sábado, 1 de junho de 2019

170 das obras adquiridas com dinheiros do erário público desapareceram.

O Estado português, no longínquo ano de 1976, quando o escritor David Mourão-Ferreira era secretário de Estado da Cultura, deu início à aquisição de obras de arte de forma a constituir uma Colecção – que não existia por cá. À chamada Colecção SEC juntou-se a Colecção Nacional de Fotografia, curada por Jorge Calado (colaborador do Expresso), em 1987, ao tempo em que Teresa Patrício Gouveia era secretária de Estado. Sucede que 170 das obras adquiridas com dinheiros do erário público desapareceram. Não são coisas de somenos: tratam-se de obras assinadas por Maria Helena Vieira da Silva, Júlio Pomar (pelo menos um dos desenhos preparatórios para os frescos do Cinema Batalha, no Porto, mais tarde cobertos pelo lápis azul), de fotografias de Gérard Castello-Lopes, Helena Almeida ou Dorothea Lange (a icónica “Migrant Mother”, do projecto FSA, que teve uma das impressões leiloadas há três anos por mais de 380 mil dólares), de desenhos gravuras e outras peças de Sonia Delaunay, António Dacosta, Fernando Lanhas, Pedro Proença e muitos outros artistas portugueses relevantes para a história da arte portuguesa do século XX, sobretudo a partir dos anos 1960. O Expresso sabe que muitas das obras que se encontram em parte incerta estiveram a decorar gabinetes ministeriais, da administração pública, embaixadas ou consulados. Uma história triste.

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