quarta-feira, 28 de agosto de 2019

O favor que António Costa fez à direita

Nestes quatro anos, Costa normalizou tudo aquilo que a direita se esforçou por conquistar, o que levanta uma questão simples: o que poderá dizer o PS contra um futuro governo do centro-direita?

Em quatro anos como primeiro-ministro, António Costa fez aquilo que um governo do centro-direita jamais poderia fazer em Portugal. Incentivou um ministro a presidir ao Eurogrupo, candidatou esse ministro ao FMI, promoveu operações-stop para caçar dívidas de automobilistas a caminho do trabalho, deixou que um banqueiro do sector privado escolhesse a lei que se lhe iria aplicar na Caixa Geral de Depósitos, implantou a maior carga fiscal de sempre, cativou os serviços públicos como nunca e, em jeito de cereja no topo do bolo, vergou um sindicato com a ajuda das Forças Armadas.

Qualquer governo de uma coligação PSD/CDS que se atrevesse a metade do narrado seria, imediatamente, acusado de corresponder à reencarnação lusitana de um tirano. O país pararia para enfrentar tamanha demonstração de autoritarismo e descaramento.

Fora de brincadeiras, é extraordinário como a complacência mediática permite isto ao Partido Socialista depois de tanto escrutínio ao governo anterior, que estava sob intervenção externa. Mais extraordinário ainda é como, de repente, os senhores do PS passaram a ser críticos das ligações partidárias de dirigentes de classes profissionais ou do timing político de manifestações e protestos, quando se fizeram valer de tudo isso durante a sua legislatura na oposição. Claro que a incoerência faz parte da política, onde o passar do tempo e a alternância democrática a tornam inevitável. Olhemos, então, não para o que aconteceu, mas para o que virá a acontecer.

Nestes últimos quatro anos, António Costa normalizou tudo aquilo que a direita se esforçou por conquistar – o rigor financeiro, o pragmatismo na gestão do Estado, o europeísmo como indispensável (até para o Bloco de Esquerda, imagine-se) –, o que levanta uma questão simples. Se aquilo que separa os partidos de poder é, hoje, cada vez menos visível, o que poderá dizer o PS contra um futuro governo do centro-direita?

Que “só pensam no défice”, quando será Centeno o primeiro a chegar ao 0%? Que se “ajoelham aos credores”, quando foi o mesmo Centeno a pagar tudo o que faltava pagar ao Fundo Monetário Internacional? Que “não respeitam os direitos dos trabalhadores”, depois do modo como o actual governo destratou os motoristas de matérias perigosas? Que “não querem saber do SNS”, quando hoje uma grávida não sabe onde acabará por parir quando entra num hospital público?

Conjunturalmente, é óbvio que a uniformização do discurso político (mais exportações, mais investimento estrangeiro, menos dívida) favorece os incumbentes. Foi assim que Costa roubou a aparência de responsabilidade aos partidos da direita, o que representa uma enorme mais-valia eleitoral, como o PS bem aprendeu em 2015. A sua resposta às crises dos professores e da energia foram exemplos paradigmáticos dessa percepção. No entanto, seria um erro e uma ingenuidade julgar que a uniformização entre os partidos de poder só afectará a direita.

É uma questão de tempo até ficarmos todos sem nada para dizer – e a política regressar à política.


Sebastião Bugalho

O pulmão está na Amazónia, do cérebro nem sinal

Está tudo tão inquieto com o alegado pulmão do mundo e não sobra nem um bocadinho de histeria para o hipotético esfíncter do planeta, de seu nome China? Curioso.

Assim como Roma teve Nero, o Brasil tem Bolsonaro. Os dois mais notáveis pirómanos da História. Nero incendiou Roma e, consta, tocou lira enquanto assistia ao fogo. De Bolsonaro não há indícios que tenha tocado fogo à Amazónia — para já, mas deixem os activistas trabalhar! –, agora a forma como incendiou as relações internacionais à conta deste tema foi espectacular. E o pódio da piromania internacional não ficaria completo sem um representante lusitano. Num honroso terceiro lugar fica o bem português Pirómano Desconhecido, em homenagem à horda de ateadores de incêndios não identificados que todos os anos provocam os fogos que indignam os portugueses. Menos, desde 2015, Catarina Martins, que enquanto é toda ela compreensão para com os fogos nacionais se indigna forte e feio com os fogos brasileiros num escandaloso assomo de intolerável xenofobia.

De entre os líderes internacionais irados com Bolsonaro a bicicleta vai para Emmanuel Macron. Perante a suposta passividade do governo brasileiro face à destruição do “pulmão do mundo que produz 20% do oxigénio do planeta” o presidente francês não escondeu a sua indignação. Já o verdadeiro motivo da indignação o estadista ocultou bem ocultado. E a revolta tem a ver de facto com oxigénio, mas apenas na medida em que Macron receia que o Brasil de Bolsonaro, tendo mais área para produzir fruta tropical da bem docinha e podendo exportá-la para a Europa, sufoque a indústria das desenxabidas pêras e maçãs gaulesas. Como sempre, são as grandes questões geopolítico-hortifrutícolas que definem o destino das nações. “Sim, pá, mas o Bolsonaro é um grunho!” É, mas as duas questões não são mutuamente exclusivas.

Além de que mesmo a ser verdade que a Amazónia produz 20% do oxigénio do planeta — não quero estragar a surpresa a quem ainda não googlou, mas sim, trata-se de um barrete de todo o tamanho — e se esse oxigénio desaparecesse todo por culpa do Bolsonaro qual era o drama? Não só não era um problema como até era bom para a saúde. Por exemplo, para uma pessoa com uma pulsação de 80 batimentos por minuto bastava treinar um bocadinho e baixar esse valor em 20% para as 64 pulsações por minuto. E pronto, gastávamos menos oxigénio, andávamos mais relaxados e ainda corríamos menos riscos de contrair problemas cardíacos. “Tudo bem, agora o Bolsonaro é uma besta, pá!” Certo, mas de que forma isso invalida o meu sagaz argumento?

Mas o mais surpreendente neste achaque internacional com o Brasil do tipo “O ar é de todos”, além do travozinho a neocolonialismo, é o óbvio preconceito orgânico que ele encerra. Então está tudo tão preocupado com a qualidade do ar e com a Amazónia, está tudo tão inquieto com o alegado pulmão do mundo e não sobra nem um bocadinho de histeria para o hipotético esfíncter do planeta, responsável por 30% do dióxido de carbono libertado para a atmosfera, de seu nome China? Curioso.

Talvez por ser mais seguro fazer bullying ao miúdo que ainda é primo afastado do que ao puto desconhecido que é especialista a passar indivíduos a ferro com um tanque no Grand Theft Auto Tiananmen e para quem Hong Kong significa Porrada Neles. “Eh pá, mas o que é inegável é que o Bolsonaro é um bronco!” Sem dúvida, embora isso em nada desvalorize este importante ponto.

Enfim, saudade para os governos de Lula da Silva. Com o Lula os fogos na Amazónia eram estupendos fogos. Eram fogos fecundos que geravam habitats com ainda mais diversidade de espécies ao permitirem que os nutrientes das plantas voltassem ao solo onde, graças ao calor gerado pelo lume, germinavam novos tipos de sementes criando assim condições benéficas para que a vida selvagem prosperasse. “Sim, sim, pá, só que o Lula é um corrupto de todo o tamanho!” Pois, lá isso é verdade.

Tiago Dores

segunda-feira, 26 de agosto de 2019

RANKED: The 29 richest countries in the world

Will Martin

Size doesn't always mean wealth when it comes to the world's richest countries, according to data published in April by the International Monetary Fund.

Twice a year the IMF releases a huge dump of data about the economic power of the world's nations, with gross domestic product (GDP) per capita a key statistic. The IMF ranks the world's countries according to their GDP based on purchasing power parity (PPP) per capita.

The PPP takes into account the relative cost of living and the inflation rates of the countries to compare living standards among the different nations.

The small countries that dominate the top ten all have small populations compared to countries that lead the world purely in terms of GDP — such as the United States, China, or Germany.

Most of these small nations heavily depend on immigrant workers who often do not reside in the country they are working in or are not granted resident status, and are therefore not counted in the GDP per capita calculations.

We've included all the countries with a GDP per capita higher than $45,000 per year. Check them out below.

https://www.businessinsider.com/the-richest-countries-in-the-world-2018-5

Os selos que deve ter no para-brisas e quais deixaram de ser obrigatórios.

Actualmente, o único selo que é obrigatório colocar no para-brisas é o do seguro automóvel. No entanto, há excepções. No caso dos veículos a GPL, estes devem ter ainda um dístico azul ou verde na traseira do carro. Se ainda tiver o azul, pode pedir a actualização do mesmo, passando por uma inspecção B. O verde serve para poder estacionar o carro em parques fechados

Assim, o selo de inspecção que até agora também era obrigatório, deixa de o ser, com a entrada em vigor do decreto-lei n.º144/2012 de 11 de Julho. No entanto, será necessário possuir uma ficha de inspecção. Também o comprovativo de Imposto Único de Circulação deixa de ser obrigatório no para-brisas.

A falta do único selo obrigatório é uma contra-ordenação, que lhe pode custar 125 euros, se provar no acto da fiscalização ter o seguro válido, ou 250 euros. Caso não tenha a inspecção feita, a coima pode ir dos 250 aos 1250 euros.

Revolução nos dados pessoais.

As regras do jogo mudam já este mês, com a entrada em vigor, em toda a União Europeia, do Regulamento Geral da Protecção de Dados (RGPD), o documento que mais irá revolucionar a forma como as empresas tratam os dados pessoais dos seus clientes ou utilizadores. Este artigo foi originalmente publicado na edição de Maio de 2018 da revista EXAME.

regulamento foi publicado em 2016, com um prazo de adaptação de dois anos, para que o tecido empresarial tivesse tempo suficiente para adoptar as novas regras. Escreveram-se milhares de artigos sobre o tema, realizaram-se centenas de debates e de sessões de esclarecimento. Com um prazo tão alargado, seria de esperar que toda a gente estivesse mais do que preparada para as mudanças que aí vêm… mas não. Muito pelo contrário. Segundo uma sondagem recente realizada pela IDC, apenas 2,5% dos gestores portugueses admitiram que a sua empresa está preparada para lidar com a nova lei de protecção de dados.

Preocupado? Deveria estar, mas, a avaliar pelos inquéritos semelhantes realizados noutros países, os resultados não são tão desanimadores. Na Alemanha, por exemplo, país que por norma mais se prepara para este tipo de mudanças, uma sondagem da Computerwoche garantia que apenas 2% das empresas estavam realmente preparadas para as alterações. E metade delas mostrava-se preocupada se conseguiria ou não cumprir todos os requisitos exigidos dentro do prazo. No Reino Unido, 89% dos gestores admitiram que ainda estão confusos com as alterações que a lei irá trazer. Em França, na Irlanda e na Holanda, o panorama não é substancialmente diferente.

Este grau de impreparação do tecido empresarial para o novo regulamento levanta muitas dúvidas quanto à sua entrada em vigor no próximo dia 25 de Maio. Mas não só. Há outros receios por parte dos empresários. José Eduardo Carvalho, presidente da AIP, diz à EXAME:
“As principais preocupações das empresas nesta matéria centram-se nos custos de implementação, no prazo de aplicabilidade e nas coimas em caso de infracção.”
A implementação de medidas que satisfaçam os requisitos do RGPD requer investimento e nem toda a gente tem capacidade financeira para o fazer, tal como defende Ana Jacinto, presidente da AHRESP, associação que representa a restauração e a hotelaria. Este é um processo de adaptação “oneroso e complexo, incomportável e injustificado para muitas delas, em especial no que diz respeito às micro e às PME”, que representam 99% do tecido empresarial português.
As várias consultoras e escritórios de advogados, contactados pela EXAME sobre o processo de adaptação a este novo regulamento, admitem que muitas empresas, sobretudo as de pequena e média dimensão, ainda não estão preparadas. Reconhecem que, à medida que o prazo aperta, a procura de ajuda por parte de empresários, nomeadamente PME, aumenta exponencialmente.

Magda Cocco, sénior partner do escritório de advogados Vieira de Almeida, VdA, diz que existe já um grande nível de cumprimento das regras por parte de grandes empresas, sobretudo em sectores regulados, como a saúde, a banca e os seguros. “Tivemos empresas que começaram a trabalhar nas mudanças para este regulamento no dia seguinte à sua publicação, em 2016”, salienta. Mas casos como este são a excepção. A maioria das empresas está longe de assegurar uma transição atempada. É por isso que José Eduardo Carvalho defende “uma prorrogação do prazo para a implementação do RGPD por mais 24 meses”.

E, se para as empresas mais comuns o processo é difícil, fomos perguntar às grandes operadoras de telecomunicações que lidam com milhões de dados, e muitos deles interligados entre si, como é que está a ser a adaptação à lei. “É um desafio brutal. De facto, é violento para quem gere uma multiplicidade de dados como nós fazemos”, disse Alexandre Fonseca, presidente-executivo da Altice Portugal. Apesar das dificuldades, o gestor garante que a sua empresa “irá cumprir” o regulamento, mas aproveita para apelar ao regulador “que tenha o cuidado de perceber o balanço entre o cumprimento escrupuloso, ou até por vezes com excesso de zelo, da legislação e um tratamento no espírito da lei, mas não necessariamente só na letra da lei”. Alexandre Fonseca considera que, pelo menos numa primeira fase, as empresas “terão de ter alguma flexibilidade para, por um lado, garantir a privacidade dos cidadãos”, e, por outro, também manter “o desenvolvimento de projectos. Caso contrário não é gerível”, realça.

Filipa Carvalho, directora jurídica e de regulação da NOS, admite que “o novo regulamento traz enormes desafios e orientações bastante exigentes”, razão pela qual defende que, “dada a complexidade das novas regras, parece-nos natural que venha a existir um período de adaptação”.

O que aí vem
Mas, afinal, o que assusta tanto os gestores e os empresários? Vamos por partes. O RGPD foi desenvolvido a pensar na harmonização da legislação europeia em matéria de dados e traz inúmeras mudanças, quer para as pessoas quer para as empresas ou outras entidades que lidam com informações pessoais. Protege os direitos do utilizador em praticamente todas as formas concebíveis e entende que a recolha e o manuseamento de dados deverão estar sempre protegidos em todas as fases do processo. Mais: os consumidores podem saber, sempre, o que as empresas estão a fazer com eles.

O RGPD consagra direitos que, apesar de já estarem definidos na lei que se encontra em vigor desde 1995, não eram respeitados, como, por exemplo, a alteração do consentimento e o direito ao esquecimento. No primeiro caso, sempre que uma pessoa disponibiliza os dados num determinado serviço, este pede-nos que aceitemos algumas regras. Esse acordo ficava em vigor e era muito difícil de mudar. Agora, as empresas são obrigadas a ter um sistema que permite ao utilizador alterar o seu consentimento sempre que o queira.

No segundo caso, o utilizador pode, em qualquer altura, pedir que os seus registos na base de dados sejam apagados, o chamado direito a ser esquecido. Para as empresas, este é um dos casos mais complicados de resolver, porque muitos dos sistemas que processam estes dados estão replicados. Por exemplo, a quem nunca lhe aconteceu pedir que apaguem o nome de uma base de dados para efeitos de marketing, mas, passado um mês ou dois, estão a ligar outra vez porque o nome estava noutra base de dados da empresa? Com o RGPD, esta situação terá de mudar. O pedido de esquecimento obriga a que tudo seja apagado.

Agora é a doer
Apesar de todas as alterações que irão ocorrer, as multas elevadas são a grande preocupação da comunidade empresarial. Estas podem chegar aos 20 milhões de euros ou a 4% da facturação de uma empresa, consoante o valor mais elevado. Este é o montante máximo das coimas, mas cada Estado-membro pode fazer uma graduação dos valores em função do tipo de incumprimento. Por exemplo, o Governo português já definiu os valores mínimos das coimas a aplicar em Portugal. Para pessoas individuais, o valor será 500 euros para as contra-ordenações graves, e mil euros para as muito graves. Para as pequenas e médias empresas, as coimas serão mil e dois mil euros, respectivamente, e, para as grandes, os valores sobem para 2 500 e 5 000 euros. O Estado fica, para já, isento de multas, mesmo em caso de infracções. José Eduardo Carvalho não concorda e defende “a redução significativa das coimas”, censurando “a sua não aplicabilidade às entidades públicas”.

Antes, as multas funcionavam quase exclusivamente por denúncia. Uma das contra-ordenações típicas era a do cliente que se queixava por ter sido contactado por uma determinada empresa, após já lhe ter dito que não queria ser incomodado com ofertas de serviços. Outra era a das videovigilâncias não assinaladas. Poucas mais havia. Agora o caso é sério e, além das denúncias, o regulador terá uma maior capacidade de fiscalização das actividades de cada entidade.

Para lá das multas, a outra grande mexida na lei assenta na necessidade de notificação do regulador sempre que haja uma falha na
segurança das bases de dados. Entende-se como falha de segurança a destruição, perda, alteração, divulgação não autorizada ou acesso a dados pessoais – ataque de um hacker, roubo de um computador ou de uma pen com informações, entre outras. Sempre que tal aconteça, a empresa é obrigada a reportar o sucedido à Comissão Nacional de Protecção de Dados e, em caso de ser uma situação grave, terá de fazê-lo também aos seus titulares.

Outra das maiores mudanças trazidas pelo RGPD é a forma como se inicia um procedimento que envolva o tratamento de dados. Até agora, a lei previa que, antes de começar a recolha ou o processamento de dados, a entidade tinha de pedir autorização ou notificar a Comissão Nacional de Protecção de Dados (CNPD). Por exemplo, tinha de se pedir autorização antes de se instalar câmaras de videovigilância ou quando se fazia bases de dados que definiam características ou padrões de comportamento (profiling) dos clientes, etc. Esta necessidade de autorização desaparece. Cada empresa pode, pura e simplesmente, começar a fazê-lo sem necessitar de autorização – mas não para todos os tipos de dados. Está ainda por publicar uma lista de quais os dados mais sensíveis que obrigam a um pedido de autorização à CNPD para fazer o seu processamento.

O regulador dá mais liberdade mas impõe multas elevadas que servem de factor de dissuasão perante o incumprimento e que aumentam a capacidade de fiscalização.
Neste âmbito, o regulamento obriga as empresas a munirem-se de uma série de medidas e de um conjunto de procedimentos para verificarem se o regulamento é ou não cumprido. Uma delas é o Privacy by Design, que significa que todos os sistemas informáticos desenhados para o processamento de dados terão de ser concebidos já com estes novos procedimentos previstos no RGPD. Além disso, as empresas terão de criar um sistema de auto-avaliação permanente da protecção das bases de dados (Privacy Impact Assessement) que estão na sua posse, bem como arquivar todos os procedimentos feitos com esses dados, incluindo a tipologia, o tempo durante o qual estiveram na sua posse e se foram exportados para países fora a União Europeia.

Apesar de ser um regulamento comunitário, este abrange empresas estrangeiras em duas situações: quando há controlo online de dados de cidadãos europeus (redes sociais) e quando existe uma oferta online de produtos e de serviços na União Europeia (sites de vendas). O regulamento obriga a que essas empresas tenham um representante estabelecido na Europa.
Por último, o RGPD cria uma nova figura para os quadros das empresas que lidem com dados: o encarregado de Protecção de Dados, do inglês Data Protection Officer (DPO).

Um novo gestor
Não basta uma empresa ter uma base de dados para ser obrigada a ter um DPO: Apenas se a sua actividade implicar um controlo sistemático do comportamento dos titulares dos dados ou se Esta tratar, em grande escala, de categorias especiais de informações (saúde, financeiras, criminais, entre outras).

Mas a lei ainda não é clara sobre a definição de grande escala, pois varia de país para país. Certo é que os bancos, as seguradoras, os hospitais, etc., terão de criar esta nova figura nos seus quadros.

Existem ainda outras lacunas na lei. Por exemplo, esta não é explícita se um conglomerado económico necessita de apenas um DPO para todo o grupo ou se terá de ter um em cada empresa. Além disso ainda não está determinado que lugar este novo cargo irá ocupar na estrutura de governação da entidade empresarial. Mais uma vez, a lei é pouco clara, e apenas diz que tem de reportar à administração ao mais alto nível. Ou seja: o CEO não tem desculpa para não estar informado sobre o tema.
O sector público também será obrigado a ter um DPO, mas ainda está em discussão na Assembleia da República se este será comum para todos os serviços ou se cada um deles terá o seu próprio encarregado de protecção de dados. A lei aponta no sentido da segunda versão, mas ainda não está fechada.

Segundo Magda Cocco, existe neste momento alguma dificuldade de as empresas identificarem e contratarem gestores para este cargo. “Não há no mercado pessoas com o know-how necessário para esse tipo de função”, salienta.

Cuidados a ter
O marketing é o caso que tem gerado mais contra-ordenações em termos de violação do uso de dados e, segundo os especialistas contactados pela EXAME, deverá ser o sector em que poderá haver mais problemas nesta fase inicial, devido aos processos automáticos de recolha e de tratamento já existentes. Por exemplo, uma empresa que faça profiling automatizado, apesar de ser uma prática legítima, necessita da autorização da pessoa a quem esses dados pertencem para os poder analisar. Quando compramos um produto e nos pedem uma série de dados, essa empresa não necessita deles para aquela transacção. Deseja-os para fins de marketing pessoal. A utilização indevida dessa informação é uma típica situação de incumprimento.
Além disso, com a aplicação do RGPD, “as pessoas ficarão mais conscientes e alertas para o tema e irão contactar mais as empresas para saberem que tipo de dados é que estes têm sobre si e, consoante as respostas, as empresas poderão ter problemas”, diz Magda Cocco.

Uma nova era

E se tudo isto já gera muita confusão, então prepare-se para o que aí vem. É que o tema não vai ficar fechado no dia 25 de Maio. Ainda falta vir a lume uma série de orientações da autoridade nacional, como os tratamentos de dados que estão sujeitos a autorização prévia, os que não estão sujeitos ao Privacy Impact Assessement, etc. Além disso, há outro regulamento comunitário que ainda está em discussão e que irá entrar em vigor mais tarde, o ePrivacy, que definirá as regras aplicáveis ao tratamento dos dados dos operadores de telecomunicações, bem como os dos over the top (skype, WhatsApp) e a qualquer sector que comunique através de meios digitais. O documento já vai na quinta redacção e ainda não está fechado. Se o RGPD teve mais de quatro mil emendas desde que começou a ser discutido, este teve ainda mais.

Terá também um período de adaptação, apesar de ainda não se saber de quanto tempo.
A Europa está inundada de incertezas em relação à protecção de dados pessoais. Mas uma coisa é certa. A primeira empresa a ter um problema de violação da lei após o dia 25 de Maio irá abrir as manchetes em todo o mundo. Falta saber o valor das primeiras multas. Estas poderão determinar se os reguladores terão ou não mão pesada para os prevaricadores. No mundo digital há o antes e o depois do RGPD. E a protecção de dados nunca mais será a mesma.

Paulo M. Santos - Visão

O crescimento económico em Portugal 2015/2019.

O aumento do crédito ao sector público, a redução do crédito ao sector privado e aos particulares, e os lucros num sector em crise e cada vez mais dominado pela banca estrangeira.

Eugénio Rosa

O crédito à economia e às famílias não tem aumentado, e a subida residual do crédito é devida ao crescente endividamento das Administrações Públicas.

A perda de quota de mercado pela Banca Portuguesa (CGD e Montepio) e o aumento do domínio da Banca Estrangeira torna o país dependente de centros de decisão no exterior

O quadro 2, com dados dos Balanços consolidados dos 6 principais bancos a operar no país mostra o crescente domínio da banca estrangeira cujos centros de decisão estão no exterior.

Lucros obtidos fundamentalmente à custa dos depositantes e da redução de custos, nomeadamente à custa dos trabalhadores da banca

O quadro 3, com dados de 2015 e 2018 dos relatórios e contas (consolidadas) dos 6 principais bancos a operar em Portugal mostra de forma clara e quantificada como estes bancos têm obtidos lucros.


domingo, 25 de agosto de 2019

'HOJE, O FABULOSO GERALDINHO'

Um casal passa a lua de mel em uma linda cidade.

Numa casa de espectáculos pornô o letreiro anuncia:

'HOJE, O FABULOSO GERALDINHO'.

Entram e o show começa com GERALDINHO, 51 anos, numa cama com um louraça, uma morenaça e uma ruivaça, que ele traça, uma a uma …. e depois repete.

As três mulheres, exaustas, deixam o palco, enquanto GERALDINHO agradece ao público, que de pé aplaude efusivamente.

Sob o rufar de tambores, uma mesinha com 3 nozes é colocada bem no centro do cenário.

GERALDINHO quebra as 3 nozes com o pénis, com pancadas precisas.

O público vai à loucura e ele é ovacionado por vários minutos !

Passados 25 anos, para recordar os velhos tempos, o casal decide comemorar as bodas de prata na mesma

cidade.

Passeiam pelos mesmos lugares e, diante da mesma casa vêem, surpresos, o cartaz:

'HOJE, O FABULOSO GERALDINHO’.

Entram e no palco, quem está lá ?

O GERALDINHO, agora com 76 anos, enrugadinho, cabelos brancos, traçando 3 mulheres

com o mesmo pique.

Não dá pra acreditar ! ! !

Quando os tambores começam a rufar, é colocada no centro do palco a mesma mesinha, agora com 3 cocos,

e ele os quebra com o pénis com a mesma precisão.

Boquiaberto, o casal vai ao camarim para cumprimentar pessoalmente o fabuloso GERALDINHO e,

curiosos, lhe perguntam o motivo da mudança das nozes para cocos.

Meio sem graça, ele responde:

- A VELHICE É UMA MERDA !

A VISTA ESTÁ FRACA E NÃO CONSIGO MAIS ENXERGAR AS NOZES.

sexta-feira, 23 de agosto de 2019

Português não é para amador…

A diferença de doida e doída é um acento.

Assento não tem acento.

Assento é embaixo, acento é em cima.

Embaixo é junto e em cima separado.

Na sexta comprei uma cesta logo após a sesta.

É a primeira vez que tu não vês.

Vão tachar de ladrão se taxar muito alto a taxa da tacha.

Asso um cervo na panela de aço que será servido pelo servo.

Vão cassar o direito de caçar de dois pais no meu país.

Por tanto nevoeiro, portanto, a cerração impediu a serração.

Para começar o concerto tiveram que fazer um conserto.

Ao empossar permitiu-se à esposa empoçar o palanque de lágrimas.

Uma mulher vivida é sempre mais vívida, profetiza a profetisa.

Calça você bota, Bota você Calça Oxítona é Proparoxítona
 
Realmente, não é para amador!

(Desconheço a autoria)

O SEU SEGURO AUTOMÓVEL SEGURA MAIS DO QUE VOCÊ PENSA.

Muitos milhares de portugueses estão a pagar seguro automóvel e nunca accionam uma determinada cobertura por não saberem que têm esse direito. Podem poupar centenas ou milhares de euros numa emergência quando estão de férias, mas as seguradoras não fazem muita questão de realçar que essa cobertura existe

TEXTO PEDRO ANDERSSON

Muitos de nós pagamos seguros e nunca chegamos a usá-los, porque… nem sabemos que existem. Se tem um seguro automóvel, há uma cobertura que pode usar em caso de emergência, e que poderá ajudá-lo a poupar centenas ou milhares de euros, mesmo que tenha deixado o carro em casa. É a assistência em viagem.

Mas isso não é só para o reboque do carro? Não. Veja este exemplo. Em 2012, Rui Rodrigues estava de férias numa estância de esqui em Andorra. Ele, a família e uns amigos foram de autocarro. O carro ficou em Portugal. No penúltimo dia de férias, depois do jantar, Rui começou a sentir-se mal. Chamaram o 112 e foi para um hospital particular em Andorra, onde lhe diagnosticaram um tumor na cabeça. Ele era saudável e nunca suspeitou. Podia ter acontecido a qualquer um de nós. Rui esteve internado 2 dias. A situação seria grave em qualquer circunstância, mas neste caso foi pior por estar no estrangeiro. Felizmente, a mulher de Rui percebe de seguros e ligou para a seguradora do carro que, sublinho, ficou em Portugal.

A assistência em viagem do seguro do carro pagou todas as despesas que Rui teve no estrangeiro, incluindo o transporte em ambulância com enfermeiros de Andorra para Portugal. Também pagaria o hotel da mulher de Rui, mas não foi necessário, porque ela dormiu no hospital.

A ASSISTÊNCIA EM VIAGEM É PARA SI E NÃO (SÓ) PARA O CARRO.

Esta cobertura de despesas médicas, alojamento e bilhetes de viagem em caso de acidente ou doença só pode ser usada quando está no estrangeiro. Mas pode acontecer a qualquer um de nós ou a um familiar nosso. Também inclui os filhos ou os pais, se viverem consigo.

Em que situações esta cobertura pode ser accionada? Por exemplo, pode torcer um pé na piscina no hotel em Cabo Verde ou no Brasil. Ou pode apanhar uma gripe em Nova Iorque ou em Paris. Ou pode desmaiar sem razão aparente em Madrid ou Berlim e precisar de ir a um médico ou a uma farmácia. Pode ter de regressar de urgência a Portugal ou, pelo contrário, continuar lá mais uns dias ou semanas. O seguro pode pagar, se accionar a cobertura.

Os portugueses viajam cada vez mais, seja em trabalho seja em férias. É nessas alturas que deve lembrar-se dos papéis que tem na gaveta. E não se esqueça que por vezes pagar mais 1 ou 2 euros de seguro (para ter uma cobertura melhor) pode fazer muita diferença.

CONTRATAR O SEGURO BASE OU O VIP?

Quando contrata um seguro automóvel, ele inclui sempre a assistência em viagem: Para poupar uns cêntimos, pode escolher o mais barato, mas o valor que o seguro pagará no caso de o accionar poderá ser muito baixo, ou nenhum. Por exemplo, quando preparava a reportagem do Contas-poupança que pode ver em vídeo na página da SIC Notícias, verifiquei que um colega tinha na apólice uma assistência em viagem “Light”, ou seja, nas letras miudinhas dizia que era só aplicável em Portugal continental. Ou seja, se tiver um problema no estrangeiro, o seguro não paga NADA. Leia a sua apólice antes de ir de férias este ano.

PODE SER A SUA SALVAÇÃO EM FÉRIAS

Se paga, convém que saiba que o pode utilizar se precisar. Leia o documento que lhe deram quando fez o seguro do carro.Tem esse documento em casa ou no seu e-mail. Cada caso é um caso. Tem de ler o que contratou.

Recebi dezenas de mensagens de espectadores a agradecer a reportagem. Alguns passaram por problemas de saúde (ou familiares) no passado e tiveram de pagar tudo do próprio bolso, porque não faziam ideia de que o seguro pagava essas despesas. Agora já sabem. Mas também recebi mensagens de espectadores que foram ler a apólice e reclamaram que não dizia lá nada disso. Pois. Tem de saber o que contratou. Os seguros mais baratos têm tantas excepções e limites que provavelmente não tem mesmo direito a essa assistência em viagem. Mas aí é simples. Agora que já sabe é só ligar para o seu mediador de seguros e pedir um seguro melhor na próxima anuidade, pelo mesmo dinheiro.

Eu tive curiosidade em ver o que dizia o meu seguro. Fui aos arquivos e verifiquei que tenho afinal muito mais coberturas do que pensava. Sabendo isto, é claro que as vou usar quando precisar. Aliás, vários espectadores disseram-me que falaram com os mediadores quando precisaram e que lhes disseram que não havia nada disso. Descobriram agora que afinal podiam. Nem o mediador se lembrou do seguro de assistência em viagem do carro. Só se lembraram do seguro de viagem propriamente dito.

Peça o documento com as condições particulares do seguro automóvel à sua seguradora. Tem lá os valores que o seguro cobre em cada categoria. Por exemplo, descobri que se me roubarem no estrangeiro, a seguradora manda-me dinheiro (1.000 euros) para eu me desenvencilhar, embora tenha de os devolver quando regressar a Portugal. E que me ajudam a encontrar as malas perdidas, se isso acontecer. Tenho uma lista enorme de serviços que são obrigados a prestar-me para me dar assistência em viagem. E melhor: aplica-se a qualquer pessoa que viva comigo em casa, mesmo que eu não tenha ido com eles (filhos, marido, mulher ou pais, avós). As coisas que descobrimos quando nos dispomos a ler.

Mas há outras situações igualmente graves que podem ser cobertas pelo seguro de assistência em viagem. Se estiver fora do país e morrer um familiar seu, o seu seguro do carro pode pagar a viagem de avião de regresso. Se tiver um incêndio ou inundação em casa enquanto está no estrangeiro, o seguro pode pagar a sua viagem de regresso.

TEM DE LIGAR ANTES DE FAZER QUALQUER DESPESA

Mas há uma regra de que não pode esquecer-se. Tem de ligar logo para o seguro. Não pode apresentar as despesas depois. A excepção é se estiver inconsciente. Deve contactar a seguradora o mais depressa possível, para ser ela a tratar de tudo. Se apresentar as despesas depois, quando chegar a Portugal, a seguradora não vai aceitar.

Faça uma listagem de todos os seus seguros e as respectivas coberturas. E, quando viajar, leve sempre uma foto do número das suas apólices no seu telemóvel ou guardadas no e-mail.

É daquelas coisas que era bom que nunca precisasse delas, mas já que existem e que as paga, se um dia precisar lembre-se que as coberturas da assistência em viagem vão muito além do reboque.

Fiquei extremamente contente com as reacções a esta reportagem. De facto, é um gosto sentir que o jornalismo pode ser útil às pessoas. Garante-me que a missão do jornalismo não está perdida — pelo contrário. Parece uma coisa simples, mas acreditem que estas informações podem um dia fazer a diferença na vida das pessoas. Conhecer os nossos direitos enquanto consumidores é o primeiro passo para termos uma vida (um pouco) melhor. Consumidores informados estão mais bem protegidos.

https://leitor.expresso.pt/diario/segunda-20/html/caderno1/lazer/o-seu-seguro-automovel-segura-mais-do-que-voce-pensa

A Minha Rua

O que é "A Minha Rua"?

"A Minha Rua" é uma plataforma que permite reportar variadas situações relativas ao espaço público. É desenvolvida e gerida pela Agência para a Modernização Administrativa em conjunto com algumas Autarquias.

A minha Rua permite aos cidadãos reportar as mais variadas situações relativas a espaços públicos, desde a iluminação, jardins, passando por veículos abandonados ou a recolha de electrodomésticos danificados. Com fotografia ou apenas em texto, todos os relatos são encaminhados para a autarquia seleccionada, que lhe dará conhecimento sobre o processo e eventual resolução do problema.

https://servicos.portais.ama.pt/Portal/AMR/situationReport.aspx

quinta-feira, 22 de agosto de 2019

Soares dos Santos vs Sócrates, 2011

À conta de Alexandre Soares dos Santos temos: i) Sócrates megalómano; ii) Sócrates mentiroso e iii) Sócrates perseguidor de jornalistas. Um clássico pague 1-leve 3.

Muitos dos bons negócios de Alexandre Soares dos Santos deveram-se ao seu sentido de oportunidade. A opção de investir na Polónia, a ida para a Colômbia, o lançamento da Fundação Francisco Manuel do Santos, tiveram sucesso devido ao momento decisivo em que se avançou. A prova que Soares do Santos era um empresário acima do comum é que esse sentido de oportunidade, que tão bem demonstrou em vida, também esteve presente na hora da morte.

Ter-se finado no auge da greve dos motoristas foi uma decisão genial. Soares dos Santos sabia que a sua morte ia espoletar a habitual sanha anti-empresário e, ao optar por falecer quando faleceu, obrigou a esquerda radical a sair à rua com a ladainha do patrão malvado e dos salários baixos, ao mesmo tempo que, para não escangalhar o arranjinho que tem no Governo, está ao lado dos patrões malvados e dos salários baixos, contra os grevistas.

É o mesmo que surpreender um vegan a lambuzar-se com uma entremeada num churrasco e pedir-lhe para, sem limpar os dedos, explicar a sua dieta à base de bagas. Soares dos Santos mostrou que, mesmo defunto, tem mais faro do que muitos empreendedores vivos. Até a falecer provou ter bom timing.

Percebe-se a antipatia que a extrema-esquerda sente por Alexandre Soares dos Santos. Ter montado uma cadeia de supermercados que funcionam bem sublinhou ainda mais, por oposição, que os comunistas andam há décadas a impingir o mesmo produto fora de prazo. E um produto que não se limita a causar um desarranjo intestinal, como iogurtes passados. É um produto que mata mesmo.

É natural que bloquistas e comunistas não apreciem Soares dos Santos. Estão no extremo oposto. A diferença entre Soares dos Santos e um radical de esquerda é que, se lhes mostrassem um supermercado de prateleiras vazias, Soares dos Santos ia querer descobrir o que estaria a correr mal, enquanto que o camarada ia querer saber o que estaria a correr tão bem.

Na última semana, falou-se muito de Alexandre Soares dos Santos e recordaram-se vários episódios da sua vida pública. O meu predileto é de 2011. Em Fevereiro desse ano, o Governo de José Sócrates garantia que Portugal não estava em recessão. Soares dos Santos acusou então Sócrates de fazer truques e o Governo de mentir aos portugueses sobre a situação económica do país. Em resposta, o Primeiro-Ministro, referindo-se ao empresário, disse “não basta ser rico para ser bem-educado”.

Na altura teve alguma piada. Olhando a partir de 2019, é hilariante. Para já, o país estava, de facto, em recessão – tanto que, dois meses depois, Sócrates perguntava ao Luís se a sua imagem estava boa na TV, para anunciar ao país que acabara de pedir a intervenção da troika.

Depois, ver Sócrates a chamar mal-educado a alguém é como ver Trump a chamar vaidoso a quem quer que seja. (Desde que não seja Sócrates, claro). Em 2011 já se sabia que Sócrates era um bocado ordinarote, mesmo sem ter ouvido a forma como tratava o amigo que lhe estava a montar um apartamento de luxo em Paris. Em terceiro lugar, o dito “não basta ser rico para ser bem-educado” adquiriu toda uma carga auto-referencial a partir do momento em que se soube que Sócrates também é rico.

Finalmente, esta história é estupenda porque, na altura, Sócrates só se lembrou da resposta à noitinha, o que levou a que um dos seus assessores ligasse para a Lusa a dizer que Sócrates a tinha dito publicamente, não tinha é sido captada por nenhum jornalista. O objectivo é que a Lusa noticiasse a tirada, para que entrasse o quanto antes no ciclo noticioso. Sucede que, nessa noite, a editora de plantão da Lusa era uma profissional que não se vergava às ordens dos ajudantes do PM, de maneira que pediu para ouvir a gravação com a tal frase de Sócrates (que, está visto, a sua equipa considerava ser genial). Ora, como essa gravação não existia, ela não publicou. E acabou demitida. (Mais uma trabalhadora que perdeu o emprego por causa do empresário malvado, terá pensado a extrema-esquerda). Entretanto, um dia depois, a frase lá foi dita por um Sócrates visivelmente satisfeito com a sua sagacidade.

Portanto, à conta de Alexandre Soares dos Santos temos: i) Sócrates megalómano; ii) Sócrates mentiroso e iii) Sócrates perseguidor de jornalistas. Um clássico pague 1-leve 3. E porque é que, na morte de Soares dos Santos, trago Sócrates à liça? Porque, numa altura em que António Costa escolhe, para Vice-Presidente do Parlamento Europeu, um dos amiguinhos que usufruiu do dinheiro de Carlos Santos Silva, percebe-se que, no PS, Sócrates ainda é o sítio do costume.

José Diogo Quintela

quarta-feira, 21 de agosto de 2019

Transição energética no cu dos outros, para mim é refresco.

José Diogo Quintela

Pela reacção histérica de quem se lançou às bombas de gasolina com miúfa de ficar empanado, é óbvio que os portugueses não estão prontos para os desafios que o futuro energético traz.

Em que ocasião é que os portugueses reflectem sobre o estado do mundo e concluem que tudo aquilo que defendiam é, afinal, uma parvoíce pegada? Cuido que, para cada pessoa, há uma situação específica que apela à viracasaquice, um tinir de campainha que espoleta o trocatintismo, um momento charneira a partir do qual nada volta a ser igual. Pode ser na altura de entregar o IRS. Ou, então, quando se pagam as compras, no supermercado. Às vezes é a ouvir um deputado, no telejornal. Para cada um, o seu momento Judas, de trair aquilo em que se acreditava. Já se percebeu que, para a maioria dos portugueses, essa grande epifania ideológica dá-se na bicha da bomba de gasolina, durante um pânico pré-greve. É aí que descobrem que, afinal, são reaccionários. E até gostam.

O repetitivo pára-arranca, o rádio em surdina, as buzinadelas impacientes, a voz metálica que sai da bomba e diz “pode atestar”, a

mulher ao telemóvel a ameaçar divórcio se não tiverem combustível para ir de férias, tudo junto é uma algaraviada que dá, até ao mais pacato pai de família, vontade de invadir a Polónia. Na impossibilidade de montar uma campanha militar dessa envergadura, sobra passar-se a achar que os camionistas são uns filhos da mãe abusadores, a greve um atentado ao Estado de Direito e as leis laborais uma maçada que urge rasurar.

Para este nosso compatriota, que se orgulha de nunca ter votado à direita, os trabalhadores – que sempre apoiou – agora são madraços gananciosos, e os patrões – que habitualmente despreza – são empresários probos, pilares da comunidade, que importa apoiar. Uma estação de serviço na A2 é a nova cervejaria de Munique. Quer o português veraneante, quer o alemão belicoso, gostam muito dos seus tanques.

O curioso é que os portugueses que não admitem que camionistas lhes cortem o acesso ao gasóleo são os mesmos que admitem (e aplaudem) que o ministro do Ambiente queira fazer a mesma coisa. Há qualquer coisa de sedutor na voz cava de Matos Fernandes, que faz tremer as pernas de quem quer atestar e ouve em sussurro: “Larga a mangueira, maroto. Anda mas é fazer transição energética comigo”.

Pela reacção histérica de quem se lançou às bombas de gasolina com miúfa de ficar empanado, é óbvio que os portugueses não estão prontos para os desafios que o futuro energético traz, já aí ao virar da esquina. (Só não chegou ainda porque vem movido a energia solar e, como dobrar uma esquina é uma manobra complicada, o futuro energético está a carregar as baterias). Felizmente, a próxima geração é mais resiliente e está preparada para enfrentar as limitações que aí vêm. O meu filho, por exemplo, vai-se estar a borrifar para tudo isto. Tem 10 meses e a sua brincadeira predilecta é olhar para candeeiros e vê-los a acender e a apagar. Atenção, ele não se excita com a luz, ele delira é com a intermitência. Encanta-o a incerteza. “Será que a luz volta?”. Quando for adulto, vai conviver bem com apagões.

(Aliás, o meu filho daria um óptimo cidadão da Venezuela. Além deste jogo, que treina para a falta de energia, os seus jogos preferidos são: “O bebé não está cá! Ai, está, está!”, que prepara para os sequestros por parte da polícia política; e aquele jogo de pedir ao bebé para apontar o pé, o nariz ou a boca, um jogo que normaliza a denúncia que, por vezes, uma pessoa tem de fazer, para se safar a si e à família. Quem aponta o nariz logo à primeira, sabe apontar um vizinho, se for preciso. Fossem todos como o meu filho e a URSS ainda existia).

Por uma daquelas coincidências que costumam acontecer quando o cronista precisa de forçar a correlação entre dois temas, para ter o que escrever, enquanto Portugal receia ficar sem gasolina, Greta Thunberg prepara-se para ir a Nova Iorque pedir para que Portugal, entre outros países, fique sem gasolina. Greta Thunberg é a escandinava mais famosa a fazer a travessia do Atlântico Norte, desde que, em 985, Erik, o Vermelho, partiu da Islândia para colonizar a Gronelândia. Nessa altura, apesar de não haver automóveis, fábricas ou aviões a emitirem CO2, vivia-se o chamado Período Quente Medieval, com temperaturas parecidas com as actuais, e era possível viver na Gronelândia com relativo conforto – ou, tratando-se de nórdicos, relativo hygge.

Há quem, maliciosamente, diga que, se Greta Thunberg quer viajar com o mínimo possível de emissões, então devia ir a pé. O que é estúpido. Não se consegue ir a pé até à América. Agora. Porque já houve uma altura em se conseguiu. Foi assim que, há cerca de 20 mil anos, o homo sapiens migrou para a América através do Alasca, que na altura estava ligado à Sibéria. No fim da última Idade do Gelo, o nível das águas era bastante mais baixo do que na actualidade, o que permitiu que os caçadores entrassem na América atrás de mamutes. O mamute era parte importante da dieta do paleolítico, assim chamada por ser a dieta que se comia no paleolítico. Isto passou-se, mais uma vez, numa altura em que a Terra tinha um clima diferente, apesar de não haver qualquer influência humana. Esquisito. O que nos conduz à questão filosófica: se a temperatura se alterar, mas não houver crianças a faltarem às aulas, as redes sociais fazem barulho? Observador

Pesadelo de uma Noite de, Digamos, Verão.

O dia é 21 de Agosto de 2029. Em pleno tabuleiro da Ponte 25 de Abril o Presidente da República António Costa acabou de rebaptizar a infra-estrutura: passa agora a chamar-se Ponte PREC.

Pouca gente sabe mas William Shakespeare escreveu a sua obra Sonho de uma Noite de Verão inspirado pelos tórridos estios característicos das Ilhas Britânicas. Já no nosso país, o Verão de que estamos a usufruir este ano revela-se mais propício a arrepiantes pesadelos.

O dia é 21 de Agosto de 2029. Em pleno tabuleiro da Ponte 25 de Abril o Presidente da República António Costa acabou de rebaptizar a infra-estrutura. Depois de Ponte Salazar e Ponte 25 de Abril a primogénita travessia do Rio Tejo passa agora a chamar-se Ponte PREC em honra da etapa histórica que Portugal iniciou em 2015 com o governo do PS apoiado por PCP e Bloco de Esquerda e que a actual quarta encarnação da geringonça pretende aprofundar.

O Presidente lembrou o célebre momento em que naquele local, em 1994, o governo de Cavaco Silva foi praticamente derrubado pelos camionistas. E depois recordou como o seu próprio governo, em 2019, derrubou os camionistas. Concluiu logicamente, pela propriedade transitiva da política, que foi o primeiro-ministro António Costa quem derrotou o primeiro-ministro Cavaco Silva. A ponte quase veio abaixo com o estrondoso aplauso. Literalmente. As cativações da ministra das Finanças Mortágua só permitem a substituição de seis parafusos ferrugentos por quinquénio.

Mas o projecto de dar novos nomes a obras públicas, do qual o primeiro-ministro Pedro Nuno Santos encarregou a ministra da Administração Interna Catarina Martins, não ficará por aqui. Em breve também a Ponte Vasco da Gama verá o nome do navegador colonialista, xenófobo, racista e nazi merecidamente substituído. Numa demonstração de inaudita magnanimidade, a travessia passará a chamar-se Ponte Rui Rio em homenagem ao trabalho deste estadista no eliminar da distância que historicamente separava os lados esquerdo e direito da política em Portugal, nomeadamente por via da eliminação do PSD do panorama político português.

Parece portanto ultrapassada a crise que ameaçou a estabilidade do governo o mês passado quando a líder do Bloco de Esquerda exultou com o pré-aviso de greve de sexo das mulheres portuguesas contra a opressão do cis-heteropatriarcado. O Primeiro-Ministro — suspeita-se que aconselhado pelo Presidente da República — ameaçou colocar os militares na rua para garantir os serviços mínimos.

Num primeiro momento Catarina Martins indignou-se com a perpetuação do estereótipo de que as mulheres não podem ver homens fardados sem ficar com as perninhas a tremer, mas acabou por se demarcar da paralisação depois de o Primeiro-Ministro ter acedido à exigência antiga dos bloquistas de que a frequência do acampamento de Verão do Bloco de Esquerda passe a ser obrigatória para todos os jovens até aos 18 anos e não apenas para as crianças até aos 12, como actualmente.

Indisfarçavelmente rejubilante na cerimónia de hoje estava o ministro do Ambiente e líder do PAN André Silva. É que não foi apenas o nome que mudou na ponte. A partir de hoje, das seis faixas de rodagem existentes uma ficará disponível para automóveis: às segundas, quartas e sextas permitirá circular no sentido Sul-Norte, nos outros dias em sentido oposto. Excepto nos três meses de Festa do Avante em que funcionará exclusivamente de Lisboa para Almada. As restantes vias ficam

reservadas a veículos de tracção animal. E quanto menos flatulência o animal libertar durante a travessia menos metano é enviado para a atmosfera e maior o desconto na portagem. Tudo parte do plano da geringonça para tornar Portugal o país mais ecológico do mundo e para ainda este semestre sermos ultrapassados em termos de PIB per capita pelo Burundi.

Tiago Dores – Observador