesa de interesses ilegítimos e de ideologias crescentemente desligadas da realidade.
Em que a luta política deixou há muito deter como objetivo o bem comum, para ser simplesmente a defesa de grupos com os mais variados interesses.
O assalto a cargos na administração pública, nas empresas públicas e mesmo em algumas empresas privadas favorecidas pelo Estado, eliminou a existência de dirigentes profissionais que garantiam no passado a qualidade e a continuidade da gestão e destruiu a memória das instituições.
Os problemas hoje existentes na saúde, na educação, na justiça e na economia são o resultado directo desse processo de destruição muito pouco criativa, mas bastante rendosa para os partidos e para os protegidos do poder. Não surpreende, portanto, a enorme luta entre os partidos a que assistimos, a qual não conhece limites, luta sem tréguas travada no Parlamento, nas autarquias e nos meios de comunicação. Presentemente, já deixou de ser possível a tomada de decisões baseadas no conhecimento, no estudo e no interesse público, para ser uma lotaria baseada em interesses contraditórios.
Esta estranha capacidade da política portuguesa na obtenção de empregos rendosos transformou os políticos portugueses em especialistas na obtenção de empregos
internacionais. O último caso foi o de António Costa, que ao longo dos anos criou o domínio do que tenho chamado a grande família socialista, para no final fazer uma rábula a fim de abandonar um governo de maioria absoluta para ascender a um emprego europeu. Mas não só: deixou no partido os seus protegidos da grande família que tudo farão para prejudicar a presente candidatura à Presidência da República de António José Seguro, um candidato demasiado sério para permitir a continuidade do domínio dos partidos sobre a sociedade.
Claro que no PSD a política é em tudo semelhante ao PS, com a diferença de terem perdido algum treino por terem estado afastados do poder durante muitos anos, nomeadamente durante os oito anos de António Costa, em que a criação da geringonça permitiu ao PS, sob a capa de políticas moderadamente sociais, esconder as desgraças de José Sócrates através da denominação do PSD de Pedro Passos.
Certo é que este PSD também não morre de amores por Pedro Passos Coelho e tenta recuperar o tempo perdido com aquilo que aprenderam com António Costa, não surpreendendo, portanto, que os objectivos e as políticas sejam semelhantes. Por exemplo: a empresa pública IP continua a fazer a defesa dos mesmos interesses, seja no novo aeroporto, seja nos planos ferroviários de alta velocidade, seja através da absurda escolha da bitola ibérica, ou da estúpida política de fuga à concorrência internacional. Este PSD chegou ao ponto de, para manter a escolha da bitola ibérica na ferrovia, perder os elevados apoios da União Europeia, que poderiam chegar a 80% dos custos, como acontece em Espanha e nos países Bálticos, para voltarem a endividar o País de acordo com o modelo de José Sócrates de dívida de muitos milhares de milhões de euros, através das célebres parcerias público/privadas de má memória.
Aliás, o PSD não deixou de escolher um ministro das Infraestruturas na linha dos ministros do PS, todos eles especialistas em esconder dos portugueses as políticas que desenham em segredo. O concurso para a primeira fase da construção da linha do Porto a Lisboa é uma obra-prima de simulação, onde o PS e o PSD divergem nos pormenores para se entenderem no essencial. Que toda a classe política portuguesa aceite silenciosamente que Portugal se torne uma ilha ferroviária, com comboios que não poderão sair do País e com omboios europeus que não podem entrar em Portugal, é uma verdadeira tragédia no futuro das exportações portuguesas e uma verdadeira traição aos interesses de Portugal e dos portugueses.
Finalmente, é importante verificar que uma grande parte da classe política portuguesa, como uma grande parte da comunicação social, criaram o embuste das linhas vermelhas em relação ao Chega, mas sem perderem a oportunidade de promover André Ventura e de dar razões para o protesto dos portugueses, que é ainda a única forma existente de participação na vida política.
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