Pesadelo de uma Noite de, Digamos, Verão.
O dia é 21 de Agosto de 2029. Em pleno tabuleiro da Ponte 25 de Abril o Presidente da República António Costa acabou de rebaptizar a infra-estrutura: passa agora a chamar-se Ponte PREC.
Pouca gente sabe mas William Shakespeare escreveu a sua obra Sonho de uma Noite de Verão inspirado pelos tórridos estios característicos das Ilhas Britânicas. Já no nosso país, o Verão de que estamos a usufruir este ano revela-se mais propício a arrepiantes pesadelos.
O dia é 21 de Agosto de 2029. Em pleno tabuleiro da Ponte 25 de Abril o Presidente da República António Costa acabou de rebaptizar a infra-estrutura. Depois de Ponte Salazar e Ponte 25 de Abril a primogénita travessia do Rio Tejo passa agora a chamar-se Ponte PREC em honra da etapa histórica que Portugal iniciou em 2015 com o governo do PS apoiado por PCP e Bloco de Esquerda e que a actual quarta encarnação da geringonça pretende aprofundar.
O Presidente lembrou o célebre momento em que naquele local, em 1994, o governo de Cavaco Silva foi praticamente derrubado pelos camionistas. E depois recordou como o seu próprio governo, em 2019, derrubou os camionistas. Concluiu logicamente, pela propriedade transitiva da política, que foi o primeiro-ministro António Costa quem derrotou o primeiro-ministro Cavaco Silva. A ponte quase veio abaixo com o estrondoso aplauso. Literalmente. As cativações da ministra das Finanças Mortágua só permitem a substituição de seis parafusos ferrugentos por quinquénio.
Mas o projecto de dar novos nomes a obras públicas, do qual o primeiro-ministro Pedro Nuno Santos encarregou a ministra da Administração Interna Catarina Martins, não ficará por aqui. Em breve também a Ponte Vasco da Gama verá o nome do navegador colonialista, xenófobo, racista e nazi merecidamente substituído. Numa demonstração de inaudita magnanimidade, a travessia passará a chamar-se Ponte Rui Rio em homenagem ao trabalho deste estadista no eliminar da distância que historicamente separava os lados esquerdo e direito da política em Portugal, nomeadamente por via da eliminação do PSD do panorama político português.
Parece portanto ultrapassada a crise que ameaçou a estabilidade do governo o mês passado quando a líder do Bloco de Esquerda exultou com o pré-aviso de greve de sexo das mulheres portuguesas contra a opressão do cis-heteropatriarcado. O Primeiro-Ministro — suspeita-se que aconselhado pelo Presidente da República — ameaçou colocar os militares na rua para garantir os serviços mínimos.
Num primeiro momento Catarina Martins indignou-se com a perpetuação do estereótipo de que as mulheres não podem ver homens fardados sem ficar com as perninhas a tremer, mas acabou por se demarcar da paralisação depois de o Primeiro-Ministro ter acedido à exigência antiga dos bloquistas de que a frequência do acampamento de Verão do Bloco de Esquerda passe a ser obrigatória para todos os jovens até aos 18 anos e não apenas para as crianças até aos 12, como actualmente.
Indisfarçavelmente rejubilante na cerimónia de hoje estava o ministro do Ambiente e líder do PAN André Silva. É que não foi apenas o nome que mudou na ponte. A partir de hoje, das seis faixas de rodagem existentes uma ficará disponível para automóveis: às segundas, quartas e sextas permitirá circular no sentido Sul-Norte, nos outros dias em sentido oposto. Excepto nos três meses de Festa do Avante em que funcionará exclusivamente de Lisboa para Almada. As restantes vias ficam
reservadas a veículos de tracção animal. E quanto menos flatulência o animal libertar durante a travessia menos metano é enviado para a atmosfera e maior o desconto na portagem. Tudo parte do plano da geringonça para tornar Portugal o país mais ecológico do mundo e para ainda este semestre sermos ultrapassados em termos de PIB per capita pelo Burundi.
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