terça-feira, 18 de outubro de 2022

42



42 é o número de milhares de anos atrás que o campo magnético da Terra pregou uma partida, eliminou os Neanderthais e levou os Sapiens a criarem arte em grutas para sempre. 42 é o meu número da porta.

16 out 2022 -Tiago Tribolet de Abreu – ‘Observador’

Em 1978, uma série de ficção científica em episódios foi transmitida pela BBC Radio 4. O seu título era The Hitchhiker’s Guide to the Galaxy, e era escrita por um inglês chamado Douglas Adams. A série teve tanto sucesso que Douglas Adams a escreveu depois numa trilogia de cinco livros (não é erro, foi mesmo descrita como uma trilogia de cinco livros) com nomes estranhos, como So Long, and Thanks For All the Fish, ou então The Restaurant at the End o the Universe, e o meu título favorito: Life, the Universe and Everything.

Toda a obra culmina na resposta à pergunta final sobre a vida, o Universo e tudo mais, que demorou 7,5 milhões de anos a ser calculada por um supercomputador.

E a resposta final foi 42.

Exacto. 42.

42 foi a resposta final. O problema é que ninguém sabia qual era exactamente a pergunta e, por isso, no final do livro, ficamos todos mais ou menos na mesma, ou não fosse Douglas Adams um dos argumentistas da série Monty Python’s Flying Circus e um fiel discípulo e praticante desse humor britânico sem sentido.

Mais recentemente, os cientistas descobriram que, há uns bons milhares de anos, o campo magnético da Terra se inverteu, o Pólo Norte passou para Sul e o Pólo Sul para Norte e isto durou umas centenas de anos até voltar ao normal. O problema é que, durante esses anos, o nosso campo magnético, para além de invertido, ficou reduzido a um décimo da sua força normal, deixando de nos proteger das diversas radiações cósmicas, com múltiplas consequências prejudiciais à Vida não aquática no planeta.

Curiosamente, foi nessa mesma altura que os Neanderthal se extinguiram e que, de forma súbita e simultânea em vários pontos do globo, surgiram obras de arte em grutas, feitas pelos Sapiens de então.

Pensa-se então que a perda da protecção conferida pelo campo magnético terrestre e as suas consequências poderá ter contribuído não só para o desaparecimento dos Neanderthais, mas também terá levado os Sapiens a procurarem refúgio em cavernas, onde terão inscrito a sua arte, que assim se conservou no tempo até aos nossos dias.

O estudo de árvores kauri fossilizadas na Nova Zelândia, que estavam bem vivas nessa altura, permitiu determinar com exactidão quando é que se deu esse fenómeno de inversão do campo magnético.

Foi exactamente há 42 mil anos.

Isso mesmo.

E é por isso que este evento se denomina The Adams Event, em honra ao Douglas Adams que, em 1978, já tinha determinado ser 42 a resposta a uma pergunta que ninguém sabia qual era.

Agora já sabemos. É o número de milhares de anos atrás que o campo magnético da Terra pregou uma partida e eliminou os Neanderthais e levou os Sapiens a inscreverem arte em grutas para sempre.

Bem, quer dizer, 42 é também o número da minha porta.

É pena Douglas Adams já ter falecido. Gostaria de lhe perguntar a qual das questões era 42 a resposta.

O “Pinhal de Leiria”

"Foi uma ideia original de D. Afonso III e de seu filho D. Dinis, plantador de naus a haver.

Estúpidos e meio boçais, nunca apresentaram um Plano de Ordenamento e Gestão Florestal.

Depois deles, o filho da mãe do D. Afonso IV não mandou fazer estudos topográficos e geodésicos.

D. Manuel I, desmiolado, esqueceu-se de estudar os resíduos sólidos e os recursos faunísticos.

D. João V, esse palerma, desprezou os avanços da bioclimatologia e da ecofisiologia das árvores.

  A maluca da D. Maria I não percebia nada de biologia vegetal e da diversidade das plantas. No fundo, era uma reaccionária.

O resultado de sete séculos de incúria está à vista: ardeu tudo.

Há-de ali nascer um novo pinhal, após rigorosos estudos académicos e científicos.

Em vez do bolorento nome de Pinhal de El-Rei, irá decerto chamar-se Complexo Bio-Florestal 25 de Abril, com árvores de várias espécies para assegurar a pluralidade, esplanadas e bares, passadiços, zonas culturais e uma ciclovia asfaltada da Marinha Grande a São Pedro de Moel.
Estou certo de que o projecto assentará numa "visão pós-moderna da natureza" e no "conhecimento da dinâmica dos sistemas vivos", além da “capacidade de análise e interpretação da paisagem como meio influenciador do homem”.

Bem vistas as coisas, tivemos muita sorte."

NOTA: O que me espanta é como foi possível.

Tantas centenas de anos sem aviões para apagar fogos, sem SIRESP, sem carros de bombeiros, sem autoridade (?) da protecção civil e sem a diversificação das espécies …

…e só agora (que já temos essa "merda" toda) é que ardeu !!!

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Não sei quem é o autor.

segunda-feira, 17 de outubro de 2022

A dívida primeiro

A enorme diminuição do peso da dívida no PIB em 2022 e 2023 não evita que, nas previsões do OE para 2023, a despesa com juros aumente 1,2 mil milhões de euros (isto é, mais 24% do que em 2022).

Em Setembro, o Governo apresentou um pacote de medidas para mitigar o impacto da inflação: As Famílias Primeiro. Desse programa constavam uma série de medidas de apoio ao rendimento das famílias. As medidas de apoio às empresas fazem parte do Acordo de Médio Prazo para os Rendimentos, Salários e Competitividade e constam da proposta de Orçamento do Estado para 2023. Mas a marca do OE para 2023 é a continuação do caminho de redução da dívida e podia ter como mote: a dívida primeiro.

Os efeitos negativos das elevadas taxas de inflação dominam o espaço público. As famílias vêem o poder de compra a diminuir. As empresas têm facturas energéticas muito elevadas. Para conter as pressões inflacionistas os bancos centrais aumentam as taxas de juro e os efeitos já se fazem sentir nas prestações mensais das famílias e das empresas. Todos concordam que a inflação é um flagelo e que tem de ser combatida.

Mas nem tudo é mau na inflação. De facto, a inflação é umas das formas mais eficazes de reduzir o endividamento. Com inflação, o Estado ou as empresas têm um maior valor nominal de receitas para pagar um valor fixo de dívida. Mas como não há almoços grátis, a redução do endividamento é feita à custa dos credores, que vêem o valor real dos seus créditos diminuir. A inflação tem, assim, o efeito de redistribuir riqueza dos credores para os devedores. Num mundo com níveis de dívida recorde, a inflação pode ser também uma bênção para os grandes devedores. Uma bênção que o Governo português tem sabido aproveitar.

O crescimento do PIB real reduz também o peso da dívida. As elevadas taxas de crescimento em 2021, 5,5%, e em 2022, 6,7%, estão também a dar um forte contributo para a redução do peso da dívida no PIB.

Em 2022, de acordo com as previsões da proposta do OE para 2023, a dívida pública vai diminuir para 115% do PIB, um valor inferior ao registado em 2019, antes da pandemia (117%). Para 2023, o OE prevê uma redução adicional da dívida pública para 111% do PIB. Assim, entre 2020 e 2023, a dívida pública terá diminuído de 135% para 111% do PIB.

Para percebermos a importância deste resultado para a economia portuguesa é importante recuarmos aos anos da crise financeira internacional (2008/2009) e da crise das dívidas soberanas (2010/2014).

Em 2007, a dívida pública portuguesa correspondia a 73% do PIB, a quarta mais elevada da área do euro (atrás da Grécia, da Itália e da Bélgica). Em 2010, a dívida pública ultrapassou os 100% do PIB. Nessa altura, depois da Grécia e a Irlanda terem recorrido à assistência financeira da troika, adivinhava-se que Portugal seria o próximo. Em Abril de 2011, o primeiro-ministro José Sócrates, com as finanças públicas em ruptura, pediu assistência financeira à Comissão Europeia e ao Fundo Monetário Internacional. Em 2011, Portugal tinha já a terceira dívida pública, em percentagem do PIB, mais elevada da Área do Euro, posição que manteve até 2022 – ver Figura.

Durante os anos da troika, entre 2011 e 2014, o peso da despesa com juros era superior a 8 mil milhões de euros, um valor que correspondia a cerca de 5% do PIB. Este era, aproximadamente, o valor que o Estado gastava em educação. Um fardo brutal. A redução do défice orçamental realizada durante os anos do Plano de Assistência Económica e Financeira, o início da recuperação económica em 2013, a descida das taxas de juro em resultado da mudança de política do banco central europeu e a recuperação da confiança junto dos investidores internacionais permitiu reduzir a despesa em juros de forma muito significativa a partir de 2015. Entre 2015 e 2021, a despesa com juros diminuiu de 8,2 mil milhões de euros (4,6% do PIB) para 5,2 mil milhões de euros (2,4% do PIB). Na proposta de OE, o Governo prevê para 2022 uma redução da despesa com juros, devendo atingir aproximadamente 5 mil milhões de euros (2,1% do PIB).

Ou seja, em 2022 o Estado gastará menos cerca de 3 mil milhões de euros com juros da dívida pública do que gastou em 2015. A redução da despesa com juros deu um contributo fundamental para as ‘contas certas’ de António Costa. Mas esse ciclo acabou. O Governo percebeu e, com os juros a aumentar e a economia a desacelerar, não quer estar no radar dos investidores.

Assim, para 2023, com a taxa de crescimento do PIB a cair de 6,7% em 2022 para 1,3% em 2023, o Governo pretende prosseguir com o processo de consolidação orçamental e reduzir o défice orçamental de 1,9% para 0,9%. A dívida pública deverá cair para 111% do PIB, o valor mais baixo desde 2010. Se as projecções do FMI se confirmarem, em 2023, Portugal deverá cair para a 5ª posição no ranking dos países mais endividados da área do euro, a seguir à Grécia (170% do PIB), à Itália (147%), à França (113%) e à Espanha (112%) – ver Figura.

A enorme diminuição do peso da dívida no PIB em 2022 e 2023 não evita que, nas previsões do OE para 2023, a despesa com juros aumente 1,2 mil milhões de euros (isto é, mais 24% do que em 2022). Este primeiro impacto é suficiente para mostrar que, neste novo ciclo, as despesas com os juros da dívida voltam a ser uma forte restrição à capacidade de execução orçamental do Governo.

Não é relevante saber se António Costa prossegue com a redução do peso da dívida pública porque aprendeu com os erros do governo de José Sócrates. Não é relevante saber se o faz porque os eleitores se tornaram mais exigentes com o rigor das contas públicas. Também não é relevante se António Costa prossegue a redução do peso da dívida por pura gestão do ciclo eleitoral. Nos primeiros anos da maioria absoluta, poderá estar a procurar ganhar espaço orçamental para poder ter políticas mais expansionistas nos últimos anos do mandato. O que é fundamental é que prossiga com a redução da dívida pública, porque, no actual contexto de aumento das taxas de juro e de grande volatilidade, a dívida pública é o maior risco para a economia e para a sociedade portuguesa.

Fernando Alexandre


sábado, 15 de outubro de 2022

Não era só o gás barato: a teia que a Gazprom teceu na Alemanha

Consórcio de jornalistas Correctiv mostrou como a empresa russa de gás montou um sistema de influência na Alemanha, muito para além da figura mais emblemática, o antigo chanceler Gerhard Schröder.

A razão óbvia para o modo como a Alemanha se tornou dependente do gás russo – 50% de todo o gás importado vinha da Rússia – é o seu preço mais barato. Mas esta está longe de ser a única razão. O consórcio de jornalistas Correctiv publicou uma investigação sobre o lobby da Gazprom na Alemanha e o sistema que o torna diferente dos outros lobbies – um sistema, uma rede de poder.

O director do consórcio, Justus von Daniels, esteve esta quinta-feira na Comissão Especial sobre Ingerência Estrangeira em Todos os Processos Democráticos na União Europeia no Parlamento a explicar o que se sabe sobre este lobby, que assenta não em pagamentos por participações em conferências ou algo semelhante, mas sim “na criação de uma rede de poder em que há expectativa de benefícios, informação privilegiada, de ajuda para se conseguir manter no poder, há uma proximidade que deixa as pessoas amarradas”, descreve.

Se todos vêem o antigo chanceler Gerhard Schröder como a face do lobby do gás russo na Alemanha, o jornalista diz que o antigo chanceler não conseguiria ter tido tanta influência sozinho, e que além dele, a Gazprom tinha influência sobre uma série de pessoas “que davam um apoio constante” à ideia de aumentar a quantidade de gás russo importado, um “envolvimento profundo” de políticos e empresas além de Schröder.

Outro ponto interessante é que o apoio não foi uma questão partidária: tanto tinham envolvimento com o lobby da Gazprom o antigo chefe da CSU (União Social Cristã, o partido-gémeo da CDU na Baviera) Edmund Stoiber, como Sigmar Gabriel, do Partido Social Democrata (SPD), que foi ministro da Economia.

A investigação seguiu informação que já era pública, sobre casos individuais, e encontrou dados novos. O que pretendeu, explicou Justus von Daniels na comissão do PE, foi ver o “sistema”. Na investigação publicada, o consórcio identificou dois “centros” do lobby, em dois estados federados, Saxónia e Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental (este na costa do mar Báltico), ambos pontos estratégicos como pontos de entrada para gasodutos.

A investigação começou a deparar-se com nomes de associações muito semelhantes: o Fórum Germano-russo para Matérias-Primas, a Conferência Germano-russa para Matérias-Primas, A Parceria Germano-Russa para Matérias-Primas, etc. “Não é coincidência e a confusão é desejável. Na verdade, as mesmas pessoas e políticos encontravam-se repetidamente, os discursos e a mensagem eram os mesmos: a cooperação em termos de recursos naturais com a Rússia tem de aumentar.”

Depois da invasão da Ucrânia pela Rússia a 24 de Fevereiro de 2022, estas fundações deixaram de existir. Algumas apagaram sites ou listas de membros. Mas ainda há imagens na Internet de alguns encontros destes fóruns, por exemplo em São Petersburgo ou Düsseldorf. Durante o dia, conta a investigação do Correctiv, os participantes discutiam a importância da cooperação russo-alemã, e as noites eram ocupadas com entretenimento em locais de luxo, como castelos ou hotéis de cinco estrelas. A esmagadora maioria dos participantes, nota ainda o consórcio, eram homens. Isso vale tanto para os encontros (em Düsseldorf em 2016, por exemplo, falaram mais de 70 homens e estiveram presentes menos de dez mulheres) como para os membros da rede.

O antigo ministro da Economia Sigmar Gabriel era um dos participantes regulares, assim como o chefe do governo do estado federado da Saxónia, Michael Kretschmer. Sigmar Gabriel era ministro em 2015, quando foi aprovado um acordo que deixou a empresa de armazenamento de gás Peissen, no estado de Schleswig-Holstein, parcialmente nas mãos da Gazprom (algo que aconteceu sem qualquer debate público, notou Justus von Daniels)​. A VNG é outra empresa repetidamente mencionada na investigação do Correctiv – a empresa da Saxónia teve de ser entretanto resgatada com dinheiros públicos (a quantia não foi revelada) pela sua enorme dependência do gás russo. No seu conselho de supervisão estava um antigo agente da Stasi (os serviços secretos da Ex-RDA), que tinha ainda um cargo no Nord Stream 2, e que está hoje na lista de pessoas sujeitas a sanções dos Estados Unidos.

O facto de poder comprar o gás russo barato era um bónus para a VNG e para a região – os benefícios económicos para os seus estados federados é uma das razões que levaram responsáveis dos governos regionais a promover negócios com a Rússia. Mas o Correctiv aponta ainda outra razão de Kretschmer: “o seu partido também beneficiou”: a VNG patrocinou eventos da CDU, com contributos de várias centenas de euros por ano, e grupos de trabalho da CDU encontravam-se por vezes em locais da VNG para eventos.

Não é surpresa que Gabriel ou Kretschmer fossem figuras que defendessem o levantamento de sanções à Rússia após a anexação da Crimeia de 2014. Mas o lobby apostava ainda em figuras de menor relevo, que aparecem repetidamente nestas reuniões, e algumas delas mudam depois de papel, como Heino Wiese,​ antigo deputado do SPD, aliado de Schröder: passou por uma agência de relações públicas e de seguida foi nomeado cônsul honorário da Rússia em Hanôver.

A chefe de Governo de Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental, Manuela Schwesig, distanciou-se agora da Rússia. Mas em 2018 recebia, no Ministério dos Negócios Estrangeiros em Berlim, num evento patrocinado pelo Fórum Germano-Russo, um prémio, com a presença dos ministros dos Negócios Estrangeiros alemão, Heiko Maas, e russo, Serguei Lavrov. A importância para a Rússia deste estado é lembrada pelo Correctiv pelo modo como o então vice-ministro da Indústria e comércio de Moscovo, Segevich Osamakov, se referiu a ele: “um posto avançado” na Europa.

Esta investigação, afirmou Justus von Daniels, é apenas o começo – os jornalistas do Correctiv continuam a trabalhar nela e a acrescentar novos dados sobre “as várias estruturas camufladas em que políticos quer da CDU quer do SPD” estavam envolvidos.

https://www.publico.pt/2022/10/14/mundo/noticia/nao-so-gas-barato-teia-gazprom-teceu-alemanha-2023927

Veja quão acessíveis e rápidos são os comboios na Europa em seis infografias

Onde é mais rápido e acessível apanhar o comboio na Europa? E onde não é? A European Data Journalism Network reuniu dados sobre viagens de comboio de 28 websites de reserva em toda a Europa, recolhendo mais de 8000 preços de viagens de ida e a duração de 73 rotas de exemplo.

Se vive num local onde é relativamente fácil apanhar um comboio, os investigadores em matéria de transportes afirmam que as duas maiores barreiras que o impedem de optar por este meio de transporte são o custo do bilhete e a duração da viagem. Apanhar um comboio pode ser simplesmente demasiado caro e demasiado lento, quando comparado com outros meios de transporte. Em abril deste ano, recolhemos 8000 preços de viagens de ida e a duração de 73 rotas nos Estados-Membros da União Europeia com uma linha ferroviária, incluindo a Suíça e a Noruega, numa tentativa de analisar onde os comboios são mais rápidos e acessíveis e onde não são.

O comboio é mais rápido do que o carro em 35 das 73 rotas sobre as quais recolhemos dados. Geralmente, o comboio supera o carro em viagens de longa distância, com apenas algumas exceções, enquanto o carro é a melhor opção para curtas distâncias.

No que diz respeito à acessibilidade, em alguns países, os bilhetes tendem a ser mais caros do que noutros, quando ajustados à média dos rendimentos líquidos dos cidadãos. Os bilhetes são, embora paradoxalmente, muitas vezes mais caros em países com rendimentos mais baixos do que em países com rendimentos mais elevados. Claro que há exceções. Os bilhetes para as rotas que recolhemos na Alemanha são, por exemplo, comparavelmente caros.

Para viajar entre Madrid e Barcelona terá de gastar cerca de 7 por cento do rendimento líquido médio espanhol. Mas os comboios entre Madrid e Barcelona são muito rápidos e poupará 3 horas ao apanhar o comboio em vez de usar o carro. Não podemos deixar de fazer a comparação com as pessoas na Roménia que viajam de Bucareste para Timisoara. Estas terão de pagar a mesma percentagem do seu rendimento por um bilhete, mas em vez de ganharem tempo, na verdade, perdem 2 horas comparado com a mesma viagem de carro.

Preço do bilhete de comboio

Methodology

Decidimos recolher dados sobre as mesmas 73 rotas de exemplo utilizadas como base para um estudo da Comissão Europeia sobre preços de comboios na Europa realizado em 2016.
Em abril de 2019, recolhemos duas vezes dados sobre bilhetes para viagens de 1 dia, 1 semana e 1 mês com antecedência. Utilizamos websites de reserva nacionais, incluindo apenas comboios diretos e excluindo comboios noturnos. Sempre que possível, recolhemos informações sobre bilhetes da transportadora líder do país. Os preços recolhidos foram os mais baixos possíveis, excluindo descontos para jovens e seniores, etc.

A média dos preços dos bilhetes foi calculada como uma percentagem do rendimento mediano disponível para cada país, de modo a calcular a acessibilidade. Os dados dos rendimentos líquidos foram recolhidos do inquérito SILC do Eurostat em 2018 e definem “o rendimento total de um agregado disponível para gastos ou poupanças, dividido pelo número de membros do agregado convertido em adultos equivalentes”. Pode ser encontrado aqui. A duração da viagem de carro e a distância foram estimadas através do Google Maps. A duração da viagem de comboio é o tempo total apresentado no bilhete e em algumas rotas pode incluir uma ou mais paragens.

Cet article est publié en partenariat avec the European Data Journalism Network

https://voxeurop.eu/pt-pt/veja-quao-acessiveis-e-rapidos-sao-os-comboios-na-europa-em-seis-infografias/

sexta-feira, 14 de outubro de 2022

Rede Nacional de Auto-estradas Concessionada, Actualizado em 18-05-2017.

O que dizer deste tipo de negócio, sem esquecer que José Sócrates “inventou” as SCUTS, que deu no que deu..

Assim temos algumas 15 empresas, as quais algumas subdivididas em troços, para haver mais lugares de administração, directores, etc., e sempre dá mais uns empregos bem remunerados aos familiares e amigos, bem como as restantes benesses inerentes.. e se pagarem impostos, pagam menos…se não, não, só recebem subsídios.

Ascendi Beiras Litoral e Alta 707 221 221 A25 Albergaria (A1/A25) – Vilar Formoso (A25/EN332)

Ascendi Costa de Prata 707 221 221 A17 Mira – Aveiro (A17/A25) A25 Barra – Albergaria (A1/A25) A29 Angeja (A25/A29) – Freixo Sul (A20/A29) A44 Gulpilhares (A29/A44) – Coimbrões (A1/A44)

Ascendi Grande Lisboa 707 221 221 A16 Cascais (A5/A16) – Belas (A9/16)

Ascendi Grande Porto 707 221 221 A4 Matosinhos – Águas Santas (A3/A4) A41 Freixieiro (A28/A41) – Ermida (A41/A42) A42 Ermida (A41/A42) – Lousada (A11/A42) VRI Aeroporto (A41/VRI) – Custóias (A4/VRI)

Ascendi Norte 707 221 221 A7 Póvoa de Varzim (A7/A28) – Vila Pouca de Aguiar (A7/A24) A11 Apúlia (A11/A28) – Castelões (A4/A11)

Auto-estrada do Algarve - Via do Infante 808 201 301 A22 Bensafrim – Castro Marim (A22/IC27)

Auto-Estradas do Atlântico 261 318 777 A8 Olival Basto (A8/IC17) – Leiria Sul (A8/A19) A15 Arnóia (A8/A15) – Santarém (A1/A15)

Auto-Estradas do Douro Litoral 707 500 900 A32 Oliveira de Azeméis – São Lourenço (A20/A32) A41 Ermida (A41/A42) – Espinho (A29/A41) A43 Gondomar Este – Aguiar de Sousa (A41/A43)

Auto-Estradas do Norte Litoral 808 201 423 A27 Meadela (A27/A28) – Ponte de Lima (A3/A27) A28 Sendim (A4/A28) – Vilar de Mouros Norte

Brisa Concessão Rodoviária 707 500 900 A1 Sacavém (A1/A12/IC17) – Stº. Ovídio A2 Almada (A2/IC20) – Paderne (A2/A22) A3 Porto (A3/A20) – Valença (A3/EN13) A4 Águas Santas (A3/A4) – Geraldes A5 Viaduto Duarte Pacheco (A2/A5/IP7) – Cascais A6 Marateca (A2/A6/A13) – Caia (Fronteira) A9 Estádio Nacional (A5/A9) – Alverca (A1/A9) A10 Bucelas (A9/A10) – Benavente (A10/A13) A12 Montijo (A12/A33) – Setúbal A13 Marateca (A2/A6/A13) – Almeirim (A13/IC10) A14 Figueira da Foz – Zombaria CSB Braga Sul (A3/CSB) – Braga (CSB) Brisal 707 500 900 A17 Marinha Grande (A8/A17) – Mira

Infra-estruturas de Portugal 707 500 501 A1 Stº. Ovídio – Ponte da Arrábida (Norte) A3 Valença (A13/EN13) – Valença (Fronteira) A4 Geraldes – Quintanilha (Fronteira), A8 Leiria Sul (A8/A19) – Cortes A13 Atalaia (A13/A23) – Coimbra Sul A13-1 Almalaguês (A13/A13-1) – Condeixa-a-Nova (A13-1/IC2) A19 São Jorge – Gândara A20 Carvalhos (A1/A20) – Francos (A20/A28) A21 Ericeira – Malveira (A8/A21) A22 Castro Marim (A22/IC27) – Castro Marim (Fronteira) A23 Torres Novas (A1/A23) – Abrantes Oeste A28 Ponte da Arrábida (Norte) – Sendim (A4/A28) A33 Monte de Caparica (A33/IC20) – Montijo (A12/A33) A43 Ponte do Freixo Norte (A20/A43) – Gondomar Este A44 Coimbrões (A1/A44) – Ponte do Freixo Sul (A20/A44) IP7 CRIL (IP7/IC17) – Viaduto Duarte Pacheco (A2/A5/IP7) IC2 Praça José Queirós – Stª Iria da Azóia (A1/IC2) IC16 Pontinha (IC16/IC17) – Belas (A9/IC16) IC17 Doca de Pesca – Sacavém (A1/A12/IC17) IC19 Buraca (IC17/IC19) – Ranholas (A16/IC19) IC20 Almada (A2/IC20) – Costa de Caparica IC21 Coina (A2/IC21) – Lavradio IC22 Olival de Basto (IC17/IC22) – Odivelas (A9/IC22) EN14 Regado (A20/EN14) – Via Norte (A4/EN14)

Lusoponte 212 947 926 212 328 201 A2 Viaduto Duarte Pacheco (A2/A5/IP7) – Almada (A2/IC20) A12 Sacavém (A1/A12/IC17) – Montijo (A12/A33)

Norscut 808 240 024 A24 Faíl (A24/A25) – Vila Verde da Raia (Fronteira)

Scutvias 272 447 677 A23 Abrantes Oeste – Guarda (A23/A25),

quinta-feira, 13 de outubro de 2022

Pontes em Portugal.

Citação

«Sem dúvida que em muitos aspectos a história da construção de pontes é a história da civilização. Através dela podemos medir uma parte importante do progresso de um povo.»

Franklin D. Roosevelt 18 de Outubro de 1931



Ponte é uma construção que permite interligar ao mesmo nível pontos não acessíveis separados por rios, vales, ou outros obstáculos naturais ou artificiais.

As pontes são construídas para permitirem a passagem sobre o obstáculo a transpor, de pessoas, automóveis, comboios, canalizações ou condutas de água (aquedutos).

Quando é construída sobre um curso de água, o seu tabuleiro é frequentemente situado a altura calculada de forma a possibilitar a passagem de embarcações com segurança sob a sua estrutura. Quando construída sobre um meio seco costuma-se chamar as pontes de viadutos, como uma forma de apelidar pontes em meios urbanos. Do contrário não pode ser usado, já que um viaduto é uma ponte que visa não interromper o fluxo rodoviário ou ferroviário, mantendo a continuidade da via de comunicação quando esta se depara e têm que transpor um obstáculo natural constituído por depressão do terreno (estradas, ruas, acidentes geográficos, etc.), cruzamentos e outros sem que este seja obstruído.

Viadutos são muito comuns em grandes metrópoles, onde o intenso tráfego de veículos normalmente de grandes avenidas ou vias expressas não podem ser ligeiramente interrompidos. Além de cidades que possuem muitos acidentes geográficos, onde o viaduto serve para ligar dois pontos mais altos de uma determinada região e relevo.

A palavra Ponte provém do latim Pons que por sua vez descende do Etrusco Pont, que significa "estrada" ]Em grego πόντος (Póntos), derive talvez da raiz Pent que significa uma acção de caminhar.


As pontes na foto acima

  1. A Ponte D. Luís I (ou Ponte Luiz I, na grafia original nela inscrita), é uma ponte em estrutura metálica com dois tabuleiros, construída entre os anos 1881
  2. A Ponte 25 de Abril é uma ponte suspensa rodoferroviária sobre o rio Tejo que liga a cidade de Lisboa (margem norte) à cidade de Almada (margem sul), …Altura máxima: 70 m Término da construção: 1966
  3. A Ponte da Arrábida é uma ponte em arco sobre o Rio Douro que liga o Porto (pela zona da Arrábida) a Vila Nova de Gaia (pelo nó do Candal), em Portugal. Início da construção: Março de 1957  Comprimento total: 493,2 m Término da construção: Maio de 1963
  4. A Ponte Vasco da Gama é uma ponte atirantada sobre o estuário do rio Tejo, na área da Grande Lisboa, ligando o concelho de Alcochete a Lisboa e Sacavém, .Início da construção: Fevereiro de 1995, Comprimento total: 12 345 m Término da construção: Março de 1998 e  Maior pilar: 148 m
  5. A Ponte de D. Maria Pia é uma infra-estrutura ferroviária, que transportava a Linha do Norte sobre o Rio Douro, entre as cidades do Porto e Vila Nova de Gaia …Início da construção: 5 de Janeiro de 1876, Altura: 61 metros Término da construção: 8 de Outubro de 1877 Engenheiro: Gustave Eiffel
  6. A Ponte Infante Dom Henrique, também conhecida como Ponte do Infante, é uma ponte rodoviária que liga Vila Nova de Gaia ao Porto, sobre o rio Douro, Altura máxima: 75 m Data de abertura: 30 de Março de 2003
  7. Ponte Medieval de Barcelos … É uma edificação gótica em pedra do início do século XIV, entre 1325 e 1330, mandada construir pelo Conde D. Pedro.
  8. A Ponte Rodo-Ferroviária de Viana do Castelo, mais conhecida como Ponte Eiffel, é uma estrutura que transporta a Linha do Minho e a Estrada Nacional 13 Término da construção: Maio de 1878 Data de abertura: 1 de Julho de 1878 Início da construção: Março de 1877
  9. A ponte móvel de Leça situa-se no porto de Leixões, e tem como objectivo ligar duas margens do porto, mais concretamente Matosinhos a Leça da Palmeira, .Tipo de ponte: Basculante, Inauguração: 30 de Julho de 2007. A Ponte Móvel de Leixões é a quarta maior ponte basculante do mundo. Tem um vão de 92 metros, incorpora 1.300 toneladas de aço e foi inaugurada em 30 de Julho de 2007.
  10. A Ponte Pedro e Inês é uma ponte pedonal e de ciclovia sobre o rio Mondego, no Parque Verde do Mondego da cidade de Coimbra, a montante da Ponte de Santa …O Comprimento total: 274,5 metros Nome oficial: Ponte D. Pedro I e D. Inês de Castro .Data de abertura: 2007
  11. A ponte 516 Arouca é a maior ponte pedonal (paga-se para visitar) suspensa do mundo e está localizada em Arouca, no distrito de Aveiro, Portugal. Com 516 metros de comprimento e uma elevação de 175 metros, faz a ligação entre as margens do Rio Paiva. Enquanto percorre a ponte, terá uma vista deslumbrante sobre a Garganta do Paiva e a Cascata das Aguieiras, ambos geossítios do território UNESCO Arouca Geopark.A Ponte 516 Arouca está localizada em Arouca, junto aos famosos Passadiços do Paiva. Maio de 2021.
  12. A Ponte Internacional do Guadiana é uma ponte construída em 1991 por um consórcio luso-espanhol sobre o Rio Guadiana, e que permite a ligação entre Portugal …Altura máxima: 20 m Data de abertura: 22 de Agosto de 1991 Término da construção: 1991 Maior pilar: 100 m
  13. A Ponte do Freixo é uma ponte rodoviária que liga Vila Nova de Gaia ao Porto, sobre o rio Douro, em Portugal. Das pontes que ligam o Porto a Vila Nova de Gaia, a Ponte do Freixo é a que está mais a montante do rio Douro. Trata-se, na verdade, de duas pontes construídas em pórtico lado a lado e afastadas 10 cm uma da outra. A ponte tem oito vãos, sendo o principal de 150 m. comprimento total: 705 m Maior vão livre: 150 m É uma ponte rodoviária com oito vias de trânsito(quatro em cada lado), mas com um tabuleiro a cotas muitos inferiores à de todas as restantes pontes que ligam o Porto a Gaia. A Ponte do Freixo foi inaugurada em Setembro de 1995 pela então Junta Autónoma das Estradas.
  14. A Ponte Rainha D. Amélia, também conhecida por Ponte D. Amélia, é uma antiga ponte ferroviária portuguesa, que foi convertida para uso rodoviário. Término da construção: Finais de 1903. Comprimento total: 840 metros. A Ponte Rainha D. Amélia é considerada uma obra de engenharia notável, que foi inaugurada a 14 de Janeiro de 1904 pelo Rei D. Carlos.
  15. A Ponte de São João é uma infra-estrutura ferroviária que transporta a Linha do Norte sobre o Rio Douro, junto à cidade do Porto, em Portugal.Término da construção: 1991 Comprimento total: 1140 metros Data de abertura: 24 de Junho de 1991 Estilo arquitectónico: Ponte ferroviária
  16. A Ponte de Fão, ou Ponte Metálica de Fão sobre o Rio Cávado, localiza-se sobre o rio Cávado, entre a freguesia de Apúlia e Fão e a freguesia de Esposende, Término da construção: 1892 Início da construção: 1889
  17. A Ponte de Cavez localiza-se sobre o rio Tâmega, na freguesia de Cavez, município de Cabeceiras de Basto, distrito de Braga, em Portugal. Encontra-se classificada como Monumento Nacional desde 1910.  Endereço: N206, Mesão Frio Comprimento total: 95 m Localização: Braga
  18. Ponte Internacional do Baixo Guadiana é uma ponte sobre o rio Chança, com um comprimento de aproximadamente 150 m e uma largura de 11 m, localizada na fronteira entre Portugal e a Espanha, ligando a região portuguesa do Alentejo à região espanhola da Andaluzia.El Granado, Huelva, Espanha Comprimento total: 140 m Inauguração: 26 de Fevereiro de 2009 Província: Huelva Localização: Portugal-Spain border, Chanza Largura: 11 m
  19. A Ponte da Lezíria é uma ponte portuguesa sobre o rio Tejo e o rio Sorraia. Situa-se na A10, ligando o Carregado, concelho de Alenquer, na margem norte do rio Tejo, a Benavente, na margem sul, numa extensão de cerca de 12 km.  A10, Carregado Comp  total: 12 000 m Inauguração: Julho de 2007 Localização: Carregado, Benavente Início da construção: 2005   Ponte viga-caixão Maior vão livre: 972 m
  20. A Ponte da Mizarela, Ponte da Misarela ou Ponte dos Frades, localiza-se sobre o rio Rabagão, a cerca de um quilómetro da sua foz no rio Cávado, ligando as freguesias de Ruivães e Campos, no município de Vieira do Minho, e Ferral, no município de Montalegre.A Ponte do Diabo, como é conhecida a Ponte da Misarel. é sustentada por um único arco com cerca de 13 metros de vão. Erguida na Idade Média e construída no início do século XIX, encontra-se classificada como Imóvel de Interesse Público desde de 30 de Novembro de 1993.

A nova fome da Alemanha por carvão condena uma pequena vila.

O corte no fornecimento de gás russo para a Europa levou a Alemanha a intensificar o uso de carvão, apesar de seu objectivo de eliminá-lo até 2030.


LÜTZERATH, Alemanha - Durante meses, activistas ambientais obstinados acamparam nos campos e ocuparam as árvores nesta pequena vila agrícola no oeste da Alemanha, esperando que pessoas com ideias semelhantes de todo o país chegassem e ajudassem a impedir a expansão de um mina de carvão a céu aberto que ameaçava engolir a vila e suas fazendas.

Eles tinham motivos para serem optimistas. Protestos em massa levaram o governo alemão a intervir e salvar uma floresta antiga da expansão do carvão há apenas dois anos. E o Partido Verde teve seu melhor desempenho nas eleições do ano passado, um sinal de como o combate às mudanças climáticas se tornou uma questão política vencedora na maior economia da Europa.

“Se houvesse 50.000 na rua, os políticos teriam que fazer alguma coisa”, disse Eckardt Heukamp, ​​58, o último agricultor remanescente em Lützerath, que hospedou alguns dos manifestantes em apartamentos em sua propriedade. Outros construíram casas nas árvores, armaram barracas ou se mudaram para casas abandonadas na aldeia.

Mas o esperado aumento de manifestantes nunca se materializou. E na semana passada, o governo efectivamente selou o destino de Lützerath ao anunciar que a RWE, a maior empresa de energia da Alemanha, precisava do carvão sob a vila – para compensar o gás que havia parado de fluir da Rússia.

A guerra na Ucrânia e a perspectiva iminente de um Inverno sem combustível russo barato esfriou o entusiasmo na Alemanha por políticas mais verdes, pelo menos por enquanto. Numa nação que prometeu se livrar totalmente do carvão até 2030, foi um recuo abrupto – e para alguns, difícil.

Crédito...Ingmar Nolting para o New York Times

“A guerra de agressão de Putin está nos forçando a fazer maior uso temporário de linhita para economizar gás na geração de electricidade”, disse Robert Habeck, ministro da Economia alemão e Ex-líder do Partido Verde, referindo-se ao carvão de baixo teor sob a Vila. “Isso é doloroso, mas necessário em vista da escassez de gás.”

A Rússia já forneceu mais da metade das importações de gás da Alemanha – uma importante fonte de combustível para aquecimento. Depois que a invasão russa da Ucrânia desencadeou uma reacção em cadeia de sanções europeias e contramedidas russas, esse fluxo foi interrompido. Desde o início da guerra, o governo alemão sabia que teria que lutar por combustível para sobreviver ao Inverno que se aproximava.

Em Junho, Habeck anunciou a reabertura de algumas fábricas de carvão - uma pílula amarga após o sucesso dos Verdes, apenas alguns meses antes, em conseguir que o novo governo acelerasse sua saída do carvão em oito anos. Quando uma seca neste Verão agravou o nervosismo de energia ao retardar o transporte de carvão nos rios, o governo deu aos trens de carga que transportam carvão e outros combustíveis prioridade sobre os de passageiros.

E, no entanto, até agora, houve pouca reacção pública.

Uma pesquisa realizada neste Verão descobriu que 56% dos alemães eram a favor de reactivar as fábricas de carvão, com apenas 36% contra. Isso se compara aos 73% da população que apoiaram o fim do uso de carvão “o mais rápido possível” numa pesquisa de 2019.

Parte do motivo da falta de manifestantes em Lützerath pode ter sido a cautela entre muitos em enfrentar uma batalha perdida.

Crédito...Ingmar Nolting para o New York Times

"Estamos ouvindo de muitos que eles simplesmente não conseguem enfrentar isso", disse Cornelia Senne, uma teóloga que recentemente liderou um culto nocturno na igreja do lado de fora da porta da frente de Heukamp. “Com tudo o que está acontecendo, algumas pessoas não suportam assistir a outra catástrofe se desenrolar.”

Embora dezenas de milhares de activistas climáticos tenham marchado em cidades de toda a Alemanha no final de Setembro, eles concentraram suas demandas principalmente em questões como justiça climática para países em desenvolvimento e transporte público acessível – não o fim do carvão na Alemanha.

Desde o início da crise, a Alemanha viu um aumento de quase 5% na electricidade gerada a carvão. Actualmente, o carvão é responsável por quase um terço de toda a electricidade produzida na Alemanha.

Grande parte desse carvão vem de lugares como a mina Garzweiler perto de Lützerath, que é propriedade da RWE e onde algumas das maiores máquinas de escavação do mundo trabalham continuamente no poço de 12 milhas quadradas.

Durante décadas, quando o carvão era um modo de vida em grande parte da Alemanha, os moradores de comunidades como Lützerath aceitaram a inevitabilidade da mineração de carvão, incluindo uma exigência legal de se mudar e abrir caminho quando os governos estaduais fechavam acordos com empresas de energia como a RWE. Desde a Segunda Guerra Mundial, cerca de 300 aldeias alemãs foram arrasadas pelo carvão abaixo delas.

Mas os activistas esperavam traçar o limite em Lützerath, que já foi uma vila de cerca de 90 pessoas, e fazer da luta para salvá-la uma causa célebre. Mesmo que fracassassem, parecia que a cidade poderia ser a última aldeia alemã a ser exterminada pela mineração de carvão.

Mesmo muitos activistas climáticos admitem que a Alemanha precisará usar mais carvão “duro” neste Inverno. Mas eles insistem que isso não justifica a demolição de Lützerath, que fica acima de depósitos de linhita, a variedade mais poluente e suave.

“Estamos numa situação esquizofrénica: estamos indo para uma saída em 2030, mas ainda estamos permitindo que a RWE vá para o lignite em Lützerath”, disse Karsten Smid, activista alemão de clima e energia do Greenpeace. “Se você está fazendo isso pela crise de energia, não precisa do carvão de Lützerath.”

Cálculos de especialistas em energia publicados em Agosto sugeriram que o carvão sob Lützerath não é realmente necessário, mesmo com um aumento de curto prazo na demanda neste Inverno.

Autoridades alemãs, no entanto, sugerem que qualquer aumento nas emissões de carvão será compensado pelo fato de a RWE ter concordado com o prazo de 2030 para o fim do uso de carvão.

Embora as emissões do carvão provavelmente aumentem neste Inverno, Andrzej Ancygier, analista da Climate Analytics em Berlim, diz que é muito cedo para saber em quanto.

"Neste momento, analisar os números ainda não faz sentido, porque existem muitos factores", disse Ancygier, citando as condições climáticas e a questão de quando a França poderá reactivar sua enorme frota de fábricas nucleares e começar a exportar a electricidade que geram para a Alemanha.

Ancygier disse que as mudanças nas regras sobre a queima de carvão não afectarão o progresso de longo prazo da Alemanha em energia renovável, que ele prevê que continuará a constituir uma parcela cada vez maior do mix de energia da Alemanha. Os legisladores alemães concordaram com um novo conjunto de regras em Julho para promover as energias renováveis, tornando-as mais lucrativas para produtores menores.

Mas as pequenas e médias empresas temem que enfrentem a falência antes que possam chegar a um clima mais quente, e as famílias estão se preparando para quedas de energia se o Inverno for excepcionalmente frio.

Os manifestantes em Lützerath – activistas ambientais vestidos com balaclava, moradores de classe média de cidades próximas e uma comunidade religiosa que recentemente carregou uma cruz pela vila – dizem que estão exaustos por seus esforços, mas planejam continuar lutando.

Um activista, que se recusou a tirar a cobertura branca do rosto ou dar seu nome verdadeiro por medo de represálias legais, mora numa casa na árvore em Lützerath desde a Primavera e disse estar preparado para um confronto com a polícia quando as escavadoras finalmente venha.

Mesmo com o som das máquinas de mineração à distância, Heukamp recusou-se teimosamente a ceder, plantando colheitas na Primavera e colhendo no Verão e Outono. Ele colheu o último trigo desta temporada em Agosto.

Mas no início deste mês, Heukamp finalmente desistiu, empacotando seu equipamento e abandonando a fazenda da sua família.

Culpando a política estadual pela decisão de prosseguir com a destruição de sua fazenda, ele disse: “Se eles quisessem salvar esta vila, poderiam ter feito isso”.

A RWE não disse quando as escavadoras se moverão para nivelar a fazenda que Heukamp deixou para trás.

Crédito...Ingmar Nolting para o New York Times

Por Christopher F. Schuetze e Erika Solomon

https://www.nytimes.com/2022/10/13/world/europe/germany-coal-energy-climate.html

A barbaridade de Marcelo e a linda solidariedade de Costa

Com o seu enorme nariz político, Costa farejou o problema: está em curso a descredibilização acelerada das intervenções do Presidente da República. E o primeiro-ministro sabe perfeitamente quem tem sido o grande amigo dos últimos anos.

Estava escrito nas estrelas: um dia, Marcelo Rebelo de Sousa iria afogar-se na interminável torrente das suas próprias palavras. Um dia – e esse dia já tem data: 11 de Outubro de 2022 –, o Comentador da República iria proferir uma tremenda barbaridade, que chocaria o país. É uma simples questão de estatística: quem nunca se cala, quem improvisa em permanência, quem comenta de manhã, à tarde e à noite, está sujeito a cometer grandes erros. Marcelo já cometeu vários desde 2016, mas nenhum tão grande e tão grave quanto dizer que cerca de 400 queixas de abusos de menores por parte de sacerdotes católicos “não é um número particularmente elevado”.

Marcelo ainda tentou corrigir o que disse com novas declarações às televisões e uma nota no site da Presidência da República. Infelizmente, não melhorou a sua situação: apenas juntou a mentira à insensibilidade.

Deixem-me sublinhar a palavra “mentira”, porque este não é um tema para paninhos quentes, nem para desculpar pela enésima vez o Presidente da República. Sim, todos sabemos que Marcelo é dado a “marcelices”, mas isto não é uma nova vichyssoise, nem uma maldadezinha para divertir os leitores do Expresso.

É a terceira péssima intervenção sobre o tema dos abusos na Igreja, primeiro com uma absurda declaração a título “pessoal” acerca do carácter de D. Manuel Clemente e D. José Policarpo; depois com a trapalhada em torno do telefonema a D. José Ornelas sobre o envio para o Ministério Público da queixa de ocultação; e finalmente com esta inconcebível declaração sobre o número de abusos: “Haver 400 casos não me parece que seja particularmente elevado porque noutros países com horizontes mais pequenos houve milhares de casos.”

Mais tarde, Marcelo declarou à SIC: “Já percebi que foi mal interpretado o que eu disse, não percebo bem porquê, mas as pessoas têm todo o direito de não entender.” E depois escreveu no site oficial: “O Presidente da República sublinha, mais uma vez, a importância dos trabalhos desta Comissão, muito embora lamente que não lhe tenham sido efectuados [sic] mais testemunhos, pois este número não parece particularmente elevado face à provável triste realidade, quer em Portugal, quer pelo mundo.”

Não há aqui nenhuma má interpretação. Há apenas uma tristíssima cambalhota argumentativa, uma deslocação de palavras de um lado para o outro para fingir que não disse o que disse. Marcelo, fanático dos portugueses-melhores-do-mundo, tentou desvalorizar a dimensão dos casos denunciados em Portugal quando comparados com outros países. Ponto.

Problema: toda a gente viu. Está gravado. E as críticas choveram com uma agressividade inédita. Marcelo assustou-se. E – mais significativo – António Costa também, até porque muitas dessas críticas vieram do interior do PS. Na quarta-feira, o primeiro-ministro apressou-se a sair em defesa do Presidente, repudiando a “interpretação inaceitável que tem sido feita das suas palavras”. Todos conhecemos Marcelo, disse ele.

Pois conhecemos. Tal como todos conhecemos Costa muito bem. Com o seu enorme nariz político, ele farejou o problema: está em curso a descredibilização acelerada das intervenções do Presidente da República. E António Costa sabe perfeitamente quem tem sido o grande amigo dos últimos anos. Agora que até se anda a encostar à direita, não lhe dá jeito nenhum que se escangalhe a muleta de Belém. Infelizmente, não há nada aqui que se recomende – nem a barbaridade, nem a solidariedade.

João Miguel Tavares

O autor é colunista do PÚBLICO

quarta-feira, 12 de outubro de 2022

Da "mesquinhez" de Costa ao "falhanço político". Sócrates arrasa Governo em artigo de opinião sobre novo aeroporto e TGV.

"Há muitas décadas que não ouvíamos tamanho disparate” ou o “esforço bastante ridículo” do primeiro-ministro são algumas das críticas deixadas pelo Ex-primeiro-ministro.

José Sócrates publicou esta terça-feira um artigo de opinião no site do semanário Expresso intitulado: “Breve história de dois fracassos e do enorme esforço para os encobrir”. O Ex-primeiro-ministro refere-se ao novo aeroporto de Lisboa e ao TGV, aproveitando a oportunidade para fazer críticas ao Governo de maioria absoluta socialista, liderado por António Costa.

O antigo homem forte do PS diz que “sorrateiramente” e “sem que nada pareça ter mudado” o novo aeroporto e o TGV deixaram de ser “projectos faraónicos”, “elefantes brancos” e “desperdícios de dinheiros público” para entrarem “nas novas categorias de projectos absolutamente indispensáveis e absolutamente urgentes”.

“A mudança é feita com extremo cuidado pelo governo – retomamos os projectos do governo Sócrates, fingindo que não é nada disso que se está a passar. A história destes dois projectos é a história de um duplo fracasso político e de um enorme esforço de hipocrisia para os encobrir”, refere José Sócrates.

“Tantos anos, tantos governos, todos iguais, todos incapazes de decidir”, escreve, culpabilizando a “malícia da cobertura e análise jornalística”. O antigo primeiro-ministro lembra que “quanto ao aeroporto, a localização em Alcochete foi decidida em 2008, na sequência de uma avaliação ambiental estratégica e, dois anos depois, em 2010, o projecto tinha tudo para avançar na construção - estudo de impacto ambiental feito, avaliação ambiental aprovada, anteprojeto de construção e parecer positivo de todas as câmaras municipais envolvidas”, que  “tudo isto foi atirado para o lixo” e que agora “catorze anos depois voltámos ao ponto de partida”.

Já quanto ao TGV, Sócrates escreve no Expresso que este projecto “foi primeiramente cancelado em 2011 pelo governo da direita e três anos depois o Ministério Público tentou criminalizá-lo com acusações desonestas, absurdas e politicamente motivadas” e, sete anos mais tarde, em 2018, o governo socialista exprimiu finalmente a sua opinião sobre o projecto, considerando a alta velocidade “um tabu que duraria muito tempo”. “Bom, não demorou assim tanto”, ironiza Sócrates, lembrando que “este ano o projecto renasceu como ‘projecto revolucionário’ da ferrovia” e que “para trás ficam onze anos de atraso”.

A partir daqui António Costa ganha particular destaque ao longo do artigo de opinião de José Sócrates. O Ex-primeiro-ministro diz que o Executivo permanece “fiel à sua linha de frio calculismo” e que “fez tudo o que podia para fingir que o projecto TGV, agora apresentado como prioritário, nada tinha a ver com o anterior projecto do anterior governo socialista”.

“Sendo difíceis de perceber no contexto de um projecto ferroviário, são fáceis de entender como exercício retórico manhoso de quem pretende estar a apresentar uma ideia completamente nova, uma ideia completamente original, uma ideia em que ninguém antes havia pensado”, pode ler-se.

Costa e o seu “esforço bastante ridículo”

Para o antigo secretário-geral socialista, este “esforço é bastante ridículo” e “todos sabem o que o orador está a tentar fazer”. Sócrates salienta, no entanto, que a “tirada mais grandiosa nesse famoso discurso foi aquela em que garantiu que ‘este não é um projecto de ligação entre capitais peninsulares’ nem representa a ‘diluição de Portugal no todo peninsular’” e, apesar de admitir poder concordar com a ligação ferroviária entre Porto e Vigo, acaba por reagir a conexão Lisboa/Madrid assim: “Há muitas décadas que não ouvíamos tamanho disparate”.

Sócrates vai mais longe e diz que “nada no discurso do chefe do governo tem a ver com estratégia, mas com mesquinhez”, cujo “objectivo é encobrir o falhanço político do adiamento do projecto de alta velocidade”.

“Há trinta anos os espanhóis inauguraram a sua primeira linha, entre Madrid e Sevilha. Há trinta anos a viagem entre Porto e Lisboa demorava cerca de três horas e hoje dura duas horas e cinquenta. Julgo que estes dois pontos são bastantes para se perceber o significado político do adiamento do projecto e o custo que representou para o desenvolvimento do país”, escreve o Ex-primeiro-ministro.

Todavia, José Sócrates alerta que é necessário “compreender a razão de ser do adiamento destes projectos”, que imputa à “profunda mudança da cultura política que se foi acentuando e radicalizando nos últimos anos em Portugal e na Europa” e que adjetiva como “o extraordinário feito [da direita] de transformar qualquer investimento público em desperdício e lançar desconfiança sobre qualquer projecto público por mais importante que fosse”.

“A ideia de desenvolvimento e de modernização infraestrutural, que dominava o discurso político nas primeiras décadas democráticas, foi completamente abandonada no discurso público. Todo o investimento estatal é suspeito, tudo é um risco, tudo é uma aventura, tudo é desperdício de recursos”, refere.

“Foi a isto que chegámos”

Para o último primeiro-ministro com uma maioria absoluta em Portugal para além de António Costa, “a atitude reformista em favor do crescimento económico que antes falava em desenvolvimento, em educação, em tecnologia, em infra-estruturas foi posta de lado”, como consequência directa dos “números arrepiantes para um país cujo principal problema económico é a baixa produtividade são os seguintes”.

“Foi a isto que chegámos”, diz, por fim, referindo que “em termos de investimento público, infelizmente, o que a história dos últimos anos nos mostra é que direita e esquerda já não se distinguem” e garante que “esta é a verdadeira explicação para o fracasso destes dois projectos”.

https://cnnportugal.iol.pt/jose-socrates/antonio-costa/da-mesquinhez-de-costa-ao-falhanco-politico-socrates-arrasa-governo-em-artigo-de-opiniao-sobre-novo-aeroporto-e-tgv/20221011/634557750cf26256cd39f886

terça-feira, 11 de outubro de 2022

Exijamos ter um Presidente da República.

Por uma vez, será tempo de começarmos a discutir que tipo de Presidente queremos, em vez de nos debruçarmos sobre que tipo de candidatos podem aparecer.

11 out 2022, ‘Observador’

Nuno Gonçalo Poças - Advogado

Marcelo Rebelo de Sousa anunciou logo na sua tomada de posse como presidente da República, em 2016, que ali estava «pelo Portugal de sempre». Não nos podemos queixar: ele disse ao que vinha. Tornou-se, por isso mesmo, o Presidente incontestado, o preferido do situacionismo, do país imobilizado, em crise há 25 anos, cada vez mais dotado de instituições frágeis e permeáveis a todo o tipo de abusos, estagnado, empobrecido.

Conseguiu, não bastando o resto, ser cúmplice de abusos e instigador de sucessivas violações constitucionais: o que Marcelo permitiu e promoveu durante os dois anos de pandemia, em matéria de direitos, liberdades e garantias, foi um passo de gigante no processo de corrosão da democracia. E foi, já mesmo na sua antiga pele de analista de táctica política, mas também de antigo dirigente partidário, co-responsável, entre tantos outros génios da nossa praça, pelo caminho de degradação das instituições, da política e da sociedade.

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Bottom o Form

Foi ele, gabe-se o que há a gabar, que é preciso ser justo, o primeiro dos políticos portugueses a perceber que a política podia ser exclusivamente espectáculo e entretenimento, totalmente desprovida de substância, de ideias, de princípios, de construção de futuros. Compreendeu, no fundo, que podia fazer do espectáculo a própria substância. Tornou-se uma espécie de populista do bem, versão aparentemente soft e inofensiva dos outros populistas que ele próprio não aprecia.

Era, pois, inevitável que se tivesse tornado num Presidente da República que mais não fez do que nivelar a autoridade da chefia de Estado pelo índice de popularidade, o que o colocou mais perto de um entertainer do que de um político, e a sua dependência da popularidade acabou por se tornar mais nociva que benéfica para as instituições.

As televisões excitam-se há anos com este marcelismo versão pop, uma espécie de programa da manhã institucionalizado e elevado à representação do Estado, porque as televisões há muito que deixaram de exercer as funções do jornalismo, de perguntar, de questionar, de duvidar, de confrontar e, sobretudo, de exigir, porque perceberam que é o entretenimento que ainda vende o que vende.

Sendo justo, mais uma vez, Marcelo ofereceu o que tinha para oferecer. A sua carreira célebre e popular no comentário político era – é! – apreciada pela generalidade das pessoas: as que aprenderam a apreciar o espectáculo dominical de palavreado, mas também a própria imprensa, que à partida tinha obrigação de ser ligeiramente mais exigente do que um espectador de variedades. Foram muitos anos a estudar tácticas, estratégias, mensagens nas entrelinhas, interpretações sobre o que fulano ou sicrano quereriam realmente dizer, informações e papelinhos, uma especialização constante na intriga e no mexerico lisboeta, enfim, uma especialização televisiva em inutilidades. A substância política passou ao lado de décadas de bisbilhotice política. Pense-se no assunto uma semana inteira e não se encontrará uma ideia vinda daquelas bandas (com excepção, concedo, para o aborto, numa posição que foi sobretudo moral e religiosa e não política). Mas parece que o estilo é apreciado. Que dizer, afinal?

Um eleitorado na ressaca de uma bancarrota, estruturalmente envelhecido, conservador e pouco ambicioso, viu nele o remédio perfeito para essa mesma ressaca. Ao lado de um António Costa que se tornou Primeiro-ministro graças a cínicos malabarismos partidários, que anunciava felicidade a rodos e se tornara, assim, o parceiro ideal da estupidificação geral dos espíritos da pátria, os portugueses viram nas excentricidades do professor que se senta em Belém, do professor que arranja esquemas para ir a banhos, do professor que tira os calções na praia, do professor que vai às compras de calções, do professor que vai a pé pelas ruas, que beija, que abraça, que tira retractos, que encanta multidões como o Ronaldo encanta as bancadas e o Goucha encanta as velhinhas, os portugueses viram em tudo isto, dizia eu, a confirmação do que pretendiam: acima de tudo, que nada mudasse, mesmo que essa mudança anunciasse um futuro melhor, e que a política os divertisse, quando estavam habituados a que ela os aborrecesse.

Podia ter tido a seu favor a atenção que foi dando aos sem-abrigo, por exemplo, uma das bandeiras que levantou. Mas o número de sem-abrigos duplicou desde 2015 e Marcelo não conseguiu, apesar da sua presença diária nas televisões, encetar um discurso que apontasse o óbvio: o país não está melhor e, sim, podia estar muito melhor. É fraco resultado para uma bandeira política, mas quem se atreveria a perguntar ao genial professor, político de primeira água, como raio é que não se apresenta um resultado visível num dos poucos temas que tomou como importante?

O país não precisa de palavras de consolo, beijos e abraços, ou de ver permanentemente o seu Presidente a circular por entre as pessoas a tirar retractos. Precisava, sim, de um Presidente que tivesse uma ideia de políticas públicas que proporcionassem mais riqueza às pessoas e que substituíssem o miserabilismo militante, de mão estendida à Europa, que revelassem algum gosto pela vida independente e livre de ministros e secretários. Tal como não precisa de uma betoneira retórica que anuncia, a cada evidência de que o Estado foi capturado por uma clique de inúteis sanguessugas, que «é preciso apurar o que se passou», quando toda a gente sabe que não se vai apurar nada, que ninguém é responsável por nada, que nem assassinando um homem em directo nas televisões um ministro, sobretudo sendo socialista, acabaria demitido em menos de uma semana.

Dirão-me-ão as boas almas que será demasiado cedo para que se fale nas presidenciais de 2026. Não é. Se não é cedo para os interessados na eleição (uma saudação especial ao professor Santos Silva), também não é cedo para começarmos a falar de presidenciais. Tal como não é cedo para falar nas próximas eleições legislativas. Tanto o Governo como o Presidente têm pela frente uma série de anos não de mandato, no sentido em que ele exige o seu exercício, o cumprimento de metas, de objectivos, de resultados, mas de agonia institucionalizada. Costa e Marcelo, o senhor Feliz e o senhor Contente do pantanal lusitano, não merecem hoje oposição aos seus actos, às suas palavras ou às suas decisões: é o país que merece (que precisa!) uma alternativa. No Governo, naturalmente, mas também na Presidência.

Por uma vez, será tempo de começarmos a discutir que tipo de Presidente queremos, em vez de nos debruçarmos sobre que tipo de candidatos podem aparecer. É tempo, pois, de exigir um Presidente que não seja «de todos os portugueses», mas um Presidente que seja mesmo «da República»: que se preocupe mais com a autoridade do que com o poder e que a exerça sem calculismos; que seja capaz de, através da sua intervenção política, cuidar dos que mais precisam, mas, acima de tudo, de representar os sectores mais dinâmicos da sociedade, aqueles que estão mais perto do que queremos ser; que compreenda que «contas certas» não são um programa político, mas um mero exercício de responsabilidade que custou a entrar nas mentes pouco esclarecidas das nossas, vá, elites; que tenha, ele próprio, um programa político não necessariamente de natureza executiva, mas ideológica, filosófica, intelectual, que aponte caminhos, que denuncie erros, que não tema agir em conformidade com o seu programa; que fomente a cidadania autónoma, a construção de uma sociedade livre; que traga eixos políticos contra a estagnação, a corrupção e a mediocridade; que vigie o Governo, seja ele qual for; que proteja de facto os direitos, liberdades e garantias constitucionais; que promova o debate constitucional acerca das funções do Estado; que gere debate profícuo e que demonstre resultados, em lugar de representar um tipo de paternalismo iníquo de que o país não precisa se quer ter um futuro que lhe dê dignidade.

Exijamos um Presidente da República. Já é tempo de termos um.

Os cereais açucarados são alimentos saudáveis? E o salmão? Os EUA propõem mudar as regras para alimentos saudáveis

A agência de alimentos dos EUA estabelece que os alimentos devem atender aos limites exigidos para gorduras saturadas, sal e açúcares adicionados.

A Food and Drug Administration (FDA na sigla em inglês) do governo dos Estados Unidos acaba de propor uma nova definição do que é saudável na alimentação. O novo significado será aplicado às informações que aparecem nos rótulos nutricionais dos alimentos processados . Para dar dois exemplos do que entra e do que sai desta definição, a partir de agora o salmão e o abacate são considerados alimentos saudáveis, quando antes não eram devido ao seu alto teor de gordura, e os cereais com adição de açúcares, que se consideravam saudáveis, parem de se considerar assim.

Além disso, a FDA anunciou que está desenvolvendo um símbolo gráfico que os fabricantes de alimentos processados ​​podem usar para marcar seus produtos como saudáveis ​​quando atendem aos novos requisitos estabelecidos pelo governo, e um novo rótulo nutricional que deve estar na frente e não, como é o caso agora, na parte de trás ou na lateral. A Casa Branca anunciou que o novo sistema nutricional proposto pela FDA será comunicado nos alimentos por meio de símbolos facilmente identificáveis ​​pelos consumidores, como "uma classificação por estrelas ou um sistema de semáforo".

O novo sistema de informação nutricional americano contempla dois aspectos. Por um lado, novos alimentos saudáveis ​​devem conter uma quantidade "significativa" de nutrientes de pelo menos um dos grupos ou subgrupos recomendados pelas directrizes alimentares, como frutas, vegetais ou lacticínios. E, além disso, devem atender aos limites exigidos para gorduras saturadas, sódio (sal) e açúcares adicionados; portanto, o pão branco também não pode ser considerado saudável neste novo guia. Para a professora de Medicina e Saúde Pública da Universidade de Navarra, Maira Bes Rastrollo, esta actualização “é um passo em frente”. “E é um ponto muito favorável que tenham incluído açúcares adicionados, algo que o Nutri-Score não faz, o sistema que temos na Espanha”, acrescenta Bes Rastrollo, especialista em epidemiologia da nutrição.

Na Espanha, e por regulamentos comunitários, a informação nutricional é obrigatória em alimentos processados ​​desde 2011 e deve incluir a lista de ingredientes e a tabela de informações nutricionais. Mas esse mesmo regulamento da Comissão Europeia reconheceu que nem todas as pessoas conseguem compreender bem esse rótulo, pelo que propôs que, de forma complementar e voluntária, fosse acompanhado de informação na parte frontal do produto alimentar. E é isso que a Espanha fez com o sistema Nutri-Score em vigor desde 2021 e que é um dos que existem para transferir informações sobre se um alimento processado é saudável ou não.

O Nutri-Score é um algoritmo que dá uma nota a cada produto avaliado, de 1 a 5. Cada nota é associada a uma cor, de verde escuro a vermelho, e cada uma dessas cores a uma letra, de A a E. Quanto maior a nota, menor o valor nutricional do produto, pois o algoritmo soma pontos quando contém gorduras saturadas, sal, açúcares ou mais calorias, e subtrai pontos pela percentagem de frutas e verduras, óleos vegetais como azeitona ou soja e a contribuição de vitaminas e fibras.

Melhor que Nutri-Score

Outro aspecto em que a proposta norte-americana melhora o Nutri-Score , segundo Bes Rastrollo, é que o sistema norte-americano leva em consideração o tipo de alimento ao estabelecer os limites nutricionais: “Por isso surgiu o problema Na proposta norte-americana, o limite máximo de gordura é função do tipo de alimento considerado. Isso permite que você se adapte muito melhor”.

A declaração da FDA anunciando o novo significado de alimentos saudáveis ​​afecta os efeitos sobre a saúde daqueles que não o são. “Mais de 80% das pessoas nos Estados Unidos não consomem frutas, vegetais e lacticínios suficientes. E a maioria deles consome açúcares adicionados em excesso, gorduras saturadas e sódio. De acordo com os próprios dados do governo dos EUA, “O sobrepeso e a obesidade, que estão associados a comportamentos alimentares inadequados e actividades físicas, são os principais contribuintes para doenças crónicas nos Estados Unidos. A obesidade aumenta o risco de morbidade por doenças crónicas, como diabetes tipo 2, doença coronariana e alguns tipos de câncer, e também está associada a um risco aumentado de mortalidade por todas as causas”.

De acordo com os dados fornecidos pela própria FDA na apresentação do novo rótulo saudável, “em 2019, 42% dos adolescentes e 39% dos adultos afirmaram comer frutas menos de uma vez ao dia, enquanto 41% dos adolescentes e 21% dos os adultos disseram que comiam vegetais menos de uma vez por dia. E é isso que o governo americano quer mudar. "O passo que eles deram é positivo", diz Bes Rastrollo, "porque há evidências de que a informação nutricional correcta ajuda a mudar os hábitos de compra, mas acho que mais do que informação sobre o que é saudável, o consumidor precisa de informação sobre o que não é, pois fazem, por exemplo, os rótulos nutricionais no Chile”. Neste país, a informação nutricional dos alimentos industrializados é baseada em quatro selos que os alimentos que ultrapassam o limite estabelecido como saudáveis ​​devem levar: rico em açúcares, rico em gorduras saturadas, rico em sódio, rico em calorias.

A FDA lançou sua primeira definição de alimentos saudáveis ​​em 1994, mas as directrizes alimentares mudaram desde então, juntamente com os avanços na pesquisa nutricional. Em 2016, a Food and Drug Administration dos EUA iniciou o processo de actualização do que é considerado saudável na alimentação, que agora está culminando. Mas esse trabalho teve uma pausa, pois durante a presidência de Donald Trump o comité encarregado de definir as directrizes alimentares do país foi proibido de considerar os efeitos à saúde da carne vermelha, do sal e dos alimentos ultraprocessados. A administração Joe Biden, ao contrário, reactivou a adequação científica dos rótulos nutricionais que agora chega aos consumidores americanos.

EL PAÍS Salud y Bienestar

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VICTORIA TORO

Ela é jornalista científica. Foi correspondente científica e chefe da Society for Diario16 e correspondente em Nova York do La Voz de Galicia. É autora de dois livros, as biografias de Severo Ochoa, "Da bioquímica à biologia molecular", e "Marie Curie". Ele também criou e dirigiu exposições de ciência popular.