quarta-feira, 26 de maio de 2021

Aqui d’el Ranking!

José Diogo Quintela

É óbvio que Brandão Rodrigues não gosta de comparações. O que se percebe, uma vez que é frequentemente considerado o pior ministro da Educação desde a alfabetização dos Suevos.

A polémica com o ranking das escolas mostra bem o estado da Educação em Portugal. Não por causa do ranking em si, mas pelo facto de se dizer “ranking” e não “lista”, “classificação” ou “hierarquia”, algumas das várias palavras em português que podem substituir com eficácia o termo em estrangeiro.


Esta observação pretensiosa era tudo o que tinha para dizer sobre o tema. Só que, entretanto, ouvi o ministro da Educação a queixar-se dos rankings. O que, em si, não é bem uma novidade. Não devemos esquecer que foi Tiago Brandão Rodrigues quem, no confinamento de Janeiro, impediu as escolas privadas de darem aulas online, prejudicando todos os alunos por igual. É óbvio que não gosta de comparações entre estabelecimentos de ensino, prefere nivelar por baixo. Aliás, não deve gostar de comparações no geral. O que se percebe, uma vez que é frequentemente considerado o pior ministro da Educação desde a alfabetização dos Suevos. Para Brandão Rodrigues, o único ranking aceitável é a tabela classificativa de um campeonato de futebol antes da primeira jornada. Quando estão todos empatados. Com zero pontos.

Segundo o ministro: “É uma pena se estes rankings forem utilizados única e simplesmente por uma questão de marketing das instituições de ensino.” Foi esta a afirmação que me chamou a atenção. Quando Brandão Rodrigues fala em marketing, devemos tomar nota. Afinal, trata-se do ministro que, de Março a Junho do ano passado, foi oito vezes à televisão garantir que todos os alunos teriam acesso a computadores com ligação à internet se fosse necessário confinar outra vez. Investiu tudo nos anúncios e nada no produto. Se isto não é um especialista em propaganda, eu não sou um especialista em generalizações simplistas.

Mas Brandão Rodrigues acerta ao levantar a questão do marketing. É, reconheça-se, um factor de desigualdade entre o ensino público e o ensino privado. Enquanto as escolas públicas não precisam de fazer publicidade, já que sabem que vão ter sempre gente, as privadas percebem que têm de se promover, caso contrário não atraem alunos e acabam por fechar.

De qualquer modo, não faria sentido uma escola pública recorrer ao marketing. Por melhor que seja, só podem frequentá-la os alunos que moram ao lado. Para quê anunciar um produto que não está disponível? É como fazer publicidade num supermercado venezuelano. Neste aspecto, o ranking é realmente cruel para os alunos que frequentam o ensino público. Mostra que há escolas públicas boas, mas eles não as podem frequentar porque têm o azar de viver mais perto de uma escola pior.

Os críticos dos rankings contestam a utilidade da hierarquização das escolas consoante os exames. Só que, habitualmente, também contestam a utilidade dos exames. O que gera a dúvida: se não dão importância aos exames, porque é que os chateia que haja quem dê? É o mesmo que um ateu aborrecer-se com uma beata que avalia como superiores os poderes milagreiros de Santo António em relação aos de São Francisco de Assis. Estes críticos acham positivo haver menos informação disponível. O que, paradoxalmente, os devia fazer apreciar o ranking: mostra as escolas de onde as crianças saem com menos informação.

Apesar de tudo, o ministro tem razão. As notas não devem ser os únicos indicadores para avaliar as escolas. Há outras perspectivas a ter em conta e o ranking ignora-as. Por exemplo, na passada 5ª feira, véspera da publicação do ranking, houve greve de trabalhadores do Estado e o meu enteado, que frequenta uma escola pública, ficou sem aulas. Isto, quando está a meio da época de exames. Mesmo a calhar. Concordei logo com Brandão Rodrigues: este ranking é incompleto. Faz falta outro com os dias de aulas que se perdem por causa de greves. E um com os dias de aulas que se perdem quando o professor está de baixa e o Ministério demora 6 meses a substituí-lo. E um com os dias de aulas que se perdem porque não há material informático para lições online.

No entanto, sou sensível aos argumentos de quem é contra rankings escolares. Também eu, em estudante, fui vítima de listas que elencavam avaliações. Nomeadamente, das coligidas pelas colegas que davam notas à aparência dos rapazes da turma e que, com uma regularidade impressionante, me deixavam sempre no fundo da tabela. Quer no colégio, quer no liceu. O achincalhamento foi o mesmo. Independentemente de os meus pais pagarem ou não mensalidade, independentemente de haver padres no recreio ou haver traficantes no recreio, a minha capacidade para repugnar membros do sexo oposto foi transversal à escola pública e à privada. Se, na altura, os rankings não tivessem sido tornados públicos, teria sofrido menos? Talvez. Mas seria fraco consolo, já que teria continuado a não ter sorte nenhuma com raparigas.

Observador

domingo, 23 de maio de 2021

Portugal–aniversário

Estamos todos de parabéns, já que Portugal faz oficialmente 842 anos – somos, afinal, um dos países mais antigos do mundo! Apesar de não haver um consenso entre os especialistas quanto à data que assinala oficialmente a mais correcta, o dia 23 de Maio parece-nos ser o mais correcto e o dia mais oficial para celebrar de acordo com os costumes da época, já que foi neste dia, em 1179, que o Papa Alexandre III, que representava a Igreja Católica (que governava a Europa na altura) emitiu a bula “Manifestis Probatum”, reconhecendo Portugal como um reino independente.

Bandeira Portuguesa

sexta-feira, 21 de maio de 2021

FRASES QUE GANHARAM IMORTALIDADE

Se a minha avó, não tivesse morrido, estava viva    !!!

Estar vivo é o contrário de estar morto. - Lili Caneças

Nós somos humanos como as pessoas. - Nuno Gomes, SL Benfica

Quem corre agora é o Fonseca, mas está parado. - Jorge Perestrelo

Inácio fechou os olhos e olhou para o céu! - Nuno Luz (SIC)

O meu coração só tem uma cor: azul e branco. - João Pinto, antigo capitão do FC Porto

A China é um país muito grande, habitado por muitos chineses... - Charles de Gaulle

Lá vai Paneira no seu estilo inconfundível... (pausa) ...mas não, é Veloso. - Gabriel Alves

Juskowiak tem a vantagem de ter duas pernas! - Gabriel Alves

É trágico! Está a arder uma vasta área de pinhal de eucaliptos. - jornalista da RTP

Um morreu e o outro está morto. - Manuela Moura Guedes

Prognósticos só depois do jogo. - João Pinto (FCP)

Antes de apertar o pescoço da mulher até à morte, o velho reformado suicidou-se. - João Cunha, testemunha de crime

Quatro hectares de trigo foram queimados. Em princípio trata-se de incêndio. - Lídia Moreno (Rádio Voz de Arganil)

O acidente foi no tristemente célebre Retângulo das Bermudas. - Paulo Aguiar (TV Globo)

O acidente fez um total de um morto e três desaparecidos. Teme-se que não haja vítimas. - Juliana Faria (TV Globo)

Os antigos prisioneiros terão assim a alegria do reencontro para reviver os anos de sofrimento. - Maria do Céu Carmo, psiquiatra

À chegada da polícia, o cadáver encontrava-se rigorosamente imóvel. - Ribeiro de Jesus, PSP de Faro

O acidente provocou forte comoção em toda a região, onde o veículo era bem conhecido. - António Bravo (SIC)

Ela contraiu a doença em vida. - Dr. Joaquim Infante, Hospital de Santa Maria

Há muitos redatores que, para quem veio do nada, são muito fiéis às suas origens. - António Tadeia, Crónicas do Correio da Manhã

A vítima foi estrangulada a golpes de facão. - Ângelo Bálsamo, Jornal do Incrível

A polícia encontrou no esgoto um tronco que provém, seguramente, de um corpo cortado em pedaços. E tudo indica que este tronco faça parte das pernas encontradas na semana passada. - Agente Paulo Castro, Relações Públicas da P. J.

Os sete artistas compõem um trio de talento. - Manuela Moura Guedes (TVI)

Esta nova terapia traz esperanças a todos aqueles que morrem de cancro em cada ano. - Dr. Alves Macedo, oncologista

Quando o jogo está a mil, minha naftalina sobe. - Jardel, ex-jogador do Sporting

Querem fazer do Boavista o bode respiratório. - Jaime Pacheco, treinador do Boavista

Não tem outra, temos que jogar com essa mesma. - Jaime Pacheco, treinador do Boavista, ao responder à pergunta do repórter se eles iriam jogar com aquela chuva

Se entra na chuva é para se queimar. – Denilson, jogador da Seleção do Brasil

Haja o que hajar, o Porto vai ser campeão. - Deco, ex-jogador do FC Porto

O difícil, como vocês sabem, não é fácil. - Jardel

Jogador tem que ser completo como o pato, que é um bicho aquático gramático. - César Prates, ex-jogador do Sporting

No Porto é todo mundo muito simpático. É um povo muito hospitalar. - Deco, ex-Jogador do FC Porto, a comentar a hospitalidade da população

Eu disconcordo com o que vocês disse. - Derlei, do F. C. PORTO, em entrevista ao Jornal Record

Em Portugal é que é bom. Lá, a gente recebe semanalmente de 15 em 15 dias. - Argel, jogador do Benfica

Nem que eu tivesse dois pulmões alcançava essa bola. - Roger, jogador do Benfica

Tenho o maior orgulho de jogar na terra onde Cristo nasceu. - Djair, jogador do Belenenses ao chegar a Belém (zona do Restelo – Mosteiro dos Jerónimos) no dia que assinou contrato com este clube

Finalmente, a água corrente foi instalada no cemitério, para satisfação dos habitantes. - Presidente da Junta da Freguesia do Fundão

Viver em grande em casas pequenas. 42 imagens de micro-apartamentos pelo mundo.

Nas grandes cidades, entre arranha-céus e asfalto, o espaço é um bem precioso. Por isso é que arquitectos e designers se juntaram para criar micro-casas, onde se pode viver em grande. Conheça algumas.

No mundo, há 31 cidades com população superior a 10 milhões de pessoas. É como se Portugal inteiro coubesse numa única cidade em expansão, dominada por arranha-céus e por auto-estradas cruzadas. Cidades tão desenvolvidas como Londres, Manhattan em Nova Iorque ou Hong Kong sofrem agora de uma crise de espaço, que passou a ser um bem precioso (e muito, mas muito caro) nestes grandes centros urbanos.

Encontrá-lo não é fácil. Por isso é que arquitetos e designers se juntaram para criar um novo conceito de apartamentos: são muito pequenos e compactos, mas primam pela modernidade e pelo conforto que oferecem. São as micro-casas. Mas dentro delas, pode viver-se em grande.

É esta a conclusão que a CNN encontrou no livro “Small Homes, Grand Living”. A obra de Gestalten fala sobre os pontos positivos de viver em apartamentos pequenos — ou mesmo minúsculos — construídos às portas de uma cidade socialmente agitada e em expansão. E tudo parece resumir-se num ponto: um apartamento mais pequeno do que a média pode poupar-nos tempo e dinheiro. Agora, importa menos ter móveis luxuosos ou peças de design a enfeitar a sala: o luxo agora é sinónimo de tempo. Mais do que isso, opina o arquiteto alemão Sigurd Larsen, estes apartamentos têm a vantagem de serem energeticamente mais eficientes e serem amigos do ambiente.

Conheça catorze desses apartamentos, incluindo um português, na fotogaleria com 42 imagens.

https://observador.pt/2017/05/08/viver-em-grande-em-casas-pequenas-42-imagens-de-micro-apartamentos-pelo-mundo/

Marta Leite Ferreira

Carlota Joaquina: a rainha infiel que inventou a caipirinha

Carlota Joaquina foi uma mulher peculiar: além de ter ficado com fama de infiel, também há quem diga que inventou a caipirinha. Descubra a a sua história.

Carlota Joaquina

Carlota Joaquina Teresa Caetana de Bourbón e Bourbón nasceu a 25 de Abril de 1775 em Espanha, no Palácio Real de Arajuez. Era a filha primogénita de D. Carlos IV (Rei de Espanha) e da rainha D. Maria Luísa de Parma. Desde muito nova teve o destino traçado: deveria casar com o infante D. João de Portugal, futuro rei do nosso país.

Em 08 de Maio de 1785 com apenas dez anos de idade D. Carlota Joaquina casou-se com o infante D. João Maria de Bragança com então 18 anos. Carlota foi recebida com receio na corte portuguesa por ser espanhola e acabou por procurar refúgio e amizade na rainha D. Maria I que ascendeu ao trono em 24 de Fevereiro de 1777.

A partir de 1788 os acontecimentos que mudariam a vida de Carlota Joaquina sucedem-se de forma vertiginosa. Em 11 de Setembro desse ano, o herdeiro da coroa portuguesa D. José (irmão mais velho de D. João), faleceu vítima de varíola aos 27 anos, tendo Carlota e seu marido passado a ser os novos herdeiros do trono português.

Carlota Joaquina

Apesar de Carlota nunca se ter resignado com o destino que lhe foi dado pelos pais, acabou por se tornar a rainha consorte do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, tendo assumido a regência do país em algumas ocasiões pontuais.

Contudo, a sua personalidade bem marcada e forte acabou por se tornar um estorvo na vida do rei, com o povo a odiá-la devido aos seus caprichos e a corte sem lhe votar grande estima. Era acusada de influenciar negativamente o rei a favor da Coroa Espanhola, entre outras acusações de carácter igualmente sério, como a de conspiração política.

A sua má fama crescia de dia para dia, com os elogios a escassearem e as críticas a subirem de tom com acusações de infidelidade. Sabe-se que Carlota foi realmente uma esposa infiel e manipuladora, tendo conspirado contra o marido por este ser liberal.

Ao que se sabe, na história de Portugal nenhum rei foi mais enganado pela esposa que D. João VI. Enquanto este se ocupava com o reino, a rainha coleccionava amantes, desde o Marquês de Marialva a um simples cocheiro da quinta do Ramalhão (e de quem as más-línguas diziam que D. Miguel era filho).

A criação da caipirinha tem sido atribuída à rainha, sendo que ela terá mandado misturar frutas com cachaça, com a ideia de fazer compotas. Para se refrescar, no entanto, foi ingerindo a mistura com gelo, e a moda acabou por pegar.

Analisando a lista de compras do seu palácio, podem-se encontrar quantidades absurdas de aguardente de cana. A rainha consumiria em excesso esta bebida, chegando a beber 20 litros de caipirinha por dia!

Carlota Joaquina

Carlota Joaquina tinha uma personalidade forte e talvez fosse demasiado ambiciosa. Em 1806, D. João descobriu que a sua esposa tramava contra ele quando percebeu que ela tinha enviado uma carta ao seu pai, que havia ascendido ao trono de Espanha em Dezembro de 1788, incitando-o a invadir Portugal. A partir de então o casal distanciou-se e a sua relação passou a ser marcada pela desconfiança mútua.

Em terras brasileiras as intrigas políticas nas quais Carlota Joaquina estava envolvida não acabaram. Em Março de 1808, D. Carlota pretendia converter-se na máxima autoridade do Vice-Reino do Rio da Prata (actual Argentina) e do Vice-Reino do Peru. Alegava que era a única representante legitima da casa de Bourbon espanhola que não havia sucumbido ao poder de Napoleão.

Faleceu em 07 de Janeiro de 1830 com 54 anos depois de uma vida conturbada e cheia de intrigas políticas. Alguns historiados afirmam que teria posto fim à própria vida por causa do seu isolamento e afastamento dos filhos. Foi sepultada no Panteão Real da Dinastia de Bragança, ao lado marido, no Mosteiro de São Vicente de Fora em Lisboa, onde repousa até os dias de hoje.

https://www.vortexmag.net/

quinta-feira, 20 de maio de 2021

Por que a academia não pode tolerar divergências sobre sexo biológico?

Por JOHN STADDON

Não deve ser controverso afirmar que existem apenas dois sexos.

Se passaram por uma ou duas gerações de pós-comprimido de libertação sexual única para sexo e género mais uma vez tornar-se impossível para discutir de forma desapaixonada - mesmo num local supostamente científico, como um listserv da American Psychological Association (APA )

Recentemente, fui excluído de uma lista de discussão por e-mail da APA. Não fui informado exactamente por quê, embora eu acredite que tenha sido por causa de alguns comentários um tanto cépticos que fiz sobre sexo não binário. E gostei da ironia que meu expelido me disse, enquanto no acto de me expulsar, que ele reconhecehá uma ampla gama de pontos de vista sobre muitos assuntos”.

Talvez sim. Mas os fatos biológicos aqui são claros. Todos os mamíferos se reproduzem sexualmente; a reprodução requer um óvulo e um espermatozóide, o macho fornece o espermatozóide e a fêmea o óvulo - não há espaço para terceiros. Masculino e feminino são isso. Algumas espécies não mamíferas mostram uma flexibilidade surpreendente. Alguns zooplânctons, como os rotíferos, têm um complexo arranjo de compartilhamento que ainda está sendo separado (pelo menos por nós; os rotíferos parecem perfeitamente claros sobre o assunto). As espadas adultas ( Xiphophorus helleri ), um popular peixe de aquário vivo, às vezes mudam de sexo de fêmea para macho. Muitas outras espécies de peixes mudam de sexo quando adultos - de fêmea para macho e vice-versa. Em peixe-palhaço ( Amphiprion), a mudança é desencadeada, por exemplo, pela composição do cardume (se for toda fêmea, uma fêmea pode mudar para macho) ou simplesmente pela idade.

Os mamíferos são menos flexíveis, mas essencialmente todas as espécies de mamíferos que foram cuidadosamente estudadas mostram desvios do comportamento heterossexual normal - “normal” no sentido de que é tanto o padrão maioritário quanto essencial para a sobrevivência da espécie. Os seres humanos obviamente também apresentam uma variedade de padrões anormais, como a homossexualidade. (“A homossexualidade é tão natural quanto a heterossexualidade”, como Myra Breckinridgeo autor Gore Vidal disse. “Observe que uso a palavra 'natural', não normal.”) Inclua também o desejo de ser, ou a sensação de ser, o sexo oposto (transgénero). Essas variantes constituem uma pequena fracção da população. Entre 2 e 10 por cento da população masculina dos EUA pode ser homossexual e talvez 1 a 2 por cento das mulheres. A proporção de bissexuais e transexuais é provavelmente muito menor. Todos esses números são alvos móveis e variam com os ventos da mudança cultural.

As causas das diferentes variantes são incertas; sem dúvida, factores culturais e biológicos (genéticos, de desenvolvimento) estão envolvidos numa mistura ainda desconhecida. A função adaptativa de indivíduos que não se reproduzem também não é clara. Obviamente, se uma fracção substancial da população parar de se reproduzir, o futuro da espécie parece sombrio. Por outro lado, a divisão de interesses e a divisão do trabalho podem significar que algumas minorias não reprodutivas (as seitas religiosas celibatárias são um exemplo óbvio) contribuem em vez de diminuir a “adequação” de uma cultura.

Como as variantes devem ser avaliadas é uma questão de ética e política, não de ciência. Mas a biologia é importante; e aqui, a política pode distorcer a ciência. Que existem dois sexos é biologicamente indiscutível. Que existem várias variantes minoritárias também é indiscutível. Mas o sexo não é um continuum.

Existem diferenças reais entre homens e mulheres. Algumas afirmações chegam a um consenso: quase todos concordarão com elas. Outros, nem tanto. Por exemplo, os homens em geral são mais fortes do que as mulheres: correm mais rápido, levantam pesos pesados ​​e são melhores jogadores de futebol. Apesar da milagrosa Simone Biles, os homens podem ser ginastas ainda melhores. Os homens também tendem a morrer mais cedo, cometer crimes mais violentos, correr mais riscos e sofrer mais acidentes. A maioria das pessoas concorda com essas coisas. O que eles significam para a participação das mulheres nas forças armadas? Participação de mulheres trans (isto é, homens) em desportos femininos?

Os psicólogos também nos dizem que os homens tendem a se interessar mais pelas coisas, enquanto as mulheres se interessam mais pelas pessoas. Essa diferença pode explicar parcialmente as disparidades entre homens e mulheres em profissões como enfermagem e engenharia? Os machos, na maioria das dimensões, são mais variáveis ​​do que as fêmeas. Em algumas medidas cognitivas, por exemplo, as médias populacionais são as mesmas, mas a distribuição masculina é mais espalhada: mais idiotas do sexo masculino e também mais génios do sexo masculino. Aludir a isso como uma explicação para a representação desproporcional de homens nos departamentos de matemática em Harvard colocou o então presidente de Harvard, Larry Summers, em apuros alguns anos atrás. No entanto, é um fato.

(AMAYRA / stock / Getty Images)Não deve ser controverso afirmar que existem apenas dois sexos

https://www.nationalreview.com/

JOHN STADDON é o ilustre professor de psicologia e neurociência de James B. Duke e professor de biologia, emérito da Duke University.

Como pode um agricultor belga mover acidentalmente a fronteira com a França? É surpreendentemente fácil, como mostra a história.

Um agricultor recentemente levantou a possibilidade de um incidente internacional quando inadvertidamente redesenhou a fronteira entre a Bélgica e a França . Ele teria ficado irritado com um pedaço de rocha que bloqueava o caminho de seu tractor, e então ele o moveu. Mas esta rocha acabou por ser uma pedra de fronteira que estava no lugar desde 1819. Ao jogá-la para fora do caminho de seu tractor, ele redesenhou a fronteira franco-belga em 2,29 metros (7,5 pés), tornando a Bélgica maior e a França menor.

O incidente foi, felizmente, recebido com bom humor - mas se o fazendeiro se recusar a devolver a pedra à sua posição original, ele pode enfrentar acusações criminais, e o caso precisará ser encaminhado ao Ministério das Relações Exteriores da Bélgica. O ministério, por sua vez, precisaria convocar uma comissão de fronteira franco-belga. Não houve uma reunião de tal órgão desde 1930.

A fronteira franco-belga foi estabelecida sob o Tratado de Kortrijk - assinado em 1820 após a derrota de Napoleão em Waterloo cinco anos antes. Este foi um de uma série de tratados de fronteira assinados pela França no século XIX. Mas esses tratados nunca encerraram o assunto. A posição exacta da fronteira precisava acomodar a paisagem e, portanto, no caso da fronteira franco-belga, as negociações entre os administradores locais de ambos os lados duraram até 1825.

Em outras áreas da França, as fronteiras ao longo dos rios mudaram quando os rios foram redireccionados ou estouraram suas margens. Algumas cidades foram completamente ignoradas pelas comissões de fronteira. Na fronteira franco-alemã, todos os que viviam na área presumiram que uma floresta pertencente à cidade de Leidingen ficava no lado alemão da fronteira. Em 1918, foi descoberto que o protocolo de 1833 não havia feito nenhuma provisão para isso e que a floresta estivera na França o tempo todo. Enquanto isso, travessias regulares para trabalhar ou fazer compras, combinadas com poucas (se houver) restrições na fronteira, significava que as pessoas que moravam ao lado da fronteira geralmente prestavam pouca atenção a ela.

Boas fronteiras fazem bons vizinhos

As fronteiras da França mudaram novamente após a primeira guerra mundial, quando a Alsácia-Lorena voltou da Alemanha. Como o Tratado de Kortrijk, o Tratado de Versalhes estabeleceu a fronteira , mas depois deixou para os administradores locais definirem para onde deveria ir. Em resposta, ambos os lados contactaram as prefeituras locais para garantir que a linha evitasse dividir aldeias, cortar estações ou separar os fazendeiros de suas terras, então a linha fixada em Versalhes se moveu como resultado.

Na nova aldeia francesa de Schonecken , por exemplo, a fronteira planeada cortou duas casas pela metade e deixou uma terceira casa na Alemanha, o que significa que os residentes teriam que cruzar a fronteira toda vez que fossem às lojas, pubs ou igrejas. Depois que os habitantes protestaram, a fronteira foi mudada.

Para a França, esse exercício de consulta massiva tinha o objectivo de evitar um incidente de fronteira com a Alemanha e o reinício do conflito após a primeira guerra mundial, trabalhando com o princípio de que boas fronteiras fazem bons vizinhos.

Depois que a fronteira franco-alemã foi consertada, alguns incidentes deixaram as autoridades nervosas. Em 1923, uma pedra da fronteira entre a França e o vale do Saar foi revirada e cortada em duas. Esse vandalismo deixou os administradores locais preocupados por representar uma forma de protesto de um local insatisfeito com o governo francês. Não sabemos se eles descobriram a verdade.

No ano seguinte, a linha da fronteira entre a França e Luxemburgo foi redesenhada quando as pedras da fronteira em Audun-le-Tiche foram roubadas, deixando os moradores incertos sobre onde ficava a fronteira.

E o redireccionamento do Reno em 1872 significou que muitas aldeias descobriram que suas terras comuns agora ficavam do lado alemão da fronteira. De repente, eles precisaram cruzar a fronteira nacional para pescar ou caçar. Quando chegaram ao Ministério das Relações Exteriores relatórios de moradores locais sendo detidos sob pretextos espúrios , isso aumentou os temores franceses sobre tensões na fronteira. Mas nenhum incidente aconteceu. Isso foi um alívio para o governo francês, que fazia questão de evitar o confronto com a Alemanha, mas também estava preocupado em manter a estabilidade dentro da França. Tendo acabado de recuperar a Alsácia-Lorena, eles estavam particularmente interessados ​​em manter a população feliz.

Em Setembro de 1939, os temores da França se concretizaram quando um incidente encenado na fronteira se tornou o pretexto para a invasão alemã da Polónia. No Verão seguinte, as tropas na fronteira entre a França, a Alemanha e a Suíça agiram como uma isca enquanto as tropas alemãs invadiam a França pelo norte. Hitler cruzou a fronteira do rio Reno em Junho de 1940 quando a Alsácia-Lorena foi anexada ao Terceiro Reich e a fronteira foi fechada e cercada por uma zona proibida. O fim da segunda guerra mundial viu a Alsácia-Lorena retornar à França e uma nova identidade para a região como um símbolo da reconciliação franco-alemã.

Fronteiras no século 21

Embora possamos imaginar as fronteiras fixas ou inamovíveis, elas mudaram e mudaram como resultado da guerra e ajustes territoriais - mas também como resultado das acções de pessoas comuns.

Seja o aborrecimento com uma pedra bloqueando o caminho de um tractor ou um apelo ao Itamaraty por intervenção, os moradores locais têm uma longa história de mudança e mudança de fronteiras. A forma como os estados respondem a tais incidentes depende de seu relacionamento com os países adjacentes. O fato de o recente movimento da fronteira franco-belga ter sido visto com bom humor por ambos os lados é uma prova da relação da França e da Bélgica como bons vizinhos, mesmo que suas fronteiras sejam um pouco vagas.

Laura Hood

Editor de Política, Editor Assistente

Corrupção: Faz o que digo, não o que eu faço.

Prevejo os bons tempos de José Sócrates!!!


Na estratégia de combate à corrupção, o governo vai impor – e bem – que entidades públicas e privadas tenham em vigor um conjunto de instrumentos que regulem condutas e minimizem riscos de corrupção, como códigos de conduta, planos de prevenção da corrupção e canais seguros de denúncia.

A política exige liderança. A implementação de políticas exige liderança. E liderar pelo exemplo é, provavelmente, das formas mais eficazes quando se trata de mudar comportamentos e impor obrigações. Nada disto tem sido visto no combate à corrupção em Portugal. O lema não é liderar pelo exemplo, mas sim "faz o que eu digo, não faças o que eu faço". As situações repetem-se.

Na estratégia de combate à corrupção, o governo vai impor – e bem – que entidades públicas e privadas tenham em vigor um conjunto de instrumentos que regulem condutas e minimizem riscos de corrupção, como códigos de conduta, planos de prevenção da corrupção e canais seguros de denúncia. Contudo, para além de se excluir a si próprio dessas obrigações, o governo tratou de assegurar que os gabinetes dos órgãos de soberania e principais órgãos políticos, bem como Banco de Portugal, estariam fora dessas obrigações. Mais: ao excluir expressamente estes órgãos da lei, o governo dá uma machadada a anos de boas práticas, durante os quais várias dessas entidades seguiram a recomendação do Conselho de Prevenção da Corrupção e elaboraram planos de prevenção. Impor obrigações semelhantes aos partidos políticos, isso então, é tabu, ignorando as ideias já defendidas por vários, como Guilherme d’Oliveira Martins, vários militantes do PSD e também por mim.

De resto, o Código de Conduta do Governo, tal como está redigido e tem sido aplicado, jamais poderia servir de benchmark para quem quer que fosse. Para além de não ter mecanismos de supervisão ou sanções (só uma mera e vaga "responsabilidade política), nem de abranger todas as áreas sobre as quais incidem as diferentes condutas dos membros do governo (relações com a administração pública, utilização de redes sociais, assédio moral ou sexual, por exemplo), tem sido um falhanço em toda a linha. Nunca conseguiu prevenir ou tirar consequências de qualquer escândalo. O próprio Primeiro-Ministro, principal garante do cumprimento do código, pisou terreno minado ao ter aceite fazer parte da Comissão de Honra da candidatura de Luís Filipe Vieira ao Benfica. Liderar sim, pelo exemplo não, ao que parece.

O Conselho de Prevenção da Corrupção (CPC) não tem um curriculum de liderança muito melhor do que o governo nesta matéria. Ficou a saber-se, no inicio deste ano, que o CPC tomou a iniciativa de questionar a necessidade dos seus membros apresentarem a declaração de interesses, património e rendimentos, abrindo assim uma excepção à regra a quem estão sujeitos os titulares de altos cargos públicos. Não interessa se esta excepção mina a liderança da entidade que mais devia pugnar pela transparência, a probidade na vida pública e o combate à corrupção. Lei é lei e se a lei me dá oportunidade de não a cumprir, é isso que devo fazer.

Um (mau) exemplo final poderia ser a incongruência entre a proposta de protecção de denunciantes desenhada pelo governo (ainda que por imposição europeia) e a conduta do Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais que enviou à Autoridade Tributária uma "nota" sobre a participação de um funcionário no Movimento Cultural Terras de Miranda, que denunciou publicamente a negociata fiscal da venda da concessão das barragens da EDP. Este alerta do Secretário de Estado será legal daqui a uns meses, quando a lei de protecção de denunciantes entrar em vigor? Um governo que defende a protecção de denunciantes e a deve promover junto das várias entidades obrigadas pode, ao mesmo tempo, fazer queixa de um denunciante?

Uma liderança que dá o exemplo é uma liderança sem legitimidade.

Susana Coroado

Investigadora

https://www.sabado.pt/

quarta-feira, 19 de maio de 2021

Tornando o planeta mais verde: não podemos simplesmente plantar árvores, temos que restaurar as florestas.

The Queen's Green Canopy , uma campanha para celebrar o jubileu de platina de Elizabeth II no próximo ano, envolve pedir às pessoas no Reino Unido que plantem árvores: uma “árvore-das-árvores”, como diz seu filho, o príncipe Charles. Esta é uma das várias campanhas públicas e privadas em andamento, incluindo iniciativas de grandes corporações, da Nestlé à Audi, que também estão plantando milhões de árvores na tentativa de mitigar parte de seu impacto ambiental.

Mas, numa escala muito menor, existem milhares de projectos de reflorestamento comunitário ao redor do mundo, cujos objectivos variam de acordo com o ambiente e os desejos da população local. Por exemplo, o plantio de árvores nativas ao longo do rio Kinabatangan em Bornéu pode apoiar as empresas locais de ecoturismo, enquanto os projectos florestais na costa leste da Nova Zelândia são projectados para proteger os solos agrícolas da erosão.

O contexto local torna cada projecto comunitário único e de mais valor, pois é mais provável que as pessoas plantem as árvores certas nos lugares certos para o propósito certo. Mas esses projectos custam dinheiro e garantir o financiamento pode ser um desafio quando os financiadores estão frequentemente focados em metas mensuráveis ​​e na remoção de carbono da atmosfera para compensar as actividades geradoras de emissões. Inevitavelmente, os pequenos projectos locais arcam com o fardo, incorrendo no alto custo de monitoramento e certificação.

Em 2019, desenvolvemos o Regrow Borneo , um projecto de reflorestamento comunitário em Sabah, Bornéu da Malásia, que nos empurrou para este mundo complicado. Nosso trabalho nos levou a examinar essas compensações sob a perspectiva do custo das árvores, da importância do conhecimento tradicional e do preço do reflorestamento.

https://youtu.be/B9KLHQOgESw

Custo das árvores x valor das florestas

O número de árvores plantadas é frequentemente visto como um indicador do sucesso dos projectos de reflorestamento. Todos nós vimos anúncios sugerindo que, se comprarmos um produto, uma empresa plantará uma árvore para compensar o custo de produção do item. As árvores são relativamente fáceis de contar e, se plantadas no lugar certo, podem reflectir uma restauração bem-sucedida. Mas o reflorestamento ocorre ao longo de centenas de anos e projectos mal administrados que plantam milhões de árvores às vezes podem terminar com a morte da maioria .

É por isso que projectos de restauração florestal bem-sucedidos têm uma abordagem de longo prazo , comparando o progresso com as florestas existentes, tirando instantâneos “antes e depois” e medindo os custos e benefícios sociais. Mas nada disso pode ser capturado pela contagem de árvores. Um censo de árvores não informa sobre a saúde das populações de ecossistemas, solo, insectos, pássaros ou mamíferos. Também não falará sobre a perda ou ganho de oportunidades económicas para as comunidades locais, sua saúde ou bem-estar espiritual. Precisamos de novas medidas para avaliar projectos, mas nenhuma dessas abordagens é tão simples ou facilmente explicada aos financiadores como um censo de árvores.

A Regrow Borneo planeja medir o sucesso em termos de área de floresta restaurada - uma métrica simples para relatar aos doadores que pode ser verificada de forma independente por imagens de drones ou por satélite avançado e tecnologias aerotransportadas que podem medir como o ecossistema restaurado funciona .

Sinergia entre ciência e conhecimento local

A restauração florestal eficaz depende de uma combinação de compreensão científica, conhecimento e experiência. No caso de Regrow Borneo, o rico conhecimento local nos permite prever a velocidade de crescimento de determinadas espécies, quais espécies fornecem alimento para animais (como orangotangos) e quais são tolerantes a inundações.

Os projectos locais mais eficazes contam com esse conhecimento ao longo de sua vida. Mas incorporar conhecimento em medidas de sucesso para projectos é difícil porque muitas vezes simplesmente não pode ser medido. A exigência de rigor científico nos projectos locais pode levar as comunidades ao abandono desse conhecimento, o que pode reduzir a eficácia dos projectos. O problema é que a ciência precisa se actualizar e projectar melhores maneiras de incorporar esse conhecimento em seus experimentos.Um orangotango bebê espiando atrás de uma árvore em uma floresta tropical em Bornéu.O reflorestamento ajuda a proteger espécies ameaçadas de extinção, como o orangotango. Ignacio Salaverria / Shutterstock


Quem paga?

Os objectivos dos projectos de reflorestamento da comunidade e os dos financiadores nem sempre se alinham, o que pode representar um enorme fardo para a comunidade envolvida. Os financiadores às vezes se concentram em pagar um preço fixo que pode cobrir o plantio de uma árvore - mas não pode cobrir a garantia de que uma árvore saudável floresça. Outros financiadores preocupados com sua reputação buscam garantias em projectos por meio de verificações, certificação e monitoramento, que - embora louváveis ​​- podem não capturar a imagem completa de “sucesso”.

Por exemplo, empresas que queimam carbono podem compensar isso pagando projectos florestais pela quantidade de carbono que armazenam. Em troca, as empresas querem garantias, por isso buscarão projectos certificados de forma independente. As regras de certificação são projectadas para proteger as florestas, mas também podem limitar o acesso local aos recursos e benefícios da floresta. E o custo da certificação e do treinamento do pessoal recai sobre os próprios projectos.

Modelos em que os financiadores coordenam e pagam pelo monitoramento podem ajudar a superar algumas das barreiras financeiras para pequenos projectos. Em Regrow Borneo, até agora tem sido difícil desenvolver um preço viável para reflorestar um hectare saudável, pois nosso compromisso com salários justos, monitoramento do crescimento e substituição de árvores perdidas por inundações ou comidas por macacos pode aumentar seriamente os custos.

Os locais de reflorestamento mais arriscados, como pântanos de turfa ricos em carbono e reservas naturais, envolvem monitoramento frequente da biodiversidade, adicionando custos adicionais e empurrando os preços bem acima da taxa de comercialização do carbono. Cada comunidade tem expectativas salariais diferentes, cada floresta requer recursos diferentes para restaurar, então um único preço por árvore ou por tonelada de carbono é uma expectativa irracional.

Como uma comunidade de restauração, acreditamos em uma mudança de pensamento. Precisamos preencher a lacuna entre financiadores e projectos, reduzindo as barreiras ao financiamento de pequenos projectos. Modelos de financiamento flexíveis e processos de certificação menos rígidos apoiam o desenvolvimento de iniciativas de silvicultura de base comunitária de uma forma mais pragmática. Projectos como Trillion Trees ou Restor, que buscam criar uma rede e financiar projectos comunitários em todo o mundo, são excelentes exemplos de bons modelos de trabalho. Em vez de financiar um milhão de árvores, devemos pensar em financiar um milhão de florestas.

https://theconversation.com/

Autores
  1. Tristram Hales

    Diretor, Sustainable Places Research Institute, Cardiff University

  2. Benoit Goossens

    Professor de Biologia, Cardiff University


  3. Mike Bruford

    Professor de Organismos e Meio Ambiente, Cardiff University

OnlyFans não é apenas pornografia;)

Apesar de todas as afirmações de que o site não é movido por seu conteúdo sexual, a plataforma é sinónimo de pornografia. O que é realmente?

De Charlotte Shane

  • 18 de Maio de 2021
  • Kimberly Kane filmando em casa.

Gia, a Mística Obscura As manhãs de 'se assemelham às de muitas pessoas que trabalham em casa: ela acorda por volta das 6h em seu apartamento ensolarado na região de East Bay, na Califórnia, e pega o telefone. Inevitavelmente, há um acúmulo de mensagens de clientes, a maioria das quais ela responde antes de se levantar para regar as plantas e lavar o rosto. Se for uma sexta-feira, quando ela geralmente grava a maior parte de seu conteúdo semanal - os vídeos JOI (instrução para punheta) são uma de suas especialidades actuais - ela tem que contornar os gritos das crianças brincando em um parque próximo e o barulho do tráfego no cruzamento fora de sua janela. Durante o resto da semana, ela está sentada em sua mesa ao meio-dia, editando, postando e enfileirando seu conteúdo, que varia de vídeos de dança seguros para o trabalho a clipes explícitos de garotos e garotas. Muito do que ela produz é compartilhado no Instagram, Reddit e Twitter. Mas por volta das 18h, ela está “no DMs”, ou seja, suas mensagens privadas no OnlyFans, uma plataforma baseada em assinatura que permite que as pessoas cobrem pelo acesso aos materiais que compartilham. Ela estará lá até a meia-noite, fazendo sexo com clientes cara a cara.

Gia está muito online, mas seus assinantes estão mais online. A cada hora de cada dia, eles e o resto dos 120 milhões de usuários de OnlyFans podem pagar para desbloquear as mensagens directas, bem como postagens escondidas atrás de paredes de pagamento individuais; dica para solicitar conjuntos de fotos personalizados, gravações de áudio e videoclipes; e rolar os feeds de suas assinaturas agregadas para decidir se e com quem eles gastarão mais dinheiro. Gia descreve o ambiente como um clube de strip virtual e, como acontece em um clube de strip real, a maioria dos visitantes não está gastando muito. O custo de assinar uma conta - muitas vezes inferior a US $ 20 - é como um punhado de dólares enfiado na liga de uma dançarina enquanto ela está no palco principal: apreciada, mas não é por isso que ela aparece para trabalhar. Mas alguns clientes gastam milhares, ou até dezenas de milhares, em suas contas favoritas. Vendas de produtos personalizadas e interacções por meio de mensagens e shows de câmara - o equivalente a lap dances e tempo na sala de champanhe - são como o dinheiro real é feito. “Oitenta por cento de sua receita vem de 20% de seus clientes”, disse-me Gia, que atende por um nome artístico. “Aprendi que essa é uma regra de negócios em todos os sectores.”

OnlyFans foi fundado em 2016, embora seu design suave faça com que pareça uma relíquia de uma era mais antiga. Sua interface não é atraente, mas é familiar e fácil de navegar, como uma versão simplificada do Instagram ou do Twitter baseada em navegador. (Um aplicativo de smartphone OnlyFans não existe actualmente; não seria permitido na App Store ou Google Play por causa de seu conteúdo classificado para menores.) Em Dezembro de 2019, a plataforma tinha uma base de usuários de 17 milhões, o que significa que em Em algum momento durante a pandemia, começou a ter em média tantos novos registros por mês quanto no ano anterior.

Outros serviços que facilitam o acesso à ampla gama de média chamada reflexivamente de “conteúdo” também tiveram um crescimento tremendo nos últimos 14 meses. Grandes ganhos no tráfego foram relatados em 2020 para YouTube, Twitch e Facebook Gaming. Mas você não precisa ter 18 anos ou fornecer informações de cartão de crédito antecipadamente para usar qualquer um desses. Em OnlyFans, os usuários podem se inscrever em contas gratuitamente, mas não podem ver nenhuma postagem sem fornecer uma forma de pagamento. Contas gratuitas são onipresentes precisamente porque as informações de faturamento salvas facilitam a conversão de fãs não pagantes em clientes pagantes. Após sua entrada inicial gratuita, você pode começar a gastar com um único clique impulsivo.

Embora os representantes de OnlyFans pareçam distanciar o site de seu conteúdo sexual, a plataforma é sinônimo de pornografia. Seu cachet safado atrai celebridades, cuja presença no site atrai atenção desproporcional. Quando Cardi B ingressou em agosto passado, ela ganhou as manchetes. (“Não, eu não vou mostrar meus peitos”, ela avisou, mas ela prometeu conteúdo dos bastidores de seu picante videoclipe “WAP” com Megan Thee Stallion.) Celebridades usam o site porque sabem que independentemente da carreira declarada do criador (chef, instrutor de fitness e influenciador são populares), o sorteio de OnlyFans é a promessa de ver o que normalmente é invisível. Muitas biografias alertam os assinantes de que a conta anexada não é explícita, mas insiste em sugestões ao contrário. “Isso é o que não mostramos a você”, diz uma postagem trancada de Rebecca Minkoff, uma estilista conhecida por suas bolsas; a legenda é seguida pelo emoji de olhos arregalados e bochechas vermelhas que se pode usar para pontuar, digamos, uma confissão por mensagem de um sonho sexual. Cada afirmação de que o site não é alimentado por pornografia é acompanhada por um ataque de piscadelas e acenos em contrário. Às vezes, as negações e piscadelas vêm da mesma pessoa.

Neste clube de strip virtual, como no clube de tijolo e argamassa, existem grandes discrepâncias nos salários. Alguns artistas saem com US $ 100, enquanto outros vigaristas vão para casa com dez vezes mais. Estrelas pornô estabelecidas que, antes da pandemia, podiam faturar milhares por noite, aparecendo como uma “dançarina especial” de uma boate de strip, desfrutam de um poder semelhante e ainda mais lucrativo em OnlyFans. A atriz, diretora e produtora que atende pelo nome artístico de Kimberly Kane trabalha no pornô mainstream desde 2004 e está desfrutando de um grau comparável de celebridade.

“OnlyFans destruiu completamente todo o dinheiro que eu ganhava antes da pandemia”, disse Kane quando conversamos em abril. “Estou ganhando mais lá do que em qualquer outra plataforma.” Suas reclamações sobre a empresa são inúmeras: a falha do site, a hostilidade implícita na maneira como ele minimiza as contribuições de criadores adultos, a falta de uma função básica de pesquisa. Mas ela enfatizou que "não pode reclamar do dinheiro".

“OnlyFans está comprando casas para meninas”, ela me disse. “Está apoiando as famílias das trabalhadoras do sexo. É tudo o que as pessoas estão dizendo ”. Mas, como a legenda enganosa usada para vender as mensagens bloqueadas de uma celebridade, o que as pessoas dizem pode ser exato, embora falhe em dizer a verdade.

Uma postagem no Instagram de Gia the Smutty Mystic.

Antes da pandemia, Gia era uma escolta independente que trabalhava três ou quatro dias por semana, em vez de seis ou sete. Ela atendeu clientes em seu espaço de trabalho em San Francisco, um estúdio de 48 metros quadrados decorado em tons de blush e azul escuro. Ela o chamou de Portal, por sua capacidade de fazer os visitantes se sentirem transportados “de Anytown, Metropolitan USA” para um “país das maravilhas”. Na maioria dos dias, seu ritual de pré-trabalho consistia em acordar às 4h30, para que ela tivesse a chance de estar na estrada às 5h, dirigindo no escuro de óculos e pijama. Uma vez no apartamento, ela ouviu Minnie Riperton e Funkadelic, preparou-se para seu primeiro compromisso e publicou anúncios. Ela levava seu trabalho a sério porque era o melhor que ela já teve. “Eu fiz muito trabalho assalariado [palavrão]”, ela me disse, “levando pequenos salários para casa por longas horas. Quando tive a oportunidade de fazer isso pela primeira vez,o que fazer o que ? Eu me sinto um talento natural. Eu amo entreter. ”

O negócio estava bom o suficiente para que, em fevereiro de 2020, ela renovasse o contrato por dois anos. O espaço custava US $ 4.000 por mês, e ela se lembra que a administração permitiu que até cinco residentes se alistassem, “provavelmente porque esse é o número de pessoas que geralmente são necessárias para pagar”, disse ela com tristeza. (Gia dividia o espaço com uma amiga, mas era a locatária principal.) Um mês depois, em 9 de março, ela viu o homem que seria seu último cliente pessoalmente. Ela recusou investigações subsequentes, dizendo que pretendia manter um distanciamento social por duas semanas.

Setenta e duas horas depois, esse período parecia menos plausível. Em 12 de março, o mercado de ações despencou para uma baixa histórica, e rumores locais se espalharam sobre um pedido iminente de abrigo no local. Em casa, Gia colocou o “Wizard of Finance” do Parlamento e se filmou dançando em um vestido, depois postou o vídeo no Twitter e disse às pessoas para conferirem seus OnlyFans. Ela se lembra de ter se sentido um pouco dissociada, quase em um estado de sonho, pensando: Lá vamos nós . Ela se deu um dia para sentar-se com seu pânico e depressão. Então, ela decidiu: “Eu tenho que fazer logon e descobrir isso”.

Do ponto de vista econômico, as profissionais do sexo presenciais estavam entre as primeiras e mais duramente atingidas pela pandemia. Semanas antes dos fechamentos oficiais do estado, com as viagens de negócios canceladas e os horários dos voos interrompidos, os clientes cancelaram as reservas com acompanhantes, kink e fornecedores de massagens, enquanto o comparecimento aos clubes de strip diminuiu. Trabalhadores de rua baixaram seus preços e aceitaram homens que recusariam em tempos melhores, já que as moradias que às vezes obtinham em conexão com o trabalho - o quarto de hotel pago em uma data ou a casa oferecida durante a noite - tornaram-se cada vez mais raras. Organizações administradas por profissionais do sexo criaram páginas GoFundMe específicas da Covid já em 11 de março e, em meados de março, havia iniciativas de financiamento específicas para Seattle; Nova york; Portland, Ore .; Austin, Texas; Washington DC; Las Vegas; e Detroit.

OnlyFans era uma rede de segurança mais visíveldo que as coleções de ajuda mútua e ofereceu esperança de apoio de longo prazo. Graças à cobertura de notícias pré-pandêmicas sobre criadores que ganham de cinco a seis dígitos, OnlyFans pretendia oferecer uma renda generosa a qualquer pessoa empreendedora o suficiente para experimentá-lo. Os veteranos do local encontraram sua expertise em alta demanda entre amigos e conhecidos, muitos dos quais eram acompanhantes ou dominatrices recém-desempregados, e alguns dos quais nunca venderam sexo de qualquer forma. Comparado com as vendas de clipes (vídeos com tema adulto filmados, editados e prontos para carregar) e camming (atendendo a solicitações sexuais em tempo real), OnlyFans exige pouco comprometimento inicial. Se você é novo no trabalho sexual, ou decidiu manter a maior parte das suas roupas, você pode se aquecer postando o tipo de selfies tentadoras que muitos de nós compartilhamos gratuitamente nas redes sociais, como fotos de biquínis e fotos de 60 segundos, mal vestidas treinos.

Enquanto isso, milhões de pessoas, principalmente solteiras, se viram isoladas, solitárias e com tesão, sem oportunidades de encontrar parceiros e sair com amigos. Eles inundaram o local com o dinheiro descartável economizado por não comer fora e ir a bares. (Kane me disse que muitos fãs gastam seu dinheiro de estímulo lá.) OnlyFans afirma ter transferido mais de US $ 3 bilhões de receita para seus criadores desde o início do site, e embora não divida esse desembolso por ano ou tipo de criador - o site nem mesmo mantém categorias de conteúdo - parece provável que uma parte significativa foi para profissionais do sexo no ano passado.

Ashley, uma organizadora do SWOP (Sex Workers Outreach Project) Behind Bars, uma rede de justiça social que se concentra em prostitutas encarceradas, enquadra esse fenômeno como uma redistribuição emocionante de riqueza. “Eu conheço 10 ou 15 pessoas trans que ganham mais de US $ 10.000 por mês no OnlyFans”, ela me disse. “E eu nunca conheci mais do que uma pessoa trans ganhando tanto por mês com full-service ou pornografia ou qualquer coisa assim. Está levando as pessoas de mal-domiciliado a ter uma conta poupança. ” Heather Berg, professora da Washington University em St. Louis e autora de “Porn Work”, concorda. “Sites diretos ao consumidor, como OnlyFans, têm sido uma bênção para os trabalhadores de maneiras significativas”, disse ela, que incluem maior autonomia e criatividade, além de mais renda. “Uma das melhores medidas disso é que os gerentes de pornografia tradicionais estão realmente chateados com eles.”

Essas conquistas são resultado da manobra experiente dos criadores e uma convergência de circunstâncias: uma praga global, uma base de consumidores acostumada a fazer micropagamentos espontâneos (pense em uma doação de $ 5 na página GoFundMe de um amigo ou $ 2,99 episódios de programas de TV em streaming) e, talvez, a maioria importante, um mercado despojado. OnlyFans estava perfeitamente posicionado para se tornar a fonte de referência de uma população doméstica para obter material explícito por causa do que é chamado de gentrificação da internet. No contexto do trabalho sexual, isso se refere a um padrão agressivo de policiamento tanto do comércio sexual quanto das pessoas que nele trabalham.

Nos Estados Unidos, esta campanha regulatória pode ser rastreada até a cruzada prolongada e finalmente bem-sucedida do governo federal contra os Serviços Eróticos do Craigslist no início de 2010. Desde então, o FBI e os promotores federais têm sistematicamente direcionado uma série de sites que atendem a profissionais do sexo, particularmente plataformas de publicidade como o Backpage, que fechou em 2018 após um esforço de vários anos do procurador-geral da Califórnia na época, Kamala Harris. Em abril daquele ano, os projetos de lei conhecidos coletivamente como FOSTA-SESTA, que criminalizam ainda mais a comunicação em torno do sexo comercial,foram assinados por Donald Trump. A prevenção do tráfico sexual e a proteção de menores são as justificativas mais frequentes para essas leis e processos judiciais, mas os ativistas rejeitam a alegação de que essas medidas ajudam qualquer pessoa, inclusive menores e vítimas de tráfico. (Há evidências para apoiar seus argumentos. Em 2019, por exemplo, um estudo conduzido por pesquisadores das Universidades de Graduação de Baylor e Claremont descobriu que os anúncios acessíveis do Craigslist permitiam que os trabalhadores se mudassem para dentro de casa e filtrassem os clientes de maneira mais eficaz, o que ajudou a reduzir os homicídios de vítimas femininas em 10 para 17 por cento .)

Esta campanha já havia transformado o estúdio de Gia em seu albatroz antes. Quando ela assinou seu contrato pela primeira vez, em 2018, ela havia sido banida de uma das últimas plataformas de propaganda de acompanhantes por usar, inadvertidamente, um termo em seu perfil que tem uma conotação sexual gráfica, mas bastante obscura. Isso a deixava dependente do Backpage, que estava tão assediado por ações judiciais que havia sido abandonado pelos processadores de cartão de crédito e só podia aceitar Bitcoin como pagamento pelas listagens. “Quando a pandemia aconteceu, foi tudo de novo”, disse ela. “Eu senti como se estivesse me afogando, mas me afogando e tentando fazer parecer quente.” Quando o Backpage fechou, a última opção de Gia foi aprender a si mesma a otimização de mecanismos de pesquisa - rápido.

Vários performers com quem conversei atribuíram seu sucesso no OnlyFans ao tráfego do site, mas isso não é exatamente verdade. A função de pesquisa de OnlyFans é tão inútil que vários sites de terceiros existem apenas para ajudar os usuários a explorar completamente as ofertas da plataforma. Contas explícitas não são exibidas entre os criadores sugeridos na página inicial de OnlyFans ou tweetadas. As trabalhadoras do sexo precisam gerar interesse por conta própria, fornecendo às redes sociais fotos e mensagens atraentes, e isso exige uma quantidade impressionante de trabalho. Se você abrir uma conta OnlyFans, mas nunca a anunciar, não importa se OnlyFans crescer de 100 milhões de usuários para 100 bilhões. Nenhum deles vai te encontrar.

É por isso que Kane, um produtor estabelecido com mais de uma década e meia de cultivo de fãs, viu sua renda disparar durante os primeiros meses da pandemia, enquanto seus amigos acompanhantes com pouco ou nenhum acompanhamento nas redes sociais voltaram a oferecer serviço completo. Os novatos não estão impedidos de acumular uma grande base de seguidores ou desenvolver grupos menores de fãs obstinados, e alguns administram isso bem. Mas atrair admiradores pelo trabalho criado por alguém dobra a quantidade de trabalho necessária para receber qualquer coisa. Como disse Gia: “Cuidamos do nosso próprio marketing, das nossas próprias fotos, dos nossos próprios vídeos, das nossas relações com os clientes. Em outra empresa, isso levaria 10 ou 20 pessoas. ” Cumprir essas funções e aperfeiçoar essas habilidades durante uma pandemia, embora operando sem nenhuma receita, é uma façanha. Ela adicionou: “Eu tenho muito respeito pelas pessoas que fazem pornografia agora. Eu me sinto tão mal por não pagar por pornografia. ”

Usando a mídia social conquistar seguidores é um trabalho árduo em qualquer campo, mas é uma tarefa sisifeana para profissionais do sexo, que são frequentemente banidas das plataformas mais populares - a saber, TikTok, Instagram e Twitter. As trabalhadoras do sexo são até expulsas das plataformas de mídia social quando não estão anunciando ou criando links para seu trabalho. As pessoas com quem conversei muitas vezes acreditavam que seu delito banível era se alinhar abertamente com causas políticas, como se opor ao SESTA-FOSTA ou colocar “No SWERFS” (feministas radicais excludentes das trabalhadoras do sexo) em seus perfis. Uma lista cada vez maior de empresas, por sua vez, do PayPal ao Airbnb, prefere cautela severa ao acreditar que está sendo usada por alguém que poderia ser ou ter sido uma trabalhadora do sexo, independentemente de esse trabalho ser legal e independentemente de a pessoa estar usando a plataforma para esse trabalho.

As camadas de criminalização que cercam o trabalho sexual se acumulam on-line e off-line. Durante décadas, tanto as trabalhadoras do sexo criminalizadas quanto as legais tiveram o acesso caprichosamente negado a contas bancárias, hipotecas e outras infraestruturas econômicas. Essa discriminação é replicada pelos novos pilares de nossa economia cada vez mais sem dinheiro, como PayPal, Square e Stripe. As trabalhadoras do sexo precisam aproveitar ao máximo as condições atuais enquanto duram, apesar de qualquer pavor que possam sentir com a criminalização de seu trabalho. Como Gia me disse: “Com o trabalho sexual, você está sempre esperando o outro sapato cair”.

As posturas das empresas contra as trabalhadoras sexuais às vezes são atribuídas à “moralidade”, mas suas decisões são baseadas principalmente na avaliação de risco financeiro. Custa muito menos sinalizar e banir usuários do que ser publicamente rotulado como um foco de tráfico de pessoas e lutar contra processos federais. Tal tomada de decisão defensiva estava por trás do expurgo das contas de trabalhadoras do sexo pelo Patreon a partir de 2017, quando citou os requisitos dos processadores de pagamento como o ímpeto. Essa expulsão em massa pode ter marcado a primeira onda de transição de criadores adultos para OnlyFans, que foi uma das poucas plataformas compatíveis com pornografia em pé.

Os trabalhadores do comércio sexual digital estão acostumados a diversificar os fluxos de receita em preparação e em reação aos fechamentos, então OnlyFans tornou-se um elemento fixo entre os links das lojas de artistas muito antes da pandemia. Um lucrativo programa de referência ajudou na adoção precoce dentro da indústria. Em dezembro passado, quando Visa, Discover e Mastercard suspenderam o uso de seus cartões no Pornhub depois que um Op-Ed no The New York Times acusou o site de hospedar pornografia infantil, o domínio de OnlyFans no campo de conteúdo adulto gerado por artistas foi ainda mais solidificado .

Visto que os criadores precisam adquirir e converter seu próprio público enquanto produzem seu próprio material, exatamente que serviço OnlyFans oferece? “OnlyFans é um processador de pagamentos glorificado”, disse a pesquisadora, organizadora e trabalhadora do sexo que atende por Danielle Blunt. “Está sendo comemorado por colocar mais dinheiro de volta nas mãos dos artistas e criar um espaço onde os artistas podem possuir e distribuir seu próprio conteúdo, mas eles estão tendo um corte predatório. Este não é um processador civil típico que consome entre 3 e 7 por cento. OnlyFans leva 20 por cento. ” Para as profissionais do sexo, qualquer processamento de pagamento é evasivo, então elas não podem se dar ao luxo de ser exigentes.

A fragilidade do processamento de pagamentos pode explicar por que OnlyFans é tão avesso a discutir a dimensão sexual de seu site. (Os representantes da empresa se recusaram a falar oficialmente para este artigo após saberem de seu enfoque.) A empresa deve contar com o mesmo desvio, eufemismos e negação plausível implausível que muitas trabalhadoras do sexo usam para minimizar os danos da perseguição generalizada. As trabalhadoras do sexo se ressentem profundamente da ausência do OnlyFans de uma função de pesquisa em todo o site e um menu de categorias e tags para navegar, não só porque torna seu trabalho mais difícil, mas também porque parece uma prova de que o site está ansioso para descartá-los inteiramente - como tantos fizeram feito antes. Mas Ashley, a organizadora, presumiu que essa escolha é uma tática astuta para minimizar a responsabilidade legal, mantendo assim o site funcionando. Em outras palavras,

Quando Gia entrou seu “R. e D. fase ”no início do bloqueio, ela“ estava tendo muita insônia ”. Ela estima que passava 80 horas por semana lendo livros sobre marketing empresarial genérico, depois testando e adaptando as aulas às suas circunstâncias. (Hoje, supostos especialistas oferecem aconselhamento, treinamento e promoção específicos do OnlyFans, mas essas opções não estavam disponíveis na época.) Ela também recebeu orientação de uma amiga, a criadora conhecida como Arabelle Raphael, que agora ganha seis vezes mais do que ganhava em OnlyFans antes da pandemia. (Como Kane, Raphael está na indústria pornográfica há anos.) A autoeducação de Gia rendeu grandes resultados desde o início: sua conta OnlyFans começou a pagar sete vezes mais do que antes da pandemia. Mas esse total ainda era menos de um terço de suas despesas mensais, que eram aumentadas pelo espaço de trabalho agora inútil.

As trabalhadoras do sexo, como as influenciadoras mais tradicionais, tendem a se retratar como reservadas e ocupadas, despreocupadas, mas em constante demanda, às vezes literalmente rolando em uma pilha de dinheiro. Berg observou que a “narrativa de empoderamento da década de 2020 não é mais positividade do sexo”, mas sim “arrastando-se para dentro”, e acompanhantes em particular projetam uma vida caracterizada por viagens luxuosas, roupas de grife e outras formas de consumo conspícuo. Esse é o marketing antiquado, feito para convencer os clientes de que o provedor de serviços vale o preço que definiram. É também uma aposta da população marginalizada por respeitabilidade social. “Como posso não aceitar um emprego que paga tanto?” implica em cada captura de tela postada de um saque de OnlyFans - ou, como Berg colocou, “Se eu sou tão explorado, por que estou ganhando mais do que você?” Mas, acima de tudo, disse ela, é uma forma de proteção.

Alguns clientes ficaram tão desconcertados com o vislumbre da realidade econômica de suas trabalhadoras do sexo favoritas durante a pandemia que ficaram fantasmas. Falei com um punhado de funcionários que tinham clientes enviando algum dinheiro, mas muitos me disseram que seus clientes regulares - apesar das mensagens frequentes e solícitas no início - desapareceram na primeira confirmação de dificuldades financeiras. “Eles querem que seu dinheiro seja desejado, mas não necessário”, disse um acompanhante que passa por Alex. “A pandemia pode ter causado danos irreversíveis à ilusão de prestígio que tantas escoltas na internet tentam construir. Os clientes aprenderam coisas que nunca serão capazes de desaprender ”- por exemplo, como pode ser estonteante olhar para a divisão da classe.

É difícil ter uma noção exata do que as pessoas ganham em um ambiente onde o excesso de honestidade pode aumentar a exposição à violência. As classificações de criadores de OnlyFans, indicadas pela posição de percentil, confundem a questão ainda mais porque flutuam com base na quantidade de dinheiro que flui pelo site em um determinado dia e nunca são oficialmente vinculadas a um número. Mas os criadores com quem falei disseram que aqueles no 10º percentil provavelmente ganham pelo menos US $ 1.000 por mês. Se você atingir o 1% mais alto, Kane me disse, "você está ganhando pelo menos 7 a 10 mil". Quando os criadores avançam para o 1%, os números aumentam para cinco ou até seis dígitos mensalmente.

Em OnlyFans, então, como na sociedade em geral, a riqueza está concentrada no topo. Uma porta-voz do site me disse que "mais de 300" criadores receberam "mais de US $ 1 milhão", o que sugere que o site fez milionários de cerca de 0,03% de seus criadores (um status que artistas como Bella Thorne e Bhad Bhabie conquistaram reivindicado). A jusante, uma banda mais ampla, mas ainda estreita, de criadores ganha milhares de dólares em um mês, enquanto a grande maioria tem sorte se vê algumas centenas. Se 10% dos criadores de sites ganham US $ 1.000 por mês ou mais, 90% dos criadores levam para casa menos de US $ 12.000 por ano, pelo que pode equivaler a um emprego de tempo integral.

Para algumas pessoas, US $ 250 a mais por mês é a diferença entre pagar o aluguel e ser despejado, o que torna essa renda indispensável em vez de complementar. Mas OnlyFans simplesmente não pagou o suficiente, e pagou muito lentamente, para ser uma opção viável para muitos. Os fundos de uma venda em OnlyFans levam sete dias para aparecer na conta de um criador, após os quais podem levar de três a cinco dias para serem transferidos para o banco, o que significa que uma pessoa deve ter esse tipo de tempo - e uma conta bancária, e um espaço de trabalho e acesso confiável à internet - para que o site seja viável. A mudança da Web 2.0 para publicidade e comércio digital deixa para trás os mais vulneráveis. Caty Simon, uma organizadora de Whose Corner Is It Anyway, um grupo de ajuda mútua por e para trabalhadoras do sexo de baixa renda, usuários de drogas e inseguras em relação à moradia,

“Grande parte da vida da classe média se tornou virtual”, disse ela, falando também sobre os serviços do governo, como nomeações para vacinas e pedidos de apoio financeiro. Para os membros da organização de Simon, que podem estar lidando com dificuldades cognitivas e falta de familiaridade com a tecnologia, bem como com acesso extremamente limitado a smartphones, “as lacunas de habilidades e recursos são enormes”. Além disso, as representações de OnlyFans como uma plataforma de oportunidades iguais "ignoram o quão completamente esse mercado está saturado".

Independentemente de quantos trabalhadores fizeram a transição para OnlyFans durante a pandemia, “o trabalho sexual em pessoa não parou”, disse Blunt. “Muitas pessoas continuaram a atender clientes pessoalmente, seja por necessidade financeira ou preferência pessoal”. Provedores internos e pessoais frequentemente cobram mais de cem dólares - incluindo até e mais de mil - por uma hora de seu tempo. Apressando-se por assinaturas de US $ 8 e US $ 12 cada, como disse uma acompanhante, "simplesmente não se compara"

Previsivelmente, a tolerabilidade e a lucratividade dos encontros pessoais, para os funcionários, acompanhados de estabilidade financeira. As acompanhantes que puderam tirar alguns meses de folga se sentiram confortáveis ​​com a maneira como voltaram ao trabalho e quantos clientes viram, mas os trabalhadores com menos margem de manobra econômica, mesmo aqueles que anteriormente se sentiam bem com seu trabalho, foram muito menos positivos. Simon disse que os membros de sua organização "definitivamente viram mais casos de abuso e agressão" durante a pandemia e que ela estaria "realmente preocupada" com o aumento da demanda - de acordo com a previsão comum de um retorno ao público ao estilo dos anos 20 vida - significaria para eles. Embora a ausência de negócios para os trabalhadores seja "10 vezes mais perigosa" do que um aumento, a maioria dos membros não está vacinada e os clientes são "geralmente mais arrogantes com os riscos à saúde do que nós".

Non-sex workers tend to see online work as categorically safer than in-person work, but it’s more accurate to say that online work entails different types of threats. The New York Post’s December outing of a local paramedic as an OnlyFans creator is one example of how senselessly cruel (and high-profile) consequences can be; the woman was a private citizen whose actions were of no discernible public interest, yet the paper elected to devote an entire article to her legal name, pictures and social media handles. Stigma against sex workers remains an injurious force, and being already out doesn’t inure one from familial strife or social conflicts. One sex worker I spoke with who lives alone had a “fan” show up at her front door. Another said her family was “destroyed” after a member took issue with something she posted on OnlyFans. “To be visible in an online ecosystem that wants your erasure opens you up to a whole host of risks,” said Blunt, who is troubled by the ways sex workers are losing “the ability to stay anonymous.”

Depois de mais de um ano de esforço sustentado, Gia está entre os 0,5% principais dos ganhadores de OnlyFans, embora ela confirme que as flutuações do número podem ser tão discordantes com seus lucros que parece "arbitrário". Desde que pagou para cancelar o aluguel de seu espaço de trabalho em julho, ela arrecadou o suficiente para cobrir suas contas, e seus últimos dois meses foram tão lucrativos que sua renda se equiparou ao que era antes da pandemia. Ela até investiu em uma cadeira ergonômica, “que custa mais do que você pensa!” Ela está orgulhosa de como ela conseguiu aprender novas habilidades em duas ocasiões distintas de alto risco: “Eu sinto que tenho algum controle sobre minha situação e não como se eu tivesse que viver à margem. Eu poderia realmente aplicar isso a alguns outros negócios. ” Por mais adequada que fosse para o trabalho pessoal, e por mais que pagasse, ela não tem planos de voltar.

Seus fãs, e os fãs de Kimberly Kane, e os fãs de outros 1%, provavelmente não abandonarão seus artistas preferidos simplesmente porque eles tomaram uma vacina ou começaram a trabalhar em um escritório novamente. “Tenho uma ligação muito estranha com muitos dos meus fãs que estão comigo desde a pandemia”, disse Gia, que postou diários em vídeo no início da pandemia, nos quais checava (e mostrava) seus seguidores. “Tornou-se uma constante para eles. E se tornou uma constante para mim também. Eles cresceram comigo conforme eu descobri. ” Os clientes do OnlyFans com quem conversei esperavam que as assinaturas fossem um pilar em seu orçamento futuro, porque se sentiam conectados a certos artistas e viam o pagamento por pornografia como um ato ético. Mas a maioria previu gastar menos no local à medida que a pandemia acalma.

As profissionais do sexo sabem que suas épocas de ouro são momentos de ouro, e é por isso que aproveitam ao máximo uma oportunidade enquanto ela existe. “Não há dias de folga na pornografia”, diz Kimberly Kane, que separa a terça-feira como o único dia da semana em que ela fica mais longe do site, embora ainda assine para postar selfies. Ela tenta não ficar on-line até tarde da noite, mas é difícil cumprir seus limites: “Sabemos que, se não estivermos no ar, vamos perder aquele dinheiro”. E esse dinheiro não existirá para sempre.

“OnlyFans não vai durar, mas é um inferno de uma viagem,” ela me disse. “Eles vão tirar isso de nós, assim como fazem com tudo o mais. É só uma questão de tempo."


Charlotte Shane é uma escritora e editora que co-fundou a TigerBee Press, com sede no Brooklyn, em 2015. Ela lançou um livro de memórias epistolar, "Prostitute Laundry", no mesmo ano, bem como uma coleção de escritos mais antigos intitulada "NB"

Uma versão deste artigo foi publicada em 23 de maio de 2021 , na página 52 da Sunday Magazine com o título: A Web of Intimacy .

https://www.nytimes.com/2021/05/18/magazine/onlyfans-porn.html?action=click&module=Editors%20Picks&pgtype=Homepage

O composto de turfa deve ser banido - felizmente, alternativas verdes são tão boas para o seu jardim.

A turfa tem sido um ingrediente básico dos compostos vendidos nos centros de jardinagem britânicos desde 1960, embora não seja realmente tão nutritiva para as plantas. A razão pela qual esse gramado esponjoso é cobiçado pelos jardineiros é que ele pode reter água e ar e geralmente está livre de pragas e doenças. Isso torna a turfa o ambiente perfeito para as sementes germinarem e estabelecerem raízes fortes.

Mas poucos percebem que o composto de turfa que as pessoas compram a cada Primavera para seus jardins leva milhares de anos para se formar. Extraída de pântanos, pântanos e pântanos, a turfa é os restos parcialmente decompostos de plantas e animais antigos. As turfeiras na Europa contêm cinco vezes mais carbono do que as florestas e a turfa perturbadora para a agricultura ou a colheita para compostagem libera CO₂ para a atmosfera, acelerando as mudanças climáticas.

Tratores escavando turfa de dentro de uma cratera de pântano.Turfa extraída de um pântano na Irlanda. Kevin Foy / Alamy Foto de stock

O governo do Reino Unido planeia proibir o uso de turfa entre jardineiros amadores até 2024 . Originalmente, esperava que os centros de jardinagem na Inglaterra parassem voluntariamente de vender produtos à base de turfa até 2020. Mas a turfa é um recurso barato e trocá-la por composto feito de alternativas faz pouco sentido financeiro para essas empresas sem regulamentação vinculativa. Como resultado, a turfa ainda representa cerca de 35% de todas as vendas de composto - um aumento de 9% apenas em 2020.

Com a proibição proposta e a promessa de restaurar 35.000 hectares de turfeiras em todo o país até o ano seguinte, os lojistas não podem mais atrasar a transição para o composto livre de turfa. Felizmente para os consumidores de dedos verdes, as evidências sugerem que um composto mais ecologicamente benigno ainda pode manter os jardins florescendo lindamente.

Misturas de composto sem turfa

A pesquisa para encontrar substitutos para a turfa começou na década de 1970, quando as consequências ambientais da destruição das turfeiras começaram a atrair preocupação no Reino Unido. A primeira geração de alternativas de compostagem era geralmente feita de resíduos que haviam sido compostados, como grama e aparas de árvores de parques e jardins (conhecidos como resíduos verdes), subprodutos do processamento de alimentos, como grãos usados ​​de cervejaria e estrume animal.

Esses compostos eram inconsistentes por uma série de razões. As misturas eram frequentemente alteradas de um ano para o outro, dificultando a adaptação dos jardineiros. Muitos continham níveis mais elevados de nutrientes do que o necessário para algumas plantas e a estrutura física de algumas alternativas era bastante diferente da turfa, tornando necessário alterar o regime de rega das plantas, o que era confuso para jardineiros amadores. Na época, esses compostos eram vendidos principalmente no sector de varejo para o público em geral, decepcionando muitos que estavam acostumados a trabalhar com turfa. Isso promoveu uma resistência duradoura às alternativas de turfa.

Pesquisas mais recentes lideradas por fabricantes, cultivadores profissionais e consultores revelaram uma nova geração de compostos. Diferentes materiais - especialmente casca, madeira e fibra de coco - podem ser misturados para formar compostos que têm um desempenho tão bom quanto a turfa . Essa nova fase de pesquisa examinou de perto como os diferentes materiais interagem nas misturas e levou os fabricantes a reduzir a quantidade de lixo verde que usam, que tende a variar em qualidade.

Um saco branco cheio de folhas e galhos.Resíduos verdes foram um substituto para a turfa na maioria dos primeiros compostos alternativos. Ellyy ​​/ Shutterstock

Um projecto testou essas diferentes misturas de casca, coco e fibra de madeira e descobriu que essas misturas poderiam substituir efectivamente a turfa em tudo, desde a semeadura de sementes até o cultivo de plantas jovens e maiores estoques de viveiros ornamentais e frutas macias. A análise detalhada da capacidade de cada material de reter água e ar nas proporções necessárias - bem como sua capacidade de drenagem - revelou uma fórmula que pode prever o desempenho de diferentes materiais em qualquer mistura, ajudando os fabricantes a desenvolver compostos de qualidade confiável.

Embora a maior parte das pesquisas recentes envolvam testes de desempenho de misturas sem turfa em viveiros de plantas comerciais , não há razão para que os jardineiros amadores não tenham o mesmo nível de sucesso.

Novas misturas de compostos sem turfa já estão disponíveis nos centros de jardinagem. A New Horizon, uma mistura de argila e fibra vegetal, superou as vendas de muitas marcas à base de turfa . Infelizmente, apenas um em cada 20 lojistas anunciou planos para eliminar a turfa em suas lojas neste ano.

A renovação da pressão do governo e o aumento da conscientização do consumidor podem levar a uma acção mais ampla. Um novo esquema de abastecimento responsável dentro da indústria de horticultura ajudará a garantir que as novas misturas de composto atendam aos padrões de sustentabilidade acordados em seu abastecimento e fabricação. O cenário está armado para que os sacos de composto à base de turfa desapareçam dos centros de jardinagem, mas a transição para uma jardinagem sem turfa dependerá de os jardineiros compartilharem suas experiências de como obter os melhores resultados possíveis com novos produtos sem turfa.

https://theconversation.com/

Autores
  1. David Bek

    Reader in Sustainable Economies, Coventry University

  2. Margi Lennartsson Turner

    Professor Associado de Horticultura, Coventry University

terça-feira, 18 de maio de 2021

O amigo excelente.

A teoria corrente é a de que Costa e Cabrita são muito amigos. Por isso é que Costa elogia e não despede Cabrita. Não me convence. Quem é que faz isto a um amigo?

    No passado dia 8, o Presidente da República promulgou a Carta Portuguesa de Direitos Humanos na Era Digital. No dia 12, na Assembleia da República, António Costa diz, “tenho um excelente Ministro da Administração Interna”. Por quatro dias, o PM tramou-se. É preciso ter azar.

    É que o Artigo 6.º da Carta, “Direito à protecção contra a desinformação”, estipula que “o Estado assegura o cumprimento em Portugal do Plano Europeu de Acção contra a Desinformação, por forma a proteger a sociedade contra pessoas singulares ou colectivas, de jure ou de facto, que produzam, reproduzam ou difundam narrativa considerada desinformação”, definindo desinformação como “toda a narrativa comprovadamente falsa ou enganadora criada, apresentada e divulgada para obter vantagens económicas ou para enganar deliberadamente o público, e que seja susceptível de causar um prejuízo público, nomeadamente ameaça aos processos políticos democráticos, aos processos de elaboração de políticas públicas e a bens públicos”.

    Ora, se há alguma narrativa que podemos classificar como comprovadamente falsa, apresentada para enganar deliberadamente o público e susceptível de causar um prejuízo público, através de uma ameaça, quer aos processos políticos democráticos, quer aos processos de elaboração de políticas públicas, quer aos bens públicos, é a afirmação de que Eduardo Cabrita é um excelente ministro. É evidente. Eu sei isso. O leitor sabe isso. Toda a gente sabe isso. O próprio Cabrita sabe isso. Em sua defesa, Costa dirá que é uma opinião, mas as leis que instituem este novo tipo de censura borrifam nisso. A verdade é que Costa impinge uma “narrativa” que é “falsa” e causa “prejuízo público”.

    O perigo para o país é incontestável. Se calha alguém acreditar no Primeiro-Ministro, as consequências podem ser terríveis. Imaginemos que outro ministro toma por verdadeira a análise de António Costa e pensa: “Olha, pelos vistos o Chefe aprecia o tipo de trabalho efectuado pelo Eduardo. Deixa cá imitar.” Que resultado havemos de esparar de um Governo pejado de nabos? Podemos dar-nos ao luxo de replicar cabritices no Conselho de Ministros? Quantos Cabritas aguenta Portugal?

    Eduardo Cabrita tem muitas características enquanto ministro. A excelência não é uma delas. Com toda a boa-vontade que António Costa me merece, é impossível concordar com ele. Nenhum sentido da palavra “excelente” se adequa à forma ministerial de Cabrita. E são muitos. Segundo a definição do Dicionário da Academia das Ciências de Lisboa, “excelente” pode ter 8 significados:

    1. “Que é de muito boa qualidade, superior; que é dotado de excelência”. Não se aplica.

    2. “Que é o melhor possível”. Também não.

    3. “Que tem bom carácter; que é dotado de boas qualidades, de excelência”. Idem.

    4. “Que está apurado, perfeito; que é perfeito, refinado”. Pois.

    5. “Que se avantaja ao comum ou usual”. Calma, não é avantajado nesse sentido.

    6. “Que é agradável em extremo”. Acho que não corremos o risco de Cabrita cair neste extremo em particular.

    7. Que é considerado o mais favorável em relação a determinado critério”. Nem esta indeterminação ajuda Cabrita.

    8. O que é óptimo, muito bom”. Julgo que estamos conversados.

      Ainda tentei dar o benefício da dúvida ao Primeiro-Ministro. Podia ser que a sua célebre dificuldade de dicção nas sibilantes – que o faz soar como um natural de Viseu a comer um folhado de salsicha (ele diria “salchicha”) – o tivesse levado a pronunciar mal “Ex-excelente”. Só que, em primeiro lugar, o “excelente” coincide com o que Costa costuma dizer sobre Cabrita. Em segundo, mesmo “Ex-excelente” continuaria a ser uma peta: Eduardo Cabrita nunca chegou a ser um excelente ministro.

      Portanto, o fact check é claro. À pergunta “António Costa tem razão quando diz que tem um excelente Ministro da Administração Interna?”, depois de analisados os factos, de acordo com o sistema de classificação do Zé Diogo, a resposta é “Eh, pá, não! Não, não, não! Não, mesmo! NÃO!”

      Sei que a classificação de “Eh, pá, não! Não, não, não! Não, mesmo! NÃO!” só é usada para aldrabices especialmente notáveis, mas esta correcção não ia lá com um simples “não”. Cabrita não é “excelente”. Mesmo “ministro” parece já não ser muito.

      O que leva António Costa a proferir uma impostura desta dimensão? A teoria corrente é a de que Costa e Cabrita são muito amigos. Por isso é que Costa elogia e não despede Cabrita. Não me convence. Quem é que faz isto a um amigo? Eduardo Cabrita é gozado por toda a gente, ninguém o leva a sério. Quando Costa diz que ele é um excelente ministro, os portugueses riem-se. Se Costa fosse verdadeiramente amigo de Cabrita, poupava-o ao embaraço. Remodelava o Governo e arranjava-lhe um tacho mais resguardado, longe dos holofotes que iluminam cruelmente a sua, digamos, excelência. É possível que as pessoas achem que Costa é amigo de Cabrita porque Costa um dia disse que é amigo de Cabrita. Tal significará apenas que Costa se baralha tanto com a definição de “excelente”, como com a definição de “amigo”. Não é só com a dicção que António Costa tem uma relação complicada, é também com a dicionarização. (E, aposto, com a dicção de “dicionarização”).

      Agora, o povo português tem de se proteger desta clara violação do Artigo 6.º da Carta Portuguesa de Direitos Humanos na Era Digital. A desinformação é patente, o prejuízo é óbvio. O Primeiro-Ministro ludibriou-nos. Podemos confiar no sistema para o punir? Duvido. Felizmente, a própria Carta prevê esta situação e oferece-nos uma alternativa. O Artigo 13.º, “Direito ao esquecimento”, garante a todos “o direito de obter do Estado apoio no exercício do direito ao apagamento de dados pessoais que lhes digam respeito”. É esperar que Eduardo Cabrita, para evitar o enxovalho recorrente sempre que alguém lembra as declarações de António Costa, peça para as eliminar da memória pública. Então sim, Cabrita será excelente.

      José Diogo Quintela – Observador