terça-feira, 14 de abril de 2020
segunda-feira, 13 de abril de 2020
Os profetas do vírus.
As pandemias têm as suas oportunidades de negócio. As entidades que montaram o Event 201 com um coronavírus inventado são as mesmas que se preparam para extrair avultados dividendos com o coronavírus verdadeiro.
No dia 18 de Outubro de 2019, dezena e meia de tecnocratas de luxo ao serviço das mais altas esferas do regime neoliberal globalista reuniram-se num hotel de Nova York para realizar «um exercício pandémico de alto nível» designado Event 201; consistiu na «simulação de um surto de um novo coronavírus» de âmbito mundial no qual, «à medida que os casos e mortes se avolumam, as consequências tornam-se cada vez mais graves» devido «ao crescimento exponencial semana a semana». Ninguém ouvira falar ainda de qualquer caso de infecção: estávamos a 20 dias de o jornal britânico Guardian noticiar o aparecimento na China de uma nova doença respiratória provocada – soube-se só algumas semanas depois – por um novo coronavírus. Os dons proféticos dos expoentes do neoliberalismo são, sem dúvida, admiráveis.
Segundo os meios oficiais de divulgação do Event 201, partindo da constatação de que existem cerca de 200 situações de índole viral por ano bastaram apenas três horas e meia aos especialistas «para concordarem que é apenas uma questão de tempo até que uma dessas epidemias se torne global – uma pandemia com consequências potencialmente catastróficas». Na situação por eles idealizada à volta de uma mesa apuraram que a crise se prolongaria por 18 meses e provocaria «65 milhões de mortos» porque «embora no início alguns países possam conter o vírus ele continua a espalhar-se e a ser reintroduzido, pelo que eventualmente nenhum consegue manter o controlo».
Montou-se o exercício, explicam os responsáveis, para avaliar «áreas em que as parcerias público-privadas serão necessárias durante a resposta a uma pandemia severa para diminuir as consequências económicas e sociais em grande escala». Por exemplo, como pode ler-se nas sete medidas recomendadas ao cabo da simulação, «uma pandemia grave interferiria muito na saúde da força de trabalho, nas operações comerciais e no movimento de bens e serviços». Em pessoas raramente se fala, ao longo das explicações relacionadas com o exercício, mas também não foi disso que trataram os 15 participantes, «associados a negócios à escala global, governos e saúde pública». Como disse um deles, Ryan Morhard, entrevistado pela agência financeira Bloomberg a propósito da montagem da simulação, «foi mais de um ano de investigação, um investimento de centenas de milhares de dólares, mas os ensinamentos extraídos são incalculáveis».
O que terá acontecido em Fort Detrick?
Morhard representou, no exercício, o Fórum Económico Mundial (anualmente em Davos, Suíça), cenáculo da banca privada transnacional e do capitalismo selvagem, um dos organizadores do Event 201 juntamente com a Fundação John Hopkins e a Fundação Bill e Melinda Gates, entidade que se dedica simultaneamente à «campanha mundial de vacinação», à travagem do crescimento da população mundial e à promoção dos interesses dos grandes impérios farmacêuticos mundiais.
À volta da mesa do hotel de Nova York sentaram-se também representantes oficiais e oficiosos da ONU, do Banco Mundial, do Centro de Controlo e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC), da Organização Mundial de Saúde (OMS) e de grandes empresas, designadamente da área de produção e distribuição de instrumentos clínicos e medicamentos e do marketing empresarial, além da banca. Presença especial foi a de Avril Haynes, directora-adjunta da CIA durante a administração Obama e também ex-consultora jurídica da agência. Haynes parece especialmente dotada para as profecias no âmbito da epidemiologia, pois já em 2018, num discurso proferido na Camden Conference, anteviu «uma doença infecciosa provocada por um patógeno facilmente transmissível através das vias respiratórias» e que «em seis meses afectará todos os cantos do mundo».
18 de Outubro, o dia do Event 201, foi também a data de início dos Jogos Mundiais Militares em Wuhan, na China. O que terá este facto de especial, além da coincidência?
Veremos que, no mínimo, a coincidência dá que pensar. Wuhan é a cidade do centro da China onde deflagrou, em Dezembro de 2019, o surto de um novo coronavírus, entretanto designado SARS 2019-nCov, causador da doença designada por COVID-19. O ponto de emanação terá sido, segundo fica a saber-se através da comunicação social corporativa – e sem objecções levantadas pelos novos donos da verdade, os fact-checkers – o mercado de frutos do mar da cidade. No entanto, entre os primeiros 41 doentes tratados com o novo vírus nos hospitais de Wuhan, 13 não tiveram qualquer relação com o mercado de peixe e mariscos. O surto, portanto, não teve origem num só lugar.
Além disso, um porta-voz oficial do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China, Zhao Lijian, fez uma declaração que implica outros caminhos na procura do «paciente zero» da pandemia. «Pode ter sido o Exército dos Estados Unidos que trouxe o surto para Wuhan», disse perante a teimosia provocatória do presidente norte-americano em qualificar o COVID-19 como um «vírus chinês». «Sejam transparentes, tornem os vossos dados públicos, devem-nos explicações», desafiou Zhao Lijian.
A alusão ao Exército dos Estados Unidos e o pedido «de explicações» remetem-nos precisamente para os Jogos Mundiais Militares em Wuhan, nos quais participou uma delegação norte-americana de aproximadamente 300 pessoas. E precisamente durante esses jogos, segundo Larry Romanoff, professor da Universidade de Xangai, cinco participantes – cuja nacionalidade não foi revelada pelos organizadores – foram hospitalizados com uma «infecção desconhecida». Isto aconteceu entre 18 e 29 de Outubro, cerca de oito semanas antes de ser revelada a existência do surto de novo coronavírus em Wuhan.
A militarização da narrativa aconselha-nos a recuar um pouco mais no tempo, para Julho e Agosto de 2019, altura em que foi encerrado subitamente o principal laboratório de guerra biológica dos Estados Unidos em Fort Detrick, Maryland. A decisão foi tomada pelo CDC invocando falhas em «descontaminar águas residuais» e deficiências na formação e certificação de pessoal dos laboratórios de biocontenção. Contudo, esclarece o insuspeito New York Times, o CDC não teve a possibilidade de fornecer dados mais específicos «por razões de segurança nacional». Não é top secret, porém, que entre 2005 e 2012 foram elencados mais de mil casos de roubos ou fuga de organismos patogénicos de laboratórios biológicos norte-americanos – mais de dois por dia.
Estamos perante elementos circunstanciais e factuais, nada mais do que isso. Mas por que será que a comunicação social dominante os esconde do grande público e insiste em amarrar a origem do COVID-19 à cidade de Wuhan?
Como disse o clínico Zhong Nanshan, conselheiro médico chefe da China no combate ao coronavírus: «Na verdade, a epidemia do novo coronavírus teve origem em Wuhan (…). Mas isso não quer dizer que a sua fonte esteja em Wuhan». Ou, parafraseando outro porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China, Geng Shuang, trata-se «de um assunto científico, que requer opiniões científicas e profissionais». Portanto, no mínimo, a situação merece o benefício da dúvida.
Há muitos obstáculos a remover para se tirar a limpo estas histórias virais.
Medo e pânico
O profético ensaio realizado em 18 de Outubro num hotel de Nova York insere-se neste contexto. O Centro de Controlo e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC) esteve representado na reunião na pessoa do director adjunto do Serviço de Saúde Pública e Desenvolvimento da Ciência, Stephen Redd.
Redd não precisaria de ter dons sobrenaturais para saber duas coisas: as razões do encerramento do laboratório de guerra biológica de Fort Detrick; e os problemas registados com a elevada taxa de mortalidade de surto de gripe comum (influenza) na altura registado nos Estados Unidos. Robert Redfield, o director do CDC, viria a admitir, aliás, que muitas dessas vítimas morreram afinal por acção do novo coronavírus, o que foi apurado através de exames póstumos. Ficando no ar a possibilidade de existirem casos letais de COVID-19 nos Estados Unidos antes de se ter desencadeado o surto em Wuhan.
O aparecimento da epidemia pouco tempo depois do Event 201 levantou algumas perplexidades quanto às circunstâncias temporais em que este aconteceu. Há sempre quem seja céptico quando se trata de adivinhações ou poderes sobrenaturais.
Tanto bastou para que as dúvidas e as interrogações fossem cilindradas pelos fact-checkers de serviço em vários azimutes, que as declararam sumariamente como fake news e mais uma manifestação da irredutível tendência para a «teoria da conspiração».
Segundo essas almas censórias, os participantes na simulação não fizeram qualquer previsão relacionada com aquilo que previram e o número de mortes calculado – 65 milhões em 18 meses – prova que as suas estimativas não dizem respeito à pandemia de COVID-19, apesar se relacionarem com um novo coronavírus. O exercício poderia, em boa verdade, ter decorrido com base num surto de ébola, de gripe suína H1N1 mas não: os promotores escolheram um coronavírus, nada mais, nada menos. E os censores não se interrogaram sobre a coincidência desta opção.
Aos fact-checkers bastou a garantia dada pelos organizadores da simulação numa declaração divulgada através dos seus órgãos oficiais já em plena pandemia real: «Embora o exercício tenha sido realizado com um novo coronavírus fictício, as entradas que usámos para estabelecer o modelo do impacto não são semelhantes ao COVID-19». A previsão de 65 milhões de mortes não vale para o vírus real, podemos ficar descansados. Aliás, neste processo parece que ninguém tentou lançar o medo e mesmo o pânico entre as instituições e a população.
Cronologias surpreendentes
O que não pode ser posto em causa, porque está escrito pelos representantes da nata do capitalismo selvagem na simulação de Nova York, é que «a próxima pandemia grave provocará muita doença e perda de vidas mas também poderá desencadear importantes consequências económicas em torrente (…) Os esforços para evitar tais consequências ou para lhes responder à medida que se desenvolvem exigirão níveis sem precedentes de colaboração entre governos, organizações internacionais e o sector privado».
Estas considerações servem de introdução às sete medidas aconselhadas pelos participantes no Event 201 – e começamos assim a chegar ao coração do negócio – porque é de grande negócio que se trata. Como, noutro plano, grande é o negócio da geoengenharia e mais formas de «adaptação» às alterações climáticas que tanto motivam igualmente a Fundação Bill e Melinda Gates e o Fórum Económico Mundial, promotores das adivinhações de Nova York. As quais «demonstraram vivamente algumas importantes lacunas nos preparativos para o combate à pandemia» e permitiram encarar «soluções entre os sectores público e privado que será necessário preencher».
Revelando a existência de uma grande e oportuna capacidade de resposta, no último Fórum Económico Mundial, realizado em Davos entre 21 e 24 de Janeiro, foi logo apresentado um programa de vacinação contra o coronavírus – apenas duas semanas depois de o COVID-19 ter sido identificado, em 7 de Janeiro. E ainda uma semana antes de a OMS ter lançado, a 30 de Janeiro, uma «emergência mundial de saúde pública» – a declaração de pandemia só aconteceu tempos depois. O tiro de partida da corrida às vacinas foi dado, portanto, quando havia somente 150 casos de COVID-19 oficialmente detectados no exterior da China, seis deles nos Estados Unidos.
Mais vale prevenir que remediar, dir-se-á. Ou o conhecimento de situações que ainda não são do domínio do grande público permite marcar posições de vantagem – esse é o poder da informação privilegiada, ou inside information.
O certo é que ainda em 23 de Janeiro, último dia do Fórum de Davos deste ano, a CEPI (Coalition for Epidemic Preparedness Innovations) entrou decididamente em campo para tentar tomar conta do processo de criação de vacinas contra o COVID-19. A CEPI, comissão que centraliza as inovações para o combate a epidemias, é patrocinada precisamente pelo Fórum Económico Global e pela Fundação Bill e Melinda Gates e, por essas vias, tem grande peso na Organização Mundial de Saúde.
A CEPI lida, em modo tendencialmente monopolista, com vários gigantes da indústria farmacêutica e, neste âmbito, accionou em primeiro lugar a empresa norte-americana Moderna Inc. e o Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas dos Estados Unidos (NIAID), chefiado pelo dr. Anthony Fauci, que se distinguiu pelas suas declarações atemorizadoras do impacto do novo coronavírus quando ele praticamente ainda mal se manifestara, em termos de reconhecimento oficial, no exterior da China. Depois a CEPI contactou a CureVac alemã, a mesma empresa à qual Donald Trump, aconselhado pelo NIAID, ofereceu secretamente mil milhões de dólares para ceder aos Estados Unidos os direitos de uma eventual vacina para o COVID-19.
A Moderna é hoje a empresa mais bem posicionada na corrida à vacina do COVID-19: iniciou testes em seres humanos em 16 de Março mesmo sem ter feito experiências em outros animais; ao contrário do que aconteceu com a chinesa Canssino Biologic’s, também a realizar ensaios em seres humanos mas depois de ter obtido resultados encorajadores em outros animais.
A CureVac alemã parece estar igualmente numa fase avançada da investigação da vacina, o que significa, de facto, um grande controlo dos trabalhos em curso por parte da CEPI.
Richard Hackett, o presidente desta comissão, confessou em 3 de Fevereiro que «conversamos com ampla variedade de parceiros para produzir grande quantidade de vacinas para uma pandemia» – que então ainda não fora declarada.
Também Hackett manifesta dons proféticos: «o projecto começou antes de ser descoberto e identificado o novo coronavírus», disse durante uma entrevista; «fizemos isso no ano passado ou antes e usámos a informação que reunimos para ir encarando a preparação de vacinas de diferentes tipos». A estratégia, explicou o presidente da CEPI, «é ter grande número de candidatos».
Há claramente um grande esforço das elites neoliberais para não perderem o controlo da produção de vacinas para o novo coronavírus e tirar proveito da situação; bem basta terem de contar com a concorrência chinesa.
«Os governos devem…»
Feita a simulação catastrófica, que medidas recomendaram os iluminados de Nova York para fazer frente às consequências?
Ao longo dessa espécie de sete mandamentos a expressão que pode ler-se mais é «os governos devem…»
«Os governos nacionais devem», juntamente com as organizações internacionais e a indústria privada, «reforçar os stocks mundiais de contra-medidas médicas (…) expandir o stock de vacinas (…) doar parte das suas reservas de vacinação (…) fornecer financiamento substancial». É oportuno notar que o reforço e centralização de instrumentos médicos foi a única medida tomada até agora pela União Europeia no âmbito do combate à pandemia de COVID-19.
«Os governos nacionais devem fornecer mais recursos e apoio ao desenvolvimento e fabrico de vacinas, ao desenvolvimento, abastecimento e distribuição rápida e em grandes quantidades de contra-medidas médicas»; além disso, os países «com recursos suficientes devem aumentar bastante essa capacidade».
«Os governos nacionais devem»… ajudar as grandes empresas do sector privado «a encarar os riscos comerciais representados por doenças infecciosas e a caminhar para atenuar esses riscos através da cooperação público-privada».
Mas «também será necessário identificar» os problemas «mais críticos do sistema bancário e das economias globais necessárias e demasiado importantes para fracassar», aconselham. Por isso, «o Banco Mundial, o FMI, os bancos de desenvolvimento regional, os governos nacionais e fundações devem explorar as maneiras de aumentar a quantidade e a disponibilidade de fundos e garantir que possam ser utilizados com flexibilidade». E o Grupo dos 20 (G20) acaba de prometer mundos e fundos para injectar na economia global.
«Os governos devem», «os governos devem», «os governos devem» é o mote.
Porém, advertem os profetas da simulação, «uma pandemia particularmente veloz e letal poderia resultar em decisões políticas para retardar ou interromper o movimento de pessoas e bens, prejudicando potencialmente as economias já vulneráveis perante um surto». Daí «a necessidade de mitigar os danos económicos mantendo-se as principais rotas de viagem e comércio durante uma pandemia de grande escala», até porque grande parte dos danos «devem-se a comportamentos contraproducentes de indivíduos, empresas e países».
Esta recomendação não parece ter sido ouvida ou então a pandemia real surgiu demasiado em cima da pandemia ficcionada. «Não agimos de maneira suficientemente rápida», lamentou muito recentemente o próprio Bill Gates.
Mas parece haver quem esteja disponível para emendar o «erro» e a estratégia: o presidente dos Estados Unidos pediu o regresso ao trabalho exactamente no momento em que o ataque do COVID-19 começa a ter repercussões trágicas no seu país. Wall Street agradeceu e logo começou a compensar as perdas vultosas sofridas nas últimas semanas.
Porque as pandemias, verdade seja dita, têm as suas oportunidades de negócio. Por isso, as entidades que montaram o Event 201 com o coronavírus inventado são as mesmas que, a jusante, se preparam para extrair avultados dividendos com o coronavírus verdadeiro – juntando a ficção à realidade.
Enquanto as pessoas morrem.
José Goulão, Exclusivo O Lado Oculto/AbrilAbril
Tópico
sábado, 11 de abril de 2020
Cenas de uma pandemia: Histórias em primeira mão da vida em 23 países, dos Bolsistas TED
10 de Abril de 2020
A pandemia coronavírus actual é verdadeiramente global; na verdade, a Antárctida é o único continente sem casos (embora isso possa mudar). A maioria das nações respondeu com medidas semelhantes - avisos de permanência em casa, paralisação de negócios não essenciais, distanciamento social - mas o escopo dessas mudanças tem variado e assim tem o impacto humano.
Para obter uma perspectiva panorâmica, o TED recorreu aos Bolsistas TED. Esse grupo internacional de inovadores, pesquisadores, artistas e pensadores soma cerca de 500 pessoas em 99 países. As respostas foram colectadas de 30 de Março a 7 de Abril de 2020.
Você pode ler todo o post, ou usar esses links do país para saltar ao redor. O post contém respostas do Afeganistão, Bangladesh, Bélgica, Brasil, Camboja, Canadá, Equador, Egipto, Etiópia, Alemanha, Gana, Índia, Quénia, Marrocos, Paquistão, Rússia, Singapura, África do Sul, Suécia, Tailândia, Uganda, Ucrânia, Estados Unidos.
quinta-feira, 9 de abril de 2020
Tavares, Joacine, quejandos & conexos.
“Unde sapientia venit et quis est locus inteligentiae?” (“Sabeis de algum lugar do mundo onde exista a inteligência?”).
O que acaba de ler-se é Job citado por Ortega y Gasset n’“A Rebelião das Massas” (ed. Relógio d’Água, 1989).
Eu lia o DN. Mas, a dada altura, uma tal Fernanda Câncio tornou-se-me verdadeiramente insuportável; e passei a comprar o Público todos os dias. Ao nunca ver TV – excepto quando vou a casa de amigos e/ou familiares – a imediatidade tem que chegar-me pela imprensa. Na altura o Director era José Manuel Fernandes. Seguiu-se-lhe Bárbara Reis, que, num jornal que não aderiu a essa infâmia do denominado “acordo ortográfico” – honra lhe seja, claro – revela estar mentalmente colonizada. Num seu artigo, há anos, somando expressões e palavras em Inglês contei vinte e nove. Acredito que o domínio do Português lhe seja deficiente. Finda a direcção desta veio Manuel Carvalho, cuja pequenez – e de seus “pares”… – ficou escancarada em longo, destacado e homuncular editorial, na sequência de um artigo da Drª Maria de Fátima Bonifácio.
No Público deparei-me com Rui Tavares, a quem, há anos, enviei três ou quatro cartas manuscritas: para o felicitar pela sua generosidade para com Timor e lhe agradecer o ter dito que vinha de origens humildes (já agora direi que eu sou oriundo de uma família de transportadores rodoviários e que dois primos direitos de meu Pai, que se transferiram para Angola com as respectivas famílias, com os seus transportes ajudaram a construir a barragem das Mabubas c. 60 quilómetros a NE. de Luanda); e para lhe comunicar que o que escrevera era de uma “superficialidade arrepiante”. A adesão ao “acordo ortográfico” é, a esse respeito, eloquente, tal como, presumivelmente, a “amizade” com Varoufakis. Mas a Direcção do jornal – que, em regra compro a pesado contra-gosto – mais que acolhê-lo nas suas páginas andou a publicitá-lo. Apresentou-o como historiador e, até às últimas legislativas, como fundador do “Livre”. Bem… historiadores há p’ra todos os gostos, digamos; e Napoleão até terá dito que “a História é um conjunto de mentiras sobre as quais os historiadores terão decidido pôr-se de acordo”.
Os textos de Tavares revelam alguém que é uma obsolescência cultural. Situado nas “Luzes”, e nelas insistindo, não se dá conta de que a hodierna verdade é subsidiária de uma extremamente subtil complexidade epistemológica; e que a inabalável confiança na razão, o pressuposto do movimento do séc. XVIII, mais não é que um momento do passado do desenvolvimento humano. Grave! Ainda nunca me aconteceu, quando atravesso a Polónia, fazer compras num “Biedronka” (o “Pingo Doce” local) e tenho o devido respeito pela Fundação Francisco Manuel dos Santos. Mas como é possível que esta fundação tenha dado a Tavares a coordenação de uma História de Portugal, há escassos meses começada a publicar!!?? A miséria cultural e a avantajada ignorância tão peculiares a um certo sector da sociedade portuguesa são, evidente e obviamente, a explicação da escolha da Fundação, equívocos de uma sociedade em que responsáveis têm, repete-se, muito a crescer.
“Saber ocupar o seu lugar”, “medir as distâncias”, “ser amigo do seu amigo”, “honrar compromissos” são preceitos que, nas minhas infância e adolescência, se inoculavam aos filhos. Potenciam uma profundidade interior nos antípodas da arrepiante superficialidade e ausência de sentido de alteridade de que Tavares dá provas, ou, melhor, são a sua escancarada identidade. Pelos aduzidos preceitos e pelo rifonário – nomeadamente o britânico – sinto um genuíno respeito. Deste lembro apenas dois adágios: “para fazer um senhor são precisas três gerações” e “a Nobreza discute questões; os criados falam de pessoas”. Imperativo lembrar como, em 2011, se manteve no Parlamento Europeu como independente após a disputa com Louçã. No seu espaço no Público, a 18-I passado, escrevia Vasco Pulido Valente: “Deus Nosso Senhor nos livre do partido Livre (…). Só Rui Tavares podia ter inventado uma intriga destas”. Mesmo na opinião do homem comum o ainda cronista do jornal é visto como destituído de credibilidade. Mais. O rosto de Tavares podia bem acompanhar – ressalvadas todas as distâncias… – os que – tão espantosamente! – estão incluídos na capa de “Um Traidor dos Nossos” de John le Carré, editado pela D. Quixote.
Ou seja: como é possível que uma personalidade tão surpreendente se tenha alcandorado ao protagonismo universitário?; como é possível que, em Lisboa, exista um grupo “surrealista” deste quilate, em que contam do biólogo ao advogado? E aos jornalistas que noticiam não ocorre que saber do Humano terá – forçosamente – que separar-se, digamos, do saber científico, ou dos meros psitacismo, doxografia e retórica? É excelente ser-se ambicioso – mas apenas se, para tal, houver legitimidade. O Livre foi óptimo para Portugal: mostrou que a miséria ético-social, ético-relacional, se desmascara facilmente a si mesma; que o partido deve desaparecer; e que Tavares – desde já – deve frequentar um excelente curso de Filosofia (a começar pelo pensamento xamânico) numa conspícua universidade. Perfeito se o fundador de tão excelso grupo decidir “hibernar”…
Tanto quanto pode inferir-se pelo lido, ouvido, conjecturado, concluído… Tavares é inapto para identificar-se – desde logo – a si mesmo. Leia e interiorize – já –, de Platão, “Apologia de Sócrates” e “Fédon”. Ou a iconoclastia, o aviltamento e o ultraje aos outros não lhe importam? Os seus oportunismo, inépcia e mau perder não podem escamotear-se, são irrefragáveis. Fundou o Partido há sete anos e, instrumentalmente, serviu-se, com outros, de uma negra, gaga, divorciada, feminista – sem aptidão para o cargo – serviu-se, dizia, para os seus mal-fadados desígnios. E não logra disfarçar o despeito quando se refere – e repete-o – ao êxito do CHEGA, o qual, nas pessoas dos Drs. André Ventura e Pacheco de Amorim, muito vivamente saudamos.
Faz algum sentido convocar um coxo para uma maratona ou um cego para atirador, v. g., de Infantaria? Perante a “surrealista” situação não há uma legislação parmenidiana que possa surgir? E não venham dizer que isto é racismo. À oratória é inerente presença, profundidade, preparação, pathos, celeridade… Mais. Não é preciso ser-se sagaz morfopsicólogo para notar que o olhar de Joacine – categoria para historiadora a de alguém dominado pelo ressentimento!!?? – é pesado (a remeter para os seus antepassados antropófagos), estático, dominado pela perplexidade, de pessoa desvalida. Mais ainda. E já nem me alongo na questão da bandeira de um dos mais conspícuos Estados do orbe – ut fama est… – na noite das eleições. Joacine pode ser, legalmente, portuguesa, apresentar-se como ocidental, mas o que Portugal lhe merece é aversão, tal como não se cansa de repeti-lo. Quanto ao seu secretário, já tem um lugar garantido na Historia da perversão da moda em Portugal… E talvez também a deputada, que logo na sua primeira apresentação na AR mostrou um penteado com extensões capilares. Homenagem à sua terra de origem? Não é racismo nenhum perguntar-lhe por que não se muda para lá. Um amigo nascido em África, catedrático com valor, dizia-me há dias, enquanto viajámos no seu carro de prestigiada marca, que nem Mamadou nem Joacine representam ninguém além de si próprios.
Movido pela ambição, Tavares fundou um partido… inútil, horroroso, desqualificante. Ao revelar mentes insuspeitas – e Ricardo Sá Fernandes na sua escancarada estreiteza também aqui se arrola – prestou – contrariamente a tudo o que podia lobrigar… – um inestimável serviço a Portugal. O País dos “gestos belos / dos austeros e graves ancestrais” (acabo de citar o colossal Reis Ventura), valente e empreendedor como poucos, credor do egrégio respeito da História, sabe agora que o esforçado labor nos campos e alhures, a aturada investigação dos estudiosos, a atenção da Igreja ao imediato (todavia a estupidez da Renascença e o negar a audiência ao Doutor André Ventura não se admitem), ao imediato e ao perene, o culto do patriotismo e da espiritualidade, o recolhimento dos grandes espíritos, nada têm que ver com este “fartar vilanagem” que lhe foi servido por gente espúria da capital do ex-Império. ■
J. A. Alves Ambrósio
O Diabo, 27 de Março de 2020
quarta-feira, 8 de abril de 2020
Será que o Ministro da Defesa está de posse das suas faculdades?
João José Brandão Ferreira, oficial piloto aviador
Diz o cego para o coxo: - Então como vais andando? Responde o coxo: -Olha, é como estás vendo” (chiste popular).
Vem isto a propósito de declarações do Ministro Cravinho sobre o aumento de mulheres nas Forças Armadas.
Olhem que isto é fixação! Como se tal representasse algum problema! Neste âmbito faz coro com a antiga Secretária de Estado (ou ela com ele) – uma “feminista” pouco encapotada: querem, vejam só, igualdade de género, neste caso aumentar as moças e as balzaquianas para metade dos efectivos! E se forem mais, já poderá ser?
Vão arranjar quotas também para ciganos, pretos, mestiços, amarelos, acastanhados, judeus, muçulmanos, ortodoxos, homossexuais, etc.? Isto é só estupidez natural ou apenas um desvario momentâneo de quem não tem nada para dizer sobre a resolução dos reais problemas (e são a perder de vista) da Instituição Militar, que vai a caminho do que se passava no fim do reinado de D. João V, em que as sentinelas pediam esmola à porta dos quartéis?
E querem saber mais, quer sejam fêmeas quer sejam machos ou outra qualquer espécie hermafrodita, ninguém quer, hoje, vir para as actuais Forças Armadas, devido ao estado em que as puseram e ao País! Como prova o recente concurso para o recrutamento de 70 oficiais em regime de contracto, para o Exército, que ficou às moscas. Pudera!
Será que já não basta a completa inépcia, ignorância e maus instintos que têm povoado as sucessivas gerações de ministros da Defesa – o último dos quais nos brindou com esta pérola em pleno tribunal a propósito do caso de Tancos, e cito: “É bom ter presente e digo sem ironia: eu não fazia a mínima ideia do que era um paiol” – para agora termos de aturar um governante que vive a 30 centímetros do solo e quer que os restantes também vivam? Como é que se pode ter um mínimo de respeito por gente desta, que nem sequer tem coragem para assumir o que pensam e estão a fazer?
Porque são tão miseráveis que nem sequer são capazes de assumir (onde está a Democracia, onde está a transparência?) que não gostam (o termo é outro) da Instituição Militar e dos militares? Que têm outras prioridades? Que acham que a tropa não serve para nada? Que não perdoam as intervenções políticas dos últimos 200 anos? Que são pacifistas disfarçados? Que não querem nenhuma espada de Dâmocles sobre a sua cabeça para poderem usufruir de toda a negociata e corrupção existente? Que pensam que o modo de ser e estar das Forças Armadas é um anacronismo? Que julgam não haver ameaças sobre o país? Que o país é dispensável?
Porquê? Tenham coragem e assumam-se, para que a Nação e até os próprios militares os confrontem! Os senhores não merecem a menor consideração! Cito George Bernanos: “Um intelectual é tão frequentemente um imbecil que devíamos sempre à partida considerá-lo como tal, até que tenha dado provas em contrário”. Ora, senhor Ministro, entre vós existem certamente vários imbecis (esses são facilmente removidos), mas a marca dominante é o maquiavelismo subversivo. Não vão poder, porém, enganar toda a gente durante todo o tempo!
As Forças Armadas estão num estádio de decrepitude e desmoralização (ao contrário do que se ouve dizer por gente sem vergonha na cara) galopante e esse, sim, anacrónico. É a instituição nacional que mais tem sofrido nos últimos 30 anos, reduzida, desconsiderada e desmontada em toda a sua plenitude! Existe uma “estranha” auto-censura da generalidade dos meios de comunicação social sobre todo este assunto, o que contrasta com a inacreditável “atenção” que revelam perante eventos que não valem um caracol furado, ou insistem em denunciar, como o facto gravíssimo de haver uma lâmpada fundida num hospital do Serviço Nacional de Saúde…
A inacreditável “mansidão” com que toda a hierarquia militar tem aceitado e fica conformada com este estado de coisas é abismal (de ficarmos abismados), o que me causa uma incomodidade (e vergonha) crescente, por ser oficial do quadro permanente. Ainda no Natal ocorreu um evento que ilustra o que estou a tentar transmitir: o Chefe de Estado-Maior do Exército (CEME) ficou apeado na placa do aeroporto por, à última da hora, ter surgido um elemento civil (nem vou referir quem), que se posicionou para se deslocar ao Iraque, onde a comitiva ia visitar as tropas portuguesas lá estacionadas. Pois o senhor PM mandou subir o dito civil e apear o CEME. Isto incomoda-me, envergonha-me e revolta-me! Mas, pelos vistos, eu é que estou seguramente errado. E a mais.
Mas o senhor ministro está é preocupado porque não há fêmeas suficientes na tropa e quer aumentá-las “para desconstruir a imagem tradicionalmente masculina da Defesa”. Sim, Sua Excelência disse isto. Ele quer é gajas e creches (bom, outro dia vi – ninguém me contou – numa portaria, pois já nem era uma Porta d’Armas, onde estava uma militar de serviço e ao lado tinha um bebé, que tratava e presumo fosse sua filha…). Vá lá, sempre é melhor do que querer transformar a parada de um quartel num acampamento do Bloco Canhoto!...
Será que o dito cujo ministro tem alguma ideia do que é um Exército e para que serve? Os Ramos das Forças Armadas não estão capazes de cumprir minimamente as suas missões (e são muitas), não têm praticamente qualquer capacidade de sustentação, nem reservas, nem planos de contingência seja para o que for; não têm efectivos, sobretudo praças, para além de qualquer ficção; já quase não há qualquer hipótese de dar treino e instrução seja a quem for; dentro de poucos meses não haverá nenhuma unidade capaz de manobrar tacticamente ou dar um tiro; ou manter qualificações ou seja o que for e todo o mundo finge que não se passa nada!
Duvidam do que digo? Tenham coragem e entrevistem-me na televisão. Aceito (e desafio) qualquer arguente!
Mas o senhor Ministro (que topete!) está com a fixação paranóica do aumento do mulherio (mas entretanto não autoriza nenhuma contratação de mulheres, nem homens, para funções civis nas FA…)! O Exército o que faz? Muda os uniformes! Como se isso resolvesse alguma coisa ou fosse urgente. O Exército está à beira de não conseguir alimentar (sim, dar de comer) os escassos meios humanos que tem ao seu serviço e a sua preocupação é gastar dinheiro em mudar o uniforme e arranjar mais uma série de polémicas internas com isso? Voltámos ao granel do Século XIX: como não havia dinheiro para nada, nem ninguém mandava, as numerosas reformas militares havidas resumiam a sua substância a mudar os números aos regimentos; alterar as Regiões Militares e… mudar os uniformes! A Reforma de 1884, chamada Reforma do Fontes (e este foi um bom militar e um razoável político), conseguiu comprar algum material moderno, mas à custa das “remissões” – dinheiro sacado aos contribuintes para se livrarem da tropa, o que fez com que o Exército fosse invadido por uma quantidade enorme de indigentes, o que causou grande mal-estar nas fileiras e foi uma das causas, pouco estudadas, pelas quais o Exército deixou cair a Monarquia… Não se aprende nada!
A Força Aérea já nem consegue formar os pilotos de helicóptero e convencionou com os espanhóis fazerem isso. Os F-16 estão todos a encostar (devido a não serem consignadas verbas para a sua regeneração) e por esta via vai deixar de haver parelha de alerta de defesa aérea. Ou seja, vai deixar de haver soberania no ar, a principal missão do Ramo. Voa-se tão pouco, que os controladores (já não falo dos pilotos) nem sequer vão conseguir manter as suas qualificações…
A Armada vai abater o navio Bérrio (para quem está esquecido, era o nome do navio da Armada de Vasco da Gama que transportava os víveres e outra logística) e deixar de ter capacidade de abastecimento oceânico; o substituto vem sendo protelado há anos na Lei de Programação Militar – que nunca passou de uma ficção de engenharia financeira – e passou agora para 2025… Os navios vão parar um a um e já nem têm guarnição que chegue.
Mas o Senhor Ministro está preocupado com a igualdade de género. Pois, Senhor Ministro, meta a igualdade de género num sítio que toda a gente sabe qual é. E trate-se, se é que tem cura. O senhor e o PM são os cegos da citação. Os seus interlocutores directos são os coxos. O que inclui o “Comandante Supremo”, que não é supremo nem comanda nada. É uma figura de estilo. Condiz. ■
“Nem sequer são capazes de assumir que não gostam da Instituição Militar “
O Diabo, 27 de Março de 2020
Por favor!
Por favor, tirem-me da frente aquela Srª., que andou a dizer que isto não era nada e todos os dias nos conta histórias da carochinha, nos ensina a lavar as mãos e a verter água num copo e nos aconselha a irmos comer às herdades dos amigos. Aquela madame que em Janeiro nos garantia que “o vírus está circunscrito e há uma fraquíssima possibilidade de se transmitir pessoa-a-pessoa”. Aquela madame que em Fevereiro aconselhava os portugueses “a não ficarem alarmados” (e dizia a sorrir que ela própria, aliás, só se tivesse acabado de chegar de Milão se sentiria “ligeiramente preocupada”). Aquela madame que povoa hoje todos os nossos piores pesadelos com descrições apocalípticas de fim de mundo. Aquela Sr. que se sentou á mesa de um restaurante chinês, dizendo que todos os dias ia lá fazer compras, ás lojas dos chineses.
Há muito tempo que deviam ter tirado do ar este clamoroso erro de casting. Por favor, arranjem outra pessoa para explicar diariamente aos portugueses a estatística do Covid-19.
Por favor, tirem-m’a da frente, que eu já não posso ver a criatura!
Corona Vírus – falta tudo
Escrevo sobre a importância dos cuidados que deve ter sobre a nova doença produzida pelo Corona Vírus e a falta de verdade que tem acompanhado o discurso oficial.
No dia em que escrevo, dia 25 de Março, com os dados da Direcção-Geral da Saúde, havia um número crescente de casos no país. Estamos na fase claramente ascendente, exponencial, de subida do número activo de infectados. Tivemos os casos diários acumulados activos e de testes realizados à população, que se interpolam a partir dos dados obtidos nos boletins da Direcção-Geral da Saúde:
21 de Março – 1.280 casos – 2.122 análises
22 de Março – 1.600 casos – 1.925 análises
23 de Março – 2.060 casos – 1.895 análises
24 de Março – 2.362 casos – 1.800 análises
Se observarmos os dados das análises face aos casos, que grosso modo representam a capacidade de propagação da doença, temos uma descida de 165,7%, 120,3%, 92% (aqui deu-se o ponto de ruptura, fizeram-se menos testes a potenciais novos casos do que os casos activos) para 76,2% de testes face ao total de casos confirmados.
Se o leitor não compreende bem isto, o autor ainda menos. Quando o director-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS) afirmou publicamente que o único caminho para combater esta doença era a análise sistemática da população, dizendo inclusivamente “Testem, testem, testem!”, o governo português e a DGS reduzem drasticamente o número de testes. O secretário de Estado da Saúde disse que não se estavam a racionar os testes, mas sim a racionalizar! O que devia ter dito era que não havia testes para seguir as recomendações da OMS, estando nós ao nível do terceiro mundo, em ruptura total de meios.
Entretanto, o primeiro-ministro António Costa, dizia numa entrevista na TVI, no dia em que menos testes se fizeram, que “não falta nada” no sistema de saúde.
O que se passa é que testando cada vez menos pessoas, em valor absoluto, a possibilidade de detectar novos casos, os verdadeiros casos infectados, é cada vez menor.
Sabemos, cada vez mais, de mais testemunhos de pessoas com sintomas que telefonam para a linha Saúde 24 e lhes é dito para tomarem um benuron, que serão testadas nos próximos dias; esperam depois esse telefonema, esperam, esperam, e passaram três dias e nada aconteceu.
Os profissionais de saúde, lidando todos os dias com estes doentes, e sabemos que o vírus é extremamente contagioso, não são testados. Mais uma vez os testemunhos são arrepiantes. Para além dos cruciais testes, faltam fatos, viseiras, máscaras, luvas, etc., etc., etc… Um coronel de cavalaria, antigo comandante do regimento de Santarém, ficou estendido, morto no chão, por dez horas, porque ninguém sabia o que fazer com medo do Corona Vírus.
Além de faltar material, falta direcção, faltam protocolos, a burocracia no registo dos casos é avassaladora e o ‘site’ da DGS extremamente mal feito e lento. A coisa é tal que muitos casos ficam por registar longas horas, ou mesmo dias, perdendo-se informação vital para combater a doença.
Na falta de um tratamento curativo eficaz para esta doença, sobretudo quando se agrava para a pneumonia final, a única forma de combate é a informação. Quando se mente sobre o número de testes, quando os matemáticos têm de pesquisar números, como detectives, porque os dirigentes se recusam a dar os números de testes feitos em conferências de imprensa, dia após dia, algo está mal.
Recentemente, no dia 23 de Março, foi submetido um artigo científico, “Using a delay-adjusted case fatality ratio to estimate under-reporting”, com primeiro autor Timothy Russel, sobre o número real de casos e os números oficiais em diversos países do Mundo. A Coreia é o melhor país do grupo, com um índice de 80% de casos detectados. Nessa altura Portugal apresentava-se como um caso médio, com 35% dos casos detectados, um valor já baixo; os dados eram de 22 de Março, ainda fazíamos mais testes do que o número de casos existentes, o que é normal.
Repetindo o autor as contas desse artigo com os dados de terça-feira, que se reportam a segunda, após também um folhetim inacreditável com o boletim da DGS com múltiplas alterações, correcções e emendas ao longo dia, o número de mortes foi fixado em 33. O número de mortes, infelizmente, é um indicador muitíssimo mais preciso do que os números da DGS, por falta de informação reportada e por falta de testes. Ainda é muito difícil errar no número de mortes por COVID-19, ao contrário dos números de casos suspeitos e confirmados.
Fazendo as contas com os números de ontem, corrigidos com os números de mortes ao final do dia, passámos de 35% casos correctos para apenas 3,2% em dois dias! Ou seja, os números de crescimento da epidemia em Portugal estão gravemente sub-estimados, o que é gravíssimo, e nem é por o público estar a ser enganado, é gravíssimo porque isso favorece uma propagação descontrolada de uma doença que é assintomática ou leve na maior parte dos casos; e até 12 dias mesmo os casos que ficarão muito graves se afiguram como ligeiros. Uma doença que mata 5% dos casos detectados, e muito mais nos idosos. Estamos a perder imenso tempo com testagem muito abaixo do recomendado pela OMS.
Sem dados fiáveis, sem testes e com falta de verdade, apesar do civismo do público, não conseguiremos combater a doença. É urgente requisitar, usando os mecanismos do Estado de Emergência, os testes do sistema privado, que esperam, como abutres, lucrar colossalmente com o assunto, cobrando a 150€ às pessoas que voluntariamente se dirigem aos seus serviços, por testes que custam menos de um terço desse valor. O Estado vai pagar 100€ por teste a este sistema privado, em vez de os colocar sob administração dos médicos militares ou do Serviço Nacional de Saúde, o que é um escândalo.
Vai chegar o famoso avião da China com alguns testes, mas mesmo que sejam 80.000, como já foi anunciado, esse número é insignificante para testar todos os que privaram com os doentes existentes e suas cadeias de transmissão e os profissionais de saúde que todos os dias lidam com doentes muito contagiosos; e, sobretudo, demasiado tarde.
É necessário produzir com urgência testes e outros materiais em Portugal, o Estado de Emergência serve para isso mesmo, para colocar fábricas não essenciais a fabricar materiais necessários e urgentes. Fomos tarde demais ao mercado, a falta de previdência vai custar-nos muito caro, apesar do optimismo político de António Costa. No meio da enxurrada do marketing político da entrevista feita por Miguel Sousa Tavares, deixou cair a verdade: vem aí o tsunami.
Nós acrescentamos: prepare-se, fique em casa, tenha o máximo cuidado, não se deixe contagiar; daqui a duas semanas, se precisar de ir para o hospital, vai esperar muito, isto se for atendido, e os cuidados vão ser extremamente sumários, uma cama de cuidados intensivos vai ser, dentro de poucos dias, mais difícil de obter do que um prémio de lotaria.
Manuel Silveira da Cunha, O Diabo, 27 de Março de 2020
Covid-19 - um primeiro balanço
Henrique Neto
A pandemia do Covid-19 é um tema incontornável nos dias que correm e motivo de preocupação generalizada em todo o planeta. Portugal não foge à regra e será o caso português que comentarei com a nota de que, do meu ponto de vista, aprendemos mais através de interrogações e de críticas do que a festejar as nossas vitórias. O que não me inibe de deixar uma saudação e o meu respeito pelos profissionais de saúde, dos sectores público e privado, que trabalham diariamente em condições pouco invejáveis. Para melhor leitura, dividirei os temas a tratar: Organização Não será uma grande novidade, já que seria previsível, que a fraca organização do Estado e do SNS esteja a ser o principal obstáculo na luta contra a pandemia. Daqui a alguns meses, quando se fizer o balanço deste período, será difícil compreender o que andaram a fazer o Governo e as instituições do Estado depois de conhecida a tragédia chinesa no início do ano. Além de não ter sido tomada a decisão, mãe de todas as decisões, de fechar as fronteiras.
Agora, com o vírus em casa, é penoso assistir às conferências de imprensa diárias da ministra, com respostas aos jornalistas que passam sempre por: “estamos a comprar; estamos a organizar; estamos a tentar”. Num caso como este, o normal seria que se tivessem realizado exercícios de prontidão entre todos os sectores intervenientes: sistema científico, profissionais de saúde, serviços de segurança, hospitais, públicos e privados, associações profissionais e o aprontamento do sistema de compras, testes, funerais e uma equipa dos melhores cientistas portugueses a reunir diariamente para avaliar os resultados. Sistema científico Não sei se é verdade que todos os dados médicos recolhidos diariamente não estão a ser fornecidos à comunidade científica, ou à Ordem dos Médicos, mas a ser verdade é uma monstruosidade estúpida, que só pode ter a sua origem no receio político do conhecimento da verdade. Seja como for, penso que um cientista do sector, de reconhecia competência e independência,deveria participar das conferências de imprensa diárias com a tripla utilidade de informar com credibilidade científica os meios de comunicação; de fazer a ligação das questões tratadas com os laboratórios de investigação interessados; de contribuir para o desenvolvimento de uma cultura científica entre nós. De facto, será através da ciência que poderemos ultrapassar esta calamidade pública e não nos deveríamos limitar a evocar as experiências estrangeiras.
1 – Governo
O Governo tomou muitas iniciativas a todos os títulos louváveis, tentando acompanhar o que se passa noutros países e o Primeiro-Ministro tem-se esforçado a obter um comportamento positivo dos portugueses. Todavia, infelizmente, é da sua formação e do seu pensamento reagir em vez de prever e de prevenir. Assim, toda a máquina política está vocacionada para obter a melhor reacção positiva dos eleitores e menos em prever e resolver os problemas previsíveis em antecipação. Algo que os empresários não têm outro remédio senão aprender a fazer, para não morrer na praia dos seus concorrentes. Para isso, não vejo no Governo um único profissional que o saiba fazer e menos de todos a Ministra da Saúde.
2 – Economia
Numa economia dual como a nossa, repleta de muito pequenas empresas sem reservas de capital, que vivem do dia a dia para sobreviver, o fecho por muitas semanas será uma tragédia humana. Para resolver o problema o Governo decidiu ajudar com empréstimos as empresas que não façam despedimentos, em vez de financiar o desemprego através da Segurança Social e libertando as empresas que não estão a produzir desse encargo fixo. Tenho muitas dúvidas da bondade da decisão governamental, seja porque as pequenas empresas do sector pobre da economia, as que não têm reservas, nunca poderão pagar esses empréstimos e complicará a sua futura recuperação. Também, porque o modelo escolhido complica o controlo e permite uma elevada taxa de corrupção. Finalmente, nos sectores mais desenvolvidos da economia, as empresas devem ter seguros e reservas para não terem de ser apoiadas nesta circunstância, mas libertando-as do custo salarial através de despedimentos temporários. Numa economia dual como a nossa, soluções iguais para todos não é uma boa ideia.
3 – Corrupção
Sabemos o que aconteceu, por desorganização e por venalidade, com os fogos de 2017, como sabemos o elevado nível de corrupção com os dinheiros distribuídos pelo Estado, ou mesmo por privados, mas, infelizmente, não estamos, que se saiba, a tomar medidas para prever que o mesmo, ou pior, aconteça agora. Seja na paragem de sectores que não teriam de o fazer, seja na febre das compras feitas tarde e a más horas sem concursos, seja simplesmente na fuga ao trabalho, sob a desculpa do isolamento. Por exemplo, neste último caso está por explicar a suspensão da recolha de alguns lixos na cidade de Lisboa. Razões pelas quais penso ser de prever a criação de um pequeno grupo na Polícia Judiciária que, desde já e em regime de exclusividade, investigue tudo o que esteja a ser decidido neste domínio, verificando a documentação necessária. Só o anúncio público desta medida poupará muito dinheiro ao Estado.
4 - Previsão e aprendizagem
Está a ser muito vista nas redes sociais uma conferência de Bill Gates de há alguns anos, com previsões fundamentadas e bem explicadas do perigo de futuras pandemias. Trata-se de alguém preocupado com o futuro do planeta nos seus diversos domínios e que, simultaneamente, tem uma cultura empresarial e científica. O que me deu a ideia de o Governo enviar alguns professores universitários de reconhecida competência, que não estejam a dar aulas, para dois ou três países amigos - por exemplo, Alemanha e Itália - para mais tarde relatar as diversas formas, positivas e negativas, científicas e organizativas, com que esses países estão a combater a pandemia.
Em resumo, não existe nenhuma tragédia que não seja uma oportunidade para aprender e avançar conhecimento. É assim nas guerras, pode ser assim nas pandemias. Basta que quem tem o poder político, ou económico, de tomar decisões, o faça pensando para além do seu tempo e das suas tarefas diárias.
O Diabo, 27 de Março de 2020
sábado, 4 de abril de 2020
UMA CRONOLOGIA DA INCOMPETÊNCIA (coronavírus)
O meu destaque vai – acima de tudo - para a frase (pelo ‘ridículo’ de que de facto se tem revestido a actuação de ‘sua excelência’):
A piedade impede comentários à prestação do presidente da República em título.
O ‘resto’ são só a incompetência e a mediocridade generalizadas (leiam devagar – e façam intervalos para não apanharem uma indigestão com a ‘estupidez’ revelada).
E é tão grande (a ‘estupidez’ revelada) que decidi não pôr em evidência nenhuma. Escondidas no texto, há verdadeiras ‘pérolas’.
Mas, leiam. E guardem! Para memória futura.
(Texto de Alberto Gonçalves)
5 de Fevereiro
A ministra da Agricultura diz que o coronavírus “pode ter consequências bastante positivas” para as exportações portuguesas do sector agro-alimentar para os mercados asiáticos.
6 de Fevereiro
A ministra da Agricultura diz que o seu sentimento perante o coronavírus é de “preocupação e solidariedade”.
24 de Fevereiro
O prof. Marcelo declara que “tudo está a ser feito para lidar com o coronavírus”.
25 de Fevereiro
A ministra da Saúde sugere o isolamento das pessoas vindas de zonas onde há transmissão do coronavírus.
26 de Fevereiro
A Direcção Geral da Saúde não sugere o isolamento das pessoas vindas de zonas onde há transmissão do coronavírus.
A ministra da Saúde sugere que a sua sugestão acerca do isolamento das pessoas constituiu um lapso.
A ministra da Saúde garante que Portugal está preparado para responder ao surto de coronavírus.
O ministro dos Negócios Estrangeiros garante que Portugal está preparado para responder ao surto de coronavírus.
A Federação Nacional dos Médicos garante que Portugal não está preparado para responder ao surto de coronavírus.
28 de Fevereiro
A directora-geral da Saúde alerta que “não nos devemos beijar todos os dias e a toda a hora”.
29 de Fevereiro
A directora-geral da Saúde admite que Portugal poderá ter um milhão de infectados.
O dr. Costa recomenda que não se levem as mãos à “boca, nariz ou olhos”.
O ministro dos Negócios Estrangeiros assegura que “estamos a aprender [a lidar com o coronavírus] e julgo que estamos a aprender depressa.”
BE: “O coronavírus deve dar-nos esperança de que somos capazes de enfrentar a crise climática”
Numa escola secundária do Porto, os alunos não podem lavar as mãos porque não há sabão. E não há sabão porque, explica uma directora, não há dinheiro.
2 de Março
Surgem os primeiros casos de infectados com coronavírus em Portugal. São dois.
3 de Março
O dr. Costa corre ao Porto para visitar os pacientes. O prof. Marcelo diz que, por sua vontade, “já lá estava”.
Após gesticular para os doentes, o dr. Costa garante que Portugal está preparado para responder ao surto de coronavírus.
A ministra da Saúde implora que não se use a Linha SNS 24 para pedir informações sobre o coronavírus.
O responsável pela Linha SNS 24 alerta que a Linha SNS 24 está nas últimas.
4 de Março
A Linha SNS 24 não atende boa parte das chamadas.
5 de Março
Após acabar demitido, o responsável pela Linha SNS 24 reagiu através de um poema. Fica um excerto: “Como velas de pavio forte/Queimamos ao luar/Das madrugadas passadas/A Trabalhar/A escrever, a digitar/A Criar o digital na saúde em Portugal/9 anos acessos, pela força e paixão/Como velas que ardem dentro do coração.” Eu seja ceguinho se isto não é verdade.
O ministro da Economia jura que o impacto do coronavírus no sector que “tutela” é “bastante reduzido”, salvo em minudências como os “transportes, das viagens e da hotelaria”.
6 de Março
A directora-geral da Saúde, que começou por achar que o vírus nunca chegaria a Portugal e depois passou a prever um milhão de infectados, encontrou um ponto intermédio e agora aconselha as visitas a lares de idosos, por não haver “esse grau de risco”.
7 de Março
O dr. Costa garante que Portugal está preparado para responder ao surto de coronavírus.
8 de Março
O prof. Marcelo, sem sintomas de gripe mas não de outras maleitas, anuncia o próprio exílio em casa.
9 de Março
Não tendo sido testado a mais nada, os testes do prof. Marcelo ao coronavírus são negativos. O dr. Costa envia-lhe felicitações pelo Twitter.
O prof. Marcelo, que sem vírus decretou a quarentena de si mesmo, assoma à varanda e informa o povo de que lava a louça e a roupa, além de cozinhar.
O dr. Costa admite fechar as escolas e etc. antes de qualquer parecer técnico.
10 de Março
Apenas dois secretários de Estado e um autarca vão ao aeroporto receber o português que estava infectado e deixou de estar.
Em Setúbal, um homem ficou fechado numa casa de banho durante 4 horas à espera do INEM.
Para o Bloco de Esquerda, “As forças de extrema-direita tentam lucrar com o medo para impulsionar imundas respostas malthusianas e racistas. (…) O Covid-19 é apenas um aviso, mais um aviso: é preciso acabar com o capitalismo que conduz a humanidade à barbárie”.
11 de Março
Em Gaia, um homem ficou fechado no carro durante 4 horas à espera do INEM.
75% dos portugueses não acreditam que o SNS esteja preparado para uma pandemia, o que significa que 25% acreditam ou pelo menos não rejeitam a hipótese.
Na Trofa, uma turma ficou fechada na sala durante 11 horas à espera de orientações da Linha SNS 24.
Em Lousada, uma médica ficou fechada no consultório com uma doente durante 6 horas à espera de auxílio.
O hospital de Coimbra compra fatos de pintor para proteger os médicos.
A Direcção Geral da Saúde desatou a engasgar-se na actualização do número de infectados.
Nos aeroportos, os passageiros continuam a chegar sem qualquer inspecção.
Oportunamente, o Bloco de Esquerda lembra-se de que a Linha SNS 24 “não deve ser explorada por entidades privadas”, não se fosse estragar.
A directora-geral da Saúde diz para os cidadãos evitarem a “corrida aos supermercados” e, em vez disso, recorrerem à “horta de um amigo”.
Há 3.000 pessoas “sob vigilância” enquanto se aguardam os resultados de 80 testes. Faz sentido, embora não se perceba qual.
Em organismos públicos, distribui-se gel desinfectante com a validade expirada em 2013.
Uma adolescente internada com gravidade foi três vezes às urgências e, como na Bíblia, três vezes negada.
À revelia de toda a civilização, em Portugal continua tudo aberto – incluindo as praias, aliás repletas.
Um obscuro Conselho de Saúde avisa a população da sua existência e de uma reunião marcada para o dia seguinte, de tarde que não há pressa.
A ministra da Saúde proclama o reforço da Linha SNS 24, que não dá uma para a caixa.
Enquanto 39 países já impuseram o fecho de escolas e etc. (e alguns o “lockdown”), o dr. Costa vai a Berlim desenvolver a tese de que o coronavírus é uma oportunidade para a Europa “mostrar a sua força”.
O dr. Costa não admite fechar as escolas e etc. sem ouvir os pareceres dos técnicos.
O dr. Costa promete proteger todos os portugueses, “estejam em que parte do mundo estiverem”.
12 de Março
O tal Conselho de Saúde, representado por um sujeito que acha o coronavírus inofensivo, irrompe da reunião e comunica não aprovar o fecho das escolas e etc..
A ministra da Saúde e a directora-geral fazem uma conferência em dueto onde harmonizam no vazio absoluto, ou na necessidade de lavar as mãos, actividade em que esta gente é tão exímia quanto Pilatos. Ambas rejeitam o fecho das escolas.
Comentadores isentos aplaudem a decisão de não fechar as escolas.
O Sindicato Independente dos Médicos nota que o SNS não tem camas para internamento, não tem camas de cuidados intensivos, não tem profissionais suficientes, não tem máscaras, não tem desinfectantes, não tem nada excepto a distinção de “melhor do mundo”.
Descobre-se um piloto da TAP infectado. As “autoridades” de saúde não quiseram descobrir a lista dos passageiros conduzidos pelo piloto.
O dr. Francisco George, ilustre antecessor da sua ilustre sucessora, anda pelas televisões a falar com a lucidez de um dependente de metanfetaminas. O objectivo, palpita-me, é fazer as “autoridades” actuais parecerem sensatas por comparação. Não foi inteiramente alcançado.
23 crianças (e seis adultos) estão retidas num jardim de infância da Maia, por suspeitas de infecção em uma delas.
O dr. Costa, que com escassas semanas de atraso ouviu os partidos à tardinha, ignorou o parecer dos técnicos e, invocando uma instituição europeia avulsa, anunciou o fecho das escolas – mas só a partir de segunda-feira, que na sexta o vírus faz jejum.
Em 24 horas, ou menos, as medidas que eram “excesso desnecessário” transformaram-se em critérios indispensáveis à “sobrevivência”. Num ápice, o país saltou do “Toy Story” para o “Mad Max”.
Comentadores isentos aplaudem a decisão de fechar as escolas.
13 de Março
Na Maia, oito ou nove horas depois, as crianças e os adultos saíram do jardim de infância.
Misteriosamente, o melhor SNS do mundo é o pior da Europa: somos o país com menos camas em cuidados intensivos em toda a EU (4,2 por 100.000 habitantes; a média é de 11,5).
O Bloco de Esquerda apela à requisição sumária dos “meios, material e instalações” dos hospitais privados, aqueles que o BE quer erradicar a pretexto do lucro ou lá o que é.
O ministro da Educação explicou o que iria acontecer nas escolas encerradas ao longo da quarentena. Evidentemente, ninguém percebeu. Nem ele, um matarruano que supõe dirigir-se a semelhantes seus: “Ninguém está de férias”. O matarruano trabalha em quê?
A Linha SNS 24 continua a não funcionar em condições.
Portugal tem 112 doentes confirmados, 1308 suspeitos, 5674 vigiados e 172 testados.
A Coreia do Norte e a Venezuela continuam sem infectados.
A ministra da Saúde teme que Portugal não esteja preparado para responder ao surto de corona vírus.
Ponto da situação
Vocês comprariam um carro usado ao dr. Costa? Não brinquem comigo: vocês aceitam que esse vulto coordene a reacção a uma pandemia. Há líderes valentes e até certo ponto confiáveis. Não é o caso. Ninguém aprendeu coisa nenhuma com o Siresp, Pedrógão, Tancos e o que calha. O dr. Costa também não, e permanece incompetente como sempre e dissimulado como nunca. Desde o início desta história que o homem não deu um espirro, salvo seja, sem medir previamente o impacto directo e indirecto do dito na sua popularidade. Para cúmulo, o dr. Costa rodeia-se de figuras compatíveis, uma corte de laparotos que competem pela atenção do chefe e pelo prémio do mais desnorteado. A piedade impede comentários à prestação do presidente da República em título. Quanto à oposição, cabe destacar o BE e dispensar a piedade: aquilo, para quem tinha dúvidas, é da ordem do sub-humano.
Portugal beneficiou do atraso do vírus, compreensivelmente hesitante a aparecer por cá. Porém, não tivemos sorte nem jeito na escolha de quem manda nisto: de rábula em rábula, frente ao cenário de um país arruinado, ignoraram-se os bons e difíceis exemplos do “estrangeiro” e seguiram-se os exemplos péssimos e fáceis de Espanha e Itália. Pelo caminho, salpicado de cobardia, perdeu-se tempo vital (para muitos literalmente). A culpa morrerá solteira. Os culpados ainda se vão rir disto, se é que não riem já.
sexta-feira, 3 de abril de 2020
A actuação dos responsáveis pela OMS.
É no mínimo vergonhosa, para não dizer criminosa, a forma como a OMS tratou o assunto, negligenciando-o e desculpabilizando os responsáveis, se não pela sua origem, pelo menos pela sua contenção e desinformação.
Um bom trabalho, feito pela SKY News. AU, não muito exaustivo mas, suficiente para que imbecis encartados, revejam a sua posição.
O vídeo não necessita de comentários adicionais.
Agradeço a quem me enviou notícias da sua existência
https://www.youtube.com/watch?v=niRVgCYSr5I&feature=youtu.be
quarta-feira, 1 de abril de 2020
A Greve do Sexo - LlSÍSTRATA
De: Aristófanes
APRESENTAÇÃO
São poucos os exemplares de comédia grega que perduraram até os nossos dias. Entre eles está. A greve do sexo - Lisístrata, escrita por Aristófanes, no século V antes da era cristã. Como as demais comédias da antiguidade, esta peça tinha forte apelo popular, graças a seu enredo mirabolante, e era malvista pela intelectualidade da época, devido ao seu estilo leve, em contraposição à seriedade da tragédia, este sim um tipo de texto dramático da predileção dos estudiosos gregos. Nas representações de comédias havia uma imensa participação do autor, que também compunha a música das partes cantadas e frequentemente actuava. Todos os actores eram homens que usavam máscaras para representar os diferentes papéis. Mulheres não eram admitidas nem no elenco, nem na plateia do teatro grego antigo. As peças eram encenadas durante dez dias por ano, nas festas em homenagem ao deus Dionísio, na cidade de Atenas, em grandes teatros abertos com até 17 mil lugares. Como acontece com a literatura em geral, elas mostravam um painel da sociedade de seu tempo e tratavam de temas presentes na vida dos cidadãos gregos. Por isso a guerra é um dos temas principais de A greve do sexo - Lisístrata, no qual as mulheres que na vida real sequer eram consideradas cidadãs - fazem um apelo pacifista pró-união das diversas regiões da Grécia. O estilo satírico das comédias clássicas facilitava a inversão dos costumes e legitimava os elementos obscenos do enredo (as erecções dos maridos das grevistas, por exemplo), bem como das falas das mulheres em abstinência sexual. Entretanto, há seriedade no tratamento de questões como a paz, a democracia, a educação e a nostalgia da vida no campo, longe da corrupção e dos perigos da cidade. A greve do sexo - Lisístrata é um exemplar representativo da origem da literatura ocidental, a partir da qual se constrói nossa tradição literária. Por isso, em todos os sentidos, esta comédia guarda interesse e actualidade, comicidade e reflexão. No final do Livro você encontra o glossário, com explicações sobre palavras e expressões mais difíceis, que estão sublinhadas no Livro.
Ana Mariza Filipouski
Crise na Itália faz imigrantes chineses procurarem novos rumos
Na última década, número de imigrantes chineses triplicou no país. Maioria trabalha em fábricas de tecidos, que competem com indústria local. Mas redução da demanda obriga muitos a procurar empregos em outras áreas.
Dois clientes vão até a jovem barista, de cabelos pretos presos em um rabo de cavalo e o rosto emoldurado por uma franja que chega até as sobrancelhas. "Ni hao!", saúdam os homens. Ela, sorridente, responde em italiano, "ciao ciao".
Ye Pei, uma chinesa de 17 anos, vive na Itália há apenas poucos meses. Seu vocabulário ainda é limitado, mas ela já aprendeu o suficiente para servir cappuccinos e outras bebidas no bar em que trabalha. Ela vive em Falconara, um balneário na costa leste da Itália.
"O mais importante para mim agora é aprender o idioma", explica a jovem. "Essa é a minha prioridade. Se falar bem o italiano poderei ser independente, mas é muito difícil estudar quando se tem que passar o dia inteiro costurando", afirma Ye.
Como a maioria dos imigrantes chineses na Itália, Ye vem da província de Zhejiang, no oeste da China. Sua terra natal, Qingtian, é cerca de montanhas, com poucas empresas e raras oportunidades de trabalho.
Imigração começou há 30 anos
Os chineses começaram a imigrar para a Itália há 30 anos. A maioria trabalha em fábricas têxteis que operam para grifes italianas. As tarefas são simples: costurar botões em suéteres, colocar zíperes em calças jeans. Muitos deles acabam mais tarde abrindo suas próprias confecções.
Na última década, a quantidade de chineses na Itália triplicou, ultrapassando a marca dos 200 mil, o que corresponde a cerca 20% da população de imigrantes do país. Muitos acabaram trazendo também seus familiares e amigos para trabalharem em seus negócios na Itália. Os chineses têm a reputação de serem trabalhadores flexíveis, rápidos e baratos.
Feito na Itália por mãos chinesas
Na China, os chefes das fábricas, chamados de laoban, costumam fornecer acomodações e alimentação aos funcionários, mas uma minoria paga salário mensal. Os funcionários são pagos por peça produzida.
Jimmy Xu, que gerencia uma confecção em Falconara, justifica que os trabalhadores preferem esse tipo de arranjo porque "os chineses não gostam de salários fixos. Eles pensam 'se eu trabalhar rápido ou lentamente, irei receber a mesma coisa'".
Operários chineses em confecções na Itália: sem documentos e limites de horário
Por essa razão, os trabalhadores, principalmente os mais rápidos, preferem ser pagos por peça. "Dessa forma eles podem ganhar mais dinheiro", explica Xu.
A mãe de Ye, Xue Fen, está na Itália há seis anos. Ela também conseguiu um emprego em uma fábrica gerenciada por chineses, onde trabalha mais de 15 horas por dia e recebe cerca de 750 euros por mês. Na China, ela levaria oito meses para ganhar a mesma quantia.
Xue Fen concorda que os laoban exploram os trabalhadores, mas por outro lado, ela explica que esse arranjo pode ser conveniente para os imigrantes, principalmente para os recém-chegados à Europa.
"Se eu trabalhar para um chefe italiano, terei que pagar aluguel, comprar minha própria comida, o que não deixa de ser um incômodo. Já os chineses ao menos fornecem habitação e refeições. É assim que fazemos na China", esclarece.
Operários sem documentação
A polícia italiana afirma ter descoberto nos últimos anos cada vez mais confecções que empregam operários em situação ilegal, que trabalham sem limites de horários.
Uma policial que não quis se identificar explicou que esse estilo de vida fez com que os chineses acabassem ficando "invisíveis" por muito tempo. "Os chineses são muito inteligentes e bem organizados. Eles optam por ficar em silêncio, sem chamar a atenção, e a polícia acaba os ignorando."
Mas o sucesso comercial dos chineses na última década acabou gerando ressentimentos entre os italianos, conforme a policial. Em um país que sofre com o alto índice de desemprego e em meio a uma crise econômica, esse quadro apenas piorou. Muitos reclamam que os chineses estão descumprindo leis trabalhistas – explorando funcionários, desestabilizando o mercado e levando fábricas italianas à falência.
Mais baratos, chineses trabalham para grifes italianas
Valter Zanin, professor de sociologia da Universidade de Pádua, realizou uma pesquisa sobre fábricas chinesas em seu país e concluiu que mão de obra barata é o que mantém a competitividade dos chineses. Zanin ressaltou que alguns funcionários são forçados a trabalhar até mais de 18 horas por dia.
Alternativas
Mas enquanto a crise econômica europeia perdurar, a indústria da moda na Itália continuará sentido os efeitos da recessão. Até mesmo as confecções dos chineses estão tendo menos contratos. À procura de alternativas, muitos chineses, assim como Ye, migram para o setor de serviços.
Nessa nova linha de trabalho, eles já não são tão invisíveis. A interação diária com os italianos proporciona aos imigrantes a possibilidade de se integrar melhor na sociedade e de aprender mais sobre os costumes locais.
"Vou trabalhar muito para aprender o idioma italiano e adquirir o conhecimento necessário para gerenciar um bar", diz Ye. "Um dia, quando tiver guardado bastante dinheiro, vou abrir meu próprio bar, para que meus pais possam se aposentar mais cedo".
https://www.dw.com/pt-br/crise-na-itália-faz-imigrantes-chineses-procurarem-novos-rumos/a-16852176
Estabelece o regime jurídico do Conselho Nacional de Saúde
Decreto-Lei n.º 49/2016
de 23 de Agosto
O reforço do poder do cidadão no Serviço Nacional de Saúde constitui um dos compromissos do Programa do XXI Governo Constitucional, consubstanciado em várias medidas, entre as quais se destaca a criação do «Conselho Nacional de Saúde no sentido de garantir a participação dos cidadãos utilizadores do Serviço Nacional de Saúde na definição das políticas, contando com a participação das autarquias e dos profissionais, bem como de conselhos regionais e institucionais, como forma de promover uma cultura de transparência e prestação de contas perante a sociedade».
Embora legalmente previsto há mais de 25 anos na Base VII da Lei n.º 48/90, de 24 de Agosto - Lei de Bases da Saúde, e ao longo das várias leis orgânicas do Ministério da Saúde, o Conselho Nacional de Saúde nunca foi criado.
Trata-se de um órgão consultivo do Governo representativo dos interessados no funcionamento das entidades prestadoras de cuidados de saúde, cuja composição, competência e funcionamento constam de diploma próprio, que importa agora concretizar.
Este órgão tem presente as melhores práticas internacionais e traduz o que os estudos de reflexão na área da saúde consideram ser importante, estabelecendo uma aliança de toda a sociedade para definir uma visão para o futuro e ter uma perspectiva de conjunto do sistema.
Foram ouvidos os órgãos do governo próprio das regiões autónomas, a Associação Nacional de Municípios Portugueses, a Associação Nacional de Freguesias, as Ordens dos Biólogos, dos Enfermeiros, dos Farmacêuticos, dos Médicos, dos Médicos Dentistas, dos Nutricionistas e dos Psicólogos, o Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas, o Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos, a Comissão Permanente de Concertação Social, o Conselho Nacional para a Economia Social e o Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida…