quarta-feira, 26 de junho de 2019

90% do plástico dos oceanos vem de 10 rios (e 8 deles são na Ásia)

Cerca de 90% dos 8 milhões de toneladas de plástico produzido anualmente e descarregados nos oceanos vem de dez rios, dos quais oito se situam na Ásia e dois em África. Na China, considerada o maior importador de lixo reciclável do mundo, nascem ou passam sete dos rios asiáticos.
Um pouco por todo o mundo, cada vez mais governos estão a tomar medidas ambientais para limitar a produção e uso de plásticos. Mas, enquanto nos países ocidentais o combate aos resíduos plásticos se faz principalmente com pequenos gestos – cortando palhinhas, copos e cotonetes -, o principal problema parece estar na realidade na Ásia e em África – onde em apenas 10 rios se concentra 90% do plástico que chega aos oceanos.
Esta é uma das conclusões de um estudo realizado pelo Helmholtz Center for Environmental Research (UFZ) e divulgado pelo World Economic Forum, em junho de 2018. Nesta análise, concebida com recurso à análise dos resíduos encontrados nos rios e na paisagem circundante, foi demonstrada a existência de “uma correlação clara” entre os dez rios e a quantidade de plástico descarregada no mar.
“Quanto mais lixo é descartado de forma inadequada pelos sistemas de drenagem, mais plástico acaba no rio e segue para o mar”, diz Christian Schmidt, um dos autores do estudo, acrescentando que a quantidade deste material por metro cúbico de água é significativamente maior em rios grandes do que em pequenos.
Contactado pelo ZAP, o investigador forneceu os dados dos principais rios responsáveis pelo transporte de plástico para os oceanos.

Segundo o estudo, uma numerosa população a viver na região circundante (às vezes centenas de milhões) e um processo de gestão de resíduos fraco ou inexistente são os pontos em comum entre os dez cursos de água.
O rio Yangtzé, por exemplo, o maior transportador de plástico para o oceano, é o mais longo da Ásia e, ecologicamente, um dos mais importantes do mundo, com uma bacia hidrográfica que abastece quase 500 milhões de pessoas (mais de um terço da população da China).
Christian Schmidt admite que é “impossível limpar os detritos plásticos” já presentes nos oceanos, devendo ser tomadas “precauções rápidas e eficientes” para reduzir a entrada de plástico”. Para tal, é necessário “melhorar a gestão de resíduos e consciencializar as pessoas sobre o assunto”.
Em 2011, o governo indiano lançou o projeto Namami Gange, numa tentativa de limpar o Ganges. Recentemente, o National Green Tribunal, um tribunal ambiental da Índia, revelou que “nem uma única gota” tinha sido limpa até à data.

Novas ideias, o mesmo objetivo: reduzir o plástico

O Namami Gange não é, contudo, o único projeto implementado na Ásia para reduzir o impacto ambiental. Em novembro de 2018, o The Green Post noticiou que o Governo da Indonésia tinha passado a aceitar, desde abril, garrafas e copos de plástico como forma de pagamento nos transportes públicos.
Surabaya, a segunda maior cidade do país e onde aproximadamente 15% do lixo produzido é plástico, foi a primeira a seguir com a iniciativa.
Já na China, as medidas para reduzir o impacto causado pelo plástico estão mais avançadas. Há um ano, o país , que durante anos importou milhões de toneladas de lixo reciclável do exterior – adquirindo mais da metade dos resíduos plásticos, eletroeletrónicos, têxteis e de papel gerados no globo -, resolveu mudar algumas políticas ambientais.
Apesar de ainda ser um dos grandes poluidores mundiais, a China acabou com as importações de lixo estrangeiro e, recentemente, estendeu a proibição aos metais, elevando, assim, as exigências da importação de resíduos.
A expectativa é que esta proibição impulsione a preservação na China e nos países exportadores, nos quais o envio de plástico e outros resíduos para aterros sanitários é proibido por lei. Isto vai obrigar os governos nacionais a planear políticas públicas para resolver o problema, ao invés de o exportar.
Ainda com o intuito de melhorar as políticas ambientais, em 2018, o Governo chinês ordenou que 46 cidades estratégicas começassem a separar os resíduos, de forma a atingir uma taxa de reciclagem de 35% até 2020.
No ano passado, o National Green Tribunal proibiu o uso de plásticos descartáveis ​​em Nova Deli, enquanto sacos plásticos não biodegradáveis foram banidos em muitos estados.
Já a União Europeia (UE), em 2018, chegou a um acordo para a proibição, a partir de 2021, de plásticos de utilização única, como cotonetes, copos, palhinhas e talheres com o objetivo de reduzir a poluição marítima.
A nível nacional, o Governo lançou um programa para devolução de garrafas de plástico não reutilizáveis, garrafas de vidro, metais ferrosos e alumínio em super e hipermercados, o que dará direito a um prémio. Já a companhia aérea portuguesa Hi Fly tornou-se a primeira do mundo a voar sem qualquer plástico a bordo, em dezembro de 2018.
A verdade é que essas medidas e outras que forem surgindo são mesmo necessárias. Caso se continue a poluir desta forma, em 2050 haverá mais plástico do que peixes nos oceanos, revela um artigo da organização New Plastics Economy.

Crise do plástico: poderá mesmo ser resolvida?

De acordo com uma notícia do Huffpost, publicada em dezembro de 2018, devido ao crescente furor sobre a poluição de plástico nos oceanos, os maiores produtores desse tipo de resíduos comprometeram-se a tornar os seus produtos mais recicláveis.
“De certo modo, essas empresas estão a transformar-se em guerreiras contra o problema que ajudaram a criar. Os seus esforços podem parecer nobres, mas são principalmente fumaça e espelhos”, lê-se no artigo.
Embora especialistas mundiais já tenham dito que o método para resolver o problema do plástico seja reduzir a sua produção, a realidade é que a mesma está a aumentar.
Segundo uma estimativa do The Guardian, a produção de plástico vai aumentar em cerca de 40% na próxima década. Nos EUA, cerca de 180 mil milhões de dólares foram investidos em novas plantas petroquímicas para a sua produção.
Também um relatório da International Energy Agency (IEA), divulgado pela Reuters, em outubro do mesmo ano, prevê uma crescente procura por plásticos virgens para sustentar o setor global de petróleo e gás até 2050, compensando a desaceleração projetada na busca por combustíveis.
Enquanto isso, expõe o artigo do Huffpost, mais de quatro milhões de toneladas de detritos plásticos são despejados nos ecossistemas marinhos todos os anos.
De acordo com a Green Peace, as empresas Coca-Cola, Pepsi e Nestlé – os maiores consumidores de itens ​​de plástico que acabam por tornar-se em resíduos marítimos -, comprometeram-se em tornar as suas embalagens 100% recicláveis, reutilizáveis ​​e compostáveis até 2025. Contudo, apenas 9% dos plásticos são reciclados.
As garrafas plásticas de PET (polietileno tereftalato) – nas quais entram as bebidas da Coca-Cola e da Pepsi -, estão entre os itens de plástico mais reciclados e, no entanto, pouco menos de 30% das garrafas PET e frascos foram reciclados nos EUA em 2015.
O Huffpost salienta a criação, em outubro de 2018, do New Plastics Economy Global Commitment, um acordo internacional que visa melhorar e aumentar os processos de reciclagem, assinado por mais de 290 empresas que, coletivamente, produzem cerca de 20% das embalagens plásticas do mundo.
Um outro esforço, designado NextWave e iniciado em dezembro de 2017, que inclui empresas como a Dell, a HP e o Ikea, visa capturar plásticos descartados que escapam da reciclagem adequada do lixo e utilizá-los em novos produtos, que não sejam de uso único.
Taísa Pagno, ZAP //




























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