Filipe Pinhal diz que quem foi o verdadeiro presidente do BCP entre 2008 e 2012 foi o "Sr Berardo" e não Santos Ferreira. Aponta "triunvirato" de Sócrates, Teixeira dos Santos, Constâncio.
Poder de Berardo no BCP vê-se na negociação da dívida que lhe permitiu "respirar"
A deputada do CDS pergunta a Filipe Pinhal como fundamenta a tese de que Berardo foi “o presidente do BCP” (tradução para o homem mais poderoso do banco) entre 2008 e 2012. A resposta, diz o antigo administrador do BCP, pode ser dada com as condições da reestruturação da dívida que foi negociada com o BCP e com a Caixa no ano seguinte —entre 2008 e 2009 — e que permitiu ao “Sr. Berardo respirar”, adiando o reembolso do empréstimo. Para Pinhal, Santos Ferreira e Vara foram colocados no BCP ara reestruturar os créditos — de Berardo e Fino — “que na altura já não tinham cura”.
O antigo administrador acusa ainda de Constâncio de o ter “corrido”, a si e ao colega de administração Christopher de Beck, depois de os dois terem recusado conceder mais um crédito do BCP a Berardo.
Tratamento do Banco de Portugal ao caso BCP é "anómalo". Constâncio estaria "desorientado"
Respostas à deputada do CDS, Cecília Meireles, que quer saber se o Banco de Portugal já teria no passado atitudes comparáveis com gestores de bancos. Em causa está a iniciativa de chamar Filipe Pinhal e Christopher de Beck, também administrador do BCP, para os avisar da investigação às operações suspeitas e do risco de poderem vir a ser inibidos de exercer cargos na banca.
O tratamento que o Banco de Portugal deu ao caso BCP é “completamente anómalo. Não tenho conhecimento que em qualquer país do mundo fossem chamados os presidentes de dois bancos (Caixa e BPI que eram accionistas do BCP)” para discutir o futuro de um outro banco concorrente. A única explicação que encontra para esta atitude do “habitualmente sereno Vítor Constâncio” é a da “desorientação,” face à execução do chamado assalto ao poder do BCP. “Ainda hoje se me contassem não acreditava”.
E enquanto na comissão de inquérito à Caixa se discute o papel do Banco de Portugal na tese do assalto ao BCP e do antigo governador Vítor Constâncio. Duas salas ao lado, a comissão de orçamento e finanças ouve o actual governador do BdP, Carlos Costa, sobre as contas apresentadas pela instituição no ano passado e os dividendos recorde que vai entregar ao Estado este ano.
Filipe Pinhal especula sobre como terão sido obtidos documentos da denúncia de Berardo
Filipe Pinhal diz ter estranhado a forma como foram aparecendo documentos na denúncia de Joe Berardo, em 2007, sobre operações bancárias realizadas pelo BCP em paraísos fiscais. O antigo presidente do BCP nota que, num primeiro momento, Joe Berardo juntou fotocópias de 3 documentos na carta de denúncia, mas, mais tarde, seguiram “mais de uma dúzia de documentos” referentes a créditos feitos em 1999, 2000 e 2001.
“Eram documentos que estavam no arquivo morto do banco e eventualmente digitalizados. Alguém lhe fez chegar documentos com 8, 9 e 10 anos de idade”, diz Filipe Pinhal. E especula: ou alguém guardou documentos para usar mais tarde ou terão sido “forças externas ao banco”.
“Sem fazer nenhum tipo de acusação, mas tendo em conta a qualidade dos operacionais da Ongoing, não me custa a acreditar que tivessem sido elementos estranhos ao BCP que fizessem buscas ao arquivo. Não me custa a acreditar, não estou a dizer que tenha sido”, lançou Filipe Pinhal, em resposta à deputada Mariana Mortágua, do Bloco de Esquerda.
“Não devo excluir que tenham sido elementos com expertise para fazer um varrimento das trocas de emails do banco, onde encontraram documentos que depois foram entregues ao senhor Berardo”.
Pinhal diz que Macedo e Maya ofereceram o seu lugar na lista do BCP porque Vara e Santos Ferreira tinham de entrar
Mariana Mortágua insiste no tema da guerra do BCP e do papel da Caixa e dos seus gestores à data. Filipe Pinhal começa por relata uma conversa com Manuel Fino, accionista do BCP que tinha estado ao lado de Paulo Teixeira Pinto, e que lhe disse que Berardo ia fazer uma denúncia ao Banco de Portugal. Nesta conversa, tida a 3 de Dezembro de 2007, Fino avisou Pinhal:
Sei que a sua lista só passará se integrar Carlos Santos Ferreira. Se não, a lista será chumbada. Nas horas seguintes a mesma informação, mas com mais um nome, foi transmitida ao então presidente do BCP por dois gestores bancários que actualmente são presidentes da Caixa e do Millennium BCP.
Às 10. da manhã, Paulo Macedo (actual presidente da Caixa) que então estava na lista liderada por Filipe Pinhal para a administração do BCP, liga a dizer quase a mesma coisa. Mas acrescenta uma nuance: A sua lista não passará, se não tiver os nomes de Caros Santos Ferreira ou Armando Vara. Macedo, conta Pinhal, voluntariou-se para sair da lista e dar entrada a um destes elementos. Pinhal recusou. Pouco depois, chega uma chamada de Miguel Maya (actual presidente do BCP), que também à data era membro da lista de Pinhal. A mensagem era quase a mesma, mas com outra nuance. A sua lista só passará se tiver Santos Ferreira e Armando Vara. E ofereceu-se também para ceder o seu lugar.
Pinhal, que à data era presidente do BCP desde que Paulo Teixeira Pinto se demitiu no Verão de 2007, afirmoy que estas mensagens surgiram a seguir às notícias que denunciaram as operações suspeitas ao Banco de Portugal. No mesmo dia, diz, o BdP interpelou o BCP sobre as notícias que saíram no sábado, 1 de dezembro.
Estas conversas, ainda segundo Filipe Pinhal, aconteceram semanas antes da famosa reunião de alguns acionistas do BCP na sede da EDP onde supostamente terá surgido, pela primeira vez, o nome de Santos Ferreira como solução para a presidência do banco privado.
Mariana Mortágua do Bloco de Esquerda coloca perguntas sobre os créditos concedidos pelo grupo BCP a Góis Ferreira, então acionista do BCP, e que terão sido transferidos para a Caixa. Filipe Pinhal confirma que existiam acionistas do BCP que tinham sido financiados pelo banco para acorrer a aumentos e capital, mas também para comprar ações em mercado. Mas sublinha que a determinação do Banco de Portugal feita à administração do banco para deixar de conceder crédito a acionistas para ações foi do final de 2004 e comunicada por escrito em 2005. Ou seja, foi antes de Berardo reforçar a sua participação no banco em 2007, muito depois.
Ainda assim, é plausível que a determinação do Banco de Portugal à administração do BCP tenha tido efeitos em 2007, quando vários acionistas do BCP começaram a reforçar as suas posições em resposta ao conflito no banco. Sabemos que pelo menos dois destes acionistas, Berardo e Manuel Fino, pediram dinheiro emprestado à Caixa, em duas operações garantidas por ações do BCP que estão no top das perdas elaborado pela auditora EY.
Ana Suspiro
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