Brexit - ATÉ 12 DE ABRIL AINDA TODAS AS OPÇÕES ESTÃO EM CIMA DA MESA
Já se sabe o que vai acontecer
a 12 de Abril, para todos os
efeitos a data do “Brexit”?
Por incrível que pareça, ainda
não se sabe. A expectativa da
União Europeia é que o Reino
Unido consiga decidir até essa
data se ainda pretende a
separação e, nesse caso, qual é
o seu plano para concretizar o
divórcio. Isto é, os britânicos
têm no máximo dez dias para
comunicar a Bruxelas como
pretendem desvincular-se da
UE: se é num registo ordenado,
como previsto pelo acordo de
saída que está fechado desde o
fim de Novembro e não será
renegociado, ou se é de forma
abrupta, fora do quadro desse
acordo que já foi rejeitado por
três vezes no Parlamento
britânico. A outra hipótese, mais
remota, seria os britânicos
desistirem da ideia do “Brexit” e
avançarem para a revogação do
artigo 50.º do tratado europeu.
Sabe-se pelo menos qual destas
opções — deal ou no-deal — é a
mais provável? Para os europeus, o cenário de
uma saída abrupta e sem acordo
torna-se mais provável a cada
dia que passa sem uma solução
para o impasse político em
Londres. Ainda ontem, o
negociador da UE para o
“Brexit”, Michel Barnier, lembrou
que se o tratado jurídico que
fixa os termos do divórcio não
for ratificado pelo Parlamento
britânico antes do dia 12 de
Abril, a mera aplicação da lei
atirará o Reino Unido para o
abismo do no-deal na data
prevista, seja por acidente ou
por escolha deliberada. Segundo o representante do
Parlamento Europeu nas negociações para o “Brexit”,
Guy Verhofstadt, o no-deal é
agora “praticamente inevitável”.
Mas o Parlamento britânico
não votou já para excluir a
hipótese de uma saída sem
acordo?
Sim, os parlamentares votaram
uma proposta para afastar o
cenário do no-deal, mas esse foi
um voto político para manifestar uma posição e pressionar o
Governo que não teve
consequência jurídica. Hoje, a
Câmara dos Comuns vai
apreciar uma nova proposta,
que desta feita tem carácter
legislativo, para impedir uma
saída da UE sem acordo — se for
aprovada, obrigará a
primeira-ministra, Theresa May,
a negociar com Bruxelas uma
nova extensão do prazo do
“Brexit”.
Portanto ainda há várias
maneiras de evitar o desfecho
mais prejudicial do no-deal?
Sim. A maneira mais “fácil”,
como não se cansam de repetir
os parceiros europeus, é a
aprovação do acordo de saída,
que estabelece os critérios da
separação e prevê um período
de transição até ao fim de 2020
para que os cidadãos e as
empresas se possam organizar
para a nova realidade. Os
deputados chumbaram o
acordo três vezes, mas a
convocatória de um derradeiro
meaningful vote na Câmara dos
Comuns pode voltar a
acontecer, se Theresa May
acreditar que consegue uma
maioria. De resto, a outra
hipótese para travar um salto
no desconhecido a 12 de Abril é
solicitar à UE um novo
adiamento do “Brexit”,
aproveitando a abertura dos
líderes europeus para mudar
mais uma vez a data da saída
em troca de um “plano
credível” dos britânicos.
É para isso que o Conselho
Europeu vai voltar a
reunir-se na próxima
semana em
Bruxelas?
A cimeira da próxima
semana será a última
oportunidade de
Theresa May
para
convencer
os chefes
de Estado
e Governo
da UE de
que ainda
existe uma maneira de concluir com
sucesso o processo do “Brexit”,
idealmente nos termos
negociados há mais de cem
dias. Foi nesse pressuposto que,
há duas semanas, os líderes
aceitaram conceder a primeira
extensão técnica pedida por
Theresa May, embora com
condições: o Reino Unido tinha
de aprovar o acordo de saída até
ao fim desta semana, para
poder deixar a UE a 22 de Maio,
ou indicar um outro caminho até
12 de Abril. Essa data não é
aleatória: nesse dia, termina o
prazo para a apresentação das
listas às eleições europeias, que
o Reino Unido terá de organizar
se permanecer na UE para além
do dia da votação.
Os líderes europeus podem
recusar a nova extensão do
prazo que Theresa May vai
pedir?
Existe essa possibilidade — o
Presidente francês, Emmanuel
Macron, tem insistido que a
resposta dos 27 não é
automática e defendido que só
com um “plano concreto e
credível” é que o Reino Unido
deve ser autorizado a prolongar
a sua permanência na UE. Como
a decisão tem de ser unânime,
basta um líder opor-se à
proposta de Theresa May para
esta ser rejeitada. E a proposta
de outra extensão curta que a
primeira-ministra formulou
ontem bate de frente com as
condições dos 27. Mas apesar
da retórica mais inflamada de
Macron, e do cepticismo
crescente em muitas
capitais com as manobras
políticas de Theresa May,
o mais provável é que os
líderes europeus tentem
compor uma nova solução
de compromisso,
impondo
condições mais
duras à
primeira-ministra
britânica em
troca de mais
tempo.
Rita Siza
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