O drama dos imigrantes que vivem em casas ‘lata de sardinhas’
Vítor Rainho
A morte de dois imigrantes na Mouraria trouxe, de novo, à baila a forma como o Governo,
autarquias e privados recebem esses trabalhadores. É tão evidente que ninguém quer fazer
um levantamento exaustivo das condições em que muitos deles vivem, que faz confusão o
espanto que demonstram ao saber que vinte pessoas vivem numa casa minúscula. Há uns
meses entrevistei o primeiro-ministro de São Tomé e Príncipe, que mostrava estranheza
por ir a países vizinhos e perguntar pela greve dos professores do ensino público e receber
como resposta o tal espanto dos seus homólogos. “Mas há greve? Os nossos filhos têm ido
às aulas”, mais coisa menos coisa era o que dizia que ouvia da boca dos políticos locais.
Como não creio que tenhamos políticos que não saibam que no eixo que vai da Alameda
até ao Martim Moniz centenas de casas albergam largos milhares de imigrantes, alguns
dos quais quase em sistema de cama quente, não percebo a razão de ainda não se ter feito
um estudo exaustivo sobre o alojamento daqueles que procuram Portugal como local
de trabalho. Ou pensarão os políticos que a falta de alojamento a preços acessíveis só se
deve à compra de habitações por parte de estrangeiros endinheirados? Não sabem que
uma casa com um quarto e uma cozinha serve para dormirem 20 pessoas? E que é por
essa razão que alguns senhorios deixaram de alugar quartos a estudantes, por exemplo?
Mas o trágico acidente devia obrigar o Governo e as autarquias a fiscalizarem convenientemente-
te o alojamentos dessas pessoas, algumas das quais em trânsito em Portugal, onde precisam
de permanecer três anos até poderem rumar à Europa Central. Por muito que custe a mentes
mais sensíveis, muitos dos imigrantes estão nas mãos de máfias que os submetem a vidas mise
ráveis até conseguirem o passaporte para andarem no espaço Schengen. Fiscalizem quantas
pessoas dão a mesma morada no SEF, vejam como alguns personagens sem escrúpulos se
aproveitam desses novos escravos e actuem até para não dar azo a manifestações xenófobas.
P. S. Na zona onde vivo há vários imigrantes do Bangladeche e não creio que façam parte
do que acabei de descrever. Estão bem integrados, têm os seus negócios – mercearias e
cafés –, falam português e não me parece que vivam todos em casas ‘lata de sardinhas’. Até
pelo contrário, e há uns largos meses eu ia ficando em maus lençóis por os defender com-
tra uns energúmenos que gostam de viver sem lei e entravam na mercearia e levavam
produtos sem os pagar.
Inevitável
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