Contrariamente à ideia que o actual governo e os órgãos de comunicação social têm procurado fazer passar junto da opinião pública, o poder de compra quer das remunerações base quer do ganho médio dos trabalhadores do sector privado diminuiu entre 2015 e 2018. São os próprios dados divulgados no Boletim Estatístico do Ministério do Trabalho que estão no quadro 1 que provam isso, e o próprio leitor poderá confirmar acedendo directamente ao site http://gep.msess.gov.pt/estatistica/gerais/be.html
Quadro 1 – Evolução da Remuneração Base Mensal e do Ganho Mensal Nominais e reais dos trabalhadores portugueses – sector privado- período 2015/2018
Entre 2015 e 2018, a Remuneração base média mensal dos trabalhadores do sector privado aumentou 2,8%, pois passou de 951€ para 977€. No entanto, se deduzirmos o efeito corrosivo do aumento de preços verificado neste período (2,9% segundo o INE) conclui-se que o poder de compra da remuneração base mensal diminuiu -0,2%.
O mesmo sucedeu em relação ao Ganho médio que, para além da remuneração base inclui todas as remunerações variáveis (subsídio, complementos, etc.). Segundo o Boletim Estatístico do Ministério do Trabalho, e como revelam também os dados do quadro 1 que foi construído com dados os desse Boletim, entre 2015 e 2018, o ganho médio nominal dos trabalhadores, portanto antes de deduzir os efeitos da subida de preços, aumentou 2,3%, mas quando se deduz o efeito corrosivo da subida de preços já se verifica uma diminuição de 0,6% no poder de compra do ganho médio.
Quando se enche a boca afirmando que se verificou uma recuperação dos rendimentos de todos os portugueses é preciso sermos sérios e falar verdade no que se diz, e não esquecer estes dados divulgados pelo próprio governo que abrangem a maioria dos trabalhadores.
Outro aspecto revelado pelos dados do Ministério do Trabalho é o peso cada vez maior (em percentagem), dos trabalhadores que recebem o salário mínimo nacional. Durante este período o salário mínimo nacional teve um aumento significativo de 14,9% (em termos reais + 11,6%), mas o dramático é que a percentagem de portugueses que recebem o salário mínimo nacional cresceu muito com o governo de Costa. Em 2015, correspondia a 21,4% dos trabalhadores e, em 2018, tinha aumentado para 25,6%. Em 2018, cerca de 26 em cada 100 portugueses tinha para viver apenas o salário mínimo nacional. E se deduzirmos 11% para a Segurança Social restam apenas 516,2€. Isto significa que em 2018, 1.245.000 de trabalhadores portugueses viviam apenas com 516€ (em 2015, eram 973 mil que viviam com o salário mínimo). Esta é a realidade que o discurso oficial e aqueles que o apoiam esquecem sistematicamente quando falam de recuperação de rendimentos. Como provam os dados oficiais a realidade para muitos portugueses é ainda muito amarga. E isto já para não falar da Administração Pública.
A EXPULSÃO PARA O ESTRANGEIROS DOS TRABALHADORES MAIS QUALIFICADOS
O quadro 1 revela o aumento médio quer da Remuneração Base quer do Ganho médio de todos os trabalhadores. Mas se a análise dos aumentos for feita por qualificações conclui-se que, entre 2015/2017, que são os últimos dados dos quadros de pessoal disponibilizados pelo Ministério do Trabalho, conclui-se que os aumentos mais elevados tiveram lugar nas categorias menos qualificadas; e, inversamente, os menos elevados nas categorias de qualificações mais elevadas como mostram os dados do quadro 2.
Entre 2015/2017, os aumentos na remuneração Base média mensal dos trabalhadores mais qualificados (quadros superiores, quadros médios, chefes de equipa, profissionais altamente qualificados e profissionais qualificados) variou entre 0,1% e 2,8%, enquanto a subida da remuneração base média mensal dos trabalhadores menos qualificados (profissionais semi-qualificados, profissionais não qualificados, e estagiários, praticantes e aprendizes) variou entre 7% e 7,7%. Sem por em causa os aumentos médios que tiveram os trabalhadores menos qualificados, cujos salários são extremamente baixos (salário mínimo ou próximo do salário mínimo nacional), o certo é que a politica salarial dominante em Portugal, imposta pelos patrões com conivência do governo, nomeadamente do ministro do Trabalho Vieira da Silva (veja -se a sua recusa em introduzir na lei o principio do tratamento favorável que existia com Marcelo Caetano, e de acabar com a caducidade automático dos contractos colectivos de trabalho que permite ao patronato fazer chantagem e impor uma politica de baixos salários) está a expulsar do país os trabalhadores mais qualificados. E não serão os apelos de António Costa que os fará regressar com esta política de baixos salários pagos aos trabalhadores mais qualificados nem construir um país mais desenvolvido. O quadro 3 acrescenta mais razões para que os mais qualificados não regressem a Portugal e continuem a sair.
Eugénio Rosa – economista – estudos disponíveis em www.eugeniorosa.com
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