quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

Quando Jill Biden tirou uma foto com a camisola da selecção portuguesa.

Helena Tecedeiro

Um dia após a posse de Joe Biden, o Ex-embaixador Robert Sherman republicou no Facebook uma foto com a agora primeira-dama numa passagem desta por Lisboa, em Julho de 2016, em que ambos seguram a camisola que lhe foi oferecida, autografada por todos os jogadores campeões da Europa. Um momento que recorda no DN.

Robert Sherman tem saudades de Portugal. É ele quem o confessa, numa troca de mensagens com o DN. "Sinto falta das pessoas!", escreve o antigo embaixador dos Estados Unidos em Lisboa, assim, com ponto de exclamação a condizer, antes de acrescentar: "Portugal tem o povo mais caloroso e amistoso do mundo." Talvez tenham sido as saudades que levaram Sherman a, um dia depois da posse de Joe Biden como presidente dos EUA, partilhar no Facebook uma foto sua com a agora primeira-dama Jill Biden, ambos sorridentes e empunhando uma camisola da selecção portuguesa de futebol, assinada por todos e oferecida o então embaixador pelos jogadores que venceram o Europeu de 2016.

Quando Jill Biden tirou uma foto com a camisola da seleção portuguesa

"A Dra. Biden fez uma paragem em Portugal em 2016 a caminho de uma viagem a África. Tinha ouvido dizer muitas coisas boas sobre Portugal e estava ansiosa por visitar o país", recorda Sherman. E "como a visita dela aconteceu pouco depois de a selecção nacional ter ganho o Europeu, expliquei-lhe o quanto aquela vitória tinha significado para as pessoas em Portugal e para a psicologia da nação", conta o homem que graças aos seus vídeos de apoio à selecção portuguesa se tornou conhecido no país todo.

De cachecol ao pescoço ou enrolado à volta da cabeça, o advogado de Boston que em 2014 Barack Obama nomeou embaixador em Lisboa começou a fazer os vídeos por brincadeira, em resposta a uma desafio da sua homóloga em Viena. Mas à medida que a equipa ia ganhando, ia-se tornando um fervoroso adepto - ao ponto de ter ido assistir à final frente à França em Paris, com o presidente Marcelo Rebelo de Sousa. Os jogadores não deixaram passar o apoio em branco e ofereceram a Sherman uma camisola com o seu nome e assinada por todos.

Sherman parece ter iniciado uma nova tradição na Embaixada dos EUA em Lisboa. O seu sucessor, o republicano George Glass (que entretanto já regressou à América), um fã de futebol americano, pouco depois de chegar a Lisboa foi assistir com a mulher, Mary, a um jogo de apuramento da selecção portuguesa de futebol contra a Suíça. E numa entrevista ao DN antes do Mundial de 2018, dizia: " Não sei se consigo ser um líder de claque tão animado como foi o meu antecessor, mas estou entusiasmado."

Voltando a Sherman, foi a camisola oferecida pela selecção que quis mostrar a Jill Biden. Na altura, o embaixador escreveu no Facebook como a mulher do então vice-presidente apreciara a capital portuguesa. "Foi um prazer parar em Lisboa a caminho de África. Tive a oportunidade de ver a cidade e de visitar a Torre de Belém e o Mosteiro dos Jerónimos. Estou tão impressionada com Portugal."



Passados quatro anos e meio, Sherman lembra ao DN como Jill Biden se mostrou "muito interessada nos portugueses", até porque "sabia pela sua experiência nos EUA como o sucesso desportivo pode elevar um país inteiro". E por isso a professora - profissão que recusou abandonar enquanto o marido foi vice e que recusa abandonar agora que é presidente - não hesitou em "posar comigo com a camisola autografada que a selecção nacional portuguesa me deu quando se preparava para embarcar no avião, como forma de honrar o povo português". E garante: "É seguro dizer que ela gostou do tempo que passou em Portugal."

De volta aos EUA e à advocacia - defendeu centenas de vítimas de abusos sexuais por membros da Igreja Católica, no caso Spotlight, que inspirou o filme homónimo -, Sherman guarda um lugar especial para Portugal no coração. "O que, para mim e para Kim [a mulher], tornou o tempo que passámos em Portugal tão especial foi a forma como os portugueses nos receberam e nos fizeram sentir parte da comunidade. Quando nos fomos embora, disseram-nos que Portugal não tem dez milhões de habitantes, tem dez milhões e dois - Kim e eu." E "até hoje Portugal permanece nas nossas almas, e os portugueses no nossos corações".

Como é tradição, os Sherman deixaram Lisboa a 20 de Janeiro de 2017, na data da posse do novo presidente, Donald Trump. Entretanto, voltaram várias vezes. "Uns meses depois de sair como embaixador, fui convidado para servir no Conselho Geral e de Supervisão do Novo Banco, por isso viajei para Portugal todos os meses até a pandemia de covid-19 restringir as viagens internacionais." Também a mulher mantém a ligação a Portugal. Depois de lançar a iniciativa Connect to Success quando era embaixatriz, Kim Sawyer dá agora aulas no Babson College, onde faz a ligação entre equipas dos seus alunos de Gestão e startups de empresárias portuguesas. "Ambos pretendemos manter o nosso envolvimento em Portugal como parte da nossa vida diária", diz.

O fim da política do tuíte

Democrata, Sherman, que trabalhou na campanha de Obama, ajudando a recolher mais de 500 mil dólares, respira de alívio com a chegada de Joe Biden à Casa Branca. E antevê uma era de cooperação reforçada entre os EUA e os aliados. "A Administração Biden rejeita política da "América Só" seguida pela Administração anterior. Há um reconhecimento de que os maiores problemas e ameaças que enfrentamos, sejam o terrorismo ou as alterações climáticas, têm de ser enfrentados através de uma parceria e cooperação global", garante Sherman. E quando os EUA procuram parceiros, "viram-se para a Europa, em primeiro lugar porque temos uma história comum e partilhamos um conjunto de valores, como o compromisso com a democracia, tolerância e respeito pelos direitos individuais".

Com Portugal a assumir neste primeiro semestre de 2021 a presidência da União Europeia, "não só existe uma relação histórica forte entre os nossos países como temos uma oportunidade única de conduzir o mundo para a frente", afirma Sherman.

O antigo embaixador acredita que a marca da presidência Biden vai ser "a previsibilidade", bem como as decisões baseadas em factos e na ciência. "Os nossos aliados, incluindo Portugal, têm de saber que Biden não vai protagonizar uma "política do tuíte", e que vamos voltar a uma análise ponderada dos assuntos e na implantação cuidadosa das nossas iniciativas estratégicas", explica.

E faz questão de sublinhar que "o presidente Biden é alguém que sabe o que são problemas financeiros e que sofreu duras perdas na sua vida", numa referência às mortes da primeira mulher e da filha bebé num acidente em 1972 e à morte do filho mais velho, Beau, de cancro, em 2015, aos 46 anos. E remata: "É a pessoa com mais compaixão que conheço, e isso vai refletir-se nas suas políticas."


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