quarta-feira, 29 de outubro de 2025

A Burca e o Passaporte

Por António Barreto

A Burca e o Passaporte têm-se revelado fontes de polémica inesgotável. Com os melhores e os piores argumentos. Como giram à volta de questões nacionais e identitárias, além de religiosas e de género, são aproveitadas pelos que gostam do conflito. É bem que assim seja, pois, sob a aparência de temas menores e de oportunidade duvidosa, dizem respeito a problemas fundamentais. 

A Burca (e o Nicab) em primeiro lugar. Tudo o que se diz sobre esta armadura de encobrimento é verdade. Questão de género. De identidade. De religião. De costume. De tradição. Os homens obrigam e as mulheres gostam, detestam ou submetem-se. Tudo o que se disser da Burca é verdade. Tradição? Sim, mas detestável. Religião? Talvez, mas opressiva. Identidade? Com certeza, mas odiosa. De costume? Claro, mas repulsivo. Questão de género? Óbvio, mas execrável.

 A permissão, no Ocidente democrático, de utilização da Burca nos espaços públicos é um exemplo de abdicação, de oportunismo e de negação dos seus próprios valores. É sinal de perversão e de corrupção moral. É o medo de existir e de afirmar. É o receio de ser quem é. É a perda de solidariedade, de compaixão e de fraternidade perante mais de metade dos seres humanos.

 A Burca é um gesto de violência, de opressão, de desumanidade e de exploração das mulheres pelos homens. Couraça repressiva e sinal de propriedade dos machos ciumentos e inseguros. Instrumento de autoridade prepotente. Afirmação da condição inferior e servil das mulheres. Garantia de que a mulher é objecto de uso sexual, criada de servir e instrumento de reprodução. O Ocidente democrático não deve tolerar. Como não deve aceitar a excisão, o casamento forçado, a venda de crianças, a poligamia, a lei de Talião, a prostituição forçada, o lenocínio, a pedofilia, a tortura e a escravatura. Todos estes actos e gestos são antigos, de tradições milenares, uns de legado nacional, outros de costumes alheios. Mas a antiguidade e a tradição não justificam que se aceite hoje. Já foram banidos pelo progresso moral e político.

 A Burca contraria um princípio da sociedade democrática: a identidade pessoal. Os direitos fundamentais são humanos e individuais, não de colectividades ou de igrejas. A identidade pessoal é afirmada pelo Bilhete de Identidade. A identificação é indispensável em actos jurídicos. O voto, o casamento, a consulta médica, a inscrição na escola, o atendimento na segurança social, o recebimento de encomendas, o pagamento de deveres ou a entrada em certos locais, tudo isso depende da identificação. É na cara que se vê a identidade, confirmada por documento com fotografia. A responsabilidade é individual, quer seja no trabalho, na política, no contrato, no comportamento ou na família. Esconder a identidade de alguém é um gesto degradante para a vítima e para todos nós que somos obrigados a conviver com tal prática desumana.

 Estranho é que tanta gente bem-intencionada, tantos democratas e tanta gente de esquerda democrática esteja disponível para tolerar esta e outras práticas opressivas. Que se passa na mente de tantos democratas dispostos a negociar princípios fundamentais e valores essenciais? Muitos democratas, a começar pela esquerda democrática, portam-se mal neste caso. Não escondem a covardia. Têm uma visão oportunista das relações entre povos e nacionalidades. Têm uma inexplicável incapacidade de se mostrar a favor dos direitos das mulheres e contra o machismo, se este for obra e graça de homens do terceiro mundo. Consideram a prepotência masculina condenável entre europeus, mas aceitável entre povos africanos e asiáticos.

 É verdade que, como sustentam os envergonhados, que a Burca não é um problema de dimensão estatística importante, que não revela uma conflitualidade actual e que não é uma situação crítica em Portugal. Tais argumentos são moralmente fracos. Tal como a pornografia infantil e a violência exercida sobre mulheres, a condenação da Burca não depende da estatística, uma é uma a mais.

 Evidentemente, a direita aproveitou o tema, desencadeou uma luta inesperada e fez a maior demagogia possível. Mas acontece que tem razão em querer proibir o uso da Burca no espaço público. E a esquerda não tem razão em tolerar ou encolher os ombros. Já cerca de vinte países europeus proibiram o uso da Burca e não consta que estejam todos dominados pela extrema-direita. Ainda por cima, esta proibição, em nome dos direitos individuais e das mulheres, convém à direita, tão defeituosa nos direitos humanos e sociais. Contra a Burca, a direita faz boa figura. Por mais que custe a alguns.

 Ao mesmo tempo que a Burca (e o Nicab) discute-se a nacionalidade. Não é por acaso. Há circunstâncias actuais que favorecem essa convergência: as questões de imigração, de integração e de multiculturalismo. Portugal e a Europa, além de outros, vivem com intensidade estes problemas. A direita, no poder em Portugal, repara que esta discussão lhe pode interessar, dar vantagens, incomodar a esquerda e esconder problemas sociais e económicos. Tudo isto é conhecido. Tudo isto é real. E não há mal nisso. Acrescente-se o facto, bem percebido pela direita, de as esquerdas estarem divididas e desconfortáveis. Em poucas palavras: para as direitas, a Burca e o Passaporte podem ser trunfos nacionalistas e incómodos para as esquerdas. Estas não têm uma posição clara, uma solução de liberdade e igualdade conjugada com um princípio de identidade.

 A proposta feita pela direita portuguesa de considerar a nacionalidade como concessão ou atribuição reversível é detestável. A direita pretende retirar a nacionalidade aos naturalizados que se portem mal, que cometam certo tipo de crime, que tenham condutas penalmente reprováveis. Tudo, nesta proposta, transpira a autoridade execrável, a falta de cultura política e a sentimento narcisista de superioridade racial. A nacionalidade obtida através da naturalização não é uma mercadoria, não é um privilégio, não é uma outorga, nem é uma vantagem distribuída aos amigos ou a quem tenha dinheiro. Depois de atribuída a quem cumpre condições legais conhecidas, a naturalização cria cidadãos iguais aos naturais. Não se imagina que poderes do dia possam retirar a nacionalidade e permitam deportar. Não é aceitável que se pretenda criar dois estatutos de nacionalidade, a definitiva e a condicional.

 Contra a Burca e contra a nacionalidade reversível: eis dois combates que nos honram.

Público, 25.10.2025

Jogos sem fronteiras

Descontados casos reais de racismo e xenofobia, não era preciso ser racista ou xenófobo para prever as consequências desastrosas de um êxodo desmesurado.

25 out. 2025, Alberto Gonçalves, 'Observador'

Não duvido que o racismo e a xenofobia são um flagelo de imensas épocas e geografias. Mas no Ocidente actual um flagelo maior tem sido o medo de se ser acusado de racismo e xenofobia. Nem falo do que acontece em democracias extintas, como a do Reino Unido, em que o medo de ser detido e condenado à prisão por ténue suspeita desses males é inteiramente justificado (a cada ano, milhares de cidadãos são no mínimo interrogados por opinar na internet – leia-se por "discurso de ódio", o disfemismo em voga). Falo do ambiente nas democracias que talvez ainda mereçam o nome, e que fez com que a Europa, sobretudo a Europa, tivesse de assistir calada a uma das maiores vagas migratórias da História sem esboço de resistência ou pio.

Na verdade, houve quem piasse, e notasse que autorizar a entrada, por exemplo em Portugal, de uma quantidade de pessoas equivalente a 11% da população numa década era capaz de não ser uma medida fantástica. Além da entrada franca, boa parte dos forasteiros carregava hábitos, valores e, digamos, visões do mundo ligeiramente incompatíveis com os praticados por cá. E quando as diferenças culturais (e as pressões económicas) não são suficientes para causar problemas, a pobreza e a marginalidade em que muitos inevitavelmente caem encarregam-se do resto. Porém, os imprudentes que ousaram questionar o arranjinho viam-se de imediato insultados de "racistas" e "xenófobos", e proscritos da sociedade "decente". Donde, por receio do desterro social, os imprudentes que cedo piaram foram raros.

Hoje, com as consequências do regabofe demográfico demasiado evidentes para se poder fingir que não existem, o número dos que alertam para os perigos da imigração descontrolada subiu consideravelmente. E desceu consideravelmente o medo de que um "painel" na Sic Notícias ou um editorial do Público os chame de "racistas" e "xenófobos", embora o "painel" e o editorial continuem a não abdicar de o fazer. Em Outubro de 2025, já vemos políticos "moderados" exibir aflição com o assunto. Vemos o parlamento aprovar uma "lei da nacionalidade" e proibir a burka em locais públicos. Vemos enfim que, à direita da extrema-esquerda, que agora começa algures no PS, a constatação de que temos estrangeiros em excesso chegou ao "mainstream". De repente, quase todos piam. Infelizmente, como "Bernie" Sanders, que esta semana aplaudiu a acção de Trump na matéria, piam tarde e a péssimas horas.

Para resumir com brutalidade, o mal está feito. Apertar as regras de admissão ou de concessão da naturalização é igual a reduzir a inflação e esperar que os preços baixem. Os preços não baixam, apenas aumentam mais devagar. É o que sucederá com a imigração. E, ao contrário da imigração, os preços não são afectados por uma taxa de natalidade superior à nativa. Ou seja, a percentagem de estrangeiros só promete crescer, para felicidade dos empresários da restauração que pagam pouco, dos exploradores de trabalho clandestino e semi-escravo, e das redes de tráfego humano. A única forma de atenuar aquela percentagem é, garantem os "racistas" e "xenófobos" exaltados, a deportação. Trata-se de um exercício retórico ou de um delírio.

Por um lado, com ou sem a invocação do "humanismo" e da decência, não há fundamento legal para expulsar a esmagadora maioria dos imigrantes, que estão aqui porque formalmente os deixaram. Por outro lado, não há condições logísticas para devolver à origem a parcela de imigrantes ilegais ou cadastrados, que talvez ultrapassem os 100 mil. Por fim, não conseguimos maneira de sequer impedir que, com habilidades jurídicas pelo meio, os 38 marroquinos que em Agosto desaguaram no Algarve se espalhassem por aí. Espremidos os "processos" e as "notificações", é plausível que desde 2024 uns trezentos sujeitos foram deportados de facto. O que não muda nada.

O que havia a mudar, mudou durante a vigência do dr. Costa e dos partidos comunistas que o espaldaram na AR, período em que abriram o país ao "multiculturalismo" [sic] a fim de salvar a Segurança Social e criar extraordinárias impressões de insegurança social. Não sei se tamanha irresponsabilidade foi motivada por razões benignas, ou pela ilusão de que os imigrantes legalizados desequilibrariam a balança eleitoral para a esquerda, ou por puro desejo de caos.

Sei que sucedeu em Portugal o que sucedera na generalidade da Europa ocidental: houve alguma coisa que se partiu, uma peça encravada na engrenagem que antes permitia que a máquina, mesmo aos safanões, funcionasse. E sei que, descontados casos reais de racismo e xenofobia, não era preciso ser racista ou xenófobo para prever as consequências desastrosas de um êxodo desmesurado. E acertar na previsão. Eu, que não reconheço a função "identitária" da raça e que não tenho no sangue uma gota de patriotismo, previ e acertei.

Remédio? Não há. A título de placebo, e dada a impossibilidade de regressarmos a 2015, podíamos pelo menos enxotar os políticos e os seus avençados nos media que, por incúria, cobardia ou perversão, alinharam com sucesso na propaganda de uma ideia criminosa: a de que a alternativa às fronteiras escancaradas seriam o "racismo" e a "xenofobia". Dois ou três voos bastariam, e o dr. Costa, que entretanto se sentou no Conselho Europeu a fingir que discute os abusos migratórios, até já foi à frente.

domingo, 26 de outubro de 2025

50 anos de abril, e como o PS quase matou a democracia.

Dizer que apenas o PS pode fazer melhor do que o próprio PS, para além da pouca cultura democrática, revela tiques de autoritarismo de quem só se quer perpetuar no poder, achando-se dono da Democracia.

1PS e PSD, mesmas responsabilidades no Portugal democrático?

Amiúde somos confrontados com a vox populis de que ao fim de 50 anos de abril PS e PSD são partidos iguais na responsabilidade política sobre o estado em que o país se encontra. "São todos iguais", "farinha do mesmo saco" são discursos recorrentes de um povo cada vez mais saturado da política, mas acima de tudo dos políticos.

A meu ver, esta é uma narrativa injusta que apenas beneficia o incompetente, colocando-o no mesmo patamar de quem realmente foi capaz, ao promover melhorias significativas na qualidade de vida dos portugueses. Aqui, o justo não pode pagar pelo pecador. A PSD e PS não podem ser assacadas o mesmo grau de responsabilidades. E passo a explicar porquê.

Portanto, importa clarificar que responsabilidades podem ser imputadas a estes dois partidos, tidos como do "arco da governação" ao longo destes últimos 50 anos. Sendo que é da maior relevância separar períodos da era democrática entre governos provisórios e governos constitucionais, e dentro dos governos constitucionais aqueles com legislatura completa.

250 anos de abril | 1985, o início da estabilidade política

Se atendermos aos 50 anos do período democrático português verificamos que apenas a partir de 1985, com a eleição de Aníbal Cavaco Silva, passamos a ter governos estáveis.

Sendo que, em bom rigor, foi apenas com o XI governo constitucional, eleito em 1987 com maioria absoluta, que a democracia portuguesa passou a ter governos com legislaturas completas. Neste contexto – primeiros-ministros com legislaturas completas –, verificamos que Cavaco Silva foi quem mais governou (10 anos), seguido de António Costa (8), Sócrates e Guterres, ex aquo (6); e Passos Coelho (4). Os Governos Durão Barroso e  Santana Lopes não concluíram a legislatura.

Assim, desde 1985, por partidos, verificamos que o PS governou 20 anos, o PSD 14. Porém, importa considerar as condições em que uns e outros governaram. Se o PSD deu início a este ciclo com duas maiorias de Cavaco Silva que terminaram em 1995, apenas 16 anos depois este mesmo partido voltaria a ser governo (com legislatura completa), em condições extremamente difíceis. Em bom rigor, podemos afirmar que nos 50 anos de democracia, em apenas 10 o PSD governou em condições de normalidade. E isso, foi há praticamente 30 anos…

3Cavaco e Passos, os únicos primeiros-ministros do PSD com legislaturas completas

Cavaco Silva | A era dourada da democracia portuguesa

É unânime entre os especialistas que a década de Cavaco foi o período da era democrática em que o país mais se transformou, fruto das diversas reformas levadas a cabo pelo seu executivo.

No início do seu mandato a taxa de inflação atingia os 20%, o défice público ultrapassava os 11% e as taxas de juro os 30%. O forte crescimento económico e a boa execução dos fundos europeus, permitiram reformas profundas, que mudaram profundamente um país que tinha ambição de se elevar ao nível dos seus congéneres europeus. Com a privatização de diversos sectores económicos (banca, seguros ou mida), bem como a atração de grandes empresas como a Volkswagen Autoeuropa que permitiram mais emprego e melhores salários, ou ainda a construção de diversos parques industriais e tecnológicos por esse país fora.

Foi também o período em que o Estado Social se dignificou com a construção de hospitais, escolas, centros de saúde e todo um conjunto de equipamentos sociais de apoio à infância e à terceira idade.

Foi ainda durante o mandato de Cabaco que se realizou o maior programa de promoção da habitação pública em Portugal com o Programa Especial de Realojamento (PER), que permitiu acabar com centenas de bairros de barracas nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto, realojando mais de 130 mil pessoas, com a construção de mais de 34 mil casas.

Numa outra perspetiva, não deixa de ser imperativo afirmar que Cavaco foi o Primeiro-ministro que mais contribuiu para o combate à pobreza na era democrática.

Passos Coelho | Devolver Portugal aos Portugueses.

Em janeiro de 2010, ainda antes de ser eleito presidente do PSD, Pedro Passos Coelho lançou o livro "MUDAR" enfatizando que o país se encontrava: "numa das maiores encruzilhadas da sua história moderna" e que relativamente a José Sócrates, então primeiro-ministro: "tem sido um bom socialista a governar, mas o caminho que tem trilhado tem sido mau para Portugal".

O tempo, sempre o tempo, veio a dar-lhe razão. Pouco mais de um ano volvido, a 6 de abril de 2011, Sócrates anunciava ao país o resgate financeiro por não haver dinheiro para pagar salários e pensões. Pelas mãos de Sócrates e do PS a TROIKA chegou e só saiu em 2014, cabendo a Pedro Passos Coelho a difícil missão de resgatar o país e de o devolver aos portugueses.

Convém recordar que o chumbo do PEC IV – que acelerou a vinda da TROIKA -, teve a assinatura de todos os partidos da oposição. Como também convém referenciar o enorme sentido de Estado que Pedro Passos Coelho teve ao aprovar os anteriores PEC, mesmo contra a vontade de muitos do seu partido, ávidos pela queda do governo.

Hoje é fácil criticar o duro trabalho que teve de ser feito. Mas como diz o povo, e bem: "casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão".  O facto é que Pedro Passos venceu em 2011 José Sócrates, e quatro anos volvidos – mesmo com a dureza das medidas impostas -, viria a vencer António Costa, tido como o mais preparado político da sua geração.

4Guterres, Sócrates e Costa, há aqui um padrão.

Guterres | Do pântano político e advento do socialismo.

Na era democrática foram necessários 30 anos para que o Partido Socialista lograsse vencer eleições legislativas, cumprindo uma legislatura.  Foi com António Guterres, após vencer Fernando Nogueira em 1995, tendo sido reeleito em 1999.

A governação terminou em 2001 com o célebre pântano político.  Se na década anterior o país beneficiou de uma série de reformas que o colocaram o país na senda do desenvolvimento, o país estagnou com a governação de Guterres, na ausência de maioria no parlamento. Fica para história com o célebre orçamento limiano, mas também pela introdução do então Rendimento Mínimo Garantido, uma medida, que apesar de referenciada como instrumento de combate à pobreza, é tido como fomento à criação de um novo segmento de subsídio dependentes.

Caso para dizer: se Cavaco ensinou a pescar – melhorando a saúde, educação e habitação -, Guterres começou a era da oferta do peixe, com o RMG. O "garantido" não é estímulo para sair da pobreza. Ante pelo contrário. Estávamos perante a era do socialismo puro e duro.

Sócrates| Da bancarrota ao maior caso de corrupção.

Poucos anos depois, em 2005, José Sócrates viria a dar ao PS a sua primeira maioria absoluta.

Foi Primeiro-ministro até 2011, tendo perdido as eleições para Pedro Passos Coelho, num dos momentos mais pesarosos da história democrática portuguesa. Para além de deixar o país sem dinheiro para pagar salários, pensões e manter a administração pública a funcionar, sendo obrigado a chamar a dita TROIKA, anos mais tarde Sócrates viria a ser detido no âmbito do maior caso de corrupção desde o 25 de abril, e constituído arguido. E a democracia a definhar…

Costa | Da geringonça ao desacreditar nas instituições.

A forma como António Costa chega a Primeiro-ministro, – tida para muitos como de enorme habilidade política –, apenas veio acentuar o desacreditar de muitos cidadãos na política e nos políticos. Foi mais uma machadada no espírito democrático que até então vigorou. Quem ganha, governa. Foi assim com os governos minoritários de Guterres e Sócrates. O que aconteceu foi a abertura de uma enorme caixa de pandora que à data subsiste.

Ao "que se lixem as eleições" de Passos Coelho, colocando os interesses do país em primeiro lugar, tivemos o "que se lixe a ética, o espírito democrático e a honra" de Costa que não logrou em colocar a sua sobrevivência política à frente dos interesses do país coligando-se com partidos radicais de esquerda, com consequências desastrosas para o país com a nacionalização da TAP, a extinção do SEF, entre outras medidas impostas pelo Bloco e PCP.

De Pedrogão a Tancos, do nepotismo nos governos aos surreais ministros Cabrita e Galamba, passando pelo total degradar do Estado Social, e culminado com o desbaratar de uma maioria absoluta que teve o seu desfecho num processo judicial onde foram encontrados mais de € 75 mil euros na residência oficial do Primeiro-ministro, já para não referenciar as 14 demissões de membros do governo de Costa (muitos por corrupção), tivemos não só o desacreditar na democracia, mas também no normal funcionamento das instituições num Estado Democrático de Direito.

5Governos de má memória?

Quer Cavaco Silva, quer Passos Coelho, deixaram o país melhor do que o encontraram. Já o mesmo não podemos dizer de Guterres, Sócrates e Costa.

Apenas por desespero, associado a uma tremenda falta de honestidade intelectual, é que hoje candidatos da esquerda podem evocar de má memória a governação PSD aos portugueses sem considerar o pântano político de Guterres, a bancarrota e corrupção de Sócrates, e o estado lastimoso com que António Costa desbaratou uma maioria absoluta, traindo a confiança de todos aqueles que nele votaram. Isto é minar o espirito democrático.

Ao fim de 50 anos temos um serviço nacional de saúde que deixou de ser garante de bons serviços, a escola pública motora do elevador social, o acesso à habitação miragem para larga maioria dos cidadãos, e a enorme carga de impostos um entrave à melhoria da qualidade de vida dos contribuintes.

Larga maioria dos nossos jovens são obrigados a emigrar porque não encontram no seu país de origem condições para prosperar. Por outro lado, continuamos a receber milhares de imigrantes sem condições efetivas, estando muitos a viver em tendas, barracas ou simplesmente em espaços sobrelotados. Regredimos ao tempo de Cavaco.

Se isto não é matar a democracia…

6O futuro, o bom futuro, apenas ao PSD pertence.

O Partido Socialista deixa uma herança muito pesada aos portugueses.

O PS hoje confunde-se com o Estado e o Estado com o PS.

Deixaram de colocar o Estado ao serviço dos portugueses para colocar o Estado ao serviço do PS. E dizer que apenas o PS pode fazer melhor do que o próprio PS fez (muito mau), para além da pouca cultura democrática, revela tiques de autoritarismo de quem apenas se quer perpetuar no poder, achando-se dono da Democracia.

De liderança fraca que fez fraca as suas gentes ao roubar-lhes esperança, sentimento de pertença, a troco do sentimento de impunidade, da injustiça social, onde, por exemplo, quem nunca foi contribuinte arrisca-se a ter mais rendimento disponível do que quem trabalhou toda uma vida.

Praticamente desde 1995 que governam o país, julgando-se donos disto tudo, tirando apenas férias quando deixaram Portugal ou em pântano, ou na bancarrota.

O CHEGA é produto da má governação do PS. E o PS adora a sua cria. Que mais retórica teria o PS e a demais esquerda puritana se não tivessem o seu diabo para fazer prova de vida?

A 10 de março votar em Pedro Nuno Santos, ou em demais partidos de esquerda, será votar para que tudo fique na mesma, ou piore. Se Costa era mau, o que dizer de Pedro Nuno, por Costa demitido?

Votar enquanto voto de protesto não resolve. Só irá contribuir para a instabilidade governativa.

Portanto, apenas votando em Luís Montenegro o país poderá almejar mudança, devolvendo Portugal aos portugueses.


quinta-feira, 23 de outubro de 2025

As memórias de Niinistö revelam a pressão de Putin, as exigências de Erdogan e o caminho da Finlândia para a NATO.


O presidente Sauli Niinistö descreve uma década de política externa finlandesa moldada pela pressão russa, negociações com a OTAN e disputas de poder nos bastidores. Seu livro de memórias, Kaikki tiet turvaan – Sinnikkään Suomen suunta ( Todos os caminhos para a segurança – O curso de uma Finlândia persistente) , oferece um relato interno da transformação da Finlândia da neutralidade para a aliança militar.

Em reuniões com Vladimir Putin , Niinistö enfrentou ameaças veladas, disfarçadas de referências históricas e humor. Em uma reunião na Carélia em 2012, Putin perguntou por que a Finlândia queria ingressar na OTAN, observando que "vocês não recuperarão a Carélia". Niinistö respondeu que a Finlândia não estava solicitando a adesão, mas sim aprofundando a cooperação para sua própria segurança.

"Bem, todo país independente maximiza sua segurança", disse ele a Putin.

Em 2017, enquanto exercícios navais russos aconteciam no Mar Báltico, Putin disse que eles "não tinham como alvo ninguém". Niinistö respondeu que a Finlândia também participaria do próximo exercício Aurora da Suécia, "também sem o objetivo de atingir ninguém".

Durante uma reunião em Sochi em 2018, Putin chamou Niinistö de lado e apresentou os membros do Conselho de Segurança da Rússia. O Ministro das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, apresentou então uma lista de queixas, incluindo a expansão da OTAN e escudos antimísseis. Niinistö observou que a apresentação provavelmente visava mostrar à linha dura em Moscou que Putin estava pressionando a Finlândia.

Putin, segundo Niinistö, respeitava a força. O presidente russo também lhe presenteou com itens ricos em simbolismo, incluindo um presente de aniversário de 70 anos com cartas do Marechal Mannerheim e uma medalha concedida a um senador que se opôs à opressão russa durante o regime czarista.

Ao telefone com Putin no início de 2022, dias antes da invasão total da Ucrânia pela Rússia, Niinistö o informou sobre a decisão da Finlândia de se candidatar à adesão à OTAN. Putin, embora calmo, disse que era um erro e insinuou que os EUA dominariam as Forças Armadas finlandesas. "Eu ainda serei o responsável por nomear os generais aqui", respondeu Niinistö. Putin riu.

O presidente dos EUA, Joe Biden, havia sugerido anteriormente a Niinistö que a potencial adesão da Finlândia à OTAN poderia servir de alerta à Rússia. Niinistö optou por não fazer ameaças explícitas, dando, em vez disso, um "alerta suficiente" que Putin teria compreendido.

O processo da OTAN expôs falhas diplomáticas. Em maio de 2022, a Turquia reverteu seu apoio anterior e questionou os pedidos da Finlândia e da Suécia. Em Madri, Niinistö confrontou Recep Tayyip Erdoğan , rejeitando as acusações de abrigar terroristas. Quando o tom de Erdoğan se tornou um sermão, Niinistö respondeu: "Não somos crianças em idade escolar, parem com essa atitude."

Após longas negociações, um memorando trilateral foi firmado. O Secretário-Geral da OTAN, Jens Stoltenberg, resumiu as negociações: "Eu era o policial bom, você era o policial mau".

A Finlândia também enfrentou atritos com a Hungria. O primeiro-ministro Viktor Orbán disse sem rodeios a Niinistö que a Finlândia havia feito a escolha errada. Quando questionado se a adesão da Hungria à OTAN era diferente, Orbán respondeu: "Não somos um Estado fronteiriço".

No início de 2023, Erdoğan concordou em separar o pedido da Finlândia do da Suécia. Niinistö garantiu que a imagem não o mostrasse implorando por tratamento especial. Em 17 de março, Erdoğan assinou os documentos de ratificação.

A bandeira da Finlândia foi hasteada na sede da OTAN em 4 de abril de 2023.

O livro também relata momentos de desconfiança em relação ao governo de Sanna Marin . Niinistö escreve que o Gabinete do Primeiro-Ministro considerou mudanças legais que afastariam o presidente da tomada de decisões da OTAN. A ideia foi barrada pela equipe de Niinistö. Ele escreve: "Meu gabinete conseguiu derrubar essas ideias tolas."

Outro episódio envolveu uma proposta de ligação conjunta entre Biden, Niinistö e a primeira-ministra sueca, Magdalena Andersson . O lado finlandês ficou surpreso quando os EUA questionaram se Niinistö estaria disponível, tendo sido informados de que Marin poderia comparecer. Niinistö suspeitou que os sociais-democratas suecos tentaram bloquear sua participação.

Apesar da tensão política, Niinistö elogiou Marin por sua condução de um acordo conjunto entre EUA e Finlândia para um quebra-gelo discutido com Donald Trump em 2019. O acordo, finalizado em 2025 , envolve 11 navios, com quatro a serem construídos na Finlândia e sete nos EUA.

Em Helsinque, em 2018, Niinistö observou Trump e Putin se encontrando em particular. Ele sentiu que os dois pareciam cautelosos, talvez pouco familiarizados um com o outro. "Eu diria que eles não pareciam ter uma conexão muito próxima, a menos que fossem bons atores."

Trump frequentemente perguntava a Niinistö por que a Finlândia não estava na OTAN e sobre seu relacionamento com Putin.

O livro também documenta uma crise anterior, em 2015, quando mais de 1.800 requerentes de asilo cruzaram a fronteira da Rússia para a Finlândia. Niinistö suspeitou que o aumento fosse uma retaliação pelo bloqueio da entrada de um funcionário russo sujeito a sanções da UE. Ele considerou isso um sinal russo disfarçado de negação plausível.

"As pessoas temem mísseis, eu temo que eles enviem migrantes", ele escreveu em seu diário.

Niinistö descreve Putin como disciplinado e ideológico, moldado pela lealdade à KGB. Quando descontente, seu discurso se tornava tenso e rápido. Niinistö via as referências de Putin à Finlândia do século XIX sob o domínio russo como pressão deliberada.

Em contraste, Trump foi direto, mudando rapidamente de um tópico para outro. Ele frequentemente se concentrava na personalidade dos líderes, em vez de nas políticas.

Em conversas privadas, Biden instou Niinistö a usar a adesão à OTAN como instrumento de pressão junto à Rússia. Niinistö se recusou a fazer ameaças, mas reconheceu que a mensagem foi compreendida em Moscou.

O livro conclui com reflexões sobre a defesa finlandesa. Niinistö sustenta que, apesar da neutralidade, a Finlândia aprimorou consistentemente suas capacidades, garantindo tanto hardware quanto parcerias estratégicas com os Estados Unidos e a Suécia.

Seu histórico, ele argumenta, não foi sobre mudar da noite para o dia, mas seguir um caminho onde a "minimização da insegurança" se tornou "maximização da segurança".

*o material citado do livro (Sauli Niinistö: Kaikki tiet turvaan – Sinnikkään Suomen suunta. WSOY) foi traduzido do finlandês para o inglês.

sexta-feira, 17 de outubro de 2025

Uma viagem complicada de fazer: como é que Putin vai chegar à Hungria para o encontro com Trump?

Para ir da Rússia até Budapeste, o avião que transportará Vladimir Putin terá sempre de atravessar um Estado-membro da União Europeia ou da NATO, ou um país signatário do Estatuto de Roma, que estabeleceu o Tribunal Penal Internacional, instituição que em março de 2023 emitiu um mandado de captura para o presidente russo

A próxima reunião entre Donald Trump e Vladimir Putin já foi acordada entre os dois presidentes. No entanto, a escolha do local pode vir a dar algumas dores de cabeça ao Kremlin e a Viktor Orbán.

Para ir da Rússia até Budapeste, o avião que transportará Vladimir Putin terá sempre de atravessar um Estado-membro da União Europeia ou da NATO, ou um país signatário do Estatuto de Roma, que estabeleceu o Tribunal Penal Internacional (TPI), instituição que em março de 2023 emitiu um mandado de captura para o presidente russo.

Embora não diga explicitamente que uma pessoa sobre quem pende um mandado de detenção tenha de ser detida assim que entre no território de um membro, o Estatuto de Roma pede claramente aos Estados-partes que cooperem "plenamente com o Tribunal na investigação e no julgamento dos crimes da competência do Tribunal" (artigo 86) e que "cumpram os pedidos de detenção e entrega" (artigo 89).

Apesar de Orbán ter, em junho deste ano, notificado formalmente as Nações Unidas de que a Hungria iria sair do TPI, tornado o território húngaro "seguro" para Putin, a medida de pouco vale.

Analisando as potenciais rotas que o avião de Putin poderá fazer, terá sempre de ser estabelecido o acordo com um país. O caminho mais direto, a seguir a atravessar a Ucrânia, é seguir pela Bielorrússia, Polónia e Eslováquia. Os dois últimos países fazem parte das três instituições mencionadas no segundo parágrafo, assim como a Roménia, que poderia ser uma alternativa.

Se tentar viajar via Mar Mediterrâneo, a aeronave do presidente russo terá sempre de passar por espaço aéreo grego ou italiano.

Esta sexta-feira, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Hungria, Péter Szijjártó, assegurou que Budapeste encontraria forma de Putin chegar à capital húngara, bem como de voltar em segurança para Moscovo.

"A Hungria, como uma ilha de paz, está pronta para acolher a cimeira. Proporcionaremos todas as condições para que os presidentes realizem conversações bem-sucedidas entre si, para que a paz regresse à Europa", escreveu Szijjártó no Facebook.

Como o irá fazer é, para já, um mistério. Nem o Kremlin sabe, com o porta-voz Dmitry Peskov a dizer que a rota do avião "ainda não está clara".

"Por enquanto, os presidentes estão dispostos a realizar essa reunião", afirma Peskov, citado pelo jornal russo Vedomosti.

A última vez que Putin saiu da Rússia para visitar a Europa foi em 2021, quando se reuniu com Joe Biden em Genebra, na Suíça. Contudo, o presidente russo já visitou um Estado-parte do TPI sem que tenha sido detido. A viagem à Mongólia, em setembro de 2024, constituiu um embaraço para os anfitriões, que têm uma relação amigável com Moscovo, não tendo condenado a invasão da Ucrânia, e estão muito dependentes da Rússia para o fornecimento de energia.

Apesar dos potenciais problemas, a Hungria já estendeu a passadeira vermelha a outro líder internacional com um mandado de captura, Benjamin Netanyahu, quem visitou o país em abril.

Donald Trump e Vladimir Putin falaram esta quinta-feira por telefone. Os dois líderes abordaram o tema da guerra da Ucrânia, e o presidente americano sugeriu um novo encontro entre os dois, desta vez em Budapeste, sugestão que Putin aceitou "imediatamente", disse Yuri Ushakov, conselheiro do presidente russo.

Mais tarde nesse dia, na Sala Oval, Trump disse que a reunião ocorrerá "dentro das próximas duas semanas".

Este será o segundo encontro entre os dois presidentes desde o início do segundo mandato de Trump, após a cimeira do Alasca de 15 de agosto, que não trouxe resultados substanciais no caminho para a paz.

A reunião ocorre numa altura em que o envio de mísseis Tomahawk para a Ucrânia é muito falado nos corredores da Casa Branca.

O potencial envio destes mísseis, com um alcance superior a 1600 quilómetros e capazes de atingir Moscovo a partir de território ucraniano, está a ser visto como um desenvolvimento que poderá mudar o curso da guerra.

O Kremlin já veio dizer que os Tomahawk não vão mudar significativamente a situação no terreno, mas consideram que o seu envio para a Ucrânia iria degradar as relações entre EUA e Rússia.

"Além de transformar a 'guerra de Joe Biden' [ex-presidente dos Estados Unidos] na 'guerra de Donald Trump', isto levará a uma escalada muito séria de tensões entre a Rússia e os Estados Unidos. Não tenho dúvidas de que eles compreendem isso", disse recentemente Sergei Lavrov.

https://cnnportugal.iol.pt/vladimir-putin/putin/uma-viagem-complicada-de-fazer-como-e-que-putin-vai-chegar-a-hungria-para-o-encontro-com-trump/20251017/68f274bcd34ee0c2fed16141





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