terça-feira, 3 de outubro de 2023

1872 Portugal e a Grécia 2011

1872 Portugal e a Grécia 2011
!!! ... 139 anos depois ... !!!

Eça
de Queirós escreveu em 1872
"Nós estamos num estado comparável apenas à Grécia: a mesma pobreza, a mesma indignidade
política, a mesma trapalhada económica, a mesmo baixeza de carácter, a mesma decadência
de espírito. Nos livros estrangeiros, nas revistas quando se fala num país caótico e que pela sua
decadência progressiva, poderá vir a ser riscado do mapa da Europa, citam-se em paralelo, a
Grécia e Portugal"

(in As Farpas)

1872 ... !!! Verdadeiramente impressionante !!! ...2011

Eça de Queirós sempre actual
"Em Portugal não há ciência de governar nem há ciência de organizar oposição"

"Em Portugal não há ciência de governar nem há ciência de
organizar oposição. Falta igualmente a aptidão, e o engenho, e o bom senso, e a moralidade, nestes dois factos que constituem o movimento político das nações.
A ciência de governar é neste país uma habilidade, uma
rotina de acaso, diversamente influenciada pela paixão, pela
inveja, pela intriga, pela
vaidade, pela frivolidade e pelo interesse.
A política é uma arma, em todos os pontos revolta pelas
vontades contraditórias; ali dominam as más paixões; ali
luta
-se pela avidez do ganho ou pelo gozo da vaidade; ali há a postergação dos princípios e o desprezo dos sentimentos;
ali há a abdicação de tudo o que o homem tem na alma de
nobre, de generoso, de grande, de racional e de justo; em
volta daquela arena enxameiam os aventureiros
inteligentes, os grandes vaidosos, os especuladores ásperos;
há a tristeza
e a miséria; dentro há a corrupção, o patrono, o privilégio. A refrega é dura; combate-se, atraiçoa-se, brada-
se, foge
-se, destrói-se, corrompe-se. Todos os desperdícios, todas as violências, todas as indignidades se entrechocam ali
com dor e com raiva.

À
escalada sobem todos os homens inteligentes, nervosos, ambiciosos (...) todos querem penetrar na arena, ambiciosos
dos espectáculos cortesãos, ávidos de consideração e de
dinheiro, insaciáveis dos gozos da vaidade."
Eça de Queiroz, in 'Distrito de Évora" (
1867)

Política de acaso, política de compadrio, política de expediente

Portugal e a crise
"
Que fazer? Que esperar? Portugal tem atravessado crises igualmente más: - mas nelas nunca nos faltaram nem homens de valor e carácter, nem dinheiro ou crédito.
Hoje crédito não temos, dinheiro também
não - pelo menos o Estado não tem: - e homens não os há, ou os raros que há são postos na sombra pela política. De sorte que esta crise me parece a pior - e sem cura."
Eça de Quei
rós, in "Correspondência" (1891)

" ... somos um povo sem poderes iniciadores, bons para ser tutelados ... "
"
Diz-se geralmente que, em Portugal, o público tem ideia de que o Governo deve fazer tudo, pensar em tudo, iniciar tudo: tira-se daqui a conclusão que somos um povo sem poderes iniciadores, bons para ser tutelados, indignos de uma larga liberdade, e inaptos para a independência. A nossa pobreza relativa é atribuída a este hábito político e social de depender para tudo do Governo, e de volver constantemente as mãos e os olhos para ele como para uma Providência sempre presente."
In "
Citações e Pensamentos" de Eça de Queirós».

José Maria de Eça de Queirós
Povoa de Varzim
- 25 de Novembro de 1845
Paris
- 16 de Agosto de 1900



sexta-feira, 29 de setembro de 2023

Desenho erótico

(Desenhos Eróticos)
Por: Boris Dmitrievich Grigoriev
Sem data


Desenho erótico de Boris Dmitrievich Grigoriev

Cena erótica

cenas eróticas
Por: Katsushika Hokusai

1818 · Arte asiática

Cena erótica de Katsushika Hokusai

Retrato de uma mulher revelando os seios, c.1570

Retrato de uma mulher revelando os seios, c.1570


Jacopo Robusti Tintoretto
Sem data · Óleo sobre tela ·
Maneirismo  · 
Retrato de uma mulher revelando os seios, c.1570 de Jacopo          Robusti Tintoretto

"L'Origine du monde" - A Origem do Mundo

(A Origem do Mundo)
Gustavo Courbet
1866 · Óleo sobre tela ·
Naturalismo  ·   Nu feminino

Uma pintura envolta em mistério e saudade
Nosso percurso começa às margens do Lago Clairvaux, casa do artista Gustave Courbet. Foi lá, em 1866, que Courbet mergulhou um pincel na tinta e capturou na tela aquela que se tornaria talvez a sua obra mais famosa e ao mesmo tempo mais controversa: "L'Origine du monde" - A Origem do Mundo.
Esta pintura a óleo é tão fascinante quanto provocativa. Mostra um close da parte mais íntima de uma mulher, sua vulva, nua e peluda, no centro da pintura. Os detalhes do corpo, revelando a barriga e o seio, ficam escondidos atrás de um tecido semelhante a seda que cai suavemente, que ao mesmo tempo enfatiza e esconde parcialmente o segredo feminino. A representação naturalista desta área íntima, emoldurada pelo fundo escuro, realça a pele humana brilhante e cintilante, criando uma tensão cativante entre o que é mostrado e o que é escondido.
A estética sensual desta obra-prima, capturada nas dimensões de 46cm x 55cm, oferece uma qualidade que só pode ser totalmente capturada e reproduzida de forma justa com uma impressão artística de alta qualidade.
A jornada oculta de uma obra-prima escandalosa
No passado, "A Origem do Mundo" era uma história cheia de segredos e escândalos. Pintado em nome do diplomata e colecionador de arte turco Khalil Şerif Paşa, foi cuidadosamente escondido de olhares indiscretos. Ao contrário dos outros nus da sua coleção, que orgulhosamente exibiu no seu salão, esta imagem em particular foi mantida escondida.
Após os problemas financeiros de Khalil Bey e o posterior leilão de sua coleção de arte, o quadro acabou nas mãos do antiquário Antoine de la Narde. Aqui estava novamente escondido, trancado atrás de uma tampa de madeira que mostrava outra pintura. Este apelo silencioso à discrição continuou quando foi finalmente adquirido pelo pintor e colecionador húngaro Barão Ferenc von Hatvany, que o trouxe para Budapeste.
No entanto, a turbulenta história desta obra-prima não terminou aí. Durante a Segunda Guerra Mundial, foi cuidadosamente escondido num cofre de banco em Budapeste para protegê-lo dos ocupantes alemães. Quando os cofres foram abertos após a guerra, "A Origem do Mundo" acabou no mercado negro de Budapeste antes de finalmente retornar às mãos de Hatvany. No entanto, só encontrou o seu regresso final no Musée d'Orsay, em Paris, onde está em exposição desde 1995.
O modelo por trás da obra-prima
Durante décadas, um dos maiores mistérios em torno de A Origem do Mundo foi a identidade do modelo que Courbet usou para esta obra-prima. Muita especulação foi feita, com alguns alegando que poderia ter sido sua amante, Joanna Hiffernan. Outros disseram que poderia ser uma dançarina parisiense chamada Constance Quéniaux.
Em 2018, foi descoberta uma pequena pintura a óleo envolta em seda que parecia representar as partes faltantes do corpo e parecia resolver o mistério. As investigações revelaram que esta pintura foi provavelmente do próprio Courbet e que a modelo era provavelmente Constance Quéniaux, ex-dançarina da Ópera de Paris e amante de Khalil Bey.
Esta obra-prima, outrora considerada tão escandalosa e perturbadora, é agora um testemunho da beleza, da intimidade e da vulnerabilidade do corpo humano. É uma prova poderosa de que a arte não conhece limites, nem na sua capacidade de provocar nem na sua capacidade de inspirar. Não é apenas a origem do mundo, mas também a origem de um debate sobre a representação do feminino na arte que continua até hoje.

A Origem do Mundo de Gustave Courbet

Estupro das filhas de Leucipo.


(Estupro das Filhas de Leucipo)
Rubens
Sem data · Óleo sobre tela ·
Barroco

O Estupro das Filhas de Leucipo, de Peter Paul Rubens

O sonho da esposa do pescador.

O sonho da esposa do pescador
(O sonho da esposa do pescador)
Katsushika Hokusai
1760 · Desenho ·
Arte asiática  

O sonho da esposa do pescador por Katsushika Hokusai

Cena erótica num luxuoso boudoir, pintura em miniatura do Rajastão

(Cena erótica em um luxuoso boudoir, pintura em miniatura do Rajastão),

Escola Indiana

Cena erótica em um luxuoso boudoir, pintura em miniatura do          Rajastão da Indian School

Mural erótico, Pompéia, Itália

Mural erótico, Pompeia, Itália, 

Desconhecido

Mural erótico, Pompéia, Itália por Desconhecido

domingo, 10 de setembro de 2023

A operação imobiliária especial do PCP-

O PCP demoliu uma referência da arquitetura portuguesa, para no mesmo local construir um edifício de sete pisos. Não é um atentado ao património. É sim a operação imobiliária especial do PCP.

Como é possível que num país em que os licenciamentos são um inferno para os cidadãos, um partido possa demolir uma casa considerada um marco na arquitetura portuguesa? Operação especial. Esta é a chave da questão. Tal como a Rússia diz não ter invadido a Ucrânia, mas sim estar a desenvolver uma operação militar especial, também o PCP não se dedica à especulação imobiliária (para mais à custa da destruição de importante património arquitetónico) mas sim à procura duma solução que valorize a cidade, no caso de Aveiro.

Tudo começa nos finais de 1974 quando o PCP ocupou em Aveiro a Casa Aleluia. Para o PCP a coisa não se podia fazer por menos: um projeto assinado por Silva Rocha, a Vivenda Aleluia, tinha sido a residência duma família ligada à cerâmica, a família Aleluia. O seu interior, de que faziam parte importantes peças de cerâmica, reflectia essa ligação.



Em 1974, a Casa Aleluia estava devoluta e antes que o ano acabasse já funcionava ali o Centro de Trabalho de Aveiro, designação que os comunistas dão às suas delegações e sedes.

Em 1974, note-se, os partidos não tinham sedes nem delegações. Conseguiram-nas à custa de ocupações supervisionadas pelo MFA e de contratos-empréstimos negociados sob o receio das ocupações. Também existiram doações e cedências mas basicamente impôs-se a lei do mais forte, não apenas em relação aos proprietários dos edifícios ocupados-alugados mas entre os próprios partidos. E, entre estes, o PCP podia mais. Assim, do modernista Hotel Vitória em Lisboa, que o PCP alugou em 1975 (seria interessante conhecer esse contrato de arrendamento), ao símbolo da chamada Casa Tradicional Portuguesa, que era a Casa Aleluia em Aveiro, o PCP instalou-se no que havia de mais interessante, imobiliariamente falando.

Com a normalização democrática, e num processo replicado em tantas outras ocupações, o ocupador tornou-se inquilino. Até que chegamos ao ano de 2006.

Em 2006 os proprietários da Casa Aleluia e senhorios do PCP anunciaram a sua intenção de demolir a Vivenda Aleluia para, no mesmo local, construírem um edifício de cinco andares. Ainda 2006 não tinha acabado e já a Câmara de Aveiro, então liderada por Élio Maia, independente eleito com o apoio duma coligação PSD-CDS – indeferia por unanimidade o pedido de demolição da Vivenda Aleluia e consequentemente o pedido de viabilidade para um novo edifício com cinco andares a ser construído no mesmo local. A autarquia invocou para este indeferimento um parecer da Comissão Concelhia de Património  e do Instituto Português do Património Arquitetónico (IPPAR) que classificara a "Vivenda Aleluia" como de "interesse arquitetónico".

O PCP considerou a decisão "exemplar" e explanava o seu desejo de ver esta decisão alargada a outros edifícios da cidade de Aveiro. Invariavelmente salientava-se a importância dos painéis de azulejos provenientes da antiga fábrica Aleluia, que faziam daquela vivenda um lugar único, e do esforço do PCP na preservação do edifício – preservação essa em que os senhorios, acusava o PCP, participavam a contragosto.

Em resumo a luta do PCP pela Casa Aleluia em 2006 era como que o prolongamento daqueles dias de Junho de 1975 quando povo em Aveiro cercara a vivenda sede do PCP com o intuito de correr com os comunistas.

Em 2014 – passaram entretanto oito anos – um comunicado da Direcção da Organização Regional de Aveiro (DORAV) do PCP informava que adquirira o edifício onde se encontra instalado o seu Centro de Trabalho, na Avenida Lourenço Peixinho. Por outras palavras, o PCP passara de inquilino a proprietário. Ou, se se preferir o outro lado desta transação imobiliária: uma vez inviabilizada pela autarquia qualquer operação imobiliária, os proprietários optaram por vender a Casa Aleluia aos inquilinos. Qual foi o valor da venda? Em que medida é que esse valor foi ou não afectado pela decisão da autarquia de inviabilizar a demolição da Casa Aleluia? – Ninguém fez estas ou outras perguntas, tanto mais que se considerou que o destino da Casa Aleluia estava assegurado. Nada mais enganador.

Em 2018 o PCP "diligenciou junto da Câmara Municipal para recolha de informação sobre o imóvel e o espaço envolvente e as condições de edificabilidade, de acordo com os instrumentos urbanísticos do município". Começava a operação imobiliária especial do PCP, aquela em que o PCP vai fazer exactamente o contrário daquilo que defendera: não só pretende demolir a Casa Aleluia como, no mesmo local, construir, um edifício. Sim, há uma diferença em relação aos antigos proprietários: em 2006, os então senhorios do PCP queriam construir um prédio com cinco pisos. O PCP sonha mais alto e vai até aos sete. Dezassete apartamentos irão ocupar em altura o espaço da antiga Casa Aleluia. Irão estes apartamentos para arrendamento acessível? Temos mesmo de perguntar, não só por causa da demagogia que caracteriza os comunistas na hora de discutir o arrendamento, mas também porque já não resta nada da Casa Aleluia.

Esta semana, mais precisamente a 7 de Setembro, o que ainda se mantinha de pé da Vivenda Aleluia foi abaixo. Pelo meio ainda se tiveram de ouvir aquelas arengas comunistas em prol da cultura a propósito da entrega dos azulejos da dita casa à autarquia, como se essa não fosse a opção derradeira perante o avançar do camartelo.

E o parecer do  Instituto Português do Património Arquitetónico (IPPAR) que classificava a "Vivenda Aleluia" como de "interesse arquitetónico", e que em 2006 inviabilizou o projeto de demolição-construção dos antigos proprietários? Pelos vistos não tinha qualquer valor. E a sempre tão activa Direção Geral do Património Cultural (DGPC), a quem foi pedida a classificação da Casa Aleluia como património nacional? Recusou. E a autarquia de Aveiro, liderada por Ribau Esteves (PSD/CDS), o que fez, ou, melhor dizendo, não fez? Decidiu não classificar o imóvel como património de interesse municipal.

Como é que em dezassete anos a administração central e local mudou assim de opinião? Sim, admitamos então que não se justificava a classificação da Casa Aleluia como património nacional ou municipal, mas em 2006 o entendimento foi outro. O que mudou na Casa Aleluia entre 2006 e 2023 além de o PCP, que era inquilino, ter passado a proprietário? Temos o direito de saber e o dever de perguntar.

Os comunistas são exímios em impor brutalmente a sua vontade nos períodos em que mandam e, não menos importante, em retirar todas as vantagens da legislação que contestam quando estão na oposição. Ficou para a história o despedimento dos trabalhadores de O Diário, um jornal afecto ao PCP, ao abrigo da legislação aprovada pelo governo de Cavaco Silva, que obviamente o PCP crucificava nas ruas por causa da implementação dessa mesma legislação.

O acontecido com a Casa Aleluia ilustra bem esta táctica do PCP: em 1974, os comunistas impõem a ocupação. Depois usam a lei para se tornarem inquilinos do edifício que tinham ocupado. Em seguida, e sempre no estrito cumprimento do quadro legal, conseguem ser protegidos na sua condição de inquilinos, não só mantendo a sua sede na Casa Aleluia como conseguido que fosse inviabilizado o projeto imobiliário dos então proprietários e senhorios. Quando finalmente se tornam proprietários vêem ser-lhes reconhecidos direitos que tinham sido negados anteriormente a outros. Tudo sempre dentro da lei. A definhar nas urnas, o PCP consegue não só demolir a Casa Aleluia – que quando lhe deu jeito defendeu como uma extraordinária referência arquitectónica – como se vai dedicar aos investimentos imobiliários. É em casos como este que se vê o poder da esquerda. Um poder que não tem correlação com o voto.

A dissociação entre os actos, as palavras e as alegadas boas intenções dos comunistas é um dos maiores embustes do século XX que, contra toda a racionalidade, se mantém vivo no século XXI.

Portugal, como muitos outros países, não tem qualquer monumento às vítimas do comunismo. Daí que me parece adequado que o edifício que vai ser construído no local onde existiu a Casa Aleluia se torne um símbolo do Embuste do Comunismo.

PS Acode-me uma dúvida inquietante: terá o PCP algum projeto para o Hotel Vitória? Sim, o PCP é de há muito o proprietário deste magnífico edifício assinado por Cassiano Branco de que (como não?) se tornaria inquilino em 1975. Se o PCP estiver com dificuldade em arranjar argumentos para legitimar uma qualquer intervenção no seu Centro de Trabalho da Avenida da Liberdade pode invocar que o edifício precisa de ser desnazificado pois naqueles anos em que o centro de Lisboa era um ninho de espiões, o então muito confortável Hotel Vitória gozava da preferência dos agentes do Eixo.

Observador