O jornal NZZ (Neue Zürcher Zeitung), o mais prestigioso da Suíça germanófona, publicou um artigo de Alexander Busch, correspondente no Brasil especializado em economia, analisando o papel do país na transição energética global. Enquanto Europa e Ásia se preocupam com possíveis altas históricas do petróleo em meio às tensões no Oriente Médio, o Brasil encara a questão com menos apreensão, já que figura entre os maiores produtores de petróleo do mundo e, sobretudo, porque 30% de sua matriz energética já vem da agricultura.
Essa característica é rara no cenário internacional: apenas Tailândia, Escandinávia e Uruguai apresentam proporções semelhantes. No Brasil, a cana-de-açúcar é o centro da ofensiva energética, gerando etanol, biodiesel e eletricidade a partir do bagaço. O país também investe em biogás, energia solar e eólica em propriedades rurais. Segundo a Fundação Getulio Vargas, cerca de 60% da energia sustentável brasileira tem origem agrícola, e há projetos-piloto para combustíveis de aviação sustentáveis (SAF).
O artigo lembra que a busca por autonomia energética começou nos anos 1970, com o Proálcool, programa pioneiro de etanol de cana. Após crises e abandono de subsídios, a introdução da tecnologia flex-fuel em 2003 consolidou o uso do biocombustível, tornando-o padrão na frota brasileira. Hoje, o Brasil se diferencia de outros produtores, como os EUA, por oferecer uma cadeia completa e eficiente de produção, distribuição e consumo de etanol.
Chamas saindo da torre de uma instalação da refinaria de petróleo no complexo industrial da PCK-Raffinerie GmbH em Schwedt, Alemanha. Desde de janeiro de 2023, os fornecimentos de petróleo da Rússia através do oleoduto "Freundschaft" foram suspensos. KEYSTONE/DPA/Christophe Gateau
Apesar de pioneiro, o modelo brasileiro enfrenta críticas devido ao desmatamento associado ao agronegócio. Busch observa, contudo, que certificações internacionais vêm garantindo que parte relevante da produção não está ligada à destruição da Amazônia. Em regiões tropicais, a biomassa rende até três vezes mais energia por hectare do que na Europa, o que explica o interesse de países como Índia, Indonésia e China em replicar o modelo. Já a Europa, incapaz de copiá-lo integralmente, poderá recorrer a maiores importações - cenário que pode gerar disputas comerciais com os EUA, principais exportadores globais de etanol.
Fonte: nzz.ch, 18.08.2025 (em alemão)
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