sexta-feira, 5 de abril de 2019

Ainda Sobre a Reconfiguração da Banca Em Portugal

De há muito que os problemas relacionados com a crise do sistema financeiro são motivo de preocupação e reflexão entre nós. A tal ponto que há cerca de três anos (Abril de 2016) um grupo de cidadãos decidiu subscrever um Documento de Reflexão sobre a “Reconfiguração da Banca em Portugal”, o qual teve ampla divulgação nos órgãos de comunicação social e esteve na origem de um conjunto de artigos semanais, publicados no Diário de Notícias, ao longo de vários meses. (Ver em www.reconfiguracaodabanca.com).

Já no documento inicial se enfatizava ser “público e manifesto o desagrado e preocupação com o modo como a questão (da reconfiguração da banca em Portugal) vinha sendo abordada e decidida, e com a evolução daí resultante”. Nomeadamente, “excessivo voluntarismo, pouca transparência, deficiente gestão estratégica, falta de liderança política, destruição de valor e custos significativos e prolongados, para a economia portuguesa”.

Apelava-se então, para “que em futuros casos, incluindo o do Novo Banco, a solução a adoptar (tivesse) em conta a dimensão estratégica (de longo prazo) do problema e não somente os aspectos fi nanceiros de curto prazo”. E acrescentava-se, “Impõe-se por isso que, no caso do Novo Banco, o momento e a forma escolhidos para a sua eventual concretização sejam clara e objectivamente discutidos. Uma extensão do prazo de venda, até Agosto de 2019, tal como a lei permite, poderá justifi car-se, tendo em vista o estudo de soluções alternativas…

É igualmente importante que a modalidade de venda escolhida permita que entidades portuguesas relevantes possam participar no processo.

Importa, assim, que o processo seja clarifi cado, tornado público e aberto a todos os potenciais interessados, em totais condições de igualdade, sendo inadmissível qualquer forma de escolha antecipada dos vencedores”.

Em face do que precede não podemos deixar de nos surpreender com a saga em que se transformou a venda do Novo Banco, e de sermos agora informados, através do Expresso, que a 2ª Auditoria anunciada para o Novo Banco, visa “escrutinar de que forma as decisões de concessão dos créditos (problemáticos do Novo Banco) foram tomadas”. Ficamos perplexos... a ponto de não podermos deixar de pensar que tal vise essencialmente escamotear a natureza dos problemas com que nos confrontamos...!! Não é já isso, no essencial, mais do que conhecido??!!

Pensa-se que a dita Auditoria deve visar o escrutínio do processo que conduziu à venda do Novo Banco à Lone Star e às razões que motivaram que essa venda não tenha integralmente respeitado as regras do Concurso, estabelecidas no Procedimento de Venda Estratégica do Novo Banco”, uma vez que ele estabelece que “o processo de venda será conduzido de forma transparente e não discriminatória”. Com efeito:

a) Encontra-se por esclarecer “o facto do Banco de Portugal ter concedido à Lone Star exclusividade nas negociações à data de 18 de Fevereiro de 2017, quando estava ainda em fase de negociação com o outro concorrente (a Apollo/Centerbridge) tendo em conta que lhe tinha dado a data de 24 de Fevereiro de 2017, como limite para a obtenção das informações necessárias para apresentação da sua proposta. Deste modo, não só os dois candidatos não dispuseram do mesmo prazo para apresentação das suas propostas, como b) Não receberam a mesma informação quanto a poderem comprar menos de 100% do Novo Banco, ou quanto a poderem solicitar garantias sobre os activos problemáticos (imparidades) que, ao contrário do inicialmente afi rmado pelo Governo, vieram a ser concedidas e estão agora a concretizar-se com elevados custos para os cidadãos.

c) Encontra-se igualmente por esclarecer a razão que levou o Banco de Portugal a impedir o Millennium BCP de concorrer à compra do Novo Banco, o que pretendia e só podia fazer a partir de 18 de de Fevereiro de 2017, data em que reembolsou as suas obrigações CoCos e estava em condições de apresentar a sua proposta de compra.

Em resumo, e no mínimo colocando dúvidas sérias à forma como foi gerido o processo de venda, este permanece envolto em grande obscuridade, levantando interrogações quanto à existência de um acordo prévio para a entrega do Banco à Lone Star.

Acresce que não é mais transparente nem clarifi cadora a actuação do Banco de Portugal, enquanto supervisor do Novo Banco e do Fundo de Resolução, no período pós-venda. Assim:

1. Que factos determinam os prejuízos na origem dos montantes pedidos ao Estado e ao Fundo de Resolução?

2. É ou não verdade que o Banco de Portugal tem posto pressão sobre o Novo Banco, tendo em vista a rápida alienação dos activos que se não integram no “core business” do Novo Banco?

3. Como se explicam as imparidades surgidas desde 2017 no Novo Banco, tendo em conta que no período 2014-2017 (i.e., após a resolução do BES em 2014), o banco esteve: a) sob gestão controlada pelo Banco de Portugal e pelo Fundo de Resolução; b) sujeito a auditoria por parte da empresa PwC; c) sujeito a um Conselho Fiscal designado pelo Banco de Portugal. O que revelam as mesmas sobre as práticas de gestão do banco?

Como pode, assim, o Banco de Portugal eximir-se de responsabilidades, uma vez que foi a entidade que directa, ou indirectamente, acompanhou e vigiou a qualidade da gestão do Novo Banco entre 2014 e 2017?

É tudo isto que importa esclarecer, de forma objectiva e imparcial, para que fi quem devidamente claras as correspondentes responsabilidades do Governo (nomeadamente do actual) e do Banco de Portugal em todo o processo, o qual irá custar aos portugueses mais de uma dezena de milhares de milhões de euros, ou seja, mais de mil euros a cada um de nós.

É pois possível concluir que apesar do sector bancário constituir um sector estratégico para a economia nacional, o Banco de Portugal e o Governo não mostraram considerar prioritário, ao que se sabe, acautelar devidamente a participação accionista portuguesa e os interesses nacionais, nomeadamente tendo em conta a nossa participação de 25% no Fundo de Resolução. É esta uma precaução que terá de ser tida em devida consideração, numa eventual venda defi nitiva e integral do Novo Banco.

Lisboa, 21 de Março de 2019

Afonso Pereira Inácio, Alberto Regueira, Alexandre Patrício Gouveia, Ângelo Correia, António Mocho, António Mendonça Pinto, Celeste Coimbra, Fernando Gomes da Silva, Henrique Neto, João Miranda, João Salgueiro, José António Girão, José Ribeiro e Castro, José Sales Henriques, Júlio Castro Caldas,

Manuel Ramalhete, Marco Belo Galinha e Pedro Ferraz da Costa

He Ain't Heavy, He's My Brother–Ele não é um peso, ele é meu irmão.

https://www.youtube.com/watch?v=9gTENtWiM5k

He Ain't Heavy, He's My Brother

Bill Medley


A história a que, segundo certa crença popular, se terá ficado a dever a gravação desta música já foi abandonada. Mas que importa isso se a mensagem que se pretendeu transmitir com ela é intemporal e encerra um altissimo valor afectivo e humano? Nada, não importa nada! O que importa, isso sim, e esse é verdadeiro porque a letra assim o demonstra, foi o espírito que levou aquele grupo de intérpretes a cantá-la. Portanto é imperdível, tanto mais que são reconhecíveis alguns desses intérpretes, os quais são nomes maiores da música.


“Conta-se que durante a guerra americana no Vietnã um jornalista viu um garoto de 10 anos carregando outro de uns 4 anos, nas costas, fugindo do bombardeio de aviões americanos. E ele perguntou se não era muito peso pra ele, já que estavam fugindo  de um bombardeio, e a resposta do garoto foi :

Ele não é um peso, é  meu irmão._


Daí nasceu essa musica...


Há quem diga que foi na américa e não sendo irmãos realmente, eram irmãos de rua..



The road is long

With many a winding turn

That leads us to who knows where

Who knows when

But I'm strong

Strong enough to carry him

He ain't heavy, he's my brother

So on we go

His welfare is of my concern

No burden is he to bear

We'll get there

For I know

He would not encumber me

He ain't heavy, he's my brother

If I'm laden at all

I'm laden with sadness

That everyone's heart

Isn't filled with the gladness

Of love for one another

It's a long, long road

From which there is no return

While we're on the way to there

Why not share

And the load

Doesn't weigh me down at all

He ain't heavy, he's my brother

He's my brother

He ain't heavy,

he's my brother...

Ele Não É Um Fardo, Ele É Meu Irmão

A estrada é longa

Com muitas curvas sinuosas

Que nos leva quem sabe onde

Quem sabe onde

Mas eu sou forte

Forte o bastante para carregá-lo

Ele não é um peso, ele é meu irmão

E assim continuamos

Seu bem-estar é a minha preocupação

Não é um fardo carregá-lo

Nós chegaremos lá

Pois eu sei

Ele não seria um estorvo para mim

Ele não é um fardo, ele é meu irmão

Se estou absolutamente sobre carregado

Estou sobrecarregado de tristeza

Que o coração de todos

Não está repleto de alegria

De amor, de uns pelos outros

Esta é uma longa longa estrada

Da qual não há retorno

E enquanto estamos a caminho dela

Por que não partilhar?

E a carga

Não vai me pesar absolutamente

Ele não é um fardo, ele é meu irmão

Ele é meu irmão

Ele não é um fardo

Ele é meu irmão

quinta-feira, 4 de abril de 2019

Brexit - ATÉ 12 DE ABRIL AINDA TODAS AS OPÇÕES ESTÃO EM CIMA DA MESA

Já se sabe o que vai acontecer a 12 de Abril, para todos os efeitos a data do “Brexit”?

Por incrível que pareça, ainda não se sabe. A expectativa da União Europeia é que o Reino Unido consiga decidir até essa data se ainda pretende a separação e, nesse caso, qual é o seu plano para concretizar o divórcio. Isto é, os britânicos têm no máximo dez dias para comunicar a Bruxelas como pretendem desvincular-se da UE: se é num registo ordenado, como previsto pelo acordo de saída que está fechado desde o fim de Novembro e não será renegociado, ou se é de forma abrupta, fora do quadro desse acordo que já foi rejeitado por três vezes no Parlamento britânico. A outra hipótese, mais remota, seria os britânicos desistirem da ideia do “Brexit” e avançarem para a revogação do artigo 50.º do tratado europeu. Sabe-se pelo menos qual destas opções — deal ou no-deal — é a mais provável? Para os europeus, o cenário de uma saída abrupta e sem acordo torna-se mais provável a cada dia que passa sem uma solução para o impasse político em Londres. Ainda ontem, o negociador da UE para o “Brexit”, Michel Barnier, lembrou que se o tratado jurídico que fixa os termos do divórcio não for ratificado pelo Parlamento britânico antes do dia 12 de Abril, a mera aplicação da lei atirará o Reino Unido para o abismo do no-deal na data prevista, seja por acidente ou por escolha deliberada. Segundo o representante do Parlamento Europeu nas  negociações para o “Brexit”, Guy Verhofstadt, o no-deal é agora “praticamente inevitável”.

Mas o Parlamento britânico não votou já para excluir a hipótese de uma saída sem acordo?

Sim, os parlamentares votaram uma proposta para afastar o cenário do no-deal, mas esse foi um voto político para manifestar uma posição e pressionar o Governo que não teve consequência jurídica. Hoje, a Câmara dos Comuns vai apreciar uma nova proposta, que desta feita tem carácter legislativo, para impedir uma saída da UE sem acordo — se for aprovada, obrigará a primeira-ministra, Theresa May, a negociar com Bruxelas uma nova extensão do prazo do “Brexit”.

Portanto ainda há várias maneiras de evitar o desfecho mais prejudicial do no-deal?

Sim. A maneira mais “fácil”, como não se cansam de repetir os parceiros europeus, é a aprovação do acordo de saída, que estabelece os critérios da separação e prevê um período de transição até ao fim de 2020 para que os cidadãos e as empresas se possam organizar para a nova realidade. Os deputados chumbaram o acordo três vezes, mas a convocatória de um derradeiro meaningful vote na Câmara dos Comuns pode voltar a acontecer, se Theresa May acreditar que consegue uma maioria. De resto, a outra hipótese para travar um salto no desconhecido a 12 de Abril é solicitar à UE um novo adiamento do “Brexit”, aproveitando a abertura dos líderes europeus para mudar mais uma vez a data da saída em troca de um “plano credível” dos britânicos.

É para isso que o Conselho Europeu vai voltar a reunir-se na próxima semana em Bruxelas?

A cimeira da próxima semana será a última oportunidade de Theresa May para convencer os chefes de Estado e Governo da UE de que ainda existe uma maneira de concluir com sucesso o processo do “Brexit”, idealmente nos termos negociados há mais de cem dias. Foi nesse pressuposto que, há duas semanas, os líderes aceitaram conceder a primeira extensão técnica pedida por Theresa May, embora com condições: o Reino Unido tinha de aprovar o acordo de saída até ao fim desta semana, para poder deixar a UE a 22 de Maio, ou indicar um outro caminho até 12 de Abril. Essa data não é aleatória: nesse dia, termina o prazo para a apresentação das listas às eleições europeias, que o Reino Unido terá de organizar se permanecer na UE para além do dia da votação.

Os líderes europeus podem recusar a nova extensão do prazo que Theresa May vai pedir?

Existe essa possibilidade — o Presidente francês, Emmanuel Macron, tem insistido que a resposta dos 27 não é automática e defendido que só com um “plano concreto e credível” é que o Reino Unido deve ser autorizado a prolongar a sua permanência na UE. Como a decisão tem de ser unânime, basta um líder opor-se à proposta de Theresa May para esta ser rejeitada. E a proposta de outra extensão curta que a primeira-ministra formulou ontem bate de frente com as condições dos 27. Mas apesar da retórica mais inflamada de Macron, e do cepticismo crescente em muitas capitais com as manobras políticas de Theresa May, o mais provável é que os líderes europeus tentem compor uma nova solução de compromisso, impondo condições mais duras à primeira-ministra britânica em troca de mais tempo.

Rita Siza

quarta-feira, 3 de abril de 2019

UM CLUBE DE AMIGOS


(Miguel Sousa Tavares, in Expresso, 02/02/2019)


Miguel Sousa Tavares

Tenho muitas dúvidas sobre a justiça da condenação a cinco anos de prisão efectiva de Armando Vara, por crime de tráfico de influências. Certamente que uma caixa de robalos não chega como pagamento pelo crime e mesmo que os "25 quilómetros" referidos numa conversa escutada entre Manuel Godinho e Armando Vara sejam, como pretendia o Ministério Público e o tribunal aceitou reconhecer provado, 25 mil euros de pagamento por serviços de intermediação, a verdade é que Vara não exercia na altura qualquer cargo público. E se porventura terá posto o industrial de sucatas de Ovar em contacto com pessoas que lhe terão facilitado negócios, fazendo-o a troco de robalos ou de 25 mil euros, eu conheço quem o tenha feito e continue a fazer a troco de milhões, intermediando e facilitando negócios em que o Estado investe dezenas, centenas ou milhares de milhões. Aliás, conheço, todos conhecemos, quem faça disso profissão, disfarçada ou não sob o título de advogado ou outro, à vista de todos, com a maior aceitação social, pública e política. De tal forma, que chego a pensar se ser-se apanhado em crime de tráfico de influências não será apenas uma questão de interpretação, de sorte ou de azar. Ou pior.

Mas se a prisão de Vara não me incomoda por aí além é apenas porque acredito que, se não por este caso, outros há que a justificam. Estou a lembrar-me de um telefonema entre ele, na altura administrador do BCP e acabado de chegar da Caixa, e um camarada de partido, na altura secretário de Estado. Vara tentava arrolar o outro para convencer a Caixa-Geral de Depósitos, sua antiga casa, a ficar com um crédito incobrável que o BCP tinha sobre a empresa dona do Autódromo do Algarve. Se já é extraordinário que alguém possa imaginar ganhar dinheiro com um autódromo na Mexilhoeira Grande, e ainda mais extraordinário que haja um banco para financiar tal projecto, é verdadeiramente eloquente do espírito desta gente que alguém que tinha acabado de vir do banco público para um banco privado estivesse a tentar varrer o lixo deste para aquele. Mas era com este espírito que serviam a coisa pública estes "banqueiros", que viveram décadas a saltar de um lado para o outro, trocando de lugares uns com os outros, cobrindo-se uns aos outros, atribuindo-se prémios de gestão uns aos outros, mesmo quando no banco público e mesmo quando o que tinham para apresentar era prejuízos para os contribuintes pagarem. Para eles, para este clube de amigos, não tenho a menor dúvida de que lhes era absolutamente indiferente se o banco era público ou privado: tratava-se apenas de gerir as suas carreiras, de precaver as indemnizações sumptuosas em caso de saída antecipada e as reformas escandalosas no futuro. O problema com Armando Vara é que, por enquanto ele esteja sozinho na cadeia de Évora.

Durante sete meses, o Banco de Portugal e a CGD calaram-se muito caladinhos sobre o relatório da Ernst & Young, pedido pelo Ministério das Finanças. É de crer que jamais teriam sequer revelado a sua existência, se uma fuga de informação o não tivesse feito. Aos deputados da CPI da Caixa recusaram-se inclusivamente a revelar a lista dos principais devedores, com o estafado e hipócrita argumento do sigilo bancário — depois e a coberto do inquérito aberto pelo MP, logo oportunamente acrescentado com o do segredo de justiça, esse manto protector que tanto jeito dá quando invocado em benefício de quem tem alguma coisa a esconder. Bem a propósito também, e segundo relata o jornal "Público", o Banco de Portugal terá já lembrado que as contra-ordenações motivadas por eventuais actos de gestão danosa praticadas na Caixa já prescreveram, decorridos os respectivos prazos. Um verdadeiro alívio — não apenas para os antigos gestores da Caixa, mas também para o governador e membros à época da administração do BdP, mais uma vez dispensados de explicar porque nada viram, ano após ano, nada estranharam, nada vigiaram. Também não admira: consultar os nomes constantes do relatório da E&Y é como folhear um álbum de família: o actual governador do BdP foi também administrador da Caixa e o actual presidente da Caixa, Paulo Macedo, foi vice-presidente da mesma com Carlos Santos Ferreira — o homem que, juntamente com Armando Vara, se aventuraria na mais inacreditável operação bancária de todos os tempos: o financiamento, pelo banco público, do assalto ao BCP, lançado por um grupo de mavericks do sector privado. A operação, garantida apenas pelas próprias acções adquiridas pelos "assaltantes" ao BCP, redundaria no maior desastre financeiro da Caixa até hoje. Entre esses "assaltantes", e como terceiro maior devedor actual da Caixa, está Manuel Fino, cliente do escritório de advogados Vieira de Almeida (VdA), também conhecido como o "EET" (Está Em Todas. Fino e outros dos seus companheiros de assalto foram assessorados pela VdA na tentativa falhada de conquista do BCP, cujos prejuízos gerados para a Caixa vão agora ser investigados, entre outras entidades e por dever de ofício (ou de sacrifício), pela própria Caixa. E quem é a autoridade externa que a Caixa escolheu para levar a cabo uma auditoria aos actos de gestão então praticados pelas anteriores administrações, entre as quais a que tão levianamente emprestou milhões a perder literalmente de vista ao cliente da VdA? Quem, quem foi? Pois, não se riam: foi a VdA, nem mais! É ou não é um clube de amigos? Dizem que foi por concurso e que a púdica VdA assinou uma declaração a jurar que não, nunca, jamais, olha como!, tem, teve ou terá nisto qualquer conflito de interesses. Como se houvesse concurso ou declaração alguma que pudesse disfarçar o que está para lá de tudo o que é admissível. Como se uma jura de insuspeitos cavalheiros, ou outro segredo bancário ou de justiça, ou até um véu islâmico, uma burqa, uma pele de tigre, pudesse disfarçar a indecente nudez deste rei nu na praça pública!

Não nos dêem hospitais miseráveis, bairros da Jamaica, comboios de Terceiro Mundo, quando chegamos a pagar 50% de impostos e o dinheiro vai para tapar os buracos cavados na banca por um grupo de gente deixada à solta a tratar de uma coisa da maior importância: o dinheiro dos outros

O que revolta em toda esta história e todas as demais a que já assistimos — o BES, o Novo Banco e a sua desastrosa Resolução (de que não convém falar muito, mas nos vai custar entre 10 mil a 12 mil milhões), o BPN, o Banif, a CGD, (e esperando que a coutada do senhor Tomás Correia não desabe para nós também no dia em que correr mal) — é saber que Portugal é o segundo país da Europa em que, em percentagem do PIB, os contribuintes mais dinheiro tiveram de investir a acorrer à banca, pública e privada.

Aprendemos todos na escola que os bancos existem para financiar a economia, mas em Portugal aprendemos à nossa custa que é ao contrário: a economia existe para financiar a banca. E o que resta é quase tudo para financiar o Estado: não admira que nunca mais nos livremos do nosso ancestral atraso. Todos viveríamos melhor se não tivéssemos de pagar os impostos que pagamos e se parte deles, parte substancial deles, não fosse usada para pagar os desmandos, as malfeitorias ou os crimes do nosso clube de amigos da banca. Para mim, que nunca fui jogador, é pior do que se me obrigassem a perder dinheiro no casino: ao menos sempre me divertia a jogar, em vez de ver os outros divertirem-se a jogar o meu dinheiro. Querem comprar o BCP? Paguem-no com o dinheiro deles! Querem um autódromo no Algarve? Paguem-no com o dinheiro deles! Querem inventar um negócio impossível em Vale do Lobo, depois de terem urbanizado e vendido cada metro quadrado disponível? Paguem-no com o dinheiro deles! Mas não nos dêem hospitais miseráveis, bairros da Jamaica, comboios de Terceiro Mundo, quando chegamos a pagar 50% de impostos, só de IRS, e o dinheiro, em vez de ir para hospitais, habitação social e transportes decentes, vai para tapar os buracos cavados na banca por um grupo de gente deixada à solta a tratar de uma coisa da maior importância: o dinheiro dos outros. Enquanto eles, depois, saboreiam em paz as sempre oportunas prescrições e as sempre generosas pensões de reforma.

Miguel Sousa Tavares escreve de acordo com a antiga ortografia



Sem vírus. www.avast.com

Quando a ignorância critica, a sabedoria observa e sorri

Orson Welles disse que “muitas pessoas são educadas demais para falar com a boca cheia, mas não se preocupam em fazê-lo com a cabeça vazia”. O diretor

americano não foi o primeiro a se referir à ignorância e seus ataques.

O escritor espanhol Baltasar Gracián havia dito ” o primeiro passo da ignorância é presumir saber ” e Antonio Machado afirmou que ” tudo o que é ignorado é

desprezado “. A ignorância não é uma doença, mas podemos classificá-la como tal porque seus efeitos são tão incapacitantes que impedem a pessoa de crescer

enriquecendo-se com novas perspectivas. A armadilha da ignorância é que ela envolve a pessoa em uma gaiola de ouro, na qual ele está tão confortável que nem

percebe que está prisioneiro da rigidez de seu pensamento.

Como são pessoas ignorantes?

Ignorância não é propriedade exclusiva de pessoas que não tiveram acesso à educação. De fato, podemos encontrar pessoas que não têm estudos, mas são

profundamente sábias e de mente aberta, assim como podemos encontrar professores e cientistas que são profundamente ignorantes.

O filósofo inglês Karl Popper explica o porquê: “a ignorância não é a ausência de conhecimento, mas a recusa em adquiri-lo “. Isto é, a ignorância implica abraçar um

pensamento rígido, idéias preconcebidas e rejeitar o resto. Esse modo de entender a ignorância é um sinal de alerta que nos diz para permanecermos vigilantes

porque todos e cada um de nós podem adotar atitudes ignorantes.

Ignorância é rejeitar argumentos ou idéias das quais não sabemos nada ou sobre as quais não temos dados para chegar a conclusões lógicas. Nesse caso, em vez

de nos esforçarmos para captar e compreender todo o quadro, preferimos nos apegar ao pequeno fio de “verdade” que achamos que temos. Entrincheirados

nessa posição, não apenas atacamos os outros, mas também semeamos as sementes da intolerância, já que a ignorância sempre rejeita o que é diferente, o

que não compreende.

Ignorância emocional

Não é uma ignorância que faz ainda mais danos: a ignorância emocional das pessoas mais próximas que julgam e criticam-nos sem ter andado em nossos

sapatos ou saber todos os detalhes da situação de uma visão parcial da realidade.

Ignorância emocional

Há uma ignorância que causa ainda mais danos: a ignorância emocional das pessoas mais próximas a nós que nos julgam e criticam sem ter andado com

nossos sapatos ou nem conhece todos os detalhes da situação, a partir de uma visão parcial da realidade.

Essas pessoas não são capazes de se colocar no lugar do outro e nem sequer tentam conhecer sua história, necessidades e ilusões para entender o porquê de

seu comportamento. Essa ignorância dói muito mais e deixa feridas emocionais profundas, já que normalmente a opinião dessas pessoas é geralmente importante.

Em face da ignorância, é melhor agir com cautela

Um estudo muito interessante de PsychTests analisou como 3.600 pessoas responderam a críticas. Esses psicólogos descobriram que 70% admitem que se

sentem magoados quando recebem uma crítica e 20% a rejeitam com raiva.

Apenas 10% das pessoas refletem sobre críticas e deixam ir quando não contribuem com nada.

Também foi apreciado que as mulheres são duas vezes mais propensas a aceitar as críticas como algo pessoal e a assumi-las como uma demonstração de que elas

não são capazes de fazer algo certo. Pelo contrário, os homens tendem a pensar que a crítica está errada e a responder agressivamente.

No entanto, o mais interessante é que as pessoas que adotam uma atitude defensiva em relação às críticas são também aquelas que se sentem menos

felizes, têm baixa auto-estima e apresentam um desempenho pior no trabalho.

Aparentemente, quando as pessoas têm baixa auto-estima, elas bloqueiam a parte construtiva da crítica e se concentram apenas nos aspectos negativos. Por outro

lado, aqueles que se defendem das críticas muitas vezes sentem que estão perdendo o controle, o que afeta ainda mais sua autoconfiança.

Portanto, quando a crítica vem da ignorância, a coisa mais sábia é responder com calma.

Para palavras tolas, ouvidos inteligentes

Como a crítica ignorante pode causar muitos danos, é essencial não cair no seu jogo. As palavras nocivas, as críticas maliciosas e as opiniões infundadas não

devem encontrar um terreno fértil em nossa mente. Devemos lembrar que ninguém pode nos prejudicar sem o nosso consentimento. Portanto, o melhor é não dar

crédito a eles.

O problema das pessoas ignorantes é que elas não estão abertas para ouvir outras opiniões, portanto, qualquer tentativa de se defender ou fazê-las cair em seus

sentidos é muitas vezes deixada de lado. Isso nos fará desperdiçar energia inutilmente e é provável que no final ficaremos com raiva. É por isso que é quase

sempre melhor aprender a ignorá-los.

O sábio sabe que batalhas valem a pena lutar, ele não desperdiça sua energia. Ele também está ciente de que a crítica muitas vezes diz mais sobre quem critica do

que sobre quem é criticado, então ele assume uma atitude desinteressada, valoriza a verdade que a opinião contém e, se considerar irrelevante e prejudicial, não

permite que isso o afete.

E quando é necessário responder à ignorância, as pessoas sábias fazem isso com firmeza e respeito. A melhor maneira de superar a ignorância é provar a ele que ele

não tem poder sobre nós.

Artigo originalmente publicado em Rincón de la Pasicología

segunda-feira, 1 de abril de 2019

Mobílias doadas às vítimas dos incêndios devolvidas a França. Câmaras não as quiseram

Mais de 250 mil euros em mobílias novas doadas por empresas para as vítimas dos incêndios em Portugal estão a ganhar pó em armazéns e deverão ser devolvidas a França, de onde vieram, porque as Câmaras de Pedrógão Grande e de Castanheira de Pêra recusaram-nas.

Estes dados foram apurados numa investigação da jornalista Ana Leal divulgada no Jornal das 8 da TVI. Segundo esta reportagem, “31 toneladas de material novo, entre cómodas, camas, cadeiras, mobílias completas”, angariados por uma Organização Não Governamental (ONG) francesa, estão ainda embaladas em armazéns, depois de terem sido doadas por empresas para as vítimas dos incêndios em Portugal.

Estes donativos avaliados em mais de 250 mil euros chegaram a Portugal há cerca de um ano e meio e deverão ser devolvidos a França, porque as Câmaras Municipais de Pedrógão Grande e de Castanheira de Pêra recusaram-nos.

A TVI destaca que a ONG francesa queria firmar um protocolo com as autarquias para controlar o destino que teriam os donativos. Assim, pretendia obrigar as Câmaras a cederem uma listagem das famílias a quem se destinariam, com as moradas das habitações reconstruídas, obtendo ainda a sua colaboração activa para aferir as reais necessidades da população afectada.

Contudo, as autarquias de Pedrógão Grande e de Castanheira de Pêra, lideradas por Valdemar Alves e Alda Carvalho, rejeitaram assinar esse protocolo, avança a TVI.

Desta forma, a mobília está nos armazéns há ano e meio e deverá voltar para França, enquanto continua a haver casas de habitação completamente vazias, a precisarem de mobílias.

Entretanto, a TVI destaca que um cheque no valor de 100 mil euros, angariado por um grupo de empresários luso-canadianos e que foi entregue a Valdemar Alves numa cerimónia oficial na Câmara de Pedrógão, nunca chegou às vítimas. Os empresários queriam saber onde seria usado o dinheiro, mas não obtiveram garantias da autarquia de como seria aplicado e, deste modo, não cederam a verba.

A TVI avança também que já há 31 arguidos na investigação que está a ser feita às casas reconstruídas. Estão em causa as chamadas “Casas do Compadrio”, com 46 imóveis sob suspeita.

No âmbito da investigação aos donativos de Pedrógão, cuja distribuição está sob suspeita, a revista Visão avança que o presidente da Assembleia Municipal, Tomás Correia, que é também presidente da Associação Mutualista Montepio, bloqueou a criação da comissão independente que deveria averiguar o caso.

A acusação é feita pelo deputado municipal de Pedrógão Grande Luís Paulo Fernandes que garante que Tomás Correia tem “ignorado” o seu pedido para a criação desta comissão desde 10 de Setembro de 2018.

“Não conheço esse pedido”, destaca Tomás Correia à Visão que divulga actas e e-mails que apontam o pedido de criação dessa comissão desde há mais de meio ano.

Dívida pública subiu em Fevereiro. Está nos 249,3 mil milhões

A divida pública subiu 1,2 mil milhões de euros em Fevereiro, anunciou o Banco de Portugal (BdP) esta segunda-feira.

Dívida pública subiu em fevereiro. Está nos 249,3 mil milhões

A dívida pública voltou a subir em fevereiro. De acordo com os dados divulgados pelo Banco de Portugal (BdP), esta segunda-feira, o valor da dívida pública cresceu 1,2 mil milhões em fevereiro, situando-se nos 249,3 mil milhões de euros. Para este acréscimo contribuiu o aumento dos títulos de dívida.

"Em fevereiro de 2019, a dívida pública situou-se em 249,3 mil milhões de euros, aumentando 1,2 mil milhões de euros relativamente ao final de janeiro. Para este aumento contribuiu essencialmente o acréscimo dos títulos de dívida", pode ler-se no relatório do supervisor.

Como referência, a dívida pública em dezembro era de 244,9 mil milhões de euros, valor que representava 121,5% do produto interno bruto (PIB).

Segundo o supervisor, também os ativos em depósitos cresceram: "Os ativos em depósitos das administrações públicas aumentaram 1,0 mil milhões de euros, pelo que a dívida pública líquida de depósitos registou um acréscimo de 0,2 mil milhões de euros em relação ao mês anterior, totalizando 227,7 mil milhões de euros".

sexta-feira, 29 de março de 2019

Os 12 crimes do professor Joaquim Sousa

Quando a inveja e a mesquinhez estão de mãos dadas, em lugares de chefia, quer no ministério da educação, quer na direcção escolar, e ainda no sindicato dos professores, está criado o caldo, para que casos destes envergonhem as pessoas de bem.

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Em vez de multarem o professor da Madeira, podiam criar um prémio de 11.107 euros para quem conseguir repetir o que Joaquim Sousa fez no Curral das Freiras.

Sílvia Carvalho é professora de Filosofia do ensino secundário na Madeira e foi requisitada para ser a instrutora do processo disciplinar que o governo regional abriu contra Joaquim Sousa.

No continente, este é o homem conhecido por ser o professor que transformou uma das piores escolas do país numa das melhores e a seguir foi despromovido. Na Madeira, é conhecido por ser vaidoso, próximo do CDS e, agora, presidente da comissão política Aliança-Madeira. Respirei fundo e pus-me a ler os 388 artigos da “nota de culpa”. Deles, resultam 12 “ilícitos”.

Mas antes disso, duas notas. Uma sobre o fim da história. Joaquim Sousa foi castigado em duas coisas que doem: o prestígio e a carteira. Foi humilhado e não vai receber salário durante seis meses, um castigo de 11.107 euros. Outra para antecipar os comentários dos leitores: a professora Sílvia Carvalho limitou-se a cumprir a lei; “o mal deste país” é criticar as pessoas e não as políticas; fazer ataques pessoais é fugir à complexidade dos problemas estruturais; a intenção é prejudicar o PSD e ajudar a Aliança e assim ajudar o PS ou a esquerda em geral; os lisboetas adoram dizer mal da Madeira.

Podem cansar-se à vontade.

Lêem-se os 388 artigos e no fim está escrito: “A instrutora Sílvia Carvalho.” Foi a professora Sílvia Carvalho quem dirigiu e assinou o processo disciplinar. Ignorar isso é atirar a autoria para a “entidade” — abstracta e genérica — e tratar os funcionários como seres incapazes de tomar decisões. Não foi o que aconteceu. A professora Sílvia Carvalho tomou 388 decisões. É dos “comportamentos do trabalhador arguido” Joaquim Sousa, como repete, que extraiu os 12 “ilícitos” que aqui vou tentar traduzir para português inteligível.

1.

“Requisitar docentes para além das necessidades reais.” O “crime” foi pedir dois educadores de infância que a instrutora acha desnecessários. Esses educadores trabalharam um ano na Seara Velha, um lugar isolado dentro do isolado que é o Curral das Freiras — mais de meia hora a pé. Não sei se eram ou não necessários, mas pelo que percebi a escola tem hoje menos uma sala de pré-primária mas mantém o número de educadores, incluindo os dois do “crime”.

2.

“Pôr em funcionamento cursos para os quais não tinha autorização.” “Cursos” significa turmas. Aqui há dois “crimes”. O primeiro foi não enviar a lista dos nomes dos alunos de três turmas do Curso de Educação e Formação de Jovens já autorizadas. O outro foi enviar para o Funchal os papéis de abertura de uma turma de ensino para adultos em Setembro em vez de em Julho.

3.

“Não notificar formalmente os docentes dos seus horários semanais de trabalho e respectivas alterações.” “Crime”: distribuir os horários por email e na plataforma electrónica e não em papel. Isto não é uma piada.

4.

“Elaborar horários semanais de trabalho dos docentes com irregularidades.” “Crime”: na primeira semana de aulas do ano, os horários eram marcados de forma provisória, sabendo todos que, depois de falarem com alunos e conhecerem as turmas, far-se-ia o horário definitivo.

5.

“Não assegurar as aulas dos alunos em sede das matrizes curriculares.” “Matrizes curriculares” são conteúdos — a “matéria”. “Crime”: esperar pela resposta do Funchal antes de substituir uma professora que tinha partido o perónio.

6.

“Distribuir serviço docente do 1.º ciclo do ensino básico recorrente a uma docente sem habilitação profissional para tal.” “Crime”: dar aos alunos uma professora com excesso de qualificações.

7.

“Distribuir serviço docente em regime de coadjuvarão sem autorização da DRIG e da DRE.” “Crime”: 7 professores passaram duas horas por semana ao lado de alunos que precisavam de ajuda especial, como as crianças que tinham acabado de chegar da Venezuela, “traduzindo-lhes” as aulas em sussurro.

8.

“Distribuir serviço docente com conteúdos funcionais que extravasam o plasmado no artigo 38.º do Estatuto da Carreira Docente da Região Autónoma da Madeira.” “Crime”: a escola criou os programas voluntários de Acolhimento e Prolongamento (45 minutos cada), para as crianças dos 4 meses aos dez anos não ficarem na rua à espera da abertura do portão. O mesmo à tarde. Na nota de culpa, a instrutora diz que os docentes tinham de “mudar fraldas”.

9.

“Estabelecer regras no regime de assiduidade sem enquadramento legal.” “Crime”: os professores não registaram na plataforma digital os sumários sobre as suas actividades extra-lectivas, só os da matéria dada.

10.

“Permitir a existência de horários dos alunos sem respeitar as matrizes curriculares.” “Crime”: a escola deu uma hora a menos de aulas de Matemática e Português do 5.º e 6.º ano e uma hora a mais de apoio a essas disciplinas.

11.

“Distribuir serviço docente com horas extraordinárias não respeitando as normais legais.” “Crime”: seis professores foram compensados em tempo de descanso. A lei prevê e todos concordaram.

12.

“Autorizar a anulação de matrícula de aluno dentro da escolaridade obrigatória.” “Crime”: aprovar a anulação da matrícula de um aluno que, tendo sido aceite em duas escolas, ficou na de Setúbal.

Em que cabeça é que isto vale 11.107 euros? Miguel Albuquerque bem podia agarrar nesse valor e criar um prémio para quem conseguir repetir o que o Joaquim Sousa fez no Curral das Freiras.

Jornal Publico,

Bárbara Reis

29 de Março de 2019

quinta-feira, 28 de março de 2019

O velho e o punk

Em pleno Baixo Alentejo, um velho Alentejano entra numa camineta da carrêra, senta-se num banco mesmo em frente a um punk de cabelos compridos, com uma crista de cabelo parecida com a de um galo e com madeixas verdes,  azuis, rosa e vermelhas.  O velho fica a olhar para o punk e o punk a observar o velho, ambos calados.  O punk vai ficando cada vez mais nervoso, até que não aguenta mais e pergunta ao velho:

- O que foi, amigo? Você nunca fez nada de diferente, quando era jovem? 

O velho responde: 

- Atão nã havera de fazeri? Quando era gaiato fui ao cú a uma galinha... e, quando te vi, pensei cá com os mê botões:

- "...Será que este cabrão é mê filho?!...

Fui ao gourmet e tramei-me

Gourmet? Nunca mais lá volto. Sabem que mais? Porque se quero comer aperitivos, como bolinhos de bacalhau e tremoços, que são muito mais saudáveis e baratos.


por Francisco Gouveia.


Sou um tipo moderno. E chique. Muito chique. Por isso não podia deixar de entrar num restaurante gourmet da moda. Vesti um Armani que comprei num saldo dos chineses, calcei umas sapatilhas com uma vírgula estampada que regateei ao ciganito da feira e esvaziei, pelo pescoço abaixo, meio frasco de Chanel dos marroquinos.

E foi assim, cheio de cagança, como mandam as regras do pelintra luso, que fui jantar ao tal restaurante, gerido por um “chef” reputado com categoria internacional e olímpica.

Tramei-me! Antes tivesse ido ao tasco da esquina aviar uma bifana! Confesso que já levei muita tanga, mas como esta, nunca!

Passei fome, fui gozado e fui roubado!

Sempre achei que cozinhar era uma ato de descontração, de partilha, de alegria, de afeto. E eu devia desconfiar, porque aqueles concursos gastronómicos das TVs transformaram uma atividade social sadia, numa agressão stressante, provocadora de lágrimas e depressões.

Já para não falar das parvoíces dos mestres cozinheiros da moda, cujos pratos estapafúrdios e minimalistas se apelidam agora de “criatividade culinária”.

Colocaram-me um prato à frente que é mais difícil de decifrar que as palavras cruzadas do JN ao domingo.

Um prato que exibe 5 cm2 de um pobre robalo que pereceu inutilmente só para lhe extraírem um pedacito do cachaço, meia batata engalanada com um pé de salsa, e 2 ervilhas a nadarem numa colher de chá de um azeitado molho de escabeche, bem disfarçado com um nome afrancesado que nem vem nos dicionários.

Para remate, três riscos de uma substância pastosa, estilo Miró, para preencher os restantes 90% do prato vazio.

E o bruto do português, habituado à sua travessa de cozido e ao panelão de feijoada, olha para aquilo com uma cara de parvo capaz de partir todos os espelhos lá de casa.

Esboça-se um sorriso amarelo, engole-se em seco, diz-se que está tudo ótimo ao empregado de mesa que mais parece uma melga à nossa volta, e enfiam-se dois Xanaxs quando nos metem a conta à frente. E, a muito custo, cala-se o berro de duas peixeiradas à nortenha que nos vai na alma.

Nunca mais lá volto. E sabem que mais?

Porque se quero comer aperitivos, como bolinhos de bacalhau e tremoços, que são muito mais saudáveis e baratos.

Porque para ver pintura abstrata, vou a uma exposição.

Porque detesto jantar uma comida onde toda a gente meteu as mãos.

Porque para ser roubado bastava ir à Autoridade Tributária, vulgo Finanças.

E, acima de tudo, porque desconfio de um cozinheiro que vive e trabalha com a ambição obsessiva de ser medalhado por uma companhia de pneus.

O cartel dos enfermeiros

https://www.jornaltornado.pt/o-cartel-dos-enfermeiros

O que tem sido apresentado à opinião pública como uma greve decretada pelos sindicatos de enfermeiros pode ter outras leituras. Os profissionais de enfermagem tanto podem ser vistos como assalariados ou como empresários.

É que alguns (muitos? poucos?) são assalariados no serviço público e simultaneamente são empresários no privado, uns a título individual, outros como patrões de empresas prestadoras de serviços, outros ainda são assalariados no público e no privado.

Assalariados no público e no privado, assalariados no público e patrões no privado, empresários de sociedades anónimas e a título individual, no entanto todos se apresentam perante a opinião pública acolhidos debaixo do manto protector e facilitador de obtenção de reconhecimento público de “sindicatos” e todos invocam as leis do trabalho para justificarem ao “patrão” Estado as suas reivindicações de trabalhadores, de explorados pelo capital! Já quanto ao sector privado, onde são patrões, não há revindicações! Claro.

Ora, estes “sindicatos” onde se reúnem os interesses de patrões e assalariados são típicos do corporativismo! Portugal foi um Estado corporativo até ao 25 de Abril de 74. A contrapartida da consensualização de interesses do trabalho e do capital, arbitrada pelo Estado, é a renúncia à greve ou a sua proibição.

Estas corporações, de facto, sob a máscara de sindicatos, aproveitam-se do estatuto da greve enquanto trabalhadores para obterem lucros patronais! É o dois em um. A Ivone Silva fez uma rábula numa revista em que jogava com esta ambiguidade: segundo as conveniências de umas vezes Olívia Patroa e de outra Olívia Costureira. É esta rábula hipócrita e oportunista que os sindicatos de enfermeiros estão a representar, mas uma rábula macabra, que joga com a saúde e a vida dos cidadãos.

No presente, esta organização corporativa de patrões e assalariados na área da prestação de serviços de enfermagem, que até tem um fundo de maneio de origem anónima (talvez os enfermeiros patrões saibam alguma coisa) apresenta-se ao maior patrão, o Estado (os contribuintes), aquele que paga a base fixa e segura dos seus rendimentos, com a máscara dolorosa dos assalariados reunidos em sindicato para defenderem as suas justas revindicações, constitucionalmente garantidas a trabalhadores por conta de outrem. Chama-se a isto mamar em todas as tetas. É legítimo? É merecedor de consideração e respeito?

Vistos como empresários, os enfermeiros estão a agir em cartel. Sendo que “Cartel é um acordo explícito ou implícito entre empresas para fixação de preços ou cotas de produção, divisão de clientes e de mercados, de actuação coordenada entre os participantes para aumentar os preços dos produtos, obtendo maiores lucros, em prejuízo do bem-estar do consumidor.”

A dita “greve” dos ditos “sindicatos” corresponde a esta definição de cartel. E até à de cambão: isto é, a acção concertada para obterem a compra de determinados bens ao preço definido entre os elementos do cambão.

Não me parece que um governo, independentemente da sua matriz ideológica, deva aceitar negócios propostos por um cartel ou por um grupo de empresários que acertaram entre si um cambão. E toda esta mistificação sob o manto nada diáfano de sindicatos e de sagrados direitos… Isto, mesmo sem considerar que se trata de um bem essencial, a saúde e a vida dos cidadãos. 

NB:- Os enfermeiros exigem: Reforma aos 57 anos e um aumento de 400€. Recorde-se que o vencimento na função pública é de: Mínimo de 1 201€ e máximo de 3 364€ e a carga horária 35 horas/semana.

         Os enfermeiros negociaram contracto de trabalho no privado (boletim do M. trabalho nº. 26/2018), com as seguintes condições: Vencimento mínimo 985€; vencimento máximo 1 720€ e carga horária 40 horas/semanais

Obviamente, nota-se uma diferença entre uma entidade (pública) e a outra (privada)! Pergunta-se: Porque será, num sector (público) onde têm melhor salário e menos carga horária promovem greve e no privado não?

Pedro Marques e os “jobs for the wives”

Foi a avalanche de notícias que obrigou Marcelo a emendar a mão, e dele espera-se o contrário disso: não que ande a reboque da opinião pública, mas que vigie e proteja a boa ética republicana.

Misoginia. Só faltava mesmo esta: a invocação do conceito de “misoginia” para explicar as críticas à sobredose familiar do governo de António Costa. Quem teve a estapafúrdia ideia de utilizar tal palavra neste contexto? Nada mais, nada menos, do que Pedro Marques, cabeça de lista do PS às eleições europeias. Aplicando uma velha técnica que os socialistas aprimoraram no tempo de José Sócrates, Pedro Marques tentou transformar o escrutínio mais elementar, e o saudável desejo de transparência, numa malvada manifestação (lembram-se?) de infâmia e de canalhice.

Em entrevista ao Notícias ao Minuto, quando questionado sobre se não via qualquer mal na abundância de relações familiares no governo, Pedro Marques respondeu: “Julgo que isso está muito longe de ser tema central da política. Conheço muitas das pessoas que foram objecto de acusações nessa matéria e que são competentes no trabalho que fazem. Se repararem, foram muitas mulheres que acabaram por ser acusadas de estar nos lugares por causa das relações familiares e isso dá uma certa misoginia a esse tipo de ataques. Isso entristece-me. Mas não é tema que queira valorizar porque isso faz mal à democracia. É táctica eleitoral.”

Táctica eleitoral. Maltratos à democracia. Misoginia. E tristeza. Coitadinho do PS. E coitadinho do Pedro Marques. Os seus colegas enchem o Conselho de Ministros com pais, filhos, maridos e mulheres; os gabinetes ministeriais enchem-se com amigos, familiares e esposas; e o coração de Pedro Marques sofre com tanta injustiça. Talvez valha a pena recordar a definição de misoginia: ódio, desprezo ou preconceito contra mulheres. É preciso ter uma enorme cara de pau para sequer sugerir tal coisa – como se o sexo de quem está a ser favorecido interessasse minimamente para o caso. No último programa Governo Sombra, eu fiz uma piada acerca disto, dando os meus parabéns ao PS pela sua agenda progressista, já que o “jobs for the boys” do tempo de António Guterres se tinha transformado num muito mais moderno “jobs for the wives”. Pedro Marques deve ter levado a piada a sério, e aproveitou para despejar o pacote da demagogia barata em cima de um caso cada vez mais grave.

João Miguel Tavares – Publico, 28 de Março de 2019