terça-feira, 3 de novembro de 2020
OE SEM QUEIJO
Neste OE aprovado da forma que foi, vamos ter no debate da especialidade, não o queijo limiano, mas os partos em casa, o apoio a animais, e uma série de coisas que os independentes e o PAN hão de cobrar. Além das ameaças veladas do PCP. Esta gente sabe que vivemos uma crise pandémica? Não me parece.
BE QUE DEVIA SER BUH!
Só uma linha para apupar o BE. Sem vergonha, é o que acho, mesmo sem gostar do essencial do Orçamento. Leia-se ‘sem vergonha’ como sinónimo de oportunista.
AÇORES
Acordo à esquerda ou à direita? Na minha opinião, deixem o PS fazer Governo e derrubem-no se houver uma causa concreta e grave. Tudo o resto cheira a vingança e má política.
EUA, ELEIÇÕES
Está tudo dito. Resta esperar, e ter esperança que as sondagens acertem. É o menos mau.
EMPURRÃO
Depois do empurrão dos bastonários, Marta Temido levou um empurrão do Presidente da República. Valeu a pena? Ver-se-á…
NAZARÉ
Aqui temos um caso de estudo. Não havia qualquer espetáculo ou competição desportiva; não havia cartazes, anúncios na Comunicação Social. Eu nem sabia que naquela simpática praia ia haver ondas gigantes e estariam lá os maiores do surf. Mas o que nós sabemos, mesmo os profissionais da Comunicação Social, já é muito pouco em relação à velocidade a que corre a informação, e ao facto de as notícias serem direcionadas a grupos específicos. Daí que toda a gente que se interessa a sério por surf, o que não é o meu caso, devia saber daquilo. E foram andando para as arribas da praia, na esperança de ver os seus ídolos surfar ondas enormes, quem sabe se um deles capaz de bater o recorde do mundo. E assim, pelas nove da manhã a Nazaré tinha tanta gente a olhar para o mar, como no fim de semana passado em Portimão havia gente a olhar para a pista do autódromo. Que fazer? Que podem as autoridades fazer, salvo o que fizeram, ou seja, andar a pedir que pusessem máscaras e que se distanciassem? De quem é a culpa? De ninguém, é a resposta séria. A vida moderna é assim, e a pandemia moderna beneficia dela. Bem se pode apelar à consciência de cada um, mas aposto que cada um dos que lá estiveram não imaginava que haveria tanta gente com a mesma ideia.
RECOLHER
Pela Europa fora o recolher obrigatório vai tornando-se a norma. Por cá, não faltaremos à chamada. O Conselho de Ministros extraordinário de sábado, além de outras, essa medida. No plano jurídico há grandes debates sobre a legalidade e constitucionalidade dessa e de outras decisões tomadas pelo Governo (como a proibição de passar de um concelho para outro neste fim de semana), mas manda a verdade dizer que o Expresso afirmava que 81% se mostram favoráveis ao recolher obrigatório. 81%, mais de 4/5 é muitíssimo mais do que os 2/3 necessários para alterar a Lei Fundamental, pelo que poderíamos dizer que os juristas levantam questões sem interesse. No entanto… no entanto há um conceito chamado precedente, que pode ser terrível a prazo. Nestas matérias, se não demarcamos muito bem o que é, e não é, aceitável do ponto de vista do Estado de direito, acabamos a acolher qualquer totalitarismo, que é sempre apresentado em nome de causas maiores e urgentes. Daí que seja bom desconfiar das melhores intenções, que aliás enchem o Inferno.
O Estado nunca criou riqueza.
O Estado não cria nem jamais criou riqueza. Apenas a distribui. O Estado vive da riqueza produzida pelos seus cidadãos que, quer queiram quer não, pagam impostos e permitem os seus investimentos.
O Estado distribui riqueza criada, evitando a queda em situações degradantes ou desumanas dos seus cidadãos, quando estas ocorrem contra a vontade dos próprios. As sociedades compreendem que a coesão social e o evitar de desigualdades excessivas e ostentatórias são condições ótimas para a criação de riqueza e de oportunidades para mais, senão para todos.
Como disse Walt Lippmann (escritor, jornalista premiado com um Pulitzer, professor, discípulo do filósofo Santayana, criador da expressão “guerra fria”), o Estado não dirige nem administra os cidadãos; apenas administra a Justiça, de forma imparcial, para que as relações sociais sejam equilibradas. Também tem o monopólio da violência, para que esta não se exerça a contento de cada um, mas sim do conjunto. Estas prorrogativas fazem parte do contrato social geral, implicitamente firmado entre os homens e mulheres de uma comunidade. Desse contrato faz ainda parte a construção e manutenção de infraestruturas, que criem condições de desenvolvimento e criação de riqueza.
Quem cria riqueza e desenvolvimento são as pessoas e as empresas que elas desenvolvem. Essas empresas geram lucro e esse é o seu objetivo, para crescerem e com isso se tornarem mais fortes, criando mais riqueza, que se traduz em mais empregos, exportações e mais lucros para quem arriscou. O lucro é (ou deve ser) a recompensa do risco, e é bom que exista. Neste particular, parte da nossa sociedade, infelizmente, entende o lucro como o fazia a Igreja Medieval: algo de perverso, demoníaco, que deve ser evitado. Todo o lucro cria progresso (científico, tecnológico, cultural), e todo o progresso abana estruturas imobilistas cujo sucesso é posto em causa por novas dinâmicas. É por isso que todos os grandes avanços tecnológicos e científicos, assim como sociais, foram inventados, criados ou desenvolvidos por empresas ou consórcios que se movimentam na esfera de relações consideradas capitalistas. Não por acaso, Mikhail Gorbatchov se queixava da URSS como um país que não conseguia fazer uma torradeira decente, embora conseguisse colocar satélites na órbita da terra. A diferença entre uma economia planeada centralmente por um Estado, e uma que advém da explosão e multiplicação de ideias, interesses e projetos — desde que devidamente regulados com justiça — é muito favorável ao capitalismo.
Acrescente-se que o capitalismo (ao contrário do socialismo e de outros ismos) não é uma ideologia, no sentido em que não une pessoas em torno de uma solução global para a sociedade; apenas une pessoas em torno da criação de uma vida melhor para elas próprias. O efeito colateral desse conceito tão simples é todos acabarem por ganhar, seja pelo desenvolvimento ou avanço criado, seja pela redistribuição que o Estado faz.
Todas as boas empresas, pequenas ou grandes, prestam serviços públicos. Sem elas, o país não funcionaria, seria o caos. Pensem na ideia de os supermercados, mercearias, cafés ou restaurantes geridos pelo Estado. Seria de fugir, como se viu nos chamados países socialistas.
Às vezes é preciso voltar ao básico quando, no Parlamento, na Comunicação Social, nos discursos públicos, se ouve falar na contradição entre o público (entendido como do Estado) e o privado. É preciso voltar ao início, à explicação de que o Estado social, o apoio aos carenciados, o combate a desigualdades gritantes só se tornaram possível quando a criação de riqueza se exponenciou. E que as novas condições implicam mais criação de riqueza, crescimentos robustos da economia; ou seja, apoiar pessoas e empresas que para eles possam contribuir. Distribuir sem nada criar é o caminho da falência.
HENRIQUE MONTEIRO
Expresso 01-11-2020
Sobre gelo fino.
1-isso não acontecerá antes do final do ano; e dizem os pessimistas que nem mesmo a existência de uma vacina significará o fim do problema. E sem saber quando e como é que o problema terá fim, não é possível escolher medidas para o combater, desconhecendo-se a necessidade da sua duração e as suas consequências. É por isso que todos os governos parecem paralisados ou, na melhor das hipóteses, navegando à vista, sem bússola nem rumo fixado.
O dilema mais óbvio é o da escolha entre a economia e a saúde das pessoas. Diz-se que uma vida humana não tem preço, mas também se diz que matar a economia é uma outra forma de matar pessoas — e ambas as coisas são afirmações incontestáveis. Só que isso não facilita qualquer opção. O economista francês Patrick Artus resolveu fazer um exercício politicamente incorrecto, que foi o de calcular o custo de cada vida humana salva pela decisão de confinamento geral tomada pelo Governo de Emmanuel Macron na Primavera passada (e num momento em que a França, se não acontecer um milagre até lá, se prepara para regressar ao confinamento na próxima quarta-feira). Partindo dos dados dos epidemiologistas que calcularam que cada um dos dois meses de confinamento em França evitou 20.000 mortes, e calculando, por seu lado, que um mês com a economia parada custou à França 5% do PIB e 2,5% de aumento da taxa de desemprego a longo prazo, ele chegou a um número representativo do custo de uma vida humana salva pelo confinamento. Um número arrasador: seis milhões de euros! Não sei se as suas contas estão certas ou erradas, mas são contas semelhantes a estas que os governantes de toda a Europa têm em cima da mesa, na hora de decidir o que fazer.
Porém, ouvindo e lendo as opiniões sobre o assunto (e os comentários online a essas opiniões), parece que os portugueses, em geral, estão carregados de certezas absolutas, mesmo que de sinal oposto. Todos acreditam saber mais do que os outros sobre a covid, as medidas que já deveriam ter sido tomadas e não foram, ou aquelas que foram tomadas e não deveriam ter sido, porque tudo isto, afinal, não passa de um embuste, as máscaras não servem para nada e o que o Governo quer é “roubar-nos o Natal” (não por acaso, Trump diz o mesmo de Biden), como se algum Governo ganhasse popularidade estragando o Natal aos governados. Uns indignam-se com a Fórmula 1 na Mexilhoeira Grande, outros acham-na essencial para relançar o turismo no Algarve. Mas em duas coisas, pelo menos, todos parecem concordar: estão todos fartos da covid — o que é uma boa pista para encontrar uma solução; e todos já teriam despedido a ministra Marta Temido, incluindo um colunista que, alicerçado nos seus invocados 120.000 seguidores no Facebook, o faz em linguagem de carroceiro, que explica, afinal, porque é importante a frequência da tal disciplina liceal de Cidadania. E, no fim, não tendo mais desabafos nem verdades evidentes para descarregar nas redes sociais, vão às dezenas de milhares fazer fila para votar nas eleições do Benfica ou ver as ondas gigantes do canhão da Nazaré. Horas a fio, em dias de semana e em horário de trabalho: a vida como sempre, o antigo normal.
2-De facto, já era madrugada aqui e regressava eu do meu fuso horário das eleições americanas, como sempre carregado de espanto, angústia e pavor, quando faço um zapping final pelas nossas televisões. Nada menos do que seis canais — seis! — estavam em directo do Estádio da Luz, transmitindo o desfecho das eleições do Sport Lisboa e Benfica. No nosso late night news era o único, rigorosamente o único assunto que ocupava as televisões: nem covid, nem Orçamento do Estado, nem eleições americanas, nem a tensão Turquia-França, nada mais — só as eleições no Sport Lisboa e Benfica. Subiu ao palco dos seis canais o candidato derrotado com 36% dos votos, que falou como um vencedor e como falaria um futuro primeiro-ministro da nação: agradeceu ao pai, à mulher e aos filhos, e, como político sabido, respondeu à pergunta sobre se voltaria a recandidatar-se dizendo que prometera que não à família mas que nunca diria que não aos benfiquistas. Depois, as televisões foram em directo até à ‘sede de campanha’ do terceiro candidato: um fulano que viveu nos últimos anos a vomitar ódio aos rivais nos programas de futebol gritado das televisões, julgando com isso angariar popularidade entre os benfiquistas, mas recolhendo, afinal, uns humilhantes 1,6% dos votos. Compreensivelmente, o candidato bem-falante não estava à vista e regressaram ao Estádio da Luz, onde o candidato vencedor se preparava para tomar posse para o que, avisadamente, prometeu ser o seu último mandato, no final do qual terá cumprido 22 à frente do S.L.B. — ainda longe dos 42 de Pinto da Costa à frente do F.C.P. E cada um deles recandidatando-se ao arrepio das melhores teorias políticas, não por causa dos seus êxitos, mas justamente por causa dos seus fracassos: o primeiro, para conseguir que o clube deixe de ser uma anedota desportiva, em termos europeus; o segundo para tirar o clube da falência a que a sua gestão o levou. Mas, nessa altura da noite, já tinha visto o suficiente e também não fiquei para ouvir o discurso de vitória do candidato apoiado pelo primeiro-ministro, pelo presidente da Câmara de Lisboa e pelo líder parlamentar do CDS.
3-Depois do atentado terrorista que causou vários mortos na redacção do jornal francês “Charlie Hebdo”, foi moda de bom tom todos se declararem “Je suis Charlie”. Fizeram-se T-shirts, toalhas de praia e cartazes, organizaram-se manifestações, proclamações e abaixo-assinados. Nunca me apeteceu aderir: je ne suis pas Charlie. Não que tenha a menor complacência com o terrorismo, seja qual for a sua motivação, a sua justificação ou a sua desculpa. Uma coisa é a guerrilha, a luta armada, a resistência, certa ou errada, contra um inimigo armado, outra coisa é o terrorismo cobarde contra inocentes desarmados. Mas o que o “Charlie Hebdo” faz hoje não é jornalismo nem é um exercício de liberdade de imprensa: é pura provocação gratuita e ofensa às crenças religiosas alheias: é terrorismo jornalístico. Ainda a semana passada trazia uma caricatura do primeiro-ministro turco, Erdogan, sentado numa retrete a defecar. Ora, Erdogan, é um dos tiranos europeus da actualidade, um homem decerto sinistro, que se toma pelo novo sultão otomano e que tem planos perigosos para toda a região do Oriente próximo. Fruto — mais um — da ausência de uma visão de política externa de Donald Trump, ele vem conquistando espaço e influência na região, passo a passo e com intenções que são uma ameaça à segurança da Europa e dos seus vizinhos, e a que só a França tem tido a coragem de se opor. Certamente que ele merece ser atacado e confrontado, mas não como o “Charlie Hebdo” o fez. E, pior ainda: acrescentando à caricatura uma referência ordinária ao Profeta — o que é uma obsessão do jornal.
Ora, atacar o Islão desta forma é ofender gratuitamente centenas de milhões de fiéis seguidores do islamismo, cuja fé a França laica respeita, por imperativo constitucional. Mas não apenas isso: o Islão representa também uma civilização e uma cultura que fazem parte da nossa história de povos do sul e que foi absolutamente extraordinária. Os meninos do “Charlie Hebdo”, que brincam aos jornalistas, não sabem o que fazem nem do que falam: deviam ir visitar o Alhambra, em Granada, para começarem a perceber a imbecilidade das suas caricaturas.
Isto posto, resta dizer que Emmanuel Macron tem toda a razão quando diz que a França está sob ataque aos seus valores republicanos fundamentais. Se alguns, infelizmente, usam o valor inalienável da liberdade de expressão para ofender a fé e a cultura de outros, a solução não é abolir a liberdade de expressão. E se os outros, sentindo-se ofendidos, não entendem esses valores e julgam que a resposta se dá degolando pessoas ou colocando bombas para matar inocentes, se são eles próprios que transformaram a ideia luminosa do Islão na ideia sinistra do regresso à barbárie e às trevas e se são eles que escolheram fazer do “Alcorão” um manual de assassínios, a França tem o direito e o dever de se defender por todos os meios — todos — desta gente que não merece viver nas nossas sociedades. E todos nós temos o dever de ser solidários com a França.
Miguel Sousa Tavares escreve de acordo com a antiga ortografia
Expresso – 01-11-2020
A Controversa Criança Lapedo – Um Neandertal / Híbrido Humano?
Enterrado por milénios na parte de trás de um abrigo rochoso no Vale do Lapedo, 130 km ao norte de Lisboa, Portugal, arqueólogos descobriram os ossos de uma criança de quatro anos, compreendendo o primeiro esqueleto paleolítico completo já cavado na Ibéria. Mas o significado da descoberta foi muito maior do que isso porque a análise dos ossos revelou que a criança tinha o queixo e os braços e inferiores de um humano, mas a mandíbula e a constituição de um Neandertal, sugerindo que ele era um híbrido, resultado do cruzamento entre as duas espécies. A descoberta coloca em dúvida a teoria aceita de que os neandertais desapareceram da existência há aproximadamente 30.000 anos e foram substituídos por Cro-Magnons, os primeiros humanos modernos. Em vez disso, sugere que os neandertais interagiram com os humanos modernos e se tornaram parte de nossa família, um fato que teria implicações dramáticas para os teóricos evolucionários em todo o mundo.
A descoberta foi feita em Novembro de 1998, quando os arqueólogos João Maurício e Pedro Souto foram ao Vale do Lapedo para investigar relatos de que pinturas rupestres pré-históricas haviam sido encontradas, o que acabou sendo verdade. Durante as investigações, eles descobriram um abrigo de rochas calcárias, o sítio Lagar Velho. Os dois ou três metros superiores de seu enchimento haviam sido demolidos em 1992 pelo proprietário da terra, o que deixou um remanescente de sedimentos pendurados numa fissura ao longo da parede traseira, mas isso continha tal densidade de ferramentas de pedra paleolíticas superiores, ossos de animais e carvão que estava claro que Lagar Velho tinha sido um importante local de ocupação. Escavações subsequentes confirmaram isso, produzindo datas de radiocarbono de 23.170 a 20.220 anos de idade.
Enquanto colectavam material superficial que havia caído do remanescente, João e Pedro inspeccionaram um recesso na parede traseira. Nos sedimentos soltos eles recuperaram vários pequenos ossos manchados com ocre vermelho que eles achavam que poderiam ser humanos. Este acabou por ser o túmulo de uma criança, o único enterro paleolítico já encontrado na Península Ibérica.
Esta criança tinha sido cuidadosamente enterrada em uma posição estendida num poço raso para que a cabeça e os pés fossem mais altos do que os quadris. O corpo foi colocado num ramo de pinheiro escocês queimado, provavelmente n um esconderijo coberto de ocre vermelho. O oréreo era particularmente espesso ao redor da cabeça e manchava as superfícies superior e inferior dos ossos. Uma carcaça completa de coelho foi encontrada entre as pernas da criança e seis ornamentos foram encontrados – quatro dentes de veado que parecem ter sido parte de um cocar, e duas conchas periwinkle do Atlântico, que se acredita ter sido parte de um pingente.
Um projecto de escavação foi lançado para recuperar todos os restos do corpo da criança. O trabalho foi difícil porque pequenas raízes vegetais penetraram nos ossos esponjosos. O peneiramento dos sedimentos perturbados levou à recuperação de 160 fragmentos cranianos, que constituem cerca de 80% do crânio total. A escavadora tinha esmagado o crânio, mas felizmente perdeu o resto do corpo por dois centímetros.
Uma vez que o processo de recuperação foi concluído, os restos esqueléticos foram enviados ao antropólogo Erik Trinkaus da Universidade de Washington para analisar os restos mortais. Foi quando a descoberta mais surpreendente foi feita. Trinkaus descobriu que a proporção dos membros inferiores não eram os de um humano moderno, mas sim se assemelhava aos de um Neandertal. Por outro lado, a forma geral do crânio é moderna, assim como a forma de seu ouvido interno, e as características dos dentes. Embora o crânio fosse mais semelhante ao de um humano moderno, uma anomalia foi detectada – uma pitting na região occipital que é um traço diagnóstico e genético dos neandertais.
Trinkaus concluiu que a criança Lapedo era um mosaico morfológico, um híbrido de neandertais e humanos anatomicamente modernos. No entanto, acredita-se que as duas formas humanas não tenham coexistido há mais de 28.000 anos na Ibéria. Como a criança pode ter características de ambas as formas? A questão levou a um debate amargo entre especialistas, alguns dos quais aceitaram que a descoberta da criança Lapedo provou que os neandertais se entrelaçavam com humanos modernos, enquanto outros se recusavam a se separar com visões de longa data de que os neandertais morreram e foram substituídos por outra espécie.
Hoje, a teoria mais popular é que os restos mortais são de uma criança moderna com traços neandertais geneticamente herdados - o que significa que os últimos neandertais da Ibéria (e, sem dúvida, outras partes da Europa) contribuíram para o pool genético de populações subsequentes.
https://www.ancient-origins.net/human-origins-science/lapedo-child-00903
A Ordem Teutónica: Como um Hospício para Peregrinos se transformou numa Legião de Cruzados.
imagem: Detalhe de um Cavaleiro da Ordem Teutónica. Fonte: Lord Hayabusa357/ Arte Desviada
A Ordem dos Irmãos da Casa Alemã de Santa Maria em Jerusalém (comumente conhecida como Ordem Teutónica) é uma ordem militar fundada na Terra Santa durante as Cruzadas. A Ordem Teutónica foi originalmente estabelecida como um hospício para fornecer cuidados aos peregrinos. Não demorou muito, no entanto, até que a ordem seguiu os passos dos templários e hospitaleiros e se tornou militarizada. Embora não tão influente quanto as ordens na Terra Santa, a Ordem Teutónica conseguiu criar um estado monástico independente ao longo do Mar Báltico durante as Cruzadas do Norte. A Ordem Teutónica ainda existe hoje, embora como uma organização de caridade e não militar.
Origens da Ordem Teutónica
As origens da Ordem Teutónica podem ser traçadas até meados do século XII. Em 1143, os Hospitallers foram ordenados pelo Papa Celestino II a assumir a administração do Hospital Alemão em Jerusalém. Este hospital foi criado para atender aos peregrinos e cruzados da Alemanha que não eram capazes de falar francês (a língua local) nem latim. Embora o hospital fosse administrado pelos Hospitallers, o anterior e os próprios irmãos dos hospitais deveriam ser alemães. Este acordo permitiu que a tradição de um instituto religioso liderado pela Alemanha se desenvolvesse na Terra Santa.
Jerusalém caiu em 1187, e o primeiro contra-ataque significativo dos cruzados contra os muçulmanos foi o Cerco do Acre, que começou dois anos depois. Foi durante este cerco que alguns comerciantes de Lübeck e Bremen, inspirados pelo Hospital Alemão, decidiram administrar um hospital de campo durante a duração do cerco. O Acre caiu para os cruzados em 1191, e no ano seguinte o hospital de campo, que formou o núcleo da nova Ordem Teutónica, foi reconhecido pelo papa, e os monges receberam o Governo Agosiniano. Em 1198, a Ordem Teutónica tornou-se uma ordem militar.
Influência dos Cavaleiros Teutónicos
Tannhäuser, um minnesinger alemão e poeta, no hábito dos Cavaleiros Teutónicos, da "Manesse de cóxo". ( Domínio Público)
Em 1220, os cavaleiros compraram Montfort (Starkenberg), um castelo a nordeste do Acre, e montaram sua sede lá. O castelo foi mantido pela Ordem Teutónica até 1271, quando caiu para os mamelucos. O prestígio dos Cavaleiros Teutónicos aumentou sob Hermann von Salza, o quarto Grão-Mestre da Ordem Teutónica, e um amigo próximo do Sacro Império Romano-Germânico Frederico II. Quando o imperador foi coroado rei de Jerusalém em 1225, por exemplo, os cavaleiros teutónicos serviram como escolta à Igreja do Santo Sepulcro , e o grão-mestre leu a proclamação do imperador em francês e alemão. No entanto, os Cavaleiros Teutónicos não eram tão influentes quanto os templários e hospitaleiros da Terra Santa
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Hermann von Salza, o quarto Grão-Mestre da Ordem Teutónica. ( Domínio Público)
Em vez disso, a Ordem Teutónica teve um impacto muito maior na Europa, especificamente na região ao longo do Mar Báltico, onde estabeleceram um estado monástico independente durante as Cruzadas do Norte. Em 1211, André II, o rei da Hungria, convidou um grupo de Cavaleiros Teutónicos para defender sua fronteira Transilvânia das incursões de invasores nómades. Os cavaleiros receberam o distrito de Burzenland para servir como base. Embora tivessem a autonomia relativa, os Cavaleiros Teutónicos foram proibidos de construir fortificações de pedra, pois os húngaros temiam que eles se fortalecessem demais e interferissem na política do reino. As ordens de Andrew foram ignoradas, mas devido à eficácia da ordem, o rei decidiu tolerá-los. Eventualmente, no entanto, os cavaleiros se tornaram tão poderosos que os nobres húngaros ficaram descontentes, resultando na expulsão dos cavaleiros em 1225.
Sob a Soberania do Papa
Da Hungria, os Cavaleiros Teutónicos mudaram-se para o Báltico, onde uma nova oportunidade se apresentou. Em 1217, o Papa Honório III havia convocado uma cruzada contra os prussianos pagãos, e um dos governantes que respondeu foi Konrad I, o Duque de Masóvia. Em 1225, os prussianos ganharam vantagem, e estavam invadindo a fronteira norte de Mazóvia. Em 1226, Konrad apelou aos Cavaleiros Teutónicos para vir em seu auxílio. von Salza viu a Prússia como um campo de treinamento perfeito para seus cavaleiros em preparação para novas cruzadas contra os muçulmanos na Terra Santa. Mas o grão-mestre também aprendeu com seu erro na Hungria e tomou precauções para evitar sua repetição.
Como resultado, o Touro Dourado de Rimini foi obtido do Sacro Imperador Romano-Germânico. Sob o touro, o imperador reconheceu a posse da ordem das terras concedidas a eles por Konrad, bem como o território que eles conquistaram dos prussianos. A ordem também obteve o Touro Dourado de Rieti do papa, que os colocou sob a soberania do papa, em vez
de qualquer governante secular
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'Frederico II permite que a ordem invada a P. Janssen' de P. Janssen. ( Domínio Público )
Mudanças na Ordem Teutónica
Em cerca de meio século, a Prússia foi conquistada pelos cavaleiros e tornou-se parte do Estado da Ordem Teutónica. Este estado monástico durou até 1525, e durante seus três séculos de existência desempenhou um papel importante na política da região.
O declínio deste estado monástico começou durante o século XV, quando foram derrotados decisivamente por um exército polonês-lituano na Batalha de Grunwald em 1410. A ordem foi ainda mais enfraquecida por conflitos internos e os prussianos começaram a se revoltar contra a ordem. Em 1525, a Ordem perdeu todas as suas terras prussianas, marcando o fim do Estado da Ordem Teutónica. No entanto, eles ainda possuíam terras dentro do Sacro Império Romano-Germânico.
'Cavaleiro Teutônico entrando no Castelo de Malbork / Entrando dos cavaleiros no Marienburg (estudo)' (1884) por Carl Steffeck.
Os cavaleiros continuaram a desempenhar um papel militar no Sacro Império Romano-Germânico até 1809, quando a ordem foi dissolvida por Napoleão. No entanto, a Ordem Teutónica sobreviveu na Áustria e tornou-se uma ordem religiosa puramente espiritual em 1929. Quando a Áustria foi anexada pela Alemanha nazista, a ordem foi abolida, embora tenha sobrevivido na Itália. Após a guerra, a Ordem Teutónica foi reconstituída na Alemanha e na Áustria, e, no final da década de 1990, foi transformada em uma organização de caridade.
Batalha de Grunwald.
Por Wu MingrenReferências
Mandal, D., 2017. 10 Interesting Things You Should Know About The Teutonic Knights. Available at: https://www.realmofhistory.com/2017/04/25/10-interesting-facts-teutonic-knights/
Moeller, C., 1912. Teutonic Order. Available at: http://www.newadvent.org/cathen/14541b.htm
New World Encyclopedia, 2015. Teutonic Knights. Available at: http://www.newworldencyclopedia.org/entry/Teutonic_Knights
The Chivalric Teutonic Order of St Mary's Hospital in Jerusalem, 2018. The Order of the Teutonic Knights of St. Mary's Hospital in Jerusalem - 1190-2018. Available at: http://www.imperialteutonicorder.com/id16.html
The Editors of Encyclopaedia Britannica, 2018. Teutonic Order. Available at: https://www.britannica.com/topic/Teutonic-Order
Woodhouse, F. C., 1879. Teutonic Knights: Their Organization And History. Available at: http://history-world.org/teutonic_knights.htm
O Poderoso Símbolo da Suástica e seus 12.000 Anos de História
A suástica é um símbolo que foi usado no século XX por um dos homens mais odiados que já viveu, um símbolo que agora representa o massacre de milhões de pessoas e uma das guerras mais destrutivas da Terra. Mas Adolf Hitler não foi o primeiro a usar este símbolo. Na verdade, foi usado como um símbolo positivo e poderoso milhares de anos antes dele, em muitas culturas e continentes.
Início Espiritual para a Suástica
Para os hindus e budistas na Índia e em outros países asiáticos, a suástica foi um símbolo importante por muitos milhares de anos e, até hoje, o símbolo ainda pode ser visto em abundância - em templos, autocarros, táxis e na capa de livros. Também foi usado na Grécia Antiga e Roma, e pode ser encontrado nos restos da antiga cidade de Tróia, que existia há 4.000 anos. Os antigos druidas e os celtas também usaram o símbolo, reflectido em muitos artefactos que foram descobertos. Foi usado por tribos nórdicas, e até mesmo os primeiros cristãos usaram a Suástica como um de seus símbolos, incluindo os Cavaleiros Teutónicos , uma ordem militar medieval alemã, que se tornou uma Ordem Católica puramente religiosa. Mas por que esse símbolo é tão importante e por que Adolf Hitler decidiu usá-lo?
Dias Positivos da Suástica
A palavra 'suástica' é uma palavra em sânscrito ('svasktika') que significa 'É', 'Bem Estar', 'Boa Existência e 'Boa Sorte'. No entanto, também é conhecido por diferentes nomes em diferentes países - como 'Wan' na China, 'Manji' no Japão, 'Fylfot' na Inglaterra, 'Hakenkreuz' na Alemanha e 'Tetraskelion' ou 'Tetragammadion' na Grécia.
Em 1979, um estudioso em sânscrito P. R. Sarkar disse que o significado mais profundo da palavra é "Vitória Permanente". Ele também disse que, como qualquer símbolo, pode ter significado positivo e negativo, dependendo de como ele é desenhado. Assim, no Hinduísmo, a suástica da direita ilustrada abaixo é um símbolo do Deus Vishnu e do Sol, enquanto a suástica à esquerda é um símbolo de Kali e Magia.
O duplo significado dos símbolos é comum em tradições antigas, como por exemplo o símbolo do pentagrama (cinco estrelas pontiagudas), que é visto como negativo ao apontar para baixo, e positivo ao apontar para cima.
12.000 Anos de Simbolismo
A suástica mais antiga já encontrada foi descoberta em Mezine, Ucrânia,esculpida em uma estatueta de marfim que remonta a incríveis 12.000 anos. Uma das primeiras culturas que são conhecidas por ter usado a Suástica foi uma cultura neolítica no sul da Europa, na área que hoje é Sérvia, Croácia, Bósnia e Herzegovina, conhecida como Cultura Vinca, que remonta a cerca de 8.000 anos.
No budismo, a suástica é um símbolo de boa sorte, prosperidade, abundância e eternidade. Está directamente relacionado com Buda e pode ser encontrado esculpido em estátuas na sola de seus pés e em seu coração. Diz-se que contém a mente de Buda.
Nas paredes das catacumbas cristãs em Roma, o símbolo da Suástica aparece ao lado das palavras "ZOTIKO ZOTIKO" que significa "Vida da Vida". Também pode ser encontrado nas aberturas de janelas das misteriosas igrejas lalibela rock da Etiópia, e em várias outras igrejas ao redor do mundo.
Em Mitos Nórdicos, Odin é representado passando pelo espaço como um disco ou suástica girando olhando para todos os mundos. Na América do Norte, a suástica foi usada pelos Navajos. Na Grécia Antiga, Pitágoras usou a Suástica sob o nome de "Tetraktys" e era um símbolo ligando o céu e a terra, com o braço direito apontando para o céu e seu braço esquerdo apontando para a Terra.
Tem sido usado pelos fenícios como símbolo do Sol e era um símbolo sagrado usado pelas sacerdotisas.
Como e por que tantos países e culturas diversos, em muitas épocas, usaram o mesmo símbolo e aparentemente com o mesmo significado?
É irônico, e lamentável, que um símbolo de vida e eternidade que foi considerado sagrado por milhares de anos tenha se tornado um símbolo de ódio.
Imagem superior: Suástica símbolo decoração de lâmpadas de argila (diya) em Varanasi, Índia no festival de Dev Diwali. Fonte: ShishirKumar / Adobe Stock
https://www.ancient-origins.net/myths-legends/symbol-swastika-and-its-12000-year-old-history-001312
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