segunda-feira, 10 de junho de 2019

A corrupção, o partido socialista e o homo erectus

As suspeitas de corrupção que envolvem os autarcas socialistas de Santo Tirso e Barcelos são apenas a ponta de um iceberg que ameaça afundar o regime.

Haverá com certeza corruptos em todos os partidos, mas no Partido Socialista parece haver mais do que nos outros (parece? já lá vamos). Será que, tal como perguntou Ana Gomes, o PS “prestou-se a ser um instrumento de corruptos e criminosos?”

Este alerta de Ana Gomes foi feito há um ano, no Congresso do PS na Batalha, reunião em que os socialistas tentaram pela primeira vez exorcizar o fantasma de José Sócrates, o ex-primeiro-ministro suspeito de ser corrupto. Na altura, os socialistas também foram confrontados com suspeitas de que Manuel Pinho teria sido corrompido por Ricardo Salgado e recebido dinheiro através de offshores quando ainda era ministro.

Nesse congresso, Ferro Rodrigues veio dizer que o PS não deve nem teme nesta matéria: “o combate à corrupção está no ADN do PS”. O que Ferro não disse é que a própria corrupção também está no ADN de uns quantos dirigentes socialistas.

Os socialistas que compram livros com o dinheiro dos outros

Armando Vara está na prisão e José Sócrates e Manuel Pinho são suspeitos de serem corruptos. Isto num Governo em que, segundo a revista Sábado, o Ministério Público quer que mais três ex-ministros (Mário Lino, António Mendonça e Teixeira dos Santos) e dois ex-secretários de Estado (Paulo Campos e Carlos Costa Pina) sejam arguidos num caso em que estão a ser investigadas alegadas práticas dos crimes de gestão danosa, participação económica em negócio, tráfico de influência, corrupção passiva para acto ilícito, prevaricação, abuso de poder e recebimento indevido de vantagem nas PPP.

Na semana passada, ficámos também a saber que José Conde Rodrigues, ex-secretário de Estado da Justiça do segundo Governo de José Sócrates, foi condenado a quatro anos de prisão, com pena suspensa, pelo crime de peculato. Em causa estará a compra de mais de 700 livros com cartões de crédito do Estado. Esta mania que alguns socialistas têm de comprar livros com dinheiro alheio; já José Sócrates tinha alegadamente gasto 170 mil euros a comprar o seu próprio livro com o sugestivo título de “A Confiança no Mundo”.

Costa no Congresso da Batalha

Nesse Congresso na Batalha há um ano, António Costa definiu duas prioridades para o partido: primeiro, acabar com o mito de que, em Portugal, é a direita que sabe governar a economia e as finanças públicas e, segundo, combater a corrupção. Costa conseguiu acabar com o primeiro mito, mas não com a corrupção. Tanto mais que esta semana, na Comissão Política Nacional, o secretário-geral do PS voltou a eleger como prioridades o combate à corrupção e o investimento nos serviços públicos.

Isto numa altura em que os alicerces socialistas voltam a tremer com notícias de vários casos de corrupção, nepotismo, favorecimentos, amiguismos, cunhas e afins.

Do galpgate ao familygate, até chegar ao Fernando Anastácio

No mês passado, o Ministério Público constituiu 18 arguidos no caso de recebimento indevido de vantagem nas viagens ao Euro 2016 pagas pela Galp, entre os quais estão os ex-secretários de Estado do actual governo, Fernando Rocha Andrade e Jorge Oliveira, Vítor Escária, antigo assessor do primeiro-ministro, e Carlos Costa Pina, antigo secretário de Estado e atual administrador da Galp.

Depois do galpgate, o país ainda teve de assistir ao triste espetáculo do familygate: primos, irmãos, mulheres e maridos, cunhados, pais e filhas, tios e padrinhos, numa grande orgia política incestuosa da família socialista que, sem pudor e sem vergonha, tomou de assalto os gabinetes do poder, tudo em nome da família. Da família socialista.

O familygate nem sequer é um caso de crime, é um problema ético. Tal como é o caso de Fernando Anastácio, o deputado socialista, casado em comunhão de bens com a juíza desembargadora do Tribunal da Relação de Lisboa Maria José Machado. Fernando Anastácio esteve a negociar, em nome dos socialistas, aumentos salariais dos juízes até 700 euros/mês. Fernando Anastácio, advogado, administrador de várias empresas e sócio maioritário de uma sociedade de advogados com o seu nome, não viu neste caso nenhum problema de conflito de interesses.

E Fernando Anastácio tem alguma coisa a ver com o familygate? Duarte Cordeiro, secretário de Estado Adjunto e dos Assuntos Parlamentares, nomeou Pedro Anastácio, de 25 anos, filho do deputado Fernando Anastácio e da juíza Maria José Machado, para seu adjunto. O mesmo Duarte Cordeiro que tinha nomeado Ana Catarina Gamboa, mulher do seu amigo Pedro Nuno Santos, como chefe de gabinete.

Hortense Martins e os presidentes das câmaras de Santo Tirso e Barcelos

Ainda na boa tradição do familygate socialista, conta-nos o jornal Público que a deputada socialista Hortense Martins conseguiu 276 mil euros de fundos comunitários para a empresa do pai. O problema, escreve o jornal, é que a esses fundos só podiam candidatar-se projetos ainda em construção. Não era o caso, mas a deputada socialista Hortense Martins tentou e conseguiu que lhe fossem aprovados dois subsídios para a empresa do pai. Isto numa altura em que a PJ, na Operação Inovar, investiga suspeitas de fraude na obtenção de subsídios comunitários.

Ainda o país digeria o caso da Hortense Martins, e já era confrontado com um outro: o dos presidentes socialistas das câmaras municipais de Santo Tirso, Joaquim Couto, e de Barcelos, Miguel Costa Gomes, bem como o presidente do Instituto Português de Oncologia do Porto, Laranja Pontes, e a empresária Manuela Couto (mulher do autarca de Santo Tirso). Foram detidos porque são suspeitos de viciação fraudulenta de procedimentos concursais e de ajuste direto.

Neste caso, também há uma alegada troca de favores: a presidente da Câmara de Matosinhos, Luísa Salgueiro (também do PS), através da alegada influência do socialista Joaquim Couto, terá nomeado em outubro de 2017 Marta Laranja Pontes, filha do presidente do IPO do Porto, para chefe de gabinete da autarquia matosinhense. E mais uma coincidência: Manuela Couto estará igualmente envolvida na Operação Éter e no alegado desvio de sete milhões de euros do Turismo do Norte de Portugal.

De Carlos César, o patriarca do familygate, a João Cravinho

Confrontado com este caso de Santo Tirso e Barcelos, Carlos César, o patriarca do familygate, limitou-se a dizer que “quem agir à margem da lei” ou “estiver ligado a situações de abuso de poder” deve acatar as respetivas consequências. E que “a seu tempo, as investigações chegarão a uma decisão judicial”.

Esta resposta de Carlos César faz lembrar uma frase de João Cravinho sobre a corrupção em Portugal: “Reduzir a corrupção a um caso de polícia é uma coisa de um primitivismo ao nível do homo erectus”. Há socialistas erectus, há socialistas curvos e há socialistas com uma grande retidão, como é o caso de João Cravinho que ainda nos primórdios do primeiro Governo de José Sócrates chamou a atenção pela primeira vez para a “italianização do regime”.

O nome de João Cravinho neste artigo é importante porque nos ajuda a recordar que a corrupção não é um património socialista. O poder corrompe e se calhar os socialistas estiveram no poder mais tempo do que os outros. João Cravinho foi o homem que depois da segunda maioria absoluta de Cavaco Silva, cheia de escândalos e casos, lançou um ataque feroz à corrupção no Estado, numa altura em que o Ministério Público e o então procurador-geral Cunha Rodrigues eram hostilizados pelo poder político. Na altura, e para aqueles que acham que o familygate é uma invenção socialista, o jornal O Independente fazia manchete com as mulheres dos governantes de Cavaco Silva que pertenciam ao mesmo governo que os maridos.

Joana Marques Vidal ressuscita a tese do homo erectus

Aqui chegados, é preciso chegar a uma conclusão. Na semana passada, nas Conferências do Estoril, Joana Marques Vidal alinhava na tese do homo erectus que João Cravinho ensaiou há mais de 20 anos: “A questão da corrupção não é essencialmente dos tribunais (…) é muito importante que o poder político e os agentes partidários assumam a luta contra a corrupção como uma questão essencial tal como a transparência das contas públicas”. Precisamente as duas prioridades que António Costa definiu no Congresso na Batalha

Já antes, em entrevista à SIC e ao Expresso, a anterior procuradora-geral da República afirmava o seguinte: “Se repararmos o que foram os programas políticos das últimas eleições, a corrupção aparece lá numa linha. E aparece sempre relacionada com o judiciário. Não há uma estratégia nacional de combate à corrupção”.

É verdade. Nos programas eleitoral e de governo dos socialistas aparece uma única linha dedicada ao tema da corrupção, no capítulo “Melhorar a qualidade da democracia”. Prometem “prevenção e combate à corrupção através de maior transparência, escrutínio democrático e controlo da legalidade”. São frases redondas como esta que fazem a democracia rolar para uma ribanceira populista.

E quando alguém, como Álvaro Santos Pereira no relatório da OCDE, tenta escrever mais do que uma linha sobre o tema da corrupção, é alvo de censura. São estas as linhas com que se cose a política em Portugal. Para quê escrever mais linhas?

Opinião - Pedro Sousa Carvalho - https://eco.sapo.pt

El Gran Hermano de Orwell vive

Excelente artigo no El Pais. Por Ignacio Vidal-Folch

Orwell concebía sus profecías de '1984' como una advertencia. Divisaba un futuro plagado de mentiras institucionalizadas y mecanismos de vigilancia opresivos. Como los de hoy.

Mil novecientos ochenta y cuatro sigue siendo turbadora como un espejo esperpéntico del callejón del Gato de Valle-Inclán. A pesar de que tiene algo tosco y deliberado, la novela —así titulada en el original, aunque suele citársela en cifras, 1984— interpela a generación tras generación de lectores inquietos y recelosos que reconocen rasgos del mundo que fabuló Orwell, o creen, como dice la canción de Leonard Cohen, que “los ricos emiten sus canales en los dormitorios de los pobres”. Ayer, 8 de junio, se cumplía el 70 aniversario de la primera edición de una obra con la que George Orwell se adentró en lo que podría llamarse ciencia-ficción política con una distopía cuyo eco no ha perdido fuerza.

Aunque es un long-seller que se reedita continuamente, recientemente las ventas de la distopía de Orwell se dispararon en Estados Unidos, donde según The New York Times la editorial Penguin despachó varios cientos de miles de ejemplares poco después de que Kellyanne Conway, consejera en el Gabinete del presidente Donald Trump, reprochase a la prensa su insistencia en que la Administración reconociera que la cifra de asistentes a la toma de posesión de Trump era un dato falso que su equipo había hecho circular. Al fin y al cabo, aseveró Conway, no se trataba ni de una mentira ni de una equivocación, sino de lo que definió como “hechos alternativos”. Al escuchar sus palabras muchos ciudadanos recordaron algunas predicciones de la novela de Orwell: la “neolengua”, un vocabulario sintético y reducido, cuya pobreza aspira a reducir también la capacidad de pensar; y el “Ministerio de la Verdad”, cuyos funcionarios en el libro se aplican a corregir los testimonios del pasado reciente y a reescribir la historia para que se acople perfectamente al discurso oficial. Es decir, lo que muchos vieron en Conway era un despliegue sin complejos de la mentira institucionalizada, presente en mayor o menor medida no solo en Trump, sino en general en los discursos de la política, el comercio, la religión…, el periodismo…

¿Caminamos mansamente hacia una sociedad de vigilancia masiva en la que se manipula la información para tener a la gente controlada, tal y como refleja la novela? Orwell imaginó un mundo posrevolucionario donde todo lo que pasó antes de la Revolución fundacional de 1984 (los valores humanistas, las formas de relacionarse, el debate público, la libertad de expresión, la cultura…) fue abolido y olvidado. La nueva sociedad materialista que describe la novela está dividida en tres clases: los miembros del partido, los “proles” y los “esclavos”. El aparato de represión, todopoderoso e implacable, vigila cada movimiento de los súbditos mediante un sistema de pantallas instaladas en el espacio público y en el doméstico. No existe la privacidad. El poder se encarna en un inaccesible tirano cuya imagen se exhibe por todas partes con el lema “El Gran Hermano te vigila”.

En un Londres siniestro el protagonista, Winston Smith, modesto pero inquieto empleado en el departamento de Historia del Ministerio de la Verdad, conoce a Julia, empleada en el departamento de Ficción del mismo ministerio. Ella maneja una “máquina de escribir novelas”: historias con estructuras argumentales sencillas y personajes tópicos, parecidas a las que en nuestro mundo real hoy se escriben con ordenadores que emplean inteligencia artificial. Winston y Julia se enamoran y tratan de incorporarse a una fantasmal organización clandestina de disidentes que en el fondo se sabe condenada al fracaso, pues el poder es invencible. Esa tensión entre el poder aplastante, por un lado, y, por el otro, el amor y la libertad, es la sustancia de la novela.

Dejando a un lado notables excepciones como el control que ejerce el Gobierno chino sobre su población y satrapías varias, el omnipresente Estado policial, todopoderoso y fiscalizador que Orwell fabuló… no existe. Paradójicamente, uno de los mayores problemas en buena parte del mundo es la debilidad o la quiebra de los Estados. Pero los monopolios todopoderosos de la tecnología, con su control de la verdad y su avidez vampírica de información, pueden ser un sustituto plausible de aquel Estado ficticio. En este sentido, también en la realidad El Gran Hermano te vigila y te espía — eso sí, con una interface agradable y con la aquiescencia y entusiasta cooperación de la masa— a través de las pantallas, del móvil que cada uno lleva en el bolsillo, del imborrable rastro digital que deja cada usuario.

En la sociedad occidental de hoy el sexo tampoco está reprimido y severamente controlado como en 1984, sino alentado y expuesto. Y, sin embargo, su práctica en la primera juventud se reduce y retrasa sustancialmente, según las estadísticas oficiales de una decena de países del primer mundo que cita la revista cultural estadounidense The Atlantic. Esta demora puede ser la primera indicación de la recesión sexual, signo de “una más amplia retirada de la intimidad física que se extiende hasta entrada la madurez”. (Las causas de esta caída de la libido pueden ser las presiones económicas, la ansiedad, la fragilidad psicológica, el uso masivo de antidepresivos, la televisión en streaming, los estrógenos que dispersa el plástico en el medio ambiente, los smartphones, la falta de sueño, la obesidad, el exceso de información… o lo que a cualquier analista se le ocurra).

Estatua en homenaje a George Orwell, en Londres. 

(Estatua en homenaje a George Orwell, en Londres.  Mark Thomas (Alamy Stock Photo / cordon press))

En el infierno cartografiado por Orwell en su libro, escrito en la posguerra, la miseria está ampliamente extendida, la gente camina cabizbaja y cohibida, los artículos de consumo son escasos, la apariencia de las cosas es gris, el trabajo es embrutecedor y los horarios abusivos. Hoy el mundo real no es así, pensamos los miembros del partido. Pero los proles y los esclavos seguramente reconocen esos paisajes.

En uno de los escenarios más famosos, tétricos y patéticos de 1984, los llamados “dos minutos de odio”, las masas se reúnen ante una gran pantalla para abuchear y execrar al enemigo en un paroxismo demente. Al leerlo es inevitable acordarse de las redes sociales, donde hoy cualquiera que asome el hocico fuera del rebaño se expone a ser linchado virtualmente.

Otros artefactos y términos con que se describe el mundo de 1984 se han incorporado al paisaje y al lenguaje corriente. Orwell concebía sus profecías como una admonición, una advertencia contra un futuro totalitario, bien soviético, bien fascista, y contra el cultivo sistemático de la mentira que observó por primera vez en España, en Barcelona, durante la Guerra Civil, donde le dejó sorprendido y pensativo el constatar “con cuánta facilidad la propaganda totalitaria puede controlar la opinión de la gente cultivada en los países democráticos”.

El estilo de Orwell es directo y tiene una formidable capacidad de empatizar con el lector, que al leerle escucha la voz de una persona honesta, cercana, machadianamente buena. Esta cercanía, desde luego, es una gran virtud literaria. Orwell resulta próximo, simpático, honesto. Como Camus, escribía impulsado por una obligación moral. Tenía que expiar su trabajo como oficial de policía del imperio en Birmania, donde estuvo durante cinco años después de estudiar en Eton, y de donde volvió con una fuerte conciencia política antiimperialista.

Escribió con el máximo verismo unos reportajes sobre los pobres londinenses, y se redujo voluntariamente a la condición de vagabundo. Frecuentó durante una larga temporada a mendigos en pie de igualdad. De ahí salió su primer libro, Sin blanca en París y Londres.

En el mismo espíritu de coherencia y sacrificio, cuando Franco se levantó contra la República española se plantó en Barcelona y a las primeras de cambio se presentó voluntario para combatir en el frente. De esta aventura quedó el testimonio de su Homenaje a Cataluña y el poso de una experiencia y unos conocimientos sobre la lógica del totalitarismo que se reflejaría en su famosa fábula Rebelión en la granja, y que cristalizó en 1984.

Esta novela fue su legado: la escribió, teniendo en la mente Nosotros, de Yevgueni Zamiatin, con mucho trabajo, dudas y correcciones, en una ventosa y fría isla escocesa a la que se retiró con ese objetivo, estando viudo reciente de una esposa muy querida, solo, enfermo de tuberculosis —entonces a menudo letal—, como un largo testamento político. De hecho, al año siguiente de publicarla falleció.

Señala el escritor británico John Lanchester que el mundo de hoy se parece más a la distopía de quien había sido profesor de Orwell, Aldous Huxley: Un mundo feliz (1932). Ese libro describe una sociedad marcada por la ciencia y la tecnología y entregada a una “narcotizante promiscuidad sexual”, tranquilizada por el placer y las drogas (el soma milagroso) y sumida en una infantilización general; y coherentemente con ello, narrada en un tono más ligero que 1984. Para entender el presente, Lanchester propone una síntesis de Un mundo feliz y 1984.

A esa síntesis a lo mejor habría que añadirle algunas de las tendencias e innovaciones que inundan nuestro mundo. Como las llamadas “capacidades aumentadas” —drogas, prótesis, implantes cerebrales—, los nuevos órganos obtenidos con impresoras 3D; los robots que controlan nuestras casas, aprenden y transmiten nuestros datos; la realidad virtual que entretiene y anestesia… Orwell no se explayó en descripciones de nuevas tecnologías y máquinas: puso el foco en un estado mental y social. Por eso sus augurios conectan con los lectores. Como apunta Dorian Lynskey en una reciente biografía de Orwell (In the Shadow of Big Brother), al británico “le interesaba mucho más la psicología que los sistemas”. Ahí reside la clave del poder, y de los mecanismos de control de la masa a través de la mentira y el miedo. Eso apenas cambia

ANSR–Autoridade Nacional da Segurança Rodoviária

Se nunca perdeu pontos na carta, já ganhou mais 3.

Os automobilistas que nunca tenham perdido pontos na sua carta de condução, esta segunda-feira ficaram com 15. A cada três anos um automobilista que não cometa contra-ordenações graves vê aumentado em três pontos o seu registo.

O Código da Estrada prevê que de três em três anos o automobilista veja aumentado em três pontos o seu registo, até um máximo de 15. "No final de cada período de três anos, sem que exista registo de contra-ordenações graves ou muito graves ou crimes de natureza rodoviária no registo de infracções, são atribuídos três pontos ao condutor, não podendo ser ultrapassado o limite máximo de quinze pontos, nos termos do n.º 2 do artigo 121.º-A", é indicado. Resumindo só tem este bónus 1 vez, ou sendo prevaricador nato, poderá desde que intervale.

A lei prevê que sejam retirados três pontos com uma contra-ordenação grave "sob influência de álcool, excesso de velocidade dentro de zonas de coexistência ou ultrapassagem efectuada imediatamente antes e nas passagens assinaladas para a travessia de peões ou velocípedes, e de dois pontos nas demais contra-ordenações graves".

O automobilista fica sem cinco pontos com uma contra-ordenação muito grave "se esta se referir a condução sob influência do álcool, condução sob influência de substâncias psicotrópicas ou excesso de velocidade dentro das zonas de coexistência, e de quatro pontos nas demais contra-ordenações muito graves".

Veja se recebeu os 3 pontos extra em https://portalcontraordenacoes.ansr.pt

domingo, 9 de junho de 2019

Gestores de topo da TAP também queriam receber prémios

Comecemos pela polémica em torno da TAP para lhe revelar, em destaque na primeira página do Expresso, que os Gestores de topo da TAP também queriam receber prémios. Falamos dos bónus atribuídos em função do desempenho e pagos a trabalhadores da empresa, apesar dos prejuízos de 118 milhões de euros registados pela transportadora no ano passado. Como explicar a opção? Quem decidiu, porque decidiu e quem conhecia a decisão? E já agora, que papel tiveram os administradores nomeados pelo Governo que impediram que o prémio chegasse aos gestores de topo? Contamos-lhe os detalhes e abrimos caminho para outras dúvidas por esclarecer num caso que promete continuar a fazer correr tinta.

Guerra do Governo com accionista privado parece ter sido reduzida a uma alteração de regras de atribuição de bónus futuros. Administradores do Estado dizem ter sido enganados apesar de terem aprovado a atribuição de “poucos” prémios a altos quadros da empresa.

Afinal, havia outros: se a primeira proposta de atribuição de prémios tivesse visto a luz do dia, o valor pago pela TAP e que esteve no centro da polémica que rebentou esta semana seria muito maior. Além do bónus de €1,171 milhões que foi distribuído a quadros de topo da TAP, e apesar dos €118 milhões de prejuízo da transportadora aérea em 2018, estava previsto pagar prémios também à própria Comissão Executiva — o órgão que tem a gestão na mão, controlada pela Atlantic Gateway, de David Neeleman e Humberto Pedrosa. A proposta não foi feita pela Comissão de Vencimentos e, confirmou o Expresso junto de três fontes diferentes, chegou a ser apresentada na reunião do Conselho de Administração a 21 de Março deste ano. Mas acabou por cair por terra, depois da oposição clara dos sete representantes do Estado — incluindo de Miguel Frasquilho, actual presidente da empresa, e de Lacerda Machado, amigo e padrinho de casamento de António Costa. Os restantes administradores nomeados pela Parpública são Ana Pinho, António Menezes, Bernardo Trindade e Esmeralda Dourado.

Nessa reunião, a única em que se falou do tema até esta semana, foi então chumbada uma distribuição de bónus mais generalizada, mas acabou por ser aceite uma excepção: havendo contractos individuais com cláusulas de atribuição obrigatória de prémios, era financeiramente mais pesado para a TAP pagar as indemnizações por não respeitar os contractos do que manter esses pagamentos, terão argumentado os administradores mais ligados a David Neeleman.

Essa excepção resultou nos tais 1,171 milhões pagos a cerca de 180 quadros superiores, divulgados esta semana na comunicação social. É aqui que reside a actual polémica. A posição do Governo na quinta-feira e a dos administradores nomeados para representar o Estado é a de que o problema está no universo a quem se decidiu, no final, pagar os prémios. Num comunicado enviado às redacções, onde estes responsáveis se descolam por completo da restante administração, afirmam que foram surpreendidos com o pagamento de prémios que “vão além do cumprimento das responsabilidades contratuais”.

Ainda assim, entre o momento em que os administradores que representam o Estado vetaram o pagamento de um conjunto de prémios, incluindo à comissão executiva, e o processamento dos mesmos, que veio a público esta semana, são muitas as interrogações que permanecem. Só essa clarificação permitirá perceber se este ‘caso TAP’ foi, afinal, uma falha de comunicação, uma capitalização política de um incidente, uma divergência de entendimento quanto ao que deve ser a gestão de uma empresa gerida por privados mas com 50% de capital público, ou mesmo um descurar do interesse público por parte dos representantes do Estado.

É que, sabe o Expresso, terá sido dito a estes administradores que levantaram reservas quanto aos prémios, que os casos excecionais seriam “poucos”. O ‘bolo’ global pago com o ordenado de maio apanhou de surpresa o acionista Estado e os seus representantes, que tinham ficado descansados com os tais “poucos” prémios. Ora, tendo em conta que cabe a uma administração fiscalizar a gestão executiva e, neste caso concreto, zelar pelo interesse público e pelo dinheiro dos contribuintes, as perguntas paras as quais ainda não há resposta são muitas: terá a administração deixado passar o pagamento dos prémios que não era possível evitar sem verificar que valores estavam exatamente em causa? Se assim foi, haverá legitimidade agora para reclamar uma quebra de confiança? Qual era o nível de pormenor que a gestão executiva fornecia à administração sobre políticas de atribuição de prémios? O que suscitou reserva dos representantes do Estado foi o valor em causa que seria pago em bónus ou o impacto político da medida? A gestão da TAP deu a conhecer à administração o programa de mérito que diz ter implementado em 2017?

Perante tantas perguntas, o silêncio é, nesta altura, ensurdecedor. Ainda assim o Expresso sabe que terá sido acordado já com Antonoaldo Neves que, futuramente, não se repetirá uma atribuição prémios deste nível —em anos de prejuízos. Quanto ao que já foi pago, o Estado ficou de mãos atadas perante o facto consumado.

Antonoaldo não recebe

A decisão de não atribuir prémios à gestão e de avançar apenas, quanto aos restantes quadros, com os bónus acordados em contratos individuais, terá ficado registada em anexo à ata da reunião de 21 março. Na ordem de trabalhos da assembleia geral (AG) de dia 28 desse mesmo mês, destinada a aprovar as contas de 2018, entre outras matérias, constava um ponto onde se submetia aos acionistas uma “nota informativa sobre a política de remunerações dos membros do conselho de administração da sociedade, aprovada pela comissão de vencimentos da sociedade”. Curiosamente, no site da TAP, na informação referente a essa mesma AG, o único documento que não consta é precisamente esse, a tal nota informativa. Segundo foi possível apurar a Comissão de Vencimentos decidiu não atribuir qualquer prémio aos administradores executivos, facto transmitido à AG.

Numa comunicação feita esta semana aos trabalhadores, a gestão de Antonoaldo Neves justificou esta atribuição de prémios com o novo programa de mérito da empresa, lançado em 2017, e que assenta na avaliação “dos resultados da empresa, das áreas e individuais”. A primeira componente não se verificou mas a justificação para o pagamento destes prémios estará nos resultados conseguidos por estes trabalhadores nas outras componentes. A gestão da TAP deixou ainda um recado ao Governo, o de que “a promoção de uma cultura de mérito, alto desempenho e entrega de resultados continuará a ser uma prioridade da Comissão Executiva”, defendendo ainda ter a “absoluta convicção de que o programa de mérito foi fundamental” para a redução de custos e aumento de receitas conseguidos em 2018.

Como é que esta filosofia de gestão se irá conjugar com a indignação do Governo não se sabe. Antes do silêncio entretanto instituído, o Governo, através do Ministério de Pedro Nuno Santos, num comunicado enviado às redações na quinta-feira, acusou a comissão executiva da TAP de “quebra de confiança” e “desrespeito”. Mas a tensão entre o Estado e David Neeleman já era visível antes.

Nem de propósito, no ano passado, a propósito da avaliação do Tribunal de Contas ao regresso do Estado ao capital da TAP, o Ministério do Planeamento e das Infraestruturas, então liderado por Pedro Marques, defendia enfaticamente os méritos do modelo encontrado: “O processo de reconfiguração da reprivatização foi regular, eficaz e eficiente, tendo permitido assegurar ao Estado um papel fulcral (...) de definição das decisões estratégicas da TAP SGPS e de monitorização efetiva dos atos de gestão diária praticados praticados pela gestão executiva”.

* Com David Dinis, João Vieira Pereira e Miguel Santos Carrapatoso

Vê-se que sim!

quarta-feira, 5 de junho de 2019

A JORNALISTA EXPLICA O QUE ESTEVE POR TRÁS DO BREXIT.

Democracia e manipulação - o caso do Brexit

Excelente:

https://www.ted.com/talks/carole_cadwalladr_facebook_s_role_in_brexit_and_the_threat_to_democracy?language=pt

Numa palestra imperdível, a jornalista Carole Cadwallard aborda um dos acontecimentos mais desconcertantes da atualidade: a votação super renhida para a saída do Reino Unido da União Europeia. Investigando os resultados até chegar a uma imensidão de anúncios falaciosos no Facebook, dirigidos a eleitores indecisos e vulneráveis — e ligando os mesmos jogadores e as mesmas táticas às eleições presidenciais dos EUA em 2016 — Cadwalladr acusa os "deuses de Silicon Valley" de estarem do lado negro da história e pergunta: Serão as eleições justas e livres uma coisa do passado?

Aproveita o dia (Carpe Diem) de Walt Whitman

Aproveita o dia,

Não deixes que termine sem teres crescido um pouco.

Sem teres sido feliz, sem teres alimentado teus sonhos.

Não te deixes vencer pelo desalento.

Não permitas que alguém te negue o direito de expressar-te, que é quase um dever.

Não abandones tua ânsia de fazer de tua vida algo extraordinário.

Não deixes de crer que as palavras e as poesias sim podem mudar o mundo.

Porque passe o que passar, nossa essência continuará intacta.

Somos seres humanos cheios de paixão.

A vida é deserto e oásis.

Nos derruba, nos lastima, nos ensina, nos converte em protagonistas de nossa própria história.

Ainda que o vento sopre contra, a poderosa obra continua, tu podes trocar uma estrofe.

Não deixes nunca de sonhar, porque só nos sonhos pode ser livre o homem.

Não caias no pior dos erros: o silêncio.

A maioria vive num silêncio espantoso. Não te resignes, e nem fujas.

Valorize a beleza das coisas simples, se pode fazer poesia bela, sobre as pequenas coisas.

Não atraiçoes tuas crenças.

Todos necessitamos de aceitação, mas não podemos remar contra nós mesmos.

Isso transforma a vida em um inferno.

Desfruta o pânico que provoca ter a vida toda a diante.

Procures vivê-la intensamente sem mediocridades.

Pensa que em ti está o futuro, e encara a tarefa com orgulho e sem medo.

Aprendes com quem pode ensinar-te as experiências daqueles que nos precederam.

Não permitas que a vida se passe sem teres vivido…

Walter Whitman (1819 – 1892) foi um jornalista, ensaísta e poeta americano considerado o “pai do verso livre” e o grande poeta da revolução americana.

Pensões por inteiro, em Portugal

Ainda há quem receba as pensões por inteiro, isto é, de acordo com a remuneração auferida no mês anterior à aposentação. É o caso de alguns juízes e militares, como se pode ler no caderno de Economia do Expresso. Quando os novos estatutos entrarem em vigor, juízes e magistrados do Ministério Público perdem a possibilidade de se jubilarem com uma pensão superior ao salário no activo, uma benesse que se auto-atribuíram e que, durante anos, chocou a opinião pública. Mas, ainda assim, manterão um regime de aposentação bem mais favorável do que a generalidade dos funcionários públicos (já para não falar da Segurança Social) e, mais do que isso, nalguns casos terão parte desta perda compensada pelo aumento de salários agora decidido. Os juízes estão entre as classes profissionais mais privilegiadas em termos de aposentação – mas não são os únicos, lê-se a abrir o artigo.

"Os Cães Ladram Facas", de Charles Bukowski

"Os Cães Ladram Facas", de Charles Bukowski (1920-1994) editado pela Alfaguara, o poeta maldito, bêbado, misógino, malcriado, violento, com uma poesia violentamente autobiográfica, cínica e cruel: "vimos os mexicanos ilegais a saltar o muro./ Kraft limpou o primeiro com uma bola de chamas/ eu acertei no segundo com a minha velha pistola luger".
A péssima relação com o autoritarismo do pai é omnipresente: "Henry, Henry, não / entres… ele mata-te, ele leu os teus contos". Os poemas desta antologia estão cheios de referências a este trauma que marcou mais Bukowski do os buracos na cara deixados pelo acne. O pai, que emigrou da Alemanha para os Estados Unidos em 1923 e que poucos anos depois havia de sofrer na pele os efeitos da Grande Depressão, esteve desempregado mas saía de casa de manhã e voltava à tarde só para manter as aparências. Essa hipocrisia revoltava o jovem, que depois havia de ridicularizar esse quotidiano entediante da classe média: "a minha mãe tinha dentadura/ o meu pai tinha dentadura/ e todos os sábados das suas vidas/removiam todos os tapetes de cada/enceravam o chão de madeira/e voltavam a colocar os tapetes".
Na sua poesia híper realista e decadente, Bukowski revela-se a cada passo para transpor a degradação daquela vida: "Não há nada a fazer/ senão beber/ apostar nos cavalos/ arriscar no poema/ enquanto as raparigas se tornam mulheres." Ou então amar muito romanticamente, como o poeta explica nesta definição de amor pouco aconselhável para citar em cartas apaixonadas: "o amor é um gato esmagado". Vítor Matos

Editor de política

EUA fazem ultimato à Europa.

Querem defesa? Comprem-nos armas ou amanhem-se com as vossas. Poderia resumir-se assim o ultimato dos Estados Unidos à Europa para que a União mude o rumo da sua política de defesa, o que exige participar nos projectos de armamento, escreve o El País. O diário espanhol teve acesso a informação sobre uma reunião com embaixadores a 22 de Maio, em Washington. “Quando ocorrer uma crise e as suas defesas fracassarem, sua população não ficará muito impressionada pelo facto de o armamento ter sido adquirido somente nos países europeus”, ameaçou Michael Murphy, principal responsável pela Europa na Administração norte-americana.

“Os dados estão lançados” de Jean-Paul Sartre.

É uma peça de teatro de Jean-Paul Sartre, que li algures há mais de quarenta anos, mas como as obras de Sartre são imortais, podem-se ler em qualquer momento em que conseguimos rever a(s) situações que nos reporta. Livro há poucos meses reeditada pela Minotauro, depois de quase vinte anos esgotado.

A morte depois da vida e a vida depois da morte. Depois de morrermos e possível voltar a vida? Pierre e Eve tiveram essa oportunidade, que e dada só em casos especiais.

A acção decorre durante 24 horas, num incerto estado totalitário. Eve faz parte da classe burguesa e é assassinada pelo marido, um alto quadro miliciano que quer ficar com a sua irmã. Pierre é um operário, líder da resistência que, pouco antes de executar uma conspiração para depor o regime, é traído por um camarada.

Os dois encontram-se depois de mortos, num plano metafísico, funcionando a morte como um artifício para abordar a polarização social e a desigualdade, os preconceitos e a opressão dos regimes anti-democráticos. Eve e Pierre apaixonam-se e, ao abrigo de uma cláusula especial das regulamentos que governam o universo, é-lhes dada uma segunda oportunidade – desde que, nas 24 horas seguintes dêem provas irrefutáveis do seu amor.

Os amantes regressam à vida terrena convencidos de que superarão todas as provações, mas uma vez chegados ao mundo dos vivos não conseguem cortar com o passado. Pierre acaba por sair em auxílio dos camaradas que enfrentam grande perigo, e Eve da irmã que está à mercê de um cunhado sem escrúpulos, e perdem o estatuto especial.

Regressam à sua condição de mortos e separam-se, resignados e sem mágoa.

“Não conseguimos. A oportunidade foi só uma e os dados estavam lançados”, diz Eve, aceitando que há actos que nos precedem e que há escolhas que estão, de certa forma, pré-determinadas.

Agustina e a imortalidade

Elisabete Miranda


Elisabete Miranda

Jornalista


Cruzei-me pela primeira vez com a Agustina na escola secundária. Eu andava em economia e uma amiga, que tinha enveredado pelas humanísticas, intimou-me a ler a Sibila. Eu que fazia as primeiras incursões pelos existencialistas, que tinha colocado o Virgílio Ferreira no pedestal de maior escritor vivo, não estava muito disposta a ceder tempo a clássicos que outros andavam a ler por obrigação curricular. Agustina, entusiasticamente emprestada, foi ficando de lado.
Quando me resolvi a dar uma oportunidade ao livro, as páginas estavam todas sublinhadas, ora a traço fino, ora a traço duplo, conferindo uma autoridade especial às frases, marcando-me o ritmo da leitura.
Algumas eram aforismos de assimilação fácil, como:
“São os espíritos superficiais que mais creem nos êxitos retumbantes, nas formulas fáceis para vencer” ,
“Ela não chorava, o silêncio era a sua única represália”,
“A morte de um velho não inspira dor a outro velho – inspira pânico”,
“Gosto das pessoas que são incapazes de deixar de ser o que são”

Outras críticas impiedosas:
“Vinham tomadas dessa adoração romântica pelo campo, a curiosidade do rustico, a pretensão do simples, cheias desse entusiasmo de burguesas que iludem o aborrecimento querendo a aceitar a novidade, o diferente sem se lhes adaptar”
“A sua doçura para com as crianças dependia da sua imensa ansiedade de simpatia e da satisfação que sentia ao ser reclamada e preferida por elas.

Outras ainda tocantes reflexões filosóficas:
“Não a desejava, apenas todo o seu ser se adaptava a cumprir a morte. Naquela casa, ela, enferma, nada receava. Era invulnerável porque não se instruíra a ponto de compreender o medo”
“O mais veemente dos vencedores e o mendigo que se apoia num raio de sol para viver um dia mais, equivalem-se, não como valores de aptidões ou de razão, não talvez como sentido metafísico ou direito abstracto, mas pelo que em si é a atormentada continuidade do homem, o que, sem impulso, fica sob o coração, quase esperança sem nome”

Foi assim a minha iniciação à Agustina, mais tarde que cedo, admirando-lhe o estilo e sondando-lhe a profundidade, através de uma leitura guiada de quem já por lá andara.

Ontem à tarde liguei à minha amiga para lhe dizer que ainda tenho o livro comigo. “Tchiiii… tens esse livro desde 93?”. “Não sabes fazer contas”. “Mas, afinal, leste-o?” “Li, e se calhar está na hora de to devolver”. “Não faz mal, tenho outro (…) E porquê agora? Assim como assim ela não morreu”.
Hoje é dia de luto nacional e a morte de Agustina Bessa-Luís domina a atualidade. “Mandem alterar as notícias: Agustina não morreu” é também o título da evocação da Joana Beleza à escritora que nunca se sentiu “cansada a descrever o humano, precisamente porque participo de tudo o que é humano”.
O José Mário Silva explica as razões da sua consagração como uma das mais importantes escritoras de língua portuguesa, a Ana Soromenho republica um artigo de março de 2018, onde percorre a historia da mulher e da escritora e a Ana França selecionou 11 citações para acompanhar 11 fotografias da autora.
O Público dedica praticamente a toda a capa e sete páginas com a vida e obra de Agustina, o Diário de Notícias lembra que a autora não era só a Sibila, o JN lembra-lhe a frase "nasci adulta, morrerei criança" e o i destaca outra citação ainda: “Porque escrevo? Escrevo para incomodar o maior número de pessoas com o máximo de inteligência”.
Pedro Mexia fala de “uma espécie de continente" que lhe "ocupa a vida inteira”; Gonçalo M. Tavares de uma escritora que destrói pobres e ricos, homens, as mulheres casadas e não casadas, heróis e cobrados, para os dar a conhecer; Hélia Correia de “um mistério absoluto na escrita; António Feijó de uma figura que, “ao mesmo tempo que é admirativa também é agressiva”. Lídia Jorge de alguém que "entende a marcha da humanidade".
O corpo de Agustina vai a enterrar no cemitério do Peso da Régua, e Mário de Carvalho diz que, daqui em diante, ela enfrenta"o desafio da imortalidade". Em 2004, em entrevista ao Público (agora recuperada) a escritora já reagia, com humor, à possiblidade de um dia cair no esquecimento: "Espero nessa altura não me impressionar com isso".





“Já não cabem mais Airbnb em Lisboa”

Esta notícia do Jornal Económico com o título “Já não cabem mais Airbnb em Lisboa” e que diz que Lisboa já bateu Barcelona, Roma, Paris e Amsterdão em proporção de alojamento local por habitante levou-me a rememorar “Lisboa - Livro de bordo - vozes, olhares, memorações” de José Cardoso Pires (Relógio d’Água). Foi uma encomenda de Mega Ferreira para a Expo 98 e é sobre Lisboa, a cidade de que é fácil gostar. “Não recusa nenhum acrescento, absorve-o. ‘Mesmo os aleijões’, dizia Cardoso Pires em entrevista filmada no Jardim do Torel”, lembra Ana Cardoso Pires no prefácio. Já eu duvido que Lisboa resista a tanto aleijão… Cristina Peres  Jornalista de Internacional

Parlamento. 22 mil assinaturas para acabar com apoios às touradas

Iniciativa Legislativa de Cidadãos será hoje entregue na Assembleia da República.

A associação Animal entrega hoje, na Assembleia da República, uma Iniciativa Legislativa de Cidadãos subscrita por mais de 22.500 pessoas a propor o fim dos subsídios públicos à tauromaquia.

Os subscritores desta iniciativa classificam a tauromaquia como uma “actividade cruel” e pedem “o fim dos subsídios e apoios público, directos e indirectos”. E argumentam que muitas autarquias “oferecem subsídios para eventos tauromáquicos” ao mesmo tempo que faltam apoios para pessoas que “estão numa situação de desemprego, precariedade e até mesmo fome, incluindo crianças e idosos que não têm apoios sequer para as necessidades básicas”.

O documento realça ainda que “há verba para espectáculos que maltratam outros animais”, mas “nesses concelhos” é “gritante a falta de apoio a animais errantes, sempre com a justificação de que não existe dinheiro”.

Ao i, Rita Silva, da associação Animal, garante que os dinheiros públicos dados à tauromaquia são “bastantes significativos” e que existem “muitas pessoas indignadas com esse facto”. O objectivo desta iniciativa é iniciar “um caminho” para acabar com as touradas.

O parlamento chumbou, há quase um ano, uma proposta do PAN para abolir as touradas. O fim da tauromaquia é uma das principais causas do PAN e dos movimentos ligados aos animais. André Silva, em entrevista ao SOL, no sábado, defendeu que “Portugal não pode dizer que é um país civilizado enquanto tiver touradas”.