domingo, 19 de maio de 2019

Cena da Taberna

Fernando Pessoa

              

Doutor Fausto?

                FAUSTO:

Sim.

—  O Doutor Fausto?

                FAUSTO: 

O Doutor Fausto, sim: o que há em sê-lo?

— Nada, confesso-o a rir e acreditara-o

Pois o não vira, mas de vós diziam

Serdes versado em artes e matérias

Do mágico e (…) horror (…)

A rir o digo que vos vejo aqui

Entre nós e bebendo como nós.

                FAUSTO: 

Sim, assim é; quem como eu vivia

Aparte logra sempre a negra fama

De bruxo… Há em mim cousa que mostre

Conhecimento d'artes vis e negras

Ou sacerdócio escuro de Satan?

— Nada; olhando bem em vós só vejo

Algo de triste que não é tristeza

No vosso rosto e no vosso olhar

Há uma causa a menos ou a mais

Que em outro... Isto vejo, ou me parece.

Perguntastes-me e rindo respondi.

                FAUSTO:

Agradeço-vos; traçastes-me retrato

Tão completo de bruxo

Que começo a ter medo de mim mesmo.

— Canta, oh Frederico

Aquela canção doida de beber

Chamada «O Bebedor» ou coisa assim.

                FRED:

A do «Bom Bebedor».

                OUTRO:

                                        É essa mesmo.

                TODOS:

Venha, venha a canção.

                FRED:

Lá vai amigos

                                (e depois)

E oxalá que, ao cantá-la, esquecer possa

Ou antes, não lembrar onde a aprendi.

Criança então era feliz. Lá vai:

Bom bebedor, bebe-me bem

Bebe-me, bom bebedor.

Só uma cousa boa esta vida tem

É o vinho: mira-lh’ a cor!

                CORO

A vida é um dia e a morte um horror

Bebe-me, bebe-me, bom bebedor.

Que morra de fome mulher e mãe

Haja vinho, que é o melhor!

                CORO

A vida é um dia e a morte um horror

Bebe-me, bebe-me bom bebedor.

Deixe a guela o vinho lá quando vem

Em lugar dele o estertor.

                CORO

A vida é um dia e a morte um horror

Bebe-me, bebe-me bom bebedor.

A vida sem vinho é um triste horror

Bebe-me, bebe-me bom bebedor.

O, leite, da parra é melhor que o amor

Bebe-me, bebe-me bom bebedor

                CORO

Bom bebedor bebe-lhe bem

Bebe-lhe bom bebedor

Que faz que a mulher ande à gandaia

E a filha seja pior

E a puta da neta levante a saia

Até ao quintal do prior?

O vinho é o mesmo e da mesma cor

Bebe-lhe, bebe-lhe, bom bebedor

                CORO

Bom bebedor, bebe-lhe bem

Bebe-lhe bom bebedor.

Bom bebedor, bebe-lhe rijo

Bom bebedor, bebe-lhe bem;

O vinho que dá? Alegria e mijo,

E a vida não vale melhor

E se a vida é isto e a cova um horror

Bebe-lhe, bebe-lhe, bom bebedor.

                TODOS:

Bravo! Bravo!

                FAUSTO:(saudando)

A quem escreveu essa canção.

Não foi o camarada?

                FRED:

                                        Versos, eu?

Nada aprendi-a, e há o tempo. É pouca coisa,

Uma maneira qualquer de berrar.

                FAUSTO:

Eu sinto-me irrequieto.

                FRED:

                                            Isso é do vinho!

                FAUSTO:

Do vinho?

                FRED:

                Olá se é. A uns dá-lhe assim

A outros doutra maneira. Isso é confuso.

Um velho tio meu que não fazia

Senão beber...

                OUTRO:

                                Fazia bem...

               FRED:

                                                   Pois esse

Dizia ser indício de saúde

Dar o vinho p'ra bulhas e contendas

«Estar irrequieto» como este lhe chama.

s.d.

Fausto - Tragédia Subjectiva. Fernando Pessoa. (Texto estabelecido por Teresa Sobral Cunha. Prefácio de Eduardo Lourenço.) Lisboa: Presença, 1988.  - 139.

sexta-feira, 17 de maio de 2019

Um cheirinho a antigamente.

10.05.2019

Ricardo Araújo Pereira

Confesso grande surpresa pela condenação de João Araújo, um homem cujas capacidades olfactivas são notoriamente pobres: é importante lembrar que a história de José Sócrates e do amigo que lhe emprestava dinheiro nunca lhe cheirou a esturro. Condená-lo por isto é como castigar um cego por não ver bem.

O Tribunal Judicial da Comarca de Lisboa condenou um cidadão por delito de opinião olfactiva. O delinquente é João Araújo, o advogado de José Sócrates, e a vítima é uma jornalista do Correio da Manhã. Há quatro anos, o advogado disse à jornalista que ela devia tomar mais banho, porque cheirava mal, e o tribunal considerou agora que aquele conselho era criminoso e punível com uma multa que, tudo somado, chega a 12 mil e 600 euros. Há uma fase do crescimento das crianças em que elas adquirem uma súbita relutância em entrar no duche e nós temos de lhes fazer repetidamente a mesma sugestão que Araújo fez à jornalista, pelo que me congratulo com o facto de os tribunais não terem tido conhecimento da conduta criminosa em que incorri há uns anos, caso contrário não teria dinheiro suficiente para indemnizar as minhas filhas.

Muito ignorante em matérias de Direito, não sei como é que se decide um caso destes. Para poder ajuizar correctamente, talvez o tribunal devesse começar por cheirar a jornalista. Feita essa diligência, o juiz teria duas hipóteses: ou considerar que o arguido era mal-educado, embora dissesse a verdade, ou decretar que era simplesmente mentiroso. Em todo o caso, os cheiros costumam ser entendidos como matéria subjectiva, e por isso há que ser sensível ao facto de certos odores serem agradáveis para umas pessoas e nauseantes para outras. Neste caso, confesso grande surpresa pela condenação de João Araújo, um homem cujas capacidades olfactivas são notoriamente pobres: é importante lembrar que a história de José Sócrates e do amigo que lhe emprestava dinheiro nunca lhe cheirou a esturro. Condená-lo por isto é como castigar um cego por não ver bem.

O caso levanta ainda outras questões: até que ponto podemos expender sobre os outros opiniões baseadas no que os nossos sentidos captam? Por exemplo, em vez do olfacto, João Araújo poderia ter usado o tacto: “a senhora é áspera, devia usar mais hidratante”. Haveria lugar a indemnização?

A sentença é uma vitória (mais uma) para aqueles novos activistas que acham que as pessoas são obrigadas a respeitarem-se umas às outras. Eu, que não tenho respeito nenhum por tanta gente, fico bastante preocupado. Antigamente, a boa educação era facultativa. Agora, ser malcriado é um delito punido em tribunal. Resumindo: estou tramado.

(Crónica publicada na VISÃO 1365 de 2 de maio)

Casas de banho escolares – estará a saúde dos nossos filhos comprometida?

Com base num estudo feito pela Unilever.


Os números indicam que as condições de higiene nas casas de banho das escolas públicas não são as melhores. Na higiene e na saúde, descortinamos agora potenciais consequências do mau uso destes espaços.

Quando se fala de casas de banho públicas, a tendência passa por associar os espaços a uma limpeza insuficiente, local degradado e más condições generalizadas. Na escola, o cenário é mais controlado, graças à intervenção dos funcionários que asseguram, com mais ou menos regularidade, os essenciais de limpeza e conservação destes espaços.

Ainda assim, o estudo "Escolas Públicas – Condições de Saneamento e Conservação" dá o alerta: em média, mais de metade dos alunos evitam usar o WC em período escolar. As casas de banho são, aliás, a zona que mais recorrentemente aparece como "zona deficitária", com 32% dos inquiridos a assinalá-la.

Risco de infecções nas casas de banho

A propósito do estudo, quisemos perceber junto de um especialista de medicina geral e familiar quais são, afinal, os riscos de infecção quando se utilizam as casas de banho públicas, nomeadamente em contexto escolar.

O Dr. Viriato Horta é assertivo na sua análise: "É verdade que as sanitas podem propagar doenças, mas também é verdade que o piso à volta delas, as bancadas, os lavatórios (sobretudo os sifões do sistema de escoamento da água), os puxadores das portas e os manípulos das torneiras são locais igualmente perigosos." Admite que o assento das sanitas "é a superfície da casa de banho que mais tempo está em contacto com a pele" e que, por isso, é aqui que se devem centrar os maiores cuidados: "Não basta uma limpeza simples com papel, nem uma lavagem com detergente, sendo necessário o uso de produtos desinfectantes (o que pode ser feito de forma automática por mecanismos Non-Touch)".

Isto pode acontecer através do contacto do vestuário, calçado e mãos sujas com as superfícies, da eliminação de aerossóis de gotículas contaminadas (oriundas dos olhos, da boca e das vias aéreas) quando tossem ou espirram, ou mesmo da eliminação de urina e de fezes. Sobre estes últimos, destaca que, por definição, "as fezes são sempre contaminadas e a urina é estéril, mas pode estar contaminada se houver infecções génito-urinárias". Todos estes factores criam condições para infecções cruzadas.

Nas casas de banho, podem encontrar-se muitos micróbios: bactérias, vírus, fungos e parasitas parecem encontrar nestes espaços o sítio perfeito para se alojarem. Mas então…

Como fugir destas infecções?

Em tom de brincadeira, mas a falar muito a sério, o Dr. Viriato prossegue: "Perante este panorama, parece impossível que uma ida à casa de banho não seja seguida obrigatoriamente por uma visita ao médico para tratar tal variedade de infecções. Porém, se as casas de banho forem devidamente limpas, se as nossas práticas de higiene pessoal forem exemplares (lavagem e secagem adequadas das mãos, minimização dos contactos da pele com as superfícies contaminadas) e o nosso sistema imunitário for competente, será pouco provável ser afectado por infecções cruzadas".
Numa espécie de conselhos para o utilizador, o Dr. Viriato Horta destaca a utilização das sanitas e dos urinóis: "Está provado que os micro-organismos aí presentes são transportados à distância (até cerca de 1 metro e meio) nos salpicos de água (efeito nebulizador ou aerossol) quando o autoclismo é descarregado e disseminam-se pelo assento e pelo tampo da sanita e pelo piso à sua volta, pelas paredes e porta da casa de banho e até pelo bidé, bancada e lavatório, se não houver separação física do cubículo sanitário. Por esta razão, aconselha-se vivamente que nunca se descarregue o autoclismo enquanto ainda se está sentado na sanita ou ainda não se vestiu a roupa, que se feche a tampa da sanita antes da descarga (quando existe tampo) ou que se saia do cubículo imediatamente após o início da descarga, porque a maior força da aerossolização ocorre na parte final da descarga quando quase toda a água já passou o sifão."

Em jeito de conclusão, o médico resume que "o acesso a uma casa de banho limpa, segura e privada é um direito e não um privilégio, mas ainda existem quase 2.500 milhões de pessoas sem conseguir usufruir desse direito, 1.000 milhões das quais ainda defecam ao ar livre. Como vivemos numa época ‘esquizofrénica’, existem mais pessoas com telemóvel do que com sanita, e morrem quase 3 milhões de pessoas anualmente por falta de saneamento, entre as quais se contam 700.000 crianças devido a diarreia".

Para que se consiga resolver este verdadeiro flagelo, a Organização das Nações Unidas reconheceu oficialmente o dia 19 de Novembro como o Dia Mundial da Casa de Banho, também conhecido como o Dia Mundial da Sanita, reforçando o trabalho de outras iniciativas semelhantes que decorrem ao longo do ano com vista a consciencializar a opinião pública para a necessidade de melhores níveis sanitários.

A marca Domestos tenta, também, ser parte das soluções para casas de banho limpas e para boas práticas de higiene. Depois de contribuir para o programa de saneamento da Unicef, doando parte do valor de cada embalagem vendida, foca-se agora em Portugal e nos problemas do território nacional. O passatempo Domestos nas Escolas vai ajudar uma escola pública na melhoria de condições de um WC. Pais, alunos e funcionários: não faltem à chamada para ajudar a vossa escola!

https://www.sabado.pt/c-studio/detalhe/casas-de-banho-escolares--estara-a-saude-dos-nossos-filhos-comprometida?ref=DET_Patrocinados_portugal


Pode obter aqui o documento da unilever. : Casas de banho escolares

Bombeiros voluntários passam a ter bonificações de serviço para a reforma.

“Os bombeiros voluntários que tenham pelo menos 15 anos de serviço no quadro activo ou de comando vão ter direito a uma bonificação de 15% para efeitos de reforma, segundo um diploma hoje publicado em Diário da República.”

“Este decreto-lei, que entra em vigor na sexta-feira, atribui novos benefícios sociais e incentivos aos bombeiros voluntários, como apoios nas despesas com creches e infantários.”


Com tanta excepção, justa ou não e mesmo assim sempre discutível, em tantos sectores ligados ao Estado, para que serve uma lei geral, se esta já é uma manta de retalhos? É para aplicar a todos aqueles cidadãos que não pertencem a quaisquer corporações que os ajudem? O Estado vai assim criando - se é que duvidas ainda houvesse - que quer portugueses de 1ª, 2ª e mesmo de 3ª categoria, pois na 1ª são o funcionalismo publico e os Estado-dependentes, seguem-se os abrangidos por sindicatos fortes e reivindicativos, que faz cidadãos de 2ª classe e depois todo o resto da população, que são a 3ª classe, e a mais marginalizada, quer pelo governo quer por todos os outros.


“Não se pode pensar em virtude sem se pensar num estado e num impulso contrários aos de virtude e num persistente esforço da vontade. Para me desenhar um homem virtuoso tenho que dar relevo principal ao que nele é voluntário. “ Agostinho Silva


vo·lun·tá·ri·o

adjectivo

1. Que se faz de boa vontade e sem constrangimento.

2. Amigo de fazer a sua vontade; caprichoso.

3. Que faz parte de uma corporação por mera vontade e sem interesse.

substantivo masculino

4. Mancebo que assenta praça e que serve voluntariamente.

5. Estudante que se matricula numa aula oficial em condições diferentes das dos alunos ordinários.

"voluntário", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, https://dicionario.priberam.org/volunt%C3%A1rio [consultado em 17-05-2019].

quinta-feira, 16 de maio de 2019


A cidade romana, no Alentejo, de Ammaia.
https://www.youtube.com/watch?v=z9TgMQbP5C8

"A cidade romana de Ammaia, ficou perdida no vale da Aramanha, no Alentejo e só foi redescoberta no século passado. Desde então está a ser escavada e investigada por cientistas de todo o mundo.
Entre a população local os vestígios romanos são conhecidos desde sempre, mas só no princípio do século passado se começou a perceber que aquilo que estava enterrado no Vale da Aramanha era uma cidade Romana.
Construída de raiz no século I DC alcançou o seu esplendor nos trezentos anos seguintes. A partir do século IX desaparecem as referências à cidade como urbe habitada. As suas pedras serviram para construir outros lugares e monumentos.
Da antiga cidade sobrava um mito, até que no princípio do século XX surgiram indícios fortes que indiciavam a existência de uma cidade de grande dimensão naquela zona. A meio do século concretizaram-se as primeiras escavações e na última década intensificaram-se os trabalhos que recorrem também a novas tecnologias.
Os arqueólogos conhecem hoje o desenho e a arquitetura de Ammaia, graças a uma tecnologia que permitiu radiografar toda a área.
Os trabalhos de exploração, geridos por uma fundação privada, prometem trazer mais revelações sobre esta cidade que conta a história do poder romano e da sua decadência na Península Ibérica." O comentário está em inglês.

Corrupção nas auto-estradas. Testemunho de Almerindo Marques implica ex-ministros.

Ministério Público quer constituir como arguidos, no âmbito do inquérito às Parcerias Público-Privadas nas auto-estradas adjudicadas pelo Governo de José Sócrates, cinco ex-membros daquele Executivo.


Ministério Público (MP) quer constituir como arguidos, no âmbito do inquérito às Parcerias Público-Privadas nas auto-estradas adjudicadas pelo Governo de José Sócrates, cinco ex-membros daquele Executivo: Mário Lino e António Mendonça, ex-ministros das Obras Públicas, Fernando Teixeira dos Santos, ex-ministro das Finanças e atual presidente executivo do banco EuroBic, Paulo Campos e Carlos Costa Pina, ex-secretários de Estado das Obras Públicas (este último atual administrador executivo da Galp Energia). Esta informação consta de um despacho assinado pela procuradora Ligia Salbany, datado de 4 de março, e é avançada esta quinta-feira pela revista “Sábado”.

Salbany considera que existem indícios de que o Estado foi prejudicado nas renegociações de 2010 das concessões SCUT em cerca de 466 milhões de euros e nas renegociação dos contratos de subconcessões ocorrida entre 2009 e 2011 num valor de cerca de 3,1 mil milhões de euros. No entender do MP, a opção pelos contratos PPP tinha como principal objetivo não agravar a fatura do Estado com a construção de auto-estradas.

Para fundamentar esta tese, terá sido essencial o testemunho de Almerindo Marques, ex-presidente das Estradas de Portugal entre 2007 e 2011. O antigo responsável defendeu que o Governo terá cometido erros básicos na negociação dos contratos das PPP que fez com que a posição negocial do Estado fosse seriamente prejudicada.

Almerindo revelou também que participou em reuniões com elementos do Tribunal de Contas e membros do Governo de Sócrates para encontrar uma solução para a recusa de visto daquele tribunal aos contratos das subconcessões do Governo Sócrates.

De acordo com a “Sábado”, o ex-presidente das Estradas de Portugal garantiu que os documentos referentes ao esquema financeiro para pagar às empresas concessionárias chegou às Estradas de Portugal já “pré-feito”.

https://expresso.pt/revista-de-imprensa/2019-05-16-Corrupcao-nas-auto-estradas.-Testemunho-de-Almerindo-Marques-implica-ex-ministros#gs.brv7ys

José Manuel Rodrigues Berardo, mais conhecido por Joe Berardo

Para quem estiver interessado em penalizar o Sr. José Manuel Rodrigues Berardo, mais conhecido por Joe Berardo, tem aqui a lista dos vinhos produzidos, e comercializados, pelas suas empresas.


Bacalhoa - Aliança Vinhos de Portugal

https://www.bacalhoa.pt/vinhos.html

A lista de vinhos é bastante extensa.

Dias 20 e 21 há greve nos comboios. CP alerta para “fortes perturbações”

A CP alertou nesta quarta-feira para “fortes perturbações na circulação” ferroviária nos dias 20 e 21 de maio devido à greve dos revisores, prevendo supressões de comboios, a nível nacional, em todos os serviços.
Num aviso aos passageiros, a CP — Comboios de Portugal afirma que, “por motivo de greve convocada por uma organização sindical, preveem-se supressões de comboios, a nível nacional, em todos os serviços nos dias 20 e 21 de maio”. A empresa prevê também que “ocorram perturbações na circulação dos comboios nos dias 19 e 22 de maio” e refere que não serão disponibilizados transportes alternativos.
Aos clientes que já tenham bilhetes para viajar em comboios dos serviços Alfa Pendular, Intercidades, InterRegional, Regional e Celta, a CP permitirá o reembolso no valor total do bilhete adquirido, ou a sua revalidação, sem custos. Estes pedidos devem ser apresentados nas bilheteiras ou em cp.pt até 10 dias após terminada a greve.
A CP refere que vai atualizar a informação divulgada caso venham a ser definidos serviços mínimos pelo Tribunal Arbitral nomeado pelo Conselho Económico e Social.

O Sindicato Ferroviário da Revisão Comercial Itinerante (SFRCI) entregou um pré-aviso de greve para os dias 20 e 21 de maio que abrange os revisores, trabalhadores de bilheteiras e outros funcionários da CP.
Em declarações à Lusa em 29 de abril, o presidente do SFRCI, Luís Bravo, disse que a paralisação nacional foi convocada para protestar contra o “incumprimento de dois acordos que o Governo fez com este sindicato, o primeiro em setembro de 2017, que visava recrutar 88 trabalhadores para a área comercial e que ainda não está concretizado”.
A outra promessa que o SFRCI diz ter falhado é “a negociação do acordo coletivo de trabalho, que tem 20 anos, e que deveria ter sido finalizado até 30 de setembro”. A greve abrange perto de mil trabalhadores, segundo o sindicato.

Preço de uma botija de gás, hoje, na Dinmarca.

Uma botija de gás de 11 kg, na Dinamarca - ao preço de hoje - custa ao publico 18,79€ !

Em Portugal, é perto de 30,00 €, para a mesma quantidade!!!




Exposição de pintura de Isaura Oliveira

cartaz da exposição de pintura de Isaura Oliveira



Quando for grande quero ser aquele advogado

José Diogo Quintela


A diferença está nos clientes: enquanto um bandido comum chama o advogado quando é apanhado pela polícia, o bandido milionário manda vir o advogado antes de cometer o crime. E paga bem por isso.

Quando era novo queria ser advogado. Via “As Teias da Lei”, uma série americana sobre uma firma de advogados em Los Angeles, e parecia-me uma profissão espectacular. Homens cheios de estilo, mulheres lindas, casos emocionantes em que um raciocínio genial ilibava um inocente ou em que uma pergunta certeira desmascarava uma testemunha aldrabona. Eram heróis. E ganhavam imenso dinheiro. Mais importante, tinham assistentes particulares que eu, com o ódio aos trabalhos de casa, invejava.

É muito provável que, 30 anos depois, a televisão tenha voltado a fazer os miúdos quererem ser advogados. Não por causa de uma série, mas por causa da audição de Joe Berardo na Assembleia da República. É impossível ver a exibição do advogado do comendador Berardo e não sentir admiração pelo causídico. Sim, os advogados da ficção têm charme, casos jurídicos entusiasmantes e fáceis (pelos menos, ganham-nos sempre) e ainda lhes sobra tempo para beber uns copos no fim do dia, mas nada se compara à pinta do advogado de Berardo. Um homem com classe, que se dá ao luxo de ir à AR em trabalho e não levar gravata. (Há dois tipos de pessoas que não usam gravata na AR: marxistas que infringem intencionalmente as regras burguesas, e ricos tão ricos que nem conhecem as regras burguesas. Aposto que também estava sem meias, calçando uns Tod’s, aqueles mocassins que só por serem caros é que não são considerados pantufas. Apesar do ar descontraído, é óbvio que liga à roupa. Daí vestir um casaco com as mangas subidas de propósito pelo alfaiate, para poder mostrar os brutos botões de punho). Um homem que se apresenta com um bronzeado pouco natural para esta época do ano, a não ser para quem anda de descapotável (daí o cabelo revolto com sofisticação), já foi três vezes à neve (Alpes, claro, que os Pirenéus são pindéricos) e joga golf todos os dias. Aliás, a ideia que dá é que o advogado tinha saído mais cedo de um almoço no clube e estava cheio de vontade de despachar a audição, para ainda chegar a tempo dos uísques e charutos. Quem não quer esta vida? Além, claro, da leveza do trabalho propriamente dito: tudo o que tem de fazer é industriar milionários e impedi-los de se auto-incriminarem de forma tão desastrada que a Justiça não tenha outro remédio senão caçá-los. Por isso, recebem honorários chorudos.

Ser advogado de milionários é capaz de ser a melhor profissão do mundo. É como ser o ex-cunhado do Ronaldo, mas com licenciatura. O ex-cunhado do Ronaldo vive na casa do Ronaldo, guia o Ferrari do Ronaldo, o Bentley do Ronaldo, o Lamborghini do Ronaldo, passa férias no iate do Ronaldo, viaja no jato do Ronaldo, vai para a cama com as amigas mais feias das raparigas que o Ronaldo engata, usa as jóias que o Ronaldo não usa nesse dia e afaga as Bolas de Ouro do Ronaldo, quando o Ronaldo não está a olhar. Isto tudo sem precisar de se deitar e levantar cedo, de fazer dieta, de deixar de comer doces e beber álcool, de treinar todos os dias, de apanhar pontapés de defesas e de se enfiar dentro de uma piscina de gelo durante horas a fio. Quando o Ronaldo sai de manhãzinha para o treino, o ex-cunhado do Ronaldo fica na ronha a ver programas de televisão onde se comenta a vida privada do Ronaldo, outra chatice que o ex-cunhado do Ronaldo não tem de aturar.

Em troca disto tudo, só precisa de rir-se das piadas do Ronaldo, de servir de motorista ao Ronaldo, de fazer churrascos para o Ronaldo, de dizer que o Messi é um anão sobrevalorizado (três vezes ao dia) e de perder jogos de ping pong de propósito com o Ronaldo. No fundo, tem o melhor da vida do Ronaldo, sem as partes aborrecidas da vida do Ronaldo. Até o Ronaldo deve ter inveja do seu ex-cunhado.

A partir de agora, é natural que os miúdos todos queiram ser como aquele bem-sucedido advogado. Não um bem-sucedido advogado normal, claro, mas um bem-sucedido advogado de milionários. A diferença está nos clientes: enquanto um bandido comum chama o advogado quando é apanhado pela polícia, o bandido milionário manda vir o advogado antes de cometer o crime.

E paga bem por isso. O que permite ao advogado de milionários viver com todos os privilégios de um milionário, sem a maçadora exposição pública a que os milionários são sujeitos. A não ser, claro, em situações especiais como a de Berardo, em que o milionário exagera a fazer-se de parvo. Se Berardo fosse um milionário vigarista menos desbocado, daqueles que costumam ir às Comissões de Inquérito sem levantar ondas, ninguém teria reparado no advogado.

Não foi o que sucedeu, de maneira que a partir desta semana deixou de ser anónimo. As pessoas vão reconhecê-lo na rua e dizer: “Olha, o advogado da televisão! Tenho o banco à perna por ter falhado duas prestações e este gajo safa o Berardo de pagar 1000 milhões?” Obviamente, vão cercá-lo e não o deixarão sair dali enquanto não lhes ensinar a renegociar um empréstimo de maneira a não ter de o pagar. Toda a gente o vai chatear com isso. O mordomo vai chateá-lo, as criadas vão chateá-lo, a cozinheira vai chateá-lo, o caseiro vai chateá-lo, a babysitter vai chateá-lo, o tratador do cavalo do filho vai chateá-lo, o jardineiro vai chateá-lo, o treinador de ténis vai chateá-lo, a instrutora de ioga da mulher vai chateá-lo, o professor de piano da filha vai chateá-lo, o motorista vai chateá-lo, o porteiro do Hotel vai chateá-lo, o sommelier vai chateá-lo, o chef vai chateá-lo, o caddy vai chateá-lo, o barman do clubhouse vai chateá-lo. E isto só à segunda-feira de manhã, imagine-se o resto da semana. Coitado, tem a vida destruída.