quarta-feira, 5 de junho de 2019

“Os dados estão lançados” de Jean-Paul Sartre.

É uma peça de teatro de Jean-Paul Sartre, que li algures há mais de quarenta anos, mas como as obras de Sartre são imortais, podem-se ler em qualquer momento em que conseguimos rever a(s) situações que nos reporta. Livro há poucos meses reeditada pela Minotauro, depois de quase vinte anos esgotado.

A morte depois da vida e a vida depois da morte. Depois de morrermos e possível voltar a vida? Pierre e Eve tiveram essa oportunidade, que e dada só em casos especiais.

A acção decorre durante 24 horas, num incerto estado totalitário. Eve faz parte da classe burguesa e é assassinada pelo marido, um alto quadro miliciano que quer ficar com a sua irmã. Pierre é um operário, líder da resistência que, pouco antes de executar uma conspiração para depor o regime, é traído por um camarada.

Os dois encontram-se depois de mortos, num plano metafísico, funcionando a morte como um artifício para abordar a polarização social e a desigualdade, os preconceitos e a opressão dos regimes anti-democráticos. Eve e Pierre apaixonam-se e, ao abrigo de uma cláusula especial das regulamentos que governam o universo, é-lhes dada uma segunda oportunidade – desde que, nas 24 horas seguintes dêem provas irrefutáveis do seu amor.

Os amantes regressam à vida terrena convencidos de que superarão todas as provações, mas uma vez chegados ao mundo dos vivos não conseguem cortar com o passado. Pierre acaba por sair em auxílio dos camaradas que enfrentam grande perigo, e Eve da irmã que está à mercê de um cunhado sem escrúpulos, e perdem o estatuto especial.

Regressam à sua condição de mortos e separam-se, resignados e sem mágoa.

“Não conseguimos. A oportunidade foi só uma e os dados estavam lançados”, diz Eve, aceitando que há actos que nos precedem e que há escolhas que estão, de certa forma, pré-determinadas.

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