sexta-feira, 21 de junho de 2019

A monogamia foi inventada pelas mulheres (e o casamento, pelos homens)

A poligamia é natural no ser humano e a monogamia foi criada por imposição para a mulher, diz o investigador português Rui Diogo, que usa a ciência e a história para explicar a relação entre géneros.

A poligamia é natural no ser humano e a monogamia foi criada por imposição para a mulher, diz o investigador português Rui Diogo, que usa a ciência e a história para explicar a relação entre géneros.

Se a monogamia fosse natural não tínhamos que fazer leis e matar pessoas por causa da poligamia. Não se fazem leis para dormir ou para beber. Mas matam-se pessoas por não serem monogâmicas”, defende o especialista em biologia evolutiva e antropologia, investigador e professor na Universidade de Howard, em Washington, nos Estados Unidos

Autor de mais de uma centena de artigos em revistas como a Nature e autor de mais de uma dúzia de livros, Rui Diogo garantiu em Lisboa, na primeira de uma série de palestras que está a dar em várias cidades de Portugal, que “não há fundamentos biológicos para a monogamia”.

Na natureza nenhuma espécie é monogâmica, incluindo algumas espécies de aves apontadas como tal. As fêmeas dos chimpanzés, que se assemelham ao ser humano, relaciona-se com uma média de oito machos por mês, disse.

Nas palavras do investigador, a poligamia acontece hoje em todas as tribos da Amazónia e uma das provas de que sempre foi assim no passado nas espécies que se estudam é o dimorfismo — características físicas diferentes, como o homem ser mais alto do a mulher. “Os ossos podem dizer se os animais eram monogâmicos”, afirma.

Estudando em profundidade outras espécies conclui-se também que não há uma única em que 8% a 10% dos indivíduos não sejam homossexuais. Há mesmo uma espécie de morcegos em que a percentagem chega a 35%, a mesma percentagem que se admite para o ser humano, e que tal acontece naturalmente, em todas as espécies.

Partindo da biologia e da história o investigador explica depois que o machismo e a diferença entre géneros fazem parte do passado recente da humanidade, que há estudos que indicam que 90% da comida era providenciada pela mulher no tempo dos humanos caçadores/recoletores, e que com a agricultura e as religiões surgiu a imposição da monogamia, mas apenas para a mulher.

Com a agricultura surge o conceito de propriedade. Os meus animais, a minha colheita. E surge a herança. Eu tenho que ter a certeza absoluta de que o filho é meu. A partir da agricultura a mulher torna-se uma propriedade”.

Rui Diogo traça a partir daí um quadro negro para o sexo feminino, a mulher assexuada da era vitoriana, no século XIX, as mulheres bruxas na idade média, queimadas na fogueira, as mulheres alvo de excisão genital entre a população de origem europeia até há 60 anos, a própria aliança de casamento que começou por ser um símbolo de que a mulher tinha dono.

Mas, ainda nas palavras do investigador, o homem só supera a mulher na visão tridimensional e na força física. “O sexo é natural mas o género é construído”, afirma

Segundo o investigador, “as mulheres são mais resilientes, melhores alunas, superam melhor alterações do ambiente” e, diz Rui Diogo sempre citando estudos, são também mais promiscuas, ainda que não o pareçam, porque dizem “o que a sociedade quer que digam”.

E as mulheres são também mais felizes no divórcio, conclui o investigador, porque o casamento foi “uma coisa feita pelos homens e para os homens”.

ZAP // Lusa

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