terça-feira, 9 de julho de 2019

Antiga chefe do FMI em Portugal, Teresa Ter-Minassian, fala de “retrocessos” no país.

A economista que liderou a missão do FMI em Portugal em 1983 considera que o progresso das reformas estruturais em Portugal tem ficado aquém do desejável e houve retrocessos.

A economista que liderou a missão do FMI em Portugal em 1983 considera que o progresso das reformas estruturais em Portugal tem ficado aquém do desejável e houve retrocessos, nomeadamente, no mercado de trabalho, recomendando maior flexibilidade nas negociações salariais.

“Na minha opinião, o progresso nas reformas do lado da oferta tem sido inferior ao desejável e, em algumas áreas (por exemplo, no mercado de trabalho), até houve alguns retrocessos”, afirmou Teresa Ter-Minassian, em entrevista por escrito à agência Lusa.

No entender da chefe da missão do Fundo Monetário Internacional (FMI) em Portugal em 1983, “seria desejável uma maior flexibilidade nas negociações salariais, para reflectir as diferenças na produtividade e nas condições das empresas dos diferentes sectores, e também seria [desejável] o aumento da concorrência em alguns sectores, incluindo o dos serviços”.

Para Teresa Ter-Minassian, é igualmente necessário facilitar a resolução [liquidação e insolvência] de empresas que não sejam economicamente viáveis e promover a inovação, sobretudo nos sectores tecnológicos, nomeadamente através de melhores sinergias entre as instituições de ensino superior e a indústria.

Na entrevista à Lusa, a economista frisou que também são necessárias reformas adicionais na educação, “para garantir que a força de trabalho portuguesa tem as competências necessárias para enfrentar novos desafios tecnológicos”.

Teresa Ter-Minassian afirmou ainda que “o Governo deveria concentrar-se na promoção de investimentos privados através de reformas tributárias e regulatórias adequadas, em vez de ‘escolher vencedores’ ou subsidiar empresas menos eficientes, incluindo empresas estatais”.

Questionada sobre se concorda que Portugal tem tido sorte nos últimos anos, como afirmou o antigo economista-chefe do FMI, Olivier Blanchard, em meados de Julho, Teresa Ter-Minassian respondeu que o país “está certamente a beneficiar do hiato actualmente positivo entre a taxa de crescimento do PIB e o custo médio real da dívida pública”.

Segundo a economista italiana, esta margem, em conjunto com os excedentes primários moderados [que excluem os custos com juros da dívida] registados nos últimos anos, permitiram “a descida significativa do rácio da dívida em relação ao PIB” e, no seu entender, “a manutenção de excedentes primários significativos num futuro previsível é essencial para assegurar a redução sustentada da dívida pública” rumo à meta europeia de 60% do PIB.

Questionada sobre o que pode Portugal fazer para melhorar o desempenho da economia e das contas públicas e a qualidade de vida dos cidadãos, Teresa Ter-Minassian indicou que o país pode fazer mais progressos “através de reformas fiscais favoráveis ao crescimento e à equidade”.

E a economista italiana, que também passou pelo banco central italiano, recomendou ainda que Portugal melhore “a composição e eficiência dos programas de despesa pública”, “fortalecendo o desempenho das empresas públicas ou privatizando-as (ao mesmo tempo que assegurando uma concorrência e regulamentação adequadas)”, além da aposta nas reformas estruturais.

Teresa Ter-Minassian liderou a missão do FMI em Portugal em 1983, naquela que foi a segunda intervenção da instituição em Portugal, depois da primeira em 1977.

Naquela altura, com o desemprego acima dos 11% e uma dívida externa galopante devido à subida das taxas de juro internacionais, o FMI emprestou 750 milhões de dólares e impôs cortes nos salários da Função Pública, aumentos de preços, travão ao investimento público e cortes nos subsídios de Natal, entre outras medidas.


Agência Lusa-observador

segunda-feira, 8 de julho de 2019

Aranhas: por que não devemos matá-las

A sua presença quase nunca é desejada dentro de casa, mas estes pequenos animais ajudam a manter o espaço livre de insectos sem que tenhamos que recorrer a químicos.

Encontramo-las normalmente nos cantos mais escondidos da casa, debaixo dos móveis ou atrás dos electrodomésticos. Naqueles locais por onde o aspirador, a vassoura ou o pano do pó não passam assim com tanta frequência. E quando nos deparamos com elas – as aranhas -, a primeira reacção é matá-las e destruir-lhes as teias. Mas devemos fazê-lo?

Rui Carvalho, doutorando do Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Climáticas da Universidade dos Açores e do Laboratory for Integrative Biodiversity Research da Universidade de Helsínquia, defende que não. Considera mesmo que “a presença das aranhas por casa é mais desejável do que indesejável”.

O motivo é muito simples, explica este biólogo que colabora em projectos de aracnologia desde 2005: “Elas cumprem um papel de controlo de insectos inoportunos, como os mosquitos que nos picam ou as moscas da fruta que adoram aquelas peças escondidas no fundo da fruteira”.

Ou seja, são uma forma natural de mantermos a casa livre de insectos sem termos que recorrer a produtos químicos. Fora de casa ajudam, por exemplo, a controlar as pragas agrícolas.

A maioria das aranhas que existem em Portugal são carnívoras e predadoras. As que encontramos dentro de casa normalmente utilizam como método de caça a construção de teias (nas quais os animais de que se alimentam ficam presos) ou percorrem o solo à procura de vítimas.

Outras espécies presentes em Portugal, mas fora das nossas casas, constroem um alçapão à entrada do seu esconderijo, de onde saem alguns fios da teia. Quando algum animal toca nesses fios, elas abrem o alçapão e capturam-no.

Há, no entanto, uma espécie que se destaca pela peculiaridade da sua técnica. “A Holocnemus pluchei, o nosso inofensivo aranhiço doméstico, monta por vezes a sua teia na vizinhança da teia de outras espécies. E se tiver essa oportunidade, rouba as presas à sua vizinha”, assinala o mesmo investigador.

É um caso de cleptoparasitismo, um fenómeno que tanto pode ocorrer entre seres da mesma espécie como entre seres de espécies diferentes.

Menos repulsa, mais respeito

E se, mesmo assim, nos quisermos ver livres delas? Há outras opções que não matá-las. Poderemos, por exemplo, tornar-lhes a nossa casa menos confortável colocando redes mosquiteiras em todos os pontos de entrada (portas, janelas, chaminés, etc.). Desta forma, impedimos a sua entrada e a dos insetos dos quais elas se alimentam.

Existe uma forma ainda mais célere de fazer com que saiam da nossa casa: basta colocar um copo de vidro sobre a aranha e fazer deslizar uma folha de papel sob o mesmo, de modo a que ela não saia. Depois, é só largá-la numa zona com vegetação, aconselha o mesmo investigador.

Rui Carvalho acredita que se conhecermos melhor estes animais e o papel que desempenham na natureza, tenderemos “a olhá-los com menos repulsa e mais respeito”.

Por este motivo, ele e a bióloga Andreia Valente estão a desenvolver um projeto intitulado “Aranhas: ainda temos idade para termos medo delas?”, através do qual pretendem mostrar que “há espaço para muito mais do que o medo; há espaço para convivência, curiosidade e empatia por estes animais”, diz.

O projeto venceu o concurso Fala Ciência?, em novembro de 2018, e em março será apresentado no FameLab, o mais popular concurso internacional de comunicação científica, cuja final decorrerá em junho em Cheltenham, no Reino Unido.

Por terra, mar e ar

• O número de olhos não é igual em todas as espécies, mas são sempre em número par. Em Portugal, existem aranhas com oito e seis olhos e algumas espécies cavernícolas que simplesmente não têm olhos.

• Nem todas as aranhas constroem teias, mas todas fabricam seda. As teias têm propriedades antifúngicas, e algumas podem segregar cola para as presas ficarem agregadas. Podem usá-las para capturar, fazer abrigos, proteger os ovos, fazer linhas de segurança e estruturas para acasalamento.

• Há aranhas que praticam balonismo, ou seja, deslocam-se aproveitando as correntes de ar ou elétricas existentes na natureza. Normalmente, esta é uma técnica utilizada pelos juvenis. Posicionam-se num ponto alto e lançam uma teia, que é literalmente arrastada pela força dos elementos. Muitas vezes, as aranhas estão entre as primeiras espécies colonizadoras de ilhas vulcânicas recém-formadas.

• Existem aranhas em todo o mundo. Desde ambientes aquáticos aos desertos até aos círculos polares. São animais que conseguem adaptar-se bem a condições extremas.

Texto de Fátima Mariano

João Félix, distinta e última adição à lista histórica, de vermelha e branca, de origem portuguesa.

Um total de quatorze jogadores portugueses precedido ao Atlético incorporando na equipe.

A chegada de João Félix ao Club traz para quinze o número de jogadores portugueses que, em algum momento na história, pertenceram à disciplina Atlético vermelha e branca; uma relação cheia de sucessos desde Jorge Alberto de Mendonça Paulino que foi inaugurar esta lista com seu álbum de estreia em 1958.
Nascido em Luanda  até há quase cinco décadas Angola seria colónia portuguesa, defendeu as cores por mais de nove temporadas, durante o qual ele jogou 234 jogos e marcou 91 golos. Objectivos que contribuíram significativamente para a conquista de La Liga 1965/66, a Copa vencedores Taça 1961/62 e os topos do Generalíssimo 1959/60, 1960/61 e 1964/65. Além disso, em 15 de Setembro de 1965, Mendonça protagonizou um dos momentos dos mais emblemáticos da história do clube, quando ele saiu sobre os ombros do Estádio Metropolitano, após a assinatura de um 'hat-trick', contra o Dínamo de Zagreb na primeira etapa da fase eliminatória da Taça das taças de Essa campanha.
Outra imagem icónica da história também deixou os seguintes portugueses que usava o vermelho e branco Atlético: Paulo Futre. Em 27 de Junho de 1992, final luso marcou um golaço no Santiago Bernabéu que significava 0-2 para a sobremesa de final com o qual nossa equipe venceu o Real Madrid na final da Taça de 1991/92 o rei; 8 coroa do torneio de KO que acrescentamos para nossas vitrines e segunda consecutiva para a bola de prata de 1987. Este foi o ano em que Futre vestiu a primeira camisa atlética, que defendeu por sete temporadas e 215 reuniões oficiais.
Também do Benfica, como João Félix, Hugo Leal (77 partes como abeto vermelho) e Dani Carvalho chegou (72), enquanto a rota inversa viajou Sílvio (21) e Pizzi (16), com uma etapa intermediária pelo desporto da Corunha para ambos e também pelo RCD Espanhol, no caso do segundo. Por outro lado, o campeão europeu FC Porto veio Maniche (84) e Costinha (28), enquanto Académica Coimbra Zé Castro fez (40); Os Belenenses, André Moreira; Paços de Ferreira, Diogo Jota e o Sporting de Portugal, Gelson Martins (12).
Como o Gelson acima mencionada, também foram coroados campeões Super da Europa sendo Atlético - mas com anteriormente - duas lendas de jogadores como Sabrosa Simão e Tiago Mendes, que usava mesmo no nosso clube capitão da pulseira.
Ao longo de quatro sinos, que vão desde 2007/08 para 2010/11, Simão jogou 168 jogos com o Atlético de vermelho e branco, elevação da UEFA Europa League 2009/10 e a Supertaça Europeia em 2010. Curso precisamente mediado 2009/10 foi Tiago, que em oito temporadas - 2016/17 - jogado 228 reuniões oficiais e ganhou a Supertaça próprio de 2010, a partir de 2012, a UEFA Europa League 2011/12, a Copa del Rey 2012/13, LaLiga 2013/14 e a Supercopa da Espanha-2014.

https://www.atleticodemadrid.com e outros

sábado, 6 de julho de 2019

Penhora de salário: quanto lhe podem descontar?

Se está em risco de ver o seu ordenado penhorado, saiba quanto podem retirar ao seu salário e como funciona o processo.

Todos os anos, milhares de portugueses vêem os seus ordenados penhorados. Se tem uma dívida em incumprimento, pode vir a ser alvo de um processo executivo com vista à cobrança coerciva do montante em atraso. E nessa altura, corre o risco de ver o seu vencimento penhorado.

A penhora de vencimento é uma das apreensões judiciais de bens a que os agentes de execução mais recorrem. Porquê? Porque hoje é um processo rápido e eficaz. Mas manda o Código do Processo Civil (CPC) que se cumpram algumas regras.

Ter o vencimento penhorado é uma situação que pode gerar o efeito bola de neve, sobretudo no caso de pessoas ou famílias que estão já muito endividadas. Há uma dívida que não se consegue pagar porque o dinheiro não chega para tudo ao fim do mês. Penhoram-lhe o salário e passa a receber ainda menos. Fica ainda mais complicado fazer face a todos os compromissos e aumenta a possibilidade de vir a entrar em novas situações de incumprimento, com outras entidades. Infelizmente, esta situação é uma realidade que milhares de famílias portuguesas vivem. Explicamos-lhe como funciona.

A penhora incide sobre o vencimento bruto ou líquido?

A penhora de vencimento é calculada tendo por base o salário líquido, ou seja, o salário que recebe efectivamente após os descontos obrigatórios por lei (retenção na fonte de IRS e taxa social única).

E que valores são usados para calcular o vencimento?

Para apurar o valor que o executado (o devedor) recebe mensalmente, a partir do qual será calculado o montante a penhorar, tudo conta. São contabilizadas todas as quantias recebidas relacionadas com a prestação de trabalho, e não apenas o vencimento-base. São incluídos valores recebidos relativos a compensações por horas extraordinárias, comissões, ajudas de custo, subsídio de refeição, eventuais prémios, subsídio de deslocação, subsídio de risco e subsídios de férias e de Natal.

Que percentagem do vencimento é penhorável?

Regra geral, penhora-se um terço do salário. Dois terços do vencimento são impenhoráveis. Mas em casos excepcionais pode-se penhorar mais.

Quais são os limites de valores para a penhora?

No mínimo, o trabalhador tem de ficar com o valor equivalente a um salário mínimo nacional e não pode ficar com mais do que o equivalente a três salários mínimos. Tudo o resto é penhorável.

Como se calcula a penhora de vencimento?

Para calcular o valor que será penhorado, siga os seguintes passos:

  1. Calcule o vencimento líquido: somam-se todas as quantias líquidas recebidas (após os descontos legalmente obrigatórios).

  2. Multiplique o vencimento líquido por 1/3 e obtém o valor penhorável.

  3. Multiplique o vencimento líquido por 2/3 e obtém o valor impenhorável.

  4. Confirme que o valor impenhorável é igual ou superior ao salário mínimo nacional (ou seja, 600 euros em 2019) e inferior ou igual a três salários mínimos nacionais (ou seja, 1.800 euros).

Por exemplo, se o salário líquido do devedor for 900 euros, 300 euros são penhorados e o devedor fica com um rendimento líquido de 600 euros.

Como reagir à penhora?
Se a dívida for devida, a situação ideal passa por pagar a dívida, uma vez que é a única forma de haver um levantamento imediato da penhora.

Não sendo possível esta opção pode ainda tentar reduzir a penhora de 1/3 do salário líquido para 1/6, uma possibilidade prevista na Lei mas a título excepcional.
Se a dívida for indevida, pode apresentar uma oposição, respeitando os prazos previstos para se opor a uma acção executiva, para tentar evitar a penhora.

E se houver várias dívidas?

Se houver várias dívidas – e várias penhoras – aplica-se a regra da lista de espera. O que avança primeiro não é o processo mais antigo. O que conta é a data de notificação. Mas há uma excepção, que confirma a regra: as dívidas relacionadas com pensões de alimentos passam sempre à frente das outras.

Até quando se mantém a penhora?

O valor penhorado será apreendido até que a dívida esteja integralmente paga.

Em que situações o processo de penhora se extingue?

Se o trabalhador receber o ordenado mínimo ou trabalhar em part-time não é penhorado, sendo que o processo termina por impossibilidade de cobrança. O processo também se extingue em caso de desemprego, pois deixa de haver rendimentos, e se o caso do executado emigrar. Hoje continua a ser extremamente difícil recuperar uma dívida fora do país onde foi constituída, mesmo que se trate de outro país dentro da UE.

O melhor é mesmo tentar a todo o custo cumprir os seus compromissos financeiros. Mas se alguma vez não puder evitar uma situação de penhora o vencimento, já fica a saber como funciona.

https://www.contasconnosco.pt/artigo/penhora-de-salario-quanto-lhe-podem-descontar

sexta-feira, 5 de julho de 2019

Offshore: Cerca de 9 mil ME saíram para paraísos fiscais em 2018

Lisboa, 05 jul 2019 (Lusa)

Cerca de nove mil milhões de euros foram transferidos para 'offshore' em 2018, abaixo do valor do ano anterior, destacando-se a Suíça e Hong Kong, segundo dados divulgados pela Autoridade Tributária e Aduaneira.

O montante comunicado pelos bancos ao Fisco sobre as transferências para paraísos fiscais em 2018 foi de 8,95 mil milhões de euros, inferior em 1,4 mil milhões de euros ao valor transferido no ano anterior.

Os dados resultam das declarações submetidas até ao final do último dia útil de maio de 2019, com base no modelo 38, sobre transferências de fundos para 'offshore', incluindo declarações de substituição e declarações submetidas fora de prazo, conforme indica uma nota da Autoridade Tributária e Aduaneira (AT), que acompanha estas estatísticas.

Cronicas de RAP, na Visão

Inspira, expira 29.03.2019


Agora somos tão civilizados que precisamos de aprender a executar aquelas tarefas que os animais fazem instintivamente, como respirar e dormir. Ora, não é o meu caso. Eu continuo a ser um animal – como acho que se nota.
Havia aquela anedota de uma loira que vai ao cabeleireiro. Pedem-lhe para tirar os auscultadores do walkman mas ela diz que não pode ser, caso contrário morre. A esteticista diz-lhe que não seja tonta, tira-lhe os auscultadores e, segundos depois, a loira cai morta. A esteticista põe os auscultadores e ouve uma voz que diz: inspira, expira, inspira, expira. Hoje, a anedota não faz sentido. Já não há walkman, já não há loiras em anedotas e já quase não há anedotas. E, mais importante, já não é extravagante não saber respirar. Há uma boa quantidade de livros, vídeos e até cursos destinados a ensinar a respirar – o que significa que toda a gente precisa de aprender a respirar. E não só: também ninguém sabe bem como dormir. Há dias estava a ver um inovador produto que promete ensinar a respirar melhor para que o consumidor durma melhor. Trata-se de um disco que se coloca na mesa-de-cabeceira. Ele projecta uma luz para o tecto e a gente tem de ir respirando ao ritmo a que a luz brilha. A cadência da luz vai diminuindo e, por isso, a nossa respiração também. E então adormecemos mais facilmente. Estive a segundos de encomendar o produto, que custava 49 libras, até que me ocorreu que eu era a loira da anedota. Talvez neste ponto eu deva fazer algumas declarações de princípios. Eu não acho que exista uma relação entre a cor do cabelo de uma pessoa e a sua capacidade intelectual. Não discrimino entre loiras, morenas ou ruivas. Tenho amigas loiras e acho que elas devem poder casar e adoptar crianças. Possuo um papel azul de 25 linhas selado e reconhecido por um notário que comprova tudo o que acabei de dizer. Mas não queria ser a loira da anedota porque ela é burra ao ponto de não saber respirar. É só isso.
No entanto, hoje ninguém parece saber respirar. Nem dormir. Eram coisas que se nascia a saber fazer, como qualquer animal. Mas agora somos tão civilizados que precisamos de aprender a executar aquelas tarefas que os animais fazem instintivamente, como respirar e dormir. Ora, não é o meu caso. Agradeço a ajuda da sociedade para respirar e dormir mas cá me hei-de arranjar. Eu continuo a ser um animal – como acho que se nota. E não é circunstância que me entristeça, atenção. Posso ser um bicho selvagem, mas poupei 49 libras.


Porco selvagem é o senhor . 22.03.2019


O facto de cada história acabar com um banquete entusiasmava muito o pequeno alarve que eu era
Entre as notícias mais interessantes dos últimos tempos conta-se a que revela que Portugal sofre de uma praga de javalis. A existência de javalis costuma ser vista como uma curiosidade adorável, uma plácida ocorrência bucólica. Nunca tendo comido javali, eu já lhe sentia o sabor, por causa dos livros do Astérix. O facto de cada história acabar com um banquete entusiasmava muito o pequeno alarve que eu era. Com os livros dos Cinco era a mesma coisa. Eu não fantasiava muito com as aventuras dos primos que capturavam uma quadrilha de bandidos que estavam escondidos na torre do farol para roubar os planos de um submarino que o tio tinha concebido. Estava mais interessado nas lancharadas que eles faziam, e que me pareciam preparadas com cuidado e gosto. O combate ao crime não me interessava tanto. Portanto, acolho com entusiasmo a notícia de que vai haver debate parlamentar sobre javalis. Tento imaginar como é que a assembleia se dividirá ideologicamente a propósito do javali e tenho dificuldade. Tirando o PAN, que em princípio é a favor da praga, nenhum partido produziu, que eu tivesse visto, pensamento coerente sobre o javali. Na pior das hipóteses, o debate servirá para que os deputados se agridam com insultos inovadores. Por exemplo, proferindo frases tais como: “Na opinião do meu partido, é fundamental acabar com estes porcos selvagens”, enquanto se aponta disfarçadamente para outro grupo parlamentar.
Seja como for, é uma discussão que acompanharei com interesse. Trata-se de um problema difícil: por um lado, a praga de javalis constitui uma ameaça; por outro, é importante tratar dela com alguma humanidade. O destino a dar aos javalis nunca será plenamente satisfatório, sobretudo tendo em conta as duas grandes saídas profissionais que costumam apresentar-se aos javalis portugueses: ou acabam no prato, com batatas fritas, ou num programa de televisão de domingo à noite, a escolher uma noiva. Ambas são bem pouco dignas.Talvez a primeira seja, apesar de tudo, menos má.

É mais fácil um camelo passar pelo buraco de um rico 15.03.019


Ricardo Salgado é o maior lesado do BES. Foi quem mais perdeu com a queda do banco. Era o Dono Disto Tudo e deixou de ser. Deve ser terrível perder tanto
Posso estar a citar com pouco rigor, mas sei que há uma frase bíblica sobre a improbabilidade de acontecerem determinadas coisas a ricos. Às vezes, temos a sensação de que eles são altivos e não têm sentimentos, mas há várias provas do contrário. Ainda esta semana, Ricardo Salgado deu uma entrevista em que confessava: “Consigo dormir, mas não durmo totalmente descansado.” E acrescentou ainda: “Penso todos os dias nos lesados. Todos os dias. E sofro com isso.” O facto de ninguém se ter comovido documenta mais uma vez a profunda crise de valores que a nossa sociedade atravessa. Um homem anuncia em público que, sendo embora capaz de dormir, não consegue fazê-lo totalmente descansado e ninguém se condói, não se ouve um lamento, nada. Além disso, declara que guarda todos os dias um bocadinho para pensar nos lesados do banco que dirigia e nenhum deles foi capaz de lhe agradecer o gesto. É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um lesado manifestar compaixão pelo homem que o lesou. Muito feio. E pouco cristão.
A verdade é que Ricardo Salgado é o maior lesado do BES. Foi quem mais perdeu com a queda do banco. Era o Dono Disto Tudo e deixou de ser. Deve ser terrível perder tanto. Ficou reduzido a apenas umas mansões com vista para o mar e, provavelmente, alguns milhões de euros em contas offshore. Ninguém fala neste drama. Olha-se para ele e nota-se a falta de sono – e a magreza. Desde que o BES colapsou, parece ter perdido uns 200 gramas. Talvez 250. Já dá entrevistas a órgãos de comunicação que não controla através da publicidade, e tudo.
Enfim, quando se cai é com estrondo. E o pior de tudo é que, ao contrário dos outros lesados do BES, Ricardo Salgado tem de conviver diariamente com o homem que o lesou. Vai fazer a barba e lá está o outro, no espelho. Segue-o para todo o lado, o provocador. É inevitável que Salgado se irrite quando o vê a almoçar em bons restaurantes de Cascais, ou a ver televisão na sala de estar do seu palácio, ou simplesmente a andar em liberdade. Os outros lesados do BES não têm de assistir a isto. Mas Ricardo Salgado dorme com o homem que o lesou. Não admira que não consiga dormir totalmente descansado.

Intoxicação de notícias sobre intoxicação . 08.03.2019


Só há uma coisa pior do que pecar: é pecar mal. A partir do momento em que se estabelece que o pecado vai ser cometido, então é para pecar a sério. Para transgressõezinhas, não me convidem. Ou é ou não é
Parece que Portugal está de tal maneira contaminado por glifosato que todos os portugueses têm no organismo vestígios do herbicida que a Organização Mundial da Saúde classifica como provável carcinogéneo. Já se dizia que o frango tinha hormonas, a vaca tinha antibióticos, o peixe tinha mercúrio e agora tudo tem pesticidas. Confesso que é um grande alívio. Quando tudo está infectado, não há nada a temer. Qualquer estratégia para evitar o mal é fútil. Portanto, há que aproveitar. É como com o pecado. Só há uma coisa pior do que pecar: é pecar mal.
A partir do momento em que se estabelece que o pecado vai ser cometido, então é para pecar a sério. Para transgressõezinhas, não me convidem. Ou é ou não é. Essa ética do pecador chega agora à comida. Acabaram as preocupações, as estratégias para evitar certos alimentos, os cuidados com a proveniência dos ingredientes: tudo é mau e estamos todos perdidos. Nunca estive tão feliz.
O apocalipse nutritivo dá-me uma fulgurante alegria. Ingiro refeições ricas em colesterol? Sim, e depois? Seja como for, estou todo carcomido por dentro. Fará bem fumar um charuto depois do almoço e outro depois do jantar? É provável que não, mas isso só seria preocupante se eu não tivesse o organismo atafulhado de coisas tóxicas. Não se nega um cigarro a um moribundo, e eu estou a morrer de glifosato há décadas.
Uma vez li um texto de Marina Keegan, uma escritora, dramaturga e jornalista que era intolerante ao glúten. Dizia que, se soubesse o dia em que iria morrer, encomendaria uma última refeição de pizzas, hambúrgueres, donuts e todos os alimentos com glúten que não tinha podido comer. Keegan morreu com 22 anos, num desastre de automóvel, apenas cinco dias depois de se ter graduado magna cum laude na Universidade de Yale. Não pôde cumprir o seu desejo.
Eu acabo de perceber que estou todo podre. Os meus últimos dias são estes. Venha a picanha com antibióticos, a cabidela com hormonas, o sargo com mercúrio, tudo acompanhado de grelos salteados com glifosato. Agora é que eu me vou divertir a sério.

Nove em cada dez secretários de Estado recomendam . 01.03.2019


Olá, eu sou o secretário de Estado da Energia e sinto-me fresco, seguro e natural porque consumo os produtos da EDP
Quando se soube que o secretário de Estado João Galamba tinha pedido aos cidadãos da Guarda para recompensarem os investimentos da EDP na região consumindo mais energia, fiquei chocado. Eu também já fiz publicidade a grandes empresas e não creio que este seja o método mais adequado. Segundo o Jornal de Notícias, Galamba disse mesmo: “Continuem a consumir. Consumam mais.” Ora, se é certo que todas as manobras publicitárias visam apelar ao consumo, também é verdade que esse apelo será mais eficaz na mesma medida em que consiga ser subtil. Cristiano Ronaldo não encara a câmara para dizer simplesmente às pessoas que consumam mais champô. Primeiro, gaba as qualidades do produto no combate à caspa, à comichão e à oleosidade. E deixa subentendido que são as virtudes do champô que lhe permitem acelerar com mais alegria no carro descapotável em que se encontra. Receio, por isso, que a intervenção de João Galamba não tenha sido tão persuasiva como a direcção de marketing da EDP desejaria.
Uma estratégia clássica, mas sempre boa, é a recomendação. A figura escolhida para protagonizar o anúncio revela ser consumidora do produto e aconselha o público a fazer o mesmo: “Olá, eu sou o secretário de Estado da Energia e sinto-me fresco, seguro e natural porque consumo os produtos da EDP.”
Mais interessante ainda é evidenciar o modo como o produto anunciado nos mudou a vida: “Eu sou João Galamba, e há apenas quatro ou cinco anos era um blogger obscuro. Mas entretanto comecei a consumir a energia da EDP, e agora sou secretário de Estado. Obtenha também o sucesso consumindo os produtos EDP.”
Outro modelo de reclame é aquele em que se conta uma pequena história na qual o produto desempenha um papel decisivo. Por exemplo: “Ontem mesmo solicitei o aumento de potência contratada à EDP e assim pude lavar, secar e passar a minha camisola da EDP, que trago sempre vestida por baixo do fato.”
A última sugestão é arriscada mas, por isso mesmo, chama muito a atenção. Trata-se de usar psicologia invertida e desdenhar do público: “A energia da EDP é, de facto, muito boa. Mas, se não quiser, não consuma. Mesmo que todos os cidadãos da Guarda passem um ano sem acender uma única lâmpada, a EDP já ganha mais do que o suficiente, só com os chamados CMEC.

O orgasmo no mapa do prazer feminino. Parte II

Os “gatilhos” que fazem disparar o orgasmo não são ainda completamente conhecidos mas, sabemos já de alguns ingredientes relevantes para esse galope final. A explicação da psicóloga clínica Ana Alexandra Carvalheira.

O orgasmo é essa entidade frágil, fugaz e intensa, perseguida na jornada do prazer sexual. Todas o queremos, e quem disser o contrário é porque nunca o conheceu. Essa condição de “vir-se” é muito mais o contrário, ou seja “ir-se”, deixar-se ir, entregar-se e largar o controlo.

Para chegar ao orgasmo é preciso antes de mais um bom nível de excitação sexual. Mas não chega. Depois disto, é preciso fazer disparar o orgasmo. Há como que um “clique” que tem que acontecer, um gatilho que tem que se accionar para a escalada final. Muitas mulheres que me procuram por não conseguirem ter orgasmo dizem-me muitas vezes “Eu sei que estou quase lá mas…. falta um clique, um último passo”. Como se houvesse algum bloqueio nessa fase final e derradeira. E muitas vezes há mesmo. Os “gatilhos” que fazem disparar o orgasmo não são ainda completamente conhecidos mas, sabemos já de alguns ingredientes relevantes para esse galope final.

Ingredientes para a experiência do orgasmo

Em primeiro lugar a mulher precisa de estimulação adequada e suficiente. E estímulos adequados são aqueles que funcionam para aquela mulher. Cada uma precisa do que precisa, e para saber o que é, deve conhecer bem o seu corpo e saber o que acende e mantém a sua excitação sexual. E depois, de alguma maneira, com uma linguagem mais verbal ou corporal, deve ser capaz de transmitir isso ao parceiro/a, porque ele/a não os adivinha. E importa ainda saber que os estímulos que dantes funcionam podem já não ser eficazes agora, anos passados. A sexualidade da mulher muda ao longo da vida, e é um processo contínuo de descoberta. A idade acrescenta maturidade e favorece a perseguição mais livre do prazer. Aliás, é interessante notar que a consistência orgástica aumenta com a idade. Isto significa que a práctica ajuda muito.

Para além disto e não menos importante, o orgasmo exige entrega da mulher, ou seja, a capacidade de “deixar-se ir”. Esta entrega é uma espécie de baixar a guarda e largar as defesas mas, para isto é preciso confiar. A confiança em si própria e no parceiro/a é muito importante. Quando falo de entrega, estou a referir-me à capacidade da mulher se agarrar aos estímulos e permitir-se ao prazer. Este exercício pode não ser nada fácil numa cultura herdeira da tradição Judaico-cristã em que a socialização sexual das mulheres não é no sentido de perseguir o prazer sexual, mas muito pelo contrário, no sentido de contenção e repressão da excitação e do prazer.

Em terceiro lugar na lista dos ingredientes aparece a perda de controlo. Para ter um orgasmo é preciso perder o controlo e isto pode ser difícil e assustador para algumas mulheres. Na gíria e calão popular, para nos referirmos ao acto de ter um orgasmo a pessoa diz “vir-se”, como no inglês “to come”. Mas na verdade é o contrário que é necessário, ou seja, “ir-se”, deixar-se ir, “let go”. As mulheres com uma personalidade mais controladora têm mais dificuldade e na maioria das vezes o medo de perder ou largar o controlo não é um fenómeno consciente para elas. Esta condição está conectada com o aspecto anterior, a entrega. Ter um orgasmo implica entrega e perda de controlo. E mais uma vez isto pode ser difícil para algumas mulheres que estão treinadas para estar continuamente alerta, vigilantes e em controlo.

E por último mas não menos importante, para conseguir o orgasmo é preciso ter uma mente focada e concentrada. Isto significa que a mente não pode estar inquieta, distraída ou cheia de preocupações. Muitas vezes acontece durante a actividade sexual surgirem pensamentos sobre coisas que nada têm a ver com o que está a acontecer naquele momento. Estes pensamentos são invasivos e involuntários e a mulher pode nem dar-se conta deles. Chamamos a isto distração cognitiva durante a actividade sexual e muitos estudos já demonstraram que é uma das causas para as dificuldades com a excitação e o orgasmo nas mulheres. Os estudos revelam que a distração cognitiva afecta muito mais as mulheres do que os homens, talvez pelo facto das mulheres terem maior capacidade se ser multitasking, isto é, serem capazes de fazer várias coisas ao mesmo tempo. Contudo, esta habilidade tem um custo, que é a menor capacidade de concentração comparativamente com os homens que são mais capazes de colocar o foco na tarefa. E por isso, as mulheres têm mais pensamentos que as distraem dos estímulos sexuais onde deveriam estar focadas. Estes pensamentos podem ser sobre muito variados, por exemplo, sobre um problema no escritório, a reunião com o chefe no dia seguinte, a lista do supermercado, ou o trabalho de casa dos filhos. Um estudo* liderado por nós, com uma amostra portuguesa de 493 mulheres e 595 homens, revelou que a distração cognitiva das mulheres é sobretudo baseada na preocupação com a aparência física e auto-imagem. São pensamentos sobre o medo de não ser suficientemente atraente, de não agradar ao parceiro, de que este possa estar a ver partes do corpo de que ela não gosta, como a celulite e coisas afins. Estes pensamentos intrusivos durante o sexo acabam por impedir a concentração nos estímulos sexuais.

O que pode inibir o orgasmo nas mulheres?

Os factores perturbadores do orgasmo das mulheres podem ser vários e ainda nem todos conhecidos. Falamos basicamente de factores biológicos e psico-sociais. Os determinantes orgânicos que podem afectar o orgasmo são os mesmos que perturbam a excitação sexual. Lesões neurológicas podem interferir com a excitação e o orgasmo, por exemplo, acidentes vasculares cerebrais, esclerose múltipla ou esclerose lateral amiotrófica. Problemas que afectem os nervos periféricos como uma hérnia discal ou neuropatias. Igualmente a patologia endócrina pode afectar a fase de excitação na mulher, ou seja, a diabetes mellitus, doença de Addison ou doenças da tiróide. Alguns medicamentos também interferem com a excitação sexual, por exemplo alguns anti-depressivos (nem todos), hipnóticos, neurolépticos e alguns anti-hipertensores. Outras condições médicas a referir sem sermos exaustivos são traumatismos da medula espinal e uma cirurgia pélvica radical.

Se não houver factores orgânicos, avançamos para os psicológicos e socio-culturais, que são de vária ordem. Para simplificar, o que pode perturbar e inibir o orgasmo nas mulheres é a falta de algum dos quatro ingredientes antes mencionados. Ou seja, o medo de perder o control, o medo da entrega, a falta de estímulos adequados e a distração cognitiva durante a actividade sexual.

O medo é um grande inimigo do orgasmo. Medo de perder o controlo, medo do que vem a seguir, medo da entrega, medo de não ser atraente, entre outros, o medo bloqueia o orgasmo e o prazer. Personalidades muito controladoras também podem ter mais dificuldade com o orgasmo, tal como as mulheres mais ansiosas. A falta de conhecimento do corpo genital e dos estímulos eróticos também podem constituir um obstáculo ao orgasmo. Por um lado, a masturbação facilita a exploração e conhecimento da genitália feminina, e por outro lado, a experiência sexual permite a descoberta dos estímulos eróticos necessários à excitação. Para além disto, uma socialização sexual repressiva durante a infância e adolescência, numa cultura onde prevalecem as crenças religiosas que associam o prazer ao pecado, não ajuda mesmo nada o orgasmo nas mulheres, sobretudo das que são agora mais velhas. Mas há ainda outras variáveis de peso. Sem dúvida alguma, o consumo de álcool que é um inibidor do sistema nervoso central, e alguns fármacos, como por exemplo, alguns anti-depressivos que atrasam ou inibem totalmente o orgasmo e que tantas mulheres tomam. E para terminar esta lista exaustiva, temos que referir a distração cognitiva. Como já dissemos antes, as mulheres distraem-se durante o sexo com pensamentos muitas vezes involuntários. E esta distração fá-las largar os estímulos eróticos e assim a excitação é perturbada.

Com frequência se trata do medo da entrega e de perder o controlo. Isto no contexto de uma socialização sexual com valores machistas que permite a objectificação sexual da mulher. A vinheta da Isabel mostra isso claramente quando ela diz que foi preciso libertar-se de “preconceitos e de uma educação ultra-machista” para do alto dos seus 40 anos se permitir a conquista do orgasmo com um parceiro.

Escrevi sobre este e outros temas da sexualidade no meu livro Em Defesa do Erotismo (http://www.saidadeemergencia.com/produto/em-defesa-do-erotismo/)

* Carvalheira., A., Godinho, L., Costa., P. (2017). The Impact of Body Dissatisfaction on Distressing Sexual Difficulties Among Men and Women: the Mediator Role of Cognitive Distraction. Journal of Sex Research, 54(3): 331-340.  Visão

O Estado não passa cartão ao cidadão

À secretária de Estado aconteceu o mesmo que a mim, quando vou à Loja do Cidadão: penso que tenho tudo certinho e afinal não, falta um papel, um carimbo ou uma assinatura.

Primeiro, a secretária de Estado da Justiça disse que a culpa dos atrasos no levantamento do cartão de cidadão também era dos próprios cidadãos, que vão para a loja antes de as portas abrirem. Foi uma forma bastante delicada de dizer “desamparem-me a loja”. Neste caso, a Loja do Cidadão. Mas depois o ministério desmentiu a secretária de Estado e disse que não, que a culpa dos atrasos não era dos cidadãos. Ou seja, até para culpar os responsáveis pelo atraso é preciso tirar senha e ir para a fila. À secretária de Estado aconteceu o mesmo que a mim, quando vou à Loja do Cidadão: penso que tenho tudo certinho e afinal não, falta um papel, um carimbo ou uma assinatura. No caso da secretária de Estado faltava a assinatura da ministra, que não queria subscrever aquela tese. É desagradável, porque depois é preciso voltar a preencher a papelada toda e ainda se passa uma vergonha ou duas durante o processo. Acontece. A secretária de Estado precipitou-se ao culpar as pessoas que se precipitam para a Loja do Cidadão. Foi um caso de culpabilização precoce.

E, no entanto, a secretária de Estado tinha razão. Se os cidadãos não fossem para a Loja do Cidadão, o atendimento era muito mais rápido. Isto parece-me indiscutível. É difícil, aliás, compreender o comportamento dos cidadãos. As ferragens não se aglomeram à entrada da loja de ferragens; os brinquedos não vão de madrugada para a porta da loja dos brinquedos. Logo por azar, os cidadãos são atraídos pela Loja do Cidadão como as traças pela luz. Os próprios atrasos nos hospitais são, em grande medida, provocados pela obstinação dos cidadãos que, a pretexto de se encontrarem doentes, vão entupir corredores e salas de espera. Com a sobrelotação dos transportes acontece o mesmo. Os cidadãos movimentam-se aos magotes, aparentemente com o único propósito de criar embaraços ao governo. Não custava nada fazerem uma escala para usarem os serviços públicos em pequenos grupos de 20 ou 30 cidadãos de cada vez, por exemplo. Pois fazem exactamente o contrário. Que vontade de embirrar.

Ricardo Araújo Pereira

Boca do Inferno – Visão

Ninguém muda ninguém

Tentar forçar o outro a mudar não é um desafio, é uma estupidez! A autora Margarida Vieitez, que escreve sobre relações na Bolsa de Especialistas VISÃO, explica a teoria

Este é um dos principais problemas dos casais: escolhem fazer longas caminhadas, com “roupas” XS ou XXL, quando o seu tamanho é o M, o S ou o XL. Decidem optar por cores e/ou feitios que não gostam, detestam e não podem ver à frente, e depois…

Depois começam a sentir-se desconfortáveis, rapidamente desconfortáveis… investem-se no papel de costureiros de alta costura, alargam, apertam, mudam as cores e os feitios, enquanto a “roupa” vai “gritando” que não quer saber, nem escutar, nem mudar.

A história acaba com a “roupa” em fuga e alguém desesperado atrás dela, continuando estoica e audaciosamente a tentar transformá-la naquilo que imaginou, desenhou e acreditou que seria.

A tentativa desenfreada de mudar o outro é uma necessidade neurótica que muitos sentem, com maior ou menor evidência. E é preciso um esforço grande para a superar.

Muitas pessoas acreditam inclusive que o verdadeiro Amor só acontece quando os dois pensam, sentem, gostam e comem o mesmo. Nada mais errado!

O Amor acontece na aceitação da imperfeição, respeito pela diferença e forma como o outro gere as suas emoções.

Existem “coisas” que não conseguimos aceitar? Sim existem! E o que um aceita, outro pode não conseguir aceitar. E, quando assim acontece, precisa pensar sobre isso.

Coloque o filme “Transformação radical, aqui vou eu!” em pausa, e reflita sobre isto: Precisamos aprender a não escolher “roupas” que não são do nosso tamanho e agrado para fazer caminhadas de mãos dadas, pois não vai resultar.

Primeiro, porque não nos servem, depois porque mesmo com arranjos e mais arranjos, nunca brilharão e, depois, porque todos esses “cortes”, “recortes” e “tingimentos” o vão desgastar brutalmente, sugar energia, envelhecê-lo, tirar-lhe tempo de vida e ainda, roubar-lhe muitos sorrisos, para além de poderem ter a agravante de fazer com que o outro em vez de melhorar, piore e “cultive” ainda mais defeitos, só para o aborrecer e castigar.

Quando alguém se sente pressionado a ter uma determinada atitude, comportamento, fazer ou dizer algo, de imediato cria-se uma espécie de “barreira” de resistência que fará com que, de forma quase “automática”, dê uma resposta negativa, especialmente quando a pressão, convida todos os seus amigos para a “festa”, entre os quais se destacam a culpa, a critica, o autoritarismo, a inferiorização, a incapacitação, a humilhação e a generalização com a famosa frase “És sempre o mesmo/a! Nunca vais mudar!”

Uma pessoa não muda por pressão, muito menos por coação, chantagem, ameaças ou manipulação. Muito pelo contrário. Todas estas estratégias apenas vão fazer com que sinta uma intensa vontade de se defender, as discussões e conflitos disparem, a ansiedade se instale, a guerra comece e vivam os dois inconfortavelmente instalados, em trincheiras de fogo cruzado.

Se quer viver assim a sua vida, então continue a tentar mudar os outros. Quando chegar ao fim da sua vida, as suas memórias provavelmente serão gritos, ofensas, mágoas e uma montanha de ressentimentos.

Pare de querer vestir roupa que não gosta, que não lhe serve, que o faz sentir arrepios de frio ou um calor escaldante, que o faz contorcer e o deixa cansado e enjoado.

As pessoas só mudam quando querem mudar. Não depende de si.

Lamento dizer-lhe: mas, não está no seu controlo. Por isso, não se exija essa proeza de mudar seres humanos quando eles não estão para aí virados, pois semeará esperança e colherá desilusão e frustração.

Para alguém alterar comportamentos ou atitudes, primeiro vai ter de mudar a sua forma de pensar e perceber em que medida estes influenciam o seu bem-estar e felicidade e a dos outros.

Mas, nem todas as pessoas tem esta capacidade de pensarem e se autointerrogarem, colocar em causa e de “quarentena” a sua forma de agir com os outros.

Sabe porquê? Porque para o fazerem é preciso terem capacidade para estarem atentas, para escutarem, para se colocarem no lugar do outro, para sentirem o que o outro está a sentir, para terem compaixão, para se questionarem e de efetivamente mudarem. Porque querem, porque para elas faz sentido, não porque o outro quer.

Podem mudar sim, mas não vão apagar a sua personalidade, as suas experiências de vida, passar por cima das suas crenças, convicções, princípios, gostos, interesses… e transformar-se no seu clone encantado. Nada disso.

Poderão alterar alguns gestos, estar mais atentos e recetivos às suas necessidades, investir mais na relação, deixar de ter determinadas atitudes hostis, aprender a comunicar e controlar as suas emoções… mas, a sua essência e personalidade continuarão intactas. Não vale a pena tentar “substituí-las!” Não são peças avariadas!

A falsa ilusão de conseguir mudar o outro, além de ser uma das mais inglórias missões no deserto, pode ter sérias e graves consequências ao nível da sua saúde mental e física.

A sua paz passa por pensar que cada ser humano têm uma essência e uma mente diferente, por identificar e aceitar que todos nós temos perceções singulares, mas que essa diferença pode ser enriquecedora quando não é torturante, pode significar crescimento, quando não é castradora, pode ser edificante quando não é inaceitável ou patológica.

Pare que querer ser oleiro e moldar o que não é moldável.

Invista antes, em perceber porque essas atitudes o magoam e irritam tanto e na descoberta da razão por que continua a aceitar o que é para si inaceitável.

Tentar mudar um outro ser humano não é uma decisão inteligente, é um tiro nos pés!

Mais do que uma tentativa falhada é um desrespeito por si próprio, pois vai legitimar o outro a fazer exatamente o mesmo consigo, isto é, a querer mudá-lo a ferro e fogo, a exigir-lhe ser quem não é, nem quer ser.

Aceite o que admira, não negue o que não gosta.

Valorize, reconheça, elogie o que gosta. Pense se consegue aceitar o que não gosta.

Não pense que o seu amor vai mudar o que detesta. Não vai. Vai detestar cada vez mais, o seu foco vai incidir sobre esses aspetos e rapidamente, vai deixar de ver o que o cativa.

Não tenha medo de falar sobre o que não gosta, não aceita, não quer para si. Só você o pode fazer. Só você se pode proteger.

Não tenha medo de perder. Se não o fizer, o risco é muito maior, para si!

Não tenha medo de dizer o que sente, o que pensa, o que sonha e deseja… lute, persevere, acredite!

Não aceite na sua vida quem não quer na sua vida. Não pense que talvez com tempo e paciência essa pessoa se vai transformar em quem imaginou. Nunca acontece.

Seja genuíno e leal, principalmente consigo próprio, e deixe de acreditar que tem na mão uma varinha mágica. Elas só são uteis para triturar sopas e só existem nas histórias para crianças. Estamos a falar de adultos!

Existem tantos desafios que lhe fazem tão bem e que contribuem para se sentir melhor consigo mesmo, com os outros e com a vida, que possibilitam e fomentam o seu desenvolvimento pessoal, o seu crescimento emocional e psicológico e a descoberta do verdadeiro Amor…

Um Amor que nunca acaba…

Porquê perder o seu tempo de vida a transformar o que não depende da sua vontade ou capacidade ou talento ou dom, ou Amor, mas apenas do outro?

E se o outro já demonstrou por A mais B, C, D… que é assim que quer ser e viver… será que isto é um desafio ou perda de tempo?

Escolha um Amor à sua medida, nem apertado, nem largo, quentinho e com a cor e o feitio que quer. E ainda assim, porque não existem pessoas nem relações perfeitas, ainda assim… existirão sempre pormenores que não vai gostar.

Mas, o mais importante é que não sinta “arrepios” e consiga focar-se no que de bom essa pessoa tem, lhe dá e faz.

Tudo o mais, é pura ilusão e histórias de desencantar!

www.margaridavieitez.com – Visão

Margarida Vieitez

RELAÇÕES

Margarida Vieitez é especialista em mediação familiar, de conflitos e aconselhamento conjugal, e dedica-se há mais de 20 anos ao estudo e acompanhamento de conflitos de diversa ordem, nomeadamente, familiares, conjugais e divórcio. Detentora de seis pós graduações, entre as quais, em Mediação Familiar pela Universidade de Sevilha, em Mediação de Conflitos e, em Saúde Mental, ministrou vários cursos de Mediação Familiar no Instituto de Psicologia Aplicada, estando frequentemente presente em conferências e seminários. Autora de vários livros, dentro os quais, "O melhor da vida começa aos 40", "Sos Manipuladores" e "Pessoas que nos fazem Felizes" .

A profissionalidade do(c)ente

Qual a especificidade da profissão docente? Encontrar-se-á esta na capacidade para convocar e fazer reuniões com pais e encarregados de educação? No levantamento de processos disciplinares? No encaminhamento de alunos para aconselhamento psicológico? A professora Carmo Machado reflecte sobre o que é que os professores fazem que mais ninguém pode fazer

Antes das efectivas e (mais do que) merecidas férias dos professores neste ano letivo que agora se aproxima do fim, importa deixar uma pergunta essencial para que todos possamos refletir em conjunto: Afinal, o que é que os professores fazem que mais ninguém pode fazer?

Numa altura em que a opinião pública em geral parece ter encontrado na classe docente uma espécie de bode expiatório para os seus próprios problemas e frustrações, há que esclarecer sobre a especificidade da profissão docente. Será que esta reside na elaboração de atas, relatórios e todo o tipo de documentação formal que qualquer professor tem obrigatoriamente de produzir? A meu ver, embora fazendo parte das funções de um professor, estas não constituem as verdadeiras dimensões da profissionalidade docente uma vez que, qualquer funcionário minimamente letrado, conseguirá produzir estes documentos formais bem como recolher a documentação dos alunos para fazer as respetivas matrículas e constituir as turmas.

Então, qual a especificidade da profissão docente? Encontrar-se-á esta na capacidade para convocar e fazer reuniões com pais e encarregados de educação? No levantamento de processos disciplinares? No encaminhamento de alunos para aconselhamento psicológico? Ou esta especificidade prender-se-á sobretudo com a função de elaborar testes e exames, procedendo à sua correção? Ou com a resolução de conflitos dentro e fora da sala de aula? Será a vigilância de exames específica da função de um professor? Será na avaliação dos alunos que reside a essência da nossa profissão? A lista de perguntas que poderíamos aqui colocar é infinita. Então, o que é que nós fazemos que só nós conseguimos fazer? Manter grupos de crianças e adolescentes encerrados numa sala (por vezes contra a sua vontade) em blocos sucessivos de quarenta e cinco, cinquenta ou noventa minutos, sem qualquer forma de ajuda externa, por vezes tão necessária? Educar para as regras básicas de cidadania? Será esta a nossa função? Em que ficamos, afinal? Será então a especificidade da função de um professorm ensinar? Então e o que dizer dos pais e encarregados de educação que, semqualquer preparação específica, ensinam diariamente os seus educandos, ajudando-os nas suas atividades escolares, esclarecendo dúvidas de Matemática, fazendo exercícios de gramática, estudando Geografia ou História de Portugal?

Quase todos, de uma maneira ou de outra, conseguirão desempenhar algumas das funções de um professor. Então, reitero a pergunta: qual a nossa especificidade? O que é que nos distingue dos leigos que, à sua maneira e da melhor forma possível, conseguem desempenhar algumas das funções de um professor? É a especialização que nós possuímos e eles não. E esta pressupõe uma enorme complexidade que vai muito para além de instruir, de educar ou de ajudar a socializar. A especificidade da profissão docente implica um conjunto de dimensões não apenas éticas e políticas, mas de ensino e de aprendizagem, de desenvolvimento ao longo da vida e possui uma dimensão crucial, a meu ver (sem a qual ficaremos reduzidos ameros instrutores), que é a de contribuir para a Inovação e a Renovação dos indivíduos, da sociedade e de nós próprios. Porém, transformaram-nos em autênticos bombeiros, em “pau para toda a obra”, rodeados de uma burocracia sufocante! E esqueceram-se de que temos a função de incentivar a reflexão e o debate, a mudança e o progresso.

Vivemos tempos em que assistimos, de forma preocupante, ao enfraquecimento da profissionalidade docente, cujas consequências se farão sentir a breve trecho de forma mais persistente do que até aqui temos vindo a sentir. Enquanto os senhores do poder, independentemente da cor da sua bandeira, não compreenderem a necessidade urgente de fortalecer a profissionalidade docente (e não proceder ao seu enfraquecimento, como temos vindo a observar), não haverá qualquer avanço. As políticas educativas devem agir no sentido de consciencializar os seus agentes e a população em geral, de que um professor é um trabalhador intelectual e, como tal, deve ser tratado, reconhecido e respeitado. Até lá, continuaremos a assistir à destruição da escola pública e de uma classe que constitui um dos pilares de qualquer processo de progresso e de mudança. A não ser que, como há muito temos vindo a desconfiar, os políticos deste país não pretendam absolutamente nada disto...

Esgotaram-nos e assim nos silenciaram. Mas até quando?

Carmo Machado

ENSINO

Carmo Miranda Machado é formadora profissional na área comportamental e professora de Português no ensino público há vinte e sete anos, tendo trabalhado com alunos do 7º ao 12º anos de escolaridade. Possui um Mestrado em Ciências da Educação (Orientação das Aprendizagens) pela Universidade Católica Portuguesa e tem como formação base uma Licenciatura em Línguas e Literaturas Modernas pela Universidade Nova de Lisboa. Tem dedicado a sua vida às suas três grandes paixões: o ensino, a escrita e as viagens pelo mundo. Colabora na Revista Mais Alentejo desde Fevereiro de 2010 como autora da crónica Ruas do Mundo, tendo ganho o Prémio Mais Literatura atribuído por esta revista nesse mesmo ano. Publicou até ao momento, os seguintes títulos pela editora Colibri: Entre Dois Mundos, Entre Duas Línguas (2007); Eu Mulher de Mim (2009); O Homem das Violetas Roxas (2011) e Rios de Paixão (2015).

O orgasmo no mapa do prazer feminino. Parte I

A experiência do orgasmo é subjetiva, variável e é difícil falar sobre ela porque. durante essa experiência, a nossa capacidade de observação está suspensa. Ainda assim, Ana Alexandra Carvalheira, psicóloga clínica, pediu a algumas mulheres uma breve descrição dessa experiência íntima que é o orgasmo.

Vera refere nunca ter conseguido chegar ao orgasmo com nenhum dos seus namorados anteriores nem com o atual com quem mantém uma relação há quatro anos. A Vera tem 32 anos, é médica, cresceu em Lisboa e tem o casamento marcado. Só consegue ter orgasmo na masturbação. Após três sessões terapêuticas, a Vera deu-se conta que não conseguia concentrar-se nos estímulos durante a atividade sexual. “Lembro-me de tudo e mais alguma coisa e estou sempre a pensar que mais uma vez não vou conseguir. Sou eu que me travo. Como posso distrair-me tanto numa coisa destas?!?”. Quando conseguiu manter o foco nos estímulos, o nível de excitação subiu até disparar o orgasmo.

Motivo de alegria para muitas mulheres, de frustração para outras, desconhecido para algumas, o orgasmo é desejado e perseguido pela maioria. Os orgasmos são todos diferentes, não há dois iguais, e todos são bem-vindos e agradecidos. Pode ser intenso, suave, fugaz, demorado, preguiçoso, sensível ou pode até nem aparecer. Porque nem sempre se consegue. Algumas mulheres conseguem tê-lo na masturbação mas não na relação sexual com o parceiro.

Mas que lugar ocupa o orgasmo no mapa do prazer feminino? É o único objectivo e um fim em si mesmo?

Se perguntarmos às mulheres umas dirão que sim, que é imprescindível, o principal objetivo, e outras dirão que não, que o orgasmo não é condição necessária e que pode haver prazer sem ele. Estamos no reino da diversidade e cada mulher tem a sua vivência. A experiência é única, pessoal e intransmissível. O orgasmo não tem necessariamente que ser a grande meta. O mapa do prazer feminino é mais complexo e rico. Está cheio de estradas, caminhos e atalhos, montes e vales e praias de areia cálida para serem descobertos e explorados. E o orgasmo feminino implica sempre um processo de descoberta e conquista a ser feito pela própria mulher antes de mais. O orgasmo não é nenhum prémio que nos seja dado na primeira relação sexual. É preciso descobrir os estímulos que funcionam e depois persegui-los porque são esses estímulos eróticos que fazem aumentar a excitação sexual até ao orgasmo. E os estímulos que funcionam aos 20 anos podem já não funcionar aos 30 ou aos 40. Os estímulos adequados e necessários aos 60 ou 70 anos já não são os mesmos que funcionavam aos 30. A sexualidade é um caminho que se vive até ao fim da vida e esta jornada tem muitas mudanças, assim a mulher queira e possa vivê-las. O que é relevante, é que para muitas mulheres, o orgasmo não é de caras. O orgasmo feminino exige algum trabalho, algum investimento. Primeiro, no conhecimento do próprio corpo, e a genitália feminina não é fácil porque parte dela está escondida, é interna. Depois, o investimento é no erotismo, um empreendimento que dura a vida toda. O erotismo é o mapa do prazer feminino, onde o orgasmo é um bom ponto de chegada, um ponto de encontro ou um ponto de partida.

A experiência do orgasmo é subjetiva, variável e é difícil falar sobre ela porque. durante essa experiência, a nossa capacidade de observação está suspensa. Ainda assim, pedi a algumas mulheres uma breve descrição dessa experiência íntima e subjectiva que é o orgasmo. Estas definições foram retiradas do meu livro “Em Defesa do Erotismo”* editado pela Saída de Emergência.

“Eu divido o orgasmo em dois. O solitário descoberto muito cedo, sempre fácil, alimentado por uma imaginação que mudou com o tempo, pequenos espasmos repetidos mas sempre uma sensação de desconsolo do tipo “É só isto?”. Infelizmente, o orgasmo com parceiro só o experimentei depois dos 40. Foi preciso libertar-me de preconceitos, uma educação ultra machista. Foram precisos dois homens diferentes. Este é sempre diferente, ou muito intenso, ou pequenino, ou o corpo se transforma, deixa um rio, ou parece que foi eletrocutado ou leva um pequeno choque e adormece. É um orgasmo dos dois. Não é só meu.”

Isabel, 43 anos

“O orgasmo é um momento em que nos libertamos totalmente e se dá uma explosão de prazer que se propaga como uma onda de energia e percorre todo o corpo, culminando numa sensação de plenitude e descompressão. É para mim essencialmente um momento de libertação e de cedência. Não sendo o objetivo, funciona como a tão desejada recompensa, o fogo-de-artifício depois da festa.”

Helena, 40 anos

“Naquele momento em que dispara, o orgasmo é só meu. Fecho os olhos e não quero saber de mais nada. É uma Fermata, uma suspensão no tempo, tudo pára e eu só sinto, sou só corpo e nada mais resta de mim. E só depois da última vibração eu abro os olhos, vou ao encontro dele, retomo o contacto e continuamos.”

Francisca, 45 anos

"O orgasmo é o único momento em que perder o chão é voo e não queda. A solo conheço o caminho, os atalhos, o pico mais alto e o regresso a casa. A par, a expressão do outro é catalisadora do voo, ainda que em ritmos diferentes; e o abraço é o ninho onde quero voltar. Tudo pára, o relógio, os desejos, os afazeres, o ontem e o amanhã, a força e a fraqueza. Plano sem controlo num céu de algodão doce, enquanto o coração volta devagarinho ao compasso normal."

Joana, 48 anos

"Um orgasmo para mim é 'presente puro'. A melhor maneira de meditar. O meu ser num estado sensitivo puro, onde a racionalidade não existe e meu corpo é tudo."

Raquel, 42 anos

"Desde jovem, e com o tempo, o orgasmo foi-se intensificando a nível de qualidade e duração. Durante o coito vaginal, pode acontecer ter vários orgasmos com intensidade e duração diferentes. No momento do mais intenso - que normalmente é o primeiro e está na origem dos seguintes - é como se toda eu derretesse e deixasse de ter um corpo com forma... fico desfeita... Várias vezes até, a emoção leva-me a lágrima ao canto do olho... No entanto esta plenitude só existiu com dois dos meus parceiros na minha vida."Morgana,62 anos

Anatomia do orgasmo feminino: O clitóris é o grande protagonista

O orgasmo feminino é mais difícil de definir do que o masculino, por um lado, porque não é acompanhado de uma ejaculação inequívoca como é nos homens, e por outro, porque é uma experiência muito subjetiva. Por vezes, pode mesmo acontecer a mulher não estar certa de o ter tido ou não.

O orgasmo é traduzido fisiologicamente por contrações da musculatura do terço externo da vagina. Apesar de fisiologicamente ter sempre a mesma expressão, pode ser provocado por vários tipos de estímulos.

Estudar o orgasmo é metodologicamente complicado e por isso permanece ainda mal compreendido. Podemos conceptualizar o orgasmo como um aumento da excitação sexual até um pico no qual alguns processos neurofisiológicos são desencadeados com as seguintes manifestações: sensação intensa de prazer; pequeno grau de alteração de consciência em que o processamento de informação está reduzido; sensações genitais que se espalham pelo corpo numa extensão variável; contrações musculares no pavimento pélvico (músculos à volta do ânus e da vagina que sustentam os órgãos abdominais) e possivelmente músculos uterinos. O mecanismo que faz a passagem da excitação para desencadear o orgasmo não é completamente conhecido.

Algumas mulheres são capazes de novos orgasmos, se a estimulação for continuada. Daí a designação que se generalizou perigosamente, de mulheres multiorgásticas.

O clitóris é imprescindível, direta ou indiretamente para desencadear o orgasmo.

O clitóris é uma estrutura interna, com dois corpos cavernosos-eréteis com 9 cm de comprimento, muito para além da pequena glande visível, externa, com 1 ou 2 cm. Esses corpos cavernosos têm a forma de asas de avião ou de “V” invertido e estão localizados por baixo dos pequenos lábios. Esta estrutura interna possui milhões de terminações nervosas e constitui o tecido mais enervado do corpo humano. Por conseguinte, é uma estrutura altamente sensível que aguarda ser estimulada. Existem ainda os bulbos vestibulares que são estruturas erécteis com conexões neurovasculares com os corpos cavernosos. A glande clitoridiana encontra-se na bifurcação dos pequenos lábios e é a única parte do clitóris que está visível.

A estimulação do clítoris pode ser mais direta (por exemplo, no sexo oral), ou mais indireta (na penetração vaginal). E para conseguir o orgasmo, toda essa estrutura - interna e externa - está envolvida. No entanto, a vagina não está excluída nesta cena, muito pelo contrário. Apesar de aí existirem menos recetores nervosos, a penetração vaginal é para muitas mulheres absolutamente fundamental na cena do prazer, havendo posições sexuais mais facilitadoras do que outras, o que mais uma vez depende de cada mulher e do momento que se vive. Pois bem, é a maravilhosa complexidade da genitália feminina, está quase tudo escondido.

No próximo artigo falaremos dos ingredientes para a experiência do orgasmo, do que é necessário para o fazer acontecer e também do que o pode perturbar e inibir.

Ana Alexandra Carvalheira

AMOR E SEXO

Ana Alexandra Carvalheira, é psicóloga clínica, licenciada pela Universidade de Cpombra e doutorada pela Universidade de Salamanca. É professora e investigadora no William James Center for Research, ISPA – Instituto Universitário. Realiza investigação na área da sexualidade, aliada à prática clínica que mantém desde 1997. É Terapeuta Sexual formada pela Sociedade Portuguesa de Sexologia Clínica em 1997, da qual foi presidente em 2013/14. É membro da International Academy of Sex Research e tem dezenas de artigos publicados em revistas científicas internacionais. O que mais gosta é do trabalho clínico com os clientes, onde mais aprende e de onde retira as questões que quer investigar. www.anacarvalheira.com

Decisão Tribunal Europeu - acesso aos dados toxicológicos do glifosato

Licença de utilização do glifosato foi renovada por cinco anos em 2017?!?!?!

O Tribunal Europeu proferiu uma sentença em 7 de Março de 2019 no Luxemburgo, em que confirma que os estudos das empresas fabricantes de pesticidas devem ser tornados públicos

Os estudos sobre a toxicidade eram considerados confidenciais .

A Autoridade Europeia da Segurança Alimentar ( EFSA) teve a sua decisão de os manter confidencias anulada por o Tribunal Europeu ter confirmado que o interesse publico em aceder ás informações (ver anexo) em matérias de ambiente é superior aos interesses comerciais.

A Acção foi posta por um grupo de deputados de os VERDES em 2016, quando se estava em plena controvérsia, sobre a renovação da autorização pela UE do herbicida ingrediente activo do ROUNDAP e os deputados tinham solicitado acesso aos estudos toxicológicos fornecidos à EFSA pela Monsanto, comprada pela BAYER em Junho de 2018, e pela Glyphosate Task Force que reagrupou o conjunto de empresa que comercializam o produto.

Com base nesses estudos confidencias a EFSA estimou que o glifosato não era cancerígeno mas nessa mesma altura o Centro Internacional de investigação sobre o Cancro ( CIRC - Agencia da ONU) classificava-o como cancerígeno provável para o homem exclusivamente com base em estudos publicados sobre o assunto.

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As árvores, uma arma contra o aquecimento global

Maciçamente reflorestar a terra seria uma das soluções mais eficazes para mitigar a mudança climática, segundo um estudo publicada na 'Science'.

' Há espaço para 0,9 bilhões de hectares de suplemento de capa de árvore . " aires" na terra. Uma figura astronómica - 14 vezes a superfície da França - que confirma que ' a restauração das árvores é uma das estratégias mais eficazes para mitigar a mudança climática . ' '. Esta é a conclusão de um artigo publicado em 4 de Julho na revista Science, que atribuiu-se para calcular o potencial total de um reflorestamento maciço da terra para combater a mudança climática.

Liderada por pesquisadores do Instituto Politécnico de Zurique, da A organização de alimentação e a agricultura de UN (FAO) e o Centro Internacional de Pesquisa Agronómica para o desenvolvimento (Cirad), o estudo é encorajador. A concha, que seria ' ' estima-se um pouco mais de 1 trilhão de árvores adicionais ' que poderia ser plantada, Jean-François Bastin, o principal autor do estudo contactado pelo mundo.

Sumidouros de carbono

o que manter 205 bilhões de toneladas de carbono em ramos, troncos e raízes de recém-chegados e para remover o máximo da atmosfera. As florestas armazenam carbono. Durante sua sessão especial, mas também uma vez na maturidade. O que de fato um recurso valioso na luta contra o aquecimento global, causado directamente pela quantidade de carbono presente na atmosfera, principalmente sob a forma de CO2em si.

O mecanismo é também reconhecido pelo acordo de Paris de 2015, que incentiva os Estados-Membros se preocupar sobre "sumidouros de carbono" e em particulares florestas. Esses poços também serão necessários para limitar o aquecimento de 1,5 ° C em comparação com o pré-industrial de época, de acordo com o relatório especial do Grupo Intergovernamental de especialistas sobre o desenvolvimento do IPCC sobre a questão, final lançado 2018.

Desde então, multiplicam iniciativas de reflorestamento, como por exemplo do "desafio de Bonn", instituído em 2011 e quem dá o gol para plantar 350 milhões de hectares em 2030.

Onde é que estas novas zonas verdes? Em catalogar os espaços que podem acomodar as árvores, o estudo a resposta a esta questão e conclui que "a restauração de ecossistemas que podem suportar árvores é nossa melhor arma actual na luta contra a mudança climática". , de acordo com Jean-Francois Bastin.

Dossel global

Examinando perto 80 000 fotos de satélite de áreas protegidas "simular o mais natural possível do ambiente onde o impacto dos seres humanos é mínimo", os cientistas primeiro "tentou estimar, em cada lugar do mundo, Quantas árvores poderiam ser suportadas" em função de climas e solos, diz o cientista.

"Nós então extrapolado este modelo além das áreas protegidas," continua a Jean-François Bastin. Uma visão sem homens "surrealista", admite, mas para servir como referência. O estudo também não tem como alvo os hectares de florestas, mas o global para segurar o dossel diferenças de densidade florestas tropicais e áreas de árvores dispersas.

No total, sem a presença de seres humanos, árvores poderiam cobrir 4,4 bilhões de hectares na terra em vez do actual 2.8. Cortando, agrícolas e urbanos do planeta, seria 900 milhões de hectares do dossel que seria possível alcançar. Metade em seis países: Rússia, EUA, Canadá, Austrália, Brasil e China.

Capturar até dois terços do carbono emitido por seres humanos

Restauração de florestas nestas áreas capturasse 205 bilhões de toneladas de carbono - quantidade impressionante quando sabemos que hoje ' hoje, a atmosfera contém cerca de 300 bilhões de toneladas de carbono emitido por seres humanos. Esse número poderia aumentar contando as árvores localizadas na cidade ou no campo, diz Jean-François Bastin.

No entanto deve agir rápido, porque o aquecimento global pode reduzir o potencial, particularmente entre os trópicos. Seguindo a trajectória actual, 223 milhões de hectares já não poderia ser arborizadas em 2050. Além de hectares que poderia ser destruído pelo homem daqui aqui.

Especialmente, "que diz o relatório do IPCC (…)» " é que as emissões devem ir para baixo, para que as árvores tomar tempo para crescer ', tempera o pesquisador em modelagem de ecossistemas Aude Valade (Universidade de Barcelona). "A única coisa que . [a restauração de áreas florestais] " é para ganhar tempo, dezoito anos sobre", abunda Jean-François Bastin, embora salientando que as árvores crescem mais rapidamente no início de suas vidas. Um curto período de tempo, mas que ele 'pode ser necessário alterar as formas que nós vivemos no planeta'.

Restaurar as florestas de acordo com contextos locais

"Todas as florestas não têm o mesmo valor, ou em termos de carbono e menos ainda se você levar em conta os outros serviços do ecossistema", explica também o Aude Valade. Enquanto o estudo faz uma análise abrangente e centrada sobre o clima, ela lembrou que, a nível local, das questões da protecção da biodiversidade, controle de erosão, ou purificação de água pode entrar em conflito com objectivos climáticos , e que alguns programas de reflorestamento podem ser contraproducentes. Caso típico: a plantação de eucalipto maciço no Portugal, que espalharam o fogo.

« Estamos a falar sobre a restauração de ecossistemas, não há nenhuma possibilidade de colocar o eucalipto incrível no deserto, montantes indica Jean-François Bastin.» Não é necessariamente a florestas mas ecossistemas que podem suportar as árvores, como por exemplo as savanas, que contêm pouco. " Ele reconhece que a questão específica do tipo de árvores para plantar permanece para ser determinado localmente, e que a escolha deve levar em conta as mudanças futuras no clima para permanecer viável.

Como a questão do impacto das árvores sobre as alterações climáticas é ainda debatida e deve incluir as emissões de metano e volátil de compostos orgânicos, bem como a maneira em que a cobertura vegetal pode mudar o reflexo da luz do Sol por terra, então o clima. Elementos para ' ' obviamente ter em conta quando pensamos sobre a possibilidade de reflorestar ", de acordo com Jean-François Bastin, que acrescenta que hoje ' hui «» " florestas são ainda apresentadas para seu impacto positivo a nível da quantidade de carbono na atmosfera '.

Vue aérienne de la forêt d’Omo, au Nigeria.

Vista aérea da floresta de Omo, na Nigéria. MOSES GOMIS / AFP

Nathan Seillermann, Le Monde