segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

O ABC do vinho

Com a ajuda do Pingo Doce.

O mundo dos vinhos é fascinante, mas é também complexo e, por vezes, torna-se difícil perceber toda a terminologia associada. Consulte este pequeno glossário e descubra mais sobre vinho.

A

Acidez | Característica indispensável para o equilíbrio dos vinhos, contribuindo para o seu sabor, frescura e capacidade de conservação em garrafa

B

Barrica | Barril (normalmente de carvalho) onde o vinho é afinado e envelhecido

C

Chardonnay | Uma das mais famosas castas de vinho branco do mundo, originária de França

D

D.O.C. | Denominação de Origem Controlada. São sempre vinhos de qualidade superior e pretende-se que representem a tipicidade de cada região, pois normalmente obrigam à utilização de castas típicas da região de onde provêm. Antes de entrarem no mercado têm de ser provados e certificados por um painel de provadores oficiais numa prova cega que atesta a sua qualidade. Caso não passem nessa prova, não podem ser comercializados com D.O.C.

E

Exuberante | Expressão normalmente usada para descrever um vinho jovem e intenso de aromas e sabores.

F

  • Fácil | Diz-se do vinho agradável, mas simples, sem complexidade.

  • Fim de boca | Sensação final que o vinho deixa na boca. Um grande vinho tem sempre um longo final, persistente. Os vinhos menos ambiciosos têm normalmente um final mais curto.

  • Frutado | Vinho com aromas de fruta, por exemplo frutos citrinos (laranja, limão) ou tropicais (manga, ananás) no caso dos vinhos brancos, ou ainda os frutos silvestres (amoras, framboesas), no caso dos tintos.

    G

  • Granito | Solos ricos em granito, como os da região do Dão, originam muitas vezes vinhos com aromas minerais.

    H

  • Hectare | Unidade de medida, aplicada igualmente às áreas de vinha.

    I

  • IG | Indicação Geográfica: Pode ser usada a designação IG (por exemplo IG Beira Atlântico) ou Regional (por exemplo, Regional Alentejano). São vinhos de qualidade superior, tal como os DOC, mas sujeitos a regras menos apertadas, sendo possível, por exemplo, a utilização de inúmeras variedades de uva para os fazer, incluindo estrangeiras. Têm igualmente de passar por um painel de provadores.

    J

  • Jovem | Vinho geralmente frutado, fresco, muitas vezes indicado para beber enquanto jovem. Mas a designação também se aplica ao vinho recém-produzido, que pode envelhecer com nobreza.

    L

  • Leve | Vinho ligeiro, que se caracteriza pelo seu baixo teor alcoólico e pouco corpo.

  • Limpidez | Qualidade transversal a quase todos os vinhos que consiste num aspecto límpido e cristalino do vinho.

    M

  • Macio | Vinho suave, com poucos taninos, que produz na boca sensações de macieza.

    N

  • Novo | Vinho produzido no ano actual ou com, no máximo, um ano de colheita.

    O

  • Oxidado | Vinho que sofreu oxidação, por contacto com o ar, resultando defeituoso.

    P

  • Pesado | Vinho encorpado mas sem fineza, com pouca acidez.

    Q

  • Quente | A sensação de calor causada pelo elevado grau de álcool de um vinho.

    R

  • Redondo | Vinho com bom balanço, envolvente, suave. Equilibrado, que mostra harmonia entre todas as suas componentes.

  • Refrescante | Com acidez agradável, proporcionando na boca uma sensação de frescura.

    S

  • Sedoso | Semelhante a aveludado.

    T

  • Tanino | Componente própria da uva que dá uma certa aspereza aos vinhos. O tanino é importante para o bom envelhecimento do vinho.

    U

  • Untuoso | Vinho sedoso, cremoso, denso.

    V

  • Vintage | A designação genérica corresponde à data de colheita. Aplicada ao vinho do Porto, indica um vinho feito com uvas de um determinado ano, normalmente um ano excepcional. Obrigatoriamente engarrafado dois anos após a vindima.

https://www.pingodoce.pt/

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

E o direito de ter dúvidas, não temos?

Na eutanásia, trata-se de cruzar mais uma linha vermelha relacionada com a “sacralização” da vida humana. Ficará assim provado que não há limites para o exercício do poder político sobre a sociedade

A política portuguesa é agora assim: numa semana, estamos a discutir Joacine Katar Moreira; e na outra semana, a “eutanásia”. Os temas variam, o que não varia é a pressa e a confusão com que tudo passa, seja trivial, como a devolução de uns manipansos coloniais, seja fundamental, como a possibilidade de pessoas serem mortas nos hospitais e clínicas do país. No caso da eutanásia, são os seus proponentes que exigem rapidez e não se incomodam com equívocos. Duas horas do tempo parlamentar parece-lhes mais do que suficiente para aviar o assunto. Para eles, não existem dúvidas.

Rui Ramos

Observador

PCP acusa Metro de Lisboa de aprovar concurso e incluir linha circular.

As autoridades tem o dever de investigar esta situação gravosa e de má-fé, pelo que parece!

Partido diz ter sido assinado um contracto depois de o projecto da linha circular ter sido suspenso.

O PCP acusou ontem o Metro de Lisboa de ter aprovado um concurso de sinalização para incluir na linha circular, que foi suspensa pelo Parlamento na semana passada. De acordo com o deputado Bruno Dias, do PCP, o Metro de Lisboa assinou um contracto de fornecimento de material circulante e substituição do sistema de sinalização, tendo alterado e aprovado o concurso com o objectivo de passar a abranger duas futuras estações – Estrela e Santos – que fariam parte da linha circular.

O partido sublinhou que o momento em que a aprovação do concurso aconteceu foi “particularmente incompreensível” – um sábado, dois dias depois de o Orçamento do Estado ter dado prioridade à ligação a Loures e à zona ocidental de Lisboa. “Tem de haver seriedade no debate político e responsabilidades sobre as decisões”, sublinhou Bruno Dias no Parlamento.

Em comunicado, o Metro de Lisboa defendeu-se, referindo que esse contracto tem por objectivo a “aquisição de material circulante” para modernizar o actual sistema de sinalização ferroviária, bem como para o aumento da frota da empresa. “Ocontracto prevê a aquisição de um novo sistema de sinalização e a aquisição de 42 carruagens, pelo valor de 114,5 milhões de euros. Vai melhorar a oferta de comboios e serviços do Metropolitano de Lisboa, permitindo mais conforto e acessibilidade”, lê-se no comunicado.

No passado dia 5 de Fevereiro, os deputados aprovaram no Parlamento a suspensão da linha circular do Metro de Lisboa durante a votação do Orçamento do Estado, indo ao encontro da proposta do PAN e do PCP. O PS foi o único partido a opor-se, com a presidente do seu grupo parlamentar, Ana Catarina Mendes, a acusar o PSD de “tremenda irresponsabilidade” por apoiar estas propostas. https://ionline.sapo.pt/artigo/686149/pcp-acusa-metro-de-lisboa-de-aprovar-concurso-e-incluir-linha-circular?seccao=Portugal_i

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

Foi no partido do Mestre André que eu comprei um bigodinho.

O problema dum tipo se dar com nazis é que é impossível que não lhe ponham a alcunha “o tipo que se dá com nazis”. A não ser que possua um atributo físico tão saliente que suplante a amizade com nazis.

“Eu proponho que a própria deputada Joacine seja devolvida ao seu país de origem. Seria muito mais tranquilo para todos… inclusivamente para o seu partido! Mas sobretudo para Portugal”.

A generalidade das opiniões sobre o post publicado por André Ventura no seu Facebook, diz que isto é como ordenar a Joacine Katar Moreira “vai para a tua terra!”. Não me parece. “Vai para a tua terra!” é uma ordem e implica que Joacine obedeça. Ora, como já se percebeu, Joacine não vai a lado nenhum por obrigação, só faz o que lhe apetece. Daí Ventura falar em devolução. Não só aproveita para retirar agência a Joacine, tratando-a como uma encomenda (referir-se a um africano como uma mercadoria é um conceito racista com carga histórica que deve agradar a alguns dos seus eleitores), como ainda evita ter de se dirigir pessoalmente a ela. É que “vai para a tua terra!” seria uma interpelação directa e Ventura não tem audácia para isso. Prefere dizer “seja devolvida”, sem especificar, digamos, o fiscal alfandegário. Ventura acumula a cobardia de mandar bocas online, a miúfa de o fazer indirectamente e a tibieza de não se comprometer em pessoa. Parece um esquilo a aforrar para o Inverno, só que, em vez de avelãs, atafulha as bochechas com pusilanimidade.

É por isso que não faz sentido dizer que o post é conversa de tasca. Na tasca fala-se cara a cara e quem o faz tem de encarar o alvo, sem medo – e sem vergonha do mau hálito causado pela ingestão prolongada de zurrapa. Ventura não tem coragem para se dirigir a Joacine e dizer-lhe o que escreveu na Internet. Nem sequer num daqueles apartes chistosos com que os deputados pontuam as intervenções uns dos outros. Isto é só bravata de teclado. É facebazófia.

Entretanto, tem-se dito que André Ventura e Joacine Katar Moreira se alimentam mutuamente. Que, com as suas polémicas, chamam a atenção mediática um para o outro. Isso até pode já ter acontecido, mas neste caso da resposta de Ventura a uma proposta de JKM, só se pode dizer que se alimentam um ao outro na medida em que um agricultor alimenta uma galinha com milho, enquanto a galinha vai alimentar o agricultor com a sua própria chicha. O que o agricultor faz nem é bem alimentação, é engorda.

Querer equivaler uma resposta racista a uma proposta política é uma forma de justificá-la. Com as devidas distâncias, é mais ou menos o que fazem aqueles que, depois dos ataques ao Charlie Hebdo ou à Porta dos Fundo, têm o cuidado de, ao mesmo tempo que condenam o atentado, referir sonsamente que os desenhos eram “ataques ao Islão” ou o filme era um “ataque à Igreja”. O objectivo dessa equivalência é justificar a violência, dizendo que se trata de uma resposta a uma ofensa muito grave.

Como é óbvio, não estou a dizer que a resposta de Ventura é igual a um atentado. Não é, evidentemente. Apesar de cobardolas, Ventura não responde com violência. Já alguns dos seus correligionários são do tipo que tem esse péssimo hábito. Sejam os dirigentes do Chega que militaram em organizações nazis, sejam os apoiantes que fazem a saudação romana em comícios do partido, como aquele entusiasta das imagens que surgiram de um comício do Chega, que faz um vigoroso sieg heil! a Ventura.

Na fita “Indiana Jones e a Grande Cruzada”, assim que o herói descobre que há nazis nas redondezas, diz: “Nazis. I hate these guys”. Não precisa de esperar para descobrir o que andam a fazer por ali, não lhes dá o benefício da dúvida. E reparem que Indiana Jones é arqueólogo. O seu trabalho é escavar túmulos onde malta bera fez todo o tipo de maldades ao longo da história. Mesmo assim, abomina nazis acima de todos.

O problema de um tipo se dar com nazis é que é impossível que não lhe ponham a alcunha “o tipo que se dá com nazis”. A não ser que possua um atributo físico tão saliente que suplante a amizade com nazis como característica definidora. Ainda assim não tenho certeza, o nazismo é uma espécie de gene dominante. Mesmo um coxo vesgo que conviva com nazis, vai ficar conhecido como o “coxo vesgo que se dá com nazis”.

José Diogo Quintela – Observador

O Impacto Global da Doença Respiratória - Asma

Livro “O Impacto Global da Doença Respiratória”

Fórum Internacional de Sociedades Respiratórias

Editado pela OMS.

Alcance da doença

A asma acomete cerca de 334 milhões de pessoas em todo o mundo (4) e sua incidência tem aumentado nas últimas três décadas (5). Ela afecta todas as idades, raças e etnias, embora exista uma grande variação em diferentes países e em diferentes grupos dentro do mesmo país. É a doença crónica mais comum em crianças e é mais grave em crianças que vivem em países de baixa renda (24). Nessas situações, o sub–diagnóstico e o sub–tratamento são comuns e medicamentos eficazes podem não estar disponíveis ou acessíveis. A carga da asma é alta (11) (25). É uma das causas mais frequentes para internações hospitalares evitáveis em crianças de países de alta renda, mas há menos informação disponível em países de baixa e média renda (25). Em alguns estudos, a asma é responsável por mais de 30% de todas as internações pediátricas e por quase 12% das readmissões no período de 180 dias depois da alta (26). Não é amplamente sabido que a asma causa cerca de 489.000 mortes por ano, ou mais de 1300 mortes por dia (1). As principais evidências indicam que as crianças com asma podem ter um crescimento pulmonar anormal e estão em risco de desenvolver comprometimento respiratório ao longo da vida e DPOC (27).

As causas do aumento da prevalência global da asma não são bem compreendidas. A predisposição genética, a exposição a alérgenos ambientais, a poluição do ar no interior e exterior das casas, a infecção do tracto respiratório inferior no início da vida, a composição do microbioma das vias respiratórias, os factores dietéticos e as respostas imunológicas anormais podem promover o aumento da prevalência global da asma. O tempo e o nível de exposição à alérgenos, infecção ou irritantes podem ser os principais factores que levam ao desenvolvimento da doença. As infecções virais precoces e a exposição passiva ao fumo do tabaco têm sido associadas ao desenvolvimento de asma em crianças jovens. Os alérgenos e irritantes aéreos associados à asma ocorrem no local de trabalho e podem levar a doenças crónicas e debilitantes entre os trabalhadores se a exposição persistir.


Prevenção

A causa da maior parte dos casos de asma é desconhecida, e não existem estratégias eficazes para a prevenção primária. Entretanto, factores de risco potencialmente modificáveis para o desenvolvimento da asma incluem fumar durante a gravidez e o uso de antibióticos de amplo espectro no primeiro ano de vida.

Os asmáticos que fumam têm um declínio mais rápido na função pulmonar do que os não fumantes ao longo da vida. Evitar fumar durante a gravidez e evitar a exposição passiva à fumaça após o nascimento pode reduzir a gravidade da asma em crianças. As intervenções epidemiológicas envolvendo asma relacionada ao trabalho nos ensinaram que na idade adulta, a remoção precoce de alérgenos ou irritantes pode levar a um melhor controle da doença, embora a carga e o custo da intervenção precisam ser levados em consideração. Existem poucas evidências de uma única estratégia para intervenções eficazes de prevenção de alérgenos em ambientes internos para adultos fora do contexto ocupacional, excepto a reparação da umidade e mofo. O uso de medicação de manutenção pode efectivamente prevenir as crises de asma intercorrente com o declínio resultante da função pulmonar e foi claramente demonstrado que reduz a mortalidade e as hospitalizações (25).


Tratamento

Fazer um diagnóstico correcto é essencial, e melhorar o acesso à espirometria ajudará a reduzir o diagnóstico errado. A asma é geralmente uma doença de toda a vida que não é curável, mas o tratamento com medicamentos essenciais para asma, de qualidade assegurada pode efectivamente controlar a doença. Os corticosteroides inalados são a pedra angular do controle eficaz da asma. Quando usados adequadamente, isto é, tomados regularmente com a técnica correcta e um espaçador ou outro dispositivo para assegurar a inalação, estes medicamentos podem diminuir a gravidade e a frequência dos sintomas de asma. Eles também reduzem a necessidade de inaladores de resgate (broncodilatadores de acção rápida) e a frequência de episódios graves (“exacerbações”) que requerem cuidados médicos urgentes, visitas a salas de emergência, hospitalizações e morte. Os broncodilatadores inalatórios são importantes para proporcionar alívio rápido dos sintomas da asma.

Infelizmente, muitas pessoas que sofrem de asma não têm acesso a medicamentos eficazes de qualidade assegurada. Embora os corticosteroides inalados e os broncodilatadores inalados estejam na lista de medicamentos essenciais da Organização Mundial da Saúde (OMS), eles estão indisponíveis ou inacessíveis em muitos contextos (25) (28).

A falta de disponibilidade de medicamentos não é a única razão pela qual as pessoas com asma não recebem cuidados eficazes. Mal–entendidos generalizados sobre a natureza da doença e seu tratamento muitas vezes impedem as pessoas de usar os tratamentos adequados. As campanhas educacionais para incentivar o uso regular de corticosteroides inalados para controle, evitar exposições que desencadeiam ataques de asma e o fornecimento de planos de acção para asma por escrito para que o paciente possa responder ao agravamento da asma, são partes importantes de programas eficazes de controle da doença.


Controle

São necessárias pesquisas adicionais para entender melhor as origens da asma, as causas das exacerbações e as razões para sua crescente prevalência em países de baixa e média renda (5). O Estudo Internacional de Asma e Alergias na Infância (ISAAC) forneceu ideias sobre a doença e facilitou a pesquisa padronizada sobre asma em crianças que ajudou a definir a prevalência, tendências e determinantes da asma e alergias em todo o mundo. Este trabalho e outros resultados da investigação estão sendo incorporados em estratégias baseadas em evidências para o tratamento da asma. A disseminação e a implementação destas estratégias irão melhorar o controle da asma. Fabricar corticosteroides inalados com qualidade assegurada, broncodilatadores e dispositivos espaçadores amplamente disponíveis a um preço acessível e informar as pessoas com asma sobre a doença e seu manejo são passos fundamentais para melhorar os resultados para as pessoas com asma. As estratégias para reduzir a poluição do ar interior, exposição ao fumo e infecções respiratórias vão melhorar o controle da asma e reduzir a necessidade dos serviços de saúde.

E não se pode devolvê-los?

Sei que para grandes electrodomésticos a garantia é de 2 anos. A questão com estes dois monos, Joacine e André, é que quando os mandámos vir eram já bem visíveis os defeitos nas suas ideias políticas.

Por estes dias, fica a impressão que a política portuguesa é o balcão de apoio ao cliente da IKEA: só se fala em devoluções. É Joacine Katar Moreira que quer devolver às ex-colónias o património que está nos museus portugueses, é André Ventura a querer devolver Joacine Katar Moreira ao seu país de origem e é a maior parte dos eleitores a questionar se não haverá hipótese de devolver Joacine Katar Moreira e André Ventura e trocá-los por deputados novos. Troca que nenhum fornecedor de deputados poderia recusar, pois tornou-se bastante evidente que, tanto num caso como no outro, faltam vários parafusos.

O eventual problema com esta troca é se Joacine Katar Moreira e André Ventura ainda estarão dentro da garantia. Sei que para grandes electrodomésticos a garantia é de 2 anos. A questão com estes dois monos é que, quando os mandámos vir, eram já bem visíveis os defeitos nas suas ideias políticas. E, nestes casos, não costuma ser possível devolver, ou pedir a reparação. É pelo menos o que diz o site da DECO Proteste. Mas por mim tudo bem. A garantia em que estou de olho é na que os dois deputados dão de que vai continuar a haver bastante sarrabulho na Assembleia da República.

Isto porque, mesmo depois da expulsão do partido e passando a deputada não inscrita, Joacine Katar Moreira está de pedra e cal no Parlamento. Foi a própria a confirmar que “enquanto a minha gaguez não desaparecer na Assembleia da República não saio de lá também”. É aqui que se vê que a deputada ainda não está completamente por dentro do funcionamento do Parlamento. É verdade que o Palácio de São Bento tem propriedades curativas, mas não funciona dessa forma. Normalmente, os parlamentares resolvem os seus problemas mas é só quando deixam o cargo. Quer dizer, suponho que com a gaguez também seja assim. Isto porque os casos que conheço de deputados que resolveram os seus problemas, logo que abandonaram a carreira, não foram casos de problemas de gaguez, mas sim de problemas de liquidez.

A propósito de liquidez, a passagem de Joacine Katar Moreira a não inscrita, resultará num corte do montante para actividades parlamentares de 117 mil euros para 57 mil euros anuais. É uma redução significativa, mas pelo menos temos a garantia da qualidade das propostas políticas ser impossível baixar. O meu receio é o efeito deste corte nas despesas de representação. Não tarda nada e, acompanhando o orçamento bem mais curto, veremos o assessor de Joacine a passear-se na Assembleia da República de mini-saia.

Do que não há dúvida é que Joacine Katar Moreira e André Ventura estão no centro das atenções da política nacional. Um pouco como aconteceu com André Silva, do PAN, na legislatura anterior. Aliás, tal como com o PAN nessa altura, também o Livre e o Chega estão, agora, a viver o seu momento urso panda. São partidos exóticos, com um exemplar único da sua espécie, que no zoológico político suscitam imensa curiosidade por parte dos eleitores. Depois, se calha elegerem mais deputados — tipo PAN — perdem todo aquele fascínio inerente a serem uma ave rara e passam a granjear a popularidade de, digamos, um bando de pombos carregados de E. coli.

Graças a estas polémicas, assistimos à mais inesperada coligação negativa da história da política portuguesa. Esqueçam a coligação entre PS, PCP e BE, que evitou que o PSD governasse; esqueçam a coligação que PSD, PCP e BE ameaçaram fazer para diminuir o IVA da electricidade; a mais espectacular coligação negativa de sempre é esta entre o Livre e o Chega, que dá mesmo ideia de se terem mancomunado para se livrarem da Joacine Katar Moreira.

É como se costuma dizer: os extremos tocam-se. E, neste caso, é possível que se tenham tocado quando o Grupo de Contacto do Livre e aquele indivíduo que fez a saudação nazi num comício do Chega deram um high five, em jeito de festejo pela primeira expulsão de uma deputada negra na história da democracia portuguesa.

Tiago Dores – Observador

Un rockefeller en Ponte Caldelas - Manuel Cordo Boullosa

O fundador da antiga SONAPE, hoje GALP

Em 1982 fundou a editora literária portuguesa Difel (Difusão Editorial S.A.), que fechou no início de 2011.


Julián Rodríguez


La Revolución de los Claveles llevó al fundador de Galp, Cordo Boullosa, a refugiarse a este lado de la frontera.

Los ex alumnos del colegio público de Infantil y Primaria de Ponte Caldelas todavía recuerdan el viaje de fin de curso a la Expo de Lisboa organizado por la dirección del centro pontevedrés. Corría 1998 y en la agenda del periplo estaba anotada una visita un tanto especial, lejos de las instalaciones del evento. Una mansión en Caparide (Estoril) era el destino: la residencia privada del magnate luso Manoel Cordo Boullosa (1905-2000), que llegó a ser la segunda fortuna del país a través de negocios relacionados con el petróleo, fundador de lo que es hoy en día la multinacional Galp y accionista de bancos y empresas de hidrocarburos.

La suya no es una vida escrita en la barra de hielo de la emigración, que se suele derretir a golpe de claroscuros. Cordo Boullosa, de padres gallegos, con residencia permanente en la parroquia natal de su madre, Caritel, era "lúcido, afable, y generoso a la hora de hacer donativos al centro", recuerda Juan Ramón Boga, el secretario del colegio.

Un céntrico paseo y el CEIP de Ponte Caldelas llevan hoy su nombre. De la chequera del empresario salieron fondos "e incluso en su día la cesión de los terrenos para levantar el nuevo colegio", recuerda el funcionario. También, una discreta casa familiar, de piedra, a la que solía acudir con frecuencia. ¿Pero cuál era la relación del magnate del petróleo portugués con Ponte Caldelas más allá del haber sido el lugar de nacimiento de sus padres? La respuesta la tiene José Manuel Lopes Cordeiro, profesor de la Universidade do Miño, en Braga. "Con apenas un año de edad, Cordo Boullosa perdió a su madre, de 28 años y embarazada de su quinto hijo; por esa razón el padre decidió enviarlo a Caritel, encomendando su cuidado a sus tías, hasta la edad de ocho años". En Ponte Caldelas hizo la primaria, para regresar en 1913 a Lisboa. Galicia volvería al mapa vital del empresario muchos años después, cuando ya se había convertido en el rockefeller portugués. Fue en plena Revolución de los Claveles, en abril del 74.

En mayo de aquel año, relata el profesor Lopes Cordeiro en el libro Empresarios de Galicia, de la Fundación Caixa Galicia, la radicalización del movimiento popular exigió al gobierno provisional democrático decisiones firmes contra las personalidades afines al régimen depuesto, con nacionalizaciones y medidas para evitar la fuga de capitales. "El día 21 de ese mes, Cordo Boullosa fue alertado por un militar de que sería detenido al día siguiente y partió de inmediato a Galicia". Había financiado a los sectores opuestos al Movimiento Democrático para la Liberación de Portugal (MDLP), presidido por el ex general Antonio de Spínola.

Tras su discreto paso por Galicia, del que apenas hay constancia, París y Brasil serían los destinos de Cordo Boullosa. Pero no se fue al exilio con lo puesto. En su hatillo, todo un imperio levantado a raíz de negocios de hidrocarburos que había iniciado su padre, y la leyenda de haber montado en 1938 la primera empresa petrolífera de capital portugués, la Sociedade Anónima de Refinación de Petróleos (Sacor). En la capital gala presidiría el Banque Franco-Portugaise, "lo que le permitió financiar su actividad empresarial", que llevó a cabo también desde entidades financieras que controlaba en Brasil. Años atrás ya había dado el salto internacional, como miembro del consejo de administración de la Compagnie Française des Pétroles, actual Total, y la implantación de su grupo en países africanos como Mozambique o Rodesia, hoy Zimbawe, con plantas de refino.

Al más puro estilo de John Rockefeller, fundador de Standard Oil, hoy en día ExxonMobil, Cordo Boullosa participó también en la constitución de Petrogal, aunque a regañadientes. El primer gobierno democrático tras la revolución tranquila del país vecino propició la nacionalización de todas las empresas petrolíferas, entre ellas las del empresario. Fue años más tarde, cuando en 1989 se constituye sobre Petrogal lo que hoy se conoce como Galp. En su accionariado estaría Cordo Boullosa. Pero los negocios también le traerían a Galicia. En la década de los 50.

"Junto a su amigo el abogado Valentín Paz Andrade", continúa el profesor de la Universidade do Miño, "ideó la instalación de una refinería en las proximidades del puerto de Vigo, pero finalmente el gobierno de Franco optó por A Coruña". A aquella decisión no fue ajeno Pedro Barrié de la Maza, en línea directa con El Pardo. De sus relaciones con su tierra de origen también da cuenta el colectivo de emigrantes en Lisboa. El actual centro gallego de dicha capital fue donado en julio de 1988 por el empresario, un palacete construido a finales del siglo XIX.

Elvira Raposeiras, directora del centro de Primaria de Ponte Caldelas, recuerda la última visita del empresario al colegio. Hace memoria y asegura que "fue al principio de los 90, en un acto entrañable, después de colaborar con ayudas para financiar la biblioteca". Por algo en la hoja de servicios de Cordo Boullosa figura una medalla Castelao y, a título póstumo, la de oro de Galicia.

* Este artículo apareció en la edición impresa del Domingo, 17 de enero de 2010 El Pais

Livin’ la IVA Loca

Há pouca gente mais eficiente energeticamente do que uma pessoa com frio, que até respira mais devagar e por isso emite menos CO2. E não há mesmo ninguém carbonicamente mais neutro do que um defunto.

Um aspecto desagradável da paternidade é descobrir que faço exactamente as mesmas coisas irritantes que o meu pai fazia. Por exemplo, o meu pai andava furibundo pela casa a desligar interruptores e a perguntar “mas vocês acham que eu sou accionista da EDP?”, e eu dou por mim a fazer o mesmo, só que a dizer “mas vocês acham que eu desejo contribuir para a destruição do planeta?”

A avareza é a mesma. Mas, em minha defesa, a avareza que exibo acaba por ser moralmente superior, porque está embrulhada em preocupação climática. O meu pai não possuía o cinismo para disfarçar o facto de ser somítico. Já eu, sim. A consciência ambiental dá muito jeito para camuflar a ganância.

Como António Costa descobriu agora, a propósito do IVA da electricidade. O PM disse que a redução do IVA seria uma medida “ambientalmente irresponsável”, o que parte de dois pressupostos. O primeiro é que, com electricidade mais barata, as pessoas gastam à tripa-forra. Sempre que passam na cozinha ligam a torradeira, usam a máquina da roupa vazia só para se entreterem com o tambor a andar à roda ou vão para o OLX comprar lâmpadas antigas, das que gastam mais, só pelo estilo.

Estas pessoas pressupostas por Costa, refira-se, são os pobres. Para quem tem dinheiro, o IVA não aquece nem arrefece, para os pobres, sim. Literalmente. Portanto, Costa acha que, com diminuição do preço, não se pode confiar nos pobres. Como eu cá em casa, com as crianças e as bolachas: sei que quantos mais pacotes comprar, mais elas comem.

(Já em 2018 o Ministro do Ambiente tinha sugerido que, se quisessem poupar, os portugueses deviam diminuir a potência contratada, para não desperdiçarem electricidade. Estava a pensar naquelas famílias esbanjadoras que, depois do jantar, chegam a ligar a televisão e a máquina da loiça ao mesmo tempo. Quando podiam perfeitamente ver televisão enquanto lavam a loiça à mão – isso é possível uma vez que, por norma, vivem em casas com kitchenette).

O segundo pressuposto é que o aumento de consumo causado pela descida do IVA tem impacto efectivo no aumento de temperatura. Quer dizer, para ser rigoroso, até tem. Só que não é no aumento da temperatura do planeta, é no aumento da temperatura em casa das pessoas que têm dificuldade em pagar o aquecimento. Ora, se a China e a Índia continuam a emitir CO2 à bruta, não são as emissões de um país com 10 milhões que vão fazer qualquer tipo de diferença. Até porque uma redução de emissões por diminuição do consumo de electricidade acaba por ser compensada com aumento de emissões pela queima de lenha para as pessoas se aquecerem.

É óbvio que António Costa não acredita nisto. Nem que os pobres são perdulários, nem que Portugal tem um papel real na diminuição de emissões. Só que dá-lhe jeito fazer a conversa da responsabilidade ambiental, para evitar perder a receita do IVA. É uma desculpa para ganhar dinheiro. Aliás, o clima é muito útil ao Governo. Se há incêndios dramáticos, diz “não podemos fazer nada, são as alterações climáticas, está fora das nossas mãos”. Se é para baixar os impostos sobre a electricidade, “então e as alterações climáticas? Temos de fazer qualquer coisa, está nas nossas mãos”. É o pretexto ideal para trabalhar menos e ganhar mais.

Deixar o IVA como está não é ser só contra a iluminação, é ser contra o iluminismo. Usar menos electricidade por causa do clima é superstição, uma espécie de sacrifício para aplacar os elementos. Só não é o equivalente a auto-flagelação, porque a auto-flagelação ao menos aquece.

No fundo, o que o Governo diz é que a electricidade mais cara é para nosso bem-estar. O que não faz sentido. A electricidade é um bem essencial. Sem ela a vida é muito pior e os benefícios ultrapassam largamente os prejuízos. Foi com a ajuda da electricidade, por exemplo, que o Bloco de Esquerda pesquisou na Internet e descobriu que se morre de frio em Portugal e que o discurso de António Guterres, Greta Thunberg, Bernie Sanders e outros activistas (por coincidência, nunca são indigentes) quando se transforma em medidas com impacto na vida das pessoas, torna-as mais pobres.

A única ocasião em que dificultar o acesso à electricidade faz bem à saúde é quando a pessoa em questão é um condenado à cadeira eléctrica. De resto, a electricidade dá muito jeito, principalmente num país em que, apesar do clima ameno, se morre de frio com bastante frequência. Por causa da pobreza. Ou, como se diz agora, eficiência energética. Há pouca gente mais eficiente energeticamente do que uma pessoa com frio, que até respira mais devagar e por isso emite menos CO2. E não há mesmo ninguém carbonicamente mais neutro do que um defunto.

Se Abel Matos Santos sente mesmo necessidade de elogiar o Estado Novo e não quer ser criticado por isso, em vez de gabar a PIDE, deve louvar a consciência ambiental de Salazar, que mantinha os portugueses muito mais ambientalmente responsáveis.

José Diogo Quintela

Observador

Há um padrão. Algo no Espaço profundo está a enviar sinais para a Terra uma vez a cada 16 dias.

Excelentes notícias!!!

Uma fonte de rádio misteriosa localizada numa galáxia a 500 milhões de anos-luz da Terra está a pulsar num ciclo contínuo de 16 dias, como um relógio.

Esta é a primeira vez que os cientistas detectam periodicidade neste tipo de sinais, conhecidos como FRBs (Fast Radio Bursts), e é um passo importante para desmascarar as suas fontes.

Os FRBs são um dos quebra-cabeças mais tentadores que o Universo lançou aos cientistas nos últimos anos. Vistas pela primeira vez em 2007, as poderosas explosões de rádio são produzidas por fontes energéticas, embora ninguém saiba ao certo o que poderão ser. Os FRBs também são confusos, uma vez que podem ser pontuais ou “repetidos”, o que significa que algumas explosões aparecem apenas uma vez numa determinada parte do céu, enquanto outras emitem vários flashes para a Terra.

Até agora, os pulsos destas repetidas explosões pareciam aleatórios e discordantes no seu tempo. Porém, isso mudou no ano passado, quando o Canadian Hydrogen Intensity Mapping Experiment Fast Radio Burst Project (CHIME/FRB), um grupo dedicado a observar e estudar FRBs, descobriu que um repetidor chamado FRB 180916.J0158 + 65 tinha uma cadência regular.

De acordo com o Vice, a equipa acompanhou a repetição entre Setembro de 2018 e Outubro de 2019 com o radiotelescópio CHIME na Colúmbia Britânica. Durante esse período, as explosões foram agrupadas num período de quatro dias e pareciam desligar-se durante os 12 dias seguintes num ciclo total de cerca de 16 dias. Apesar de alguns ciclos não produziram explosões visíveis, todos ocorreram sincronizados nos mesmos intervalos de 16 dias.

“Concluímos que esta é a primeira periodicidade detectada de qualquer tipo numa fonte FRB”, disse a equipa num artigo publicado no servidor de pré-impressão arXiv em Janeiro. “A descoberta de uma periodicidade de 16,35 dias numa fonte repetitiva de FRB é uma pista importante para a natureza desse objecto”.

Recentemente, os cientistas rastrearam o FRB numa galáxia chamada SDSS J015800.28 + 654253.0, que fica a 500 milhões de anos-luz da Terra. É o FRB mais próximo já detectado. Apesar de sabermos onde está, ainda não sabemos o que é. Se a fonte do FRB estiver a orbitar um objecto compacto, como um buraco negro, poderá transmitir apenas os sinais para a Terra num determinado ponto do período orbital. Esse cenário pode corresponder ao ciclo de 16 dias.

Também é possível estarmos a testemunhar um sistema binário com uma estrela massiva e um núcleo estelar super denso conhecido como estrela de neutrões, de acordo com um estudo publicado no arXiv por uma equipa que analisou os mesmos dados. Nesse modelo, a estrela de neutrões emitiria rajadas de rádio, mas os sinais seriam eclipsados ​​periodicamente por ventos opacos do seu companheiro gigante.

Outro cenário é que o ritmo do FRB não é temperado por outro objecto e está a enviar os pulsos directamente da fonte. Os cientistas sugeriram anteriormente que explosões de estrelas de neutrões altamente magnetizadas, chamadas magnetares, podem ser a fonte de alguns FRBs. Porém, os magnetares tendem a girar a cada poucos segundos por isso o ciclo de 16 dias não corresponde ao perfil esperado.

Um estudo recente, publicado em Dezembro na revista científica The Astrophysical Journal Letters, também revelou a repetição de um sinal, quase 600 vezes mais fraca que a primeira explosão. A repetição sugere que as explosões de rádio estranhas que continuamos a detetar no cosmos podem ser mais ativas e mais complexas do que pensávamos.

OzGrav, Swinburne University of Technology

O Joker não joga com o baralho todo

Como é possível Joaquin Phoenix ter ganho a estatueta de melhor actor pelo seu desempenho em Joker? Então agora um chalupa a fazer papel de chalupa merece um prémio?

Esta semana houve Óscares, aquela cerimónia para a qual multi-milionários ricamente adornados, que fizeram fortuna graças a uma sociedade livre e capitalista, são transportados em luxuosas limusines até um sumptuoso anfiteatro para aí injuriarem a maléfica sociedade livre e capitalista, enquanto cantam odes lunáticas ao socialismo ou, nos casos clinicamente irrecuperáveis, ao comunismo. O que prova que há algum exagero quanto à adesão das estrelas de Hollywood à dieta vegan. O regime alimentar realmente em voga por aquelas bandas é, na verdade, o salivanismo: é que não vejo como possa sobrar espaço na louça, tendo em conta o que esta gente gosta de cuspir no prato em que come.

O Óscar de melhor filme foi para uma película sul-coreana chamada “Parasitas”. A vitória foi saudada como um grande triunfo da diversidade e como prova de que a cultura americana não é superior a qualquer outra. Ao receber o prémio, o realizador Bong Joon-ho agradeceu à sua equipa, aos seus pais e aos mais de 35.000 norte-americanos que, na Guerra da Coreia, deram a vida para que ele não nascesse norte-coreano. O que, neste caso, até foi azar. É que, se a ideia era fazer um filme sobre as chocantes diferenças entre ricos e pobre, na Coreia do Norte teriam poupado uma fortuna em cenários e em planos nutricionais para emagrecer os actores. Só não teria resultado porque, ainda antes de acabarem de filmar a primeira cena, Kim “O Facínora III” Jong-un diria: “Corta! A cabeça a este realizador, inimigo do progresso imparável da República Popular Democrática da Coreia.”

Mas, como é óbvio, a grande novidade destes Óscares não foi a profundíssima hipocrisia. O que marcou esta edição foi o escândalo da atribuição da estatueta de melhor actor a Joaquin Phoenix. Como é possível ele ter ganho pelo seu desempenho em Joker? Então agora um chalupa a fazer papel de chalupa merece um prémio? É que nem sequer devia ser permitido concorrer. Isto é um caso claro de doping no mundo da representação. Um indivíduo sadio a fazer de Joker, sim senhor: prémio. Agora, o Joaquin Phoenix? Um homem que, no discurso de agradecimento, mostrou indignação porque, segundo ele, “sentimo-nos com o direito de inseminar artificialmente uma vaca” e “depois roubamos-lhe o leite, que pertence à sua cria, e colocamo-lo no café e nos cereais”? Não, pá. Tenham paciência. Deviam ter guardado o Óscar para quando ele fizer de Gandhi, ou assim.

Enfim, concedo que esteja a ser um pouco injusto para com Joaquin Phoenix. A verdade é que, eu próprio, também me sinto bastante incomodado com a forma como lidamos com alguma, digamos, bicharada. Por exemplo, por estes dias, dei comigo a pensar: coitado do coronavírus. Sentimo-nos com o direito de esmiuçar o ADN de um vírus e depois roubamos-lhe o código genético, que lhe pertence, e colocamo-lo nos antídotos e nas vacinas. Não se faz. Deixem o coronavírus viver livre por esses campos fora, a correr, a saltar e a ser feliz!

Quem está decidido a não dar tréguas ao coronavírus é o presidente da Câmara de Lisboa. Assim que o surto começou, Fernando Medina tomou medidas. Muito mais eficaz do que pôr os lisboetas de quarentena, Medina apresentou de imediato a Zona de Emissões Reduzidas. Muito em breve, os moradores da Avenida da Liberdade, Baixa e Chiado passam a não poder andar de carro. É uma espécie de carjacking em que o perpetrador é, não um marginal, mas uma Câmara Municipal. Só com isto, os potenciais infectados pelo coronavírus ficam logo sossegados nos seus lares. Além de que, segundo este projecto, poderão receber em suas casas, no máximo, 10 visitas por mês e só depois de previamente autorizadas pela autarquia. É mais ou menos como estar na prisão, com a desvantagem de, frequentemente, não conseguir chegar a horas do jantar por causa das greves nos transportes públicos. Pois é, ficou tudo muito espantado com os escassos 10 dias que os chineses demoraram a construir um hospital para os portadores do coronavírus, mas a verdade é que Fernando Medina fez muito melhor com isto da Zona de Emissões Reduzidas, assinando o despacho do projecto em meros 5 segundos.

Tiago Dores

Observador

terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

Transporte de crianças em automóvel.

Lei n.º 72/2013


Diário da República n.º 169/2013, Série I de 2013-09-03

Código da Estrada


Artigo 55.º

1 - As crianças com menos de 12 anos de idade transportadas em automóveis equipados com cintos de segurança, desde que tenham altura inferior a 135 cm, devem ser seguras por sistema de retenção homologado e adaptado ao seu tamanho e peso.

2 - O transporte das crianças referidas no número anterior deve ser efetuado no banco da retaguarda, salvo nas seguintes situações:

a) Se a criança tiver idade inferior a 3 anos e o transporte se fizer utilizando sistema de retenção virado para a retaguarda, não podendo, neste caso, estar ativada a almofada de ar frontal no lugar do passageiro;

b) Se a criança tiver idade igual ou superior a 3 anos e o automóvel não dispuser de cintos de segurança no banco da retaguarda, ou não dispuser deste banco.

3 - Nos automóveis que não estejam equipados com cintos de segurança é proibido o transporte de crianças de idade inferior a 3 anos.

4 - As crianças com deficiência que apresentem condições graves de origem neuromotora, metabólica, degenerativa, congénita ou outra podem ser transportadas sem observância do disposto na parte final do n.º 1, desde que os assentos, cadeiras ou outros sistemas de retenção tenham em conta as suas necessidades específicas e sejam prescritos por médico da especialidade.

5 - Nos automóveis destinados ao transporte público de passageiros podem ser transportadas crianças sem observância do disposto nos números anteriores, desde que não o sejam nos bancos da frente.

6 - Quem infringir o disposto nos números anteriores é sancionado com coima de (euro) 120 a (euro) 600 por cada criança transportada indevidamente.

https://dre.pt/web/guest/legislacao-consolidada/-/lc/117121508/201811290000/73639188/diploma/indice

Porque é que Portugal não cresce e não converge com a UE?

Do sucesso dos anos 1980 passamos para o insucesso deste século, sobretudo quando nos comparamos com países da Europa de Leste, que estavam muito atrás de nós. O que aconteceu? Ensaio de Abel Mateus.

Abel Mateus.

A subida do nível de bem-estar e do rendimento de cada família de um país depende do crescimento económico. Só através do crescimento se conseguem salários mais elevados, melhorar os níveis de saúde, educação, serviços públicos e ambientais, entre outros. Durante as cinco décadas de 1960 a 2000, Portugal passou para a liga dos países desenvolvidos e afirmou-se dentro do grupo das nações da União Europeia: o nível de rendimento per capita multiplicou-se 4,7 vezes. Porém, nas duas décadas deste século, apenas cresceu cerca de 20%. Como se explica esta enorme quebra? É o que vamos tentar explicar neste breve ensaio.

O crescimento da economia portuguesa é um dos grandes temas do debate público e dos discursos políticos. Não significa isso, contudo, que o tema seja discutido com base na ciência económica. Demasiadas vezes tem sido refém de informação parcial e de leituras deliberadamente políticas. A economia portuguesa sofreu uma séria crise nos anos 2011-2014, mas a seguir a uma recessão dá-se uma recuperação – este é o ciclo económico. Contudo, o que é relevante no longo prazo é a tendência de evolução da economia: a sua evolução ao longo de pelo menos uma década. E aí é que a nossa economia tem um comportamento claramente insatisfatório. Como veremos, do sucesso dos anos 1980 passamos para o insucesso deste século, sobretudo quando nos comparamos com os países da Europa de Leste, que estavam muito atrás de nós quando caiu o muro de Berlim.

Portugal está há duas décadas em quase-estagnação

O rendimento per capita de Portugal está hoje entre os mais baixos da União Europeia a 28. Cada português tem um rendimento médio de cerca de 20.510 euros, por ano, que compara com a média europeia a 28 membros, de 31.831 euros, em que os holandeses têm 46,5 mil e os austríacos 44,9 mil, segundo os dados do Eurostat para 20191. Mas estes estão medidos a euros de mercado. Se corrigirmos pela Paridade do Poder de Compra (PPC), que corrige o rendimento pelo nível de preços do país, e se calcularmos o rácio com a média europeia, obtém-se os valores da Figura 1, em que Portugal tem em 2019 um PIB per capita médio igual a 77% da média da EU-28. Se compararmos com os três países que têm o PIB per capita mais elevado (Holanda, Áustria e Dinamarca)2, o valor para Portugal é apenas de 60%.

Em 2000, Portugal encontrava-se na 16.ª posição dentro da UE-283. Em 2019 tinha caído cinco lugares para a posição 21.º na escala do PIB per capita em PPC. Hoje, ainda atrás de nós estão países da Europa de Leste que, quando entraram no início dos anos 2000, eram bastante pobres em relação à UE. Hoje temos apenas sete países atrás de nós. Se a notícia é má, fica ainda pior: como veremos, vamos ser ainda ultrapassados por alguns destes países até 2025. A Figura 2 mostra a evolução do PIB per capita entre 1995 e 2025 (estimado) de um conjunto de países que tem convergido rapidamente, em contraste com Portugal. Os valores para 2020-2025 são projectados com as tendências observadas nos últimos 10 anos.

Primeiro, observamos que Portugal, depois de convergir 20 pontos percentuais entre 1980 e 2001 para a média do rendimento per capita da União Europeia, encontra-se hoje 6,5 pontos percentuais abaixo da posição que tinha em 1999. Ou seja, desde 1999 que o país se encontra em divergência europeia.

Segundo, apesar da recuperação que tem sido tão apregoada, desde 2016, esta ainda não permitiu recuperar o nível de 2009, depois da acentuada queda em 2011-2012, devido à crise económica e financeira do País. Repare-se que, em 20194, o PIB per capita está ainda 5,1 pontos percentuais abaixo do de 2009.

Terceiro, desde o início dos anos 2000, quando a maioria dos países de Leste acederam à UE, Portugal foi ultrapassado, em 2007 pela República Checa, em 2017 pela Estónia e Lituânia, em 2018 pela Eslováquia. Projecta-se que será ultrapassado, até 2024, pela Polónia e Hungria. Isto significa que, em 2025, teremos apenas a Bulgária claramente atrás de nós, com a Roménia já muito próxima, assim como a Grécia e a Croácia. Ou seja, passamos a estar entre os cinco países mais pobres da UE e a ter apenas um país claramente atrás.

Quarto, há quem diga que foi a crise global que nos fez atrasar na convergência europeia. De facto, entre 2009 e 2012 perdemos 7 pontos percentuais, e houve países afectados pela crise, como Grécia e Chipre, em que se verificou uma catástrofe, com quebras de 24 e 18 pontos percentuais entre 2007 e 2019, que compara com apenas 4,3 pontos para Portugal. Mas, em contrapartida, a Roménia e Lituânia subiram 22 pontos percentuais, a Polónia 20, seguidos pela Letónia, Estónia, Eslováquia e Bulgária, com cerca de 13 pontos percentuais5. Portanto, na medida em que não atingiu todos, cai por terra o argumento de que os contextos global e europeu foram contrários ao crescimento.

Os dois factores mais importantes que contam para a quase estagnação da economia portuguesa desde 2000 são, primeiro, a quebra da produtividade multifactorial e, em segundo, particularmente desde 2010, a forte quebra do investimento — nomeadamente o investimento produtivo.

A mesma conclusão de performance negativa se retira da comparação das taxas de crescimento do PIB na década a terminar em 2018: Portugal registou a taxa anual média de 0,26%, enquanto a Polónia cresceu 3,5% e Malta 4,6% (Figura 3).

A quase-estagnação do crescimento económico nas últimas duas décadas e o afastamento nas duas últimas décadas da União Europeia são inequívocos — e não nos deviam deixar indiferentes. Porque nos afastámos da média da União Europeia desde 1999? Vamos nesta nota procurar algumas explicações para esta evolução. Mas devemos desde já advertir o leitor que a economia do crescimento é uma área ainda pouco desenvolvida e cheia de controvérsias. Na secção II vamos fazer a comparação, em termos históricos, da evolução da economia e procurar uma primeira explicação na chamada “contabilidade do crescimento”.

Porque é que Portugal não cresce e não converge com a UE? Uma primeira explicação

Antes de avançarmos, uma curta explicação teórica. Partindo da função de produção neoclássica, é possível decompor a taxa de crescimento do PIB segundo a contribuição dos factores produtivos. Estes são iguais às taxas de crescimento dos factores produtivos, que são o trabalho, capital humano e capital físico, multiplicados pelas percentagens que cada um destes factores tem na remuneração total da produção. A diferença entre a taxa de crescimento e a contribuição dos factores dá-nos o resíduo, que também é designado por taxa de Produtividade Total dos Factores (PTF) ou Produtividade Multifactorial, e que na literatura económica é conhecida por “progresso técnico”6. Para a medição do trabalho entra o número de horas trabalhadas no total da economia, o capital humano é convencionalmente medido pelo número de anos de escolarização da população activa e o capital físico refere-se ao valor dos equipamentos, estruturas e material de transporte que correspondem à capacidade produtiva da economia.

A Figura 4 mostra os resultados destes cálculos, por quinquénios. Antes de 2010 os dados encontram-se publicados em Mateus, A., Economia Portuguesa, Evolução no Contexto Internacional (1910-2013), Principia Editora, 2014. A partir de 2010, os cálculos são feitos com base em dados do Eurostat7.

A primeira conclusão é que, desde 1990, se tem verificado uma desaceleração da taxa de crescimento do PIB que se mede pela altura das colunas. O quinquénio de 2010-2015 é o mais baixo e corresponde à crise económica.

A segunda conclusão é a forte quebra da PTF: crescia cerca de 3% na década de 1980, mas teve uma taxa de crescimento negativa nos quinquénios de 1990-95, teve uma queda anual de 1,3% entre 2000 e 2010, foi nula em 2010-15 e só recuperou ligeiramente em 2015-20.

A terceira conclusão é que o capital físico foi um dos principais factores até 2010 e que, depois dessa data, deixou de contribuir para o crescimento, daí que se conclua que a forte queda do investimento (e em particular do investimento produtivo) está ligado ao fraco desempenho da economia desde a crise económica. Outro indicador é o do investimento em capital físico, depois de retirar a depreciação, que foi negativo (-0,8% em percentagem do PIB) no último quinquénio, quando comparado com cerca de 12% do PIB, em média anual, na década de 1990.

A quarta conclusão é que a acumulação do capital humano, nomeadamente através da maior formação da população activa, teve importantes contribuições até 1995 e depois desacelerou, mas continuou a ser um importante factor de crescimento. Note-se que o número de anos de escolarização da população entre os 24 e 65 anos, cresceu de 34% no total da década de 1990, enquanto entre 2010 e 2018 apenas cresceu de 14,7%. Estima-se que o número médio de anos de escolaridade da população portuguesa terá passado de 7,8 anos para 10 anos, entre 2000 e 2018.

Finalmente, o factor trabalho pouco contribuiu para o crescimento em todo o período de análise. Mesmo assim, o número de horas trabalhadas, que tinha crescido 10,5% ao longo da década de 1990, apenas cresceu 1,8% entre 2000 e 2018.

Podemos, pois, concluir que os dois factores mais importantes que contam para a quase estagnação da economia portuguesa desde 2000 são, primeiro, a quebra da produtividade multifactorial e, em segundo, particularmente desde 2010, a forte quebra do investimento — nomeadamente o investimento produtivo. Apesar de indicativa, esta análise não nos permite, contudo, falar de relações causa-efeito entre os factores e o PIB.

Breve comparação entre Portugal e a Europa de Leste

Nos anos 1990, depois da queda do muro de Berlim, o caso português era frequentemente citado entre aqueles países como caso de sucesso e exemplo para estes seguirem, como via de reformas pós-estatização do 25 de Abril. Hoje, podemos dizer que os papéis se inverteram: a experiência daqueles países é considerada um caso de sucesso de desenvolvimento a nível mundial, de transição do regime de economia centralizada socialista para uma economia de mercado com democracia.

A Figura 5 mostra o sucesso comparado do crescimento da Europa de Leste com Portugal. Entre o ano 2000 e 2019, Roménia, Lituânia, Eslováquia e Polónia mais que duplicaram o seu PIB total. Em Portugal, o PIB expandiu-se 13,7%, abaixo da média da UE-28, que foi de 31,6%8. Os países que combinaram uma elevada convergência e conseguiram um nível elevado final de convergência, o que é sem dúvida um maior sucesso, foram os Bálticos, Roménia, Eslováquia e Polónia.

A Figura 6 mostra no eixo horizontal os níveis relativos de PIB per capita em 2000, e o eixo vertical a variação entre 2000 e 2019 do PIB per capita em PPC, relativamente à UE-28. Como se pode observar, os países que conseguiram um maior acréscimo na convergência foram os que tinham um PIB per capita em 2000 menos elevado – o que é evidência de catching-up. Os que mais se evidenciaram foram os Bálticos (LIT, LET, EST) e a Roménia (ROM). Embora a Sérvia (SER) não faça parte da UE, também teve uma boa performance, em contraste com o Montenegro (MON) e Macedónia do Norte (MAC). Mais uma vez, Portugal teve uma má performance, com uma variação negativa.

Comparemos alguns indicadores relativos aos factores de produção dos países da Europa de Leste com Portugal. Primeiro, a taxa de crescimento da PTF em todos os países de Leste é bastante superior a Portugal. Para os três países com mais sucesso, a PTF cresceu 8,6 vezes mais que a portuguesa. Para os três países com mais sucesso a PTF, foi o factor que mais peso teve no crescimento, contribuindo com 65% do total, cerca do dobro de Portugal9. O que é que isto significa? Na prática, existe evidência de que as instituições ou as políticas económicas foram mais apropriadas para o desenvolvimento na generalidade dos países da Europa de Leste, não tendo o mesmo sucedido em Portugal.

Segundo, já em 2000 os países de Leste tinham um nível de capital humano superior10 ao de Portugal. Apesar do progresso conseguido por Portugal nesta matéria, os países de Leste também fizeram um percurso semelhante, de forma que, em 2017, ainda estavam na generalidade à frente de Portugal (à excepção da Roménia).

Terceiro, o nível de capital físico por trabalhador em Portugal, tanto em 2000 como em 2019, era superior aos países de Leste. Mas o ritmo da sua expansão, dado pela taxa de investimento, foi francamente superior nos países de Leste (em média 2,3 vezes), à excepção da Letónia e Eslovénia.

Quarto, o trabalho citado na nota 9 confirma o que muitos outros trabalhos já tinham encontrado: que, em regressões estatísticas, a abertura da economia ao exterior é uma das explicações mais sólidas do crescimento. E esta conclusão também é confirmada aqui, onde os países de Leste aparecem com rácios das exportações de bens e serviços sobre o PIB (grau de abertura) em média superiores a 54% ao de Portugal em 2000 e 57% superiores em 2019.

Por fim, também o Investimento Directo Estrangeiro (IDE) desempenhou um papel fundamental no crescimento dos países da Europa de Leste. Somando os fluxos de IDE entre 2000 e 2017 (usando dados da UNCTAD) sobre o PIB, estes representaram cerca de 51% do PIB nos países de Leste, em comparação com uns meros 14,7% para Portugal11. Conclui-se que o IDE foi fundamental para o desenvolvimento destes países, como os elevados investimentos da Alemanha e da França no sector automóvel demonstram.

As perdas no sector bancário que já excedem os 40 mil milhões de euros são uma forte evidência do comportamento ineficiente do sector financeiro.

Em conclusão, é notável o esforço de desenvolvimento em termos de investimento em capital físico e humano destes países da Europa de Leste. Mas, acima de tudo, foi a transição da economia centralizada e do regime socialista, através de um processo de privatizações, que permitiu uma redistribuição equitativa dos activos, o assegurar da propriedade privada, aliados à estabilidade política e à estabilidade macroeconómica, que permitiram ao empreendedorismo e iniciativa privada realizar este progresso económico. Foi também o processo de adesão à União Europeia e a transferência das instituições europeias e do acquis communautaire, o acesso ao vasto mercado único da UE e à transferência de tecnologia e know-how dos países da Europa Ocidental desenvolvidos, que facilitaram este processo12.

Alguns estudos (parcos) sobre o crescimento da nossa economia

As teorias da convergência13 do chamado crescimento exógeno dizem que os países que têm condições institucionais semelhantes, acesso à mesma tecnologia e preferências idênticas, condições que serão preenchidas pela pertença à União Europeia, devem convergir para um mesmo nível de rendimento per capita, mas este período poderá ser relativamente longo (até cerca de 70 anos)14, enquanto que as teorias do crescimento endógeno não asseguram convergência. Os estudos para o conjunto da União Europeia mostram que nos últimos 20 anos se tem verificado convergência, mas esta é devida à inclusão dos países do Leste da Europa15. De facto, para o grupo dos países da Europa do Sul (Portugal, Espanha e Grécia) não houve convergência16, tendo-se mesmo registado divergência depois da crise do euro. Como os dados acima demonstram, no caso português foi devido à longa estagnação da economia entre 1999 e 2008, à crise global e depois à crise específica de Portugal entre 2011 e 2013, e depois à fraca recuperação entre 2015 e a data actual.

Um primeiro grupo de estudos conclui que é o baixo nível de capital humano e as fracas instituições que explicam a falta de convergência da nossa economia. O estudo do Banco de Portugal (nota 15) mostra que as variáveis mais importantes para explicar o ritmo de convergência dentro da EU são o nível do capital humano e a qualidade das instituições. O estudo do BCE17 conclui que a fraca performance da PTF de Portugal se pode atribuir a um conjunto de factores estruturais. Para além do baixo nível de capital humano, destacam-se o fraco nível das instituições: (i) elevados custos de contexto para as empresas, tais como custos energéticos, transporte e de crédito; (ii) burocracia complexa (red tape), como o sistema de licenciamentos, e (iii) sistema judicial ineficiente. O nível de percepção de corrupção é ainda bastante elevado, e tem mostrado deterioração.

O Quadro 2 apresenta um conjunto de indicadores de diversas fontes sobre variáveis institucionais. O índice de eficiência da administração é hoje mais elevado em Portugal que nos países do Leste, mas enquanto que a eficiência aumentou significativamente nestes países, à excepção da Hungria e Roménia, estagnou em Portugal, desde 1996, de acordo com os World Governance Indicators do Banco Mundial. O índice de restrições/rigidez no mercado de trabalho da OCDE era o mais elevado em Portugal, mesmo depois das reformas de 2011-201218. A rigidez e distorções nos mercados de produtos eram as mais elevadas na Eslováquia e Polónia em 2018, mas logo a seguir vem Portugal, e a melhoria desde 2003 foi pouco significativa em Portugal. Dos resultados dos inquéritos do Banco Mundial sobre Doing Business escolhemos um índice quantitativo que é o número de dias que leva a executar um contracto de crédito. Embora Portugal tenha feito alguns progressos desde 2004, só a Eslovénia tem um valor mais elevado. Nos impostos sobre lucros das sociedades Portugal tem a taxa mais alta, com 30% enquanto que a média simples para a Europa de Leste é de 15%!

O artigo do BCE faz uma média de um maior número de indicadores institucionais para os países do euro e estima para Portugal um valor 6 vezes pior que o melhor (Finlândia), semelhante à Letónia e Lituânia. A Eslováquia tem um dos valores mais altos, 43% superior ao de Portugal. Mais uma vez se conclui pelo fraco progresso feito por Portugal desde 2008.

Em conclusão, embora Portugal tivesse um nível de instituições superior ao dos países da Europa de Leste no início dos anos 2000, estes fizeram substanciais progressos, enquanto que em Portugal não houve reformas estruturais que melhorassem significativamente as instituições. Esta evolução está de acordo com a história da convergência.

Um segundo grupo de estudos usa dados a nível micro das empresas, para estudar a qualidade na afectação de recursos. A ideia principal é que numa afectação óptima de recursos as produtividades marginais do trabalho e capital deveriam ser iguais, pelo menos dentro de um mesmo sector de actividade (intra-sectorial). Os cálculos incidem sobre a soma dos desvios que existem entre as empresas, ou seja, quanto é que a produtividade do sector poderia crescer caso houvesse uma afectação óptima de recursos. Também é possível estudar a afectação de recursos entre diversos sectores.

Este tema é particularmente importante porque durante o acesso de Portugal às Comunidades Europeias nos anos 1980 e depois no período de introdução do euro houve elevados fluxos de capitais privados para os países menos desenvolvidos do euro, como a teoria neoclássica previa. Porém, uma das razões da crise do euro é que aqueles recursos foram malgastos, e quando houve o “sudden stop”, não foi possível devolver os capitais, porque não se geraram recursos adicionais dos investimentos e gastos financiados por aqueles capitais.

Dias et all.19 estimaram que entre 1996 e 2011 a eficiência da economia se deteriorou fortemente, tendo cortado a taxa de crescimento do PIB em 1,3% ao ano. Adicionando esta taxa ao que efectivamente se verificou, teríamos tido uma taxa de crescimento de cerca de 3%, o que corresponderia à taxa de crescimento potencial das décadas anteriores. As distorções foram maiores nos serviços do que na indústria. Os capitais foram especialmente canalizados para construção, distribuição, telecomunicações e electricidade, entre outros, com baixa rentabilidade, mas rendas elevadas, sobretudo porque estavam abrigados da concorrência internacional. As perdas no sector bancário que já excedem os 40 mil milhões de euros são uma forte evidência do comportamento ineficiente do sector financeiro. Conclusões semelhantes aparecem noutros países da crise do euro.

Conclusão

Sabemos que há condições necessárias para o crescimento: dinamização da poupança e investimento, geração de capital humano de elevada qualidade, estabilidade macro, estabilidade política, direitos de propriedade, concorrência interna e abertura da economia ao exterior, dinamização da investigação e desenvolvimento, sistema financeiro estável e desenvolvido. Para além do funcionamento de um Estado eficiente. Mas as doses e níveis destes factores são ainda relativamente desconhecidas. E é também essencial que o crescimento seja inclusivo, com uma distribuição equitativa dos seus frutos.

A análise comparada da evolução das economias de Portugal com o Leste europeu, que mostram a divergência do nosso país contrastada com a convergência destes, aponta para áreas de política económica e de melhoria das instituições, que iremos estudar numa próxima contribuição.

Notas de rodapé

  1. Os valores do Luxemburgo e Irlanda estão inflacionados: o primeiro porque uma grande parte da população vive em países vizinhos e trabalha no Luxemburgo, e o segundo por causa da transferência de capitais para a Irlanda por razões fiscais. Por isso apresentam-se na Figura os valores corrigidos. No caso do Luxemburgo corrigiu-se a população com o número de pessoas que comutam todos os dias das regiões vizinhas para o país (42%, segundo o Eurostat, Statistics on commutting patters at regional level, 2016, disponível aqui. No caso da Irlanda, o Central Statistical Office fez estimativas do PIB corrigidas dos fluxos de capitais, disponível em aqui e que foram aqui utilizadas.
  2. Exclui-se o Luxemburgo por ser um pequeno país, e por isso, a comparação mais válida seria em termos de regiões NUTS.
  3. E na 40ª posição a nível mundial, segundo dados do Banco Mundial, excluindo os países com menos de 200 mil habitantes.
  4. O PIB foi já corrigido com as últimas estimativas do INE.
  5. Dos países da crise, o mais bem-sucedido na recuperação foi a Irlanda, em que o PIB per capita em 2019 já estará cerca de 8 a 12 pontos percentuais acima de 2007. De facto, as estatísticas do Eurostat já dão uma subida de 48 pontos percentuais, mas uma grande parte é devido ao afluxo de capitais por razões de impostos.
  6. Esta metodologia encontra-se, por exemplo, em EU Klems Growth and Productivity Accounts, Part I, Methdology, 2017.
  7. Tomaram-se para 2020 os dados disponíveis na Ameco, que são a projecção da Comissão Europeia.
  8. PIB a preços constantes de 2015.
  9. Existe em geral uma correlação positiva entre a taxa de crescimento do PIB e a PTF. Veja-se, por exemplo, Mateus, A., Why Nations Converge? Has Globalization Contributed to Convergence? A Panel Data Exploration, disponível aqui.
  10. Medido aqui pela percentage da população entre os 24 e 65 anos com ensino superior.
  11. Os dados para Portugal nas estatísticas da UNCTAD e Eurostat estão seriamente sobreavaliados porque uma parte importante corresponde a fluxos entre Portugal e países como a Holanda, Luxemburgo, Suíça e Irlanda, de empresas portuguesas em que há saídas e depois entradas de capital por razões de tratamento fiscal. Os nossos dados para Portugal subtraem este efeito. Não dispomos de dados para fazer esta correção noutros países, mas a avaliar por alguns dados da Eurostat são bastante inferiores aos de Portugal, em termos relativos.
  12. O Prémio Nobel Edmund Phelps comentava, numa discussão sobre os fatores de crescimento económico: “If the new wave of research on economic growth is to graduate to a really useful endeavor, it has to introduce the factors that have become prominent in discussions of the road back to capitalism in eastern Eu-rope: tax rates on enterprise profits and payrolls, the size of the public enterprise sector, red tape and corruption in the government’s licenses and contracts to the private sector, impediments to shareowners’ exercise of enterprise control, and various other property rights.” (Mankiw, G., E. Phelps e P. Romer, The Growth of Nations, Brookings Papers on Economic Activity, 1:275-326, 1995).
  13. Existem dois tipos de convergência: sigma, que diz respeito à variância ou dispersão dos níveis de rendimento per capita ao longo do tempo, e a beta absoluta, que mostra uma correlação negativa entre taxas de crescimento do PIB e níveis de rendimento, ou beta condicional, obtida através de uma regressão entre a taxa de crescimento do PIB e um conjunto de fatores, em que depois de controlar para variáveis institucionais ou de política, se obtém também um coeficiente negativo para o nível inicial do PIB per capita.
  14. É evidente que o modelo é relativamente simples, e não inclui, por exemplo, o tipo de políticas prosseguidas por cada país.
  15. Veja-se, por exemplo, Banco de Portugal, A convergência real na União Europeia e o desempenho relativo da economia portuguesa, p. 91, Boletim Económico, outubro de 2019, ou Diaz del Hoyo, et al., Real convergence in the Euro Area: a long run perspective, ECB Occasional Paper Series, December, 2019
  16. Também a Itália registou uma das maiores quedas na posição relativa à média da UE, o que prova que mesmo que uma economia já tenha convergido, pode haver uma inversão.
  17. Nota 14.
  18. O último ano disponível é de 2013.
  19. Dias, Daniel, Carlos Robalo e Chistine Richmond, Resource Allocation, Productivity and Growth in Portugal, Banco de Portugal, Buletim Económico, outubro 2014.

Abel Mateus é professor universitário de Economia. Doutorado pela Universidade de Pennsylvania, EUA. Foi economista sénior do Banco Mundial e administrador do Banco de Portugal. Presidiu à Autoridade da Concorrência.

https://observador.pt/especiais/porque-e-que-portugal-nao-cresce-e-nao-converge-com-a-ue/

Abanca quer acabar com a marca EuroBic

O banco galego admite vir a fazer um “processo de rebranding” no EuroBic, depois da auditoria aprofundada e da autorização do Banco Central Europeu (BCE).

Esta segunda-feira, o Abanca fechou oficialmente o acordo para a compra de 95% das acções do EuroBic, banco liderado pelo Ex-ministro Fernando Teixeira dos Santos, ficando, entre outros, com as participações de 42,5% de Isabel dos Santos e de 37,5% de Fernando Teles.

Em declarações ao semanário Expresso, fonte oficial do banco liderado por Juan Carlos Escotet admitiu que, depois da auditoria aprofundada à instituição e da autorização do Banco Central Europeu (BCE), será feito um “processo de rebranding“.

“O Abanca anunciou o acordo para compra do EuroBic, pelo que é natural que após o processo de due dilligence anunciado, e a seu tempo, exista um processo de rebranding semelhante ao de outras operações corporativas levadas a cabo no passado”.

Assim, quando a operação terminar, as cerca de 180 agências EuroBic deverão mudar de nome para Abanca, juntando-se aos 70 pontos de venda já existentes. Em Portugal, o banco galego comprou o negócio de retalho do Deutsche Bank e é dono da Sogevinus, que gere cinco marcas de vinhos do Porto (Cálem, Kopke, Burmester, Barros e Velhotes).

Além disso, foi o comprador seleccionado para ficar com o banco que a Caixa Geral de Depósitos (CGD) tinha em Espanha, o Banco Caixa Geral, cuja integração deverá acontecer até Março. Em 2019, o Abanca alcançou lucros de 405 milhões de euros.

Questionada pelo jornal sobre a equipa de administração do EuroBic, que, para além do Ex-ministro das Finanças, tem Diogo Barrote na liderança, a mesma fonte oficial não quis responder.

Segundo o Expresso, o mandato terminou no ano passado, pelo que deverá haver, na passagem do primeiro para o segundo trimestre, uma assembleia-geral para a escolha da nova equipa. A operação do Abanca em Portugal tem Pedro Pimenta como responsável.

De acordo com o Jornal de Negócios, além de ficar com mais de 250 balcões e quase dois mil trabalhadores, o número de clientes do Abanca em Portugal vai quadruplicar.

https://zap.aeiou.pt/abanca-quer-acabar-marca-eurobic-307851