quarta-feira, 26 de junho de 2019

Agora percebi a tanga: Guterres viu a água subir

Guterres não deixou o país de tanga por incompetência, antes para que ficássemos equipados com a indumentária certa face à subida do nível da água dos mares por efeito das alterações climáticas.

Por vezes a justiça demora, mas acaba sempre por chegar. Foram precisos 18 anos para finalmente percebermos que em 2001 o governo liderado por António Guterres não deixou o país de tanga por incompetência, de modo algum!, mas antes para que os portugueses ficassem equipados com a indumentária certa para fazer face à subida do nível da água dos mares como consequência das alterações climáticas. Tive esta epifania ao ver o secretário-geral das Nações Unidas na capa da revista Time desta semana de fato e gravata e com água pelos joelhos, fazendo um apelo lancinante aos líderes mundiais para que tomem medidas contra este fenómeno.

E não ficou por aqui a presciência do nosso ex-primeiro-ministro. Vejam isto. O título dessa imagem de Guterres com as canelas de molho é “O nosso planeta está a afundar-se”. Pois bem, quando abandonou o governo após a derrota do PS nas autárquicas de 2001 que disse o então líder socialista? Justificou a sua saída com a necessidade de evitar que o país mergulhasse no “pântano”, que é um local onde a probabilidade de nos afundarmos é efectivamente muito elevada. Prova-se assim que a obsessão de Guterres com esta coisa dos afundamentos já vem de longe.

O que também vem de longe é a falta de jeito do ex-primeiro-ministro para os números, imortalizada pela célebre questão dos 6% do PIB. Aliás, tenho para mim que esta histeria com a subida do nível do mar é outra vez um problema de contas. De acordo com um relatório de 2014 do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU, até 2099 o nível do mar subirá 90 centímetros. O que pelas minhas contas dá ligeiramente mais que um pouco aflitivo centímetro por ano, mas nas contas de António Guterres é coisa para ter dado um excruciante quilómetro por ano, ou coisa do género.

Para este artigo da Time, Guterres foi fotografado na costa de Tuvalu, na Polinésia, um dos países mais vulneráveis à subida da água dos mares. Mas agora a sério, esta gente que mora em ilhas tropicais percebe assim tão pouco de praia? Se a água está a subir façam o que toda a gente faz quando o mar avança: peguem no chapéu de sol e nas toalhas e ponham-nos um bocadinho mais para cima, onde a areia está seca. É que é só uma questão de estar minimamente atento à ondulação. Ou em alternativa confirmar as marés no almanaque Borda d’Água.

A propósito, Tuvalu fica ligeiramente fora de mão. Desconfio que antes de Guterres sair de casa, ir de carro a poluir até ao aeroporto, apanhar vários voos poluentes até à Polinésia e finalmente embarcar num poluente barco até ao local da fotografia, a água quase nem lhe chegava aos tornozelos. Mas enfim, prioridades são prioridades e é fundamental alertar as pessoas para esta calamidade.

Agora, já era altura dos ecologistas admitirem que isto da água dos mares subir é na realidade óptimo. É ou não verdade que há imenso plástico na água e que os peixes acabam por ingeri-lo e assim? Ora, havendo mais água, na prática é como se houvesse menos plástico. Na volta até podemos atirar muito mais plástico para a água e, mesmo assim, ficar a ideia que há ainda menos plástico. E isso é muito positivo. Além de que há má vontade quando se diz que a actividade do Homem prejudica os oceanos. Vejam por exemplo o caso destas algas vermelhas que apareceram nos últimos dias no Algarve: prejudicam em simultâneo a actividade do Homem e os oceanos e no entanto não vejo nenhum ambientalista indignado com o comportamento destes velhacos organismos planctónicos.

Tiago Dores

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