É difícil imaginar possível, mas Marcelo Rebelo de Sousa disse mesmo isto, aos tristes discípulos da "Universidade de Verão" (um eufemismo para centro sazonal de aniquilação de neurónios) do PSD:
Há nesta breve afirmação tantas camadas de idiotia que é quase impraticável dissecá-las todas.
O patético e senil chefe de Estado que temos esqueceu-se que a União Soviética já não existe, há coisa de três décadas.
Ignora (ou finge ignorar) que o actual estabelecimento russo é, ao contrário do regime dos sovietes, tradicionalista, nacionalista, conservador e cristão.
Digo 'finge ignorar' porque o que o inquilino do Palácio de Belém odeia realmente nos russos é precisamente isso: o facto de constituírem a antítese do globalismo que ele representa, na sua ínfima escala, fanaticamente.
O infeliz esqueceu-se também da natureza do seu cargo, insultando e difamando um parceiro estratégico do país que dirige, que por acaso até é uma das primeiras potências mundiais.
E a difamação é de tal forma grave, de tal forma baseada em falsas alegações, que há até altas figuras da vida política norte-americana que neste momento correm o risco de ser judicialmente procuradas por terem fundado a fraudulenta narrativa.
Se Portugal fosse apenas um bocadinho menos insignificante, Marcelo teria desencadeado um sério incidente diplomático, no mínimo.
O Presidente desta ridícula república é afinal o derradeiro teórico da conspiração, embora, para cúmulo da estupidez, tenha precisamente acertado numa das poucas teorias da conspiração que são demonstravelmente destituídas de base factual. É espantoso.
Mais a mais, e esquecendo até a anacrónica e disparatada referência soviete, Marcelo Rebelo de Sousa manifesta através destas inqualificáveis e ensandecidas declarações que não está de todo a par da política externa da Casa Branca.
Para além do teatro político do Alasca – que não levou a lado nenhum – que fez afinal Donald Trump para "favorecer estrategicamente a Federação Russa"?
A NATO continua a apoiar, com fervor jacobino e generosidade recordista, a causa ucraniana.
Os poderes instituídos em Washington continuam empenhados em hostilizar a Rússia, com retórica escatológica, ameaças sortidas – económicas e militares -, promessas de ódio eterno e chorudos negócios de armas com a Europa, para que os globalistas daqui possam armar os ucranianos à custa das sua próprias economias.
Nem uma semana passada sobre a cimeira de Anchorage, Trump incentivava Zelensky a bombardear, com armas de fabrico norte-americano, o interior do território russo.
Uma semana antes desse encontro de soma zero no Alasca, e porque não gostou de dois posts de rede social publicados por Dimitry Medvedev, o presidente americano mandou avançar dois submarinos nucleares para as proximidades de Kaliningrad, o enclave russo no Báltico.
Em Julho, ficámos a saber que, num ataque de insanidade que transcende até o belicismo anti-russo de Joe Biden, Donald Trump terá questionado o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky sobre a possibilidade de Kiev bombardear Moscovo e São Petersburgo.
Enquanto ameaça constantemente Moscovo com sanções económicas de amplitude astronómica, o magnata de Queens tem insultado Putin com regularidade, chamando-lhe louco, mentiroso, falso e manhoso, entre outros carinhos.
Será que, aos míopes olhos de Marcelo, a promessa de paz que Trump fez aos seus eleitores, e pela qual tem errática e contraditoriamente batalhado, constitui um favorecimento estratégico da Rússia?
E, já agora, que interesse para Portugal e para os portugueses vê Marcelo Rebelo de Sousa em hostilizar a Rússia? Constitui o Kremlin uma ameaça para o nosso país?
Claro que não e ao contrário: a verdadeira ameaça que enfrentamos é o próprio Marcelo Rebelo de Sousa e a filosofia neo-liberal, leninista-globalista, de que é a imagem cuspida.
É excessivamente doloroso tê-lo como representante político do meu país.
Paulo Hasse Paixão
Publisher . ContraCultura
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