Tentar forçar o outro a mudar não é um desafio, é uma estupidez! A autora Margarida Vieitez, que escreve sobre relações na Bolsa de Especialistas VISÃO, explica a teoria
Este é um dos principais problemas dos casais: escolhem fazer longas caminhadas, com “roupas” XS ou XXL, quando o seu tamanho é o M, o S ou o XL. Decidem optar por cores e/ou feitios que não gostam, detestam e não podem ver à frente, e depois…
Depois começam a sentir-se desconfortáveis, rapidamente desconfortáveis… investem-se no papel de costureiros de alta costura, alargam, apertam, mudam as cores e os feitios, enquanto a “roupa” vai “gritando” que não quer saber, nem escutar, nem mudar.
A história acaba com a “roupa” em fuga e alguém desesperado atrás dela, continuando estoica e audaciosamente a tentar transformá-la naquilo que imaginou, desenhou e acreditou que seria.
A tentativa desenfreada de mudar o outro é uma necessidade neurótica que muitos sentem, com maior ou menor evidência. E é preciso um esforço grande para a superar.
Muitas pessoas acreditam inclusive que o verdadeiro Amor só acontece quando os dois pensam, sentem, gostam e comem o mesmo. Nada mais errado!
O Amor acontece na aceitação da imperfeição, respeito pela diferença e forma como o outro gere as suas emoções.
Existem “coisas” que não conseguimos aceitar? Sim existem! E o que um aceita, outro pode não conseguir aceitar. E, quando assim acontece, precisa pensar sobre isso.
Coloque o filme “Transformação radical, aqui vou eu!” em pausa, e reflita sobre isto: Precisamos aprender a não escolher “roupas” que não são do nosso tamanho e agrado para fazer caminhadas de mãos dadas, pois não vai resultar.
Primeiro, porque não nos servem, depois porque mesmo com arranjos e mais arranjos, nunca brilharão e, depois, porque todos esses “cortes”, “recortes” e “tingimentos” o vão desgastar brutalmente, sugar energia, envelhecê-lo, tirar-lhe tempo de vida e ainda, roubar-lhe muitos sorrisos, para além de poderem ter a agravante de fazer com que o outro em vez de melhorar, piore e “cultive” ainda mais defeitos, só para o aborrecer e castigar.
Quando alguém se sente pressionado a ter uma determinada atitude, comportamento, fazer ou dizer algo, de imediato cria-se uma espécie de “barreira” de resistência que fará com que, de forma quase “automática”, dê uma resposta negativa, especialmente quando a pressão, convida todos os seus amigos para a “festa”, entre os quais se destacam a culpa, a critica, o autoritarismo, a inferiorização, a incapacitação, a humilhação e a generalização com a famosa frase “És sempre o mesmo/a! Nunca vais mudar!”
Uma pessoa não muda por pressão, muito menos por coação, chantagem, ameaças ou manipulação. Muito pelo contrário. Todas estas estratégias apenas vão fazer com que sinta uma intensa vontade de se defender, as discussões e conflitos disparem, a ansiedade se instale, a guerra comece e vivam os dois inconfortavelmente instalados, em trincheiras de fogo cruzado.
Se quer viver assim a sua vida, então continue a tentar mudar os outros. Quando chegar ao fim da sua vida, as suas memórias provavelmente serão gritos, ofensas, mágoas e uma montanha de ressentimentos.
Pare de querer vestir roupa que não gosta, que não lhe serve, que o faz sentir arrepios de frio ou um calor escaldante, que o faz contorcer e o deixa cansado e enjoado.
As pessoas só mudam quando querem mudar. Não depende de si.
Lamento dizer-lhe: mas, não está no seu controlo. Por isso, não se exija essa proeza de mudar seres humanos quando eles não estão para aí virados, pois semeará esperança e colherá desilusão e frustração.
Para alguém alterar comportamentos ou atitudes, primeiro vai ter de mudar a sua forma de pensar e perceber em que medida estes influenciam o seu bem-estar e felicidade e a dos outros.
Mas, nem todas as pessoas tem esta capacidade de pensarem e se autointerrogarem, colocar em causa e de “quarentena” a sua forma de agir com os outros.
Sabe porquê? Porque para o fazerem é preciso terem capacidade para estarem atentas, para escutarem, para se colocarem no lugar do outro, para sentirem o que o outro está a sentir, para terem compaixão, para se questionarem e de efetivamente mudarem. Porque querem, porque para elas faz sentido, não porque o outro quer.
Podem mudar sim, mas não vão apagar a sua personalidade, as suas experiências de vida, passar por cima das suas crenças, convicções, princípios, gostos, interesses… e transformar-se no seu clone encantado. Nada disso.
Poderão alterar alguns gestos, estar mais atentos e recetivos às suas necessidades, investir mais na relação, deixar de ter determinadas atitudes hostis, aprender a comunicar e controlar as suas emoções… mas, a sua essência e personalidade continuarão intactas. Não vale a pena tentar “substituí-las!” Não são peças avariadas!
A falsa ilusão de conseguir mudar o outro, além de ser uma das mais inglórias missões no deserto, pode ter sérias e graves consequências ao nível da sua saúde mental e física.
A sua paz passa por pensar que cada ser humano têm uma essência e uma mente diferente, por identificar e aceitar que todos nós temos perceções singulares, mas que essa diferença pode ser enriquecedora quando não é torturante, pode significar crescimento, quando não é castradora, pode ser edificante quando não é inaceitável ou patológica.
Pare que querer ser oleiro e moldar o que não é moldável.
Invista antes, em perceber porque essas atitudes o magoam e irritam tanto e na descoberta da razão por que continua a aceitar o que é para si inaceitável.
Tentar mudar um outro ser humano não é uma decisão inteligente, é um tiro nos pés!
Mais do que uma tentativa falhada é um desrespeito por si próprio, pois vai legitimar o outro a fazer exatamente o mesmo consigo, isto é, a querer mudá-lo a ferro e fogo, a exigir-lhe ser quem não é, nem quer ser.
Aceite o que admira, não negue o que não gosta.
Valorize, reconheça, elogie o que gosta. Pense se consegue aceitar o que não gosta.
Não pense que o seu amor vai mudar o que detesta. Não vai. Vai detestar cada vez mais, o seu foco vai incidir sobre esses aspetos e rapidamente, vai deixar de ver o que o cativa.
Não tenha medo de falar sobre o que não gosta, não aceita, não quer para si. Só você o pode fazer. Só você se pode proteger.
Não tenha medo de perder. Se não o fizer, o risco é muito maior, para si!
Não tenha medo de dizer o que sente, o que pensa, o que sonha e deseja… lute, persevere, acredite!
Não aceite na sua vida quem não quer na sua vida. Não pense que talvez com tempo e paciência essa pessoa se vai transformar em quem imaginou. Nunca acontece.
Seja genuíno e leal, principalmente consigo próprio, e deixe de acreditar que tem na mão uma varinha mágica. Elas só são uteis para triturar sopas e só existem nas histórias para crianças. Estamos a falar de adultos!
Existem tantos desafios que lhe fazem tão bem e que contribuem para se sentir melhor consigo mesmo, com os outros e com a vida, que possibilitam e fomentam o seu desenvolvimento pessoal, o seu crescimento emocional e psicológico e a descoberta do verdadeiro Amor…
Um Amor que nunca acaba…
Porquê perder o seu tempo de vida a transformar o que não depende da sua vontade ou capacidade ou talento ou dom, ou Amor, mas apenas do outro?
E se o outro já demonstrou por A mais B, C, D… que é assim que quer ser e viver… será que isto é um desafio ou perda de tempo?
Escolha um Amor à sua medida, nem apertado, nem largo, quentinho e com a cor e o feitio que quer. E ainda assim, porque não existem pessoas nem relações perfeitas, ainda assim… existirão sempre pormenores que não vai gostar.
Mas, o mais importante é que não sinta “arrepios” e consiga focar-se no que de bom essa pessoa tem, lhe dá e faz.
Tudo o mais, é pura ilusão e histórias de desencantar!
www.margaridavieitez.com – Visão
Margarida Vieitez
RELAÇÕES
Margarida Vieitez é especialista em mediação familiar, de conflitos e aconselhamento conjugal, e dedica-se há mais de 20 anos ao estudo e acompanhamento de conflitos de diversa ordem, nomeadamente, familiares, conjugais e divórcio. Detentora de seis pós graduações, entre as quais, em Mediação Familiar pela Universidade de Sevilha, em Mediação de Conflitos e, em Saúde Mental, ministrou vários cursos de Mediação Familiar no Instituto de Psicologia Aplicada, estando frequentemente presente em conferências e seminários. Autora de vários livros, dentro os quais, "O melhor da vida começa aos 40", "Sos Manipuladores" e "Pessoas que nos fazem Felizes" .