Aumentar a produtividade pelo crescimento dos salários
Jorge Fonseca de Almeida
18 Janeiro 2022
A produtividade do trabalho aferida como a produção média de uma hora de trabalho em cada país é uma medida do grau de sofisticação e especialização das diversas economias. Ela não mede o esforço colocado pelo trabalhador, mede antes em que sectores a economia se concentra e o grau de mecanização e digitalização da economia. Um cavador energético e esforçado não consegue competir com um trabalhador preguiçoso e sonolento da agricultura moderna com rega automática e doseada e com tractores e maquinaria de ponta.
A falácia de que a produtividade depende do mero esforço humano mantém-se ridícula mesmo quando repetida mil vezes pelas entidades patronais e pelos governantes.
O cerne da produtividade do trabalho está, como sempre esteve, do lado das empresas. Da forma como investem em organização e em maquinaria, robotização e digitalização e, muito pouco, no que exigem de longas jornadas de trabalho, horas extraordinárias não pagas, precariedade laboral e baixos salários. Esta super exploração laboral é fruto da ineficácia das empresas em investir.
Enquanto as empresas não forem responsabilizadas e penalizadas pela baixa produtividade nacional o país vai continuar a empobrecer e a resolutamente entrincheirar-se na cauda da Europa.
Em 2014 a produtividade nacional era de 79% da produtividade média europeia, em 2020 era de 74,6%, isto é piorou. Em contrapartida só para citar um ou dois países a produtividade da Polónia era de 73,5% da média europeia em 2014 e de 81,6% em 2020. Não só não desceu
como a nossa mas cresceu e ultrapassou-nos. A Roménia que tinha uma das mais baixas produtividades europeias passou de 56,9% da média europeia para 75,2%, isto é também nos ultrapassou (dados do Eurostat).
Ainda estão 6 países atrás de nós, mas em muitos deles a produtividade está a crescer, a nossa vantagem é pequena e em breve seremos ultrapassados por mais alguns.
Enquanto a nossa produtividade se afunda nós continuamos no caminho do declínio convencidos como estamos que a governação foi um êxito e que somos cada vez mais europeus.
É preciso, pois, outra política. Em vez de sustentar a produtividade na super exploração laboral, que tem incentivado uma emigração em larga escala (um milhão de pessoas na última década, já superior à emigração dos passados anos sessenta) e que, no mundo tecnológico actual, pura e simplesmente não funciona, o que é preciso é o investimento massivo em tecnologias, organização e na actualização das condições laborais dos trabalhadores.
As actuais politicas laborais são um incentivo à decadência e obsolescência tecnológica assente na miragem de um competitividade pelo baixo custo da mão-de-obra. Uma competitividade que já nem o capital estrangeiro atraí porque poucos querem investir num mercado minguado nem em países em retrocesso.
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