quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

João Loureiro, 500 quilos de cocaína e empresários do futebol. O enigma do avião privado com droga retido no Brasil

José Luís Camacho:
"Não estou dizendo que é uma conspiração, mas é uma conspiração"

Carolina Branco - Texto

Sónia Simões - Texto

Carlos Diogo Santos - Texto

Já havia investigações da PJ relacionadas com o avião com 500 kg de droga, ainda antes de ter sido intercetado no Brasil. Loureiro foi ouvido durante 4 horas. O que disse à polícia e o que já se sabe.

Assim que a Polícia Judiciária (PJ) soube que os seus congéneres brasileiros tinham apreendido meia tonelada de cocaína num avião privado da OMNI proveniente do Aeródromo de Tires, em Cascais, foram imediatamente ao local à procura de vestígios. Lá encontraram o carro do único passageiro que viajou nessa aeronave com o ex-presidente do Boavista, João Loureiro, para Salvador da Bahia: Mansur Ben-barka Heredia, um cidadão espanhol referenciado por tráfico de droga e já sinalizado e controlado pela polícia portuguesa.

O carro acabou por ser apreendido pela PJ, apesar de ainda não haver qualquer pedido de colaboração formal feito pelas autoridades brasileiras, enquanto, no outro lado do oceano, João Loureiro e o cidadão espanhol foram levados para as instalações da polícia. Ambos deviam ter regressado a Portugal no dia 9 de fevereiro. E com eles viriam do Brasil cinco outros passageiros: os empresários de futebol Bruno André Carvalho dos Santos e Hugo Miguel Gonçalves Cajuda de Sousa, Paulo Jorge Saturnino Cunha, Bruno Geraldes de Macedo e o jogador do Benfica Lucas Veríssimo da Silva, de acordo com o manifesto do voo a que o Observador teve acesso. João Loureiro só ontem foi formalmente ouvido na Polícia Federal, que no auto que elaborou descreve não só as suas respostas, como dá conta da extração de dados do seu telemóvel.

Ao que o Observador apurou, porém, mesmo que o avião tivesse partido do Brasil sem ser intercetado pela polícia brasileira, seria passado a pente fino em Portugal. “Se este avião tivesse chegado a Portugal, provavelmente haveria uma apreensão“, disse uma fonte ligada ao caso, que diz que o cidadão espanhol, que residirá em Madrid, já estava debaixo de olho das autoridades portuguesas. Além disso, o Observador apurou que já havia investigações em Portugal relacionadas com esta situação, ainda antes de o avião ter sido intercetado no Brasil.

As dúvidas em relação a este caso ainda são muitas. O ex-presidente do Boavista esteve na tarde desta sexta-feira a prestar declarações à Polícia Federal — que podem exatamente ajudar a decifrar o enigma. De quem era a droga? De onde veio e para onde ia? Qual a relação com João Loureiro, Lucas Veríssimo e os outros passageiros?

As rotas do Falcon que não voltou

A rota do Falcon 900 teve duas paragens. O voo de ida para o Brasil começou no Aeródromo de Tires no dia 27 de janeiro, fez escala em Cabo Verde, parou em Salvador da Baía e seguiu até ao destino final: Jundiaí, no interior de São Paulo — terá sido nesta cidade que a droga foi carregada, segundo admite um responsável pela empresa a que pertencia o avião Falcon 900, a OMNI, em declarações ao Observador.

No voo de ida para o Brasil seguiam, além de João Loureiro e do cidadão espanhol, três outros tripulantes. Mansur Ben-barka Heredia, o espanhol que seguia com Loureiro, estava a ser vigiado pela Polícia Judiciária, sabe o Observador: os levantamentos de dinheiro e as viagens que fazia, por exemplo, iam sendo monitorizados pela Unidade Nacional de Combate ao Tráfico de Estupefacientes. Não é claro, porém, se o cidadão espanhol já estava em Portugal ou se veio de Espanha para Tires para apanhar o voo.

João Loureiro, filho de Valentim Loureiro, garantiu em declarações à SIC desconhecer este cidadão espanhol com ligações ao tráfico de droga. Explicou que foi ao Brasil num avião privado pago por uma empresa brasileira que o queria contratar como consultor. No manifesto consultado pelo Observador, a empresa que contratou o serviço da aeronave foi a Lopes & Ferreira Assessoria Ltda, no Brasil.

O Observador tentou contactar João Loureiro e a empresa, para perceber a ligação, mas sem sucesso. Ao início da noite (tarde no Brasil), João Loureiro saía das instalações da Polícia Federal, depois de quatro horas a ser ouvido pelo delegado responsável pelo caso. Também à SIC, o ex-presidente do Boavista, que é advogado, disse que se tinha disponibilizado a ficar em território brasileiro para colaborar com as autoridades. Ao Observador, porém, fonte da Polícia Federal disse que essa decisão foi, afinal, um conselho da própria polícia.

Porém, após a diligência, o antigo presidente do Boavista saiu em liberdade, ainda que tenha sido advertido a comunicar qualquer alteração de morada. Ao que o Observador apurou, terão ainda sido copiados dados do seu telemóvel, como fotografias e mensagens, para que os investigadores possam perceber se a sua versão corresponde ao que realmente aconteceu. Se isso acontecer, diz fonte oficial, ficará “descartado”.

Loureiro garante ter sinalizado problemas com carga: umas caixas de vinho

O avião privado onde seguia João Loureiro chegou a Jundiaí no dia 28 de janeiro. Logo quando aterrou, segundo o próprio relatou à SIC, houve “problemas” com umas caixas de vinho que integravam a bagagem. O advogado mostrou mesmo uma mensagem que enviou, a 6 de fevereiro, ao comandante do avião a pedir que fossem “rigorosos na inspeção da carga”. João Loureiro disse que começou a desconfiar de que algo estava errado porque o voo de regresso foi sendo adiado.

Confrontado com esse relato, um responsável da OMNI apontou para outra versão. Ao Observador, disse que Loureiro “pode dizer o que quiser” e garantiu que foi o próprio comandante quem contactou as autoridades por causa dos problemas que encontrou no avião, remetendo esclarecimentos para um comunicado que a empresa enviou minutos depois.

O voo de regresso chegou a estar marcado para 1 de fevereiro. Depois foi adiado para dia 6. De acordo com o manifesto a que o Observador teve acesso, nesse dia 6 a aeronave faria um voo de Jundiaí, em São Paulo, para Salvador — com Loureiro e o passageiro espanhol a bordo. E, no dia seguinte, de Salvador para Tires com escala em Cabo Verde — já com os restantes cinco passageiros também a bordo. Também neste dia, o voo acabou por não acontecer e foi reagendado para 9 de fevereiro, data em que acabaria por ser retido após a descoberta dos 500 quilos de cocaína.

A justificação para os sucessivos adiamentos parece estar relacionada com a autorização para aterrar em Portugal. O responsável pela empresa OMNI disse ao Observador que foram “ajustando o horário do voo em função da autorização para aterrar em Portugal, que nunca chegou”. Mas não é o que diz a Polícia Federal, que, à agência espanhola Efe, confirmou que o avião particular já tinha autorização para voar para Portugal — o que levou o Governo português a emitir um esclarecimento.

Esse é, porém, mais um enigma neste caso. Na passada quarta-feira, o Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) desmentiu essa informação e garantiu que o pedido de autorização foi rejeitado, sem adiantar o motivo. Num comunicado enviado à agência Lusa, adiantou apenas que “o pedido de autorização para a viagem na aeronave em apreço foi indeferido pelo MNE”. O Observador contactou o MNE a fim de saber por que razão o pedido de autorização foi rejeitado. A explicação prende-se com “a proibição de voos comerciais ou privados com origem ou destino no Brasil em vigor”, que levou a que a viagem não fosse “autorizada pelas autoridades competentes, tendo o MNE emitido um parecer negativo ao pedido de voo”.

Segundo apurou o Observador, o defesa central brasileiro contratado pelo Benfica, Lucas Veríssimo, e o seu agente, Bruno Macedo, encontraram entretanto uma ligação que lhes permitiu viajar para Lisboa após a final da Taça dos Libertadores — uma vez que aquele voo privado estava sucessivamente a ser adiado.

Já os empresários de futebol Bruno Santos e Hugo Cajuda de Sousa e Paulo Jorge Saturnino Cunha, que se tinham deslocado ao Brasil para assistir à final da Taça dos Libertadores entre Palmeiras e Santos, no dia 30 de janeiro, enfrentaram o mesmo problema: a falta de opções para regressar a Portugal. Assim, através de um amigo em comum também ligado ao futebol, tentaram perceber se havia vaga naquele voo privado para voltar, chegando mesmo a viajar para Salvador na tentativa de ir naquele avião. Por causa dos adiamentos, regressaram a São Paulo, onde ainda se encontram.

O dia em que foi encontrada a droga

O voo ainda chegou a ser reagendado para 9 de janeiro. Foi nesse dia, porém, que as autoridades acabariam por descobrir a droga, depois de o piloto do avião (que o Observador também tentou contactar, sem sucesso) ter comunicado à torre de controlo que os seus comandos de voo indicavam uma possível avaria. Foram os mecânicos chamados à aeronave que acabaram por encontrar a droga e alertar a Polícia Federal. “Com o apoio de especialistas criminais federais e cães treinados para detetar drogas da Polícia Civil, foram encontrados na aeronave outros esconderijos onde estava o resto da droga”, informou à data Polícia Federal.

Segundo o comunicado da OMNI, na viagem para o aeroporto em Salvador, a fim de aguardar pela autorização de regresso para Lisboa, “foi detetado um problema técnico durante a aproximação”. “Esta situação ocasionou a necessidade de intervenção de manutenção no avião, tendo sido prontamente solicitada pelo Comandante do voo à Dassault (fabricante do avião), em São Paulo”, lê-se.

Esse problema obrigou à abertura do painel técnico na fuselagem do avião. E foi aí que encontraram um volume afixado à estrutura interna do avião. Segundo a Polícia Federal, a droga estava dividida em placas marcadas com logótipos de marcas desportivas famosas.

Os três tripulantes e dois passageiros da aeronave foram levados à Superintendência da Polícia Federal em Salvador para prestar depoimento. Piloto, co-piloto e hospedeira, segundo o comunicado da OMNI, já estão em Portugal há vários dias. João Loureiro garantiu à SIC que, apesar de ter sido levado à polícia no último dia 10, não chegou a ser ouvido. O Observador sabe que esta sexta-feira o advogado esteve a ser ouvido pelas autoridades.

O que disse João Loureiro esta tarde ao delegado da Polícia Federal

No auto de inquirição da Polícia Federal consta que João Loureiro reiterou esta sexta-feira que tinha viajado para o Brasil para eventualmente auxiliar um grupo empresarial, garantindo nada saber sobre a droga escondida no avião. Além disso, o antigo presidente do Boavista frisou que só no dia 10 de fevereiro tomou conhecimento da apreensão de droga na aeronave — um dia após a operação. Nessa altura, disse, já teria regressado a São Paulo.

Além de responder às questões, João Loureiro permitiu que as autoridades procedessem à cópia de dados do seu telemóvel, como fotografias e mensagens, com vista a apurar no decurso da investigação a veracidade da versão apresentada.

Observador

terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

Há um grande problema com carros eléctricos

Ainda são carros. A tecnologia não pode curar a América do seu vício no automóvel.

Farhad Manjoo

Por Farhad Manjoo

Colunista de Opinião

Estou começando a me preocupar com o carro eléctrico.

Não é a coisa em si; Eu descobri que os veículos eléctricos são superiores aos seus antecessores movidos a fósseis em quase todas as maneiras importantes, e embora eu seja um californiano louco por carros, eu não espero comprar um carro a gás destruidor de pulmões, que vomita poluição nunca mais.

Mas os motores eléctricos são apenas uma fonte de energia, não uma panaceia. Dos anúncios do Super Bowl da General Motors aos planos do presidente Biden sobre mudanças climáticas,os carros plug-in estão sendo lançados como um jogador central na resposta da América a um futuro aquecido - transformando uma esperança tecnológica perfeitamente razoável num hype exagerado.

O planeta estará muito melhor se mudarmos para carros eléctricos. Mas visões gauzy das rodovias livres de culpa do amanhã poderia facilmente nos distrair do problema maior e mais entrincheirado com o sistema de transporte americano.

Esse problema não são apenas carros movidos a gás, mas vidas abastecidos por carros — uma visão do mundo em que enormes automóveis privados são o método padrão de se locomover. Desta forma, os E.V.s representam uma resposta muito americana às mudanças climáticas: Para lidar com uma máquina cara, perigosa e extremamente intensiva em recursos que ajudou a trazer a destruição do planeta, vamos todos comprar esta nova versão, que funciona com um combustível diferente.

Mas enquanto avançamos no projecto de construir carros eléctricos na infra-estrutura de amanhã — Biden prometeu criar uma rede de 500.000 estações de carregamento em todo o país e substituir os cerca de 650.000 carros da frota do governo federal por E.V.s — não vamos ignorar uma ameaça mais imediata nas estradas hoje. Refiro-me aos milhões de caminhões grandes e ineficientes e SUV's que são os carros favoritos da América, cada um envenenando nossa atmosfera por anos além de qualquer transição para E.V.s.

A promessa de carros eléctricos nos dá um pouco de margem de manobra para festejar no presente gasoso — E.V.s oferecem uma expiração politicamente simples e única para nossos caminhos insustentáveis, desde que todos ignoremos o Escalade na sala.

Consertar os problemas causados por carros com carros novos e melhorados e novas infra-estruturas caras apenas para carros ilustra por que estamos nessa confusão em primeiro lugar — uma cultura entrincheirada de dependência de carros descuidados. A liberação da cultura automobilística requer uma reimaginação mais fundamental de como nos locomovermos, com investimentos em estradas andáveis e de bicicleta, zoneamento mais inteligente que permite que as pessoas vivam mais perto de onde trabalham, uma ênfase muito maior no transporte público e, acima de tudo, um reconhecimento de que o espaço urbano deve pertencer às pessoas, não aos veículos. Mudanças políticas que reduzem a quantidade que os americanos dirigem podem levar a ganhos de eficiência muito maiores do que teríamos apenas a troca de gás para baterias.

Durante seu tempo como prefeito de South Bend, Ind., Pete Buttigieg, o novo secretário de transportes, defendeu planos para reduzir a dependência de carros. Mas pedir aos americanos que comecem a imaginar um futuro de menos carros menores e menos condução será um grande problema político. Eu já posso imaginar os segmentos da Fox News pelourinho Biden e prefeito Pete para sua "guerra" em SUV e pick up´s.

Eu também posso soar como uma repreensão ambiental sem alegria. Mas talvez todos precisemos de uma pequena bronca.

Entre 2009 e 2019, a economia média de combustível em todos os veículos aumentou apenas ligeiramente, segundo dados da Agência de Protecção Ambiental. Nossos carros estavam recebendo uma média de 22,4 milhas por galão em 2009, e em 2019 a eficiência tinha crescido para 24,9 m.p.g., um ganho de cerca de 11%.

Poderíamos ter feito muito melhor, com a eficiência subindo talvez até 4% ou 5% ao ano, disse-me John DeCicco, professor emérito de pesquisa do Instituto de Energia da Universidade de Michigan. Depois que os padrões de economia de combustível foram elevados sob George W. Bush e, em seguida, ainda mais sob Barack Obama, os fabricantes começaram a instalar uma série de novas tecnologias para tornar os carros mais eficientes. A maioria dos tipos de veículos tornou-se significativamente mais limpa — a economia média de combustível para sedãs, por exemplo, cresceu para 30,9 m.p.g. em 2019, de 25,3 milhões em 2009, um ganho de cerca de 22%.

Então, como a maioria dos carros melhorou muito sem mudar muito o quadro geral? É simples, diz DeCicco:Comemos nossos ganhos.

À medida que os carros se tornavam mais eficientes, as pessoas começavam a comprar carros maiores, mais pesados e mais potentes. Em particular, ficamos viciados em veículos utilitários esportivos e aqueles blobs sem forma sobre rodas conhecidas como crossovers, que se tornou um dos segmentos mais quentes do negócio de automóveis. Uma década atrás, cerca de metade de todos os carros vendidos eram sedãs, que são alguns dos veículos mais eficientes na estrada, e cerca de um quarto eram SUV,que são alguns dos menos eficientes. Em 2019, apenas um terço dos carros vendidos eram sedãs, e cerca de metade eram pequenos ou grandes SUV's. Dado carros mais eficientes, compramos mais carros.

A política federal não ajudou. Em 2017, o governo Trump começou a desfazer as regras de combustível de Obama, uma reversão que promoveu a incerteza e a divisão na indústria automobilística e talvez pressionou as montadoras a demitir novas tecnologias de economia de combustível.

A crescente adopção de veículos eléctricos na última década pouco fez para neutralizar essas forças maiores; quaisquer benefícios ambientais que o pegamos de E-V.S de emissão zero foram inundados pela mudança de mercado muito maior em direcção a carros maiores. Embora os carros eléctricos sejam importantes, DeCicco escreveu recentemente em seu blog: "padrões muito mais rigorosos de carros limpos são a verdadeira prioridade para colocar a frota de automóveis dos EUA no caminho certo para a protecção climática".

Naturalmente, a indústria automobilística não é a favor de padrões de combustível significativamente mais rigorosos. As montadoras esperam que Biden eleve os padrões de combustível, mas eles estão pressionando por algo menos do que as regras de Obama, o que exigiria que os veículos de passageiros alcançassem uma média de 54,5 milhões até 2025.

Entre os ambientalistas, há mais do que uma pequena suspeita de que a enxurrada de novos anúncios de veículos eléctricos - incluindo a promessa da G.M de vender apenas carros de passageiros de emissão zero até 2035 - é uma táctica de negociação para evitar todos os padrões de combustível muito rígidos. As montadoras nos darão um e.V.s incríveis amanhã para regras brandas hoje.

Há uma chance de eu ser muito cínico. Para o crédito da indústria automobilística, o impulso para os veículos eléctricos parece ser real. As montadoras estão investindo centenas de bilhões de dólares para trazer o futuro eléctrico, e nos próximos anos planejam lançar dezenas de modelos eléctricos. A Ford, por exemplo, está bombeando eléctrons para seus modelos mais icónicos — um Mustang eléctrico, o Mach-E, acaba de ser introduzido em avaliações positivas, e a picape F-150, por décadas o veículo mais vendido da América, será oferecida numa versão eléctrica no próximo ano.

Mas vale lembrar que o futuro eléctrico ainda é apenas uma visão, não uma certeza. Os sonhos eléctricos da indústria automobilística são alimentados por um sucesso singular — Tesla, o juggernaut de carros eléctricos de Elon Musk. Em um mercado de pandemias brutal para a indústria automobilística, a Tesla enviou pouco menos de meio milhão de veículos em 2020, cerca de um terço a mais do que vendeu em 2019.

Mas nenhuma outra montadora encontrou muita sorte em veículos elétricos, e questões sérias sobre o negócio permanecem. Será que os E.V.s se tornarão baratos e convenientes o suficiente para atrair um público mainstream? As montadoras que agora dependem de grandes picapes e SUV's para seus lucros podem ganhar dinheiro com os modelos elétricos? Como devemos lidar com as iniquidades no mercado? No momento, os carros elétricos ainda são mais caros do que as alternativas movidas a gás, e o crédito federal de US$ 7.500 em suas vendas é essencialmente um subsídio para os ricos. Esse é o melhor uso dos fundos de transporte?

E o que fazemos com carros movidos a gás? Você pode ter visto aquele anúncio bizarro do G.M. Super Bowl em que Will Ferrell e seus amigos famosos invadem a Noruega porque tem sido muito bem sucedido na venda de veículos elétricos. O que o anúncio não menciona é a razão pela qual tantos noruegueses estão comprando E.V.s: O país impôs impostos íngremes sobre carros movidos a gás,acelerando a transformação para um futuro mais limpo. Devemos seguir sua pista?

Todas essas questões afetarão a viabilidade do negócio de carros elétricos. Note que nem tesla teve lucro só vendendo carros. A empresa acumulou oodles de créditos regulatórios de emissão zero que vende para outras montadoras; em 2020, a Tesla trouxe mais de US$ 1,6 bilhão através de créditos, sem os quais seu negócio teria registrado um prejuízo líquido.

Então há todos os problemas com carros que os motores elétricos não consertam. Os carros têm uma demanda insaciável por estradas e espaço urbano,capturando nossas cidades para seu uso quase exclusivo. Eles são caros e ineficientes - a noção ridícula de pagar milhares de dólares por ano por uma máquina que está praticamente estacionada não é menos ridícula porque o carro está sendo carregado enquanto está estacionado. E se nossos carros são movidos por elétrons ou petróleo, é provável que mais de um milhão de pessoas em todo o mundo continuem morrendo em acidentes todos os anos.

Podemos resolver esses problemas com tecnologia mais avançada? Talvez, algum dia. Mas faríamos melhor progresso se identificassemos o problema correto: não gasolina, mas carros.

Horário de expediente com Farhad Manjoo

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Et Tu, Ted? Por que a desregulamentação falhou

Até o Senador Cruz percebe que quilowatt-hora não são como abacates.

Paul Krugman

Por Paul Krugman

Ninguém está totalmente preparado para um desastre natural. Quando furacões, nevascas ou tsunamis atingem, eles sempre revelam fraquezas — falha no planejamento, falha em investir em precauções.

O desastre no Texas, no entanto, foi diferente. O colapso da rede elétrica do Texas não revelou apenas algumas deficiências. Mostrou que toda a filosofia por trás da política energética do Estado está errada. E também mostrou que o Estado é dirigido por pessoas que recorrerão a mentiras descaradas em vez de admitir seus erros.

O Texas não é o único estado com um mercado de eletricidade amplamente desregulamentado. No entanto, a desregulamentação foi mais longe do que qualquer outra pessoa. Há um limite superior nos preços de eletricidade no atacado, mas é estratosférico alto. E não há essencialmente nenhuma regulamentação prudencial — não há requisitos para que as concessionárias mantenham a capacidade de reserva ou invistam em coisas como isolamento para limitar os efeitos do clima extremo.

A teoria era de que tal regulação não era necessária, porque a magia do mercado cuidaria de tudo. Afinal, um aumento na demanda ou uma interrupção da oferta - ambos oconteciam no congelamento profundo - levará a preços altos e, portanto, grandes lucros para qualquer fornecedor de energia que consiga continuar operando. Portanto, deve haver incentivos para investir em sistemas robustos, precisamente para aproveitar eventos como os que o Texas acabou de experimentar.

A política energética do Texas foi baseada na ideia de que você pode tratar eletricidade como abacates. As pessoas se lembram da grande escassez de abacate de 2019? O aumento da demanda e a má safra na Califórnia levaram a um aumento dos preços; mas ninguém pediu um inquérito especial e novas regulamentações sobre os produtores de abacate.

Na verdade, algumas pessoas não veem nada de errado com o que aconteceu no Texas na semana passada. William Hogan, o professor de Harvard amplamente considerado o arquiteto do sistema do Texas, afirmou que aumentos drásticos de preços, embora "não convenientes", eram como o sistema deveria funcionar.

Mas quilowatt-hora não são abacates, e há pelo menos três grandes razões fingindo que são uma receita para o desastre.

Em primeiro lugar, a eletricidade é essencial para a vida moderna de uma forma que poucas outras mercadorias podem igualar. Ter que ir sem torrada de abacate não vai te matar; ter que ficar sem eletricidade, especialmente quando sua casa depende dela para o calor, pode.

E é extremamente duvidoso se mesmo a perspectiva de lucros altos durante uma escassez oferece aos fornecedores de energia incentivo suficiente para levar em conta os enormes custos humanos e econômicos de uma prolongada queda de energia.

Em segundo lugar, a eletricidade é fornecida por um sistema — e o investimento preventivo por um jogador no sistema não serve se os outros jogadores não fizerem o mesmo. Mesmo que o dono de uma usina a gás isole e invernize suas turbinas, ele não pode funcionar se o gasoduto que fornece seu combustível, ou o poço que fornece o gás, congelar.

Então, o mercado livre garante que todo o sistema funcione sob estresse? Provavelmente não.

Por último, mas não menos importante, um sistema que depende dos incentivos oferecidos por preços extremamente altos em tempos de crise não é viável, praticamente ou politicamente.

No início, aqueles texanos que não perderam o poder no grande congelamento se consideravam sortudos. Mas então as contas chegaram - e algumas famílias se viram sendo cobradas milhares de dólares por alguns dias de eletricidade.

Muitas famílias provavelmente não podem pagar essas contas, então estamos potencialmente olhando para uma onda de falências pessoais. E mesmo aqueles que não enfrentam a ruína estão, previsivelmente, indignados.

Possivelmente a observação mais reveladora da crise do Texas até agora foi um tweet de, de todas as pessoas, o senador Ted Cruz (R-Cancún), que disse que "nenhuma empresa de energia deve obter um vento por causa de um desastre natural" e pediu aos "reguladores estaduais e locais" para "evitar essa injustiça".

O senador, não conhecido pela autoconsciência, pode não perceber o que fez lá. Mas se até ted Cruz - Ted Cruz! — acredita que os reguladores devem impedir que as empresas de energia colham lucros em um desastre, o que elimina qualquer incentivo financeiro do setor privado para se preparar para tal desastre. E isso, por sua vez, destrói toda a premissa por trás da desregulamentação radical.

Então, os republicanos que detêm todos os escritórios estaduais do Texas aprenderão com esse desastre, e repensarão toda a sua abordagem para a política energética? Claro que não. Sua reação imediata foi culpar falsamente a crise sobre a energia eólica, e atacar os defensores de um Green New Deal - mesmo que algo como um Green New Deal, ou seja, investimento público em infraestrutura energética, é exatamente o que o Texas precisa.

E uma coisa que aprendemos nos últimos meses é que uma vez que os políticos se comprometam com uma Grande Mentira, quer envolva epidemiologia, economia ou resultados eleitorais, não há como voltar atrás.

Mas enquanto o complexo político-midiática de direita não pode e não vai aprender nada com o desastre do poder do Texas, o resto de nós pode. Acabamos de nos oferecer uma visão clara do lado escuro (e frio) do fundamentalismo do mercado livre. E essa é uma lição que não devemos esquecer.

O Times está empenhado em publicar uma diversidade de cartas ao editor. Gostaríamos de ouvir o que você pensa sobre isso ou qualquer um de nossos artigos. Aqui estão algumas dicas. E aqui está nosso e-mail: letters@nytimes.com.

Siga a seção de opinião do The New York Times no Facebook, Twitter (@NYTopinion) e Instagram.

Paul Krugman é colunista de Opinião desde 2000 e também é professor distinto no Centro de Pós-Graduação da Universidade da Cidade de Nova York. Ele ganhou o Prêmio Nobel de Ciências Econômicas em 2008 por seu trabalho em comércio internacional e geografia econômica. @PaulKrugman

Uma versão deste artigo aparece impressa em 23 de fevereiro de 2021, Seção A, Página 22 da edição de Nova York com a manchete: Et Tu, Ted? Por que a desregulamentaçãofalhou.

domingo, 14 de fevereiro de 2021

O Luxo

Fizeram-nos acreditar que o luxo era o raro, o caro, o exclusivo, e era preciso ter muito, muito dinheiro!

Tudo aquilo que nos parecia inalcançável!

Agora damo-nos conta, de que o luxo eram esses pequenos gestos que não sabíamos valorizar/apreciar, porque, e tão simplesmente, por serem gratuitos!

Aprendemos agora (graças aos chineses e seus cúmplices) que:

Luxo, é estar são!

Luxo, é cumprimentar alguém com a mão!

Luxo, é não pisar nenhum hospital!

Luxo, é poder passear pela orla do mar e ouvir o sussurrar das ondas!

Luxo, é passear pelo parque e conversar à vontade com alguém, sem quaisquer receios de nada!

Luxo, é poder sair às ruas, trabalhar e respirar, sem máscaras…

Luxo, é poder reunir-se com a família! com seus amigos, abraçar, beijar!

Luxo, são os olhares!

Luxo, são os sorrisos!

Luxo, é vivenciar intensamente as nossas alegrias!

Luxo, são os abraços e os beijos!

Luxo, é desfrutar vivamente cada instante, cada amanhecer, cada entardecer!

Luxo, é o privilégio de amar e de estar vivo.

Luxo, é dar mérito aos nossos verdadeiros amigos, e àqueles que nos querem bem!

Luxo, é acarinhar, abraçar os nossos velhinhos (doentes ou não), que nos são tão queridos!

Tudo isso é um luxo, e não sabíamos!...

Prisioneiros nos encontramos, na esperança da liberdade, que desapareceu das nossas vidas!...

Graças aos Chineses e seus cúmplices.

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Desconheço o autor.

Finanças do século XVII - O princípio do ataque à 'classe média'

Diálogo entre Colbert e Mazarino, durante o reinado de Luís XIV (século XVII),

extraído da peça de teatro "Le Diable Rouge", escrita por Antoine Rault em 2008:

Nota pessoal: Não acredito que este diálogo tenha existido

O Cardeal Mazarino foi 1º ministro (o seu mentor era o Cardeal Richelieu) e Jean-Baptiste Colbert foi ministro da economia.


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« Colbert: Para encontrar dinheiro, há um momento em que enganar [o contribuinte] já não é possível. Eu gostaria, Senhor Superintendente, que me explicasse como é que é possível continuar a gastar quando já se está endividado até ao pescoço...

Mazarino: Se se é um simples mortal, claro está, quando se está coberto de dívidas, vai-se parar à prisão. Mas o Estado... o Estado, esse, é diferente!!! Não se pode mandar o Estado para a prisão. Então, ele continua a endividar-se... Todos os Estados o fazem!

Colbert: Ah sim? O Senhor acha isso mesmo? Contudo, precisamos de dinheiro. E como é que havemos de o obter se já criámos todos os impostos imagináveis?

Mazarino: Criam-se outros.

Colbert: Mas já não podemos lançar mais impostos sobre os pobres.

Mazarino: Sim, é impossível.

Colbert: E então os ricos?

Mazarino: Os ricos também não. Eles não gastariam mais. Um rico que gasta faz viver centenas de pobres.

Colbert: Então como havemos de fazer?

Mazarino: Colbert! Tu pensas como um queijo, como um penico de um doente! Há uma quantidade enorme de gente entre os ricos e os pobres: os que trabalham sonhando em vir a enriquecer e temendo ficarem pobres. É a esses que devemos lançar mais impostos, cada vez mais, sempre mais! Esses, quanto mais lhes tirarmos, mais eles trabalharão para compensarem o que lhes tirámos. É um reservatório inesgotável»

sábado, 13 de fevereiro de 2021

Goya: The Dreams, the Visions, the Nightmares

Em mais de 100 desenhos e gravuras no Metropolitan Museum o Art, o brilhante artista espanhol navega pela turbulência da política e olha nas profundezas de seu coração.

Grande parte de nossa cultura está presa a uma camisa de força de nossa própria moda: em um moralismo monótono e uniforme, mais ocupado em dizer a coisa certa do que em dizer algo bem. Acredito que esteja enraizado no medo de nossas próprias profundezas e do que teríamos de admitir sobre nós mesmos se realmente arriscássemos olhar para dentro. E se você deixar sua imaginação vaguear? E se você apenas desenhasse ou escrevesse sem medo de errar? E se você descobrisse que é um grande artista, mas você mesmo não é tão perfeito?

“Aí vem o bicho-papão”, uma gravura de “Caprichos” do artista, uma série de gravuras satíricas e fantásticas publicadas em 1799.

“Aí vem o bicho-papão”, uma gravura do artista “Caprichos”, uma série de gravuras satíricas e fantásticas publicadas em 1799. Crédito … Francisco de Goya y Lucientes e Museu Metropolitano de Arte


“Goya's Graphic Imagination”, que estreia esta semana no Metropolitan Museum o Art, oferece uma tónica vital de um artista com (aos nossos olhos) todos os compromissos políticos certos: horrorizado com a violência, revoltado com privilégios imerecidos, defendendo a liberdade e o conhecimento e direitos para todos. Esses compromissos, porém, não valiam nada por si próprios - nada sem o livre jogo de seu inconsciente, cujas sombras lançavam todos os seus princípios liberais em dúvida. Goya deixou que essas dúvidas assumissem qualquer forma em desenhos e séries de gravuras, sobretudo os irónicos “Caprichos” e os ferozes “Desastres da Guerra”. Aqui, na privacidade do estúdio, uma fé iluminista no progresso humano caiu na incerteza, no terror e na perplexidade.

Francisco Goya (1746-1828) serviu como um artista oficial para a coroa espanhola e pintou a realeza Bourbon dentro das convenções da época. Sua carreira madura, porém, coincidiu com os anos mais sangrentos da história do país: a Guerra Peninsular (1807-14), colocando as forças de ocupação de Napoleão contra os exércitos de três países e bandos de guerrilheiros. A Espanha recuperaria sua independência, mas sob um tirano caprichoso que presidiu uma campanha de censura e prisões. Goya deixaria a corte, cobriria as paredes de sua casa de campo com as atormentadas Pinturas Negras (agora no Prado de Madrid) e morreria no exílio. Os “Desastres” - seu show de horror de 82 gravuras da ocupação napoleónica, a maior arte anti-guerra já feita - permaneceu sem publicação por mais três décadas.

Embora chegue com um catálogo considerável, “Goya's Graphic Imagination” é uma exposição voltada para iniciantes. Eu faria um show maior, com toda a série de “Caprichos” e “Desastres”. (O Met possui conjuntos completos de cada série impressa.) No entanto, no que se refere às introduções, esta é a base de Gibraltar. O curador do Met, Mark McDonald, dividiu os desenhos e impressões de Goya em uma exibição criteriosa de 100 folhas ímpares, suspensas com bastante ar. Mais importante, ele não trouxe da ala de pintura os retractos da aristocracia espanhola de Goya. As pinturas são diurnas de Goya. Aqui chegamos à província da noite.

Transformamos Goya em um arquétipo útil: o liberal que fala a verdade em uma Espanha autocrática, defensor da razão, artista do Iluminismo. Na verdade, ele era essas coisas. Ainda assim, Goya viu, e retractou com visão incomparável, que o erro ou o mal nunca podem ser purificados inteiramente, nem de sua sociedade, nem de sua alma. Um mundo de justiça perfeita sempre será uma miragem. Tiranos, idiotas, vigaristas, teóricos da conspiração: eles sempre estarão connosco. E bem no fundo das câmaras de nossos corações - intocado por nosso cepticismo racional, nossa fé em nossa própria justiça - permanece uma escuridão ineliminável.

Goya nasceu nas províncias e, durante anos após sua chegada a Madrid, mal conseguiu sobreviver. Aos 29, ele conseguiu um emprego diário desenhando cartuns para a fábrica de tapeçaria do rei - mas, simultaneamente, para o crescente mercado de impressão de Madrid, ele fez águas-fortes após as vigorosas pinturas de Diego Velázquez um século antes. Goya copiou os cavaleiros e do artista mais velho foliões bêbados , mas seus olhos já estavam voltados para o estranho, o teimoso, o desconcertante. Sua impressão de um anão da corte, um bobo do rei Filipe IV, retém a humanidade e a simpatia da de Velázquez pintura original . Mas olhe para as fendas densas e escuras do fundo. Você tem uma amostra do artista que redireccionaria o naturalismo de seu predecessor para o reino dos sonhos.

Errar é humano. Na virada do século, Goya publicou “Los Caprichos” (ou “Os Caprichos”), uma suíte de estampas satíricas e fantásticas cujos tons de cinza aveludados e assombrados evidenciam seu domínio de uma nova técnica: a impressão em aquatinta . Seu humor irónico vem quase sempre com um tom sinistro, aumentado por títulos fora de forma que os tornam ainda mais enigmáticos. Veja as crianças chorando e o bicho-papão que sua mãe permite que as assuste. Rue, a desgraça de dois camponeses, oprimidos por feras ingratas. (Os burros são a nobreza? O clero? Burros reais?) Enquanto suas pinturas suaves lisonjeavam os condes e as duquesas de Madrid, em seus cadernos e gravuras ele representava a Espanha como um ninho de loucura.

O mais famoso dos “Caprichos” retracta um homem afundado em sua mesa. Ele está exausto, ao ponto de perder a consciência, e está sendo perseguido por um gato preto, um lince e morcegos e corujas enrugados. Escrito na mesa está um slogan iluminista do horário nobre: ​​Quando a razão vai, a superstição prospera. Esta mostra, porém, também tem o primeiro desenho de Goya para esta obra-chave, emprestada pelo Prado - e aqui você pode ver, flutuando sobre o homem adormecido, o rosto inconfundível do próprio artista. (A essa altura, ele tinha ficado surdo, resultado de alguma doença não diagnosticada que quase o matou.) Até o grande liberal não tem razão. Seu conhecimento e seus preconceitos não podem ser separados tão facilmente. E para criar uma obra de arte duradoura, você terá que enfrentar os monstros.

Por volta de 1800, com os “Caprichos” atrás de si, Goya começou a desenhar as crueldades da Inquisição, que os liberais espanhóis estavam lutando para abolir. Os desenhos acabaram enchendo quase um álbum inteiro. Eles retractam judeus, protestantes, cientistas, livres-pensadores, mulheres solteiras e, neste caso, um estrangeiro - de costas para nós, mas destacado em tinta mais escura contra os marrons lavados do tribunal. O acusado (que, sugere o título, não fala espanhol) usa duas vestes da vergonha: a coroza , ou chapéu cónico, e o sanbenito , babador com a inscrição de seus supostos crimes. Prisioneiros, vítimas de tortura, os insanos: as gravuras e desenhos de Goya repetidamente simpatizam com sua situação e expõem aqueles que ocultam sua corrupção na justiça. Cuidado com o sono da razão; cuidado, também, os mercadores da moralidade.

Francisco Goya & rsquo; s & ldquo; Gigante sentado & rdquo; (c. 1814-18). A exposição & ldquo; Goya & rsquo; s Graphic Imagination & rdquo; no Metropolitan Museum of Art, inclui mais de 100 das gravuras e desenhos do artista.

“Gigante Sentado” de Francisco Goya (c. 1814-18). A exposição “Goya's Graphic Imagination”, no Metropolitan Museum o Art, inclui mais de 100 gravuras e desenhos do artista. Crédito … Francisco de Goya y Lucientes e o Museu Metropolitano de Arte

Goya não era revolucionário. Ele permaneceu um pintor da corte quando Napoleão plantou seu irmão no trono espanhol em 1808. Mas seu coração estava com a resistência, e nos “Desastres”, gravados em particular, ele deu vista a uma maré interminável de carnificina. O show do Met inclui uma dúzia dessas folhas totalmente exaustivas, incluindo esta: um rebelde espanhol, caído e com os olhos vendados, enfrenta uma morte indistinta como seu camarada no chão. (Observe os três canos de rifle na borda direita, destacados do céu severamente gravado.) Ao contrário de seu heróico “ O Terceiro de Maio ”, seu mural de uma execução em Madrid, os “Desastres” não têm mártires. Os mortos são esfarrapados, desonrados, mutilados, famintos. A alma é algo esquecido, e ficamos apenas com o corpo em dor.

O autorretrato de Goya (c. 1796). Alguns anos antes, ele sobreviveu a uma doença grave não diagnosticada que o deixou quase completamente surdo.

O auto-retracto de Goya (c. 1796). Alguns anos antes, ele sobreviveu a uma doença grave não diagnosticada que o deixou quase completamente surdo. Crédito … Francisco de Goya y Lucientes e o Museu Metropolitano de Arte


Agora, “The Disasters o War” são apresentados como imagens de sofrimento universal, ainda terrivelmente relevantes. Mas Goya estava preparando uma guerra particular, travada contra seu país pelo exército mais poderoso da Europa. Ele ainda estava trabalhando na série quando o reaccionário Fernando VII voltou ao trono e restabeleceu a monarquia absoluta e a supremacia da igreja. Nesta alegoria, a figura radiante da Verdade se dirige a uma cova rasa. Nas sombras, um bispo e dois monges se apressam para enterrá-la. Para alimentar uma guerra, você precisa de uma dieta de mentiras.

Chega o ano de 1814 e Napoleão abdica . Por fim, a guerra acabou. Goya se volta para um assunto apenas superficialmente mais leve: as touradas. Ele desenhou matadores triunfantes e feras atacando, mas o maior desta série “Tauromaquia” é o pior de se ver e retracta uma verdadeira catástrofe de um touro pulando nas arquibancadas.

& ldquo; Um bobo da corte, El Primo, & rdquo; Impressão de Goya da pintura do século 17 de Vel & aacute; zquez de um bobo da corte. O estilo sugere como Goya redirecionaria o naturalismo de Vel & aacute; zquez & rsquo; rsquo; para o reino dos sonhos.

“A Court Jester, El Primo”, gravura de Goya da pintura de Velázquez do século 17 de um bobo da corte. O estilo sugere como Goya redirecionaria o naturalismo de Velázquez para o reino dos sonhos. Crédito ... Francisco de Goya y Lucientes e o Museu Metropolitano de Arte


(Goya pode ter testemunhado isso.) Espectadores aglomeram o desenho inicial, mas quando ele o grava, Goya deixou três quartos da imagem em branco, para destacar a pilha de cadáveres. O touro feriu um político: outro empalamento. Difícil não ver essas touradas funcionarem como uma coda para os “Desastres”, uma alegoria de um país cheio de medo.

Ele ficou cada vez mais indignado com a repressão e censura da Restauração Bourbon, mesmo enquanto recebia seu salário para pintar um rei que odiava. Naqueles anos sombrios, Goya começou - embora nunca tenha terminado - uma série enigmática agora conhecida como "Los Disparates" ou "The Follies". Maiores do que os “Caprichos” e “Desastres”, mais sombrios, mais assustadores, essas impressões de desordem e confusão parecem pesadelos semicientes. (Ele também terminou o incrível "Gigante Sentado", sua estranheza acentuada pelo fundo cinza modulado que ele produziu por meio de água-tinta.) Esses cinco homens em fantasias de pássaro, batendo as asas como loucos para permanecer no ar, são ícones do progresso humano ou das ilusões humanas: Quem pode dizer qual, e se eles forem iguais?

Por fim, ele não aguenta mais. Em 1824, a pretexto de tratamentos de saúde, Goya consegue permissão para deixar a Espanha. Exilado em Bordeaux, ele desenhou em seu último álbum um artista de rua, sentado de cabeça para baixo em uma mesa frágil. Linhas dispersas de giz de cera preto evocam o leve chute de suas pernas. Alguém observa em uma sombra desenhada às pressas. O título de uma palavra, “Telégrafo”, é um incómodo, mas sugere que Goya, aos 78 anos, não desistiu de coisas melhores no futuro. Somos acrobatas , subindo de nível por meio de treinamento e prática. Realizamos grandes coisas. Estamos sempre prestes a cair.


Imaginação gráfica de Goya

Até 2 de Maio no Metropolitan Museum o Art, 1000 Fifth Avenue, Manhattan. 212-535-7710; metmuseum.org ; ingressos antecipados necessários.

Jason Farago, crítico geral do Times, escreve sobre arte e cultura nos Estados Unidos e no exterior. Em 2017, recebeu o Prémio Rabkin inaugural de crítica de arte. @ jsf

Uma versão deste artigo aparece na imprensa em 12 de Fevereiro, 2021 , Secção C , página 1 da edição de New York com a manchete: Visitar os sonhos e pesadelos de Goya

O triângulo amoroso que causou um pânico religioso.

ROMANCE CONDENADO

partidos corações , almas perdidas e tumulto sexual na América do século XIX

Por Christine Leigh Heyrman

"Romance condenado: corações partidos, almas perdidas e tumulto sexual na América do século XIX", da historiadora Christine Leigh Heyrman, pode parecer, à primeira vista, uma confecção encantadora, um conto divertido de um triângulo amoroso da Nova Inglaterra do início do século 19 envolvendo aspirações lunares missionários que se envolvem com o que agora chamaríamos de seus “sentimentos”. É isso. Mas, na narrativa de Heyrman, torna-se muito mais, à medida que ela disseca implacavelmente a frágil individualidade masculina no cerne do protestantismo evangélico e sua "relação problemática com os ideais da masculinidade". Uma vez que as necessidades desse eu estão sempre devorando o corpo religioso e político americano, uma exploração de suas origens merece atenção.

“Doomed Romance” soa como um rasgador de corpete, menos “Bridgerton” do que “ ” de Lady Gaga Bad Romance . Menos sutiãs push-up, muitas letras fumegantes. Heyrman, que admite “um gosto por fofoca baixa”, ficou pasma com a descoberta de um esconderijo de documentos lascivos, preservados como parte de uma investigação extralegal sobre uma jovem que, em 1826, trocou um noivo por outro. Ela era Martha Parker, uma bela garota de classe média “possuidora de muitos encantos”. Nenhum retrato sobreviveu, mas ela parece ter inspirado mais do que o ardor usual. Ela é “nenhuma mulher comum”, Heyrman nos instrui, mas representa as senhoras brancas do norte servindo como professoras e missionárias, desfrutando de uma vida mais suave do que as classes mais baixas que trabalhavam em fazendas ou engenhos.

Perseguindo-a estavam vários pretendentes piedosos e excessivamente entusiasmados: Thomas Tenney, estudando para ser um ministro; Elisha Jenney, uma estudante de Dartmouth que mal aceita desapontamentos; e, finalmente, o robusto e maravilhosamente chamado Elnathan Gridley, um graduado de Yale se preparando para ministrar aos pagãos da Palestina. Parte de uma “cultura de direitos”, Tenney e Jenney estavam ligados a Dartmouth e todos os três à comunidade evangélica. Se Martha tivesse ferido o ego de seres inferiores, seu comportamento poderia ter passado sem aviso prévio. Mas esses eram homens de Deus.

Pairando sobre tudo está uma entidade mais sombria, o Conselho Americano de Comissários para Missões Estrangeiras, então a “maior corporação no início da República”, comprometida em supervisionar a conduta dos evangelistas. Seus missionários, alguns dos quais morreram no exterior, tornando-se mártires, atraíram admiração fervorosa e doações significativas, portanto, qualquer indício de escândalo relacionado a eles deveria ser evitado. Os membros oficiosos do conselho - assim como seus consultores, incluindo um presidente do Dartmouth College - se dedicavam a se intrometer nos assuntos complicados de Martha. Heyrman argumenta que sua intromissão pressagiava uma repressão à autonomia feminina, traindo uma ansiedade central que torna este relato tão deliciosamente relevante: o medo de que mulheres, consumidoras prodigiosas de sermões, avivamentos e narrativas missionárias, possam se tornar tão poderosas dentro do movimento que ameacem hegemonia masculina.

A ambivalência de Martha em relação a seus beaus surgiu de uma vida familiar instável. Nascida em 1804, crescendo em Dunbarton, NH, ela foi um dos oito irmãos que perderam o pai quando eram jovens. Com duas irmãs mais velhas, ela frequentou a Bradford Academy, “profundamente religiosa”, no condado de Essex, Massachusetts; a mais velha, Ann Parker, logo se casou e foi para a missão da Palestina em Beirute. Ensinando em outra escola, Martha estava obcecada pela ideia de “abandonar tudo” por Cristo. O currículo que ela escolheu, envolvendo “geografia com o uso de mapas e globos”, mostra uma ambição de educação feminina em pé de igualdade com a dos homens.

Tudo correu bem para ela até que, aos 21 anos, oprimida por uma onda de namoro durante o verão de 1825, ela cometeu uma série de erros românticos. Fatalmente, ela flertou com Tenney, sua prima em segundo grau, conhecida por ela desde a infância, um jovem sério que cheirava ao “cheiro de santidade” que primeiro cortejou outra de suas irmãs mais velhas, Emily. Com sua proposta rejeitada por Emily, ele se voltou para Martha, propondo-se novamente e causando espanto fraternal por seu afeto inconstante. Martha recusou duas vezes, mas naquele verão mudou de ideia, pendurando diante dele a perspectiva de conquistar sua " maior felicidade terrena ". Seu afeto reacendeu-se violentamente, ele decidiu que " ela me amava ardentemente ." Ela e Tenney ficaram noivos naquele dezembro.

Então, como agora, padrões duplos eram a regra. Na época, diz Heyrman, uma em cada cinco noivas da Nova Inglaterra chegava ao altar grávida, mas brincar com os afetos de um homem era considerado o cúmulo da desonra feminina, especialmente se envolvesse impropriedade sexual. “The Coquette”, um romance popular de 1797 de Hannah Webster Foster (uma das primeiras romancistas da América), deplorava aqueles que distribuíam “carícias”. As mulheres, entretanto, podiam mudar de ideia sobre com quem se casar; na verdade, era um de seus poucos poderes. Então, quando Martha aceitou Tenney, mas foi seduzida por Gridley e sua promessa de glória missionária, ela estava dentro de seus direitos. Ela rompeu seu noivado alegando que não conseguira reconciliar Emily com isso, uma explicação que preparou o caminho para a tempestade que viria. Em abril, ela e Gridley ficaram noivos.

Cega, Tenney a atacou, rotulando-a de “garota vil, enganadora, mentirosa”, e as cartas começaram a voar, questionando seu caráter cristão. Por trás de tudo isso estava a ameaça tácita da pornografia de vingança Ye Olde: divulgação pública de intimidades que eles podem ter compartilhado (perdidas para a história, infelizmente). Um "valentão hipócrita", Tenney, escreve Heyrman, "tinha o dever religioso de impedir uma mulher espiritualmente incapaz de servir, de todos os lugares, na Terra Santa", e foi ajudado pelo testemunho traiçoeiro de Jenney, outro dos Os pretendentes rejeitados de Martha. Bennet Tyler, então presidente da Dartmouth, ansiosamente assumiu o papel de Tenney, desencadeando uma investigação na qual o conselho grelhava a pobre Martha como uma truta. Alguns declararam que ela estaria cometendo “adultério” se se casasse com Gridley.

Sob pressão, ela rompeu seu segundo noivado e Gridley, ressentido, viajou sozinho para o exterior, para morrer em breve de uma doença sem nome na Turquia. A irmã e o cunhado de Martha, em Beirute, explodiram em uma fúria defensiva, declarando Tenney "detestável". Mas, em casa, Martha cedeu, casou-se com Tenney e foi silenciada imediatamente, uma das incontáveis ​​mulheres devotas cujo "romance com o evangelicalismo ... as encheu de sonhos, mas depois condenou sua plena realização".

Minerando registros missionários, Heyrman desenterra algumas revelações surpreendentes. Mesmo quando os líderes da igreja estavam apertando os parafusos com as mulheres, eles eram tolerantes (dado o que viria depois) com relacionamentos do mesmo sexo. Ela cita os parceiros masculinos na missão em Beirute, Plínio Fisk e Levi Parsons, que prometeram “nos dar um ao outro ”, “nossos corações se unem como o coração de um homem”. Dois metodistas da Virgínia foram mais longe, com um "irmão da aliança" dizendo ao outro que sonhava em "beijar você com os beijos da minha boca". Ela também encontra vingança: a filha mais velha dos Tenneys, Mary Eliza, cresceu para se juntar às fileiras dos missionários estrangeiros com a ajuda de sua tia Ann, cumprindo a ambição de sua mãe. Ela se tornou uma escritora popular, e Heyrman a pega, em sua ficção, desprezando o próprio protótipo de seu pai “pouco atraente”.

"Doomed Romance" revela um formigueiro fervente de hipocrisia evangélica, fervilhando com as mesmas divisões que o atormentam hoje, incluindo o debate sobre se as mulheres deveriam ser autorizadas a pregar, que continua furioso na Convenção Batista do Sul, mesmo com centenas de seus líderes. acusado de má conduta sexual . Nos anais lotados de tal escândalo, os batistas não estão sozinhos: o ex-pastor descolado de Justin Bieber, Carl Lentz, da mega-igreja Hillsong, foi recentemente demitido por mentir e briga extraconjugal . Desde os puritanos, os fanáticos americanos se destacaram, como diz Heyrman, no "assassinato de caráter com cartas anônimas e fofocas, ameaças e chantagens, a promessa de punição nesta vida e na próxima". Elegantemente escrita e hilariantemente astuta, esta história gloriosamente indelicada sugere que a paixão das mulheres pelo evangelicalismo tem sido um romance ruim.

Caroline Fraser é a autora, mais recentemente, de “Prairie Fires: The American Dreams of Laura Ingalls Wilder”.

ROMANCE CONDENADO

partidos corações , almas perdidas e tumulto sexual na América do século XIX,
por Christine Leigh Heyrman,
ilustrado. 282 pp. Alfred A. Knopf. $ 28,95.

Comunistas portugueses e russos: o mesmo destino.

Como é possível acreditar no “Pai Natal” russo, considerando-o “anti-imperialista” ou “anti-fascista”, quando ordena a invasão de países vizinhos ou tem como aliados partidos da extrema-direita russa?

O Partido Comunista Português não podia ficar indiferente a toda a agitação provocada pela detenção e prisão do opositor russo Alexey Navalny, mas os argumentos utilizados para defender a política repressiva do “czar” Vladimir Putin bradam aos céus pela sua demagogia e hipocrisia. Mas vamos por partes.

No Parlamento Europeu, o PCP vota contra qualquer crítica ao regime de Putin pela violação dos direitos humanos, ao lado dos partidos da extrema-direita europeia, nomeadamente no que respeita à violenta repressão policial lançada sobre qualquer manifestação da oposição não sistémica na Rússia.

Os argumentos são reproduções exactas das palavras dos propagandistas russos: a oposição não passa de um pequeno grupo de arruaceiros que, a mando da NATO, da CIA, dos Estados Unidos, da União Europeia, etc., quer desestabilizar o regime inabalável e popular de Vladimir Putin, o principal líder da “luta anti-imperialista”. Porém, as imagens televisivas, a violência policial e o número de detidos revelado pelo Ministério do Interior da Rússia mostram que a oposição não sistémica na Rússia é um fenómeno interno que preocupa o Kremlin.

(Como já escrevi numerosas vezes, Alexei Navalny tem um passado e programa políticos que me levariam a votar nele, numas eleições presidenciais, apenas se o seu adversário fosse Vladimir Putin ou um político do mesmo género. O crescente apoio a Navalny deve-se à política do Kremlin de não permitir a acção política da oposição não sistémica e ao facto de aumentar o número de cidadãos russos que estão cansados de ver a mesma figura à frente do país há mais de 20 anos).

O Partido Comunista Português vê mais uma razão para não se apoiar o citado “agente imperialista: “Na Rússia nem é sequer segredo de polichinelo a aposta em Navalny para tentar esvaziar o potencial de protesto à esquerda” – escreve Luís Carapinha no jornal Avante. Como será possível que um “agente do imperialismo”, “liberal” consegue atrair o protesto à esquerda?

Outro chavão muito citado pelos comunistas portugueses e repetido no artigo acima citado é que “goste-se ou não, a principal força da oposição na Rússia, no plano institucional e de organização à escala nacional e regional, é o Partido Comunista da Federação Russa”.

Esta afirmação é falsa e ridícula. Nem na era de Ieltsin era assim. Aqui ficam alguns exemplos elucidativos. Guennadi Ziuganov, dirigente desse partido, acusa Ieltsin e Gorbatchov de terem destruído a URSS, em 1991, mas não diz que dos 22 membros do grupo parlamentar “Comunistas da Rússia”, apenas 7 votaram contra o Acordo de Belovejskoe, documento assinado por dirigentes da Rússia, Bielorrússia e Ucrânia que pôs fim à União Soviética. O Presidente soviético Mikhail Gorbatchov acusou Ziuganov, então dirigente do Partido Comunista da Federação Socialista Soviética da Rússia, de ter tentado convencer os seus camaradas a assinarem a “certidão de óbito” da URSS, o que parece ter, em grande parte, conseguido. Ziuganov recusa esta acusação, mas a votação dos comunistas parece dar razão a Gorbatchov.

Outra das acusações que são feitas a Navalny é de que ele este ligado a grupos e partidos extremistas, chauvinistas, nacionalistas, mas, se olharmos para a ideologia e a acção dos comunistas russos, veremos que eles fizeram o mesmo ou pior. Ziuganov participou em alianças com ideologia claramente nacionalista e de extrema-direita: Aliança Popular da Rússia, Frente de Salvação Nacional e União Popular Patriótica. Do outro lado, o líder comunista não esconde a sua simpatia por Estaline e outros carrascos dos povos da URSS.

Na era de Putin, Ziuganov só faz o que o Kremlin permite. Vejamos o exemplo dos sindicatos russos. A Federação dos Sindicatos Independentes da Rússia mais se assemelha à Federação Nacional para a Alegria no Trabalho de Oliveira Salazar do que às actuais Intersindical ou UGT. Onde estão as greves dos trabalhadores ou reivindicações laborais na Rússia? O regime putinista, neste campo, é cada vez mais corporativista.

É verdade que, por vezes, Ziuganov até levanta a voz contra o Kremlin. Recentemente, Nikolai Bondarenko, deputado comunista da Assembleia Municipal da cidade de Saratovo, foi detido por participar numa manifestação de protesto (imaginem só!!!) contra a prisão de Navalny. Depois de considerar que o deputado foi detido porque o Kremlin ficou “atordoado pela pressão do porco vómito navalnista”, ele declarou: “Ou dão marcha atrás, ou levantaremos todo o país”. Bondarenko foi julgado e condenado a obrigado a pagar uma multa, o Kremlin considerou as palavras de Ziuganov “retórica agressiva” e a “fúria” dos comunistas terminou aqui.

Não é por acaso que os comunistas russos têm um peso cada vez menor nas eleições parlamentares e presidenciais. Se, em 1999, conquistaram 24,29% dos votos, em 2016, ficaram-se pelos 13,34% nas eleições da Duma. Nas presidenciais de 1996, Ziuganov teve 40,31% dos votos (na realidade, bateu Ieltsin na corrida, mas vendeu a vitória não se sabe bem a troco de quê), em 2012, conquistou 17,18%.

Luís Carapinha escreve também que “nenhuma das forças políticas pelas quais passou Navalny está representada na Duma”, o que corresponde à verdade. Mas, aqui, respondo com uma pergunta: porque é que o PCP nunca teve representado na Assembleia Nacional antes do 25 de Abril de 1974? Era porque de nada valia como força política ou porque era impedido de participar em eleições livres e transparentes?

Gostaria de recordar um pormenor esquecido no citado artigo: em 2013, quando Navalny conseguiu participar nas eleições municipais em Moscovo, ficou em segundo lugar com cerca de 27% dos votos.

O servilismo dos comunistas russos em relação ao Kremlin tem uma explicação clara: não faz verdadeira oposição para sobreviver politicamente e para que os dirigentes comunistas continuem a gozar de muitos privilégios.

Quanto aos comunistas portugueses, se não existir compensação financeira como acontecia na era soviética, então trata-se de miopia política absoluta. Como é possível acreditar no “Pai Natal” russo, considerando-o um “anti-imperialista” ou “anti-fascista”, quando ordena a invasão de países vizinhos ou tem como aliados preferenciais partidos da extrema-direita russa? É verdade que o regime putinista controla as grandes empresas nacionais, um sonho que os comunistas portugueses gostariam de ver no nosso país, mas também não é segredo para ninguém que as riquezas da Rússia estão concentradas nas mãos de um pequeno grupo de dirigentes dos serviços secretos e de oligarcas obedientes.

O destino dos partidos comunistas português e russo será o mesmo: o desaparecimento gradual. Em Portugal, porque o PCP está completamente desfasado da realidade interna e externa.

José Milhazes

12-02-2021

Observador

Covid-19 Live Updates: CDC insta a reabertura das escolas com novas directrizes.

O FDA afirma que a Moderna pode colocar até 40% mais vacina em frascos. A pandemia e os ataques contra ásio-americanos silenciaram as celebrações do Ano Novo Lunar em São Francisco.

Aqui está o que você precisa saber:

  • O CDC insta a reabertura das escolas e estabelece novas directrizes para fazê-lo.

  • O CDC afirma que não recomendará o teste de coronavírus para voos domésticos 'neste momento'.

  • O FDA concorda que a Moderna pode aumentar a quantidade de vacina em cada frasco.

  • A Califórnia estende a elegibilidade da vacina para pessoas com deficiência após a reacção.

  • Uma província canadiana está fechando as portas após a chegada de uma variante de vírus mais contagiosa.

  • As autoridades de saúde francesas recomendam apenas uma dose de vacina para pessoas que tomaram Covid-19.

  • A China recusou-se a entregar dados importantes aos inspectores da OMS.

  • A OMS associa um aumento acentuado nas mortes de Covid em toda a África a sistemas de saúde sobrecarregados.

Uma conversa vazada de um importante assessor de Cuomo leva a alegações de um acobertamento.


  • NYT 13-02-2021

  • 55 perguntas sobre o estado do manicómio.

    Porque é que chamam “regras” aos devaneios arrancados da cabecinha do dr. Costa? Porque é que os especialistas continuam a ser designados como tal após falharem mais previsões do que Mestre Zandinga?

    13 Fev. 2021, 00:09

    1. Porque é que não se pode comprar um par de calças mas pode comprar-se uma dúzia de raspadinhas?

    2. Porque é que se pode comprar uma saboneteira mas não se pode comprar a toalha para secar as mãos a seguir?

    3. Porque é que não se pode comprar livros a menos que seja online e mesmo que levantados na hora?

    4. Porque é que o vírus se aloja entusiasticamente nas garrafas e nas latas do “take away”?

    5. Porque é que não se contrai o vírus em supermercados, transportes públicos e pândegas ligadas à propaganda?

    6. Porque é que se reduz os horários dos estabelecimentos abertos e se estimula o convívio festivo das pessoas junto ao balcão do talho ou à prateleira dos telemóveis?

    7. Porque é que se fecham as pessoas em casa quando é sabido que o vírus é muito menos perigoso ao ar livre?

    8. Porque é que as pessoas que trabalham estão sujeitas a regras estritas e os políticos cirandam livremente por aí?

    9. Porque é que tantos cidadãos respeitadores das “regras” da máscara, do distanciamento e do confinamento apanham Covid?

    10. Porque é que chamam “regras” aos devaneios arrancados da cabecinha do dr. Costa?

    11. Porque é que as pessoas que se protegem e nunca, nunca, nunca saem de casa têm conhecimento dos prevaricadores que se expõem irresponsavelmente?

    12. Porque é que não se conhece um único bufo de “festinhas ilegais” que tenha sido enfiado em alcatrão e coberto com penas?

    13. Porque é que os portugueses acreditam que a máscara os protege da Covid quando toda a gente sabe que serve apenas para proteger os outros?

    14. Porque é que os especialistas chamados às televisões ou às reuniões do Infarmed parecem exclusivamente especializados em repetir a propaganda do governo?

    15. Porque é que os especialistas continuam a ser designados como tal após falharem mais previsões do que Mestre Zandinga?

    16. Porque é que os benefícios do confinamento não coincidem com o início do confinamento e sim com o final da vaga de frio?

    17. Porque é que a estirpe sul-africana é tão perigosa e a África do Sul é um dos países onde o número de casos de Covid está a descer com mais rapidez?

    18. Porque é que Portugal é o único país do mundo que festeja o Natal e acolhe a “estirpe britânica”?

    19. Porque é que se pode dizer “estirpe britânica” e não se pode falar no “vírus chinês”?

    20. Porque é que pressinto que estirpes sortidas e exóticas justificarão indefinidamente confinamentos sortidos e exóticos?

    21. Porque é que o governo não aceita a ajuda das centenas de médicos que se voluntariaram para combater a Covid e as doenças que não são Covid?

    22. Porque é que o governo aceita que dezenas de polícias regressem voluntariamente da reforma para vigiar e punir os cidadãos?

    23. Porque é que se insiste em dizer que é fundamental salvar o SNS em vez de lembrar que, se não fosse maçada, o SNS é que nos deveria salvar a nós?

    24. Porque é que se fala em evitar o colapso de um sistema que colapsou a tempo de deixar morrer milhares de pessoas por doenças “tradicionais”?

    25. Porque é que a morte evitável de milhares de doentes ditos “não-Covid” não suscita tumultos ou no mínimo acusações criminais aos responsáveis?

    26. Porque é que falar nos mortos “com” ou “de” Covid é respeitar a ciência e falar nos mortos com cancro ou com o que calha é ser negacionista?

    27. Porque é que há mais vacinas a serem dadas nas imagens de arquivo dos telejornais do que na realidade?

    28. Porque é que nem sequer os médicos e os enfermeiros acabaram de ser vacinados?

    29. Porque é que o “planeamento” da vacinação não incluiu a compra de seringas, agulhas e coordenadores adequados?

    30. Porque é que se continua a falar num plano de vacinação que nunca existiu excepto para servir caciques secundários do PS?

    31. Porque é que os autarcas e similares que andam a subtrair vacinas se mantêm nos cargos e não na cadeia?

    32. Porque é que, sem vestígio de piedade, se largou os velhos nos lares à morte com escala numa solidão imensa?

    33. Porque é que agora não se pode comparar a Suécia com Portugal, quando na chamada primeira vaga não se fazia outra coisa?

    34. Porque é que o vírus sobe e desce imperturbável nos países com e sem confinamento?

    35. Porque é que reparar nos bons exemplos se tornou uma actividade semi-clandestina e subversiva?

    36. Porque é que na falta de certezas, conhecimento e preparação, na dúvida a única reacção é enclausurar pessoas e abandoná-las à pobreza?

    37. Porque é que é criminoso questionar a ladainha governamental sobre uma situação em que o governo somente exibiu incompetência?

    38. Porque é que há gente a apoiar um governo que sem a Covid nos afundaria no médio prazo e com a Covid afunda-nos no curto?

    39. Porque é que a crescente miséria de tantos portugueses é indiferente aos portugueses restantes?

    40. Porque é que tantas pessoas exigem que se fique em casa e tão poucas se dizem dispostas a partilhar os salários com aqueles que querem trabalhar e não podem?

    41. Porque é que a maioria das restrições em curso são especificamente destinadas a destruir a pequena e média iniciativa privada?

    42. Porque é que o fisco é a única instituição neste anedótico Estado que funciona impecavelmente sob a pandemia?

    43. Porque é que existe uma curiosa coincidência entre os negacionistas e aqueles que ousam discordar da vasta sapiência do dr. Costa?

    44. Porque é que se continua a tolerar um governo que desde o início desta história ainda não fez outra coisa senão mentir?

    45. Porque é que o espectacular caldo de mentiras e inépcia do dr. Costa e seus empregaditos não se traduz nas sondagens?

    46. Porque é que Trump, Bolsonaro e Johnson (que mandavam comparativamente menos) eram genocidas e o dr. Costa (que manda em tudo e ergueu o país a recordes de mortos por número de habitantes) é um líder louvável?

    47. Porque é que as televisões subsidiadas ainda convidam descrentes da propaganda só para os interromper a meio das declarações?

    48. Porque é que se espera que um cidadão sem limitações mentais aceite que o seu país encerre as fronteiras aos próprios habitantes?

    49. Porque é que o governo está mais preocupado com os autóctones que podiam sair e contagiar forasteiros do que com os forasteiros que entram e contagiam os autóctones?

    50. Porque é que a Constituição da República desapareceu vai para um ano e ninguém lamenta o sumiço?

    51. Porque é que se teima em eleger um presidente quando o presidente eleito é este?

    52. Porque é que se tem a suspeita de que isto vai ficar tudo muito mal e a certeza de que nenhum dos principais responsáveis pagará o preço?

    53. Porque é que milhões de pessoas caminham para a desgraça certa sem um protesto que se veja?

    54. Porque é que os portugueses abominam a liberdade?

    55. Porque é que tantos portugueses são tão portugueses?

    Alberto Gonçalves no Observador

    sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021

    Crescimento empobrecedor – a EDP e a Terra de Miranda


    Óscar Afonso

    Um dos maiores negócios da história do país, que tem por objecto o valor da exploração de um bem do domínio público situado no Interior, ou como o Estado deveria ter prevenido o planeamento fiscal agressivo, permitindo assim a promoção da coesão social e territorial.

    No dia 17 de Dezembro 2020, a EDP anunciou a conclusão do negócio de venda de seis barragens, três delas no Douro Internacional, em plena Terra de Miranda. Por via de uma complexa operação financeira, que envolve uma declarada reestruturação empresarial, o negócio, avaliado em 2,2 mil milhões de euros, foi feito sem que houvesse lugar ao pagamento de impostos. A operação dependia de autorização prévia do Governo, uma vez que envolve o valor da exploração da água do rio, que é, como sabemos, um bem do domínio público.

    Efectivamente, a ser como referido na comunicação social, o Governo, através do Ministério do Ambiente e da Acção Climática, autorizou que, desse modo, a EDP tivesse um encaixe financeiro de 2,2 mil milhões de Euros, sem que houvesse lugar a cobrança do Imposto do Selo, no valor de 110 milhões de euros, bem como os naturais impostos sobre as mais-valias, dado que a EDP havia comprado (ao Estado) o bem que agora vende por cerca de um terço do que agora recebe. Foram, assim, claramente beneficiados interesses particulares acima do interesse geral.

    Tratando-se de um dos maiores negócios da história do nosso país, que tem por objecto o valor da exploração de um bem do domínio público situado no Interior, envolvendo por empresas com elevado poder económico, seria de esperar que o Estado prevenisse o planeamento fiscal agressivo e permitisse a promoção da coesão social e territorial.

    Como referido acima, três das seis barragens, as mais produtivas, situam-se na Terra de Miranda – duas no concelho de Miranda do Douro e uma no concelho de Mogadouro. Ora, os dados estatísticos revelam que paralelamente ao engrandecimento da EDP, a Terra de Miranda registou uma trajectória de empobrecimento, de despovoamento (perdeu mais de metade da população desde a construção das barragens) e é hoje uma terra muito deprimida, com uma sociedade civil demasiado envelhecida e, por isso, extremamente enfraquecida e com o futuro ameaçado. É uma Terra que desespera para não morrer.

    Tendo em conta a riqueza das pessoas que lá vivem, os PIB per capita de Miranda e de Mogadouro posicionam os concelhos, respectivamente, nas posições 182 e 225 entre os 308 que o País tem. Ou seja, mesmo sem terem população, ainda assim, o PIB per capita é miserável e alimentado por três origens principais – os orçamentos camarários, pelos empregos de que as autarquias necessitam para funcionarem, os subsídios à agricultura no âmbito da PAC, e a fraquíssima actividade produtiva. No entanto, tendo em conta a riqueza efectivamente produzida; i.e., contando também a acção das barragens, o PIB per capita de Miranda passa para 5.º do País e o de Mogadouro para 25.º. Por conseguinte, a Terra de Miranda não é pobre: está empobrecida por ter estado sujeita à extracção dos seus recursos naturais.

    Hoje, em Miranda, vive-se mal, cada vez pior, porque à medida que se foi perdendo população foi-se também descapitalizando. O que incomoda é a contradição entre o viver cada vez pior e a existência de um recurso, a água, que permitiria ter vivido sempre bem. O que incomoda é, portanto, a existência de duas dinâmicas distintas: a actividade económica, social e cultural da Terra de Miranda em queda; a grandeza da EDP em ascensão. Creio que todos os portugueses se congratulam com a grandeza da EDP, mas também penso que não se pode ser “rico” à custa do empobrecimento de outros; que o empobrecimento contínuo da Terra de Miranda, em particular, não favorece os portugueses mais do que o engrandecimento da EDP.

    Seria de esperar que a EDP praticasse para com a Terra de Miranda o valor e compromisso da sustentabilidade que diz defender. A este propósito, diz-nos a EDP que assume as responsabilidades sociais e ambientais que resultam da sua actuação, contribuindo para o desenvolvimento das regiões onde está presente. Sejamos sinceros, com a Terra de Miranda tal não aconteceu. Será então pura retórica?

    Enquanto a EDP se engrandecia a Terra de Miranda foi definhando. A EDP não foi inclusiva, não cumpriu o compromisso da sustentabilidade, foi sempre extractiva do recurso natural água que o Douro leva por aquela terra. Os mirandeses tinham agora a expectativa de que, com a venda das barragens, a EDP se redimisse e contribuísse para a melhoria da massa crítica social, da actividade cultural e económica da Terra de Miranda. Seria então recordada dessa maneira. Mas, infelizmente, tal parece não vir a suceder.

    A forma como decorreu a operação de venda das barragens indicia que, com a conivência do Governo, não há sensibilidade social nem defesa do interesse público e que a exploração é para levar até ao último cêntimo, privilegiando o interesse particular contra o interesse geral e contra a coesão social e territorial.

    No negócio em curso da venda das barragens, os 2,2 mil milhões de euros, que são o preço da transacção, reflectem o valor actual dos lucros (futuros) com a concessão. Desse modo foi possível apurar o margem de lucro da EDP por unidade de energia produzida e, aplicando-a à produção acumulada desde a instalação das barragens, obter o valor do ganho: pelo menos 5 mil milhões de euros ao longo dos últimos sessenta anos. Ou seja, a EDP extraiu cerca de 7 mil milhões de euros (o equivalente a oito pontes Vasco da Gama) da Terra de Miranda, a troco do seu empobrecimento. E, sejamos honestos, essa enorme riqueza é riqueza da Terra de Miranda, que lhe foi extraída.

    Efectivamente, com a venda das barragens, o activo vendido mais importante não foram as turbinas, nem os edifícios, nem a gestão, nem sequer o know how. Os activos mais valiosos que foram vendidos são proporcionados pelos recursos naturais da Terra de Miranda: a água, o declive do rio Douro internacional e a morfologia das suas margens. Sem estes recursos naturais, as barragens não teriam valor económico! Tal como o trabalho e o capital, também os recursos naturais são fundamentais para a actividade económica do País.

    Ora, as populações, cujo destino está indissociavelmente ligado aos seus recursos naturais, em todas as partes do mundo (só para citar um exemplo muito simples, as praias do Algarve são a riqueza que permite aos algarvios ter um PIB per capita relevante), não podiam ser absolutamente ignoradas e desprezadas neste negócio final.

    No mínimo, deveriam saber o que se fazia, qual ia ser o destino dos seus recursos naturais nos próximos anos ou décadas e, a menos que o Governo deseje que a Terra de Miranda se torne terra de ninguém, deviam receber pelo menos parte das contrapartidas que lhe seriam devidas. Creio que todos concordarão que, caso a venda tivesse – como devia – dado lugar aos 110 milhões de euros de Imposto do Selo e esse valor fosse entregue às populações, seria sempre insuficiente para as compensar de toda a riqueza que lhes caberia num modelo justo de repartição dos benefícios.

    Ao optar por não cobrar esse valor, que corresponde apenas a cerca de 1,57% da riqueza extraída pela EDP da Terra de Miranda, optou-se por continuar a penalizar os mirandeses e os portugueses em geral.

    Será que este procedimento é próprio de um país civilizado?

    Posted in: Crónicas https://obegef.pt/wordpress/?p=45767
    Last Modified: Fevereiro 6, 2021 39'25"  (…) "Só falta o cimento" (…)O documentário "Pare, Escute, Olhe", de Jorge Pelicano, foi distinguido em Itália, na 59.ª edição do Trento Film Festival, com o Prémio Cittá di Bolzano, para o Melhor Filme de Exploração e Aventura. Este documentário mostra o que acontece quando o sistema político é mais influenciado pelos interesses privados do que os interesses de uma comunidade. É um grande exemplo de cinema interventivo
    https://www.youtube.com/watch?v=FTihP0Xmxbc

    Data: Fevereiro 6, 2021

    quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

    Marta Temido está de birra com o país

    Marques Mendes (que nos informa), Ferro Rodrigues (que vê populismo em todo o lado) e a bastonária da Ordem dos Enfermeiros (que distribui insultos) são o Bom, o Mau e o Vilão.