quinta-feira, 9 de abril de 2020

Tavares, Joacine, quejandos & conexos.

“Unde sapientia venit et quis est locus inteligentiae?” (“Sabeis de algum lugar do mundo onde exista a inteligência?”).

  O que acaba de ler-se é Job citado por Ortega y Gasset n’“A Rebelião das Massas” (ed. Relógio d’Água, 1989).

Eu lia o DN. Mas, a dada altura, uma tal Fernanda Câncio tornou-se-me verdadeiramente insuportável; e passei a comprar o Público todos os dias. Ao nunca ver TV – excepto quando vou a casa de amigos e/ou familiares – a imediatidade tem que chegar-me pela imprensa. Na altura o Director era José Manuel Fernandes. Seguiu-se-lhe Bárbara Reis, que, num jornal que não aderiu a essa infâmia do denominado “acordo ortográfico” – honra lhe seja, claro – revela estar mentalmente colonizada. Num seu artigo, há anos, somando expressões e palavras em Inglês contei vinte e nove. Acredito que o domínio do Português lhe seja deficiente. Finda a direcção desta veio Manuel Carvalho, cuja pequenez – e de seus “pares”…  – ficou escancarada em longo, destacado e homuncular editorial, na sequência de um artigo da Drª  Maria de Fátima Bonifácio.

No Público deparei-me com Rui Tavares, a quem, há anos, enviei três ou quatro cartas manuscritas: para o felicitar pela sua generosidade para com Timor e lhe agradecer o ter dito que vinha de origens humildes (já agora direi que eu sou oriundo de uma família de transportadores rodoviários e que dois primos direitos de meu Pai, que se transferiram para Angola com as respectivas famílias, com os seus transportes ajudaram a construir  a barragem das Mabubas c. 60 quilómetros a NE. de Luanda); e para lhe comunicar que o que escrevera era de uma “superficialidade arrepiante”. A adesão ao “acordo ortográfico” é, a esse respeito, eloquente, tal como, presumivelmente, a “amizade” com Varoufakis. Mas a Direcção do jornal – que, em regra compro a pesado contra-gosto – mais que acolhê-lo nas suas páginas andou a publicitá-lo. Apresentou-o como historiador e, até às últimas legislativas, como fundador do “Livre”. Bem… historiadores há p’ra todos os gostos, digamos; e Napoleão até terá dito que “a História é um conjunto de mentiras sobre as quais os historiadores terão decidido pôr-se de acordo”.

Os textos de Tavares revelam alguém que é uma obsolescência cultural. Situado nas “Luzes”, e nelas insistindo, não se dá conta de que a hodierna verdade é subsidiária de uma extremamente subtil complexidade epistemológica; e que a inabalável confiança na razão, o pressuposto do movimento do séc. XVIII, mais não é que um momento do passado do desenvolvimento humano. Grave! Ainda nunca me aconteceu, quando atravesso a Polónia, fazer compras num “Biedronka” (o “Pingo Doce” local) e tenho o devido respeito pela Fundação Francisco Manuel dos Santos. Mas como é possível que esta fundação tenha dado a Tavares a coordenação de uma História de Portugal, há escassos meses começada a publicar!!?? A miséria cultural e a avantajada ignorância tão peculiares a um certo sector da sociedade portuguesa são, evidente e obviamente, a explicação da escolha da Fundação, equívocos de uma sociedade em que responsáveis têm, repete-se, muito a crescer.

“Saber ocupar o seu lugar”, “medir as distâncias”, “ser amigo do seu amigo”, “honrar compromissos” são preceitos que, nas minhas infância e adolescência, se inoculavam aos filhos. Potenciam uma profundidade interior nos antípodas da arrepiante superficialidade e ausência de sentido de alteridade de que Tavares dá provas, ou, melhor, são a sua escancarada identidade. Pelos aduzidos preceitos e pelo rifonário – nomeadamente o britânico – sinto um genuíno respeito. Deste lembro apenas dois adágios: “para fazer um senhor são precisas três gerações” e “a Nobreza discute questões; os criados falam de pessoas”. Imperativo lembrar como, em 2011, se manteve no Parlamento Europeu como independente após a disputa com Louçã. No seu espaço no Público, a 18-I passado, escrevia Vasco Pulido Valente: “Deus Nosso Senhor nos livre do partido Livre (…). Só Rui Tavares podia ter inventado uma intriga destas”. Mesmo na opinião do homem comum o ainda cronista do jornal é visto como destituído de credibilidade. Mais. O rosto de Tavares podia bem acompanhar – ressalvadas todas as distâncias… – os que – tão espantosamente! – estão incluídos na capa de “Um Traidor dos Nossos” de John le Carré, editado pela D. Quixote.

Ou seja: como é possível que uma personalidade tão surpreendente se tenha alcandorado ao protagonismo universitário?; como é possível que, em Lisboa, exista um grupo “surrealista” deste quilate, em que contam do biólogo ao advogado? E aos jornalistas que noticiam não ocorre que saber do Humano terá – forçosamente – que separar-se, digamos, do saber científico, ou dos meros psitacismo, doxografia e retórica? É excelente ser-se ambicioso – mas apenas se, para tal, houver legitimidade. O Livre foi óptimo para Portugal: mostrou que a miséria ético-social, ético-relacional, se desmascara facilmente a si mesma; que o partido deve desaparecer; e que Tavares – desde já – deve frequentar um excelente curso de Filosofia (a começar pelo pensamento xamânico) numa conspícua universidade. Perfeito se o fundador de tão excelso grupo decidir “hibernar”…

Tanto quanto pode inferir-se pelo lido, ouvido, conjecturado, concluído… Tavares é inapto para identificar-se – desde logo – a si mesmo. Leia e interiorize – já –, de Platão, “Apologia de Sócrates” e “Fédon”. Ou a iconoclastia, o aviltamento e o ultraje aos outros não lhe importam? Os seus oportunismo, inépcia e mau perder não podem escamotear-se, são irrefragáveis. Fundou o Partido há sete anos e, instrumentalmente, serviu-se, com outros, de uma negra, gaga, divorciada, feminista – sem aptidão para o cargo – serviu-se, dizia, para os seus mal-fadados desígnios. E não logra disfarçar o despeito quando se refere – e repete-o – ao êxito do CHEGA, o qual, nas pessoas dos Drs. André Ventura e Pacheco de Amorim, muito vivamente saudamos.

Faz algum sentido convocar um coxo para uma maratona ou um cego para atirador, v. g., de Infantaria? Perante a “surrealista” situação não há uma legislação parmenidiana que possa surgir? E não venham dizer que isto é racismo. À oratória é inerente presença, profundidade, preparação, pathos, celeridade… Mais. Não é preciso ser-se sagaz morfopsicólogo para notar que o olhar de Joacine – categoria para historiadora a de alguém dominado pelo ressentimento!!?? – é pesado (a remeter para os seus antepassados antropófagos), estático, dominado pela perplexidade, de pessoa desvalida. Mais ainda. E já nem me alongo na questão da bandeira de um dos mais conspícuos Estados do orbe – ut fama est… – na noite das eleições. Joacine pode ser, legalmente, portuguesa, apresentar-se como ocidental, mas o que Portugal lhe merece é aversão, tal como não se cansa de repeti-lo. Quanto ao seu secretário, já tem um lugar garantido na Historia da perversão da moda em Portugal… E talvez também a deputada, que logo na sua primeira apresentação na AR mostrou um penteado com extensões capilares. Homenagem à sua terra de origem? Não é racismo nenhum perguntar-lhe por que não se muda para lá. Um amigo nascido em África, catedrático com valor, dizia-me há dias, enquanto viajámos no seu carro de prestigiada marca, que nem Mamadou nem Joacine representam ninguém além de si próprios.

Movido pela ambição, Tavares fundou um partido… inútil, horroroso, desqualificante. Ao revelar mentes insuspeitas – e Ricardo Sá Fernandes na sua escancarada estreiteza também aqui se arrola – prestou – contrariamente a tudo o que podia lobrigar… – um inestimável serviço a Portugal. O País dos “gestos belos / dos austeros e graves ancestrais” (acabo de citar o colossal Reis Ventura), valente e empreendedor como poucos, credor do egrégio respeito da História, sabe agora que o esforçado labor nos campos e alhures, a aturada investigação dos estudiosos, a atenção da Igreja ao imediato (todavia a estupidez da Renascença e o negar a audiência ao Doutor André Ventura não se admitem), ao imediato e ao perene, o culto do patriotismo e da espiritualidade, o recolhimento dos grandes espíritos, nada têm que ver com este “fartar vilanagem” que lhe foi servido por gente espúria da capital do ex-Império. ■

J. A. Alves Ambrósio

O Diabo, 27 de Março de 2020

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