segunda-feira, 15 de agosto de 2022

Lítio

Mas afinal, quais são – na óptica dos ambientalistas – os impactos associados à exploração de Lítio? Os opositores à extracção alegam os seguintes problemas:


Visuais –
O desmonte a céu aberto vai levar à descaracterização da paisagem e provocar impactos visuais pelo contraste entre a área explorada e o meio envolvente;


Na morfologia do terreno –
o desmonte altera a morfologia com a abertura das cortas;


Alteração do da ocupação e uso do solo –
que era agrícola e florestal e que passará a ter uso extractivo;


Sociais –
decorrentes da alteração das actividades económicas existentes (agricultura, floresta);

Contaminação dos solos por derrames de combustíveis e óleos lubrificantes devido à circulação de equipamentos;

Mas a lista de problemas detectados pelos ambientalistas não termina aqui. Falam ainda em malefícios como:

A deposição de resíduos (baterias, pneus, óleos usados) colocados indiscriminadamente no terreno;


Hidrologia de Superfície –
alterações nas linhas de água pelas depressões associadas à exploração do minério. A escavação altera o normal escoamento das linhas de água;

Depósitos de terras colocados na envolvente das linhas de água podem provocar a sua obstrução pela erosão, levando à deposição dos sedimentos nos vales;


Hidrologia subterrânea –
interferência nos circuitos hidráulicos subsuperficiais e rebaixamento de poços e captações;

Qualidade das águas afectada pela infiltração e percolação de derrames de combustíveis e óleos;

Acumulação de resíduos industriais;

As escombreiras atravessadas pelas águas da chuva podem provocar contaminação física com o aumento das partículas em suspensão.

https://jornaldiabo.com/destaque/litio-divide-ambientalistas-e-empresas/

O PSD tem de renegar Rio

O PS vive da satisfação imediata dos desejos dos seus dirigentes e da meia dúzia de amigos nos negócios subsídio-dependentes do Estado. Só tiram, nunca dão nada em troca ao país. Em quase 20 anos de poder neste século, após tantos impostos que nos cobraram, tanta dívida pública que geraram em nosso nome e tantas ajudas que receberam da Europa para nos desenvolverem, nada têm para mostrar.

No PS são incapazes de governarem por objectivos ou ter uma visão estratégica a favor da população. Nunca planeiam nada, nem corrigem nenhuns erros. Nunca se preparam antecipadamente para períodos económicos internacionais negativos durante os positivos. Agora, sem surpresas, tudo vai piorar ainda mais: estamos num novo ciclo de recessão e inflação mundial. O BCE vai ter de aumentar os juros da gigantesca dívida pública que o PS tem gerado a favor de si próprio e dos amigos. Assim, voltaremos exactamente à mesma situação económica aflitiva em que a imprevidência e nepotismo costumeiro no PS nos deixou com Sócrates. Um próprio Ex-líder do PS denunciou, de forma clara e corajosa, a mistura no PS socrático-costista-pedro nunista da política com falsos negócios que arruínam as vidas dos portugueses.

Rui Rio, no PSD, nunca percebeu – ou não quis perceber – a gravidade de tudo isto e a enorme responsabilidade que tinha de combater tamanha irresponsabilidade socialista. Agora que Luís Montenegro tomou posse como líder do PSD, vemo-nos finalmente livres do mais fraco líder da oposição de sempre em Portugal. Rui Rio foi praticamente um capacho do PS enquanto criticava dentro do PSD figuras com feitos muito maiores, como Passos ou Cavaco. Após cerca de seis anos à frente do maior partido da oposição, Rio pouco ou nada tem para mostrar, se não uma deplorável ausência de oposição ao PS e várias derrotas. Montenegro, para ser um excelente líder da oposição que conquiste finalmente o poder ao PS tem de ser exactamente o oposto de Rui Rio. O PSD tem de honrar o desenvolvimento económico Cavaquista e as reformas Passistas, mas repudiar e demonstrar ter vergonha da inacção de Rio na oposição. Isto para poder finalmente voltar a triunfar e ajudar Portugal a prosperar na Europa. Não pode haver mais qualquer complacência ou sonolência na oposição com a corrupção socialista iniciada por Sócrates.

Rio deixou que o juntassem à propaganda dos jornais e canais de televisão que recebem muitos milhões do Estado da cortesia do PS para mentirem que a culpa do estado da nossa economia era e é do Passos. Isto quando nunca foi. Passos, ao contrário de Costa, era um homem honesto e reformista e, ao contrário de Rio, servia Portugal, sem nunca compactuar com o PS socrático.

Rio às vezes parecia mais ao serviço de Costa e da narrativa de propaganda deste do que de Portugal, contribuiu para deixar pôr as culpas da emigração e da falência económica de Portugal no inocente Passos Coelho, que nunca pediu para cá ter a “troika”, nem se tivesse gerido antes da “troika” esta teria cá vindo. Isto porque Passos geriu bem, fez verdadeiras reformas, que apesar de duras eram necessárias e exigidas pelos credores que nos salvaram da bancarrota socialista e teve contenção nas contas. Além disso, vive credivelmente na modesta Massamá em vez de inexplicavelmente em apartamentos luxuosos no centro de Paris e Lisboa, como os socialistas despesistas que trouxeram “troika” e empobreceram significativamente ou afugentaram de Portugal desde então a maioria dos portugueses. Todos os partidos de centro e direita percebem isto. Muitos reconhecem o trabalho hercúleo que Passos teve para corrigir as consequências da festa irresponsável e corrupta socialista. No entanto, ingratamente, Rui Rio ficou do lado do Costismo e do Socratismo e dos “media” que os defendem porque subornados, sempre contra Passos. Como se isso não bastasse, Rio agora até contra Cavaco é, pondo “likes” na propaganda de comentadores apadrinhados pelo PS contra o PSD. Porquê? Por incapacidade ou algo pior? Será possível ser mesmo tão genuinamente complacente como Rio foi perante todo o mal que o PS fez a Portugal? Rio ajudou a esconder o mal que o PS fez a Portugal de 2005 a 2011, pondo as culpas no inocente Passos pela vinda e consequências da “troika”. Depois continuou a ajudar tal mal, de 2015 até 2022, não fazendo oposição credível ao PS. Agora parece até renegar o crescimento económico propulsionado pelos governos de Cavaco Silva de 1985 a 1995, preferindo a actual estagnação socialista e continuação do esbanjamento sem retorno da festa socrática-costista-pedro nunista. Porquê?

A responsabilidade das bancarrotas sucessivas de Portugal sempre foi do PS misturar a política e o dinheiro do Estado com meia dúzia de negócios. Rio nunca quis combater essa evidência com garra patriótica.

A inacção de Rio começou e acabou num ponto tal que, com toda a sinceridade, não sabemos se aconteceu por tremenda incapacidade e inabilidade do próprio, ou se por algo mais sinistro e cúmplice do pântano socialista. Esperemos que Rui Rio nunca aceite uma nomeação de Costa para uma posição pública nacional ou internacional. Rui Rio foi sempre a melhor maneira de Costa nunca ser questionado acerca de nunca fazer nada por Portugal, nem reformar nada para nos fazer convergir com a Europa.

Seja por timidez seja por servitude, custou muito a Rio denunciar veemente os muitos erros e mentiras sucessivas de Costa, desde os fogos em 2017 ao desabar do SNS durante a pandemia, passando pelo controlo da Justiça no caso do procurador europeu com currículo falsificado pelo Governo e novas festas socráticas na energia com Galamba. Fugiu de questionar Costa no Parlamento, acabando com os debates quinzenais com o primeiro-ministro. Não fazendo nem deixando fazer oposição aos outros partidos. Tratava mal e sem educação os antecessores e colegas mais competentes e aguerridos no PSD e mostrou enorme ingratidão malcriada para com as reformas de Passos e os feitos económicos de Cavaco. No entanto, e paradoxalmente, adulava o incompetente Costa e os ministros e secretários de Estado “boys” socialistas sociólogos, vindos da JS, invocando “boa educação” e “oposição responsável”. Pelo contrário, foi péssima educação e irresponsabilidade de Rio perante a pátria não fazer oposição ao PS quando esta foi mais necessária do que nunca. Foi, assim, cúmplice passivo da destruição das reformas e avanços de Passos em muitas áreas, desde as metas fiscais às nomeações por competência técnica.

Em conclusão, a subserviência de Rio disfarçada de boa educação a favor de Costa foi despropositada; uma muito má educação e uma traição contra não só os portugueses residentes no território nacional, mas contra o milhão de portugueses emigrados por causa do Socratismo e do Costismo.

Pedro Caetano

https://jornaldiabo.com/destaque/o-psd-tem-de-renegar-rio/

Mais uma inexplicável vulnerabilidade estratégica do Ocidente Alargado

Taiwan domina a oferta mundial de chips de alta tecnologia – não é de admirar que os EUA estejam muito preocupados…

Existem peculiaridades nesta curta visita de Nancy Pelosi à Ilha Formosa assim designada pelos navegadores portugueses – que chegaram ao Sudeste Asiático em 1513 e estabeleceram na ilha, em 1600, um entreposto comercial, em pleno período dos Filipes. Hoje, a ilha é conhecida como Taiwan.

De facto, esta ilha tem sido praticamente em todos os aspectos independente da China. Os primeiros chineses que nela se instalaram fizeram-no apenas no século XIV, povoando tão só o seu litoral sul. As populações indígenas que lá viviam viram-se acantonadas no século XVII, por acção de mais gente Han vinda da China. Desde finais do século XIX, quando foi colonizada pelo Japão, que não é, de facto território chinês, muito embora tenha sido amparo dos nacionalistas, comandados por Chiang Kai-Shek aquando da sua fuga da China, da qual era Presidente, no seguimento da revolução comunista liderada por Mao Tse Tung, que acabou por o afastar do poder, no final dos anos quarenta do século XX. Mais tarde, na ilha que nunca aceitou a liderança de Pequim, Chiang Kai-Shek conduziu Taiwan, como Presidente entre 1950 até 1975. Em boa verdade, a China continental, tanto a imperial como a republicana, nunca foi a entidade soberana de Taiwan, limitando-se a colonizá-la com camponeses. Mas quer sê-lo. Lá chegaram primeiro os Espanhóis e depois os Holandeses, em 1641, um ano depois da nossa Restauração. Em 1661 a China regressou à Formosa, reiniciando um processo lento de colonização agrícola e comercial. Historicamente o domínio do Império do Meio sobre a Formosa foi sol de pouca dura: em 1895, a colónia de camponeses Han foi cedida ao Japão, depois da sangrenta Guerra Sino-Japonesa. E em 1949, foram os nacionalistas provenientes de Pequim quem a declarou como sua, depois da barbárie da Segunda Guerra Mundial e do abandono/expulsão de Tóquio e da Grande Esfera de Co-Prosperidade Leste Asiática. Um curto mas extenso império marítimo japonês que o Imperador Hiroito logrou impor numa enorme região que ia de Sri Lanka à Birmânia, a Singapura, a Macau, às Filipinas, a Hong-Kong, à Manchúria, a Nanking, à Indonésia e a Timor. Chegou finalmente Chiang Kai-Shek. Então sim, passou a haver e há governo em Taipé, a capital.

Mas falemos do presente. Da polémica e curta visita a Taiwan de Pelosi, é forçoso dar o devido relevo a uma reunião muito especial. Uma reunião cuidadosamente preparada e à qual não foi dado, com intencionalidade propositada, o destaque necessário. Tratou-se de uma discreta reunião de Nancy Pelosi com Mark Lui, presidente da Taiwan Semiconductor Manufacturing Corporation, mundialmente conhecida por TSMC. O que teve água no bico, como iremos ver.

A TSMC sedia só e mais nada a maior e mais avançada fábrica de chips semicondutores do mundo, cuja sede e principais operações se localizam no Hsinchu Science Park, Taiwan. Curiosamente, a TSMC é a primeira fábrica a produzir os tão essenciais chips de 5 e 7 nanómetros, com várias aplicações digitais conhecidas de que é exemplo o microprocessador Apple A14. Diga-se em abono da verdade que estamos em presença do maior fabricante de chips do mundo.

De facto, não terá sido por mero acaso que esta viagem da Presidente da Câmara dos Representantes dos EUA e terceira figura da hierarquia do Estado norte-americano – caso desapareçam o Presidente e a Vice-Presidente fica ela com o cargo – acabou por coincidir com os esforços dos Estados Unidos para persuadir a TSMC (da qual os EUA e todo o ocidente são fortissimamente dependentes) a construir um centro de produção em solo americano e a solicitar que seja interrompida a exportação de chips mais evoluídos destinados a empresas da China (designadamente os chips mais avançados da produtora de ponta, a Intel).

Não? Sim. O próprio Congresso dos EUA, contrariamente ao que é habitual, aprovou recentemente o “CHIPS and Science Act ”, que prevê subsidiar em US$ 52 biliões o fabrico de chips em território americano, apenas com uma condição importante: as empresas subsidiadas devem comprometer-se a não exportar semicondutores da última geração para empresas chinesas. A intenção foi clara e Nancy Pelosi levou a Carta a Garcia.

O apoio norte-americano a Taiwan que inicialmente se terá fundamentado na oposição às teorias geopolíticas do Heartland de que são exemplo os escritos de Halford Mackinder (no seu terceiro modelo, escrito em 1943 e

apresentado com a devida pompa e circunstância na London School o Economics, onde ele era professor e da qual tinha sido um dos Fundadores). Tratou-se de um modelo que referia tão simplesmente que “quem dominar o Heartland dominará, the Island World e, daí, dominará o mundo”. Descodificando: para Mackinder o Heartland era o enorme continente Eurásia rodeado de tudo o resto (que ele apelidou de the Island World), de algum modo cartografando uma nova complexidade de uma interdependência global num novo quadro geopolítico, cuja compreensão tinha como essencial para o Reino Unido manter um Império Britânico em descalabro. Não teve sucesso.

Assim, e por oposição às teorias baseadas no poder continental, centrífugas por natureza, os EUA professaram desde sempre, apenas com exceção do período em que foi seguida a Doutrina Monroe do isolacionismo anti-europeu, essencialmente as teorias geopolíticas de Nicholas Spykman, um professor em Yale que, curiosamente morreu no mesmo ano de 1943, teorias essas que advogavam, não o controlo de continentes, mas antes um bloqueio às potências do Heartland através do domínio de um cordão contínuo de ilhas e países ribeirinhos a que na nomenclatura geopolítica se atribui a designação de “Rimland” (o rebordo). Aí houve algum sucesso. Esta postura esteve sempre na origem das intervenções norte-americanas na Ásia e mesmo na Europa, com destaque para a Coreia o Vietnam, o Reino Unido, o Hawaii, Guam, o Japão, e a Indonésia. O controlo do mundo dependeria, nesta nova perspetiva, dos bloqueios marítimos e não do domínio dos continentes. Taiwan, desde 1949, e da criação da República Popular da China, tornou-se chave.

Contudo, nos últimos anos, a autonomia de Taiwan tornou-se em algo mais, num verdadeiro interesse vital para os EUA, não apenas em virtude da prossecução das teorias geopolíticas de contenção das potências ditas continentais, mas também e sobretudo porque é nesta ilha que se produz a maioria dos semicondutores, dos quais a nossa sociedade hoje e cada vez mais digitalizada tanto depende. Os semicondutores – comummente designados por chips, são hoje parte integrante de praticamente todos os atos das nossas vidas quotidianas. Do uso dos mais pequenos eletrodomésticos, passando pelos nossos automóveis, computadores, sistemas bancários, bitcoins, sistemas de acesso às redes de dados, ou seja praticamente tudo que nos permite viver a vida a que estamos habituados e de que não queremos, de forma alguma, abdicar.

Além disso estão na base da tecnologia que permite produzir as mais letais, mais precisas, mais modernas e mais inteligentes e sofisticadas armas militares. Caças de interceção das da 5ª e da 6ª geração de que é exemplo o projeto “New Geneation Air Defense” (NGAD), novos carros de

combate, munições inteligentes, domínio aeroespacial, redes de satélites com capacidade para rastrear armas hipersónicas e muitas outras novidades tecnológicas, apenas passíveis de produzir tendo acesso sem restrições aos mais avançados chips. A Internet 5G e mesmo os novos projetos 6G permitirão que uma gama multifacetada de dispositivos, se e quando lograrem ligar-se entre si, assentes em sistemas de baixíssima latência (aquilo que muitos autores vêm designando por “the Internet of Things”, a Internet das Coisas).

E não é que a coisa resulta? No domínio estritamente militar tal tem vindo a provocar uma verdadeira revolução, uma nova geração de sensores e armas completamente ligadas em rede e com capacidade de resposta muitas vezes autónoma e baseada em sistemas dotados de inteligência artificial.

O problema é que as decisões de décadas atrás estão agora a provocar efeitos nefastos.

Nem tudo que a globalização e a consequente deslocalização de tecnologias de ponta para locais onde abundava a mão-de-obra barata foram vistas como, e foram mesmo, vantagens. No curto prazo proporcionaram às empresas de ponta do Ocidente vultuosos lucros e a nós consumidores o acesso a bens tecnológicos a preços muito competitivos. No médio e longo prazo e porque o desenvolvimento económico nem sempre significa o caminho mais seguro para sociedades livres, tolerantes e democráticas, acabou por nos criar vulnerabilidades estratégicas que deveriam ter sido previstas por quem teve a responsabilidade de nos liderar nesses momentos em que se pensou que a globalização era o remédio para todos os problemas do mundo, incluindo a erradicação das ditaduras! No curto prazo, sim, mas nada de mais errado nos longo e médio prazos.

Infelizmente foi, e os decisores só agora, demasiado tarde, se encontram a tentar corrigir o erro. O neoliberalismo económico falou mais alto e de momento trata-se sobretudo de mitigar os problemas que poderiam e deveriam ter sido previstos e consequentemente evitados.

As empresas de investigação e desenvolvimento de chips dos EUA, de que torno a destacar a Intel, só muito tarde se aperceberam da terrível dependência das cadeias de abastecimento asiáticas para a produção deles, incluindo os mais avançados. Sem querer pecar por reducionismo economicista, mas para ser mais preciso: Taiwan, sozinha, representa 63% da produção de mundial de chips, e a TSMC cerca de 53%. Já se percebeu e citando o Relatório do Governo dos 100 dias de Joe Biden que “Os Estados Unidos são fortemente dependentes de uma única

empresa – TSMC – para produzir seus chips de ponta”. O facto de que apenas a TSMC e a Samsung da Coreia do Sul serem as entidades capazes de fabricar os semicondutores mais avançados, argumentou o Presidente norte-americano, “coloca em risco a capacidade de suprir as necessidades atuais e futuras de segurança nacional e toda a infraestrutura crítica dos EUA”.

Ao que parece a política de uma só China até agora não contestada por Washington poderá ter os dias contados! A simples ideia da China se reunificar com Taiwan, no curto prazo, põe a administração norte-americana com os cabelos em pé. Muito embora no Comunicado de Xangai de 1971 e na Lei de Relações de Taiwan de 1979 os Estados Unidos da América tenham reconhecido a existência de uma só China, de momento, parece que para os EUA e mesmo para o mundo Ocidental seja inconcebível e inaceitável que a TSMC possa cair em mãos chinesas – pelo menos enquanto não forem construídas alternativas a esta tão absurda quão incompreensível vulnerabilidade estratégica.

As potenciais consequências? Neste momento arriscamo-nos a ter de correr atrás do prejuízo. O mundo Ocidental andou em verdadeira roda livre, vendo apenas as vantagens imediatas da globalização, acreditando de forma algo “naive” que os mercados se auto-regulavam com base na lei da oferta e da procura e que o desenvolvimento económico seria a panaceia para as autocracias e que abriria, por si só, o caminho à democracia e aos ideais da liberdade no mundo. Nada de mais errado! Apenas comparável à estranha dependência energética de muitos países da Europa Ocidental no que diz respeito ao gás e ao petróleo russos. Também aqui poderemos estar a engordar um potencial inimigo, por ora apenas designado como “desafio” no novo Conceito Estratégico da NATO, acordado há menos de um mês em Madrid.

É tempo de ver mais longe, de pensar nas vantagens e desvantagens de médio e longo prazo e deixar de pensar exclusivamente no lucro fácil e nas vantagens políticas imediatistas. Lessons should be learned. O mundo Ocidental necessita, hoje, de verdadeiros líderes capazes de explicar aos seus concidadãos que por vezes há que tomar decisões impopulares para acautelar o futuro das novas gerações e não lhes criar vulnerabilidades castradoras da sua liberdade de ação.

Muito embora segundo Nancy Pelosi - conhecida defensora dos ideais democráticos e campeã da defesa dos Direitos Humanos, cuja Declaração Universal foi desenhada, na ONU, pelo State Department e por Eleanor Roosevelt e o seu amante francês - a delegação do Congresso dos EUA tenha ido a Taiwan para tornar claro que Washington não abrirá mão do seu compromisso em apoiar esta Ilha de pouco mais de vinte milhões de

habitantes. Bem como o esforço em preservar a democracia e os ideais da liberdade da ilha-Estado e em todo mundo permanece inabalável. A verdade é que no Extremo Oriente estamos por enquanto, sobretudo, perante uma guerra de caráter tecnológico.

Por esse motivo, os EUA têm tentado trazer a TSMC para o seu território no sentido de colmatar esta vulnerabilidade, incrementando a sua capacidade de produção doméstica de chips. O controlo desta empresa crucial alcandorou Taiwan a um patamar de importância estratégica sem precedentes. E provavelmente aumentará as tensões existentes entre os EUA e a China no que toca ao status quo desta ilha nossa aliada.

Para já, porque as capacidades de defesa da Ilha Formosa, que com os seus vinte e três milhões de habitantes é tão-somente a décima oitava economia mundial no que toca ao poder real de compra e a oitava na Ásia, não são negligenciáveis. Além de que o apoio dos EUA estaria imediatamente disponível, dada a firme garantia de segurança disponibilizada desde sempre por Washington a Taipé, esperando por isso que os exercícios de demonstração de capacidades da China terminem domingo, dia 7 de agosto e não passem daí.

Assim seja.

Opinião de

Isidro de Morais Pereira

Major-general

AGASALHA-TE, CIDADÃO

O PORTUGUÊS IDEAL NÃO PRECISA DE IR À ESCOLA, NEM AO HOSPITAL, NEM AO TRIBUNAL. NA VERDADE, O PORTUGUÊS IDEAL É UM PORTUGUÊS DEFUNTO

Quando o Presidente da República disse que, nos próximos meses, “cada qual fará o esforço para não estar doente”, fui obrigado a reflectir e concluí, com vergonha, que nunca antes fiz esse esforço. Tenho vivido de forma inconsciente, sem me empenhar para não adoecer — e por isso tenho tido, como é evidente, algumas doenças. A culpa não é só minha. A ciência, estranhamente, tem dirigido a sua atenção para a cura de doenças, quando seria mais fácil e barato lembrar às pessoas que devem fazer um esforço diário para não adoecer. Se todos fizessem esse esforço, o SNS funcionaria muito melhor, ocupado apenas com os preguiçosos que não se esforçam o suficiente. Alguns levam o desleixo tão longe que até acabam por morrer, o que não deixa de ser justo. Eu tenho padecido de algumas maleitas, e até já fui submetido a operações cirúrgicas mais de uma vez, só para se ter uma ideia do meu desmazelo. Talvez não seja justo, aliás, usar o verbo padecer. Provoquei algumas maleitas, assim é que é. Quando era pequeno, não me esforcei o suficiente para evitar o sarampo, a papeira e a escarlatina. Mas a idade adulta, curiosamente, não dá a ninguém a maturidade suficiente para aperfeiçoar o esforço para evitar doenças. Tenho reparado que os idosos, uma faixa da população com idade para ter juízo, são dos que menos esforço fazem para não adoecer.

Algumas pessoas ficaram exaltadas com as declarações do Presidente, em clara desobediência a essas mesmas declarações. Marcelo pede a todos um esforço para evitar adoecer e imediatamente há gente que fica apopléctica. Mania de contrariar. Para mim, as declarações do Presidente pecam por defeito. Os cidadãos, querendo, podem contribuir para não sobrecarregar outros serviços do Estado. Além de se esforçarem para não adoecer, os portugueses podem fazer outros esforços úteis. Por exemplo, se as crianças fizerem um esforço para se instruir, precisaremos de menos escolas. E se os cidadãos fizerem um esforço para não litigar, acabam-se os atrasos na justiça. O português ideal não precisa de ir à escola, nem ao hospital, nem ao tribunal. Na verdade, o português ideal é um português defunto. Quando pomos os nossos compatriotas no Panteão, não estamos bem a homenageá-los pelo que fizeram quando estavam vivos. Estamos a agradecer-lhes por terem deixado de sobrecarregar os serviços públicos, falecendo. Esse é o seu principal mérito.

Ricardo Araújo Pereira escreve de acordo com a antiga ortografia

https://leitor.expresso.pt/semanario/semanario2592-1/html/revista-e/estranho-oficio/agasalha-te-cidadao

sexta-feira, 12 de agosto de 2022

É simplesmente desmoralizante. Ver e ouvir os serviços de notícias das três ou quatro estações de televisão é pena capital.

“É simplesmente desmoralizante. Ver e ouvir os serviços de notícias das três ou quatro estações de televisão é pena capital. A banalidade reina. O lugar-comum impera. A linguagem é automática. A preguiça é virtude. O tosco é arte. A brutalidade passa por emoção. A vulgaridade é sinal de verdade. A boçalidade é prova do que é genuíno. A submissão ao poder e aos partidos é democracia. A falta de cultura e de inteligência é isenção profissional.

Os serviços de notícias de uma hora ou hora e meia, às vezes duas, quase únicos no mundo, são assim porque não se pode gastar dinheiro, não se quer ou não sabe trabalhar na redacção, porque não há quem estude nem quem pense. Os alinhamentos são idênticos de canal para canal.

Quem marca a agenda dos noticiários são os partidos, os ministros e os treinadores de futebol. Quem estabelece os horários são as conferências de imprensa, as inaugurações, as visitas de ministros e os jogadores de futebol.

Os directos excitantes, sem matéria de excitação, são a jóia de qualquer serviço. Por tudo e nada, sai um directo. Figurão no aeroporto, comboio atrasado, treinador de futebol maldisposto, incêndio numa floresta, assassinato de criança e acidente com camião: sai um directo, com jornalista aprendiz a falar como se estivesse no meio da guerra civil, a fim de dar emoção e fazer humano.

Jornalistas em directo gaguejam palavreado sobre qualquer assunto: importante e humano é o directo, não editado, não pensado, não trabalhado, inculto, mal dito, mal soletrado, mal organizado, inútil, vago e vazio, mas sempre dito de um só fôlego para dar emoção! Repetem-se quilómetros de filme e horas de conversa tosca sobre incêndios de florestas e futebol. É o reino da preguiça e da estupidez.

É absoluto o desprezo por tudo quanto é estrangeiro, a não ser que haja muitos mortos e algum terrorismo pelo caminho. As questões políticas internacionais quase não existem ou são despejadas no fim. Outras, incluindo científicas e artísticas, são esquecidas. Quase não há comentadores isentos, ou especialistas competentes, mas há partidários fixos e políticos no activo, autarcas, deputados, o que for, incluindo políticos na reserva, políticos na espera e candidatos a qualquer coisa! Cultura? Será o ministro da dita. Ciência? Vai ser o secretário de Estado respectivo. Arte? Um director-geral chega.

Repetem-se as cenas pungentes, com lágrima de mãe, choro de criança, esgares de pai e tremores de voz de toda a gente. Não há respeito pela privacidade. Não há decoro nem pudor. Tudo em nome da informação em directo. Tudo supostamente por uma informação humanizada, quando o que se faz é puramente selvagem e predador. Assassinatos de familiares, raptos de crianças e mulheres, infanticídios, uxoricídios e outros homicídios ocupam horas de serviços.

A falta de critério profissional, inteligente e culto é proverbial. Qualquer tema importante, assunto de relevo ou notícia interessante pode ser interrompido por um treinador que fala, um jogador que chega, um futebolista que rosna ou um adepto que divaga.

Procuram-se presidentes e ministros nos corredores dos palácios, à entrada de tascas, à saída de reuniões e à porta de inaugurações. Dá-se a palavra passivamente a tudo quanto parece ter poder, ministro de preferência, responsável partidário a seguir. Os partidos fazem as notícias, quase as lêem e comentam-nas. Um pequeno partido de menos de 10% comanda canais e serviços de notícias.

A concepção do pluralismo é de uma total indigência: se uma notícia for comentada por cinco ou seis representantes dos partidos, há pluralismo! O mesmo pode repetir-se três ou quatro vezes no mesmo serviço de notícias! É o pluralismo dos *papagaios no seu melhor!

Uma consolação: nisto, governos e partidos parecem-se uns com os outros. Como os canais de televisão.

*Papagaios não, chilreada de periquitos sim!*”


(António Barreto)

Aposte Na Prevenção

‘Coitadito’ – agora ele também já ‘mente’

(ou será que já sofre de ‘diarreia mental’?)

será que o Marcelito pensa que está fazer um favor ao Costa?

Com que então ‘V. Exª’ arroga-se o direito de dizer que 2/3 dos votantes no CHEGA são imigrantes brasileiros?!

Factos: Os cidadãos brasileiros que possuam o estatuto de igualdade de direitos políticos, maiores de 17 anos, residentes no território nacional, são automaticamente inscritos no recenseamento eleitoral, na freguesia correspondente à morada constante do cartão de cidadão, ou quando deste não disponham, do sistema de identificação civil (regime igual ao dos cidadãos portugueses).



Como pode um imigrante brasileiros obter o Estatuto de Igualdade de Direitos Políticos?

COMO SOLICITAR o Estatuto de Igualdade de Direitos e Deveres

Documentos necessários (a entregar no SEF)

  • Requerimento em impresso próprio (PDF)
  • Fotocópia do Título de Residência;
  • Certificado de Nacionalidade (original e fotocópia) emitido pelo Consulado do Brasil, certificando que o cidadão não se encontra impedido de exercer os seus direitos civis.

 Estatuto de Igualdade de Direitos Políticos

Para requerer Estatuto de Igualdade de Direitos Políticos, os cidadãos devem preencher, cumulativamente, os seguintes requisitos:
– Ter obtido previamente o Estatuto de Igualdade de Direitos e Deveres;
– Não se encontrar privado dos direitos políticos no Brasil;
Ser residente legal, com título válido, há, pelo menos, três (3) anos.

Considerando que os brasileiros que por cá andam são na sua maioria ‘aves de arribação’ (e que precisam de provar ser residentes legais há pelo menos 3 anos, entre outros documentos a apresentar no SEF) que percentagem dos 200.000 imigrantes brasileiros estarão em condições de pedir o ‘Estatuto de Igualdade de Direitos Políticos’ que lhes permitirá votar nas eleições legislativas em Portugal?

10%? Certamente nem tanto.

Mas consideremos que 25% deles (o que acho mesmo impossível) o fizeram.

Teríamos portanto uns 50.000 imigrantes brasileiros em condições de votar nas eleições legislativas em Portugal.

Vamos também admitir que 75% deles foram votar (extraordinário) e que 50% deles, votaram no CHEGA! (Terão sido 18.750 votos ‘brasileiros’ no CHEGA).

Vamos agora fazer uma ‘contita de aritmética’:

O CHEGA teve nas últimas eleições legislativas 400.000 votos.

Mesmo com as minhas extremamente favoráveis suposições às afirmações de V. Exª., os votos brasileiros no CHEGA terão sido menos de 5% dos 400.000 votos que obteve (e não 2/3!).

Óh ‘sr. presidente’: Com que então ‘V. Exª’ arroga-se o direito de dizer que 2/3 dos votantes no CHEGA são imigrantes brasileiros?!

Tenho muita pena de o ter de admitir mas…

Ou ‘V. Exª’ já mente descaradamente ou já sofre de ‘Diarreia mental’ e estará ‘lélé da cuca’… Será um (mais um) descrédito para Portugal e considero uma tristeza termos de o aturar ainda mais 4 anos. do meu amigo AFP

sexta-feira, 5 de agosto de 2022

Visita do Papa ao Canadá.

No voo de regresso do Canadá a Roma, na madrugada de hoje, sábado, 30 de Julho de 2022.

Ver em :

https://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2022-07/papa-francisco-chegada-roma-conclusao-viagem-canada.html

Parte duma resposta à jornalista Claire Giangrave (RELIGION NEWS SERVICE)

…Parece que isto está bem claro: uma Igreja que não desenvolve seu pensamento no sentido eclesial é uma Igreja que retrocede. Eis o problema de hoje, de muitos que se dizem tradicionais.

Não, não são tradicionais, são "antiquados", vão para trás, sem raízes.

Sempre aconteceu assim, como no século passado.

O "retrocesso” é um pecado, porque não caminha adiante com a Igreja.

Ao invés, alguém disse que a tradição - acho que tratei disso em algum discurso – a tradição é “a fé viva dos mortos”; enquanto esses "retrógrados", que se dizem tradicionalistas, afirmam que a tradição é “a fé morta dos vivos”.

A tradição é, exatamente, a raiz, a inspiração para progredir na Igreja, sempre de modo vertical.

 O "atraso" significa retroceder, permanecer fechados.

É importante entender bem o papel da tradição: ela está sempre aberta; é como a seiva das raízes que faz uma árvore crescer...

O compositor, Gustav Mahler, disse uma frase muito bonita: « A tradição, neste sentido, é a garantia do futuro, não uma peça de museu »

Quem concebe a tradição como uma coisa fechada, é contrário à tradição cristã... a tradição é como a seiva das raízes que faz crescer sempre mais e mais”.

Por isso, em relação à sua questão, é preciso pensar e manter a fé e a moral, mas sempre como a seiva das raízes e como as três regras de São Vicente de Lerins, que mencionei.

 

No final do diálogo com os jornalistas, o Papa disse :

Agora, antes de me despedir de vocês, queria falar uma coisa, que é muito importante para mim: a minha viagem ao Canadá foi muito relacionada à figura de Santa Ana.

Falei algumas coisas sobre as mulheres, mas, sobretudo, sobre os idosos, as mães e as avós. Mas, deixei claro que “a fé deve ser transmitida em dialeto e o dialeto, um dialeto maternal, o usado pela avós.

Nós recebemos a fé da forma dialetal feminina; é muito importante o papel das mulheres na transmissão da fé e no desenvolvimento da fé.

Foram nossas mães ou avós que nos ensinaram a rezar; foram elas que nos transmitiram as primeiras noções sobre a fé, que uma criança não entende.

Por isso, digo que esta transmissão dialetal da fé é feminina. Alguém poderia replicar: mas, teologicamente, como se pode explicar isso?

Eu poderia responder dizendo que “quem transmite a fé é a Igreja e a Igreja é mulher, é esposa, não é masculina... a Igreja é mulher.

Devemos entrar nesta ótica de pensamento de uma Igreja mulher, uma Igreja mãe, mais importante do que qualquer fantasia ministerial machista ou dominada por qualquer poder machista.

A Igreja é materna. Eis a maternidade da Igreja, segundo a figura da Mãe do Senhor. Por isso, é importante ressaltar a importância do dialeto materno na transmissão da fé. Descobri isso, por exemplo, ao ler o martírio dos irmãos Macabeus: por duas ou três vezes, dizem que sua mãe lhes dava coragem com o dialeto materno.

Logo, a fé deve ser transmitida em dialeto, um dialeto falado pelas mulheres. Eis a grande alegria da Igreja, porque a Igreja é mulher, a Igreja é esposa.

 Quis deixar claro isso pensando em Santa Ana. Obrigado, pela paciência de vocês. Obrigado pela atenção. Descansem e boa viagem.

 Chegou a Roma às 08h06.

Lucros extraordinários das empresas de energia.

 “Alguém se lembrou de criar um imposto extraordinário para taxar os lucros ditos “caídos do céu

que algumas empresas  ganharam desde que a palermia se iniciou em Março de 2020?”

E, já agora, e os lucros das “big pharma”?

Ler mais aqui.

SNS aconselha


 

Para artistas negros, a grande migração é uma jornada inacabada No Museu de Arte do Mississippi, Mark Bradford, Theaster Gates Jr., Carrie Mae Weems e outros exploram o legado pessoal do movimento que moldou a era do sul rural.

 “This Water Runs Deep”, de Jamea Richmond-Edwards, 2022, na exposição “A Movement in Every Direction: Legacies of the Great Migration” no Mississippi Museum of Art.

Crédito...Imani Khayyam para o New York Times

Embaixada chinesa elogiou Portugal.

Atentos venerandos e obrigado.

João Gomes Cravinho 



Jô Soares, "o gordo" mais famoso do Brasil

 Morreu hoje.



Os negócios angolanos em Portugal com ligação a José Eduardo dos Santos

 Angola foi dos maiores investidores em Portugal nos anos da crise. Filha do presidente e maior empresa estatal foram protagonistas. O que resta da saída do José Eduardo dos Santos e do Luanda Leaks.

Isabel dos Santos

O fluxo de investimento angolano em Portugal ganha força na primeira década do século XXI e bastaram três negócios para colocar o país africano no top dos maiores investidores internacionais. Para além do país origem do capital, as três operações — Galp, BCP e BPI — têm em comum a ligação direta ao presidente José Eduardo dos Santos — falecido esta sexta-feira — através da filha e da maior empresa pública, a Sonangol. Antes da China chegar com as privatizações da era da troika, Angola foi um dos maiores investidores em Portugal a ponto de um título do jornal espanhol El Confidencial afirmar: Portugal, a nova colónia de Angola.


A entrada do dinheiro angolano nas grandes empresas é franqueada em 2006 por um dos principais empresários portugueses que tinha ligações económicas a Angola. Depois de garantir uma posição relevante na Galp,  Américo Amorim vai associar-se à Sonangol e a Isabel dos Santos — de quem era sócio no BIC — para dividir o esforço financeiro, mas não o poder de decisão que ficou todo nas mãos do empresário português. A Esperaza tem 45% do capital da Amorim Energia que é a maior acionista da Galp, mas quem manda é o empresário português.


Hoje sabe-se que a Sonangol, então liderada por Manuel Vicente (político e gestor aliado de sempre do ex-presidente angolano), emprestou dinheiro à filha do então presidente angolano. O poder dentro da Esperaza ficou nas mãos do marido de Isabel dos Santos (Sindika Dokolo falecido em 2020), apesar de a Sonangol ter 60% do capital, contra 40% da empresária angolana. Os documentos divulgados em 2020 pelo Luanda Leaks fizeram desta joint-venture um dos pontos da guerrilha jurídica e económica entre os herdeiros do velho poder de Angola — ligados ao clã dos Santos — e os novos homens fortes do regime.


Banca de braços abertos ao capital angolano

Mas recuando 14 anos atrás, o dinheiro angolano é bem recebido em Portugal. Em 2007, ainda em pleno conflito entre acionistas no BCP, a Sonangol recebe autorização do Banco de Portugal para comprar 10% do maior banco português. A petrolífera angolana, liderada por Manuel Vicente, será nos anos seguintes o acionista de referência mais influente, acompanhando aumentos de capital até quase 20% do capital. Apesar de vários rumores de venda, a Sonangol mantém esta posição, mas foi ultrapassada pela chinesa Fosun que é desde 2016 o principal investidor no BCP.


O investimento no BCP foi o primeiro passo de uma estratégia desenhada pelo poder angolano para recuperar os centros de decisão económica e financeira no país. Numa primeira fase, esta política obrigou os bancos portugueses com operações lucrativas no mercado angolano a abrir o capital das suas filiais a investidores locais. Pessoas próximas do regime, desde a filha do presidente a ex-titulares de altos cargos políticos, como os generais conhecidos como Dino e Kopelika. Esta é também a elite que estava a tomar conta dos negócios “privados” em Angola atribuídos por despacho ou decreto presidencial quase sempre sem concurso público.


E numa segunda fase evoluiu para o investimento angolanos nas casas-mães em Portugal dos bancos  que estavam em Angola. Isabel dos Santos foi a outra protagonista desse movimento em 2008 — ia crise financeira fazendo as primeiras vítimas na banca portuguesa — quando liderou a compra de 49,9% do Banco do Fomento Angola (BFA), o principal banco comercial do país, e entrou no capital do BPI. O investimento da filha do presidente angolano foi feito com um empréstimo do BCP (onde já estava a Sonangol) que na mesma operação vendeu as suas ações no banco rival. O recurso ao sistema bancário português para financiar as aquisições feitas no país foi uma prática que Isabel dos Santos viria a seguir em outras operações.


A angolana que então todos chamavam de empresária ajudou o BPI a resolver a crise criada pela saída do fundador Itaú  — quando em pleno resgate financeiro o banco brasileiro decidiu sair. Em 2012, Isabel dos Santos aumentou a sua posição para 20% do capital tornando-se incontornável na gestão e estratégia do BPI . E quando mais tarde o espanhol CaixaBank tentou ficar com o controlo rebentou um conflito acionista e com a gestão do banco que só foi resolvido com a intervenção política. Foi necessário uma mudança legislativa para evitar a minoria de bloqueio que a angolana tinha nas assembleias-gerais do banco.

O que resta dos investimentos de mais de mil milhões (também feitos com crédito) em Portugal

A venda das ações no BPI na oferta da CaixaBank em 2017 foi uma das operações mais lucrativas no nosso país. E foi apenas uma das muitas guerras empresariais que Isabel dos Santos travou em Portugal nos vários negócios que fez e que mobilizaram investimentos de mais de mil milhões de euros em menos de dez anos. Ao seu lado esteve sempre o gestor português Mário Leite Silva.

Apesar de ainda deter nominalmente alguns dos ativos que adquiriu, essas participações estão hoje  condicionadas.


No EuroBic, os direitos de voto foram congelados pelo Banco de Portugal e a participação de 42,5% está à venda. A participação de 26% na Nos, que é detida através da sociedade Zopt, foi alvo de arresto por uma ordem do juiz Carlos Alexandre e a pedido da justiça angolana. A Efacec foi nacionalizada em 2020. E na Amorim Energia, a empresária sofreu já várias derrotas. Em 2021 um tribunal arbitral  condenou Isabel dos Santos a devolver as ações da Esperaza, a holding acionista da Amorim Energia à  Sonangol — que fica com o investimento indireto na Galp.  Já este ano o juiz Ivo Rosa decidiu que os 83 milhões de euros congelados na Esperaza (e resultantes dos dividendos pagos pela Galp) pertencem apenas à petrolífera angolana.

I
Isabel dos Santos com António Domingues, ex-administrador do BPI


 
Álvaro Sobrinho, ex-presidente do BESA, foi ouvido na comissão parlamentar de inquérito à queda do BES


Mas nos tempos da crise e da fuga de investidores em Portugal, o dinheiro da filha do presidente de Angola era mais do que bem vindo. Em 2012, o atual EuroBic é o comprador do BPN, banco que a troika obrigou o Estado a vender em poucos meses (ou liquidar).

No mesmo ano 2012, Isabel dos Santos compra o resto da participação da Caixa Geral de Depósitos na Zon (ex-PT Multimedia) que já lhe tinha vendido 10% da operadora em 2009. O negócio foi financiado com o crédito da Caixa. Quando no ano seguinte a Zon se funde com a operadora de telecomunicações da Sonaecom para criar a Nos, Isabel dos Santos consegue uma posição paritária com a poderosa Sonae. O investimento na segunda maior operadora portuguesa e maior concorrente da poderosa PT encaixava na estratégia de confrontação que a empresária alimentava há anos na Unitel, empresa de telecomunicações angolana que é apontada como o ponto de partida do “império” económico e empresarial de Isabel dos Santos.


Por ordem de Isabel dos Santos, a Unitel bloqueou a distribuição de dividendos à PT. Estes dividendos foram durante muitos anos a principal fonte de rendimento empresarial de Isabel dos Santos, a par dos que receberia pela participação indireta na Galp, sua e do marido. Segundo notícias da investigação, Isabel dos Santos poderia estar, também, a ficar com os dividendos da Galp que caberiam à Sonangol.

Numa tentativa de resolver a seu favor o braço-de-ferro com a PT na Unitel — participação que viria a perder numa decisão de um tribunal arbitral de 2020 que lhe retirou o controlo da operadora angolana –, Isabel dos Santos aproveita a fragilidade da Portugal Telecom, afundada nos escândalo BES/GES, para lançar uma oferta pública de aquisição (OPA) em 2015. Mas a operação sobre a ex-PT nunca chegou ao mercado.

A história de como a empresa criada pela filha do presidente, em sociedade com os aliados políticos de José Eduardo dos Santos — e que por essa via também se tornaram empresários  — obteve o direito para explorar o serviço móvel em Angola tem várias versões. A da própria foi contada na entrevista dada ao Observador no final de 2019 quando já se apertava o cerco aos seus negócios. Faltava menos de um mês para o Luanda Leaks.


A Unitel junta no capital a Portugal Telecom, Isabel dos Santos, a Geni, empresa angolana conotada com os interesses de Leopoldino Fragoso do Nascimento (general Dino) e Manuel Vieira Dias (general Kopelipa), e a Sonangol, pelo que também Manuel Vicente fica associado a este investimento. Enquanto presidente da Sonangol durante mais de 10 anos, entre 1999 e 2012, Vicente esteve aos comandos do maior braço financeiro do regime angolano cujos negócios se expandiram muito para além de Angola e dos petróleos. Os dois generais, que trabalharam diretamente com o presidente dos Santos, também surgem associados a contratos com a petrolífera estatal.

Das primeiras dúvidas ao Luanda Leaks

O aparente saco sem fundo para negócios (públicos e privados) em que a Sonangol se parece ter tornado acaba a partir de 2015 quando a desvalorização do petróleo atira Angola para uma recessão. Auditorias revelam discrepâncias e perdas por reconhecer de milhares de milhões de euros nas contas da petrolífera estatal. E quem é nomeado para resolver a crise da maior empresa angolana? A filha do presidente através de um despacho assinado pelo pai um ano antes de abandonar o cargo. Isabel dos Santos contrata consultores internacionais e advogados para fazer a reestruturação da Sonangol, uma operação que resultou em processos na justiça em Angola, depois das revelações do Luanda Leaks.

Em 2017 Isabel dos Santos ainda é a rainha dos negócios, classificada como a mulher mais rica de África pela revista americana Forbes e com a presença em vários rankings internacionais sobre as mulheres mais influentes do mundo. Mas há mais cobertura internacional sobre a origem dos fundos que a tornaram milionária e sua presença em Portugal já está a encolher. A última aquisição realizou-se em 2015 com a compra da maioria da Efacec, empresa de referência da engenharia com vários negócios em Angola.

A transação foi mais uma vez financiada pelos bancos portugueses numa reestruturação de dívida da empresa e dos seus acionistas nacionais, a José de Mello e a Têxtil Manuel Gonçalves. E foi alvo de uma intervenção dura por parte da então deputada europeia Ana Gomes que levantou suspeitas de “lavagem de dinheiro”, suscitando um pedido por parte da comissária europeia da justiça às autoridades portuguesas para averiguar de onde vinha o dinheiro. Pois se Isabel dos Santos recorreu à banca para aquisições, não há notícia em Portugal de que tenha entrado em incumprimento.

A política socialista foi uma das primeiras vozes a questionar publicamente a origem dos fundos por detrás dos investimentos da filha do ex-presidente angolano e apresentou uma denúncia à Procuradoria-Geral da República em janeiro de 2020. Uma semana depois rebenta o escândalo Luanda Leaks com a divulgação de milhares de documentos confidenciais sobre os negócios de Isabel dos Santos investigados por um consórcio de jornais internacionais de referência, representado em Portugal pelo Expresso.

Esta fuga, que teve o dedo do hacker Rui Pinto, foi como abrir a caixa de Pandora da justiça, dos negócios, dos reguladores e da opinião pública contra a carreira empresarial de Isabel dos Santos cuja estrela já estava a perder o brilho desde a chegada de João Lourenço ao poder em 2017. Uma das primeiras decisões do novo Presidente foi exonerar a filha do ex-presidente da liderança da Sonangol.

Os outros investidores que estiveram no ciclo do ex-Presidente

Sem chegarem a ter a visibilidade de Isabel dos Santos, houve outros protagonistas, próximos do ex-presidente, que também fizeram ou representaram negócios em Portugal. Manuel Vicente foi administrador do BCP logo em 2007 representando a Sonangol, mas tornou-se mais conhecido por causa de um caso de justiça que gerou uma mini-crise nas relações luso-angolanas.

Manuel Vicente, que depois da Sonangol foi vice-presidente de José Eduardo dos Santos, foi apanhado em Portugal na Operação Fizz. Este processo resultou em acusações de corrupção e branqueamento de capitais na sequência da investigação a suspeitas de pagamentos a um procurador para arquivar uma investigação criminal contra si. O Ministério Público pediu ao congénere angolano para o constituir arguido, mas Angola, já com João Lourenço na presidência, recusou e o incidente entre os dois países apelidado de “irritante” por António Costa foi resolvido, enviando o processo para a justiça angolana. Já depois do Luanda Leaks, a Procuradoria angolana apreendeu bens a Manuel Vicente.

Os dois generais — conhecidos por Dino e Kopelipa — tiveram também um papel importante naquele que foi o pior negócio português em Angola, o BESA (Banco Espírito Santo Angola). Foram acionistas minoritários do banco controlado pelo BES e liderado por Álvaro Sobrinho até 2013. Ainda que nunca tenha sido especialmente conotado com o ex-presidente angolano, o gestor bancário que Salgado elogiou pela inteligência liderou aquilo que durante anos foi considerado um banco de sucesso em Angola.

O buraco gigantesco descoberto no banco angolano foi um dos golpes que ajudou a deitar ao chão o Banco Espírito Santo em 2014, apesar da garantia estatal que Ricardo Salgado ainda conseguiu obter junto do presidente José Eduardo dos Santos. O famoso aval visava cobrir as perdas geradas por créditos dados a sociedades desconhecidas e sem garantias, créditos esses que foram financiados com recursos da casa-mãe, o BES, quando Salgado era presidente. Essas operações irregulares que levaram também à intervenção do Banco de Angola no BESA terão movimentado mais de seis mil milhões de dólares.

Álvaro Sobrinho é alvo de um inquérito criminal em Portugal por causa do BESA que já resultou na apreensão de bens (imóveis) e a fixação de uma caução das mais elevadas — seis milhões de euros. Sobrinho é suspeito de ter sido o beneficiário de alguns dos créditos concedidos pelo BESA a sociedades offshore e de por essa via ter desviado centenas de milhões de euros do banco a que presidia.

Numa entrevista dada em 2019 à revista Visão, Álvaro Sobrinho acusou os acionistas angolanos do BESA, precisamente os generais Dino e Kopelipa, de terem, em conjunto com o BES, montado um plano para tomarem de assalto o BESA depois de terem beneficiado de créditos sem garantia financiados pelo BES. É a referência a uma assembleia-geral realizada em Luanda já depois da resolução do BES, decidida em Lisboa, e na qual os representantes jurídicos do banco português foram impedidos de entrar. Nesta assembleia o BESA passou a Banco Econômico com a bênção do Banco de Angola e os créditos reclamados pelo BES sobre o antigo BESA ficaram quase impossíveis de recuperar.

Sobrinho foi um homem de confiança de Ricardo Salgado em Angola até 2012, mas em 2013 foi afastado do cargo de presidente do BESA pelos acionistas.

Em Portugal, o negócio mais conhecido de Álvaro Sobrinho foi o Sporting onde se tornou o maior acionista a seguir à SAD com quase 30% do capital. O gestor angolano foi também investidor nos media, tendo sido acionista dos jornais Sol e i até 2015. A Holdimo de Sobrinho ainda será acionista da SAD do clube.

Sobrinho terá também investimentos imobiliários tal como os generais que foram acionistas do BESA. A Hélder Vieira Dias Junior é ainda atribuída a propriedade de quintas de vinho no Rio Douro. O general Kopelipa foi chefe da casa militar de José Eduardo dos Santos e é uma das figuras próximas do ex-presidente que caiu em desgraça na era de João Lourenço. Segundo uma notícia do jornal Expresso, os generais Kopelipa e Dino, que foi consultor de comunicação do antigo presidente, mostraram-se disponíveis para entregar ativos à justiça angolana e assim limitar as consequências penais dos inquéritos. Os dois foram constituídos arguidos em 2020 pela procuradoria angolana e são suspeitos de crimes de corrupção, branqueamento de capitais, falsificação e burla.


Ana Suspiro

Observador